licoes-de-processo-civil-executivo
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1. Noção
A lei de processo civil consagra no seu art. 1º o principio da proibição da
autodefesa, segundo o qual não e permitido o recurso à força com o fim de
realizar ou assegurar o próprio direito. Por conseguinte, se o devedor não
cumprir voluntariamente a prestação a que se encontre vinculado, o credor
tem o direito de exigir judicialmente o seu cumprimento e de executar o
património do devedor (arts. 762º, nº1 e 817º CC). De facto, o art. 2º
estabelece o direito de acesso aos tribunais.
No plano adjetivo, a garantia de acesso aos tribunais materializa-se no direito
de ação.
À luz de tal direito, o art. 10º, nº1, preceitua que as ações podem ser
declarativas ou executivas.
Assim, nos termos do art. 10º, nº3, as ações declarativas são aquelas em que o
autor pretende que o tribunal apenas a existência ou a inexistência de um
direito ou de um facto, condene o reu na prestação de uma coisa ou de um
facto, pressupondo ou prevendo a violação de um direito, ou autorize uma
mudança na ordem jurídica existente.
Por sua vez, as ações executivas são aquelas em que o credor “requer as
providencias adequadas à realização coativa de uma obrigação que lhe é
devida” (art. 10º, nº4). Com efeito, o credor que esteja munido de um titulo
executivo (arts. 10º, nº5 e 703º, nº1) pode, em virtude da falta de
cumprimento voluntario da prestação, recorrer à via judicial para, através do
emprego de meios coativos ou sub-rogatórios exigir a sua realização coativa.
Na verdade, as ações executivas, partindo de um direito previamente
declarado e/ou reconhecido num titulo executivo, destinam-se a permitir o
cumprimento coercivo da obrigação, através do poder de autoridade do
Estado, ou seja, a “reparação material de um direito violado”
Neste enquadramento, ao invés do que sucede no processo declarativo, o
processo executivo, partindo de um direito já assente. “desenvolve-se num
único grau”, ainda que se articule uma serie de fases funcionalmente coligadas,
“e consiste numa serie coordenada de atos destinados a conseguir o resultado
da satisfação coativa” de tal direito.
Por outro lado, importa salientar que a ação declarativa e a ação executiva
complementam-se entre si, na medida em que, se for proferida uma sentença
condenatória numa ação declarativa e se essa sentença não for
voluntariamente cumprida, a ação executiva permite a adoção das medidas
coercivas que se afigurem necessárias à satisfação efetiva do direito que foi
declarado e reconhecido nessa sentença.
A ação executiva pode não ser precedida de uma ação declarativa. É o que
sucede, por exemplo, se a obrigação do devedor constar de um titulo executivo
extrajudicial (ex.: doc autentico), situação em que o credor pode intentar, de
imediato, uma ação executiva, sem necessidade de recurso prévio à tutela
declarativa.
3. Finalidades
A ação pode ter diferentes finalidades, em função do âmbito da obrigação que
conste do titulo executivo que lhe serve de fundamento.
Com efeito, à luz do art. 10º, nº5, o titulo executivo determina o fim da
execução (+ art. 10º, nº6), sendo que o fim da execução em nada é alterado na
eventualidade de não ser possível obter a prestação constante do titulo
executivo.
A ação executiva para pagamento de quantia certa tem lugar nos casos em que
o titulo executivo encerre uma obrigação pecuniária, nomeadamente uma
obrigação de soma ou de quantidade (arts. 550º e 551º CC) ou uma obrigação
de moeda especifica (arts. 552º a 557º CC). Assim, não sendo a obrigação
pecuniária voluntariamente cumprida, o credor pode obter a sua realização
coativa (arts. 601º a 817º CC). Nessa exata medida, a ação executiva para
pagamento de quantia certa permite ao credor obter a satisfação do seu
direito de credito.
Por sua vez, emprega-se a ação executiva para entrega de coisa certa quando a
obrigação constante do titulo executivo consista na entrega de uma coisa,
4. Formas de processo
i. Processo executivo comum e processo executivo especial
O processo executivo pode seguir forma comum ou forma especial
(art. 546º, nº1).
Assim, sempre que a lei preveja uma forma de processo executivo
especial, é esta a forma aplicável, atento o disposto no art. 546º, nº2,
1ª parte.
Ex.: processo executivo especial por alimentos (art. 933º a 937º)
Estando em causa um processo executivo que siga uma forma especial,
este regula-se pelas normas que lhe são próprias, bem como pelas
disposições gerais e comuns, sendo-lhe subsidiariamente aplicável, nos
casos omissos, o que se ache estabelecido para o processo comum
(art. 549º, nº1).
Por sua vez, o processo executivo comum tem um âmbito de aplicação
subsidiário ou supletivo, na medida em que se aplica a todos os casos
para os quais a lei não preveja uma forma de processo executivo
especial (art. 546º, nº2, 2ª parte).
Nos termos do art. 551º, nº1, nos casos omissos, são subsidiariamente
aplicáveis ao processo de execução, com as devidas adaptações, as
disposições legais que se encontram previstas para o processo de
declaração (art. 552º a 702º), desde que se mostrem compatíveis com
a natureza da ação executiva.
À luz do art. 551º, nº2, são aplicáveis à execução para entrega de coisa
certa e à execução para prestação de facto, sempre que tal seja
Assim os casos previstos no art. 550º, nº3, e nas demais situações não
tipificadas no nº2 desse preceito legal, o processo comum de execução para
pagamento de quantia certa segue forma ordinária.
1. Agente de execução
i. Competência formal
No modelo publico de execução vigente no CPC de 1961, cabia ao juiz
dirigir todo o processo executivo.
Entretanto, com a reforma de 2003, foi introduzida na ação executiva a
figura do agente de execução, o que permitiu libertar o juiz e o tribunal
da pratica de atos rotineiros, burocráticos e de mero expediente. De
facto, muito embora o juiz tenha conservado os seus poderes de
controlo e de supervisão executiva, a verdade é que a generalidade das
diligencias executivas passou a ficar a cargo do agente de execução, ao
qual cabe o “poder geral de direção do processo”.
Nos termos do art. 129º, nº1 EOSAE (Estatuto da Ordem de
solicitadores e Agentes de Execução- lei nº 154/2015, 14 setembro), o
agente de execução “é o auxiliar da justiça que, na prossecução do
interesse publico, exerce poderes de autoridade publica no
cumprimento das diligencias que realiza nos processos de execução.
Assim, no que concerne às suas competências funcionais em sede
executiva, o agente de execução tem uma competência de natureza
subsidiaria ou supletiva, na medida em que lhe cabe “efetuar todas as
diligencias do processo executivo que não estejam atribuídas à
secretaria ou sejam da competência do juiz.
O agente de execução tem igualmente competência para extinguir a
ação executiva, devendo comunicar, por via eletrónica, a extinção da
execução ao tribunal, atento o disposto no art. 849º, nº3.
Para alem disso, mesmo apos a extinção da instancia executiva, o
agente de execução conserva competência para assegurar a
“realização dos atos emergentes do processo que careçam da sua
intervenção (art. 719º, nº2).
Ex.: levantamento e/ou cancelamento dos registos de penhora (art.
763º).
se, contudo, que o agente de execução, ainda que seja designado pelo
exequente, não é mandatário deste, nem o representa (art. 162º, nº3
EOSAE).
Se o exequente não designar um agente de execução ou se essa
designação, por recusa deste, ficar sem efeito (art. 720º, nº8), não
cuidando, neste caso, o exequente de designar um agente de execução
substituto no prazo de 5 dias, o agente de execução é designado pela
secretaria.
Por outro lado, importa salientar que, diferentemente da solução legal
emergente da reforma de 2008, segundo a qual o agente de execução
podia ser livremente substituído pelo exequente ou destituído pelo
órgão com competência disciplinar sobre os agentes de execução. O
art. 720º, nº4 preceitua que o agente de execução pode ser
substituído, de forma fundamentada, pelo exequente, produzindo a
substituição os seus efeitos na data de comunicação ao agente de
execução.
Contudo, muito embora o exequente seja obrigado a justificar o
pedido de afastamento do agente de execução, a lei não esclarece se o
agente de execução pode responder a esse pedido, nem tao pouco se,
nesse caso, há lugar a intervenção do juiz.
Se é um facto que, da letra da lei, parece decorrer que o agente de
execução não pode responder a esse pedido de substituição afigura-se,
no entanto, que, a partir do momento em que o exequente é obrigado
a fundamentar o pedido de substituição do agente de execução, do
mesmo modo a lei deveria assegurar ao agente de execução o
exercício do contraditório em relação a esse pedido, o qual, de resto,
pode fundar-se em razoes manifestamente infundadas. Outrossim,
continua a verificar-se, na pratica, um sistema de livre substituição.
Para alem da sua substituição por iniciativa do exequente ou da sua
destituição pelo órgão com competência disciplinar, o agente de
execução pode igualmente ser substituído em caso de morte,
incapacidade definitiva ou cessação de funções (art. 39º, nº1 da
Portaria nº 282/2013, 29 de agosto- Regulamenta vários aspetos das
ações executivas cíveis).
No que concerne à delegação de poderes, a lei permite que o agente
de execução delegue, sob sua responsabilidade, a realização de
diligencias executivas que impliquem deslocações, cujos custos se
revelem “desproporcionados”. Este conceito indeterminado de “custos
desproporcionados” deve ser integrado com recurso à ponderação
entre o valor da ação executiva, o valor estimado dos custos da
deslocação e o valor estimado dos eventuais bens a penhorar.
O agente de execução pode igualmente promover, sob sua
responsabilidade e supervisão, a realização, por empregado ao seu
serviço, devidamente credenciado, de quaisquer diligencias materiais
do processo executivo que não impliquem a apreensão material de
bens, a venda ou o pagamento, ao abrigo do disposto no art. 720º,
nº6.
2. Juiz de execução
No processo executivo, cabe ao juiz de execução a pratica dos atos processuais
sujeitos ao principio da reserva de juiz ou que possam eventualmente colidir
com direitos fundamentais das partes ou terceiros. O juiz de execução tem
competência exclusiva para, designadamente:
a) Art. 715º, nº3;
b) Art. 722º, nº1, als. c) e d);
c) Arts. 723º, nº1, al. a) / 726º, nº1 e 734º, nº1);
d) Art. 723º, nº1, al. b) ~ arts. 726º, nº7/ 741º/ 742º ~ arts. 728º a 734º
e 856º ~ arts. 784º/ 785º e 856º ~ arts. 788 a 791º;
e) Art. 723º, nº1, al. c);
f) 724º, nº5;
g) Art. 725º, nº2;
h) Art. 726º, nº4 e 734º, nº1;
i) Art. 726º,nºs 6/7;
j) Art. 727º;
k) Arts. 704º, nº4/ 733º, nº5 e 785º,nº4;
l) Art. 733º,nº1, als. b) e c);
m) Art. 751º, nº6;
n) Art. 755º, nº4;
o) Art. 706º, nº2;
p) Art. 764º, nº3;
q) Art. 771º, nº2;
r) Arts. 800º, nº3 e 820º, nº1;
Por outro lado, com o novo CPC, o juiz de execução readquiriu, igualmente,
competências que havia perdido para o agente de execução na reforma de
2008, tais como:
a) Art. 738º, nº6;
b) Art. 744º, nº3;
c) Art. 759º, nº1;
d) Art. 773º, nº6;
e) Art. 782º, nºs 2/3;
f) Art. 814º, nº1;
g) Art. 817º, nº1;
3. Secretaria de execução
No que respeita aos atos da competência da secretaria de execução, a lei
processual civil estabelece que esta deve assegurar a expediente, autuação e
regular tramitação dos processos executivos na fase liminar, bem como nos
procedimentos ou incidentes de natureza declarativa, designadamente na
oposição à execução, oposição à penhora, na reclamação de credito e nos
embargos de terceiros (art. 719º, nº3). Encontra-se, no entanto, excluída da
competência funcional da secretaria de execução a citação do executado, já
que esse ato processual é da competência do agente de execução (arts. 719º,
nº3, in fine e 726º, nº8).
Nos termos do art. 719º, nº4, a secretaria deve, oficiosamente, notificar o
agente de execução da pendencia de procedimentos ou de incidentes de
natureza declarativa que tenham sido deduzidos na execução, bem como dos
atos aí praticados, que possam ter influencia na instancia.
ii. Funções
O titulo executivo desempenha duas funções essenciais no âmbito do
processo de execução.
Por um lado, o titulo executivo determina o fim da execução, isto é,
estabelece, em função da obrigação que ele certifica, se a ação
executiva tem por finalidade o pagamento de uma quantia certa, a
entrega de coisa certa ou a prestação de facto (art. 10º, nºs 5/6).
Por outro lado, o titulo executivo circunscreve os limites da execução,
ou seja, o credor não pode pedir mais do que aquilo que oi titulo
executivo expressamente lhe dá.
Porém, nada obsta a que o credor peticione o pagamento de juros de
mora, contabilizados à taxa legal, da obrigação constante do titulo,
ainda que o mesmo seja omisso quanto a essa obrigação de
pagamento de juros (art. 703º, nº2).
Analogamente, quando tenha sido estipulado ou judicialmente
determinado qualquer pagamento em dinheiro corrente, o credor
pode pedir, a titulo de sanção pecuniária compulsória, o pagamento de
juros à taxa de 5% ao ano, desde da data do transito em julgado da
sentença condenatória (art. 829º-A, nº4 CC).
Atenta a sua função documentadora da obrigação, o titulo executivo
deve definir de forma rigorosa o fim e os limites da execução, não
sendo, por isso, permitido ao exequente apelar à relação causal ou a
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2. Espécies de títulos
O art. 703º, nº1, apresenta uma enumeração taxativa dos títulos executivos
que podem servir de fundamento a uma ação executiva. Revestindo essa
enumeração de natureza taxativa, não são admissíveis convenções entre as
partes pelas quais estas decidam atribuir força executiva a um documento que
a lei não reconheça como sendo titulo executivo, ou retirar força executiva a
um documento legalmente qualificado como titulo executivo. De igual modo,
não é possível o recurso à analogia para se atribuir a natureza de titulo
executivo a um documento que, como tal, não seja legalmente reconhecido.
Por conseguinte, sendo dado à execução um documento a que a lei não
atribua força executiva ou do qual não resulte a obrigação de cumprimento de
uma prestação, o tribunal deve indeferir liminarmente o requerimento
executivo, por falta de um dos pressupostos essenciais da ação executiva.
i. Sentenças condenatórias
a. Âmbito
Nos termos do art. 703º, nº1, al. a), constituem títulos
executivos as sentenças condenatórias.
Esse titulo executivo é oque oferece maiores garantias de
segurança e de certeza jurídica quanto à existência da
obrigação que se pretende executar.
A doutrina tem vindo a dividir-se quanto à questão de saber se
apenas constituem titulo executivo as sentenças condenatórias
strictu sensu, ou se, pelo contrario, constituem igualmente
titulo executivo as sentenças que, independentemente do tipo
de ação declarativa em que tenham sido proferidas, encerrem
uma componente condenatória.
Em relação às sentenças condenatórias, proferidas em ação
declarativa de condenação, não restam duvidas quanto à sua
força executiva, a resposta já não é tao imediata no que
concerne às sentenças proferidas em ação declarativa
constitutiva ou em ação declarativa de simples apreciação.
Relativamente às ações declarativas constitutivas, tendo estas
por objeto a introdução de uma mudança na ordem jurídica, o
efeito útil da pretensão do autor esgota-se, em principio, com
a própria sentença, a qual, por essa razão, não constitui titulo
executivo.
Ex.: anulação de um contrato.
O mesmo é dizer que a sentença proferida em ação declarativa
constitutiva é um “instrumento autossuficiente de tutela
jurisdicional”, já que “realiza, de forma autónoma e completa,
o direito potestativo da parte”.
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b. Requisitos de exequibilidade
No que concerne aos requisitos da sua exequibilidade, dispõe
o art. 704º, nº1, que a sentença só constitui titulo executivo
depois de transitar em julgado.
Nos termos do art. 628º, sentença transita em julgado quando
deixa de ser passível de recurso ordinário ou de reclamação
(arts. 614º a 617º).
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c. Despachos condenatórios
São aqui equiparados às sentenças condenatórias, no que
concerne à sua força executiva, os despachos e quaisquer
outras decisões ou atos da autoridade judicial que condenem
no cumprimento de uma obrigação (art. 705º).
Não constituem títulos executivos os despachos de mero
expediente, já que, destinando-se tais despachos a assegurar o
normal andamento do processo (art. 152º, nº4).
d. Decisões arbitrais
No tocante às decisões dos tribunais arbitrais, o legislador
equipara os termos da sua exequibilidade aos das decisões dos
tribunais comuns (arts. 42º, nº7 da LAV- Lei da Arbitragem
Voluntaria- e 705º, nº2).
Desde logo, nos termos do art. 47º, nº1 LAV, a parte que
requer a execução da sentença arbitral ao tribunal estadual
deve fornecer o original daquela ou uma copia certificada.
Para alem disso, à luz do art.47º, nº3 LAV, a sentença arbitral
pode servir de base à execução ainda que tenha sido
impugnada mediante pedido de anulação apresentado de
acordo com o art. 46º LAV, mas o impugnante pode requerer
que tal impugnação tenha efeito suspensivo da execução.
Tendo havido condenação genérica, a liquidação deve ser feita
nos mesmos termos previstos no CPC quanto à liquidação das
sentenças judiciais que encerrem uma condenação genérica
(arts. 47º, nº2 LAV e 716º, nº4).
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4. Títulos de créditos
O titulo de credito constitui um documento que
incorpora direitos literais, autónomos e abstratos,
assentes numa ordem de pagamento ou numa
promessa de pagamento, permitindo, por isso, ao
respetivo titular o exercício de tais direitos de forma
simples, rápida e segura, mediante a mera exibição do
titulo, sem necessidade de alegação ou demonstração
da relação jurídica subjacente à sua emissão.
Ora, de acordo com o art. 703º, nº1, al. c), os títulos
de créditos constituem títulos executivos.
Incluem-se neste domínio, entre outros, as letras,
livranças e os cheques.
A atribuição de força executiva aos títulos de credito
encontra justificação na necessidade de se garantir a
segurança do trafego jurídico e de se favorecer a
utilização dos títulos de credito como meios de
pagamento no domínio das transações comerciais.
a. Letras de câmbio
A letra de câmbio, também designada por “bill of exchange”
ou “lettre de change”, é um titulo executivo de credito que
consiste numa “ordem pura e simples dada por uma pessoa a
uma outra, para que pague uma quantia determinada a certa
pessoa ou à ordem dela”.
Tradicionalmente, a emissão da letra de cambio assenta numa
relação trilateral, na medida em que envolve 3 sujeitos, a
saber: sacador, sacado e tomador.
Muito embora, como se disse, a emissão da letra de cambio
assente tradicionalmente numa relação trilateral, pode, no
entanto, suceder que essa relação assuma apenas uma
natureza bilateral. Nessa hipótese a letra de cambio funciona
com um “instrumento de garantia e de cobrança de créditos,
destinando-se a munir o sacador- tomador de um titulo
executivo contra o devedor cambiário.
No que diz respeito aos requisitos formais, estes encontram-se
dispostos no art. 1º da LULL- Lei Uniforme das Letras e
Livranças. Faltando algum desses requisitos, o escrito não
produz efeitos como letra, isto é, passa a configurar um mero
documento particular, sem valor cambiário. Salvo se a letra
tiver sido “emitida em branco” (Art. 10º LULL), ou se estiver
apenas em causa a não indicação da época de pagamento,
situação em que se considera como tendo sido no lugar
designado do nome do sacador. No que concerne ao lugar de
pagamento da letra, este encontra-se tipificado no art. 2º
LULL.
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b. Livranças
A livrança, também designada por “promissory note” ou “let à
ordre”, traduz-se numa “promessa pura e simples, ou seja,
incondicional, feita por uma pessoa, isto é, pelo devedor, de
pagar uma determinada quantia pecuniária a uma outra
pessoa ou à ordem dela”.
No que concerne aos seus requisitos formais, estes
encontram-se dispostos no art. 75º LULL.
Pode, no entanto, suceder que a livrança seja emitida “em
branco”, isto é, sem que dela conste a indicação da quantia, de
época do pagamento e/ou da data ou lugar onde a livrança foi
passada (crf. os arts. 77º e 10º LULL). Nessa eventualidade, a
livrança deve ser acompanhada por um pacto de
preenchimento, não sendo, no entanto, obrigatória a junção
do pacto de preenchimento ao requerimento executivo, já que
o titulo executivo é a livrança e não o pacto.
A livrança, enquanto titulo de credito, dispensa o exequente
de invocar a relação jurídica subjacente à sua emissão. Caberá
ao executado, no âmbito da relação imediata, o ónus de alegar
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c. Cheque
O cheque, igualmente designado por “check” ou “assegno”,
constitui um titulo de credito que, enquanto meio de
pagamento, se materializa numa “ordem pura e simples dada
por uma pessoa a um banco para que pague determinada
quantia por conta da provisão bancaria à disposição do
sacador”. Deste modo, o cheque não se confunde com a letra
de cambio, já que aquele, ao invés do que sucede com a letra
“exige um deposito de fundos feitos pelo emitente em poder
daquele a quem a ordem de pagamento é dada.
Os elementos que devem constar do cheque encontram-se
tipificados no art. 1 da LUC- Lei Uniforme dos Cheques.
À luz do art. 2º LUC, o titulo a que faltar qualquer um desses
requisitos/ elementos não produz efeitos como cheque, salvo
se estiver em causa a falta de indicação do lugar de
pagamento, ou se não tiver designado o lugar da emissão do
cheque.
Para alem disso, a falta de indicação de algum dos elementos
previstos no art. 1º LUC não obsta à eficácia do cheque, desde
que o elemento em falta seja “completado até ao pagamento”.
Quanto à legitimidade passiva, dispõe o art. 44º LUC que todas
as pessoas são obrigadas em virtude de um cheque são
solidariamente responsáveis para com o portador, podendo
este proceder contra estas pessoas individual ou
coletivamente, sem necessidade de observar a ordem segundo
a qual elas se obriguem.
Se o cheque for apresentado a pagamento e a conta sacada
não se achar devidamente aprovisionada, o banco deve
proceder à devolução do cheque, com a menção, aposta no
seu verso, da recusa por falta de provisão.
Ademais, é igualmente indispensável que o titulo de credito
não se encontre prescrito.
No que concerne ao cheque, dispõe o art. 52º LUC que toda a
ação do portador contra os endossantes, contra o sacador ou
contra os demais coobrigados prescreve decorridos que sejam
6 meses. Acresce a isto que o cheque apenas conserva a sua
força enquanto titulo de credito se for apresentado a
pagamento no prazo de 8 dias apos a data da sua emissão (Art.
29º LUC).
Por sua vez, relativamente às letras e livranças, os arts. 70º e
77º LULL preceituam que todas as ações relativas a letras e
livranças prescrevem no prazo de 3 anos a contar do seu
vencimento. Contudo, as ações do portador contra os
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5. Preenchimento abusivo
Questão de particular importância é a de saber se um titulo
de credito, que tenha sido emitido em branco, ou seja, sem
se achar completamente preenchido, e cujo
preenchimento tenha sido abusivo, constitui ou não titulo
executivo. Com efeito, como elucida Ferrer Correia, quem
emite um titulo em branco pode atribuir à pessoa a quem
entrega esse titulo “o direito de o preencher em certos e
determinados termos”.
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b. Documentos particulares
Contrariando a tendência legislativa que se vinha verificando
nos últimos anos, o CPC de 2013 deixou de reconhecer força
executiva aos documentos particulares, assinados pelo
devedor, que importem a constituição ou o reconhecimento
de uma obrigação.
No entanto, questão de particular relevância é a de saber se os
documentos particulares, assinados pelo devedor, que
importem a constituição ou o reconhecimento de uma
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2) Requisitos
O recurso a um procedimento de injunção é
admissível em 2 casos:
1. Obrigações pecuniárias, emergentes de contratos,
até 15.000.00 euros.
o O credor pode apresentar um requerimento de
injunção quando pretenda obter o cumprimento de
uma obrigação pecuniária, emergente de um contrato,
cujo valor não seja superior a 15.000.00.
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3) Tramitação
No que diz respeito à tramitação deste
procedimento, o art. 8º do anexo ao DL nº
269/98, de 1 de setembro (aprova o regime
dos procedimentos para cumprimento de
obrigações pecuniárias emergentes de
contratos de valor não superior à alçada do
tribunal de 1.ª Instância), preceitua que o
requerimento de injunção deve ser
apresentado, à escolha do credor, na
secretaria do tribunal do lugar do
cumprimento da obrigação ou na secretaria do
tribunal do domicilio do devedor. Atualmente,
o procedimento de injunção deve ser
apresentado junto do Balcão Nacional de
Injunções (BNI), com sede no Porto.
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De acordo com o art. 703º, nº1, al. d), possuem igualmente força
executiva as certidões de divida e as decisões administrativas, nos
casos em que a lei ordinária lhes atribua força executiva.
j. Contrato de arrendamento
Nos termos do art. 14º-A, nº1 NRAU, o contrato de
arrendamento, quando acompanhado do comprovativo de
comunicação ao arrendatário, através de carta registada com
aviso de receção, do montante em divida, é titulo executivo para
a execução para pagamento de quantia certa correspondente Às
rendas, aos encargos e/ou às despesas que corram por conta do
arrendatário, considerando-se igualmente compreendias nesse
titulo as rendas que se vencerem desde a comunicação efetuada
ao arrendatário até à entrega efetiva do locado, cuja liquidação
dependa de uma operação de simples calculo aritmético, a ser
realizada pelo próprio exequente no requerimento executivo.
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p. Concurso de títulos
Pode suceder que o credor disponha de 2 ou mais títulos
executivos, referentes à mesma obrigação, contra o mesmo
devedor. Nessa eventualidade, verifica-se um concurso de
títulos.
Nestes casos, o credor tanto pode propor uma ação executiva
apenas com base num dos títulos, como pode intentar uma
única ação executiva fundada em ambos os títulos.
q. Cumulação de pedidos
1. Âmbito
O CPC prevê a possibilidade de serem cumuladas execuções, isto
é, o credor deduzir vários pedidos, referentes a créditos
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2. Oportunidade
No que concerne à sua oportunidade, a cumulação de execuções
pode ser inicial ou sucessiva.
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Por conseguinte, se a obrigação não for certa, exigível ou liquida em face do titulo
executivo, abre-se, por razoes de economia processual, “uma fase liminar do processo
executivo”.
1. Certeza
Noção
o A obrigação diz-se certa quando o objeto da respetiva prestação se encontra
perfeitamente delimitado ou individualizado em relação à sua qualidade ou
conteúdo, isto é, quando se sabe precisamente o que se deve. O mesmo é
dizer que a obrigação será certa desde que seja possível diferenciá-la de
todas as outras. A obrigação não é certa nos casos em que escolha da
prestação ainda esteja por realizar.
Ex.: obrigação genérica de espécie indeterminada.
o Se a obrigação não for certa, a execução tem de principiar pelas diligencias
necessárias a troná-la certa. Isto porque, como é obvio, o exequente só
pode exigir o cumprimento coercivo de uma obrigação se esta se encontrar
perfeitamente determinada em relação à sua qualidade.
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2. Exigibilidade
Noção
o A obrigação exequenda diz-se exigível quando já se encontra vencida ou
quando o seu vencimento depende de simples interpelação do devedor,
isto é, quando já pode ser exigida.
Pode, no entanto, suceder que a obrigação, apesar de já se encontrar
vencida, ainda que não seja exigível.
Ex.: obrigações de natureza sinalagmática onde o credor ainda noa
cumpriu a prestação a que estava vinculado.
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3. Liquidez
Noção
A obrigação diz-se liquida quando a prestação se encontra
determinada em relação à sua quantidade ou montante.
Consequentemente, a obrigação será ilíquida quando, apesar de
a sua existência ser certa, o montante da prestação ainda não se
encontre fixado ou determinado.
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III. Liquidação de obrigação que tenha por objeto mediato uma universalidade
Se a liquidez da obrigação resultar da circunstancia de esta ter por
objeto mediato uma universalidade e o autor não puder concretizar os
elementos que a compõem, a liquidação tem lugar em momento
imediatamente posterior à apreensão, precedendo a entrega ao
exequente (art. 716º, nº7).
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2. Competência
No que concerne à competência do tribunal em sede executiva, importa,
desde já, distinguir entre a competência internacional e a competência
interna, consoante esteja em causa uma relação jurídica plurilocalizada
(com 2 ou mais ordenamentos jurídicos) ou uma relação jurídica interna.
I. Competência internacional
Na ação executiva, vigora o principio da territorialidade, segundo o qual
“cada Estado possui o monopólio das medidas coativas efetuadas no seu
território”. Assim, os tribunais portugueses são internacionalmente
competentes para o conhecimento de uma ação executiva quando se
verifique uma conexão suficientemente forte com o ordenamento
jurídico português (art. 10º, nº4).
Estando em causa uma relação jurídica plurilocalizada, a competência
internacional dos tribunais portugueses é regulada pelo art. 59º.
Em todo o caso, por força do principio do primado, antes de se aplicar o
regime da competência internacional previsto no CPC, torna-se
necessário atender ao que se acha estabelecido nesta matéria no Reg.
(UE) nº 125/2012, de 12 de dezembro, do Parlamento Europeu e do
Conselho, relativo à competência judiciaria, ao reconhecimento e à
execução de decisões em matéria civil e comercial (art. 8º, nº4 CRP).
Ora, em sede executiva, este regulamento prevê, no seu art. 24º, nº5,
que têm competência exclusiva, em matéria de execução de decisões, os
tribunais do EM do lugar da execução.
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D. Competência convencional
Dispõe o art. 95º, nº1, que as partes podem afastar, por
convenção expressa, a aplicação das regras de
competência em razão de território. Vele isto por dizer
que as partes podem eleger como tribunal competente
para a execução um foro diverso daquele que resulta das
normas de competência territorial.
Contudo, nos termos dos arts. 95º, nº1 parte final e
104º, nº1, al. a), em matéria executiva, as partes não
podem celebrar pactos de competência dos quais resulte
o afastamento das regras de competência territorial nos
seguintes casos:
- Execução de decisão proferida por tribunais
portugueses (art. 85º, nº1);
- Execução de titulo extrajudicial, no caso previsto no art.
89º, nº1, 1ª parte;
- Execução para entrega de coisa certa ou para
pagamento de quantia certa, beneficiando a divida de
garantia real (art. 89º, nº2).
Para que o pacto de competência seja valido, é
necessário que o mesmo satisfaça os requisitos de forma
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E. Extensão da competência
Tal como sucede no processo declarativo, também no
processo executivo vigora o principio da extensão da
competência, segundo o qual o tribunal competente para
a ação é igualmente competente para conhecer dos
incidentes que nela se levantem e das questões que o reu
suscite como meio de defesa (art. 91º, nº1 e 551º, nº1).
3. Legitimidade
Regra
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Sendo a ação executiva intentada por quem não figure no titulo executivo
como credor, o requerimento executivo deve ser indeferido liminarmente,
com fundamento em ilegitimidade ativa.
I. Exceções
O principio da legitimidade formal comporta, no entanto, diversas
exceções.
Com efeito, em obediência ao principio da economia processual, o
legislador optou, em determinados casos, por derrogar o principio da
legitimidade formal, isto é, permitir que a ação executiva seja intentada
por alguém e/ou contra alguém que não figure no titulo executivo,
evitando, desse modo, a necessidade de formação de um novo titulo
executivo subsequente sobrecarga da atividade dos tribunais (arts. 53º
e 54º).
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Legitimidade Plural
Litisconsórcio
I. Litisconsórcio inicial
Tal como na ação declarativa, também na ação executiva podem
verificar-se situações de legitimidade plural, ou seja, 2 ou mais
exequente e/ou executados.
A legitimidade plural pode revestir a modalidade de litisconsórcio ou de
coligação.
a) Litisconsórcio voluntario
O regime de litisconsórcio mais comum na ação executiva é o voluntario,
situação em que a ação executiva pode ser proposta por vários credores, contra
vários devedores.
i. Obrigações conjuntas
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b) Litisconsórcio necessário
Na ação executiva, podem igualmente verificar-se situações de litisconsórcio
necessário, isto é, casos em que, por força da lei, por convenção entre as partes
ou pela própria natureza da relação jurídica, seja imposta a presença de todos
os interessados na ação.
c) Litisconsórcio sucessivo
O CPC prevê diversos casos de litisconsórcio voluntario sucessivo na execução,
isto é, situações em que a execução começa por ter um único exequente e/ou
um único executado, verificando-se, na pendência da execução, a intervenção
principal de outros exequentes e/ou executados.
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II. Coligação
Âmbito
O art. 56º prevê a possibilidade de haver coligação de credores, coligação de
devedores e/ou coligação de credores e devedores. Com efeito, há lugar à
coligação na execução sempre que exista pluralidade de partes, ativas ou
passivas e, simultaneamente, pluralidade de prestações ou de “pedidos dos
diferenciados”.
a) Requisitos
Para que seja admissível a coligação de exequentes e/ou executados torna-se,
desde logo, necessário que não se verifique nenhum dos impedimentos
previstos no art. 709º, nº1, relativamente à cumulação de execuções.
b) Modalidades
Estando preenchidos os requisitos cumulativos da coligação, é processualmente
permitido:
- A vários credores coligados demandar o mesmo devedor ou vários devedores
litisconsortes (coligação ativa);
-A um ou vários credores litisconsortes, ou a vários credores coligados,
demandar vários devedores coligados (coligação ativa e/ou passiva);
-A um ou vários credores litisconsortes, ou a vários credores coligados
demandar vários devedores coligados, titulares de quinhoes do mesmo
património autónomo ou de direitos relativos ao mesmo bem indiviso
(coligação ativa e passiva).
c) Coligação ilegal
Verificando-se uma coligação ilegal, o executado pode deduzir oposição à
execução, nos termos do art. 729º, al. c).
Contudo, este vicio processual pode ser sanado.
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4. Patrocínio Judiciário
Diversamente do que sucede na ação declarativa (arts. 40º a 52º), na ação
executiva vigoram normas especiais em relação ao patrocínio judiciário.
Assim, nos termos do art. 58º, nº1, as partes estão obrigadas a fazer-se
representar por um advogado:
- Nas execuções de valor superior à alçada do tribunal da Relação;
- Nas execuções cujo valor seja superior à alçada do tribunal de 1ª instância
e inferior à alçada do tribunal da Relação.
A. Requisitos
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