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ARTIGO ORIGINAL

Estresse ocupacional em profissionais de enfermagem


de um hospital universitário
Occupational stress in nursing professionals of a university hospital
Estrés laboral en profesionales de enfermería de un hospital universitario

RESUMO
Objetivos: Identificar a presença de estresse ocupacional nos profissionais de enfermagem
Lucas Carvalho SantanaI
de um hospital universitário do interior de Minas Gerais e analisar a influência das
ORCID: 0000-0002-7319-8527 características sociodemográficas e ocupacionais neste agravo. Métodos: Estudo transversal,
Lúcia Aparecida FerreiraI exploratório e quantitativo, realizado com 124 profissionais de enfermagem de um hospital
universitário do interior de Minas Gerais. Para sua efetivação, foi utilizada a versão adaptada
ORCID: 0000-0001-6469-5444
e validada para o português da escala Job Stress Scale (JSS). Resultados: A maioria dos
Lenniara Pereira Mendes SantanaI profissionais era mulheres (87,9 %), com média de idade de 40,2 anos, 80,6 % eram técnicos
de enfermagem e 71,8% da amostra apresentava algum grau de exposição ao estresse
ORCID: 0000-0003-1576-2342
ocupacional. Conclusões: O índice de estresse ocupacional foi superior ao observado em
estudos anteriores. Os dados obtidos no estudo apontam para a necessidade de implementar
medidas institucionais de prevenção ao estresse ocupacional, sobretudo fortalecendo o
apoio social no trabalho.
I
Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Uberaba, Descritores: Equipe de Enfermagem; Estresse Ocupacional; Hospital Universitário; Profissionais
Minas Gerais, Brasil. de Enfermagem; Saúde do Trabalhador.

Como citar este artigo: ABSTRACT


Santana LC, Ferreira LA, Santana LPM. Occupational Objectives: To identify the presence of occupational stress in nursing professionals of
stress in nursing professionals of a university hospital. a university hospital in the inlands of the state of Minas Gerais and examine influence of
Rev Bras Enferm. 2020;73(2):e20180997. sociodemographic and occupational characteristics in this disease. Methods: Cross-sectional,
doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0997 exploratory and quantitative study with 124 professional nurses from a university hospital in
the inlands of the state of Minas Gerais. The adapted and validated Portuguese version of the
Job Stress Scale (JSS) was used for the performance of the study. Results: Most professionals
Autor Correspondente: were women (87.9%) with a mean age of 40.2 years, 80.6% were nursing technicians and
Lucas Carvalho Santana 71.8% of the sample had some degree of exposure to occupational stress. Conclusions: The
E-mail: lucas_enfer@hotmail.com occupational stress index was higher than that observed in previous studies. Data obtained
in the study point to the need to implement institutional measures for the prevention of
occupational stress, especially by strengthening social support at work.
Descriptors: Nursing Team; Occupational Stress; University Hospital; Nursing Professionals;
EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho
Occupational Health.
EDITOR ASSOCIADO: Mitzy Danski

RESUMEN
Submissão: 12-02-2019 Aprovação: 15-06-2019 Objetivos: Identificar la presencia de estrés laboral en los profesionales de enfermería
de un hospital universitario en el interior de Minas Gerais y analizar la influencia de las
características sociodemográficas y ocupacionales en esta enfermedad. Métodos: Estudio
transversal, exploratorio y cuantitativo con 124 profesionales de enfermería de un hospital
universitario en el interior de Minas Gerais. Para su efectividad, se utilizó la versión portuguesa
adaptada y validada de la escala Job Content Questionnaire (JCQ). Resultados: La mayoría
de los profesionales eran mujeres (87,9%), con una edad media de 40,2 años, el 80,6% eran
técnicos de enfermería y el 71,8% de la muestra tenía algún grado de exposición al estrés
laboral. Conclusiones: El índice de estrés laboral fue mayor que el observado en estudios
anteriores. Los datos obtenidos en el estudio apuntan a la necesidad de implementar
medidas institucionales para prevenir el estrés laboral, especialmente el fortalecimiento del
apoyo social en el trabajo.
Descriptores: Grupo de Enfermería; Estrés Laboral; Hospital Universitario; Profesionales de
Enfermería; Salud Laboral.

http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0997 Rev Bras Enferm. 2020;73(2): e20180997 1 de 7


Estresse ocupacional em profissionais de enfermagem de um hospital universitário
Santana LC, Ferreira LA, Santana LPM.

INTRODUÇÃO MÉTODOS

O estresse tem se tornado um problema de saúde muito Aspectos éticos


comum na sociedade atual, e sua ocorrência pode ser atribuída
à mudança no estilo de vida das pessoas, que as tem deixado A pesquisa seguiu as normas estabelecidas pela legislação vi-
debilitadas e vulneráveis a inúmeros agravos(1). gente que rege sobre a realização de pesquisas com seres humanos
Este termo tem sido utilizado de forma recorrente na vida e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
cotidiana, associado a sensações de preocupação e desconforto. Federal do Triângulo Mineiro (CEP/UFTM). Os participantes do
É crescente o número de pessoas que se definem como estres- estudo consentiram participar do estudo mediante assinatura
sadas ou relacionam outros indivíduos na mesma situação. Na do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), foram
maioria das vezes, isto é visto como um fator negativo, que gera orientados previamente pelo pesquisador sobre os objetivos
prejuízos no desempenho do ser humano(2). da pesquisa e que poderiam desistir de participar a qualquer
Ao considerar o estresse como um processo e não uma rea- momento. Os riscos e prejuízos causados pela participação no
ção única, não é apenas o tipo de estressor que determina se o estudo foram mínimos. Entretanto, como as questões eram
estresse vai ou não ser desenvolvido. As atividades cognitivas relacionadas ao ambiente de trabalho, os profissionais levaram
usadas pelos indivíduos na interpretação dos eventos ambientais os questionários para serem respondidos no domicílio de forma
são fundamentais no processo do estresse(3). a minimizar possíveis desconfortos.
Cada indivíduo responde a um estímulo de maneira diferente, o
que ocasiona reações internas e externas para manter o equilíbrio Desenho, local do estudo e período
e evitar que agravos se instalem no organismo.
A exposição ao estresse no ambiente de trabalho é um fato que Esta pesquisa foi extraída da dissertação de mestrado inti-
deve ser considerado e investigado. Nas últimas décadas, pelas tulada “Avaliação do estresse ocupacional na equipe de enfer-
mudanças no estilo de vida dos trabalhadores, vem sendo discutido magem em um hospital de ensino”. Foi um estudo transversal,
o estresse ocupacional, que está relacionado com desgastes decor- exploratório e quantitativo, realizado em hospital universitário
rentes do ambiente de trabalho e atividade laboral. A ocorrência do interior de Minas Gerais entre os meses de julho e setembro
de situações em que o indivíduo vive agitado e de maneira pouco de 2018. As etapas metodológicas do estudo foram norteadas
reflexiva vem crescendo, o que resulta em mais respostas ao estresse(4). pela ferramenta STROBE.
Uma vez que diferentes ocupações apresentam diferentes
estressores, atenção especial deve ser dada aos estressores ocu- Amostra, critérios de inclusão e exclusão
pacionais na área da saúde, como problemas de relacionamento,
conflito de funções, dupla jornada de trabalho, pressões exercidas A amostra foi composta por integrantes da equipe de enfer-
pelos superiores de acordo com a percepção do indivíduo e magem (enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares de
alterações sofridas dentro do contexto da atividade(2,5-6). enfermagem) dos diversos setores de um hospital universitário
O estresse ocupacional é um fenômeno comum a todas as do interior de Minas Gerais. Atenderam aos critérios de inclusão,
ocupações, apesar de mais facilmente identificado em alguns os profissionais atuantes no referido hospital que aceitaram par-
grupos específicos, onde as fontes de pressão dos postos de ticipar do estudo, assinaram o TCLE e não estavam afastados de
trabalho são mais altas em comparação com outras profissões(7-8). suas atividades laborais no período de coleta de dados.
A profissão de enfermagem se destaca dentre as passíveis ao O cálculo do tamanho amostral considerou uma prevalência
desenvolvimento do estresse ocupacional. Esses profissionais são de exposição ao estresse ocupacional de 56,5%, conforme estudo
os responsáveis diretos pela assistência prestada ao paciente, realizado em um hospital universitário da região sudeste do Bra-
organização do setor hospitalar e por atividades administrativas sil(11). Ao considerar a prevalência de 56,5%, uma precisão de 8%
e burocráticas diversas(9). A enfermagem é uma das profissões e um intervalo de confiança de 95% para uma população finita
mais expostas ao risco de tensão e adoecimento dentro da ins- de 746 profissionais, obteve-se uma amostra de 124 profissionais.
tituição hospitalar, pois os profissionais enfrentam condições de
trabalho inadequadas, em ambiente insalubre, com sobrecarga Protocolo do estudo
de trabalho e repetição de tarefas(10).
O estresse ocupacional impacta o dia a dia dos profissionais de A variável dependente avaliada neste estudo é a exposição
enfermagem, pois causa danos físicos, psíquicos, sociais e culturais ao estresse ocupacional, e as variáveis independentes são as
e pode produzir inúmeras consequências para o indivíduo, sua características sociodemográficas e ocupacionais da amostra
família, a empresa em que trabalha e a comunidade onde vive. (sexo, idade, situação conjugal, filhos, nível de escolaridade, cargo
exercido, tempo de formação, setor de atuação, turno de trabalho,
OBJETIVOS carga horária semanal, tempo de trabalho na instituição, vínculo
empregatício, remuneração recebida e presença de outro vínculo).
Identificar a presença de estresse ocupacional nos profissio- Foram utilizados dois questionários como instrumentos de
nais da equipe de enfermagem de um hospital universitário do coleta de dados; um para caracterização sociodemográfica e
interior de Minas Gerais e analisar a influência das características profissional da amostra, e outro para avaliar a exposição dos
sociodemográficas e ocupacionais neste agravo. trabalhadores ao estresse ocupacional.

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Estresse ocupacional em profissionais de enfermagem de um hospital universitário
Santana LC, Ferreira LA, Santana LPM.

Para avaliar a exposição ao estresse ocupacional, foi utilizada dimensões da JSS, as variáveis sociodemográficas e profissionais
a versão adaptada e validada para o português da Job Stress e a exposição ao estresse ocupacional, foi utilizada a análise de
Scale (JSS). Esta escala foi elaborada originalmente na Suécia regressão logística binomial, ajustando-se para demais variáveis
(Job Content Questionnaire), e após a adaptação cultural para o potencialmente relevantes.
português e validação, ela foi denominada de Job Stress Scale,
versão resumida. Este questionário foi utilizado por se tratar de RESULTADOS
uma escala internacionalmente reconhecida para avaliação do es-
tresse ocupacional baseada no modelo teórico Demanda-Controle, A amostra foi constituída por 109 (87,9%) profissionais do
além de ter sido adaptada e validada para língua portuguesa(12). sexo feminino com média de idade de 40,2 anos (mínimo de 22
A JSS é uma escala do tipo Likert com 17 itens distribuídos em e máximo de 68 anos), dos quais 66 (53,2%) eram casados ou em
três dimensões da seguinte forma: cinco itens avaliam Demanda, união estável e 90 (72,6%) tinham filhos.
seis avaliam Controle e seis a dimensão Apoio Social. Para cada As características profissionais da amostra estudada estão
dimensão da escala, quanto maior o escore, maior a demanda, representadas na Tabela 1.
controle ou apoio social percebidos(12).
A exposição ao estresse ocupacional foi avaliada a partir da Tabela 1 - Caracterização profissional da amostra (N=124), Uberaba, Minas
Gerais, Brasil, 2018
combinação de níveis altos e baixos das dimensões demanda e
controle, levando em consideração o modelo Demanda-Controle(13). n %
Para identificar os grupos de alta e baixa demanda e grupos
de alto e baixo controle, foi seguida a recomendação dos pesqui- Cargo exercido Auxiliares de enfermagem 15 12,1
sadores que validaram a JSS, de adotar as medianas das referidas Técnicos de enfermagem 85 68,5
Enfermeiros 24 19,4
dimensões como ponto de corte, formando duas categorias para
a dimensão demanda e duas para controle. Nível de escolaridade Ensino médio 46 37,1
Superior 38 30,6
O profissional em situação de alta exigência (alta demanda
Pós-graduação 40 32,3
e baixo controle) é o que apresenta reações adversas de maior
desgaste psicológico. O trabalho ativo (alta demanda psicológica Tempo de formação Até 5 anos 6 5,0
6 a 10 anos 39 32,5
e alto controle) permite ao profissional ter uma ampla possibili-
11 a 15 anos 28 23,3
dade de decisão sobre como e quando desenvolver suas tarefas, 16 a 20 anos 25 20,8
e como usar sua potencialidade intelectual com esta finalidade. Mais de 21 anos 22 18,3
O trabalho passivo (baixa demanda psicológica e baixo controle)
Carga horária semanal* 36 horas 89 72,4
produz uma atrofia gradual de aprendizagem de habilidades. 40 horas 34 27,6
A situação de baixa exigência (combina baixa demanda e alto
Horário de trabalho Matutino 25 20,1
controle) se configura em estado altamente confortável e ideal
Vespertino 38 30,6
de trabalho(13). Noturno 61 49,2
Para estratificar a exposição ao estresse ocupacional, os pro-
Tempo de trabalho na instituição Até 5 anos 63 51,2
fissionais de enfermagem foram classificados de acordo com a 6 a 10 anos 16 13,0
alocação em grupos descritos em estudo anterior(14). Esta sugere 11 a 15 anos 16 13,0
que trabalhadores em situações de alta exigência são consi- 16 a 20 anos 13 10,6
derados o grupo de maior exposição ao estresse ocupacional, Mais de 21 anos 15 12,2
aqueles em situações de trabalho ativo ou trabalho passivo são Remuneração recebida** Até 2 salários 10 8,2
considerados o grupo de exposição intermediária, e aqueles em 2 a 5 salários 79 64,7
situações de baixa exigência são classificados como não expostos 5 a 10 salários 31 25,4
ao estresse no trabalho. Mais de 10 salários 2 1,6
Ainda de acordo com os autores da escala, em casos de ex- Presença de outro vínculo Sim 15 12,2
posição ao estresse, a dimensão Apoio Social funciona como um Não 108 87,8
modificador de efeito do estresse no trabalho(12). Nota: *Não há regulamentação do conselho de classe regional do estado sobre a carga horária
máxima semanal; **Salário mínimo vigente no período da coleta de dados.

Análise dos resultados e estatística


A amostra foi analisada considerando as três dimensões pro-
Os dados foram processados no software IBM® SPSS®, versão 21. postas pela escala utilizada: demanda, controle e apoio social.
As estatísticas descritivas foram calculadas através da utilização Para a análise estatística bivariada, a mediana do escore total
de medidas resumo de posição (média e mediana) e de varia- de cada dimensão foi utilizada como ponte de corte para sua
bilidade (amplitudes). A análise bivariada também foi utilizada dicotomização. Valores inferiores à mediana foram alocados
através das medidas de associação com tabelas de contingên- nos grupos de baixa demanda, controle ou apoio social. Valores
cia (risco relativo, razão de chances e respectivos intervalos de iguais ou superiores à mediana foram alocados nos grupos de
confiança), além da aplicação do teste Qui-quadrado de Pearson alta demanda, controle ou apoio social.
para grupos independentes para preditores demográficos e De acordo com a dicotomização das dimensões da JSS, os
ocupacionais dicotômicos. Para identificar a associação entre as profissionais foram alocados em quatro quadrantes conforme

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Estresse ocupacional em profissionais de enfermagem de um hospital universitário
Santana LC, Ferreira LA, Santana LPM.

preconizado pelo modelo. Assim, foi observada a seguinte Apesar de não ter apresentado significância estatística, o
distribuição: 30,6% na situação de alta exigência; 28,2% na de profissional com outro vínculo trabalhista apresentou 2,24 mais
baixa exigência; 21,8% de trabalho ativo; e 19,4% na situação chances de exposição ao estresse ocupacional comparado ao
de trabalho passivo. profissional com vínculo único. O profissional do turno noturno
Na Tabela 2, é possível observar que, apesar de sem signi- apresentou 1,56 mais chances de exposição ao estresse ocupa-
ficância estatística, a prevalência de exposição ao estresse na cional comparado ao profissional do turno diurno.
amostra estudada foi maior nos profissionais do bloco cirúrgico A Tabela 4 apresenta o modelo final de regressão logística
(88,9%), seguido pelas enfermarias (79,1%), pronto socorro binomial para as variáveis associadas com a exposição ao es-
(72,2%), central de material esterilizado (62,5%) e CTI - Centro tresse ocupacional. As variáveis descritas nesse processo foram
de Terapia Intensiva (55,6%). selecionadas com base nas utilizadas em literatura específica
A influência das variáveis sociodemográficas e profissionais à do tema(8,15-18).
exposição ao estresse está descrita na tabela 3. Conforme os dados No modelo final de regressão logística, os fatores associados
analisados, apresentar baixo apoio social e não trabalhar em CTI com a exposição ao estresse ocupacional em profissionais de
foram considerados fatores de exposição ao estresse estatisticamente enfermagem foram o setor de atuação (p=0,01) e o apoio social
significativos (p=0,01). Além disso, o estresse foi mais presente em (p=0,01).
homens, pessoas sem companheiros, com filhos, profissionais que
exerciam cargo de nível superior, de regime trabalhista estatutário, Tabela 4 – Modelo final de regressão logística binomial para as variáveis de
indivíduos que possuíam outro vínculo empregatício, do turno exposição ao estresse ocupacional (n=119), Uberaba, Minas Gerais, Brasil, 2018
noturno e com carga horária maior que 36 horas semanais, mas
Variáveis RCP* (IC) Valor de p*
estas variáveis não apresentaram significância estatística.
Sexo Masculino
1,50 (0,40 – 5,66) 0,55
Tabela 2 – Exposição ao estresse de acordo com o setor de atuação (n=123), Feminino
Uberaba, Minas Gerais, Brasil, 2018 Escolaridade do cargo Superior
1,89 (0,55 – 6,47) 0,31
Médio
Exposição ao estresse Outro vínculo Sim
valor 2,24 (0,49 – 10,31) 0,30
Sim Não Não
de p
n % n % Turno de trabalho Noturno
1,56 (0,63 – 3,87) 0,34
Diurno
Setor de atuação
Enfermarias 34 79,1 9 20.9 Setor de atuação Demais setores
3,91 (1,49 – 10,25) 0,01
CTI 20 55,6 16 44,4 CTI
0,07
Bloco Cirúrgico 16 88,9 2 11,1 Apoio Social Baixo
Pronto Socorro 13 72,2 5 27,8 3,60 (1,34 – 9,68) 0,01
Alto
Central de Material Esterilizado 5 62,5 3 37,5
Nota: RCP*: Razão de chances ajustada ou Odds ratio ajustado; IC: Intervalo de confiança de
Nota: p: Nível de significância (p<0,05). 95%; p*: nível de significância ajustado às demais variáveis (p<0,05).

Tabela 3 – Influência das variáveis sociodemográficas e profissionais na exposição ao estresse (N=124), Uberaba, Minas Gerais, Brasil, 2018

Exposição ao estresse
Sim Não RP (IC) RCP (IC) Valor de p
n % n %

Sexo Masculino 11 73,3 4 26,7


1,02 (0,74 – 1,42) 1,09 (0,32 – 3,69) 0,89
Feminino 78 71,6 31 28,4
Companheiro Não 42 72,4 16 27,6
1,02 (0,81 – 1,27) 1,06 (0,48 – 2,32) 0,88
Sim 47 71,2 19 28,8
Filhos Sim 66 73,3 24 26,7
1,10 (0,84 – 1,44) 1,37 (0,58 – 3,25) 0,47
Não 22 66,7 11 33,3
Escolaridade do cargo Superior 20 83,3 4 16,7
1,21 (0,97 – 1,51) 2,25 (0,71 – 7,12) 0,16
Médio 69 69,0 31 31,0
Regime de trabalho Regime Juríd. Único 29 80,6 7 19,4
1,18 (0,95 – 1,46) 1,93 (0,76 – 4,95) 0,16
Celetista 60 68,2 28 31,8
Outro vínculo Sim 12 80,0 3 20,0
1,14 (0,86 – 1,51) 1,68 (0,45 – 6,37) 0,44
Não 76 70,4 32 29,6
Turno de trabalho Noturno 45 73,8 16 26,2
1,06 (0,85 – 1,32) 1,21 (0,55 – 2,66) 0,63
Diurno 44 69,8 19 30,2
Carga horária semanal Mais de 36 horas 26 76,5 8 23,5
1,10 (0,87 – 1,38) 1,41 (0,57 – 3,52) 0,45
Até 36 horas 62 69,7 27 30,3
Setor de atuação Demais setores 68 78,2 19 21,8
1,41 (1,03 – 1,92) 2,86 (1,25 – 6,57) 0,01
CTI 20 55,6 16 44,4
Apoio Social Baixo 40 85,1 7 14,9
1,37 (1,10 – 1,70) 3,48 (1,37 – 8,82) 0,01
Alto 46 62,2 28 37,8

Nota: RP: Razão de prevalências; RCP: Razão de chances ou Odds ratio; IC: Intervalo de confiança de 95%; p: Nível de significância (p<0,05).

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Estresse ocupacional em profissionais de enfermagem de um hospital universitário
Santana LC, Ferreira LA, Santana LPM.

DISCUSSÃO no trabalho, a cooperação entre os membros da equipe, o res-


peito profissional e o apoio psicológico podem ser elementos
No presente estudo, a amostra foi representada majoritaria- de proteção contra o adoecimento(25).
mente por pessoas do sexo feminino (87,9%), dado corroborado Deve-se levar em consideração que, nesta investigação, 60%
por vários estudos que demonstram que a equipe de enfermagem dos profissionais atuantes no CTI relataram perceber alto apoio
brasileira é, estrutural e historicamente, feminina(15,19-21). social e 55,6% afirmaram ter alto controle do trabalho a ser rea-
Em relação à idade, 60,7% dos profissionais têm menos de 40 lizado. Tais fatores podem ser considerados como protetores à
anos, o que caracteriza a presença da força de trabalho jovem exposição ao estresse, de acordo com o modelo teórico utilizado
na equipe de enfermagem da instituição. Tais dados podem ser no estudo.
reforçados através da pesquisa Perfil da Enfermagem Brasileira, Em estudo realizado no sul do Brasil, a estrutura física inade-
onde foi identificado que 61,7% dos profissionais de enfermagem quada e a falta de recursos materiais foram identificadas como
estão na faixa etária de até 40 anos(21). fatores estressantes, principalmente em setores fechados, como
A equipe de enfermagem representada no estudo foi cons- bloco cirúrgico e CTI. Outro aspecto mencionado como estressor
tituída por 80,6% de auxiliares e técnicos de enfermagem, e foi a função gerencial do enfermeiro que, além das atividades
19,4% de enfermeiros, o que está em linha com dados obtidos técnicas inerentes à profissão, possui funções burocráticas, como
em outros estudos(19-21). responsabilidade sobre a equipe técnica, organização funcional
A proporção de enfermeiros/ auxiliares e técnicos de enfer- da unidade, elaboração de escalas de trabalho, férias e planilhas
magem pode ser explicada pelo fato dos enfermeiros serem para organização do setor(26).
responsáveis pela coordenação da equipe de enfermagem, e Em relação à alta taxa de estresse ocupacional identificada em
exercerem, prioritariamente, a função assistencial de pacientes profissionais dos demais setores do hospital, deve-se considerar
graves(19). que na instituição em questão, o dimensionamento de pessoal
Em um inquérito nacional realizado para caracterização da está aquém do esperado e tem sido observado um alto índice
formação da equipe de enfermagem, foi observado que 80,0% dos de absenteísmo na equipe de enfermagem, o que favorece a
enfermeiros brasileiros fizeram algum curso de pós-graduação e sobrecarga de trabalho e a exposição ao estresse.
34,3% dos auxiliares e técnicos de enfermagem eram graduados(22). Conforme o modelo final de regressão logística, os profissio-
Taxas superiores foram encontradas no presente estudo, em que nais que recebem menor apoio dos chefes e colegas de trabalho,
95,8% dos enfermeiros e 68,0% dos profissionais de nível médio apresentam 3,60 mais chances de exposição ao estresse em
possuíam nível de escolaridade acima do exigido para o cargo. comparação com os que apresentam alto apoio social.
Neste levantamento, 71,8% dos profissionais de enfermagem Tal dado pode ser corroborado por achados de um estudo
da instituição apresentaram algum grau de exposição ao estresse realizado em hospitais públicos no sul do Brasil, no qual foi ob-
e 30,6% dos profissionais estavam na situação de alta exigência servado que quanto maior a percepção do apoio social recebido,
no trabalho. Este valor está acima dos observados em estudos menor o relato de trabalho desgastante(9).
semelhantes(15,17,23). Ainda no que diz respeito ao apoio social, são descritos diver-
Em uma investigação realizada num hospital universitário da sos mecanismos pelos quais o apoio social no ambiente laboral
cidade do Rio de Janeiro, foi identificado que 56,5% da equipe de pode impactar na saúde e no desenvolvimento de estresse no
enfermagem apresentava algum nível de estresse(11). Em estudo trabalhador. O apoio social atua como moderador da tensão e
realizado em hospital universitário do sul do Brasil, 27,4% dos pode diminuir a sua potência ou aumentar as estratégias de
profissionais apresentaram estresse ocupacional(23). Em outro enfrentamento(16).
inquérito realizado na região nordeste do país, foi observado Assim, a presença do apoio social no ambiente de trabalho
que 22,0% dos profissionais de enfermagem estavam expostos ameniza as cargas negativas do estresse ocupacional e pode
ao estresse(19). contribuir para que o trabalhador estabeleça mecanismos de
A partir do modelo final de regressão logística, foi possível resiliência eficientes perante dificuldades comuns do cotidiano
identificar que o setor de atuação e o apoio social influenciam de trabalho.
na exposição ao estresse ocupacional, pois foram encontrados O fato dos profissionais do turno noturno e com dois vín-
resultados de associação estatisticamente significativos (p=0,01). culos empregatícios apresentarem mais chances de exposição
Os profissionais atuantes no CTI da instituição apresentaram ao estresse ocupacional pode ser sustentado por um estudo
3,91 menos chances de exposição ao estresse ocupacional em realizado na região de Ohio-EUA. Neste estudo, foi demonstrado
comparação com os profissionais que trabalham nos demais que o trabalho em turnos e longas jornadas aumentam o risco de
setores do hospital. desempenho reduzido no trabalho, obesidade, estresse, lesões e
Este achado diverge dos dados encontrados na literatura, uma ampla gama de doenças relacionadas com comportamentos
que defendem uma maior exposição ao estresse ocupacional de saúde ruins(27).
nos centros de terapia intensiva(11,24).
Estudos anteriores que investigaram fatores de estresse ocu- Limitações do estudo
pacional em trabalhadores de CTI sugerem que o desgaste físico
e emocional provocado pelas atividades laborais, o número redu- Algumas limitações devem ser consideradas na generalização
zido de recursos humanos e a falta de apoio emocional podem dos resultados desta pesquisa. A alta prevalência do estresse
desencadear esse quadro. Relatam ainda que o reconhecimento ocupacional na amostra estudada e a baixa adesão da população

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Estresse ocupacional em profissionais de enfermagem de um hospital universitário
Santana LC, Ferreira LA, Santana LPM.

em participar do estudo dificultaram a análise estatística, o que Aprofundar nos estudos relacionados a esta temática também
pode ter prejudicado maiores associações de causa e efeito do é importante pela natureza dos serviços prestados pelos profissio-
fenômeno estudado. nais de enfermagem, uma vez que a qualidade e eficácia do seu
trabalho pode impactar de forma decisiva na saúde dos pacientes.
Contribuições para a área da saúde
CONCLUSÕES
Realizar estudos na área do estresse ocupacional em profissionais
de enfermagem é primordial para a manutenção e promoção da O estresse ocupacional em profissionais de enfermagem deve
saúde do trabalhador. Esta é uma problemática atual e relevante, ser considerado como fator predisponente a diversos agravos à
pois os profissionais de enfermagem estão continuamente expos- saúde, o que aumenta o índice de absenteísmo nas instituições
tos a situações de pressão, sobrecarga de trabalho e condições e de insatisfação profissional.
de trabalho precárias. Além disso, foi identificada uma lacuna de Os dados obtidos neste estudo apontam para a necessidade
conhecimento científico sobre essa temática entre os profissionais de implementar medidas institucionais de prevenção do estresse
de enfermagem de hospitais universitários. ocupacional, sobretudo para fortalecer o apoio social no trabalho.
Sugere-se a condução de investigações futuras para identifi- Diante do contexto, esta investigação poderá fornecer subsí-
car os possíveis motivos dos profissionais do CTI da instituição dios para os programas institucionais de prevenção do estresse
apresentarem menores índices de exposição ao estresse em ocupacional, a fim de promover a satisfação, o bem-estar e a
relação aos demais setores. qualidade de vida no trabalho

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