Nem Sei Se Eramos Felizes (Em PDF - Completo e Revisado)
Nem Sei Se Eramos Felizes (Em PDF - Completo e Revisado)
Nem Sei Se Eramos Felizes (Em PDF - Completo e Revisado)
Carta de apresentação.
Oi.
Pronto para embarcar nessa história? 8 amigos que tem suas
vontades e expectativas testadas apreendendo a lidar com outros
pensamentos...Eu mesmo,preciso de doses grandes de paciência para
entender que,nem todo mundo pensa,como eu penso...E você ,também
é assim ?Acho que todos nós...
Quando escrevi esse livro imaginei qual a minha maior
necessidade ...Daí percebi que os amigos eram uma das minhas maiores
riquezas ...
Quando você começar a ler essa história gostaria que percebesse
toda a fragilidade de cada um dos personagens que, se pudessem
fariam mais e errariam menos ,mas que como todo mundo,nem sempre
sabem qual a fórmula ...Ao ler essa história entre 8 amigos ,não julgue
nenhum deles ,pois acho que seria bem mais divertido se você se
sentisse como um deles ..
Ato I
Ato II
ATO III
29 Ao menos tenta,cara...
30 E agora menina ?
31 O que agente realmente quer ?
32 A despedida
33 Nem tudo é Savanah
34 J.C e Savanah
35 Diana e Savanah
Ato 1:
Thereza ;
seja bem vinda .
Que horas deveriam ser? Nos lençóis de cetim, ela olha para o lado
e agradece por não ter nenhum estranho,daqueles que te perguntam:
“ Qual é mesmo o seu nome,gatinha ?”, Na sua mesa de café da
manhã...
No seu íntimo, ela sabe que já passou das 7:36 da manhã e que hoje,
Savanah fará apenas fotos para uma modelo nova
.Dia fácil .Humor fácil .
Como uma rainha,o último suspiro e dado sob os lençóis e ela pula
direito para o chuveiro,com muita água fria. Estranhamente naquele dia
,ela havia acordado com disposição...para tudo. Parecia que o dia lhe
traria coisas novas.
Quando ela acordava assim ,apenas algumas músicas podiam tocar
durante seu banho. Então,o rádio é ligado e as primeiras batidas de “ I
am slave 4 you “começam .A água gelada que, jamais encostava nos
cabelos escovados profissionalmente, parece mais agradável hoje .
Savanah canta :
– All the people look at me ,just like a little girl ....Após a
torneira fechada,ela encosta sob a secretária eletrônica e vai
escutando a seqüência de recados,enquanto se veste .Uma voz
facilmente reconhecível, começa ao som da triunfal House Music:
- Sanaaaah!Sou eu Cristal .Está festa está tudo de bom ...Tira a
mão do meu peito seu metro-viado .Pena que você queira enganar os
outros,com essa imagem de mulher culta. Tá perdendo, se o telefone
cair ,são os crédi... tum,tum,tum,tum....
– Deve ter sido uma glória ter sido registrada assim ,né ?
********************
Era mais um dia,por já passar das 14:38 hs e sua vizinha não ter
ligado,parece que tudo havia ocorrido bem ...
Ela estava contente aquele dia,afinal mesmo que Callato tivesse
olhos tristes,suas lembranças iam,pouco á pouco,lembrando-se
de...Callato.
Ela quase o havia feito sorrir. Diana indagava-se,olhando a agenda sob
a mesa do café ,o que faziam as pessoas gostarem uma das outras (?)
O que ele havia feito,para que ela ficasse olhando a agenda,mesmo que
sem trabalhos marcados para aquela manhã (?)Ela começa á achar que
o dia estava bem mais luminoso hoje.
A máquina cibernética e neurótica toca no bolso de Diana – logo
eles que,prometiam nos comercias,que era para facilitar nossa vida –os
bips vão ficando cada vez mais altos,até ela perceber a presença do
celular - Existe coisa mais chata do que celular tocando quando não
estamos no ritmo neurótico de trabalho ?- Diana aciona o
celular,mesmo não querendo .
- Bom dia , a vida é linda .Diana falando.
Do outro lado uma voz falha ou rouca de quem havia acordado há
pouco tempo ...
- Oi, Di ,sou eu,sua vizinha querida.
- Fala bem,você não trancou aqueles que ficaram depois das
3:38 hs ,né ?
- Ahmmmm, eu,eu...
- Que voz é essa de sono ?
- Não ,eu nem dormi essa noite .
Em um outro lado da cidade. A escritora ,pela primeira vez na
vida,busca as palavras certas ...
-Só me deixaram dormir ,depois das 10:00 da manhã...
Com uma voz bem humorada ,Diana arremessa:
– Bombaram até as 10:00 hs ?
- Mais ou menos ,eu só consegui dormir ,depois que o incêndio
foi controlado,Diana. Desculpe ! Não foi minha culpa,mas os bombeiros
não conseguiram controlar o fogo.Seu apartamento se foi ,nem mais
aquelas cartas ...
Por alguns instantes ,Diana observa tudo á sua volta e tudo parece
estar no lugar,mesmo sabendo que sua vida está se tornando um
inferno a cada segundo que passa...
- Se for mais um brin...diz que isso é brincadeira. Pelo amor
de deus ,diz que não foi comigo!
– Desculpa... eu preciso passar um semana na cidade do meu
editor,se você quiser a chave do apartamento,está no mesmo lugar...
De um jeito longínquo,ela diz :
– Obrigado.
Naquelas outras várias horas,o tempo,era inimigo .Diana continuava
olhando a xícara de café –frio...Ela levanta-se e despeja algumas notas
sob a mesa. Vai caminhando,estranhamente com o pensamento no
estúdio onde costumava trabalhar ,mesmo que hoje não tivesse
trabalho...
Ela passa naquela rua cinza e nada consegue deter sua atenção.
Ela passa pelo porteiro e por ser conhecida,nada a pára. Na sala,
também cinza,ela senta no sofá branco e assim fica. No íntimo,
esperando o tempo retornar ...A máquina neurótica volta a tocar e
Diana atende.
–Diana ? Sou eu Savanah, querida. Tudo bem?
- Tudo .
- Tem certeza ?
Tomada de uma fúria,ela responde:
- Já disse que sim!
- Você jamais seria grossa. Me conta o que aconteceu. O
porteiro já me ligou. E, eu sei que você não está bem ...
Com uma voz confusa,como um rio que arrasta as casas e
palavras,ela responde:
– Eles destruíram com tudo o que eu tinha ...
- Eles quem?
Dessa vez o rancor estoura .
- Eles. Os drogados,irresponsáveis-filhos-da-puta. Aqueles que
não tem casa; destroem a minha casa ...
Com uma voz preocupada,Sav diz:
- Fica exatamente aí. Eu estou indo te buscar.
– Vem,amiga ...
O carro vai atravessando a cidade,ao som de Portshead . Savanah
havia sempre se identificado com aquele som,mesmo que nunca
houvesse entendido tudo. Savanah vai observando o caminho,
lembrando todos os momentos difíceis da vida. Ela não sabe o que
aconteceu,nem como vai reagir quando souber,mas amizade era para
isso Repetia ao longo do caminho ...
– Oi José,Diana continua aí ?
Com um rosto preocupado,porém obediente o porteiro afirma com
os olhos ....
- Obrigado.
A porta é aberta com a chave de Savanah. Seus pés vão ganhando
o estúdio,até chegarem ao lado dos pés da amiga que,olha pra
janela,com um cigarro aceso,mas parecendo intocado.
Mesmo sabendo que essa não era a melhor hora,ternamente ela diz :
– Você está bem ?
– Acho que ,talvez ,sim ...
Savanah fixa a atenção em seus olhos e diz:
– Existe algo que eu possa fazer ?
Num gesto de quase instinto. O choro toma conta daquela sala,
como uma vontade de limpar todos os erros daquela vida.
Diana olha na direção dos olhos de Savanah e com um voz fraca,diz:
– Me abraça,apenas me abraça.
Savanah sente que,pela primeira vez ,que esta ajudando alguém de
alguma forma. Ela não sabe muito bem o que fazer ,mas está ali,está
ali.É,está.
Diana vai repetindo já nos braços alheios ...
– Não é justo. Não é justo. Não ...
Cada vez que as palavras vão sendo pronunciadas,vão ficando
mais fracas e cada vez mais,inúteis ...
Depois dali ,Savanah a leva para casa. E,naquele apartamento tão
grande,elas se olhavam e,de vez em quando,sorriem...
**************
Música .Muito boa .Muito agito,enquanto para uns nada
interessava,para outros era a válvula de escape. Se existia algo que
tirava Savanah de sua armadura de mulher madura, era a
música,desde pequena,a música era seu universo paralelo; que a
protegia da ausência dos pais,sempre ocupados demais,recebendo
gente importante,em chatas diferentes línguas.Às vezes,ela se
questionava,se havia sido uma boa opção trocar todas as possibilidades
de Milão por uma vida de indecisões onde,ninguém,nenhum professor
poderia atestar que ela era muito criativa,apesar da necessidade de
provocar,sempre. Nesse instante,ela é despertada pelo suas
amigas:Cristal a inesquecível e Diana ,a impossível. Ela mesmo já havia
confessado que
sua vida seria insuportável sem a presença de todos eles... Num ritmo
de 3 em 3 tempos elas vem cantando na direção de Savanah.
“ Esse ano /eu me comportei/ /comi chuchu,até agrião /Agora, Papai
Noel / me-dá-esse-bofão/”
Os homens que escutavam a brincadeira não deixava de rir, assim como
Savanah :Diana era a mais engraçada .Cristal,a mais bela;sua herança
escandinava chamava atenção em todos os lados. Sabe aquele jeito
de quem gosta de ser garota (?) Os homens a veneravam e até as
mulheres a“ respeitavam” -se é que isso é possível -.
Elas riem ,cantam e dançam ,talvez o melhor de estar aberto
para coisas novas,pessoas novas ... era poder criar pequenos
momentos de felicidade que,ficariam na memória ...
Ninguém tolerava falta de classe em festas de moda, mas perto do
final do ano,tudo era possível .Essa era a razão da volta de Savanah. O
calor de sua pátria que,ela dificilmente sentia em qualquer outro lugar .
Alguns minutos depois da brincadeira,Diana volta com um rosto
teatral como se a 3 bomba atômica fosse acontecer e diz:
– Cristal querida,olha aquele macho que eu vou apresentar para a
Savanah !
Continuação do ato 1
*********
************************************
O imprevisto no Domingo...
Correr impossível,até por que ele estava lá com toda sua
presença,ninguém podia escapar. Quanto mais perto ela movimentava-
se mais forte e pra perto ele vinha.Alessandra decidiu que não ia
render-se ao sol...numa cidade como aquela. Domingo,ás 14:37 hs
deveria existir algo para se fazer,talvez,pensou ela,dando uma volta
pelo parque,algum diretor de teatro poderia encontrar-lhe e dar-lhe uma
chance,pra guinada de sua vida,tipo:
Ele chegaria e elogiaria a sua rapidez para correr,fazer exercícios e
perguntaria se ela não gostaria de interpretar o papel principal em sua
nova produção.Com um gesto incompreensível,ela passa a mão na testa
para enxugar o suor.Na verdade,ela já na agüentava mais escutar Norah
Jonnes e tomar cerveja belga . -um dos seus únicos luxos de artista
sem renda fixa –
na confusão de seus pensamentos,ela diz em voz alta:
Foda-se ,pelo menos, eu não sou Mocinha da novela das 8:00 hs!
É,definitivamente aquele calor não estava fazendo bem pra ela.
A noite chegaria.
“Hoje era quinta ou sexta?”- ,pergunta-se ela.
Aí,ela lembra que terças,são as Terças Teatrais onde ela dava aula de
teatro,para um grupo de desocupados que não entendiam nada,nem de
longe,da riqueza de um teatro experimental.
Para não assusta- los muito,ela encenava um versão de “O Vestido de
Noiva”,mas no fundo,há muito questionava-se se o futuro do
teatro,morava no passado dos anos 50 ... Aí, batia aquele medo de ser
igual a personagem de Kelly Fox em “As Intimidades“que,a quem
interessar possa,ela já havia visto umas 4 vezes sem cansar ...
Aquele tipo de pessoa que sabe que não vai pra frente por que tem
medo de se entregar:ao público,ás possíveis vaias ,à grandes
amores...Ela não queria ser um pessoa insensível,mas depois de tantos
sofrimentos;do mínimos,aos mais insuportáveis... Ela decidira não
machucar-se mais...
Dentro daquele quarto abafado,ela apanha apenas a identidade–
com medo de ser interpelada e não ter documento. Isso,ela já havia
assumido pra si mesma,até a polícia poderia confundir-lhe com uma
assaltante perigosa,devido a sua falta de interesse,por cortes da moda.–
Ela põe apenas um elástico velho de cabelo, olha mais uma vez pra
aquela kitinete que,ela cismara de chamar de Loft e bate a porta,o calor
que devorasse seu gato,não ela.
Aperta o botão do elevador com força insistentemente e depois de
5 minutos,ela percebe que aquela merda de prédio deveria estar
consertando o elevador novamente.Com um pensamento insensível,ela
lembra das malditas crianças do 601 que,de tão gordas gastavam o
elevador mais rápido. Ela havia decidido que,nada a estressaria naquele
dia...Descendo as escadas,ela vai lembrando com ternura do amigo de
Savanah. Por onde ele estaria numa hora dessas? Ele era um homem
especial e homens especiais essa hora estariam correndo também no
parque. Com um tapa na testa,ela corta aqueles pensamentos de
mulher dondoca que vive de pensão militar à espera de um novo
marido. Aqueles lances de escada pareciam intermináveis,mas ela já
estava no segundo andar e logo,logo primeiro e... liberdade,se não
fossem... as crianças gordas do 601 sentadas na escada e,o pior,nos
últimos degraus,logo o últimos que levariam Alessandra para a
liberdade do seu passeio no parque.
Ela sempre quis ser rica,somente para morar num mundo,onde
todos teriam o bom senso de não sentar nos últimos degraus ou bater
longos e intermináveis papinhos no meio do portão Social. Vendo a
cena,ela lembra-se de não desesperar-se e,mentalmente começa a
repetir:
Nam-mi- a-rro –ren-gue –kio/nam-mi-a-rro –ren-gue- kio./Nam –mi a
rro…
—Olá criançada(!!)vocês me deixam passar?
Para ser mais testada,recebe uma resposta afiada:
—Criançada não ,por que a gente tem nome,tia.
De todas as ofensas que uma mulher bem resolvida poderia tolerar,
talvez a mais desagradável fosse tomar desaforos de uma criança,pela
qual,você não tem o menor afeto e,exatamente por isso, não pode
arrebentar de porrada,como uma medida instrutiva.Com mais umas 5
mentalizações budistas,ela responde com bom humor:
—Exatamente por isso,querida,que eu não tive filhos...
Agora, você vai me dar licença ou eu vou ter que te encher de porrada?
O que Alessandra não contava era com a mãe barraqueira das
crianças gordas do 601 estivesse do outro lado da escada.
Quando a barraqueira,diz:
—Só faltava essa,um puta velha,querer bater nos meus anjinhos !
Recitando cada vez mais quantidades de nam mi a rro ren gue kio ,ela
responde:
— Foi só uma forma de expressar,até por que se seus filhos
estivessem sentados no lugar certo,nada disso teria acontecido.
Com sua calça belíssima da Gang e muitas, muitas pulseiras de
práxico,a barraqueira responde:
- Olha aqui,eu não tenho culpa se na sua idade,você não ter
pegado um homem,pra fazer gostoso...
Olha que, ela havia tentando ser educada,se ela pudesse,ela teria
tido mais paciência...mas a paciência acabou. E,com ela veio um grito
de Tiranossauro-Rex:
— Vai!todo mundo se fuder !! Inclusive a senhora e esses dois cu-
gordos que,se não saírem da minha frente agora;vão sair no chute!
Bem fazia Hittler que imaginava um mundo só de magros!
As crianças apavoradas e com muita dificuldade vão se retirando da
escada. Uma ação que não deveria demorar mais do que 18 segundos
com educação,demorara mais de 6 minutos,tempo que,Alessandra
julgava útil.
Ao conseguir passar pela crianças que,ela jurara nunca ter;para não
ser uma péssima mãe,assim como fora a sua. Para não ser insensível
com o sonhos do seus ... e,por último,no íntimo,saber que não poderia
dar um nível de vida legal para os pequeninos,tão ingênuos que não
tinham culpa de terem nascidos nesse sórdido-mundo. Isso,gera uma
sensação muito ruim dentro dela que,só se lembra de ter esquecido os
óculos escuros, quando as primeiras lágrimas contrastam com o sol da
rua ...
**************
Próximo do parque,o cheiro das plantas não muito longe das
pessoas brincando com seus filhos e... Meus deus,seu coração bate mais
forte. Ele de costas. Ele de bermuda marrom clara com sapato Dock -
Siders. Ele com alguém pequeno ao lado.Era ele,Domigos. Ela pensa em
acenar,mas acha que ele não a reconheceria. Tomando coragem,ela
apresa o passo em sua direção,mas é interrompida por um pivete:
- Perdeu tia,o que é seu é meu...Não tem caô,tá dominado!
Seu sangue imóvel é incapaz de reagir,mas ela sabe que tudo
acabará bem,quando Domingos ver a cena e vier correndo dar um
voadora naquela vítima da sociedade capitalista. Ela vai sentindo o
menino abrir sua bolsa,mas é incapaz de reagir e continua olhando para
Domingos que,nessa hora é alertado por seu filho que lhe mostra
a cena .Pronto,tudo estaria resolvido agora. Mais chocada Alessandra
fica,ao percebe que Domingos finge não ver. O pivete muito tonto de
cola de sapateiro,descobre apenas uma nota de r$ 10,00 reais no fundo
falso da bolsa.Com um olhar marrento,diz:
—Porra sua puta,saí com mais dinheiro da próxima vez,valeu !?
Ao sair,calmamente como se nada tivesse acontecido.Alessandra vê
Domingos se aproximando com um olhar confuso e afetuoso:
— Você se machucou ?Está bem?
As primeira palavras de Alessandra são:
—Não.
No fundo,no fundo, ela queria uma cena de arte marcial,com direito
a filé de pivete no final,mas não podia cobrar nada de um potencial
marido ....mesmo assim ela resolve arriscar:
—Você não viu o menino me roubando ?,por que...?
—O que você queria que eu fizesse. Que eu corresse e desse uma
voadora num cara armado?
Com um rosto um pouco mais expressivo,ela diz:
—Era... uma criança ...
Ele por sua vez não tinha muitas respostas se não:
—Olha ,você está conhecendo um locutor. E,não um super-herói...
Depois do choque,ela poderia pensar que talvez seus livros fossem
melhor companhia. Ao contrário,uma vez que ninguém explica as razões
do afeto. Ela havia gostado da resposta. Verdadeiramente,em muitas
anos de vida ,ela não via tanta sinceridade;não importava se ele fosse
homem ou mulher. Ela sentia-se bem perto de alguém em quem podia
confiar ...
Conversas de Bar.
Era um dia chuvoso na cidade e,quase todo eles não gostavam de
chuva,com exceção de Domingos que tirava esse tempo impossível de
ser sociável. E,escutava,incansavelmente “In the mood of love –
Ellington/Coltrane ou In a silet way do Milles” ,pra ser sincero,até
hoje ele não sabia quem era o seu maior gênio em sua vida:seu pai ou
Milles ...
Todos haviam tido dias difíceis, mas a primeira sexta era deles ...
Com os olhos em busca de algo,Domingos diz:
—Sexta-Jazz ... ,até que esse bar caro que você nos trouxe,não é
tão ruim assim,podemos começar a freqüentar por aqui ...
Savanah responde:
— Humrrrum.É o bar do meu amado. Tem o Jazz do meu
amigo.E,eu não acho tão caro assim...
Diana sentia-se obrigada a isso:
—Pra você não é caro,nem aqui,nem as botas da Fórum,nem os
vestidos do Samuel Cirnansk,né ?
Com um olhar ainda afetuoso,Sav responde:
—Deixa de ser rabugetinha,vai(?)Coma e beba o que quiser que
você é minha convidada,hoje.
Domingos acrescenta:
—Nossa convidada.
O que ele não contava,era com a falta de sensibilidade de Diana que
não parecia a mais confortável ao seu lado.
Com um olhar de soslaio,Diana responde:
—Não há necessidade,trabalhamos duro pra isso.
Savanah olha pro lado,como quem busca por algo;mesmo com
brigas,ela sempre voltava e começava a preocupar a idéia de Cristal não
estar por perto ... Savanah aproveita e joga uma notícia na mesa,só
pra não ter que encarar o silêncio:
—Sabe que eu li que 1/3 das mulheres latino-americanas são
responsáveis pelos sustentos de suas casas?
Savanah sempre detestara aqueles conversas genéricas sobre:Europa,
América Latina,Condição do Artista na contemporaneidade...por que
essas discussões nunca levavam ninguém à lugar nenhum.Ela sentia
que não apreendia nada com isso e,o pior,não havia provocado a menor
emoção na mesa. Não havendo outra solução,Savanah arremessa:
—Sabe o que me contaram naquele festa de lançamento de
perfume,na quinta?Que os laboratórios estão estudando componentes
químicos à base de queratina para estimular a sexualidade humana.
Domingos pergunta:
—Como isso vai nos beneficiar? Não entendi muito bem isso.
—Serão fragrâncias onde até os “Gremilins “ vão conseguir
namoradas,entendeu?
Nigro demonstra interesse na causa,pois sempre se achara feio e
desengonçado demais:
—Como descobriram isso,Sav ?
—Dizem que uma mulher foi dopada com restos de lixa de unha na
sua bebida na festa e acordou no dia seguinte num motel com 32
camisinhas abertas à sua volta.
Diana nesse momento,parece tomada de pavor e curiosidade. Pena
que,essa reação, não fosse compartilhada por Domingos e J.C que,a
essa hora já estavam roxos...por prenderem o riso ...até em uníssono
,eles dizerem:
—A velha história da unha lixada!!
Provocando um riso histérico em Savanah que,se quisesse poderia ser
indicada ao Oscar desse ano,na categoria:comediante-dramática.
Parece que só Diana,dessa vez,não havia gostado da brincadeira,pois
acreditava em tudo o que sua amiga lhe dizia.
Estava chovendo lá fora ,mas em seus olhos ,o calor da amizade era
intenso. J.C limpa as lágrimas do riso e sem querer,cruza com os belos
olhos de Nigro que o observa,como uma criança diante de uma cor
nova ou como alguém que admira uma qualidade no outro que,sabe
nunca terá.
Diana parece estar com uma leve crise de mau humor,mas logo logo ela
sabe que vai passar;seu grande coração não saber guardar mágoas ...
Como um trovão na chuva,como um vento na floresta viva
...trazendo brilho e alegria. Ela chega,completamente produzida com
seus cabelos claros–escandinavos. Ela,
Cristal,diz:
—A alegria de vossa vida chegou. Por favor,autógrafos só depois
das 19:30 hs e fotos,apenas com o consentimento prévio de minha
agência.
Com um gesto infantil,ela beija Savanah.
—Tudo bom?
Savanah consegue responder com um olhar que demonstra finalmente
despreocupação.
J.C olha para seu copo de whisky intocado,para um outro copo de
whisky e cruza seu olhar com o do menino desengonçado.Seus olhos
claros azuis pareciam ter milhões de coisas para lhe contar...seus olhos
só saem de transe quando,Cristal lhe pergunta:
—Como vão os projetos moço?
—Ahhhmmm - com um riso abafado-.Você lembra que,aquela
revista chilena andava conversando comigo,para me ter em seu time de
criação,né?
—E você bobo,não vai,né?
J.C defronta contra os olhos de Nigro e diz para Cristal:
—Até iria... se não houvesse coisas bem mais
interessantes por aqui.
Sabe que outro dia eu fui naquela galeria fotográfica que nos gostamos
e encontrei um menino muito simpático – no que acaba sendo
interrompido – quando Cristal pergunta:
- Do bem?
J.C olha para os olhos perdidos do mundo de Nigro e responde:
—Sabe que,eu nem notei nisso. Daí,então,ele me contou sobre o
seu roteiro,onde dois jovens que se amavam,não podiam viver seu
amor,pois suas famílias eram rivais ...
Savanah acrescenta:
—Essa história é tão familiar ...
J.C rebate:
—Também acho ...
Cristal ri e diz:
—Então você ligou pro Dri e encaminhou o roteiro pra se tornar
um grande sucesso(?)
— Na verdade,eu disse pro rapaz que era analistas de sistemas
,exatamente pra que ele não associasse meus contatos.
Nigro pergunta:
-Por que analista de sistemas e não a verdade?
J.C acrescenta rindo:
— Por que,pra mim,não existe profissão mais entediosa que essa,
exatamente pra ele não pensar mais do que isso ...
— Bom,quando você precisar de um analista,não hesite em me
chamar,- acrescentando o cartão .
J.C tenta remediar a situação,mas passa a primeira vergonha da
noite,mesmo sabendo que o moço havia entendido.
—Bom,a razão pela qual eu não o ajudei,foi por entender que
nesse mundo cão,ajudar não significa colocar os outros nas costas e
carrega- los. Até por que,eu não queria dizer que,Shakespear já havia
feito o mesmo roteiro,uns séculos antes,mas...,de que qualquer forma,
ele deveria continuar nesse caminho e... acreditar nos seus planos
J.C cruza seu olhar com os de Domingos que, está sorrindo
fraternalmente pra seu rosto,como se concorda-se com suas palavras
...
Continua no ato 2:
Ato 2:
Falou. Tomou !
A vida deles todos agora parecia festa. Depois de algumas semanas
e com a chegada do final de verão,tudo se acalmava e com as últimas
semanas a chegada de Savanah e sua companhia deixava tudo mais
agradável...
“Oba – Oba”,esse deveria ser o nome da filosofia de vida daqueles 7
amigos.
Thereza estava de férias na cidade,para não enlouquecer frente ás
responsabilidades em Colognia. Aquele parecia mais um encontro pra
contar as novas;Savanah havia convidado amigos e não amigos pra
comemorar sua volta . Na mesma bat-caverna. Hoje não havia horários
nem obrigações ...
Às 20:37 chega Savanah. Algo dentro dela parecia que iria desaguar
a qualquer instante e o seu “ficante” é o escolhido para escutar suas
expectativas ...Ela senta numa mesa pra 6,mas sabendo que depois só
a Távola Redonda poderia dar conta do recado. Aquele dia havia sido
um dia puxado e nem um banho de água fria naquela estação muito
agradável havia ajudado.
Ele chega sempre disposto a envolve- la com:palavras,corpo
,ele mesmo ou o que mais pudesse dar,dessa vez o abraço vem tomado
de beijo quente nos lábios cobertos de batom ocre.
—Como foi o seu dia.Sua volta?
Savanah o olha,como só uma menina protegida pode olhar e diz
calmamente:
—Cansativo,mas...
—Mas ...?
– Você teria 18 m e ¹/² pra me escutar?
Ele ri da originalidade daquela garota que,não parecia em nada com
suas ex-namoradas ,mas,ainda sim adorável.
—Hummm... o bar tá quase cheio,pode ser 14’ 46’’ ?
Por sua vez, Savanah olha em seus olhos,para os copos da mesa e ...
ri.
—Aiiih... Hoje eu fiquei me perguntando que tipo de profissional
eu quero ser agora. Onde eu realmente quero chegar. Você já sentiu
isso?
—Hummm,eu só sei ser dono de bar e dormir quando o sol se
levanta,acho que não.
—Eu deixei Milão e todas as suas possibilidades,pra vir pra uma
cidade na qual eu nem nasci,apenas passei duas ou três férias
inesquecíveis,sabe?
Com os olhos brilhantes ,ele gentilmente diz:
- Sei ...
- Eu ando achando que,a qualquer momento a rodar vai girar e eu
vou cair ...é estranho .
- Roda?Que roda?
- Aahmm,o arcano 10 do Tarô que simboliza mudanças da vida.
É,como se,a qualquer momento,tudo pudesse mudar sem avisar,sabe?
—Você joga Tarô?
—Não,Acho que seria muito inteligente se fizesse isso;na verdade,
por todo as cidades que passo,alguém tira pra mim.
Olhando o movimento cada vez mais cheio,o “ficante” se despede com a
impressão de que “fez a sua parte”.Savanah fica ali,olhando a sua
agenda,até a chegada quase ao mesmo tempo de:Domingos e Diana -
bem falante com Domingos naquelas últimas semanas ...-
—Oi moça!
— Oi ,moça!
— Oi gente!
Eles ,definitivamente não queriam ser pessoas sérias naquela noite .
Com o adeus aos últimos dias de verão,a vida parecia voltar ao
normal:menos sonhos,mais trabalhos e,como sempre,as dietas
forçadas,fossem:Da lua,do G ,do P ou a do gato molhado ... Depois de
uma certa idade,o verão é bem agradável ...perto do fim,pois é possível
ver lindos pores de sol e ainda trabalhar com calma.
Domingos parece estar satisfeito nas últimas semanas com a vida.
Ele vinha olhando a vida ,com aqueles olhos, de quem apreendeu a
respeitar -la com os seus erros e acertos. Ninguém sabe o por que
desse motivo,mas Alessandra é um nome.
Ele diz:
—Olha que, se meus pequenos crescessem um bocado até amanhã
e decidissem vir morar comigo,aí eu poderia dizer que sou totalmente
feliz.
Savanah o olha com olhos alegres e diz:
—Nossa ,acordou querendo tão pouco?
Acariciando os próprios negros-infantis cabelos,ele diz:
—Não acho ,tudo isso,muito pouco ...Quando você tiver a minha
idade,vai ver que pequenas coisas tem um bom valor,tipo:acompanhar
seu filho ao campeonato de judô.
—Bom,eu não tenho filhos por enquanto,nem nunca,logo algo
agradável e simples,seria viajar para o sul da China.
Domingos,no seu ainda bom humor,banhado do por do sol,diz:
—Não boba ,com algo simples eu quero dizer,passar o final de
semana sentado na melhor poltrona da sala com o dedo no nariz. Isso é
simples e divertido. Eu trocava essa viagem pra China,por 5 minutos na
minha casa com o dedo no nariz ...
Diana ,sem querer,acaba achando graça e faz um comentário ácido:
—Acho viajar um porre ,principalmente pra fora do país.
Savanah espantada,comenta:
—Você nem conhece 1/3 da Europa. Como pode dizer isso?
—Meu bem,esse povo é louco. Viajam pra outros países com $500
dólares no bolso,passagem parcelada no cartão em 15 vezes. Eu é que
não faço isso!
No fundo ,no fundo Diana fala com um amargor de quem não teve
oportunidade ou não quis viajar pra fora;correr os riscos,apreender
coisas novas...Na sua armadura havia arrogância e alguns
ressentimentos por não ter tido um pouco mais de paciência com seus
pais,de não ter estudado um pouco mais,mas mesmo assim ela acha o
lado positivo e diz:
—Pra que,vai que eu quebro a perna,em terra de alemão. Como
vou pagar com apenas $500 dólares? Pessoas me contaram que na terra
dos outros,tudo é privatizado e nada é de graça.
Savanah diz:
—Dá se um jeito.
Diana parecesse que levou a discussão à sério.
—Dá se um jeito?Tipo:sentando no meio da rua e abrindo o
berreiro. Minha perna!Minha perna! Minha perna! Tá doendo. Aí minha
perna !Desculpa ,mas eu sou uma mulher decente.
Eles acham os comentários recalcados de Diana um saco,mas se
havia alguém que,até das chatices,levava no bom humor,essa era
Diana.
Eles teriam passado um bons momentos só papeando naquele dia
,já não tão claro,mas a chegada de um novo amigo,demonstrava que a
noite seria boa... e longa.
—Oi ,Domingos!Oi ,Sav! E,como eu sou educado:oi povo das
trevas ...
J.C senta-se e com os olhos a espera de resposta pela provocação à
Diana .
Então Diana responde:
—Meu bem,sabe quantas pessoas interessantes existem no
mundo?Eu e mais 6 dúzia.Tô pouco me lixando pra você !Nem fiquei
mais velha por isso.
Pronto, agora sim tudo havia voltado ao normal.
J.C ri e sabe que tudo aquilo é teatral. Ele resolve comentar algo
pra combater o silêncio:
—Sabe que, se eu acordar com mais algum estranho na minha
cama,no dia seguinte. Eu juro que chamo a polícia.
Savanah:
—Nossa,já chegou a esse ponto?Cuidado pra não acordar com a
moça do guarda-casaco amanhã,ta ?
—É verão ,né?Temos que aproveitar!
Savanah como uma mãe sem paciência,diz:
—Quando você vai começar a ver a beleza dos relacionamentos?
J.C:
—Só por que você está namorando há duas semanas e
13 horas ..Eu não esqueci o seu passado,Rainha da Luxúria ...
Os outros não conseguem evitar o riso baixo. Sav naquele
momento apreende que não é legal impor sua opinião para os outros.
J.C:
-Além do mais,acho importante enquanto não achamos a pessoa
certa,irmos “tentando”,dessa forma,você vai apreendendo seus limites e
aquilo o que realmente quer fazer.
Domingos acha toda aquela conversa um pouco chata,até por que
ela já comeu todas as garotas que queria e que não queria...e agora
estava mais interessado em sentimentos,porém amigos são diferentes
e mesmo não achando muito legal a conversa,ele vai escutando.
J.C continua e levanta o assunto do sexo a três que ,segundo
ele,já foi comprovado cientificamente estimula o crescimento dos
cabelos ,uma vez que os hormônios sexuais são muito próximos dos
hormônios de crescimento,logo indo pra cama com mais de uma pessoa
,temos a chance de ganhar até mais 200% de volume no cabelo:
J.C sempre fora uma criança que,sem querer,estava em roupas de
adulto com responsabilidades-trabalhistas de um adulto.
J.C:
—Eu ,por exemplo,só um árduo fiel do sexo à três;tanto que não
seja o meu amado + 1.Eu devo,gentilmente ser o convidado,pois
jamais deixaria o meu amado com outros...
Diana:
—Até por que,no sexo a três, sempre sobra alguém ...
Os amigos riem e teriam rido mais,se J.C não tivesse atendido o
telefone e saudado Nigro. Sendo sincero,ninguém da mesa era muito
intimo de Nigro,nem ninguém havia lembrado de convida -lo. Saber que
ele estava próximo,mudava a natureza do encontro,pois ele era tão
reservado,ninguém sabia o que ele poderia achar ...
Savanah diz:
—Vem cá bem,desde quando,você tem o telefone celular do ex-
namorado da minha ex-assistente?
—Nós nos esbarramos em uma loja de cds e eu fiquei de gravar
um disco do Llorca pra ele.
Savanah:
—Hummmm...
Com seus gestos leves e dignos de um príncipe.Seus cabelos são
os únicos que permanecem brilhando naquela noite.Nigro,ele .
—Oi,pessoal.Tudo bem?
Todos procuram ser gentis,mesmo sem ter muita
intimidade,pois agora,ele era um deles...Mesmo que todos
perguntassem o que um analista de sistemas tinha em comum com um
produtor de moda...Savanah pensa que: “se até hoje ninguém sabia
quem havia nascido primeiro: o ovo ou a galinha.”Ela não precisava
saber de tudo.
Eles vão rindo,cada vez com menos pressa,pois o melhor da
intimidade era poder:não falar toda hora.Já noite,os amigos vão pedindo
mais bebidas pra saudar o fim do verão,aos amigos e a pequena
felicidade dos momentos como aqueles.
Sav aproveita o silêncio para observar algo divertido:os funcionários
daquele bar falavam e sugeriam tudo na mesma ordem.Era tão robótico
que acabava retirando o charme daquele bar,
sutilmente provinciano. Savanah levanta a questão de que jamais seria
garçonete,pois detestava cumprir ordem. Diana para chocar e divertir os
seus amigos confessa que já havia trabalhado no Mc Donald’s:
—Serio?
- Acreditem!!
Domingos pergunta:
—É verdade que o hambúrguer é feito de carne de minhoca?
Diana:
—Só os Mc‘s que tem jardim ...
Eles realmente se divertem com poucas coisas, Diana resolve ir mais
longe e declara a filosofia agonizante que apreendeu no Mc Donal’s ...
Todos:
—Qual ???
Diana:
—A filosofia do menos merda.
Definitivamente eles olhavam Diana com olhos de desconhecimento.
E,Diana gostava de vez em quando,ser o centro das atenções.
—Simples,submeta o menos merda que você. E, se você for um
monte de cocô,dê ordem nos novatos,pois eles não sabem quem
realmente tem poder por ali.
J.C comenta com sinceridade:
—Você deve ter sofrido muito por lá,né?
Diana diz com um ar resignado:
—A vida me ensinou que 68 % do dia não deve ser lavado á
sério. O grande segredo é levar tudo no bom humor.
Logo após terminar,mais uma convidada chega,com um rosto sereno:
Thereza.
Savanah pergunta com preocupação:
—Onde você estava Thereza?Saiu assim tão de repente...
- Percebi que havia esquecido meu passaporte em sua casa
E,para evitar problemas,resolvi buscar-lo,na volta encontrei com esse
menino simpático –apontando para Nigro – que comentou que lhe
conhecia,logo ficamos conversando no estacionamento. Você sabia que
ele é um grande pianista?
Savanah o olha com surpresa e comenta:
—Não.
Nigro diz:
—Na verdade,meu avô era,eu apenas lembro dele tocando.
Savanah:
—Você perdeu o comentário espirituoso de Diana,explicando sob
a escala Mc Donal’s menos merda.
Com seus olhos brilhantes,Thereza procura ser o mais gentil possível.
—Olá Diana. Tudo bom? Pena que eu deteste o MC donald’s.Sabe
que eu tenho uma blusa divertidíssima ,feita por um artista plástico
francês,que mostra o Palhaço Ronald encurralando uma vaca num
canto de uma sala e embaixo vem: “ O palhaço que anima o seus filhos
,é o maior assassino da face da terra.”
Savanah ri ,assim como Domingos e Diana,mas parece que J.C não
pegou muito bem.
Thereza :
—O que foi J.C. Não entendeu?
J.C meio perdido,diz:
—Olha,o Ronald sempre foi o meu ídolo,pois usava umas roupas
muito suas... e era o único homem de cabelo vermelho que eu conhecia
que fazia sucesso.Na minha adolescência,eu até cogitei ser como ele.
Sob os olhos pasmos dos outros ,ele acrescenta :
—Não sei como ele pode ser um assassino ...
Thereza de bom humor ,ainda diz:
—Meu deus,J.C graças ao Mc Donalds milhões de vacas e bois
são mortos ;pastos são queimados,apenas pra continuar esse negocio
...
Sem querer parecer fanática,coisa que,Thereza sempre havia
evitado,ela resolve comentar coisas interessantes sobre a cultura
indiana. Toda a mesa parecia interessada em escutar coisas novas
,coisas de lugares distantes,menos Domingos que olha pros lados
...Olha,até poder ver um sorriso meigo se aproximar...Naquele bar, tudo
podia acontecer agora,pois Alessandra havia chegado.Domingos sorri e
recebe de volta um sorriso de quem começou a gostar da vida ,só
naquele momento ...
Thereza estava falando sobre como é lindo o amor que os
indianos têm por Shiva;dos festivais de Shiv Ratri quando toda a Índia
acende luzes de velas para saudar o nascimento de Deus. Ela comenta
como existe uma energia das mais belas nesse dia que, dá uma vontade
de acreditar que existe um lugar melhor,um jeito de se tornar melhor
...Alessandra parece a mais interessada nesse papo de auto-
transformação,quando comenta:
—Sabe que uma vez,eu tentei ser vegetariana,mas depois de
um comercial de hambúrguer do Mc Donald’s corri até uma loja e
destruí 68 dias de resistência anti-carne...Eu não entendo como isso é
possível,de onde tira-se energia para não comer as vaquinhas ...
Domingos ri .
Thereza passa a mão pelos cabelos brancos,cabelos que evocam
respeito,porém um tipo de respeito que,ela sempre evitara;o respeito
pelo temor. Ela achava que a vida era um pouco mais do que isso,por
isso comenta:
—Você contou cada dia que poupava uma vaquinha ?
—Cada dia.
Thereza ri,mas afetuosamente:
—Olha,tornar-se vegetariano e acreditar em um mundo onde
todas as formas de violência são inúteis,sejam elas: nos gritos com seus
filhos ,com seu marido ou no seu trabalho.Deixar de comer carne é
buscar um mundo onde pode se ser mais gentil,acreditando mais nas
pessoas,sabe?
Alessandra apenas olha de uma forma doce.
Thereza:
—Uma coisa que me libertou muito do sofrimento,foi entender
que eu não era responsável pelos problemas do mundo;daqueles que
acham que a vida deve ser sempre uma festa...
Alessandra,comenta:
- Acho que nos sentimos obrigados a defender quem
amamos,tipo:responder pelos seus fracassos e anseios,exatamente por
que os amamos,sabe?
Naquela noite os preocupados com:cabelo .O que os homens e
mulheres fazem,ficaram um pouco calados por entenderem que,às
vezes,ser inteligente é ficar calado ...ouvindo.
Thereza:
- Você já parou para observar que o Falso-Amor tenta nos
acorrentar com palavras tristes,porém adocicadas? O verdadeiro amor
liberta!Compreende-nos,respeita-nos em nossos momentos mais
frágeis,nos deixando calados ...
Savanah apenas sorri,naquela mesa,onde a noite havia chegado e
ninguém havia percebido .
Alessandra:
—Sabe que,eu até tentei fazer yoga,mas não conseguia colocar
o pé na cabeça,daí desisti ...
Thereza:
—Não mandaram você colocar o estomago no lugar do
pulmão ?Sabe,existe muita confusão na Índia.E,nessa ignorância,muitos
se aproveitam pra iludir os mais confusos com promessas impossíveis.
Ao meu ver,a única forma de se conseguir ter uma vida melhor e
desejando de coração e acreditando que o que está errado tem que
acabar,por que nós não merecemos isso ...nascer pra sofrer...
Nesse momento ,Ale apenas olha,como uma aluna encantada.
Thereza,continua:
—Acho que essa é uma pequena diferença entre o Ocidente com
sua idéia de culpa,de que só sofrendo podemos nos tornar mais
dignos ...Na Ásia se entrega pra Deus todas as angústias.Acho que não
se come carne por lá por que machucar um animal ,gerar todo esse
sofrimento à toa,sabe?
Alessandra comenta que escutou em algum lugar que na Índia existe
mais de 1 bilhão de pessoas.
Thereza complementa:
—E,uma das menores taxas de violência do Mundo.Pena que as
pessoas morram de fome,até mesmo nas ruas,por pura falta de
capacidade de administração das riquezas naturais,ignorância política...
A conversa estava muito elevada para os jovens presentes e J.C
sentia-se obrigado a trazer pra roda assuntos mais interessantes como:
sexo à três,jeans da Ellus e onde encontrar queijo suíço.
J.C comenta num tom bem humorado:
—Olha, essa história de fome é burrice ao meu ver,pois as
vaquinhas continuam lá pastando,em vez de frigideira...
Thereza o olha como um mãe... que sabe que o filho é burro,
mas será um bom homem no futuro...Já Alessandra não parece ter toda
essa evolução ainda,num tom meio mau humorado,ela diz:
—Aí,menino,vai pra boate falar mau da roupa dos outros!
Os outros procuram restaurar a energia gerada por aquela mudança na
conversa,mas quem disse que J.C iria deixar barato pra tia?
J.C num tom mais alto:
- É isso mesmo TIA,ninguém é de ninguém e o Palhaço
Ronald é meu amigo!
Tia foi a palavra que não deveria ter sido dita, em vez de um copo
d’água pra trazer respeito;Alessandra usa toda a sua crueldade literária
...e diz:
—Sabe qual é o seu problema ? –Thereza ainda tenta evitar
aquilo,por sentir-se culpada– Você está na fase de beijar na boca de
qualquer um que,seja educado com você. Ninguém é de ninguém,mas o
bom senso é de todo mundo!Meu filho!
Mesmo Nigro que sempre se posicionara neutro e que andava gostando
de conversar com J.C antes de dormir teve que rir ...e riu muito.
Depois daquela patada - J.C que nunca fora de perder – ele
resolve se retirar da mesa e para seu espanto ninguém o detém ...A
conversa ainda continua sobre diferenças culturais.
J.C acha aquela historia um cú.
Sentado no extremo do jardim do bar,onde ninguém passa,ele
olha pra duas cadeiras que alguém havia deixado por ali. Senta-se na
direção onde a rua era mais amiga com seus carros brilhantes.Ele
questiona-se como Savanah não havia jogado sua bolsa na cara
daquela porca da Alessandra.Em alguns instantes, ele percebe que seu
ego foi ferido e que agora,os dois detestavam Alessandra.
Com os passos leves alguém ao lado de J.C senta-se com um
copo de whisky quase no final e diz:
—Ei ,menino por que você não riu também?Não acredito que
você nunca tenha sido contrariado..?
J.C disfarçando a irritação,responde a Nigro:
—Não é que eu nunca tenha sido contrariado,mas é que eu
cheguei primeiro no grupo e ... você nem me defendeu !
Nigro não consegue disfarçar a surpresa,mas tenta compreender...
J.C diz :
—Desculpa amigo ,mas é que eu estava nervoso ...
—Não está mais,meu campeão?
—Acho que não ...
Nigro joga sua mão não ocupada pelo whisky,na perna de J.C e passa a
mão indicando que aquilo é só um aborrecimento passageiro.J.C tomba
uma de suas mãos sob as mãos de Nigro. E,se dependesse dele,lá ela
ficaria,Nigro o olha demoradamente nos olhos e diz:
—Acho que bebi demais.
J.C olha pro lado dos carros e depois volta o rosto em direção ao queixo
de Nigro:
—Talvez seja hora de volta pra casa ...
Nigro:
—Vou ter que esperar o efeito do álcool baixar,pois estou de
carro ,além do mais ,estou gostando de ficar batendo papo aqui com
você.
J.C na melhor das intenções,diz:
—Se você quiser,eu te levo pra casa. Não bebi muito.
—Você seria legal assim pelo seu amigo?
Eles entram no carro e J.C o convence que,animada como a roda
estava,ninguém ia se incomodar com a saída deles.
Na chegada do prédio,numa rua cheia de árvores,J.C começa a
questionar-se não estava conhecendo um multimilionário. Na chegada
do apartamento ,Nigro ainda consegue abrir a porta.Na pressa de
entrar acaba pressionando o corpo de J.C que mal sabia onde estava
entrando. Nigro ri. J,C fecha os olhos.
Nigro vai ganhando a sala e diz:
—Não repare na bagunça,a faxineira só vem de 15 em 15 dias.
J.C senta-se no sofá e identifica uma casa bem diferente da sua ,pois
as coisas estão em seu lugar.Olhando para o lado,ele vê um calcinha
branca e antes que possa perguntar sobre isso.Nigro já de short senta
ao seu lado e diz:
- Foi mal amigo,minha ex tinha o hábito de jogar tudo em
qualquer lugar.Eu não acredito(!) que em pleno final de verão você vai
continuar com essa blusa de frio!Você quer um short?,eu tenho muitos
como esse.
J.C pensa que as coisas andariam mais de pressa se ele estivesse de
short ,então ele diz:
—É ...queria.
J.C vai encarando Nigro que,ainda tem álcool o suficiente para
não distinguir uma vaca de um touro. Nigro com seu peitoral forte –
mas ainda sim,desengonçado,na opinião dele - abre os braços sob o
sofá longo. O sono vem calmo e ele procura ser mais gentil possível
com seu amigo que o trouxe em casa.
Nigro:
— Hoje já é quarta feira,pois já é 00:18.Você quer dormir
comigo? – rindo um pouco,ele se corrigi – Que dizer ... por aqui.Não
leve a mal,ok?
J.C só consegue responder monossilabicamente:
—Ta.
Nigro pega a calcinha branca e arremessa longe ...
—Espero que você não pense que a calcinha era minha,- rindo
muito- tá? Eu uso cueca e é branquinha.Sentido necessidade de alívio,
devido ao calor de final de verão,Nigro tira o short e fica mais a
vontade perto de seu amigo que,na opinião dele,era muito tímido...
J.C observa cada detalhe daquele corpo e como se fosse etéreo
,apenas olha .No medo de dar mancada ,resolve trocar de assunto .
—Sabe que existem coisas que não poderiam deixar de
existir?
Nigro com as pernas escancaradas no sofá,encosta em sua coxa e
pergunta:
—Como o que amigo?
—Ahhmmmm...:Micro ondas,Ahhmm banda larga e
sorvete...Nigro ri .Tira suas mãos das pernas de J.C ,vai levantando até
chegar aos cabelos ,então afaga –os carinhosamente e diz:
—Boa noite amigo,o álcool não me deixa escutar mais nada.
.A casa é sua .Amanhã quando acordar pro trabalho,eu te chamo.
J.C fica apenas por ali,olhando...
Horas e horas e na insônia de J.C o dia recusa-se a chegar
,mas quando seus olhos estavam acostumando-se a idéia do sono...
- Agora eu durmo...
Do outro lado do apartamento a vontade de fazer xixi,desperta
Nigro que,só lembra que não havia bebido tanto assim ...Ao longe,ele
observa seu amigo,naquele sofá desconfortável,com a roupa suja de
Ket-chup que por um descuido de Nigro havia ficado no sofá.Seu corpo
parece tão cansado – observa Nigro – Umas das últimas coisas que
Nigro ainda lembra era que seu amigo o havia trazido pra casa. Ele
abre o botão da calça de J.C e puxa delicadamente,depois o observa,
tentando imaginar como aquela blusa vai pra máquina de lavar ...Ele
olha e ri ,.J.C balbucia qualquer coisa como:
—Mas é promoção,vamos Savanah. Pare com essas mãos no
meu rosto.
Nigro não sabe se termina de tirar a roupa ou se para pra ri.
Mesmo com sono ,Nigro vai pro chuveiro e com as mãos ainda lentas
de sono vai descendo a cueca,sentindo o frio da água sob os seus
cabelos claros ...
Já vestido pro trabalho,ele olha seu amigo e passa a mão em seu
cabelos;como um irmão que assegura-se do conforto do mais novo.
As horas passam pela tela do computador e Nigro espera que seu
amigo esteja descansando tranqüilo e, com sorte,ao acordar Dona
Ana,a faxineira,já terá lavado e secado as roupas na centrifuga.Nigro
lembra-se cada vez mais com carinho do seu irmãozinho ...
Já no apartamento,Dona’na não entende nada... Coça os cabelos
por debaixo do lenço branco e não vê outra alternativa,se não acordar
o estranho.
—Moço... ohh moço ... O MOÇO!!
O último grito desperta J.C que,primeiro se assusta com alguém tão
feio e depois percebe-se de cueca azul-clara de frente pra feia.
J.C se protege comas mãos e grita:
—Saí cobra cega,doença ruim de curar!
—Olha moço,eu não sei quem você é,mas... O telefone de seu
Nigro só dá ocupado, se o senhor quiser pode ir pro quarto dele e
dormir mais,por que são só 10.15 hs.
Ali J.C fica desesperado,pois sabe que Savanah chegaria no estúdio
pra fotografar ás 10:30 hs e que ele deveria chegar primeiro pra
vestir as modelos.
—Onde estão as minhas roupas,por favor ?!
Dona Ana,a feia,responde:
- Ahhhh,seu Nigro colocou no cesto de lavar por que elas
estava manchadas de Ket chup e eu ainda estou lavando ,daqui há uns
40 minutos elas estarão secas e passadas ou se preferir pegue algo do
seu Nigro.
J.C tentando se lembrar de tudo na noite anterior e diz rapidamente:
—Mas eu não comi nada com Ket chup,merda!
—Ìííííí,pergunte pro seu Nigro...
****************************
Xeque Mate !!
A editora-chefe coloca o cd com as fotos no computador á
espera dos resultados provocativos de sua Consultora de Moda.
Savanah olha pra janela e sente um calafrio,como quando
criança,nas viagens com seu pais. Seus pés batem insistentemente à
espera de mais um sorriso de aprovação pelo seu trabalho,mas parece
que não é bem isso que acontece.
Vitória editora chefe,diz:
—Savanah sente um pouco aqui na minha frente,ok?
Savanah obedece por formalidade,mera formalidade.
Vitória toca pra sua secretária e num tom um pouco apressado,
pede pra que chamem o senhor Leonardo .
Savanah pensa o por que do presidente-executivo agora ter que
ratificar uma questão do Núcleo de Moda ,mas promete pra si mesma
que terá paciência com o vovô.
Leonardo entra na sala com sua cara de homem previsível e
ocupado.Não cumprimenta Savanah e muito menos Savanah sente se
obrigada a retribuir.
Ele também olha a foto. E,com um rosto preocupado,procura remediar a
situação.
Savanah ao ver os olhos,que olham as fotos ,pensa que o mundo está
pra acabar e gentilmente esqueceram de avisa –la.
Leonardo apreensivo,diz:
—Você tem certeza de que trouxe o cd certo?
Savanah não perdoa:
— Maldito Saci!
Parece que sua piadas de menina rica e cheia de vontades não iam colar
naquela tarde ...
Vitória questiona :
—Sob que parâmetros,você construiu esse edital de moda ?Ele me
parece um pouco excessivo
Savanah com um rosto desafiador,rebate:
—Desde quando,você conhece os parâmetros?
Vitória com um rosto irritante e aristocrático,diz:
—Lingerie e pernas abertas? Pra mim isso não é moda.
Savanah passa a mão pelo cabelos,pra disfarçar a irritação,diz:
—Notamos isso,pelo seu tailleur cinza pied-de-poule que a minha vó
,já achava ultrapassado.
Leonardo propõe que seja refeito o trabalho,mesmo sem saber os
prazos ajustados entre editora e stylish.
Vitória continua:
—Desde que você assumiu o cargo,não podemos reclamar das
vendagens - Savanah faz cara de quem já sabia -,mas em
compensação,os leitores nunca reclamaram tanto ...
—Eu vi de Milão por que vocês me convidaram como consultora.
Vitória acaba se alterando um pouco mais,o que acaba não
combinando com o seu tailleur cinza .
—Savanah !Você não está em Paris ou Milão. Quando lhe
convidamos você era 2 anos consecutiva editora de moda pela V.H.1. -
com um tom cruel na voz,ela continua - esse ano,parece me que
esqueceram de você...
—Era preciso deixar as outras coleguinhas ganharem também ...
O clima vai ficando pesado no núcleo –executivo.
E, se depender de Savanah,não será ela que assumirá primeiro que
errou.
Vitória com um leve sinal de irritação,questiona:
—Quantos anos tem essas meninas ajoelhadas na frente dos
Homens 12 !?
—Não importa,isso é arte!
Vitória fulmina derrubando o Rei do tabuleiro:
- Não minha querida,isso tem um outro nome: vulgaridade
Pornô-infantil. Ligue pra Playboy,lamento,mas você não está mais na
Eclética.
Continua no ato 3:
Ato 3:
A despedida.
O dia havia acordado cinza.Savanah já não sabia há quantos dias o
cinza estava em sua vida ,mas no fundo,no fundo,ela não queria saber
da realidade...
Ela olhava o mar da janela do seu apartamento e ficava ...refletia
onde seus erros haviam sido plantados,pra florescerem com tanta força
. Savanah nunca havia perdoado-se por despedir se de Cristal com
uma briga.Meu deus, se arrependimento aliviasse ,até mesmo de joelho
ela já teria ficado.
“Cinza,cinza... Tudo o que eu vejo é cinza.”,ela pensa.
Toda vez que as lágrimas inimigas forçavam a sua visão,ela cantava
alguma canção de Nina Simone,hoje “soul whose intentions are good”
não saia de sua cabeça ,pois mesmo errando,ela era uma outra boa
alma .
O telefone ecoava pelo apartamento,banhado de sol numa parede
bem longe .O sol parecia transmutar a parede pra cor de fogo,mas pra
ela... era cinza.
Em cima da mesa asiática,um copo de água com gás +gelo,as pedras
vão derretendo calmamente .O telefone tocava ,tocava ,mas algo ela
já havia apreendido até ali. Então ela pensa:“Nunca atenda um telefone
deprimida;as pessoas vão encher o saco perguntando-se podem
ajudar. E,definitivamente elas não podem ajudar por que o problema é
seu...” Um pensamento estranho vence as barreiras do inconsciente e
lhe diz que,talvez haja alguém que possa ajudar,mas ela prefere
esquecer esse pensamento e ficar no cinza .O telefone continua tocando
—Merda!Será que,nem em meu apartamento,as pessoas vão
entender que eu não estou?
Ela pensa em retira- lo da tomada,mas resolve atender–lhe. Sua
irritação só não prossegue por que a falta de vontade não a deixa
tomar reações ...
—Savanah Amarillo Cristo falando
Do outro lado da linha alguém diz:
—Como vai a princesa das terras árabes?
—Papai! Como você está?
Sim,talvez seu pai pudesse transmutar para algo colorido. Naquele
momento,o tempo deixava de dar círculos insistentemente lentos ...
—Minha princesa não responde mais?Talvez seu palácio tenha
sido tomado por ladrões do deserto noturno,se eles estiverem perto,eu
mando o soldado do sol.É necessário?
Seu pai sempre havia sido um excelente contador de histórias.O que
o fazia sempre próximo,sempre que os monstros de terno e cabelo
branco não o levavam pra longe.
—Ahm,estou melhor agora. Por aqui o sol insiste em
aparecer,mas venho trabalhando demais ...Estou apenas cansada.
—Talvez ,esteja na hora de voltar,pena que aqui na Itália o
tempo esteja começando a fechar.
Com uma voz ansiosa ,Savanah diz:
- Ahh, dio mio,no est possibilile! – com um tom bem humorado –
Quantas histórias você me contará?
—Talvez a de uma mulher que,te amou muito e que depois de
muitos dias felizes,resolveu voltar pra sua terra; onde os ventos são
mais calmos ...
—Essa é bonita.Como está mamãe?
—Mamãe se foi ...pra terra dos ventos .Você precisa voltar pro
enterro dela. Estamos esperando você apenas pro um último adeus ...
Aquilo foi baixo. Aquilo machucou e ela ficou com muita raiva ,pois
até na hora de sua morte,sua mãe havia escolhido um mau momento;
no único momento de sua vida onde ela permitia se ser frágil.
Confusa ,ela responde:
—Pai ,eu não vou .Tenho muito trabalho pra fazer por aqui ; eu
fico na lembrança.
O pai de Savanah do outro lado da linha fica mudo. O tempo passa e
ele fala:
—Você deve isso a ela ... a mim ... a todos nós.
Savanah desabafa:
—Meu deus!,por você,eu lutaria 100 noites contra todos ... mas
ela(?),sempre ocupada com:reuniões, projetos ...filhos?Não,faziam
bagunça,pediam demais...
Cada palavra vem acompanhada do pior rancor possível. O rancor que
destrói qualquer vontade de ser positivo.
Fazendo com que seu pai demonstrasse,pela primeira vez ,um lado
negativo.
- Você seria capaz?
— Sim,muito trabalho...
— Ela sempre te amou,talvez de uma forma difícil,mas eu tenho
certeza.
—Pai ,me desculpa!
—Nós sempre te amamos,mesmo distantes,estávamos
presentes.Não podíamos fazer mais do que isso,frente ás
responsabilidades da vida.
Coisa que Savanah havia começado a apreender há tão pouco
tempo que,nada vinha na vida,sem algum sacrifício.
—Eu... Vou ligar pro “Tio” Matheu’ Carvalho..”
—Sim,faça isso por mim e consulte a agenda possível. Ele não vai
incomodar-se por mais uma viagem...
—Vou estar chegando em Milão,no final da noite.
- Esperamos você ,minha pequena princesa das terras árabes ...
Mesmo desligando rápido,o pai de Savanah, ainda escuta os
soluços...
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Para ela já não era uma questão de tempo. Parecia que a perda: da
mãe,do amado e do emprego havia sido um pouco demais pra
ela,estranhamente ela não sofria com isso,apenas sentia cada vez mais,
vontade de encolher-se, ficar parada esperando o tempo lhe socorrer.
Sua nova brincadeira nefasta era escolher uma lembrança bem
dolorosa e desenvolver-la, desenvolver-la ,até perceber que não tinha
solução que,não queria achar solução pra mais nada nessa vida...Seus
cabelos andavam presos, assim como suas idéias que,eram sempre as
mesmas e parece que,por um tempo ,assim ficariam;Savanah a menina-
gênio ficaria um tempo por trás das cortinas.
Para ele,nem as semanas pareciam ser novidades. Nigro-amigo
vinha e voltava em sua lembrança e era uma sensação estranha ,pois
ele não estava sofrendo,mas achava que ao lado de Nigro estaria
melhor;nessa vida ordinária ,nessa busca apenas por reconhecimento ...
Era mais uma dessas festas,dessas de lançamento de qualquer
merda,talvez,há umas três temporadas isso teria sido O programa da
semana ,mas agora alguma coisa estranha dentro dele o fazia pensar
duas vezes ,mesmo assim, ele havia ido .Sua calça cinza com blusa
branca parecia combinar com o loirinho de calça branco que parecia
estar em seu mundo. J.C distante vai se aproximando do cara. O rapaz
dá a entender que está curtindo.J.C vai guiando-se por instinto;num
jogo de olhares o menino vai fazendo todos os truques ...J.C parece
tentar esquecer alguma coisa ...A música característica de festa torna
difícil uma conversa ,entre tanta gente vitoriosa ...Ele apenas coloca
suas grossas mãos sob a cintura do cara que ,acha necessário
recusar o predador por alguns segundos pra não parecer tão fácil .Ele
sorri perto dos lábios dele e diz :
—Você me quer?
– Talvez ...
J.C está cansado de joguinhos ,principalmente de joguinhos
ridículos de hedonismo .O loirinho não parece tão interessada em sair
com alguém que não demonstre algo mais ...,mas assim mesmo
continua, pra saber até onde o predador vai ...Aquela atmosfera vai
ficando cada vez mais desagradável até J.C tomar uma decisão:
—Você me espera até eu pegar outro
drink,como esse,no bar?
—Arrahhmm...
—O que você quer beber?
— O mesmo.
—Espera um pouco.
A caminho do bar ,J.C toma uma direção diferente naquela noite
acinzentada onde ele busca desesperadamente o caminho da saída ,da
liberdade daquele mundinho de prazer imediato .Suas mãos ágeis
buscam o seu celular que aciona
a memória n° 1:Savanah ,com resto de tempo ele levanta mão e
aciona o táxi.
O Motorista pergunta:
—Boa noite,senhor,pra onde vamos?
—Pra frente. Pra bem longe daqui. E,depois eu decido ...
O taxista,ao longo de sua vida,já havia transportado muitos
excêntricos e não seria o último agora.
Continuação do ato 3:
Diana e Savanah.
*****************
Ela entra na casa do seu amado e sente-se um pouco
desconfortável,pois como lidar com aquilo que ,sempre havia evitado:
crianças e suas expectativas? Ao contrário do que ela pensava,os
meninos foram muito educados naquela tarde e o menor,até havia
pedido pra tia amarrar os seus sapatos e ,pela primeira vez,ela não se
incomodou em ser chamada de tia. Primeiro eles foram ao parque e
sentados em uma mesa ,enquanto as crianças brincavam, falaram
sobre :Bethânia,suas vidas ,como eles não queriam nada á mais e nada
de mais ... Com a chegada da noite,cinema e para a surpresa de
Alessandra foram assistir “Os Incríveis”coisa que ela jamais haveria
assistido sozinha. Todo cinema rima com o que? Pizza!,e as crianças na
sua simplicidade infantil riram muito quando,Domingos imitou um dos
personagens... Intimamente,ela ainda recusava toda aquela felicidade,
recusava que as coisas pudessem ser tão fáceis.
Eles cominam em paz,quando uma menina surgiu na mesa pra
pedir autógrafo pra Alessandra. Seu rosto era de quem reconhece
alguém famoso. O rosto das crianças de Domingos era de encanta-
mento;Domingos não entende muito bem,pois na sua cabeça sua
namorada era uma atriz,mas de teatro.
A menina continua em frente e com os olhos brilhantes diz:
—Você não é a mãe da Carlinha na novela das 18:00 hs?
Simpática,ela responde:
—É ...sou...
Sorrindo,Alessandra rabisca alguma coisa e põe uns beijinhos...
A menina depois de pegar o autógrafo permanece na frente do
grupo,talvez pelo encanto(?)até perguntar pra Domingos:
—Você também é famoso?
No que recebe uma resposta bem humorada:
—Graças á Deus,não!
—Ah!Então não vale.
A menina se distância e Domingos pergunta:
—Você não era atriz só de teatro,amor?
Com o rosto delicado,ela diz:
—Uma produtora para televisão já havia me visto em umas 4 boas
peças,mas eu recusava ir pra televisão. Agora ,nem ônibus eu posso
pegar por que me reconhecem. Isso é chato.
As crianças apenas olham,ainda encantadas ...
A noite poderia continuar assim eternamente,mas o menor tinha
prova de matemática e eles não queria ser acusados de dar cocaína
pro menino conseguir virar a noite pra prova.
No carro,Alessandra vai contando histórias de lugares distantes
que havia visitado há muito tempo; quando 900 dólares eram o
suficiente pra se fazer um viagem...
Ao chegarem a o prédio,Alessandra fica na dúvida se já um membro
da família pra subir ou se será deixada em casa,de novo. Dúvida que é
resolvida quando Domingos toca em seu ombro e pede pra que ela abra
a porta pra ele,pois o menor dormiu no banco de trás.Ela ri e obedece.
Na porta de casa,ela cada vez mais,se encanta com aquele homem,
guerreando contra a porta pra abrir lhe,enquanto o menor dorme em
seu corpo.
No seu quarto de iluminação ocre,Alessandra busca uma blusa
social azul clara do namorado no armário. Ele sentado na borda da
cama,parece perdido num mundo de lembranças. Ela aproveita a
distração e deixa o vestido cair para vestir o blusão do namorado.
Domingo fala em voz alta,sabendo que sua namorada o escutaria:
—Promete que faremos de tu-do pra não gritarmos um com o
outro?
Ela olha –o com estranhamento e diz:
—Claro.
—Claro,não!,promete pra mim,vai ...
-- Desculpa,eu nunca vou gritar com você...
—Isso me faz sentir melhor,por que da última vez,eu acreditei que
a minha paciência fosse o suficiente, mas agora eu sei que é muito
mais importante conversar do que esperar que as coisas aconteçam
,sabe?
No canto extremo do quarto,Alessandra vem caminhando em sua
direção e com seus cabelos castanhos escuros repousa a
mão,calmamente ajoelha-se de frente ao amado e beija-lhe:as mãos
,os ombros – ele vai rindo de novo –a face,calmamente seus pequenos
lábios,a vontade de beijar vai aumentando,as mãos de Domingos vão
ganhando o corpo da amada,calorosamente levantando aquela blusa
azul-clara. As coisas pareciam fluir pra onde eles queriam ... se o
telefone não tivesse tocado e com seu barulho violento quebrasse ca-
da espaço harmônico:
- Alô?
— Eles estão bem?
Não,por que não ligo por mim,mas meus filhos com essa aí,precisam de
cuidados redobrados,já que o pai parece não se preocupar com eles ...”
—Eles estão bem,não são nem 00:00 e eles já dormem ...
—A vagabunda vai dormir com eles?
Com uma voz cansada,ele ainda diz:
—Ela não é vagabunda. É a minha namorada.
Vagabunda,Vagabunda,Vagabunda .Essa era a palavra que ela não
devia ter me chamado -,pensa Alessandra. Vagabunda era demais pra
uma mulher que havia saído de casa aos 16 anos ,só pra não escutar
desaforos de pais tiranos e insensíveis com um mente artística. Ela vai
percebendo que cada segundo que passa ,seu amado vai ficando cada
vez mais triste á escutar aquelas palavras ...numa reação de instinto
ela toma o telefone das mãos dele que, já sem vontade tomba na cama
chateado.
Alessandra vai ganhando os corredores da casa e se aproximando
da janela e tomando o maior cuidado para se afastar de todos...A voz
do outro lado parece não se cansar de reclamar,mesmo sem saber com
quem estava no outro lado. Então, a ex faz o último comentário naquela
noite de segunda feira.
—Já te falei!,e falo de novo,se vagabundas começarem a freqüentar
o apartamento dos meus filhos,nem em visita consentida judicialmente,
eu vou deixar!
Alessandra tenta lembrar de algum Mantra para acalmar se e ser
educada com alguém tão bagaceira,mas ... não dá !.E,ela diz:
—Escuta aqui o sua vadia !Vagabunda é você que,depois de tudo,
voltou pra casa do papai e da mamãe. Fique sabendo que comigo a sua
tirania não funciona e experimenta ... afastar os meninos dele!Se eu
fosse você,eu olhava pra trás ao andar na rua, por que eu sou amiga de
uns travestis,sendo que conheço uns que são violentos por diversão.
Escutou?
Do outro lado,a outra voz parecia ter compreendido tudo e por isso
,não ousara responder. Ela volta pro quarto e quando perguntada sobre
o que haviam falado,apenas responde:
—Ahmm,duas mulheres sempre se compreendem melhor ...
Naquela noite os amantes dormiram apenas abraçados ...
*********************
“ Savanah? Beto,da Moda Express fiquei sabendo que você não está
mais naquela editora. Liga pra mim, tá?”
“ Saaaavanaaaah! Sou eu,o J.C vamos caminhar?A chuva passou. Seu
cabelo está salvo!,ahaha ah ah ah”
Eles não conheciam,ainda a nova Savanah.
Ela ri e decidi que o dia parecia mais pra: Julia Roberts e pizza.
No apartamento da amiga,agora tinha uma escultura tipo Carmem
Miranda... Savanah fica parada por ali,com aquela cara de
estranhamento por uns 5 minutos,na sua cabeça móveis antigos
portando frutas no meio da sala. Meu Deus,alguém tinha que avisar a
sua amiga que era o cúmulo da cafonice.
Diana vem por trás e diz:
—Gostou do Gohonzon?
- Não,só o café. Vem cá,onde você leu que móveis + frutas
+meio da sala era moda?
Diana ri da ignorância de sua querida amiga.
— Na verdade ,entrou na moda ,mais ou menos ,em 400 a.c +
ou - .
— E quando a Wall Paper disse que isso era legal?
— Hummm,desde que eu me tornei budista e senti que meus
problemas tornaram-se bolas de gude ...
—Budismo é moda agora?
—Meu Deus,Savanah eu me tornei budista e não quero saber só
de moda...!
Aquilo parece ser mais fácil para sua amiga pegar ...
—Acho que,se não o budismo. Você deveria abrir o seu coração
pra aquilo que está acima de você,talvez Deus .Thereza vem me
escrevendo lindas cartas e acho que você entenderia melhor tudo o
que está á sua volta ...
Dessa vez sua amiga,apenas à olha .Ela nunca havia sentido medo
de nada e o desafio a fazia ter vontade de conhecer.
—Como é que se faz?Tem que comer enquanto se reza?
Diana ri,pois sabia que aquilo era uma provocação típica de sua
amiga.
Elas sentam e conversam sobre a vida; descobrem que Nigro
casou e teve um filho e que,por questões profissionais havia se mudado
pro Chile então agora ,J.C fazia um curso intensivo de espanhol ,pois
queria praticar com o afilhado.
Os dias foram passando e os problemas continuavam a vir,mas eles
parecia já achar que aquilo não era tudo. Eles já conseguiam lidar com
seus problemas. Diana,agora,contava histórias para as crianças do
orfanato,perto de seu apartamento na rua pequena .Eles já não olhavam
para a vida com toda aquela expectativa,talvez o passado possa não ter
sido o melhor que eles poderiam ter feito,talvez nem eles sabiam se
haviam sido felizes até agora ,mas uma coisa era certa em cada
coração :Eles se amavam muito .E isso fazia o mundo um lugar muito
melhor...
Boa noite senhoras e senhores ...