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Impactos e Soluções na Gestão Hídrica: Um Estudo de Caso em Áreas

Urbanas de Manaus
Âmila Maila Cornélio Canto
Graduanda do Curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual do Amazonas

Lucas Rabelo Santos


Graduando do Curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual do Amazonas

RESUMO
O objetivo da presente pesquisa é analisar a gestão dos recursos hídricos urbanos na cidade
de Manaus, com abordagem nos bairros Glória e Compensa 2. A análise abrange os
sistemas de águas pluviais, esgotamento sanitário e abastecimento de água, considerando
suas interações com o ambiente urbano e seus impactos na infraestrutura e na qualidade de
vida da população local. A pesquisa caracteriza-se como aplicada, de abordagem
qualitativa, e tem como objetivo realizar uma análise descritiva da situação atual dos
recursos hídricos. Os dados foram encontrados em campos em ruas específicas dos bairros e
complementados com informações secundárias. Os resultados evidenciam desafios
importantes, como a ausência de sistemas adequados de drenagem e o descarte de esgoto
não tratado em igarapés, além de problemas de infraestrutura. Em contrapartida, o
abastecimento de água tratada apresenta-se como um ponto positivo. O estudo propõe
soluções que incluem a reestruturação da mudança urbana, implementação de sistemas de
tratamento e incentivo a práticas sustentáveis, mudanças à melhoria da qualidade ambiental
e da gestão hídrica urbana.

Palavras-chave: Recursos Hídricos, Águas Pluviais, Esgotamento Sanitário, Abastecimento


de Água.

1 INTRODUÇÃO

Segundo Silva (2009, p. 168), “os estudos mostram que o modelo atual de
orçamento tem origem na Inglaterra quando em 1215 foi outorgada a Carta Magna pelo Rei
João Sem Terra.”, quando foi instituído pelo mesmo que “Nenhum tributo ou subsídio será
instituído no Reino, a menos que seja aprovada pelo Conselho do Reino”. Ainda de acordo
com Silva (2009, p. 168), em 1789, o princípio de que “nenhum imposto pode ser cobrado
sem o consentimento da nação” foi consagrado. A água, apesar de sua essencialidade para
a manutenção da vida, constitui um recurso finito, cujo ciclo natural de renovação nem
sempre é eficaz na sua completa purificação. Ademais, a sua distribuição pelo globo é
irregular, sendo condicionada por fatores climáticos e geográficos, o que resulta em uma
disponibilidade desigual entre diferentes regiões. Nos últimos anos, essa realidade tem
suscitado uma crescente inquietação por parte da sociedade, promovendo uma
conscientização cada vez maior sobre a urgência de se adotar uma nova perspectiva no que
tange ao uso da água. A revisão de valores, comportamentos e hábitos tornou-se
imprescindível para assegurar a preservação desse recurso vital (ROSA; GUARDA, 2019).

O reconhecimento da importância da água vem sendo consolidado ao longo da


história, especialmente no contexto das legislações. Atualmente, o acesso à água potável é
considerado um direito humano fundamental, indispensável para uma existência digna.
Todavia, embora esse direito tenha sido progressivamente conquistado, sua efetivação plena
ainda enfrenta desafios práticos, sendo imperativo garantir que todas as pessoas possam
usufruir desse recurso essencial. Prover água potável para todos transcende o âmbito da
saúde pública; trata-se, sobretudo, de uma questão de justiça social e equidade, que
demanda ações constantes e eficazes para sua preservação e distribuição justa (ROSA;
GUARDA, 2019).

Dessa forma, a presente pesquisa tem como objetivo realizar uma análise técnica de
gestão dos recursos hídricos urbanos na cidade de Manaus, com abordagem nos bairros
Compensa 2 e Glória, localizados na zona oeste. A análise abrangerá os principais sistemas
de águas pluviais, esgotamento sanitário e abastecimento de água, considerando suas
interações com o ambiente urbano e os impactos positivos e negativos desses serviços para
a infraestrutura local e a qualidade de vida da população. Além disso, será discutida e
demonstrada a situação da gestão da urbanização nos bairros, identificando o que está sendo
feito de forma adequada, os problemas existentes e as melhorias fáceis para melhorar a
gestão dos recursos hídricos e promover um ambiente.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

No Brasil, a gestão dos recursos hídricos é guiada pela Política Nacional de


Recursos Hídricos, que estabelece diretrizes para o uso sustentável e a preservação da água.
Um dos principais instrumentos dessa política é o Plano Nacional de Recursos Hídricos
(PNRH), coordenado pela Agência Nacional de Águas (ANA). O PNRH desempenha um
papel fundamental ao fornecer uma base estratégica para a administração das águas no país.
Seu objetivo é fortalecer o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
(SINGREH), buscando assegurar a qualidade e a quantidade adequada de água, ao mesmo
tempo em que promove a integração com outras políticas públicas (MELO; ROMANEL,
2018; ANA, 2024).

Em termos de disponibilidade hídrica, o Brasil recebeu 15,04 trilhões de metros


cúbicos de chuva em 2021, enquanto a evapotranspiração totalizou 8,51 trilhões de metros
cúbicos. O restante da água da chuva infiltrou no solo ou escoou para rios, resultando em
9,5 trilhões de metros cúbicos de água fluindo pelos rios do território nacional, incluindo
3,3 trilhões de metros cúbicos de rios que vêm de outros países amazônicos (ANA, 2024).

Em 2022, a retirada total de água no Brasil foi estimada em 2.035,2 m³/s,


equivalente a 64,18 trilhões de litros por ano. A maior parte desse volume foi destinada à
irrigação (50,5%), ao abastecimento urbano (23,9%) e à indústria (9,4%). Outros usos
incluíram o uso animal (8%), termelétricas (5%), abastecimento rural (1,6%) e mineração
(1,6%). No mesmo ano, mais de 1,5 milhão de pessoas foram afetadas por alagamentos e
inundações, enquanto cerca de 7 milhões enfrentaram secas e estiagens, com 45% dos
registros concentrados no Nordeste (ANA, 2024).

Até a década de 1960, predominava nas questões urbanas uma visão higienista,
focada na resolução de problemas de saúde pública, sem, contudo, considerar as
complexidades ambientais, especialmente no que tange ao ciclo hidrológico. Com o
surgimento de uma consciência ecológica, ficou evidente que a urbanização acelerada
gerava impactos significativos tanto na quantidade quanto na qualidade dos recursos
hídricos, o que exigiu uma reflexão mais aprofundada sobre as interações entre atividades
humanas e o meio ambiente. Nesse cenário, emergiu o conceito de drenagem urbana com
enfoque ambiental, representando um avanço, ainda que sua aplicação continue desafiadora
devido aos elevados custos e à necessidade de soluções integradas e multidisciplinares
(FUNASA, 2018).

Nesse sentido, o manejo das águas superficiais urbanas deve seguir alguns
princípios fundamentais: controle do escoamento das águas pluviais, prevenção de impactos
nas áreas a jusante, mitigação da ampliação das cheias naturais, adoção de medidas de
controle em toda a bacia hidrográfica, monitoramento contínuo do uso do solo em áreas de
risco, além da competência técnica e administrativa dos órgãos públicos responsáveis. A
promoção de uma educação ambiental voltada a gestores, população e profissionais
técnicos também se faz essencial para garantir uma gestão sustentável (FUNASA, 2018).
Figura 1. Segurana Hídrica no Brasil.

Fonte: http://atlas.ana.gov.br.

Apesar de o Brasil ser um país abundante em recursos hídricos, o Índice de


Segurança Hídrica Urbana (ISH-U) revela que grande parte da população urbana enfrenta
desafios consideráveis no abastecimento de água. Cerca de 42% das pessoas vivem em
áreas com segurança hídrica média, enquanto 26% enfrentam condições de baixa
segurança, resultado de fragilidades tanto na produção quanto na distribuição de água, ou
em ambos os aspectos. Apenas 27% dos brasileiros estão em regiões com alta segurança
hídrica, sendo que 4% desfrutam da máxima segurança e 1% convivem com a mínima. A
situação específica de cada município pode ser consultada em um painel de indicadores,
que fornece uma visão detalhada e georreferenciada dessa realidade (ANA, 2021).

2.2 GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS NO AMAZONAS

A gestão da maior bacia hidrográfica do mundo, a Amazônica, é um dos principais


desafios enfrentados pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA) do Amazonas
na governança dos recursos hídricos da região. Nesse contexto, a regulamentação da Polícia
Estadual de Recursos Hídricos (PERH-AM) e a criação do primeiro Plano de Bacia
representam marcos históricos e avanços significativos para o estado (SEMA, 2023).

A Sema Amazonas é o órgão responsável, em âmbito estadual, pela elaboração de


políticas públicas voltadas ao manejo sustentável da água. Através da Assessoria de
Recursos Hídricos (ASSHID), a secretaria desenvolve uma série de programas e projetos
voltados para a conservação dos rios, igarapés, lagos e águas subterrâneas do Amazonas. O
maior avanço nesse campo foi a criação do Plano Estadual de Recursos Hídricos, que se
destaca como o principal instrumento de gestão hídrica do estado. Esse plano estabelece
diretrizes fundamentais para orientar as ações do governo no que diz respeito à conservação
e recuperação da qualidade das águas, garantindo assim a sustentabilidade dos recursos
hídricos para as gerações atuais e futuras (SEMA, 2023).

A concessionária Águas de Manaus está diretamente envolvida na elaboração do


novo Plano Municipal de Saneamento Básico da capital, iniciativa anunciada pela
Prefeitura de Manaus. Esse plano visa abordar e organizar as principais demandas de
saneamento da cidade, incluindo o abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza
urbana e manejo de resíduos sólidos, além da drenagem e manejo das águas pluviais
urbanas. A iniciativa representa um esforço conjunto entre a concessionária e diversas
secretarias e órgãos municipais (Meio Ambiente, Sustentabilidade e Mudanças do Clima
(SEMMASCLIMA); Infraestrutura (SEMINF); Limpeza Pública (SEMULSP) e Saúde
(SEMSA); Agência Reguladora dos Serviços Públicos Delegados do Município de Manaus
(AGEMAN) e o Conselho Municipal de Gestão Estratégica (CMGE)) para garantir a
universalização dos serviços essenciais de saneamento (ÁGUAS DE MANAUS, 2024).

O plano prevê que, em menos de uma década, esses serviços essenciais serão
plenamente acessíveis a toda a população manauara, resultado de um cronograma de obras
cuidadosamente planejado (ÁGUAS DE MANAUS, 2024).

Figura 2. Lixo e esgoto sem tratamento lançado no rio.


Fonte: G1, 2018.

De acordo com dados divulgados pelo Trata Brasil, no ano de 2023, foi apontado
que a cidade de Manaus tem apenas 26% de cobertura de esgotamento sanitário. Isso se
deve principalmente ao fato de que, com a chegada de novos habitantes, a capital cresceu
sem planejamento e resultou em áreas de invasão e moradias sem acesso a serviços básicos
(G1, 2023).

Em Manaus, em junho do ano de 2024, no bairro Flores, zona centro-sul da capital,


moradores denunciaram a falta de manutenção no sistema de drenagem nos bueiros e
igarapés que, por consequência, gerava constantes inundações no local (D24am, 2024).

Figura 3. Alagamento em uma rua no bairro Flores em Manaus/AM.


Fonte: D24am, 2024.

Em Manaus, o sistema de esgotamento sanitário gerido pela Águas de Manaus


possui uma vasta rede de mais de 800 quilômetros de tubulações coletoras, distribuídas
entre 76 estações de tratamento de esgoto e 76 estações elevatórias. Essa infraestrutura é
composta por duas grandes divisões: o sistema integrado, que cobre a área central da cidade
e bairros adjacentes, como Educandos, Morro da Liberdade e Santa Luzia; e os sistemas
isolados, que atendem diversas regiões da cidade, predominantemente localizadas em
conjuntos habitacionais e áreas residenciais, onde a concessionária é encarregada do
gerenciamento dos serviços de esgotamento (ÁGUAS DE MANAUS, s.d.).

Um marco relevante para o aprimoramento desse sistema ocorreu em julho de 2018,


com a inauguração da Estação de Coleta e Tratamento de Esgoto da Timbiras
(ETE/Timbiras), situada na zona Norte de Manaus. Essa estação trouxe melhorias
expressivas para os moradores das etapas 1 e 2 do bairro Cidade Nova e áreas
circunvizinhas. As intervenções incluíram a ampliação e substituição da rede coletora, além
da construção e modernização de estações elevatórias e de tratamento. O projeto não apenas
aumentou a capacidade do sistema, mas também consolidou o compromisso com a
melhoria da infraestrutura de saneamento básico da cidade, proporcionando a milhares de
moradores um serviço mais eficiente e ambientalmente sustentável (ÁGUAS DE
MANAUS, s.d.).

Manaus, após um longo percurso de aprimoramento no saneamento básico, iniciado


entre 1883 e 1889, durante o Período Áureo da Borracha, e com transformações
significativas a partir de 2000, consolidou-se como referência no tratamento e distribuição
de água potável na região Norte do Brasil. Hoje, mais de 630 milhões de litros de água são
retirados diariamente do Rio Negro e tratados sob rigorosos padrões de qualidade pela
concessionária Águas de Manaus (ÁGUAS DE MANAUS, s.d.).

O sistema de abastecimento de Manaus é composto por quatro Estações de


Tratamento de Água (ETAs). As ETAs 1 e 2, localizadas no Complexo de Produção da
Ponta do Ismael, na zona Oeste, respondem por 80% do fornecimento de água para
Manaus. Já a ETA Mauazinho, situada na zona Sul, atende a comunidade local, enquanto a
ETA Ponta das Lajes, na zona Leste, faz parte do Programa Águas para Manaus (Proama),
destinado à distribuição nessa área. Além disso, a concessionária mantém em operação 52
Centros de Produção de Águas Subterrâneas (CPAs) (ÁGUAS DE MANAUS, s.d).

2.3 AÇÕES E PROJETOS


Em agosto de 2024, a cidade de Iquitos, no Peru, sediou a primeira agenda temática
do Fórum de Cidades Amazônicas, reunindo representantes de cidades membros,
organizações do Conselho Técnico Consultivo e outros parceiros estratégicos. O evento
focou nos impactos das mudanças climáticas no ciclo da água, como secas e inundações, e
sua pressão sobre os serviços ecossistêmicos nas áreas urbanas da Amazônia, promovendo
a resiliência hídrica através da cooperação regional (ICLEI, 2024).

O Programa Cities Forward, financiado pelo Departamento de Estado dos Estados


Unidos e coordenado pelo ICLEI Governos Locais pela Sustentabilidade, visa auxiliar 12
cidades latino-americanas, incluindo Manaus e Fortaleza no Brasil, a implementarem
projetos relacionados à sustentabilidade, inclusão e resiliência urbana, desenvolvendo
iniciativas financiáveis que promovam o desenvolvimento sustentável (ICLEI, 2024).

Um dos destaques é o programa Trata Bem Manaus, da Águas de Manaus, que será
integrado ao Plano Municipal de Saneamento Básico de Manaus com o objetivo de acelerar
a universalização do serviço de esgotamento sanitário na cidade. A concessionária, que já
foi responsável por alcançar a universalização do abastecimento de água em 2023, agora
foca na expansão da coleta e tratamento de esgoto.

3 METODOLOGIA
3.1 OBJETO DE ESTUDO
A área de estudo abrange os bairros da Glória e Compensa, localizados na zona
oeste de Manaus. O bairro da Glória possui uma população de 8.981 habitantes, uma área
de 49,47 hectares e uma renda mensal média de R$ 900,00. Já o bairro da Compensa conta
com 75.832 habitantes, uma área de 508,27 hectares e uma renda mensal média de R$
1.032,00 (SEDECTI, 2021). No bairro da Glória, destaca-se a praça central, um ponto
movimentado, especialmente nos fins de semana à noite, que conta com uma quadra
poliesportiva, escolas, pontos comerciais e o estádio Ismael Benigno, conhecido como
Estádio da Colina, situado nas proximidades. Também na Compensa, destacam-se centros
desportivos, centros sociais urbanos, praças de alimentação e a Ponte Jornalista Phelippe
Daou.
A proximidade entre os dois bairros e suas características urbanas tornam essa área
de grande interesse para o estudo da gestão dos recursos hídricos e urbanização na cidade
de Manaus.

3.2 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

Para esta pesquisa, a metodologia consiste na delimitação de uma área específica do


bairro da Glória (Rua Vitória) e Compensa 2 (Rua Prosperidade) com coleta de dados por
meio de observação de campo, registros fotográficos, experiências de vivência na área de
estudo e pesquisas bibliográficas.

O objetivo principal foi analisar a gestão de recursos hídricos com ênfase em águas
pluviais, esgotamento sanitário e abastecimento de água, comparando a situação de campo
com a revisão literária sobre o tema. O estudo é composto por etapas interligadas, que
incluem pesquisa, levantamento, análise de dados e avaliação, e tem como base um teórico
referencial formado por teses, artigos científicos e livros, proporcionando uma visão mais
ampla sobre a gestão hídrica no contexto urbano.

O levantamento em campo, realizado no bairro, foi fundamental para obter


informações práticas sobre as condições dos serviços de água e esgoto, destacando
problemas de drenagem e alagamentos. Após a coleta de dados, foi realizada uma análise
comparativa entre a situação histórica e atual do bairro, permitindo identificar melhorias e
sugerir ações para mitigar os problemas observados. O material utilizado para os registros e
pesquisas foi um celular e um computador.

4 RESULTADOS

A área de estudo na Compensa caracteriza-se por um misto de reidências e


comércios, um igarapé contido com Rip-Rap (bacias urbanizada) perpendicular e um relevo
com depressão relativa.

Figura 4. Distribuição dos tipos de imóveis na área de estudo na Compensa 2.

Residências Comercios

26%

74%

Fonte: Elaborado pelos próprios autores.

A pesquisa em campo apresentou 3 bocas de lobo de guia sem depressão, com


diâmetro menor que 1,5 m em quase 0,9 km de meio-fio. Esse meio-fio é improvisado pelas
calçadas das residências e a inclinação do pavimento asfáltico até o meio-fio faz a função
de sarjeta, sem estruturas projetadas e normatizadas com caimento menor que 20%. Essas 3
bocas de lobo despejam totalmente no igarapé sem quaisquer tratamentos e posteriormente
no Rio Negro.

Também, apenas 4% das residências contam com calhas para coletar a água da
chuva, com total despejo na rua e sem reaproveitamento, com destino ao igarapé e depois
ao Rio Negro.

De forma semelhante, a estrutura de esgotamento sanitário conta com as tubulações


das residências e comércios para o despejo do esgoto no igarapé e depois Rio Negro. Há
também 3% das residências que despejam resíduo de lavagens internas (pátios, carros e
louças) diretamente na rua que se destina ao igarapé devido ao relevo de depressão.

Com esse despejo no igarapé juntamente com o descarte indevido de resíduos, em


tempos de chuva a vazão aumenta e o canal inunda. Nestes eventos, residências e comércios
próximos à bacia urbanizada inundam, a passagem para veículos e pedestres é interditada e
doenças são proliferadas.

Para o abastecimento de água, todas as residências e comércios são abastecidos com


baixa frequência de falta de água e quando ocorrido os fatores são de manutenção. E,
contam-se com dois reservatórios próximos que totalizam uma capacidade de
armazenamento de 8 milhões de litros de água tratada (ÁGUAS DE MANAUS, 2019)
próximo à área de pesquisa.

A Glória atualmente não sofre muitos problemas envolvendo inundações, isso se


deve principalmente a medidas que foram tomadas pela prefeitura de Manaus que, no ano
de 2023, realizou serviços de drenagem no bairro de forma a mitigar ocorrências de
alagações, crateras e afundamento parciais (Seminf, 2023).

Figura 5. Serviços de drenagem na rua da Glória.


Fontes: Seminf, 2023.

Porém, apesar do problema ter sido resolvido temporariamente, uma situação a ser
ressaltada foi em relação aos serviços prestados em muitas ruas do bairro, que acabaram
sendo realizados de forma inadequada, gerando outros problemas, como a formação de
obstruções no asfalto, prejudicando motoristas que trafegam, assim como os moradores.
Nesse caso, é necessário uma fiscalização e monitoramento adequado para que os serviços
sejam realizados da forma correta.

Quanto ao sistema de esgotamento sanitário na Glória, este é operado atualmente


pelas Águas de Manaus, que está atuando na ampliação para que bairros possuam esse
serviço que visa a destinação de efluentes para uma Estação de Tratamento de Esgoto
(ETE). De acordo com o diretor-presidente da concessionária, a expansão do saneamento na
cidade vai garantir que a população tenha acesso a saúde e bem-estar (G1, 2024).

Apesar desse ponto positivo, no ano de 2022, ocorreu taxas nas cobranças das
contas de água referente ao serviço de esgotamento sanitário no bairro da Glória. Por conta
disso, foram realizadas manifestações exigindo o cancelamento desse aditivo. De acordo
com moradores, o valor da conta dobrou e que, apesar da cobrança, relataram que o
tratamento de esgoto não estava sendo realizado pela concessionária de água no bairro.

Em resposta às manifestações, a Águas de Manaus informou que a taxa só é


adicionada em locais onde existe o sistema disponível. Esses valores não são definidos pela
empresa e estão estabelecidos em contrato e regulados pelo Poder Concedente. De acordo
com as Leis nº 14.026/2020 (Novo Marco Legal do Saneamento Básico) e nº 11.445/2007,
a cobrança está estabelecida por essas legislações.
Figura 6. Metas de atendimento pelas Leis nº 14.026/2020 (Novo Marco Legal do Saneamento
Básico) e nº 11.445/2007 até 2033.

Água potável e coleta de esgoto


Com água potável e sem coleta de esgoto
Sem coleta de esgoto e sem água potável

9% 1%

90%

Fonte: Elaborado pelos próprios autores.

Um ponto positivo a ser enfatizado é a infraestrutura, estabelecendo um


comparativo com alguns problemas que eram pertinentes na Glória anteriormente. Por
vários anos muitas famílias residiam à margem do igarapé do São Raimundo, o que era
bastante preocupante em períodos de cheia no local, com alagamentos frequentes.

Figura 7. Comunidade “Igapó” no bairro da Glória no ano de 2011.

Fontes: Amazônia e o Mundo, 2011.

Com a finalização da obra do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus


(PROSAMIM) em 2021 no bairro da Glória, o lugar serviu como um ponto de lazer e de
tráfego de veículos no bairro. Além disso, beneficiou muitas famílias.
Figura 8. Prosamim no bairro da Glória.

Fontes: Direto ao ponto, 2018.

5 CONCLUSÃO

Esta pesquisa revelou falhas estruturais significativas no manejo das águas pluviais
e no esgotamento sanitário das áreas de estudo, destacando a ausência de sistemas de
planejamento de drenagem e o descarte de esgoto nos igarapés, o que contribui para a
gestão ambiental e inundações frequentes. A gestão desses recursos impacta as qualidades
da saúde pública e da vida da população, especialmente em períodos chuvosos. A pesquisa
também apontou que uma área significativa das áreas de estudo não possui um sistema de
macrodrenagem, e o sistema de microdrenagem é subdimensionado. Outro ponto crítico
identificado foi a falta de infraestrutura para captação e reaproveitamento da água da chuva,
uma solução simples que poderia aliviar a pressão sobre o sistema de drenagem e reduzir o
impacto ambiental. A baixa adoção de práticas sustentáveis, como a instalação de caixas
para coleta de água, revela uma carência de educação ambiental entre os moradores. Além
disso, o volume de água pluvial e esgoto não tratado descartado em canais e rios aumenta a
poluição e os riscos de contaminação, já que a água consumida contém esses mananciais.
Por outro lado, o abastecimento de água tratada é um aspecto positivo que deve ser
preservado e ampliado para garantir o acesso confiável à população.

Embora as áreas de estudo tenham registrado avanços na gestão dos recursos


hídricos, especialmente com as obras de drenagem realizadas em 2023, que trouxeram
melhorias na prevenção de alagamentos, ainda existem desafios a serem superados. A
execução de algumas dessas obras evidenciou a necessidade de uma fiscalização mais
rigorosa para garantir a efetividade das soluções. A expansão do sistema de esgotamento
sanitário, liderado pela Águas de Manaus, é um passo importante, mas a insatisfação
popular devido à cobrança de taxas sem a dívida percepção dos serviços prestados aponta
para a necessidade de maior transparência e diálogo entre a operação e os moradores. A
revitalização fornecida pelo PROSAMIM também se destacou como um marco importante,
transformando áreas acessíveis em espaços de convivência e lazer, o que demonstrou o
potencial das políticas públicas bem planejadas e realizadas. Assim, o estudo conclui que
investimentos em infraestrutura adequada, manutenção contínua, fiscalização eficiente e
promoção da participação dos moradores são essenciais para a melhoria dos serviços de
abastecimento de água, drenagem e esgoto. A gestão eficiente desses recursos contribui não
apenas para a prevenção de problemas ambientais e de saúde, mas também para o
desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida no bairro e na cidade como
um todo.
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https://portal1.snirh.gov.br/ana/apps/storymaps/stories/1d27ae7adb7f4baeb224d5893cc21730.
Acesso em: 24/09/2024.

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Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil atualiza informações sobre águas do País.
2024. Disponível em: https://www.gov.br/ana/pt-br/assuntos/noticias-e-eventos/noticias/
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https://www.aguasdemanaus.com.br/esgotamento-sanitario/. Acesso em: 24/09/2024.

ÁGUAS DE MANAUS. Programa de universalização do esgoto em Manaus vai integrar


Plano Municipal de Saneamento Básico. 2024. Disponível em:
https://www.aguasdemanaus.com.br/programa-de-universalizacao-do-esgoto-em-manaus-vai-
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ÁGUAS DE MANAUS. Interligação do novo reservatório de água tratada da Compensa


acontece na próxima terça-feira, dia 21. 2019. Disponível em:
https://www.aguasdemanaus.com.br/interligacao-do-novo-reservatorio-de-agua-tratada-da-
compensa-acontece-na-proxima-terca-feira-dia-21/. Acesso em: 24/09/2024.

BRASIL. Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o


saneamento básico e para a política federal de saneamento básico. Diário Oficial da União:
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e altera as Leis nº 9.984, de 17 de julho de 2000, nº 10.768, de 19 de novembro de 2003, nº
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