Carta de Ouro Preto
Carta de Ouro Preto
Carta de Ouro Preto
mais diversas possibilidades; representantes de órgãos públicos com atribuições voltadas à eleição
e gestão dos bens culturais; agentes da estrutura executiva, judiciária e legislativa brasileira;
pesquisadores; especialistas; conselheiros; detentores de saberes tradicionais; e sociedade civil
organizada: atuantes na pesquisa, difusão e valorização do patrimônio cultural, reunidos em Ouro
Preto, nos dias 4 e 5 de abril de 2023, para o Seminário Nacional de Direito do Patrimônio
Cultural.
Considerando que o direito ao patrimônio cultural tem natureza de direito humano, nos termos da
Declaração Universal dos Direitos Humanos e de direito fundamental, nos termos da Constituição
da República de 1988;
Considerando que a presente Carta busca o aperfeiçoamento da legislação brasileira de patrimônio
cultural, com a garantia de manutenção de todas as conquistas históricas havidas com a legislação
pátria já existente;
Considerando que a proteção e salvaguarda de bens culturais deve se voltar sempre para a
diversidade das expressões culturais, valorizando a pluralidade étnica e regional, com especial
atenção às manifestações culturais historicamente vulneráveis em nosso país e que em razão do
princípio participativo, deve ser assegurada a legitimidade dos atos, processos e normas voltadas
à proteção e salvaguarda do patrimônio cultural, seja por consulta direta à população ou à entidade
ou órgão com representatividade da sociedade civil;
II. Leitura sistêmica, com utilização, entre outras técnicas, da Teoria do Diálogo das Fontes e da
interpretação conforme o texto constitucional;
IV. Preponderância do direito ao patrimônio cultural, por sua natureza difusa, imprescritível e
intergeracional;
TÍTULO I
DIRETRIZES DE ABRANGÊNCIA E PRINCIPIOLÓGICAS
DIRETRIZ 01. Ser aberta às mais variadas tipologias patrimoniais possíveis e que contemplem,
em caráter exemplificativo, o patrimônio imaterial (em suas vertentes de saberes, lugares,
celebrações e ofícios), o patrimônio vivo, histórico, artístico, arqueológico, natural, museológico,
urbanístico, arquivístico, paleontológico, agroalimentar, bibliográfico, ferroviário, subaquático,
espeleológico, religioso, literário, arquitetônico, geopatrimônio, industrial, a nominação de
espaços públicos, paisagístico, etnográfico, entre outros.
DIRETRIZ 04. Ter atenção ao regime jurídico aplicável à propriedade que seja suporte de um
patrimônio cultural, reafirmando o dever de preservar e salvaguardar o seu valor cultural.
TÍTULO II
DIRETRIZES INSTRUMENTAIS
DIRETRIZ 11. Estabelecer parâmetros de proteção, salvaguarda e acesso dos bens culturais que
possuem o registro de "indicação geográfica".
DIRETRIZ 13. Normatizar a assistência técnica pública e gratuita para a população de baixa
renda para a elaboração de projetos, construção, reforma, ampliação e regularização fundiária de
bens de relevante valor cultural.
DIRETRIZ 14. Reconhecer que o formalismo não pode ser um obstáculo para o amplo acesso
às políticas públicas de proteção, valorização e salvaguarda do patrimônio cultural, especialmente
de indivíduos, grupos e comunidades hipossuficientes.
DIRETRIZ 16. Aperfeiçoar as diretrizes para a definição do entorno do bem protegido, bem
como os direitos e as obrigações envolvidas para os titulares de direitos reais de imóveis incluídos
no respectivo perímetro de entorno.
DIRETRIZ 17. Definir que o tombamento (em sua acepção estrita) e o registro são atos
administrativos de competência exclusiva do Poder Executivo, salvo exceção constitucional
expressa, e que devem ser precedidos de manifestação conclusiva do respectivo Conselho de
Patrimônio, sem prejuízo que o reconhecimento do valor cultural do bem possa ocorrer em outras
instâncias.
TÍTULO III
DIRETRIZES GARANTÍSTICAS
DIRETRIZ 20. Exigir a elaboração e execução de relatórios técnicos que atestem a segurança e
a integridade dos bens culturais sujeitos à proteção, a ser custeado pelo particular ou pelo poder
público, conforme a finalidade de uso e a capacidade econômica do seu proprietário (ou titular de
direito real).
DIRETRIZ 21. Estabelecer parâmetros para inclusão, nas grades curriculares do ensino formal,
de conteúdos transversais voltados para a "educação patrimonial", com enfoque nos bens culturais
materiais e imateriais regionais e locais.
DIRETRIZ 22. Observar o direito à acessibilidade para as pessoas com deficiência ao patrimônio
cultural.
TÍTULO IV
DIRETRIZES ORGÂNICAS
DIRETRIZ 25. Garantir autonomia administrativa e financeira com indicação de orçamento a
ser destinado aos órgãos e entidades federais, estaduais, distritais e municipais dedicadas ao
Patrimônio Cultural.
DIRETRIZ 26. Definir que as decisões dos Conselhos de Patrimônio em nível federal, estadual,
distrital ou municipal têm caráter deliberativo e que sua composição seja paritária, representativa
da diversidade étnica, cultural e territorial.
TÍTULO V
DIRETRIZES SANCIONATÓRIAS E COMPENSATÓRIAS
DIRETRIZ 27. Definir uma estrutura sancionatória própria para a reparação do dano ao
patrimônio cultural.
DIRETRIZ 29. Destacar as particularidades das dimensões dos danos em detrimento dos bens
culturais, enfatizando a necessidade da reparação integral, compreendendo, entres outros, os
danos materiais (reversíveis e irreversíveis), o moral coletivo, os interinos, o social, além do dano
existencial, entre outros.
DIRETRIZ 30. Reforçar a prioridade das tutelas de urgência e de evidência para as situações de
ameaça ou danos ao patrimônio cultural, com ênfase nos aspectos inibitórios e de remoção do
ilícito;
DIRETRIZ 33. Revisar o atual sistema criminal, por meio de elaboração de novos tipos penais
que possam oferecer proteção própria em relação aos bens móveis, como nas hipóteses de furto,
roubo, falsificação, receptação, estelionato, contrabando, descaminho, além de aprimorar a tutela
para os bens imóveis e os danos ao patrimônio imaterial. Igualmente, deve ser ressignificada a
proteção e salvaguarda do bem jurídico patrimônio cultural, revisando os atuais patamares de
sanção de modo a não incidir na violação da proibição de insuficiência.
Tendo em vista que a construção dessa Carta decorreu de um processo coletivo e plural e que as
conclusões aqui havidas não se esgotam neste documento, nós, atores elencados no preâmbulo,
entendemos ser preciso a sua permanente melhoria e ampliação. É vontade de todos a realizaçã o
do 2º Seminário Nacional de Direito do Patrimônio Cultural, com o objetivo de dar continuidade
aos estudos, discussões e aperfeiçoamentos em relação à temática.