CARTA TESTEMUNHÁVEL

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 11

CARTA TESTEMUNHÁVEL

_______________________________________________________________

ILUSTRÍSSIMO SENHOR ESCRIVÃO DA VARA CRIMINAL DA


COMARCA DE ___________ - _______.

XXXXXXXXXXXXXX, já qualificado nos autos


do processo crime que lhe move o Ministério Público, autos
___________, por seus advogados ao final subscrito, vem à
presença de Vossa Senhoria, com fulcro no art. 639, inciso I do
Código de Processo Penal, requerer a extração da CARTA
TESTEMUNHÁVEL, arrolando as peças para traslado, por estar
inconformado com a decisão de fls. ___, na qual foi negado
seguimento ao recurso em sentido estrito.

Requer seja recebido e ordenado o


processamento do presente recurso com as razões que se
seguem, possibilitando ao ao recorrido a oportunidade para
apresentação de contrarrazões.

Apresentadas as contrarrazões e uma vez


ultrapassado o Juízo de Retratação, requer seja encaminhado ao
E. Tribunal ad quem, para decisão. Requer-se, ainda, que Vossa
Senhoria cumpra o presente pleito, fornecendo recibo da petição
ao requerente. Requer-se o traslado das seguintes peças:

• Decisão recorrida

• Intimação da decisão recorrida

• Petição do recurso

• Despacho denegatório do recurso


• Procuração

• Outros documentos que julgar importantes

Nestes termos, pede deferimento.

Local e data

NOME DO ADVOGADO
Nº DA OAB
RAZÕES DA CARTA TESTEMUNHÁVEL

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO


_________________

Processo n.: ___________

Testemunhante: ___________

Testemunhado: Ministério Público

Egrégio Tribunal,

Colenda Câmara

I – DOS FATOS

A sentença de pronúncia prolatada pelo d.


Magistrado em 02 de julho de 2014, aplicou a regra contida no
artigo 585 do CPP, determinando o recolhimento do
testemunhante à prisão, como condição para recorrer, tendo em
vista tratar-se de reincidente.

Destarte, o magistrado não decretou a prisão


preventiva, tendo apenas feito referência de que a prisão para
recorrer seria compulsória, nos termos do referido artigo 585 do
CPP.

O testemunhante, por meio do pertinente


Recurso em Sentido Estrito, se insurgiu contra a decisão de
pronúncia proferida nos autos da ação penal que responde por
homicídio simples.

Contudo, o recurso não foi conhecido pelo juízo


a quo, sob o fundamento de que havia fato impeditivo ao
conhecimento recursal, eis que o testemunhante não tinha se
recolhido à prisão.

II – DOS FUNDAMENTOS

2.1. CABIMENTO:

Conforme se pode perceber pela narrativa


acima, tratou-se de ilegal decisão denegatória de recurso em
sentido estrito, em face do que o art. 639, inciso I, do CPP
admite expressamente a carta testemunhável.

Art. 639. Dar-se-á carta testemunhável:

I - da decisão que denegar o recurso;

2.2. TEMPESTIVIDADE:

A intimação da decisão denegatória do Recurso


em Sentido Estrito se deu no dia 30 de junho de 2016. Assim,
considerando que a presente Carta está sendo apresentada no
dia 01 de junho de 2016, deve-se tê-la por tempestiva.

2.3. DO EQUÍVOCO NA DENEGAÇÃO DO


RECURSO NO SENTIDO ESTRITO:

Com a devida vênia do Juiz a quo, é fácil


perceber que houve erro ao negar seguimento ao recurso
interposto contra a decisão que determinou o recolhimento do
testemunhante à prisão como condição para recorrer.
2.3.1. DA INCONSTITUCIONALIDADE E DA
REVOGAÇÃO TÁCITA DO ARTIGO 585 DO
CPP:

O artigo 585 do CPP, a exemplo do revogado


art. 594 do CPP, condiciona o conhecimento do recurso à
submissão do réu ao cárcere.

Há muito se questiona a constitucionalidade da


disposição legal que impede o regular manejo da via recursal
cabível enquanto o réu não se recolher à custódia cautelar que
lhe fora imposta pelo juízo.

É notório, que o art. 585 do CPP não foi


recepcionado pela Constituição Federal de 1988, posto que viola
os princípios da ampla defesa e da presunção de inocência (art.
5º, LV e LVII):

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem


distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:

[...]

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de


seus bens sem o devido processo legal;

[...]

LV - aos litigantes, em processo judicial ou


administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;
[...]

LVII - ninguém será considerado culpado até o


trânsito em julgado de sentença penal condenatória;

[...]

LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela


mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou
sem fiança;

Sendo a prisão decorrente da pronúncia


cautelar, deve ela ser decretada apenas se presentes os
requisitos do art. 312 do CPP.

Ressalta-se ainda, que segundo referido no


Informativo nº 579, a Primeira Turma do Supremo Tribunal
Federal reafirmou o direito de o réu recorrer em liberdade,
entendendo no caso que o art. 585 do CPP encontra-se
implicitamente revogado. Veja-se:

A Turma deferiu habeas corpus para expedir


contramandado de prisão em favor de denunciado pela suposta
prática do crime previsto no art. 121, § 2º, III e IV, do CP que,
não obstante tivesse respondido à ação penal em liberdade —
ante o excesso de prazo para o encerramento da instrução
criminal —, tivera sua custódia decretada por ocasião da
sentença de pronúncia. Asseverou-se que a segregação
cautelar decorrente de pronúncia deve estar pautada em
pelo menos um dos requisitos dispostos no art. 312 do
CPP e que, no caso, o decreto prisional estaria lastreado apenas
no fato de o paciente possuir maus antecedentes. Dessa forma,
reputou-se inexistir qualquer elemento fático concreto apto a
justificar a medida constritiva. Acrescentou-se que, com o
advento da Lei 11.689/2008, tratando-se de réu solto, o juiz
somente pode ordenar a sua prisão, quando inequivocamente
presentes os já aludidos pressupostos do art. 312 do CPP, não
mais subsistindo, para tanto, a análise isolada dos antecedentes
do acusado (CPP, art. 413, § 3º). Determinou-se, como condição
do contramandado, que o paciente se apresente em 10 dias à
Vara do Júri da Comarca de Cataguases/MG, sob pena de
revogação da medida. Por fim, concedeu-se a ordem, de
ofício, para que seja recebido e processado o recurso em
sentido estrito interposto pela defesa contra a
pronúncia, cujo seguimento fora obstado, com base no
art. 585 do CPP (“O réu não poderá recorrer da
pronúncia senão depois de preso, salvo se prestar fiança,
nos casos em que a lei a admitir”), dado que o réu não
teria se recolhido à prisão. Consignou-se que, com a
reforma do CPP pela referida Lei 11.689/2008, o art. 585
do CPP encontrar-se-ia implicitamente revogado, uma
vez que o réu somente deve se recolher ao cárcere se o
magistrado assim entender necessário e desde que de
modo motivado. HC 101244/MG, rel. Min. Ricardo
Lewandowski, 16.3.2010. (HC-101244).

Dessa foma, não se pode condicionar o direito


de recorrer da pronúncia, nas hipóteses em que houver
decretação da custódia cautelar, ao prévio recolhimento do réu
à prisão, pois essa exigência é incompatível com o princípio da
ampla defesa. Nesse sentido:

[...] Concedendo-se, entretanto, 'habeas


corpus', de oficio, para que, afastada a preliminar de não
conhecimento por falta de recolhimento a prisão,
prossiga o tribunal 'a quo', no julgamento do recurso em
sentido estrito, como entender de direito. (STF - AI: 110226
PR, Relator: Min. OCTAVIO GALLOTTI, Data de Julgamento:
08/04/1986, PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 09-05-
1986).

Portanto, ofende o princípio da não-


culpabilidade a execução da pena privativa de liberdade antes
do trânsito em julgado do édito condenatório, ressalvada a
hipótese de prisão cautelar do réu, e desde que presentes os
requisitos autorizadores previstos no art. 312 do Código de
Processo Penal.

Assim também entende o doutrinador Eugenio


Pacelli de Oliveira, in verbis:

“Não há mais prisão decorrente do ato


decisório, mas sim, prisão eventualmente mantida ou decretada
fundamentalmente, nos respectivos atos processuais. Prisão
concretamente necessária e acautelatória, portanto. E mais. Não
se poderá negar conhecimento ao recurso eventualmente
interposto pelo fato de não recolhimento do acusado à prisão,
[...]”.[1]

Nesse sentido segue excerto da jurisprudência


do Colendo Superior Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL E DIREITO


PROCESSUAL PENAL. APELO EM LIBERDADE. RÉU FORAGIDO.
NÃO-CONHECIMENTO DO APELO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
CARACTERIZAÇÃO. [...] 2. As normas processuais que
estabelecem a prisão do réu como condição de
admissibilidade do recurso de apelação são
incompatíveis com o direito à ampla defesa, porque, às
expressas, o é com todos os recursos a ela inerentes,
não havendo falar, em caso tal, em prisão pena ou prisão
cautelar. 3. É caso, pois, assim como o é também o da regra de
deserção determinada pela fuga do réu, de conflito manifesto e
intolerável entre a Lei e a Constituição, que se há de resolver
pela não recepção ou inconstitucionalidade da norma legal, se
anterior ou posterior à Lei Fundamental. 4. Ordem concedida.
(STJ - HC: 89865 MG 2007/0207716-9, Relator: Ministro
HAMILTON CARVALHIDO, Data de Julgamento: 29/11/2007, T6 -
SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJ 17.12.2007 p. 350).

De outro modo, o fato do réu estar foragido


também não é óbice para apreciação de seu recurso, segundo
entendimento jurisprudencial, conforme segue:

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS.


HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO. DECISÃO QUE NEGOU
SEGUIMENTO AO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO
INTERPOSTO DA PRONÚNCIA COM FUNDAMENTO NO ART.
585 DO CPP. NECESSIDADE DE RECOLHIMENTO DO RÉU À
PRISÃO. INADMISSIBILIDADE. DISPOSITIVO
CONSIDERADO PELA DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA COMO
NÃO RECEPCIONADO PELO ATUAL ORDENAMENTO
JURÍDICO. ORDEM CONCEDIDA. DECISÃO UNÂNIME. 1. A
questão de direito objeto do presente writ cinge-se à análise da
possível ilegitimidade da decisão do Magistrado a quo, que
negou seguimento ao Recurso em Sentido Estrito interposto
pela Defesa do paciente, fundamentando a negativa no disposto
no art. 585, do CPP; 2. Evolução Jurisprudencial e
Doutrinária que já vinha considerando inconstitucional
esse não-recebimento do recurso em sentido estrito da
pronúncia, ou da Apelação da Sentença, em face da fuga
do réu, por violação ao princípio do duplo grau de
jurisdição, entendimento sedimentado, inclusive, através
da Súmula 347, do STJ; 3. A promulgação da Lei nº
11.719/2008, revogando o art. 594, do CPP, deixa clara a nova
diretriz que segue o nosso ordenamento jurídico, em não mais
admitir a vinculação do exercício do direito de recorrer à
segregação do réu; 4. Ordem concedida para determinar à
autoridade impetrada que proceda com um novo juízo de
admissibilidade do Recurso em Sentido Estrito interposto pela
Defesa do paciente, abstendo-se de utilizar o disposto no art.
585, do CPP, como fundamento para negar seguimento ao
mencionado recurso. Acolhimento da pretensão que se restringe
ao recebimento do recurso, mantendo-se a prisão preventiva,
cujo fundamento não é objeto de apreciação do presente writ.
Decisão Unânime. (TJ-PE - HC: 738420098171140 PE 0003902-
30.2011.8.17.0000, Relator: Antônio de Melo e Lima, Data de
Julgamento: 13/04/2011, 2ª Câmara Criminal, Data de
Publicação: 84/2011).

RECURSO - SUBMISSÃO À CUSTÓDIA -


INEXIGIBILIDADE. Descabe condicionar o recurso ao
recolhimento do recorrente à prisão. O artigo 594 do
Código de Processo Penal - hoje revogado pela Lei nº 11.719/08
- não foi agasalhado pela ordem jurídico-constitucional de 1988.
(STF, Tribunal Pleno, HC 90279-DF, rel. Min. Marco Aurélio, DJe
21-08-2009).

Dessa forma o recebimento do recurso


interposto é medida que se impõe.

III – DOS PEDIDOS

Isso posto requer seja conhecida e provida a


presente Carta Testemunhável, porquanto tempestivo e
pertinente à hipótese em vertente, maiormente em razão dos
fundamentos lançados na presente peça recursal, determinando
este E. Tribunal o processamento do Recurso em Sentido Estrito.

Nestes termos, pede deferimento.

Local e data

NOME DO ADVOGADO
Nº DA OAB

[1] OLIVEIRA, Eugenio Pacelli de. Curso de processo penal. 18ª ed. São Paulo, Atlas,
2014 p. 690-691).

Você também pode gostar