Invalidade dos Contratos Administrativos

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

EXTENSÃO DE MAPUTO

EDUARDA PATRÍCIA MEQUE

VALIDADE E INVALIDADE DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Maputo, Dezembro de 2023


Índice
Introdução..................................................................................................................................4

1. Validade e invalidade dos contratos administrativos..........................................................5

2. Invalidade do contrato administrativo................................................................................7

2.1 Invalidade em si do contrato administrativo....................................................................8

O contencioso dos contratos administrativos (Validade e Invalidade no âmbito do contencioso


administrativo)...........................................................................................................................8

1. O tribunal competente........................................................................................................9

2. Nulidade e Anulação........................................................................................................10

2.1. A declaração de nulidade...............................................................................................10

2.2. A anulação.....................................................................................................................10

O CONTROLO DA LEGALIDADE DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS


CELEBRADOS PELOS ÓRGÃOS E SERVIÇOS DAS AUTARQUIAS LOCAIS COMO
VALIDADE DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS.....................................................10

1. O controlo da legalidade interna...................................................................................11

2. O controlo da legalidade externa...................................................................................11

A TUTELA INTEGRATIVA..................................................................................................12

O regime da tutela integrativa a posteriori..............................................................................12

A tramitação processual...........................................................................................................13

Os efeitos da aprovação/ratificação......................................................................................14

Os recursos...........................................................................................................................14

As sanções aplicáveis no caso de celebração de um contrato ilícito....................................15

A nulidade do contrato.........................................................................................................15

Referência bibliográfica...........................................................................................................17

2
I. Introdução

No âmbito do direito administrativo, vislumbra-se o poder administrativo, que tem poder


de praticar actos administrativos, regulamentos e celebração de contratos administrativos. Os
contratos administrativos, pressupõe a constituição duma relação jurídica administrativa, entre os
órgãos que gozam de poder de ius impere e os particulares, celebração tal, necessita de respeito
por determinados procedimentos e princípios, sob pena de nulidade ou anulabilidade do contrato,
que são invalidades.

Assim sendo, propõe-se a discussão da temática relativa à validade e invalidade dos


contratos administrativos. Debruçaremos em três primas, nomeadamente: validade e invalidade
dos contratos administrativos (a invalidade é causada pelo próprio vicio do próprio contrato,
contratos celebrados com ofensa a princípios e normas injuntivas anuláveis); o contencioso do
contrato administrativo (o poder dos tribunais em declarar a invalidade dos contratos
administrativos) e o poder de tutela das entidades do Estado sobre as autarquias como modelo de
validade dos contratos celebrados por esses. Sendo certo que, consideradas fruto da
descentralização e em virtude disto a consequente autonomia, mas não independência, nesse
sentido todos actos praticados pelas autarquias locais com vista a prossecução dos interesses
colectivos serão controladas ou fiscalizadas, tuteladas pelo Estado mediante o órgão da
administração pública por excelência sob égide de um dos seus ministérios nos termos da lei. Isto
quer dizer que o Estado goza dum poder de tutela sobre as autarquias locais e não de
superintendência com sucede com a desconcentração de poderes para outras pessoas colectivas
públicas.

Nesse sentido, o cerne do nosso estudo específico será a tutela sobre os actos
administrativos e contratos celebrados pelos órgãos e serviços autárquicos, isso faz crer que a
fiscalização vai recair sobre a autonomia financeira, os orçamentos aprovados pelas autarquias
locais careceram de uma fiscalização obrigatória do poder central, o estado controlador dos actos
jurídicos perpetuado pelas autarquias como também dos contratos que são efectuadas por esses.
As autarquias nesse sentido encontram se numa posição de respeito as regras de direito.

3
1. Validade e invalidade dos contratos administrativos

A formação dos contratos administrativos, não difere fundamentalmente dos que não são
administrativos. Nesta matéria, "a distinção entre as duas categorias de contratos é por sí
própria sem consequência"1.
Como todos os contratos, o contrato administrativo é produto de uma troca de
consentimentos, do encontro de duas vontades. Neste aspecto, o contrato administrativo não tem
verdadeiras particularidades ou originalidades.
Mas a vontade administrativa exprime-se através de procedimentos específicos e, neste sentido,
não é tão autónoma como a de uma pessoa privada. Com efeito, a liberdade contratual que
permite as partes "de fixar livremente, o conteúdo dos contratos" (número 1 do Artigo 405.º do
Código Civil), é parcialmente afastada do regime jurídico dos contratos administrativos. Este
particularismo inscreve-se no âmbito mais geral dos princípios gerais do Direito Administrativo:
primazia do interesse geral e exigências do serviço público.
Assim, quando a Administração Pública contrata, ela não perde todas as suas
prerrogativas2. Isto não significa que todos princípios gerais que governam os contratos não são
aplicáveis em matéria de contratos administrativos; isto significa simplesmente que eles são
parcialmente aplicáveis.
Do ponto de vista metodológico, pode-se diferenciar dois métodos para estudar as regras
de formação dos contratos administrativos.
A validade dos contratos administrativos, estão sujeitas ao respeito aos princípios gerais a
observar, nomeadamente: principio da legalidade, razoabilidade, finalidade, proporcionalidade,
publicidade, boa fé, boa gestão financeira, celeridade, imparcialidade, e prossecução do interesse
publico, nos termos do decreto 15/2010, de 24 de Maio3.
a) Legalidade, consiste no dever dos órgãos da administração publica, tem de respeitar, no
âmbito da contratação publica, o bloco da legalidade. Isto é, só o órgão competente pode
abrir o procedimento contratual, e nos termos e limites traçados para a formação de cada

1
. De LAUBADÈRE, F. MODERNE, P. DELVOLVÉ, Traité des contrats administratifs, Tome 1, 2e Ed., Paris,
LGDJ 1983; Tome 2, 2e Ed., Paris, LGDJ 1984; L. RICHER, Droit des contrats administratifs, p. 113 e seguintes
2
M. ROUGEVIN-BAVILLE, R. DENOIX de SAINT MARC, D. LABETOULLE, p. 202.
3
MACIE, Alberto. Lições de direito administrativo, Vol III, Maputo Moçambique, p.p 263.

4
tipo contratual. Por fim, a lei tem preferência sobre qualquer outro procedimento
contratual que com ela conflitua;
b) Transparência, impõe a necessidade de publicação previa, da intenção de contratar da
administração, dos procedimentos contratuais, dos critérios da avaliação, e da escolha do
contraente privado, das condições gerais e especificas aplicáveis, bem como fundamentar
todas as decisões que forem tomadas no âmbito da contratação;
c) Igualdade, quer significar que os procedimentos contratuais, os critérios da avaliação e as
condições exigidas, para o acesso e de participação devem ser iguais para todos os
concorrentes. Não se admite aqui, qualquer tipo de discriminação entre os participantes;
d) A concorrência impõe, a obrigatoriedade de a administração publica, relativamente ao
processo contratual, manter o seu arquivo aberto, permitindo a consulta e acessos pelos
participantes de todos os procedimentos contratuais. Os requisitos mínimos exigidos
devem ser iguais para todos os concorrentes, o que facilitará a comparação das propostas
contratuais no momento da selecção. A proposta vencedora, deverá ser aquela que melhor
se apresenta e preenche os requisitos contratuais;
e) A imparcialidade, significa que os órgãos administrativos intervenientes na contratação
devem agir de forma isenta e equidistante, evitando prejudicar os interessados em
contrapartida de favoritismos para os outros. Portanto, as regras de conflitos de interesses
são aqui chamadas para evitar discriminações baseadas em critérios estranhos aos
exigidos pelo caderno de encargos. São aplicáveis as regras de garantias de
imparcialidade, nomeadamente, as escusas, suspeições e impedimentos;
f) A proporcionalidade indica no sentido de que a administração deve escolhes os
procedimentos contratuais mais adequados ao tipo contratual e ao interesse publico
concreto a prosseguir, devendo-se praticar ou realizar actos ou diligenciais estritamente
necessários para o fim desejado, ponderando-se entre os benefícios a alcançar pela
escolha de um procedimento em prejuízo do outro e os custos a realizar por essa escolha;
g) A estabilidade, impõe a necessidade de manter, desde a abertura do concurso até a
adjudicação, as regras contratuais publicadas que vão reger a contratação, sem prejuízo
de correção de erros materiais ou omissões, procedimentos que deve ser de conhecimento
de todo os concorrentes.

5
2. Invalidade do contrato administrativo

Segundo ALBANO MACIE4, as invalidades derivadas, são aquelas que resultam do vicio
dos procedimentos de formação dos contratos administrativos, note-se que a formação dos
contratos administrativos é substancialmente constituída por actos administrativos sobrepostos.
Dai a razão de no 1 do art. 182 da LPA, conformar que os contratos administrativos são nulos ou
anuláveis quando forem nulos ou anuláveis os actos administrativos determinantes da sua
celebração.

Assim, o nosso entendimento sobre o respeito na integridade dos princípios na formação


do contrato administrativo, pressupõe a validade dos contratos administrativos.

Como escreve FEITAS DO AMARAL, a propósito destas normas no regime português,


comparativamente aplicáveis cá, entre nós, subsistem, portanto, quer o princípio da invalidade
consequencial, quer o princípio da identidade entre o desvalor jurídico do contrato e o desvalor
jurídico dos actos de que haja despendido a sua celebração. Porem, a comunicação do desvalor
do acto procedimental ao contrato não é automática: só são suscetíveis de revelar as invalidades
procedimentais judicialmente, reconhecidas, não basta a declaração administrativa de nulidade
ou a revogação do acto com fundamento na sua invalidade5.

Se os actos procedimentais anuláveis forem impugnados judicialmente, dentro do prazo e


pelos interessados, o acto será anulável, e consequentemente, o contrato será anulável.

Olha-se por exemplo, o vício de forma que consiste na preterição das formalidades
essenciais ou na carência de forma legal. Todo o acto administrativo esta sujeito a algumas
formalidades: ele deve ser considerado, após um procedimento, em determinadas formas. O
princípio nesta matéria é simples: a omissão de uma forma obrigatória invalida acto. A omissão
de uma forma não obrigatória ou facultativa não tem efeito sobre a validade do acto 6.

E, o vicio de procedimento, determina que o acto será ilegal se não forem respeitadas
todas as formalidades prescritas por lei, quer em relação ao procedimento administrativo que

4
Macie, Albano, p.p 279.
5
Macie, Albano, p.p 279, APUD Amaral, Freitas do amaral, Diogo, curso de direito, ob cit, II, p. 611.
6
Para efeitos de falta de requisitos para a constituição do acto administrativo, que nestes termos carecem de um
desvalor jurídico que é a anulabilidade.

6
preparou o acto, quer relativamente a prática do acto em se mesma. A falta de consulta uma vez
exigida por lei dá para a validação do acto administrativo induz a anulação da decisão.

Contudo, por força da aplicação do princípio da proteção da confiança e de boa-fé, casos


há em que os efeitos anulatórios dos actos se repercutem no próprio contrato. É isso que acontece
quando, ponderados ou interesses públicos e privados em presença e a gravidade de ofensa
gerada pelo vicio do acto procedimental em causa, a anulação do contrato se revele
desproporcionada ou contraria a boa-fé; ou quando se demostre inequivocamente que o vicio não
implicaria uma modificação subjetiva no contrato celerado, nem uma alteração do seu conteúdo
essencial7.

2.1 Invalidade em si do contrato administrativo8

As invalidades próprias do contrato derivam da preterição dos contratos pressupostos


impostos para a celebração do contrato, designadamente a legitimidade das partes, o objecto do
contrato, a adequação, a modalidade contratual, a forma e outros requisitos impostos por lei.

O artigo 182/3 da LPA, estipula o regime da invalidade do contrato administrativo em si,


nos seguintes termos:

a) Quanto aos contratos administrativos com objecto passível de acto administrativo, o


regime de invalidade do acto administrativo;
b) Quando aos contratos administrativos com objecto passível de contrato de direito
privado, o regime de invalidade do negócio jurídico previsto no código civil;

São aplicáveis ainda, a todos os contratos administrativos as normas do código civil,


relativas a falta e vicio de vontade.

O CONTENCIOSO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS (VALIDADE E


INVALIDADE NO ÂMBITO DO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO)

7
Macie, Albano, p.p 279, apud Figueiredo Dias, José Eduardo e Oliveira, Fernanda Paula, noções de direito
administrativo, ob cit, p.310.
8
Macie, Albano, p.p 279 e 280.

7
1. O tribunal competente

O juiz de direito comum do contrato administrativo, é o Tribunal Administrativo. E o


número 3 do artigo 11, da lei 07/2015, de 6 de outubro 9, dispõe de forma concreta a competência
do tribunal administrativo, para conhecer da validade e invalidade do contrato administrativo,
que é o fundamento da competência do juiz administrativo. O juíz do contrato intervém como
juíz de plena jurisdição ou de pleno contencioso, isto é que é competente para conhecer todas as
questões de facto e de direito relativas os contratos: validade, execução, rescisão, interpretação,
acção em responsabilidade.
A lei n º 7/2014/ de 28 de Fevereiro: menciona só na sua disposição relativa a natureza e
objecto do recurso contencioso (artigo 32) o de mera legalidade. Com efeito, o artigo 32 é
redigida da maneira seguinte: "Os recursos contenciosos são de mera legalidade e têm por
objecto a declaração de anulabilidade, nulidade e inexistência jurídica dos actos recorridos,
exceptuada qualquer disposição em contrário". No seu princípio no recurso de mera legalidade
"o tribunal limita-se a declarar a invalidade do acto impugnado, declarando-o nulo ou
anulando-o, consoante a espécie de invalidade que se verifica, sem tirar quaisquer
consequências da sua decisão, sendo à Administração que compete praticar, depois, os actos
que forem necessários para a reintegração da legalidade violada"10.
Assim na confrontação da definição do recurso de mera legalidade e do conteúdo do,
pode-se deduzir que o juiz do contrato intervém não como juiz de mera legalidade, mas como
juiz de plena jurisdição. O juiz de plena jurisdição pode conhecer da acção em responsabilidade,
o que não pode fazer o juíz de mera legalidade. O juiz de mera legalidade poderá intervir no
quadro do ponto 3 do artigo 10 relativos o recurso de actos administrativos destacáveis relativos
a formação e execução dos contratos administrativos. Num raciocínio a contrário pode-se
deduzir que se o legislador moçambicano se opôs ao princípio do recurso de mera legalidade
contra os actos destacáveis. Nestas condições, a questão não é de saber se a acção em
responsabilidade existe mas de saber porque o legislador não menciono formalmente a existência
do recurso de plena jurisdição que existe de facto11.

9
Lei 07/2015, de 6 de outubro, definição do contrato administrativo a luz da lei do contencioso administrativo.
10
F. BRANDÃO FERREIRA PINTO e G. FREDERICO DIAS PEREIRA DA FONSECA, Direito processual
administrativo contencioso, 2º Edição, Elcla Editora, 1992, p. 29.
11
RIVERO J., Direito Administrativo, Livraria Almedina, Coimbra, 1981, n.º 33 e seguintes;

8
Em princípio, o acesso o juiz do contrato é aberto unicamente as partes ao contrato
podem escolher outras modalidades de regulamento dos litígios.

2. Nulidade e Anulação

2.1. A declaração de nulidade

A sanção da ilegalidade de uma cláusula contratual é, em princípio a nulidade. O juíz do


contrato de uma petição de recurso de plena jurisdição não pode pronunciar a anulação de um
contrato, mas somente "declarar a nulidade" deste contrato. Só as partes ao contrato pode
impugnar este recurso12.

2.2. A anulação

O recurso de mera legalidade é aberto contra os actos distáveis: actos que conduz a
conclusão do contrato (deliberação autorizando a outorga do contrato. Neste caso, o recorrente
pode ser terceiro ao contrato).

O CONTROLO DA LEGALIDADE DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS


CELEBRADOS PELOS ÓRGÃOS E SERVIÇOS DAS AUTARQUIAS LOCAIS COMO
VALIDADE DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS13

Para exercitar a tutela administrativa de legalidade no que diz respeito aos contratos
celebrados pelos órgãos e serviços das autarquias locais os órgãos com poderes tutelares deverão
apreciar, por um lado, os elementos constitutivos da legalidade externa e, por outro, os
constitutivos da sua legalidade interna. Todavia, é preciso realçar que para permitir que a
entidade tutelar exerça plenamente o seu controlo, ela não deve limitar a sua actividade de
controlo apenas ao contrato em si próprio, mas o exame deve abranger também todos os
documentos necessários ao exercício deste controlo, isto é, a deliberação da Assembleia

12
Ibdem
13
CISTAC, Gilles. Manual de direito das autarquias locais, p. 412

9
Municipal ou de Povoação, se for o caso, assim como todos os documentos anexos necessários a
apreciação da legalidade do contrato objecto do controlo.

1. O controlo da legalidade interna

Para efectivar o controlo da legalidade externa dos contratos, a autoridade com poderes
tutelares examinara a competência do signatário do contrato e a regularidade do procedimento de
celebração ou de adjudicação do contrato. Assim, a título exemplificativo, nos termos das alíneas
m), n) e r), do número 2 do Artigo 62.º da Lei n.º 2/97, de 18 de Fevereiro, ao Presidente do
Conselho Municipal compete ainda: [... ] outorgar contratos necessários ao funcionamento dos
serviços; efectuar contratos de seguro [...] outorgar contratos necessários a execução das obras
referidas na alínea anterior14 .

Nalguns casos, será necessário verificar se o signatário do contrato foi previamente


autorizado pela Assembleia autárquica a celebrá-lo. Assim, a título exemplificativo, nos termos
da alínea n) do número 3 do Artigo 45 da Lei n.º 2/97, de 18 de Fevereiro, compete a Assembleia
Municipal, sob proposta ou a pedido de autorização do Conselho Municipal: [...] m) autorizar o
Conselho Municipal a outorgar a exploração de obras e serviços em regime de concessão, nos
termos e prazos previstos na lei.

2. O controlo da legalidade externa

Para concretizar o controlo de legalidade interna dos contratos, verificar-se-á o respeito


das regras de direito aplicáveis aos diversos contratos e a ausência de desvio de poder. Neste
sentido, a entidade com poderes tutelares devera verificar se o contrato esta conforme ao
interesse local e não celebrado num outro interesse. Tal seria o caso se o contrato tiver sido
celebrado unicamente com o objectivo de subvencionar uma empresa. E também preciso
verificar se o signatário do contrato não tem nenhum interesse pessoal na operação em causa.

14
Cfr. Art. 62.º/2 da lei 2/97, de 18 de fevereiro

10
3. A TUTELA INTEGRATIVA

A Lei n.º 7/97, de 31 de Maio, consagra a figura da tutela integrativa em relação a uma
determinada categoria de actos praticados pelas autarquias locais. O estudo desta espécie de
tutela administrativa impõe, em primeiro lugar, que nos interroguemos sobre próprio conceito,
antes de apresentar o seu regime jurídico15.

A tutela integrativa é aquela que consiste no poder de autorizar ou aprovar os actos da


entidade tutelada. Distingue-se em tutela integrativa a priori, que é aquela que consiste em
autorizar a prática de actos e tutela integrativa posteriori, que é a que consiste no poder de
aprovar actos da entidade tutelada. (Quando se diz poder de autorizar e poder de aprovar,
obviamente está implícito que o poder é de autorizar ou não autorizar, bem como de aprovar ou
não aprovar)16.

O Legislador moçambicano optou por uma tutela integrativa a posteriori. Assim, este tipo
de tutela integrativa obriga o órgão competente da autarquia local a submeter-se a uma aprovação
prévia da autoridade de tutela para que a sua deliberação ou seu acto tenha força executória. Com
efeito, o número 2 do Artigo 6.º da Lei n.º 7/97, de 31 de Maio, precisa que carecem de
ratificação do órgão tutelar os actos administrativos que tenham por objectivo a aprovação de um
determinado número de actos autárquicos taxativamente enumerados apesar de o mesmo
disposto precisar que esta categoria abrange os actos administrativos dos órgãos autárquicos
expressamente indicados na lei.

3.1 O regime da tutela integrativa a posteriori

Apresentaremos sucessivamente os actos sujeitos a ratificação, o processo e os efeitos


dessa e os recursos.

15
CISTAC p.p 429 e 430, noção de tutela administrativa e a usada em moçambique
16
AMARAL, Diego Freitas, Curso de Direito Administrativo, Vol. 1, p.p 703

11
O Artigo 6.º da Lei n.º 7/97, de 31 de Maio, que estabelece as bases: O principio de
identificação dos actos dos órgãos das autarquias locais que ficam dependentes da ratificação do
órgão da tutela administrativa

O princípio fundamental é que carecem de ratificação apenas os actos expressamente


indicados na lei. A seguir este princípio, o número 2 do Artigo acima referido estabelece de uma
forma exemplificativa alguns dentre eles.

Trata-se principalmente dos actos dos órgãos autárquicos que tinham por objectivo:

a) Aprovar o plano de desenvolvimento da autarquia local;

b) Aprovar o orçamento; c) aprovar o plano de ordenamento do território;

d) Aprovar o quadro do pessoal;

e) Aprovar a contracção de empréstimos de amortização plurianual.

O processo e os efeitos da aprovação/ratificação

Depois da análise da tramitação processual, tomaremos em conta os efeitos produzidos pela


ratificação.

3.2 A tramitação processual

Para efeito de ratificação tutelar, o Presidente do órgão autárquico deve remeter a


entidade tutelar, uma certidão ou copia autenticada do acto sujeito a tutela. Por exemplo, em
matéria de ratificação dos orçamentos autárquicos, para efeitos de ratificação tutelar, o Presidente
do Município deve remeter ao Ministério do Plano e Finanças (a atenção da Direcção Nacional
do Plano e Orçamento). Tomando em conta o facto de que a tutela de aprovação/ratificação é
mais estrita que a tutela de legalidade stricto sensu, o exercício deste controlo tutelar deve ser
enquadrado nos limites previamente estabelecidos porque, para garantir um controlo verdadeiro,
as decisões sujeitas devem ser sistematicamente submetidas ao órgão tutelar para aprovação.
Assim, a Lei n.º 7/97, de 31 de Maio, prevê que a ratificação tutelar só pode ser recusada com

12
fundamento em ilegalidade do acto sujeito a tutela ou na sua desconformidade com os planos
programas a que a autarquia esteja vinculada, nos termos da lei.

A verificação do cumprimento da legalidade, regime de direito comum da tutela


administrativa, acrescenta-se uma outra fonte ou norma de controlo, constituída pelos planos e
programas a que a autarquia esteja vinculada. A existência dos pianos e programas mencionados
no presente dispositivo legislativo está estritamente vinculada aos mecanismos de articulação e
cooperação entre as autarquias locais por um lado, e as estruturas locais das organizações sociais
e da administração directa e indirecta do Estado, por outro. Nesta perspectiva, esses instrumentos
normativos visarão concretamente coordenar os projectos e programas e articular as acções e
actividades com a finalidade de realizar uma harmoniosa concretização das respectivas
atribuições.

3.3 Os efeitos da aprovação/ratificação

Os actos sujeitos as apreciações dos órgãos de tutela necessitam de uma aprovação


ratificação da sua parte. Isto significa que os actos sujeitos as aprovações existem, de facto, mas
não podem ser executados e produzir efeitos de direito. Com efeito, os actos administrativos não
ratificados são inexequíveis, os actos são, a priori, definitivos. Por outras palavras, o acto é
juridicamente válido e perfeito e compromete as partes no caso de uma relação jurídica bilateral,
mas ele não é executória. A sua "executoriedade" depende da aprovação do órgão de tutela.

Do ponto de vista da técnica jurídica, a aprovação pelo órgão de tutela é uma condição
de eficácia do acto sujeito a aprovação como estabelece o número 1 do Artigo 6.º da Lei n.º 7/97,
de 31 de Maio e o artigo 16.º da Lei n.º 11/97, de 31 de Maio, a eficácia de certos actos
administrativos dos órgãos locais fica dependente da ratificação do órgão da tutela
administrativa. Os efeitos da aprovação retroagem a data da ratificação do acto sujeito a
ratificação.

3.4 Os recursos

13
Da ratificação tutela ou da sua recusa, cabe reclamação ou recurso contencioso com
fundamento em ilegalidade, nos termos gerais da lei. Assim, se a entidade tutelar exercer um
poder de tutela em termos que prejudiquem a autarquia local tutelada, esta tem o direito de
impugnar esses actos junto do Tribunal Administrativo.

3.5 As sanções aplicáveis no caso de celebração de um contrato ilícito

No caso de violação de regras relativas ao procedimento de formação e ao conteúdo do


contrato, é o juíz administrativo que é competente para conhecer dos vícios alegados17.
A Lei n. 07/2015, de 6 de outubro; dispõe que: "Compete à Secção do Contencioso
Administrativo conhecer: (...) as acções relativas a contratos administrativos e ainda quanto a
responsabilidade das partes pelo seu incumprimento".

O controlo da legalidade que pode se exercer sobre o contrato administrativo pode revestir duas
formas. Pode se exercer sobre o contrato ele próprio ou sobre um acto administrativo destacável
do contrato.

3.6 A nulidade do contrato

A sanção da ilegalidade de uma clausula contractual não implica automaticamente a


nulidade do contrato. Pode acontecer que a clausula ilícita seja apenas declarada inaplicável. Mas
a nulidade mante-se a sanção mais corrente. A acção em nulidade deve se distinguir do recurso
em anulação18.
No quadro da acção em nulidade os poderes do juiz são particularmente largos; é o
quadro do recurso de plena jurisdição. O juiz pode responsabilizar à A.P e indemnizar o
contraente e pode pronunciar a rescisão do contrato. Mera legalidade acto destacável, pôr em
vista à anulação de um acto administrativo19.
II. Conclusão

É de se concluir, que os contratos administrativos, podem carecer de vícios, que acabam


dar lugar invalidade. A obediência aos princípios da legalidade e transparência, podem
17
Jacqueline MORAND-DEVILLER, Cours de droit administratif, op. cit., p. 361.
18
Ibdem
19
Ibdem

14
consubstanciar em validade dos contratos administrativos, vê-se ainda dos anúncios para
contratação publica, sendo uma das fases da feitura e validação do contrato administrativo,
visando a publicar e trazer ao conhecimento das pessoas interessadas as indicações para que se
saiba da intenção de contratar, fixa o prazo durante o qual serão aceites propostas e em cujo
decurso os interessados poderão examinar, no local e às horas designadas, o programa do
concurso, o caderno de encargos, quando o haja e não tenha sido publicado conjuntamente, e o
projecto, se for disso.

Entende-se também, que a tutela do Estado sobre autarquia local, corresponde igualmente
a um procedimento para validade dos contratos administrativos, que sejam celebrados por esses,
que na voz de Diego Freitas do Amaral, a tutela administrativa consiste no conjunto dos poderes
de intervenção de uma pessoa colectiva pública na gestão de outra pessoa colectiva, a fim de
assegurar a legalidade ou a mérito da sua actuação.

Tiramos as seguintes ilações nesse âmbito de controlo ou fiscalização do Estado sobre a


autarquia ou seja do poder central sobre o poder local, que o poder local goza de autonomia mas
não duma independência, o Estado no acto fiscalizador tem a sua disposição dependendo da
matéria seja ela os actos administrativos ou contrato a administrativos meios inúmeros para
executar ou efectivar o processo de tutela, isto quer dizer que a tutela é verificada no âmbito do
próprio objecto como ao conteúdo deste isso para maior protecção da lei, evitando uma violação
das normas hierarquicamente superior tendo em conta que o poder regulamentar das autarquias
deve respeitar as normas constitucionais, os princípios gerais de direito e os demais diplomas
superiores.

Conclui-se também que no âmbito da tutela integrativa que se destaca por duas facetas o
ordenamento jurídico moçambicanos nos termos da lei 7/97, de 31 de Maio, como demais
diplomas adopta a segunda faceta, que se refere logicamente a aprovação e ratificação como já
adverte vários autores como é efectuado ou onde é efectuado a tutela integrativa, dos autores
destacar o Gilles Cistac, Alfredo Chambule que compartilha da mesma ideia daquele no que
concerne onde recai a essa tutela.

III. Referência bibliográfica

15
1. AMARAL, Diego Freitas, Curso de Direito Administrativo, Vol. 1, Coimbra, Almedina,
2006;
2. CISTAC, Gilles. Manual de direito das autarquias locais, Maputo Moçambique, Livraria
universitária, 2001;

3. CAETANO M., Manual de Direito Administrativo, Tomo I, 10.ª Ed. Livraria Almedina,
Coimbra, 1997 e Tomo II (1994);
4. CHAMBULE, Alfredo, A organização administrativa de Moçambique, Maputo
Moçambique, O autor, 2000.C;
5. CHAPUS R., Droit administratif général, Paris, Montchrestien E.J.A., Tomo 1/7ª ed.
1993; ROUSSET M., Droit administratif, I — L'action administrative, Grenoble, PUG,
1994; DELVOLVÉ P., Le droit administratif, ed. Dalloz, Paris, 1994; EISENMANN C.,
Cours de droit administratif, Tomo 2, Les actes de l'Administration (1949-1950), Paris,
LGDJ 1983.
6. EHRHARDT R., Direito Administrativo, Coimbra 1978;
7. MACIE, Alberto. Lições de direito administrativo, Vol III, Maputo Moçambique;
8. RIVERO J., Direito Administrativo, Livraria Almedina, Coimbra, 1981.

Legislação
Lei n.º7/97, de 31 de Maio;

Lei n.º2/97, de 18 de Fevereiro;

Lei n.º11/97, de 31 de Maio;

Lei n. 07/2015, de 6 de outubro;

Lei n:º 7/2014/ de 28 de Fevereiro.

16

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