Eita, confusão

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ACTO I

CENA I - COISA DE CINEMA.

O palco vazio.

Entram os três narradores e se posicionam.

NARRADOR 01
Boa noite, gente bonita!

NARRADOR 02
E gente desprovida de beleza também.

NARRADOR 03
Boa noite para quem só veio fofocar.

NARRADOR 01
Para quem é bonito, um sorriso de emoção...

NARRADOR 02
Para quem é simpático, a nossa consideração.

NARRADOR 03
E para quem trabalhou o dia todo, tá perdoado.
Professores, essa é para vocês!

NARRADOR 01
Posso começar?

NARRADOR 03
Vai lá.

NARRADOR 01
Era uma vez, num sol de rachar, Uma moça bonita, que só
queria estudar... Não é você [Brinca com alguém da
plateia] Mas, eis que o destino veio, cheio de confusão,
e lhe trouxe um casamento... meio que na obrigação.

NARRADOR 02
(GRITO)
Crime!

NARRADOR 03
Não estraga a história!

NARRADOR 02
Foi mal, me empolguei. O pai dela, um bigodudo, sonhava
em casar a fia com um tal de mauricinho. Era o filho de
um fazendeiro, cheio de gado e dinheiro, mas para a moça
era um castigo, não tinha nada de maneiro.

NARRADOR 03
Poisé, minha gente boa, a menina tinha um segredo: Era
apaixonado por outro, um artista viajante e com zelo.

NARRADOR 01
Mas, não era qualquer artista, era danado o sujeito!
Fazia graça, vendia arte e rondava uma ou outra cidade.
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NARRADOR 02
E quando soube do casamento, não quis ficar parado.
Resolveu dar um jeito, num plano é muito ousado.

NARRADOR 03
E é a partir daqui, que tudo se complica. A história, vai
ser uma promessa...

NARRADOR 01
Vai ter romance?

NARRADOR 02
Vai!

NARRADOR 03
E vai ter beijo?

NARRADOR 01
Vai! Quer dizer, não tio JOR-GE! Não... Não... Não...

NARRADOR 03
Sei que tia Dani e simone agradecem... não aguentam mais
ver a gente ensaiar.

NARRADOR 02
Ei, parem de falar... hora de começar.

OS TRÊS:
BOM ESPETÁCULO!

CENA 2 - O CASAMENTO

TODOS ENTRAM CANTANDO - OLHA PARA O CÉU.

O CASAMENTO É FORMADO. NOIVA E NOIVO NO ALTAR.

PADRE E COROINHA EM FRENTE.

PAIS AO REDOR.

PADRE:
Boa noite a todos, estamos aqui reunidos…

COROINHA:
Cuidado pra não engasgar com a cusparada, padre.

PADRE:
Quer celebrar no meu lugar?

COROINHA:
Não senhor. Quero o vinho...

O padre joga um CARÃO PARA ELE.

PADRE:
Como eu dizia… Estamos aqui para unir…

NOIVO:
DOIS CORAÇÕES APAIXONADOS!
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NOIVA:
Ou só um, no caso.

PAI DA NOIVA:
Aquiete Maria Rosa!

PADRE:
Unir... dois jovens que decidiram selar o amor na
presença de família e amigos.

NOIVO:
Eu esperei por esse dia a vida toda!

NOIVA:
É, e parece que foi mesmo uma vida toda esperando.

PADRE:
E para começar, vamos aos votos. Vamos começar pelo
noivo, claro.

O noivo se posiciona da forma mais romântica


possível -

NOIVO:
Eu, Mauricinho, prometo ser o melhor marido do mundo.
Prometo te levar pro shopping todo mês, comprar tudo na
promoção da feira… até pastel de queijo, se quiser!

NOIVA:
Eu sou alérgica a lactose, me conhece tão bem.

NOIVO:
Ajuda, mulher, é só fingir!

NOIVA:
Tá bom... Eu, Maria... prometo... Prometo que isso aqui
vai acabar antes desse povo levantar.

PADRE:
Filha, isso é um voto ou um protesto?

NOIVO:
É o nervosismo, padre. Ela tá emocionada!

NOIVA:
É, emocionada de raiva.

PADRE:
Se tiver alguém contra esse casamento que fale agora
ou...

A noiva puxa um texto gigante e o padre acelera.

PADRE:
Por Deus e pelas bênçãos da Nossa Senhora de Sergipe, eu
vos declaro… quase casados!

Começa a festa.

Todos celebram; menos a noiva.


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CENA 03 - A PROMESSA.

Enquanto a festa continua animada ao fundo, a música


"Você Não Me Ensinou a Te Esquecer" de Caetano
Veloso começa a tocar suavemente. O Malandro,
disfarçado, se aproxima discretamente da Noiva, que
está em uma mesa sozinha, com um ar pensativo. Ele,
com um sorriso, pega uma flor e se aproxima dela.

NARRADOR 02
E agora, com vocês, NO PALCO, As mangabas violentas,
performando: "Você não me ensinou a te esquecer!"

NOIVA:
O que está fazendo aqui?

MALANDRO:
Eu vim só por você, Maria Rosa. Foi só quando te vi que
entendi o que é o amor.

NOIVA:
É o que você diz pra todas...?

MALANDRO:
É verdade... mas, nunca tinha sido de real. Foi você que
fez meu coração aprender a amar.

NOIVA:
Pede juras de amor. E se jurar que me ama, que ama de
verdade, uma CAPULETO deixo de ser.

MALANDRO:
Eu juro!

REFRÃO - AGORA O QUE FAÇO EU DA VIDA SEM VOCÊ...

MALANDRO:
À meia-noite, vamos fugir… Eu já consegui tudo.

NOIVA:
Eu preciso me despedir.

MALANDRO:
Vai dar tudo certo...

NOIVA:
Agora se esconda... ele não pode te ver, se não te mata.

Ela sai empurrando ele.

CENA 4 - AS VELHAS FOFOQUEIRAS.

As três velhas fofoqueiras se aproximam:

FOFOQUEIRA 01:
(Falando sussurrando)
Então, você conhece a Dona Neide!

FOFOQUEIRA 02:
Diga a nova...
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FOFOQUEIRA 03:
Já começou bem...

FOFOQUEIRA 01:
Pronto, ela me contou que a Jéssica, vizinha dela, tá
enrolada com um sujeitinho má pinta que se chama Bob
Marley da Silva Soares Catinguento de monte Oliveira
Santos dos pobres e esquecidos dos canfundó de
itabaianinha.

FOFOQUEIRA 02:
Não me veio ninguém na memória.

FOFOQUEIRA 03:
A Jéssica, muié. Filha da dona Lineide.

FOFOQUEIRA 02:
Prima da Soraya?

FOFOQUEIRA 03:
Não, irmã da CAROLINA.

FOFOQUEIRA 02:
Mas, a soraya não é filha da dona Lineide?

FOFOQUEIRA 03:
É neta da Dolores!

FOFOQUEIRA 01:
Então, a Jéssica, que é prima da Soraya, irmã da Carolina
e filha da Dona Lineide que é neta da Dolores, a velha
que anda assim -

Ela faz uma careta e um andar torto.

FOFOQUEIRA 02:
Mentira?

FOFOQUEIRA 01:
Sim. E o problema, é que o cabra é esposo da irmã.

JUNTAS
A Carolina.

As fofoqueiras suspiram de excitação pela fofoca.

FOFOQUEIRA 02:
Sai para lá, esse povo já gosta de aprontar.

FOFOQUEIRA 01:
Diga... Mas, quem somos nós para julgar?

Elas olham para a plateia.

FOFOQUEIRA 01:
Que foi? Vocês são tão fofoqueiros quanto a gente!

FOFOQUEIRA 02:
São sim...
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FOFOQUEIRA 03:
Verdade.

FOFOQUEIRA 01:
Afinal, por que outra razão estariam aqui?

FOFOQUEIRA 02:
Vai que de repente, nós na verdade, somos uma peça de
teatro num mundinho diferente.

FOFOQUEIRA 03:
E quem seria Broco o suficiente para pagar para nos
assistir?

As três olham para a plateia e abrem seus leques.


Uma enxerga o noivo e anda até ele.

NOIVO:
Boa noite, senhoras!

JUNTAS:
Boa noite cor... noivo.

FOFOQUEIRA 03:
Seu lindo!

As duas olham para ela, incrédulas.

NOIVO:
Algum problema?

FOFOQUEIRA 01:
Problema? Só se for o seu, meu filho.

NOIVO:
Como assim?

FOFOQUEIRA 02:
Meu querido, você sabia que a noiva tá um pouco...
distraída hoje?

FOFOQUEIRA 01:
Distraída não, mulher. Ela tá é ocupada! Dizem que tem um
certo "artista" que veio só pra ver ela…

NOIVO:
Artista?

FOFOQUEIRA 03:
É, um rapaz que parece que sabe dançar, cantar, e quem
sabe… conquistar! Uma pena, um partidão desse...

FOFOQUEIRA 01:
Eu só sei de uma coisa: se fosse comigo, eu botava o olho
em todo canto! Porque homem que casa e não presta
atenção… pode acabar usando chapéu, mas não de vaqueiro!
(As três caem na gargalhada, enquanto o
noivo fica cada vez mais tenso.)
NOIVO:
Vocês estão insinuando o quê, hein?!
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FOFOQUEIRA 02:
Nada, nada… Só estamos dizendo que hoje pode ser o dia
mais feliz… ou mais surpreendente da sua vida!

NOIVO:
Não tô gostando dessa conversa e se me permitem...

Elas saem de cena.

CENA 05 - O NOIVO E OS PAIS DA NOIVA

O noivo chega próximo aos pais da noiva.

NOIVO:
Seu João e Dona Conceição, preciso vos falar...

PAI DA NOIVA:
Fale logo, homem, que não tenho tempo para lenga-lenga.

MÃE DA NOIVA:
O que foi meu filho? A comida acabou?

NOIVO:
Não, não é a comida! É a sua filha!

FOFOQUEIRAS:
A filha!!!!

NOIVO:
Acho que ela... Ela... está...

Ele faz os chifres na própria cabeça.

PAI DA NOIVA:
O que está me insinuando?

NOIVO:
Ouvi histórias...

FOFOQUEIRAS:
Lascou-se!

NOIVO:
Tem um tal sujeito, um artista...

MÃE DA NOIVA:
Artista não...

NOIVO:
Um malandro, dona Conceição. Um sujeito que dança...

PAI DA NOIVA:
Céus!

NOIVO:
Que canta...

MÃE DA NOIVA:
Sangue de Jesus...
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NOIVO:
E conquista...

A mãe desmaia.

PAI DA NOIVA:
Isso é um desrespeito.

MÃE DA NOIVA:
Calma, João! Não vá fazer besteira. Olhe a pressão, olha
a gota, olha a diabetes, olhe a enxaqueca, olhe a pedra
no rim, olhe...

NOIVO:
Assim ele vai direto para o caixão!

Entra a noiva.

NOIVA:
O que conversam?

MÃE DA NOIVA:
Minha filha... preciso lhe falar... Não se ofenda...
Queria saber...

PAI DA NOIVA:
(Alto)
Mauricinho é corno?

NOIVO:
O que?

NOIVA:
O que tem dito aos meus pais?

NOIVO:
Histórias que ouvi!

NOIVA:
De quem?

Ele olha para as fofoqueiras que se escondem atrás


dos leques.

NOIVA:
Suas velhas intrometidas...

Elas começam a desfarçar.

NOIVA:
Falem.

Entra o Narrador -

NARRADOR 01
E agora com vocês, as gurias das mangabas violentas
cantando "Xote das meninas".

A banda canta e os atores dançam.


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Pós música.

NOIVA:
Vocês não sabem de nada, não passam de velhas
fofoqueiras, sem graça e irritantes.

FOFOQUEIRA 01:
Que ousada...

FOFOQUEIRA 02:
Que malcriada.

FOFOQUEIRA 03:
Que horas vão servir o jantar?

As três abrem o leque e saem.

CENA 06: A DEUSA DA MINHA RUA.

O noivo fica furioso.

NOIVO:
Tudo o que eu sei, é que deixei de ir para o rio de
Janeiro bicho, por causa desse casamento. Ou seja, dêem
seus pulos. Falou.

Ele sai irritado.

Os pais se aproximam.

PAI DA NOIVA:
Quando o boi tá brabo, sai de perto.

MÃE DA NOIVA:
Minha filha, filhota, o que está acontecendo?

NOIVA:
O que adianta agora? Já vos disse que não quero e nem
queria casar. Eu não amo Mauricinho.

PAI DA NOIVA:
Mas, vai aprender à amar.

NOIVA:
Amar não é uma coisa que só se aprende, meu pai. Tem que
sentir também.

MÃE DA NOIVA:
Mas, como sabe que não vai sentir por mauricinho?

NOIVA:
A gente sabe dessas coisas. É como se houvesse milhôes de
borboletas voando no estõmago. Elas deixam a gente
desconfortável, nervosa; nossa mão sua frio, ficamos com
a garganta seca... minha mãe, não sentiu isso quando
conheceu, papai?

MÃE DA NOIVA:
Eu... eu... ele era o homem mais lindo que já tinha
visto.
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O pai faz poses.

MÃE DA NOIVA:
Eu casei porque painho tinha de me casar e eu tava tão
nervosa. Ai ele chegou, trazendo aquele buquer de flores
enorme, com aquele bigode desengonçado. Um homem
daqueles...

NOIVA:
E tu painho... o que sentiu?

PAI DA NOIVA:
Ora minha filha, senti como se tivesse ganhado na
loteria, o prêmio mais alto. Eu casei com a muié mais
linda que alguém podia ter.

NOIVA:
Viram? Exato! É isso que quero sentir... todo mundo
merece viver um grande amor.

PAI DA NOIVA:
Tem razão, minha filha. E teu amor é Mauricinho, então se
comporte. E tenho dito.

O pai sai.

A mãe continua ali...

MÃE DA NOIVA:
Vamos esquecer por um segundo essa suas doidices. Me
conta, quem é ele?

NOIVA:
Não sei se devo.

MÃE DA NOIVA:
Conta minha filha!

Entra o narrador -

NARRADOR 03
E agora com vocês, na cena que deve fazer vocês se
apaixonarem... Dudu, vindo direto das mangabas violentas
solando em: "A deusa da minha rua"

Cena de dança entre a noiva e o malandro.

Os dois param para conversar.

CENA 07: O PRIMEIRO ENCONTRO -

Maria Rosa (ops) a noiva, está sentada com um livro


na mão - ROMEU E JULIETA.

NOIVA:
Ai de mim! Amor tão odioso, ódio tão amável... tudo que
não é, e ainda assim parece ser -

MALANDRO:
Essa história de ódio e amor, é como o sol e a lua.
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Sempre longe, mas nunca deixando de se admirar.

NOIVA:
Olha ele... E tu sabe sheakspere agora, é?

MALANDRO:
Eu sei que a beleza dessas palavras não são nem metade da
que tá ai, na frente dos meus olhos.

NOIVA:
Bonito discurso. Mas você não sabe o que quer dizer.

MALANDRO:
Fala de amor proibido, dos sonhos que ninguém pode
roubar... e também de coragem.

NOIVA:
Coragem?

MALANDRO:
Sim, dona moça. Coragem para ser quem a gente quer ser,
mesmo quando o mundo diz que não pode. Igual você, que
vive com o nariz nos livros, sonhando em ser...
Professora?

NOIVA:
Como sabe disso?

MALANDRO:
Tá escrito, uai. Não é só qualquer
um que lê shakespeare por diversão.

NOIVA:
Eu quero mesmo. Quero estudar, conhecer o mundo. Ensinar
para as pessoas que a vida pode ser maior que tudo isso
aqui.

MALANDRO:
Você é diferente... especial.

NOIVA:
Eu?

MALANDRO:
A cabeça nas nuvens e os pés no chão. Tem gente que não
gosta.

NOIVA:
Se não gostan, que aprendam a aceitar.

MALANDRO:
Eu acho lindo.

Canta-se o refrão novamente.

NOIVA:
E você é um caso perdido?

MALANDRO:
Talvez, você professora, consiga me achar.
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Voltamos ao presente.

MÃE DA NOIVA:
Vou ver o que posso fazer.

As duas saem.

CENA 08: MALANDRO É MALANDRO.


O malandro entra em meio a festa, todo perdido.

MALANDRO:
Calma, calma, só se manter calmo que ninguem vai te
perce-

Ele dá de cara com o noivo.

NOIVO:
E quem é você?

MALANDRO:
Eu... Eu... Sou o garçom atrasado. Posso lhe servir o
que? Um acarajé? Um refrigerante? Quem sabe um tapa
chifre!

NOIVO:
O que?

MALANDRO:
Nada não, senhor.

NOIVO:
Tá me parecendo familiar.

MALANDRO:
Só tenho rosto comum, senhor.

O noivo enxerga o padre.

NOIVO:
Padre, preciso de um favor. Preciso confessar.

PADRE:
Pois confesse.

COROINHA:
Confesse!

Os dois olham feio para ele.

COROINHA:
Saindo.

NOIVO:
Estou com uma raiva que só Deus pode curar. Tem um
sujeito má pinta, feioso e ordinário -

MALANDRO:
(ALTO)
OXEE...
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NOIVO:
Rondando minha noiva.

PADRE:
Mas, casamento é isso, numa hora amor outra ódio.

NOIVO:
Amor... sei não. Mas, ódio, tenho de sobra. Se eu pegar
esse sujeito, acabo com ele...

MALANDRO:
Comigo? Sou dificil de acabar, sou que nem a saga do
vaqueiro.

PADRE:
Socos não resolvem nada. Olhe que quem muito corre,
tropeça.

NOIVO:
Olhe que estou de olho aberto atrás dele. Você ai!

Para o malandro...

NOIVO:
Quero um caldinho.

MALANDRO:
Sim senhor, positivo senhor, com toda certeza e me fui.

Ele sai as pressas.

NOIVO:
Padre... eu preciso esmurrar alguém. Eu tõ sentindo essa
euforia aqui dentro. Não sei explicar.

PADRE:
Fale alto, meu filho, confesse.

NOIVO:
Não quero ser cornoooo!

PADRE:
Melhor ser corno que perder o juízo.

NARRADOR 01
E agora com vocês das mangabas violentas, performando
espumas ao vento, em homenagem aos cornos, LUDMILA!

CANTAM E DANÇAM.

CENA 08: A SANTA.

A NOIVA SE APROXIMA DO PADRE E PEDE UMA BENÇÃO.

Ela chega no centro e faz o versinho de "O alto da


compadecida".

NOIVA:
Mãe de Deus, valha-me! Ajude essa pobre alma apaixonada,
que só queria seguir seu coração, mas caiu num torvelino
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de confusão. Se o destino é ser livre e viver de amor,


mostre um sinal, um caminho, por favor.
(Ela tem uma ideia)
Valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré!
A vaca mansa dá leite, a braba dá quando quer.
A mansa dá sossegada, a braba levanta o pé.
Já fui barco, fui navio, mas hoje sou escaler.
Já fui menina, fui mulher, só me falta ser Homi.
Valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré!

Nossa senhora desce do céu.

NOSSA SENHORA:
Oxente, menina! Cê acha que eu não tenho mais o que
fazer, não? Tem santo aqui em cima com fila de pedidos
pra chuva, colheita, e você vem me chamar pra resolver
rolo de casamento?!

NOIVA:
Mas é que... eu tô perdida...

NOSSA SENHORA:
Bora conversar.

Os três narradores entram como anjos.

NARRADOR 01
Parece que ela tá de bom humor hoje.

NARRADOR 02
Duvido! Se a gente errar uma palavra, leva bronca.

NARRADOR 03
Vocês vão fazer a gente...

NOSSA SENHORA:
Eu tô ouvindo, viu?!

NOIVA:
O que eu faço? Por um lado, quero fugir, por outro, tenho
medo de desonrar minha família.

NOSSA SENHORA:
Ai, meu pai eterno, é cada pergunta... Eu vou te
responder com outra pergunta: O que te deixa mais
animada, mais feliz?

NOIVA:
Livros, de modo geral.

NOSSA SENHORA:
Mais que casamento?

NOIVA:
Bem mais.

NOSSA SENHORA:
Então?

NOIVA:
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Meu pai falou que casamento traz prestígio, e o... bem,


ele disse que vai me levar pra ver o mundo.

NOSSA SENHORA:
E tu? Tu já perguntou pra ti mesma o que tu quer? Ou tá
só vivendo pra agradar os outros?

NARRADOR 01
Ela deu aquela resposta de mãe, que parece simples, mas
deixa a gente todo embananado.

NARRADOR 02
É a técnica milenar da dúvida existencial.

NARRADOR 03
Só anjo experiente aprende isso.

NOSSA SENHORA:
E vocês dois? Querem um emprego novo, é?
(Ela continua)
Sonho não bate à porta, viu? É tu que tem que sair e
fazer acontecer. E quer saber? Se esse malandro ou esse
noivo quiserem mesmo ficar contigo, que corram atrás da
mulher que tu vai ser!

NARRADOR 01
Poético, viu?

NARRADOR 02
É. Mas ficou com medo dela me dar bronca de novo.

NARRADOR 03
Mãe é mãe.

Os quatro saem, deixando a noiva sozinha.

CENA 9: A VOLTA DAS FOFOQUEIRAS.

As velhas entram novamente.

Duas até a noiva e uma até o noivo.

FOFOQUEIRA 01:
Menina, tu não vai acreditar!

NOIVA:
Provavel, Vocês têm cara de quem inventa coisa pra viver.

FOFOQUEIRA 02:
Que injustiça! Eu só digo o que vejo e escuto... e dessa
vez, a coisa é séria!

FOFOQUEIRA 01:
O teu noivo... tá bufando de raiva! Disse que vai pegar o
Malandro!

NOIVA:
Pegar? Como assim pegar?

FOFOQUEIRA 02:
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Do jeito que ele tava falando, menina, parece que ele vai
dar um fim no coitado.

A fofoqueira 03 com o noivo.

FOFOQUEIRA 03:
Posso lhe dizer uma coisa... mas só porque quero ser sua
amiga... Eu sei quem é o Malandro.

NOIVO:
Sabe? Onde ele tá?

FOFOQUEIRA 03:
Eu não devia dizer, mas... ele tá aqui na festa!
Disfarçado de GARÇOM.

NOIVO:
GAR-Ç - FIO DE UM CA -

Ela abre o Léqui.

CENA 10 - O FORRÓ FINAL

Rola uma grande cena marcada, onde o noivo vai atrás do


malandro. A noiva tenta escondê-lo.

Tudo vira uma confusão.

Todos param no meio de todos.

NOIVA:
Querido, venha dançar.

NOIVO:
Querido?

O malandro foje.

FOFOQUEIRA 01:
Perto do bolo.

A marcação continua.

FOFOQUEIRA 02:
No meio do povo.

A marcação continua.

FOFOQUEIRA 03:
Dançando com -

Os dois estão dançando.

NOIVO:
Agora te peguei -

NOIVA:
Pelo amor de Deus, isso não é um ringue.

NOIVO:
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Quer saber, cansei desse casamento. Não quero mais casar.


Chega!

NOIVA:
Eu também não quero.

FOFOQUEIRA 03:
Se tu não quer, eu quero.

Ela pega o noivo nos braços e o leva.

PAI DA NOIVA:
Isso é um absurdo! Uma vergonha! Eu não criei minha filha
pra isso!

MÃE DA NOIVA:
Pois criou mal, então. Tá na hora de parar de querer
mandar na vida dela!

PAI DA NOIVA:
Como é que é?

MÃE DA NOIVA:
(Mostrando autoridade)
Deixa ela escolher o caminho dela, homem. A gente não
pode viver pelos filhos. Ela precisa descobrir a vida que
ela quer.
(PARA AS FOFOQUEIRAS)
E vocês? São convidadas de quem? Saiam daqui antes que eu
jogue vocês no tanque de lavar roupa!

As velhas saem correndo.

PADRE:
Ora, ora! Então, ainda temos um casal disposto a casar,
de verdade dessa vez?

NOIVA:
Não, padre.

Ela se aproxima do malandro.

NOIVA:
Eu amo você, mas... eu ainda não sei quem eu sou. Não sei
o que quero da vida. Tenho sonhos, quero viajar, estudar,
descobrir o mundo e a mim mesma.

MALANDRO:
Eu entendo. E vou estar aqui, esperando por você...
quando você estiver pronta... "Se o amor é cego, a
escuridão será o meu guia. Que a noite me leve até você,
e, se for preciso, eu andarei por mil luas, só pra ver o
brilho do teu olhar.

NOIVA:
"E se a estrada for longa, que cada passo seja um verso.
Porque o amor, como poesia, vive mesmo quando não é lido.
Eu carrego você no meu peito, como uma canção que nunca
termina.
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MALANDRO:
Então prometo, minha amada, que cada passo meu será pra
te encontrar.

Os dois se abraçam e todos se preparam para sair.

CENA FINAL - PRÓLOGO.

OS NARRADORES ENTRAM

NARRADOR 01
E assim terminou a festa... Não como planejada, mas como
deveria ser. Maria Rosa não casou naquela noite.

NARRADOR 02
Ela tinha outros planos, outras histórias para escrever.
E foi isso que ela fez. Partiu, com coragem no peito e
livros na mala. Viveu aventuras, descobriu o mundo e se
descobriu nele."

NARRADOR 03
E o malandro? Ah, ele seguiu sua arte. Fez palco das
ruas, aprendeu com o tempo. E talvez, só talvez, um dia
eles se reencontraram...

NARRADOR 01
Quando já estavam prontos, maduros. Dois corações que
viveram o bastante para entender que o amor não prende,
liberta.

NARRADOR 02
porque o amor verdadeiro, seja de um amigo, de família ou
de um grande romance, não exige nada em troca. Ele só...
existe.

NARRADOR 03
E você? Já viveu o seu grande amor? Ou será que ele ainda
está por vir?

NARRADOR 01
Qual é a sua grande história de amor?

NARRADOR 02
Que você encontre sua história, ou viva a que já tem, com
tudo o que seu coração pode dar.

NARRADOR 03
Ah e por que mangabas violentas? É que a ideia era ser
banda de rock. Vai entender né.

Música final: O amor do mundo inteiro.

Dança final. No beijo final...

NARRADOR 01
CÊS ACHAM mesmo que tio Jorge vai deixar, é? Fecha a
cortina... fecha a cortina... fecha a cortina... Adeus!

TOCA: O AMOR É FILME.


19

FIM!

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