Imprensa_e_Golpe_de_1964_entre_o_silenci
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Imprensa_e_Golpe_de_1964_entre_o_silenci
15/03/2014
Imprensa e Golpe de
Aprovado em
29/04/2014
MARIALVA CARLOS
1964: entre o silêncio e
BARBOSA
UFRJ
Professora Titular
rememorações de fatias do
de Jornalismo da
Universidade Federal
do Rio de Janeiro
(UFRJ) e Professora
passado
Titular (aposentada) da
Universidade Federal
Fluminense. Doutora em Marialva Carlos Barbosa
História. Vice-Presidente
da INTERCOM. Resumo
Pesquisadora 1 do CNPq. O texto procura mostrar a atuação da imprensa no período ditatorial brasileiro
email: mcb1@terra.com.br inaugurado em 1964, no qual ações de cooptação conviveram, lado a lado, com
estratégias de resistência. Aborda as estratégias memoráveis dos jornalistas que, no
futuro, constroem enredos narrativos sobre a ação da imprensa de forma a produzir
uma memória comum do grupo, privilegiando determinadas imagens nas quais
se sobressaem os valores profissionais. Mostrando a complexidade das relações
entre imprensa e poder durante o período, enfatiza ainda que alguns processos
históricos de transformação do jornalismo brasileiro – exacerbação das estratégias
de modernização da imprensa e valorização do jornalismo interpretativo – têm
como momento deflagrador a adoção de novos critérios redacionais e editoriais
implantados em função da censura.
Palavras-chave
Imprensa, Jornalistas, Memória, Golpe de 1964.
Abstract
The text shows the role of the press in the Brazilian dictatorship period that opened
with the coup of 1964 in which shares of cooptation lived side by side with strategies
of resistance. Discusses the memorable strategies of journalists that makes narrative
about the action of the press to produce a common memory of the group in the future,
favoring certain images in which excel professional values. Showing the complexity
of the relationship between media and power during the period, emphasizes even
some historical processes of transformation of Brazilian journalism (exacerbation of
modernization strategies of the press and enhancement of interpretive journalism)
when starts to adopt brand new redactional and editorial discretion implemented
according to the censorship.
Keywords
Estudos em Jornalismo Press, Journalists, Memory, The coup of 1964
e Mídia
Vol. 11 Nº 1
Janeiro a Junho de 2014
ISSNe 1984-6924
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1984-6924.2014v11n1p7 7
O
objetivo desse texto é e o processo de modernização da
mostrar que, como um imprensa, exacerbados na década de 1960,
processo complexo, encontraram eco favorável em função dos
as ações da imprensa limites impostos ao jornalismo no período
no período ditatorial, ditatorial. A ênfase à ideia de que cabia ao
inaugurado com o golpe de 1964, não jornalismo, tão somente, narrar, de forma
foram nem apenas uma história de distante, o que se passava no mundo,
resistências dos jornalistas (e de algumas construindo uma pretensa neutralidade
empresas) às forças militares que tomaram pode ser interpretada, portanto, como
o poder em 1º de abril de 1964, nem uma uma brecha narrativa construída pelos
história de cooptações, materializadas pela jornais para continuarem a desempenhar
autocensura generalizada, pelo silêncio seu papel e sua função junto ao público.
que se produzia em relação às ações mais Ao mesmo tempo, longe das polêmicas
violentas da ditadura ou pela aproximação que sempre marcaram o jornalismo
com os detentores do poder. brasileiro no longo processo de construção
Com a exclusão dos temas políticos histórica de suas narrativas, cabia agora
da imprensa diária – que construíam no novo modelo incluir a função de
historicamente a lógica discursiva das revelador de um mundo que não seria
publicações desde o século XIX – e com o conhecido, não fosse a sua interferência
aparente divórcio do grupo dos jornalistas providencial. Constrói-se, assim, na
das esferas de poder houve uma série de esteira do afastamento dos temas políticos,
reconfigurações no mundo do jornalismo, a exacerbação do valor investigativo do
das quais a exacerbação do movimento de jornalismo, que, evidentemente, daria
modernização da imprensa, iniciado na à atividade e aos jornalistas um poder
década anterior, e a eclosão do jornalismo simbólico tão importante quanto àquele
investigativo fazem parte do mesmo de viver nas cercanias do poder.
processo. Se, no passado, pode-se observar a
Nas páginas dos jornais, sobretudo construção de um silêncio significativo em
após a edição do AI-5, quando alguns relação a diversos temas políticos que não
foram submetidos aos ditames da censura eram noticiados, em função muitas vezes
prévia, enquanto outros aderiam à da autocensura – como, por exemplo,
autocensura como forma de sobrevivência as prisões e a existência de torturas e
(e subsistência), observa-se, cada vez mortes que atingiam os que combatiam
mais, destaque às matérias da editoria (ou procuravam) combater o regime –
internacional e das temáticas locais. no futuro, percebe-se que os jornalistas
Narradas na perspectiva da impessoalidade constroem um discurso comum do grupo
e da valorização do fato bruto distante de para justificar algumas posições (inclusive
qualquer viés opinativo constituíam-se na o silêncio). Por outro lado, num processo
produção de uma textualidade possível, seletivo da memória em busca por uma
decorrente do afastamento compulsório verdade significada hoje, e não no passado,
das análises políticas e da tomada de há o movimento constante de produzir
posição clara a favor (ou contra) dos o grupo, naquele momento, como um
grupos do poder. Os padrões redacionais corpo homogêneo, no centro da luta
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pela liberdade de expressão, defendendo ser jornalista. O medo de deixar de ser
os valores da democracia, sem dúvida, jornalista teria sido responsável pela
o valor profissional mais duradouro na generalização das estratégias de silêncio.
construção da identidade jornalística no Ser jornalista, nessas construções
Brasil. memoráveis, fazia parte da vida. E perder
Na prática nem esse grupo existia a função de jornalista significava a morte
como um corpo homogêneo, nem as suas em vida.
ações no passado – que tem no silêncio Em segundo lugar, na concepção das
compulsório, paradoxalmente, a marca memórias futuras e que, de certa maneira,
mais gritante da acomodação diante das justificam de maneira subterrânea o
ações da ditadura – indicam a existência silêncio está a hierarquia da profissão. Para
dessa luta. os jornalistas cabiam aos donos dos jornais,
Chama também atenção no jogo de aos dirigentes máximos das publicações a
construção memorável, a produção luta pelas liberdades democráticas e não
de uma memória do grupo, na qual aos que ocupavam posições intermediárias
destacam as ações que faziam, de maneira e de menor importância nas redações. Por
individual, para burlar a censura, usando, outro lado, esse mesmo argumento imputa
sobretudo, as técnicas jornalísticas e o aos donos de jornais a responsabilidade
conhecimento dos meandros da profissão. solitária pelo alinhamento promovido
Assim, as textualidades (redacionais e com os governos militares. O restante dos
editoriais) teriam sido usadas muitas vezes profissionais apenas teria assistido, sem
para denunciar a existência da censura ou participar diretamente, desses jogos de
para burlar as regras de cerceamento da apoio.
liberdade de expressão. Em terceiro lugar, como produção
No discurso construído no futuro, três memorável do passado sobressaem
posições dominantes sobressaem. Em descrições de cenas, ações dos jornalistas
primeiro lugar, justificam a apatia diante que teriam se rebelado contra o regime
dos limites impostos à atividade porque, e, com isso, sofrido diretamente
para eles, o mais importante era defender a consequências perversas. A ação
sua posição como jornalista, preservando destemida (ou perigosa ou contrária
o emprego. Essa preservação não tinha às determinações dos altos escalões
motivação imediata e cotidiana (salário, das empresas jornalísticas), sempre de
posição, condições de sobrevivência, natureza individual, se constitui como
família, etc.), mas o valor simbólico do um enredo narrativo mostrando como
os jornalistas cumpriram com o valor
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boa edição. Fui para casa (...) ligaram Jornalistas de outras publicações, como
pra avisar de uma ordem da polícia
do Estado de S. Paulo que viveu um longo
proibindo o assunto do Chile na
manchete. Voltei (...). Estava presente período de censura prévia (de 1972 a
o vice-diretor Bernardo da Costa 1975), relembram também as estratégias
Campos, um homem de confiança
editoriais utilizadas para mostrar sub-
do Brito, nunca tinha se metido
com jornalismo, mas apareceu e repticiamente ao público que o jornal estava
estranhei. Falei que íamos cumprir sob censura. Se na época, poucos foram
estritamente o pedido. Pedi para
tirar a manchete: ‘Vamos fazer três os que entenderam o tom da mensagem,
ou quatro blocos, com o corpo maior no futuro as edições se constituem em
possível, contar essa história toda, exemplos que materializam a existência do
sem manchete, e essa história vai
servir de manchete’. No dia seguinte, regime de exceção.
bem cedo o Armando Nogueira,
da TV Globo, me ligou dizendo Quando a censura barrava,
que o jornal estava extraordinário, publicávamos outra coisa no lugar.
que o jornalismo brasileiro vivia o Não íamos comprometer a estrutura
seu melhor momento. Não esqueci da empresa. Minha primeira reação
os telefonemas e o impacto, não quando proibiram os espaços em
sobrou nada daquela edição. Mas o branco foi publicar cartas dos
Brito ficou chateadíssimo e assim leitores. Imaginei que entenderiam,
começou o fim (Alberto Dines. porque só publicávamos cartas aos
Depoimento. In: Memória de domingos. Mas não foi o caso, para
repórter, 2010, p. 92). você ver como nós, jornalistas e
intelectuais, não conhecemos bem o
público. Decidimos publicar poesia.
Em dezembro daquele mesmo ano, Qual foi a reação? ‘Muito bem, o
Alberto Dines seria demitido do Jornal do Estado agora difunde a cultura!’ Mas
continuamos. O Júlio Neto me dizia:
Brasil. Localizando as razões do que fora ‘Não adianta, eles não percebem. É
nomeado por Nascimento Brito, diretor preciso algo continuado’ (Oliveiros
Ferreira, secretário de redação do
geral do jornal, como “indisciplina”, no
Estado de São Paulo, de 1967 a
fato de produzir edições que mostravam 1978. Depoimento. In: Memória de
o descontentamento com o regime, o repórter, 2010, p. 84).
jornalista enfatiza, com orgulho, mais
uma vez, as edições emblemas de uma Mesmo os jornalistas que não ocupavam
época a partir de valores primordiais do cargos de direção relembram as estratégias
jornalismo. A arma que usara tinha sido as utilizadas para fazer das práticas
técnicas redacionais e editoriais, das quais jornalísticas armas de combate à censura.
se orgulharia no futuro. Percebi que só liam o começo
do texto. Dependendo do assunto,
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Enredo 2: a luta deve ser baianinha muito valente, desceu
também. Fumava sem parar, deu
dos dirigentes bronca, etc. Nisso, saiu um tiro
que ficou muito tempo alojado
na entrada do prédio na Avenida
Se para os jornalistas a arma de luta Gomes Freire, 471. (Arthur Poerner.
contra a censura era a própria prática Depoimento. In: Memória de
repórter, 2010, p. 85).
jornalística, no discurso memorável
Apesar de frente à truculência muitos
enfatiza-se também a ação destemida de
terem calado, produzindo um silêncio que
algumas poucas publicações e, entre elas,
deixou ecos no futuro, destacam sempre
no caso do Rio de Janeiro, o Correio da
o orgulho de terem participado daquele
Manhã.
momento da história de um jornal que
O único jornal que dava uma defendia a democracia. Era a defesa de
ampla cobertura (do que acontecia
sob a ditadura) era o Correio da democracia que fazia deles verdadeiros
Manhã. A Ultima Hora também jornalistas.
dava, mas o Correio ia mais fundo.
A edição a respeito da Passeata Tínhamos a sensação de que
dos Cem Mil foi impressionante, todo o jornal e todas as editorias se
hoje nenhum jornal faria, seria empenhavam em criticar e derrubar
inimaginável. Os jornais hoje são a ditadura. O Correio da Manhã não
muito mais mercadoria. O Correio sentia medo, metia a cara. Enquanto
da Manhã se deu ao luxo de fazer sobreviveu teve dignidade. (...) Eu me
uma edição primorosa, com orgulhava de dizer: ‘Eu trabalho no
detalhes, e desempenhou seu papel Correio da Manhã. Sou do Correio
na luta pela democracia; isso era o da Manhã’. O jornal marcou bem
mais importante na época. Com uma a vida de muita gente. Os outros
Niomar Muniz Sodré era possível, não me marcaram mal, porque
porque ela tinha esse espírito eu não deixei. Não vesti a camisa
(Arthur Poerner. Depoimento. In: deles. Nos outros eu trabalhei; e no
Memória de repórter, 2010, p. 79). Correio da Manhã eu fui jornalista.
(Bertholdo de Castro. Depoimento.
In: Memória de repórter, 2010, p.
Assim, cabia aos proprietários dos 87)
jornais a decisão de ser contra a ditadura.
Os jornalistas apenas cumpriam ordens. A reação da imprensa (e dos jornalistas)
Portanto, a ampla cobertura do Correio foi, portanto, diversificada. Houve aqueles
da Manhã, a reação contra as prisões de que optaram por aceitar ordens que
alguns jornalistas, mesmo sob a ameaça chegavam à redação por meio de bilhetes
de ter a edição apreendida, era uma e telefonemas; houve os que de fato
prerrogativa dos quadros superiores da sofreram as consequências da censura
empresa, como no caso de Niomar Muniz prévia e houve aqueles que promoveram
Sodré, proprietária do jornal. um discurso de inclusão nas tramas da
Enquanto isso, policiais militares censura posteriormente a sua efetiva
invadiram o Correio da Manhã. existência. Para muitos jornalistas e
Dirigiram-se à redação, no terceiro para muitos jornais é mais interessante
andar. Peralva desceu para saber o
que acontecia, foi imediatamente construir uma história de destemor e lutas
algemado com as mãos para trás e do que revelar as aproximações que de fato
jogado num camburão. A Niomar,
alguns tiveram com o poder.
a dona do jornal, uma senhora
Havia censura da polícia e
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aquela que era feita através da A censura prévia exercida pelos censores
troca de favores. Os donos dos
enviados às redações foi aplicada de modo
jornais telefonavam para o governo
pedindo favores e assim também os pontual e, sobretudo, sem regras claras
governos se achavam no direito de (KUCINSKI, 2002, p. 534). Para o autor essa
telefonar para pedir que não fossem
falta de regras levou os jornais (e jornalistas)
publicadas certas notícias. É muito
importante estabelecer o seguinte: a adotarem cada vez mais a autocensura.
dos jornais diários brasileiros, Antecipando-se às ordens presumidas,
só quem teve censura prévia foi
a Tribuna da Imprensa que iria tentando adivinhar o que o regime não
completar 10 anos agora no dia 23 gostaria de ver publicado, jornalistas,
de outubro, o Estado de S. Paulo e editores e donos do jornal esmeraram-
o Jornal da Tarde por 20 meses.
Só, mais nada. Não houve censura se na autocensura, controlando de forma
prévia em nenhum outro diário antecipada e voluntária as informações
(Helio Fernandes. Depoimento
(KUCINSKI, 2002, p. 534-536). O exercício
(1978). In: MARCONI, 1980, p. 167).
generalizado da autocensura determina,
segundo o autor, o padrão de controle da
A apatia (ou a cooptação) fazia calar as
informação durante o regime autoritário,
informações sobre prisões, torturas e outras
sendo os demais métodos (censura
violações dos direitos humanos, sobretudo,
prévia e expurgos de jornalistas) muito
na fase mais aguda do regime ditatorial.
mais acessórios e instrumentais para a
Ainda que muitos argumentem que a
implantação da autocensura.
acomodação não se fazia por um processo
de introjeção da censura. Observa-se Tinha havido uma troca de tiros,
durante todo o período que mais violenta com a morte de uma líder (...) eu
fotografei o cadáver: era a loura dos
do que a censura (que não foi genérica, assaltos, procuradísisma. Ao lado,
nem atingiu indiscriminadamente todos havia um conjunto habitacional e
os órgãos de imprensa) foi a prática fui conversar com os moradores.
Encontrei uma senhora chorando.
voluntária da autocensura: seja por Davam-lhe água e ela me contou.
absoluto desconhecimento da amplitude ‘Moço isso é uma covardia,
trouxeram ela num carro, botaram
da exceção de um regime ditatorial que
aí e ela saiu correndo, gritando não
duraria vinte um anos, seja por desejar faça isso, não faça isso. Meteram bala
continuar dialogando e se aproximando e a mataram’. Eu escrevi tudo isso,
com depoimento de um e outro, de
do campo político. pessoas que viram tudo e entreguei
no jornal – não publicaram. Fui
Ficaram muito tempo no Estadão, conversar com o Carlos Lemos, o
em São Paulo. No Jornal do Brasil, subeditor, que disse: ‘Não, Jacob, um
o inspetor ligava e dava instruções. dia a gente vai fazer um livro e contar
Havia normas: o que não era proibido tudo’. Até hoje eu não vi. (Alberto
nós dávamos, algumas coisas muito Jacob, fotógrafo. Depoimento. In:
discretamente. O Jornal do Brasil Memória de repórter, 2010, p. 91).
não serviu ao governo militar.
Entretanto, não podemos considerar
Obedeceu as regras da censura.
Ninguém foi demitido. Alguns apenas como aderência voluntária ao regime
saíram porque fugiram, porque o medo prévio da censura. Buscando uma
quiseram e sofriam perseguição
explicação baseada na historicidade da
(Carlos Lemos. Depoimento. In:
Memórias de repórter, 2010, p. 90). constituição do jornalismo como prática
social e lugar de reconhecimento público,
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pode-se interpretar essa aderência de duas na área econômica, havia o esquecimento
formas: o valor atribuído ao exercício das perseguições, prisões, banimentos
da prática da profissão estar acima de e mortes dos que se colocavam contra o
regras deontológicas do grupo, como o regime. Mesmo hoje, o que os jornalistas
exercício livre do ofício e a obsessão pelos (e as empresas) rememoram como
valores democráticos; e a necessidade ação da imprensa são sempre histórias
(ou interesse) de continuar participando de luta e resistência num processo de
das esferas de poder, reproduzindo o enfrentamento aos ditames de um período
modelo de significação mais duradouro sem liberdades democráticas, como vimos
no jornalismo. Mas, ao ver apartado no item anterior.
de seu cotidiano os temas políticos, era No que diz respeito aos discursos
preciso produzir outro lugar simbólico de memoráveis dos jornalistas há uma
importância para a profissão: e esse lugar produção narrativa que ora enfatiza a ação
será, na década de 1980, a capacidade destemida de alguns, ora justifica a apatia
investigativa. e o silêncio em relação aos desmandos do
Mas no futuro, através dos jogos regime como forma de não ameaçar o seu
memoráveis, construindo uma lugar de jornalista. Qualquer ação que
imagem comum do grupo, dão outras pudesse significar deixar de ser jornalista
interpretações ao passado aonde sobressai era imediatamente rechaçada.
exatamente a luta indiscriminada em favor
dos valores democráticos, o bem simbólico Mas a atmosfera da redação
freia você, porque o jornalista é um
mais duradouro e mais reafirmado no jogo homem extremamente dependente
discursivo do jornalismo. do emprego. Não só do salário. É que
o jornalista é jornalista no fundo
A Passeata dos Cem Mil, por porque gosta, porque precisa ser
exemplo, na Avenida Rio Branco, jornalista. Ele tem um compromisso
parou na porta do Jornal do Brasil, com o imediato, com a ansiedade do
houve aplausos, e muitos jornalistas dia seguinte, com aquela ponte de
da redação participaram. O Jornal que falei, entre o ontem e o amanhã.
do Brasil tinha uma importância Ele vibra com aquilo, é como se
muito grande como veículo fosse uma atividade de arte dele.
democrático. O AI-5 é que foi Ele seria capaz de trabalhar até de
realmente duro, dramático (Alberto graça (Francisco Pedro do Coutto.
Dines. Depoimento. In: Memória de Depoimento ao CPDOC. Rio de
repórter, 2010, p. 79). Janeiro, CPDOC/Alerj, 1998).
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Referências bibliográficas
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