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Sumário
Vista geral
Prenomes ou nomes próprios
Tomada de sobrenomes até meados do século 19
Sobrenomes entre meados do século 19 e o século 20
Bilateralidade dos sobrenomes
Povo e fidalguia
Sobrenomes das mulheres
Doze tipos de sobrenome na tradição brasileira
Conclusão
Referências bibliográficas
10 Dos nomes completos e sobrenomes na cultura luso-brasileira
Vista geral
Mesmo que não houvesse regras legais ou rígidas sobre a tomada de so-
brenome, isso se fazia, até o século 19, pela apresentação do sobrenome achado
mais importante, pelo titular, logo em seguida ao seu nome próprio ou prenome.
Esse sobrenome era usualmente o paterno ou vindo do pai, mas podia ser qual-
quer um ou mais dentre os usados por pai ou mãe, ou vindo de um ou mais dos
quatro avós. Ou, ainda, de uma alcunha ou nome de devoção religiosa cristã.
Havia sobrenomes compostos tanto como simples. Esse padrão é o de toda a
Península Ibérica.
Um exemplo do padrão de primeiro o sobrenome do pai e em seguida o
da mãe é o de José Bonifácio de Andrada e Silva, que teve por pai Bonifácio
José Ribeiro de Andrada e por mãe Maria Bárbara da Silva. A casa imperial
brasileira é chamada de Orleans e Bragança, uma vez que Bragança é denomina-
ção do lado feminino, ou seja, da princesa Isabel. De rigor, a casa imperial brasi-
leira chama-se de Orléans-Bragança e não mais de Bragança. Para todos os efei-
tos a Casa de Bragança é chefiada por D. Duarte Pio, o atual duque de Bragança.
Como reforço, lembro que Pedro I do Brasil, quando referido com seu sobreno-
me de casa se dizia “de Bragança e Borbón”. Borbón por conta de sua mãe D.
Carlota Joaquina. A norma de, primeiro, o sobrenome ou a referência à casa do
pai é comum no meio da realeza e da nobreza.
No século 16 e até os meados do século 19, os filhos adultos assumiam
os sobrenomes que queriam. De costume, mas não sempre, seguindo-se os cos-
tumes da nobreza, o homem mais velho adotava o sobrenome do pai e o fazia
seguir do da mãe ou não. O segundo filho poderia homenagear o avô materno e
adotar o sobrenome que esse tivesse usado ou usasse. Os terceiros e quartos
faziam como entendessem.
Revista da ASBRAP nº 20 13
Lourenço dos Passos Rego Castelo Branco – “Lourenço dos Passos” pa-
rece tomado por gosto, segue-se a parte principal do sobrenome do pai e em
seguida o sobrenome Castelo Branco da mãe.
Rosendo Lopes do Rego Castelo Branco – toma um Lopes que não sei
de quem e cria um novo composto, em repetição ao que fizera seu irmão Lou-
renço: Rego Castelo Branco.
João do Rego Castelo Branco – repete o novo sobrenome composto, Re-
go Castelo Branco, em provável imitação de seus irmãos mais velhos.
madrinha. Do mesmo modo, o que se segue Teresa do Lago é uma adoção do seu
gosto. Descarta os sobrenomes de pai e de mãe, ainda que seja a primogênita.
Antônio Carvalho de Almeida – toma o nome completo do pai (nota: eu
descendo desse Antônio, patrilinearmente e sem desvios).
Miguel Carvalho de Almeida e Silva – assume o sobrenome do pai mas
adiciona, ao final o Silva, que, como sabemos, é o sobrenome ilustre de sua tri-
savó Maria da Silva, mãe de Francisco da Cunha Castelo Branco.
Antônio de Carvalho Castelo Branco – adota, primeiro, parte central do
sobrenome composto do pai e o faz seguir do Castelo Branco da mãe.
nome no Crisma), passa, desde o final de 1939, a ser feito no seu interesse pelo
pai, mãe ou outro declarante. O que era assunto privado, passou a ser do Estado,
por lei federal. Registre-se que o Estado apenas obrigou que todos já tivessem
um nome completo desde logo, no nascimento, e não que se tomassem necessa-
riamente os sobrenomes dos genitores.
1
Essa tese é de Monteiro (2011:151-157).
Revista da ASBRAP nº 20 17
Povo e fidalguia
2
Conforme estudo de Monteiro (2011: 151-157).
18 Dos nomes completos e sobrenomes na cultura luso-brasileira
3
Dados em Macedo Soares (1947).
Revista da ASBRAP nº 20 19
Até meados do século 19 não era a regra, seja qual fosse a classe social
da pessoa, no Brasil e em Portugal, a mulher assumir o sobrenome do seu mari-
do. Isso só se deu por influência francesa e inglesa, como já tratado, e se tornou
comum por um tempo, mas não é mais tão assim desde o final do século 20.
Curioso, não é?
No século 21, no Brasil, ficou claro que a mulher pode ou não assumir o
sobrenome do seu cônjuge. Do mesmo modo, no Brasil, o varão pode, se o qui-
ser,tomar o sobrenome de sua esposa. Isso é algo raro, todavia possível. Essas
novidades são resultados da afirmação da mulher no mercado de trabalho e nos
postos políticos, fazendo com que possam a ser verdadeiras chefes de família.
Não mais simples anexos dos maridos, quando assumem seu sobrenome.
Por direta influência cultural anglo-francesa, no período entre os meados
do século 19 e final do século 20, a mulher casada passa a acrescentar o sobre-
nome do marido ao seu sobrenome. Essa assunção do sobrenome do marido
torna-se obrigatória com o artigo 240 do Código Civil de 1916:
rões e fidalgos. Isso ocorrerá sempre que se confundirem uma referência familiar
com uma base patrimonial ou territorial onde certas pessoas tenham origem.
Observo que os nobres, em exata imitação dos reis e rainhas, também formam
dinastias. Isto é, também têm regras para indicar quem seja o duque ou o barão
“reinante” e quem deva ser seu sucessor.
Penso que a referência a uma casa, nesse sentido de “domus” romano
combinado com uma base geográfica, um feudo ou semelhante, com um patri-
mônio comum a ser gerido por um chefe indicado por regras dinásticas, é o pri-
meiro tipo de sobrenome. Temos por esse entendimento, o sobrenome “de Bra-
gança”, como o de alguém que se pode ou se quer remeter à casa de Bragança.
Ou ainda “de Almeida”, quando se tem os descendentes dos titulares do senhorio
de Almeida, ou seja, da casa de Almeida, que deu em diversas casas condais em
Portugal. Curiosamente, os sobrenomes “da Silva” e “de Sousa”, que parecem
tão vulgares, têm berço em casas muito antigas. A razão de haver muitos milhões
de Silva e Sousa, no mundo luso-brasileiro está em que, como nomes de grande
prestígio, na fundação do reino de Portugal, passaram a ser preferidos por nobres
e pobres por muitos séculos. Quem tiver dúvida que consulte qualquer nobiliar-
quia portuguesa. Lá verá como há Silvas e Sousa do maior reconhecimento.
Com a assunção de títulos nobiliárquicos maiores, os “de Almeida”, por
exemplo, passam a se chamar, a remeterem às suas novas “casas” a “de Vimio-
so”, a “de Avintes”, a “de Assumar” etc. Isto é, o antigo “de Almeida” passa a
ser sobrenome propriamente dito, e o novo nome de casa é “de Vimioso”
etc.Nessa altura, as pessoas são identificadas de um modo ou de outro, ou pelos
dois, conforme com quem estejam ou em que situação social. Com relação a
Portugal essa prática ocorre do século 16 ao 20, ou até mesmo hoje em dia.
Esse modo é por origem geográfica, sem que o titular faça parte de uma-
casa, ou seja, tenha implicação de parentesco com uma dinastia senhorial ou
conste como da linhagem principal.
Começo por dizer que há uma zona cinzenta entre os sobrenomes de ca-
sa e sobrenomes de origem geográfica. Por vezes, pessoas menos ligadas a uma
casa se fazem conhecer ou são referidas como sendo membros dela. Por exem-
plo, um parente, homem ou mulher, de um ramo principal de uma família ou
casa, se diz ser dela, quando ninguém da mesma o reconheceria como um dos
seus. Mas o sobrenome, mesmo assim pode fixar-se. Outro exemplo, alguém
ligado por relação de dependência ou clientela a uma casa, se faz chamar ou é
chamado pelo sobrenome que remete à mesma. E assim, com ou sem o “de”,
22 Dos nomes completos e sobrenomes na cultura luso-brasileira
o prenome de suas mães como sobrenome, como: Maria da Ana. Esse costume
se via nas áreas rurais remotas.
Existia também a flexão do sobrenome vindo do pai, só que na forma
feminina, como Catarina Brandoa (Brandão), ou Maria Carvalha (Carvalho), ou
Francisca Coutinha (Coutinho).
Observo que existem milhões de pessoas com o mesmo patronímico que
nada têm a ver uma com outra no seu passado genealógico. Do mesmo modo
isso ocorre com os sobrenomes de origem geográfica. O mesmo sobrenome não
indica, por si, um parentesco.
Por fim, há o uso de sobrenomes duplos que vão sendo assumidos a con-
tar da iniciativa de um alguém em ser conhecido por uma combinação de sobre-
nomes. Os filhos e netos, no todo ou em parte seguem seu exemplo. Podem-se
citar muitos casos, como Pires Ferreira, Moreira Salles etc. Essa prática tem se
tornado muito comum, uma vez que o nosso estoque português de sobrenomes é
muito restrito.
26 Dos nomes completos e sobrenomes na cultura luso-brasileira
Por vezes, tais sobrenomes duplos são juntados por hífen. Isso se dá para
se garantir que seja lido como devendo ser dito em conjunto.
Conclusão
Referências bibliográficas