Gabriela Boaventura

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - CCS


GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA

GABRIELA BOAVENTURA FORTUNATO

AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS CULTURAS E DO PERFIL DE


SENSIBILIDADE PARA MYCOPLASMA HOMINIS E UREAPLASMA SPP.
REALIZADAS PELO SETOR DE MICROBIOLOGIA/HU/EBSERH-UFSC NO
PERÍODO DE 2013 A 2018

Florianópolis, SC
2019
GABRIELA BOAVENTURA FORTUNATO

AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS CULTURAS E DO PERFIL DE


SENSIBILIDADE PARA MYCOPLASMA HOMINIS E UREAPLASMA SPP.
REALIZADAS PELO SETOR DE MICROBIOLOGIA/HU/EBSERH-UFSC NO
PERÍODO DE 2013 A 2018

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação


em Farmácia da Universidade Federal de Santa
Catarina, como requisito obrigatório para a
conclusão da disciplina para obtenção do grau de
Bacharelado.

Orientadora: Prof.ª Dra. Maria Luiza Bazzo


Co-orientadora: Dr.ª Mara Cristina Scheffer

Florianópolis, SC
2019
RESUMO

Introdução: O termo Mollicutes é utilizado para designar uma classe de bactérias


sem parede celular rígida, contida em uma membrana celular trilaminar. Somente dois
gêneros tem relevância clínica: Mycoplasma e Ureaplasma, esses podendo ser
isolados do trato genital de muitos adultos saudáveis, assim, sendo patógenos
oportunistas associados a doenças do trato urogenital. Por não possuírem parede
celular, esses microrganismos são intrinsecamente resistentes aos betalactâmicos e
demais antimicrobianos de ação em parede celular. Por esse motivo, é fundamental
a realização do antibiograma para esses microrganismos isolados de amostras
clínicas. Objetivo: Análise retrospectiva da frequência e compreensão do perfil de
resistência de Mycoplasma hominis e Ureaplasma spp. de pacientes atendidos no
Setor de Microbiologia/HU/EBSERH-UFSC, no período de seis anos (2013 - 2018).
Métodologia: As culturas foram realizadas utilizando o kit Mycoplasma IST 2 para
detecção, quantificação e teste de sensibilidade antimicrobiana (TSA) de Mycoplasma
hominis e Ureaplasma urealyticum/parvum, em 815 amostras, 797 do gênero feminino
e 18 do masculino. A quantificação indica se as amostras apresentam contagem igual
ou superior ao valor de corte de 104 UFC/amostra e a partir destas são analisados os
TSAs. Resultados: Um total de 436 (53,5%) apresentaram crescimento
independente da contagem, para micoplasmas genitais. A frequência de infecção nas
amostras por Ureaplasma spp. e M. hominis foi de 39,5% (322/815) e 2,8% (23/815),
respectivamente. A coinfecção por ambos mostrou-se presente em sete amostras. As
amostras positivas foram prevalentes no gênero feminino 41,2% (336), sendo 0,2 (2)
do masculino e em pacientes com idade igual ou inferior a 30 anos (29,8%). No
período de seis anos, observou-se uma alta taxa de resistência ao ciprofloxacino e
uma alta sensibilidade foi vista para a tetraciclina, em ambas as bacterias. A partir do
isolados estudados pode-se compreender a associação ou não das variáveis como
idade, gênero, origem da amostra e coinfecção, juntamente com o perfil de resistência
destas bactérias.

Palavras-chave: Frequência. Micoplasmas. Mycoplasma hominis. Ureaplasma spp.


Resistência bacteriana.
ABSTRACT

Introduction: The term Mollicutes is used to designate a class of bacteria without a


rigid cell wall, contained in a trilaminar cell membrane. Only two genera have clinical
relevance: Mycoplasma and Ureaplasma, which can be isolated from the genital tract
of many healthy adults, thus being opportunistic pathogens associated with diseases
of the urogenital tract. Because they do not have a cell wall, these microorganisms are
intrinsically resistant to beta-lactams and other antimicrobial agents acting on cell
walls. For this reason, it is essential to perform the antibiogram for these
microorganisms isolated from clinical samples. Objective: Retrospective analysis of
the frequency and comprehension of the resistance profile of Mycoplasma hominis
and Ureaplasma spp. of patients seen in the Microbiology Sector / HU / EBSERH-
UFSC, in the six year period (2013 - 2018). Methods: The cultures were carried out
using the Mycoplasma IST 2 kit for the detection, quantification and antimicrobial
susceptibility test (TSA) of Mycoplasma hominis and Ureaplasma urealyticum /
parvum, in 815 samples, 797 females and 18 males. The quantification indicates if the
samples have a count equal to or greater than the cutoff value of 104 CFU / sample
and from these the TSAs are analyzed. Results: A total of 436 (53.5%) presented
independent growth of the count for genital mycoplasmas. The frequency of infection
in the samples by Ureaplasma spp. and M. hominis was 39.5% (322/815) and 2.8%
(23/815), respectively. Coinfection by both was present in seven samples. The positive
samples were prevalent in the female gender, 41.2% (336), 0.2 (2) of the male, and in
patients aged 30 years or less (29.8%). In the six-year period, a high rate of resistance
to ciprofloxacin was observed and a high sensitivity was seen for tetracycline in both
bacteria. From the isolates studied one can understand the association or not of
variables such as age, gender, sample origin and coinfection, together with the
resistance profile of these bacteria.

Keywords: Frequency. Micoplasmas. Mycoplasma hominis. Ureaplasma spp.


Bacterial resistance.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO………............................................……………………………….….4
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA…………………………………………………………...5
2.1 MOLLICUTES………………………………………………………………………….5
2.1.1 Ureaplasma spp.…………………………………………………………………....5
2.1.2 Mycoplasma hominis……………………………………………………………...6
2.1.3 Mycoplasma genitalium…………………………………………………………..6
2.2 EPIDEMIOLOGIA……………….……………………………………………………..6
2.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS………………….…………………………………....7
2.4 DIAGNÓSTICO………………….……………………………………………………..8
2.5 TRATAMENTO………………….……………………………………………………...9
3 OBJETIVOS..........................................................................................................10
3.1 OBJETIVOS GERAIS.…………………………………………………………….....10
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS….…………………………………….………...........10
4 JUSTIFICATIVA....................................................................................................11
5 METODOLOGIA………………..............................................................................12
5.1 LEVANTAMENTO DAS INFORMAÇÕES………………………………………….12
5.2 PADRONIZAÇÃO DA PCR……………………………………………………….....12
6 RESULTADOS.....................................................................................................13
7 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO…………………………………………………....14
8 REFERÊNCIAS ...................................................................................................15
5

1 INTRODUÇÃO

O termo Mollicutes é originário de mollis (macio) e cútis (pele), e é utilizado


para designar uma classe de bactérias sem parede celular rígida, contida em uma
membrana celular trilaminar (JORGENSEN et al., 2015). Somente dois gêneros tem
relevância clínica: Mycoplasma (“forma de fungos”) e Ureaplasma.
Em humanos, micoplasmas e ureaplamas são associados à mucosa, como
colonizantes do trato respiratório ou urogenital, raramente penetrando na submucosa,
exceto em casos de imunossupressão ou instrumentação. Podem ser isolados M.
hominis e Ureaplasma spp. do trato genital de muitos adultos saudáveis, mas existem
evidências de que esses microrganismos desempenham papéis etiológicos em
algumas doenças do trato urogenital. Essas espécies têm sido associadas
principalmente a infecções do trato urinário e uretrite, em homens, e em mulheres, à
doença inflamatória pélvica (DIP), cervicite, vaginose bacteriana e complicações na
gestação podendo levar ao aborto (JORGENSEN et al., 2015).
Quando isolados em qualquer quantidade, de sítios anatômicos estéreis, esses
microrganismos são significativamente associados à doença. No entanto, por estarem
presentes no trato urogenital de indivíduos saudáveis, a pesquisa desses
microrganismos deve ser feita de forma quantitativa em uretra e secreção
endocervical/vaginal (JORGENSEN et al., 2015). Quando M. honinis é isolado de trato
genital feminino em quantidade superior a 10⁴ organismos, são geralmente
associados a vaginose bacteriana. Espécies de Ureaplasma isoladas em quantidade
superior a 10⁴ em uretra masculina são frequentemente associadas a uretrite podendo
estar relacionadas a infecções altas do trato urinário, e em amostras genitais
femininas de gestantes podem levar a corioamnionite, abortos, prematuridade e baixo
peso ao nascer. Por não possuírem parede celular, esses microrganismos são
intrinsecamente resistentes aos betalactâmicos e demais antimicrobianos de ação em
parede celular. Resistência aos macrolideos como a eritromicina, é intrínseca de M.
hominis. Fluoroquinolonas são normalmente ativas nessas espécies, no entanto,
mutações nos genes da DNA girase e/ou topoisomerase têm sido descritas (DANDO
et al., 2012; JORGENSEN et al., 2015). Por esse motivo, é fundamental a realização
do antibiograma para esses microrganismos isolados de amostras clínicas.
6

O presente trabalho é uma avaliação temporal retrospectiva do banco de dados


de culturas para M. hominis e U. urealyticum/parvum do laboratório de microbiologia
do HU/UFSC/EBSERH. O estudo propôs a verificar os laudos das culturas realizadas
nos últimos seis anos, de 2013 a 2018, para avaliar a positividade e quantificação dos
microrganismos isolados, associando com o espécime clínico, bem como com o perfil
de sensibilidade ao longo do período.
7

2 JUSTIFICATIVA

Existem muitas preocupações e controvérsias sobre o tratamento dos


Mollicutes associados ao trato geniturinário, gerando dúvidas se realmente deve-se,
ou não, tratar algumas espécies. Tendo em vista que, na maioria das vezes, estas
são comensais e, com o tratamento, vem ocorrendo resistência aos antimicrobianos
utilizados. O tratamento desnecessário pode gerar possível multirresistência de
algumas espécies. Atualmente isolados MDR de Mycoplasma genitalium vêm
preocupando a comunidade científica.
No Brasil, não há muitos estudos relacionados ao tema, sendo de muita
relevância o conhecimento do perfil de resistência e frequência destes
microrganismos em nossa população, visando novos rumos para tratamento e
controle dessas bactérias. A análise sistemática da evolução da resistência aos
antimicrobianos em laboratórios de rotina é fonte importante de informação da
dinâmica das infecções nas comunidades.
8

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 MOLLICUTES

Mollicutes é uma classe de bactérias caracterizada pela ausência de parede


celular, estão contidos em uma membrana celular trilaminar, por esse motivo não
coram pelo método de Gram e apresentam morfologia pleomórfica. Apresentam-se
com tamanho celular e genoma reduzidos, são eubactérias que evoluíram de células
gram-positivas clostridium-like, por deleção de genes. Com isso, esses
microrganismos perderam a maioria de suas atividades biossintéticas, necessitando
de hospedeiros para aquisição de nutrientes (WAITES; TALKINGTON, 2004). Essas
bactérias são pequenos parasitas procariotos e estão entre os microrganismos auto
replicantes com os menores genomas já conhecidos (HALBEDEL; HAMES; STULKE,
2007).
São capazes de infectar plantas, animais e humanos. Atualmente são descritas
118 espécies de Mycoplasmas, sendo 18 isoladas em humanos, e sete de
Ureaplasmas, sendo duas isoladas em humanos. As espécies de maior importância
clínica são M. pneumoniae, M. genitalium, M. hominis, U. ureatylicum e U. parvum
(BROOKS, Geo. F. et al, 2014). Neste trabalho serão abordadas somente as espécies
pesquisadas associadas a infecções do trato urogenital, pesquisadas no Hospital
Universitário/ UFSC/ EBSERH.

3.1.1 Ureaplasma spp.

O gênero Ureaplasma possui apenas duas espécies de importância clínica em


humanos, U. urealyticum e U. parvum diferenciadas somente por métodos
moleculares (OPLUSTIL, 2010; PARALANOV, LU et al., 2012). São bactérias
cocoides, medindo entre 0,2 e 0,3 µm de diâmetro, formam colônias pequenas (13 a
15 µm), geralmente visualizadas por microscopia, com morfologia semelhante a
ouriço do mar (Figura 1 e 2). Possuem a enzima urease, que hidrolisa a ureia,
produzindo amônia, que leva a produção de ATP, necessária para as reações
metabólicas celulares (OPLUSTIL, 2010).
9

Figura 1 – Ureaplasma spp.

Fonte: adaptado de Capoccia et al. (2013, p. 42 - Fig.1A)

Figura 2 – Colônia de Ureaplasma spp.

Fonte: adaptado de Nenoff (2017, p.55)

3.1.2 Mycoplasma hominis

Assim como as demais espécies de Mycoplasma, M. hominis tem seu


metabolismo e geração de energia proveniente da hidrólise da arginina, sendo essa,
essencial para seu crescimento tanto in vitro com in vivo (OPLUSTIL, 2010). São
bacilos em formato cônico, medindo entre 1 a 2 µm de comprimento. Crescem melhor
na presença de CO2 e as colônias bacterianas se assemelham a ovos fritos (Figura 3
e 4). Metaboliza a arginina, produzindo amônia, que leva a produção de ATP,
necessária para as reações metabólicas celulares (BLANCHARD e BROWING, 2005;
OPLUSTIL, 2010).
10

Figura 3 – Mycoplasma hominis

Fonte: adaptado de Capoccia et al. (2013, p. 42 - Fig.1A)

Figura 4 – Mycoplasma hominis

Fonte: adaptado de Nenoff (2017, p. 55)

3.2 EPIDEMIOLOGIA

Espécies de Micoplasmas e Ureaplasmas que acometem o trato urogenital são


transmitidos por contato genital ou oral-genital, passados de mucosa para mucosa e
podem ser adquiridos sozinhos ou em associação com outros patógenos sexualmente
transmissiveis.
Na população mundial, são encontrados em mulheres e homens, de forma
assintomática e sintomática, sendo considerados comensais e patógenos
oportunistas, podendo desencadear quadros clínicos diversos (WAITES, K., C.
11

BÉBÉAR, et al., 2011). Estudos de prevalência mostram variação de acordo com a


idade, sexo e práticas sexuais do paciente, alguns estudos encontraram maior
prevalência em indivíduos de raça negra (TAYLOR-ROBINSON E JENSEN, 2011;
BAUMANN 2018). Não existem vacinas, a melhor forma de prevenção são as práticas
sexuais seguras.

3.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Mollicutes que acometem o trato geniturinário são considerados agentes de


Infecção Sexualmente Transmissível (IST), apesar de se apresentam de forma
comensal principalmente em mulheres, podem contribuir para inúmeras doenças do
trato geniturinário (STRAUSS M, et. al., 2018).
Os mecanismos de patogenicidade não estão bem elucidados. Acredita-se que
por não possuírem parede celular, apresentam capacidade de ligação íntima com a
célula hospedeira, podendo causar diversas alterações celulares como estímulo ou
inibição mitótica, aberrações cromossômicas e resposta imunológica (DANDO;
NITSOS, et al, 2012). Acredita-se que o início de sua colonização e infecção é
associado a algumas proteínas de citoaderência presentes na sua superfície,
possibilitando a adesão às células (CUNHA, 2001; HOPFE, DAHLMANNS e
HENRICH, 2011).
M. hominis foi isolado pela primeira vez em 1937, a partir de cultura pura de abscesso
de glândula de Bartholin (WAITES et al., 2012, ISON et al., 2018). Não há evidências
de sua associação com uretrites não gonocócicas, mas foram associados a infecções
neonatais, e a pacientes com pielonefrite aguda (BROOKS, 2014). Não são agentes
de vaginites, mas estão entre os vários microrganismos que proliferam em pacientes
com vaginose bacteriana (KEANE, THOMAS et al., 2000). Foi isolado de mulheres
com salpingite e doença inflamatória pélvica (MIETTINEN, 1987).
Estudo sugere associação positiva entre a presença de M. hominis e vírus HIV,
decorrente da hidrólise da arginina feita por essa bactéria. A arginina está envolvida
na citotoxicidade dos macrófagos, e afeta negativamente a imunidade do paciente,
influenciando a progressão do HIV (RAZIN, 2006).
12

Espécies de Ureaplasma são comumente encontradas no trato genital de


indivíduos saudáveis, no entanto, existem evidências associando esses
microrganismos com doenças do trato geniturinário. Em homens foram associados à
uretrite não gonocócica e à epidídimo-orquite aguda (JALIL, DOBLE et al., 1988). Em
mulheres, foram associados à síndrome uretral, aborto, prematuridade,
corioamnionite e baixo peso ao nascer (Chaim et al, 2003, Waites et al., 2005). Por
serem produtores de urease, induzem a cristalização de estruvita e fosfato de cálcio
in vitro e são isolados mais frequentemente em pacientes com cálculo urinário tipo
infecção do que naqueles com cálculo tipo metabólico (Grenabo et al., 1988) U.
urealyticum parece estar associado à indução da produção de citocinas inflamatórias,
resultando processos patogênicos (TAYLOR-ROBINSON E JENSEN, 2011;
DEGUCHI T, SHIMADA Y, HORIE K et al., 2015).

3.4 DIAGNÓSTICO

A detecção laboratorial das espécies de Mycoplasma e Ureaplasma pode ser


realizada por diferentes métodos, como cultivo em meios enriquecidos, métodos
imunológicos e métodos moleculares. M. hominis e espécies de Ureaplasma crescem
bem em meios de cultura enriquecidos, sendo a cultura considerada o método de
escolha para estes microrganismos. Diferentemente de M. genitalium que, por sua
capacidade biossintética reduzida, tem um crescimento dificultado, necessitando de
métodos moleculares para sua identificação e avaliação da sua sensibilidade (RAZIN,
2006; HAMASUNA, 2007).
São microrganismos extremamente sensíveis a condições ambientais
adversas, devendo ser inoculados em meios de transporte apropriado imediatamente
após a coleta. O ideal é que as culturas quantitativas em meios líquidos, in house
com meios M42 e U9, ou comerciais, sejam seguidas de cultura em meio sólido (ágar
A7), para confirmar o crescimento de colônias características para. (OPLUSTIL,
2010). A cultura in house e em meios sólidos é bastante trabalhosa, sendo pouco
utilizada nos laboratórios de rotina. Os kits comerciais permitem realizar cultura,
quantificar e avaliar a sensibilidade aos antimicrobianos simultaneamente. Existem
diferentes kits comerciais disponíveis no Brasil, como Mycoplasma IST (Biomérieux,
13

França) e Mycofast Evolution (EliTechGroup, EUA), que possibilitam a cultura


quantitativa e diferem entre si pela composição do painel de antimicrobianos.
A cultura, tanto in house quanto por kits comerciais, é baseada nas
propriedades metabólicas específicas de cada gênero, ou seja, na capacidade de
hidrolise da arginina pelo M. hominis e de hidrólise da ureia pelo Ureaplasma
urealyticum/parvum. Os substratos (arginina e/ou uréia) quando hidrolisados pelos
microrganismos produzem amônia, promovendo aumento do pH, com consequente
mudança de cor do indicador do meio, vermelho de fenol. A alteração da cor do
amarelo para o vermelho indica presença dos microrganismos na amostra
(BLANCHARD e BROWING, 2005; OPLUSTIL, 2010).
Os métodos moleculares ou de amplificação do ácido nucleico (NAAT),
realizados por PCR (reação em cadeia da polimerase), amplificam o DNA, obtendo
inúmeras cópias de uma sequência de ácido nucleico específica do microrganismo
pesquisado. Os NAATS são considerados sensíveis e específicos para detecção
destes microrganismos. No entanto, não são recomendados para M. hominis e
espécies de Ureaplasma devido à alta prevalência de colonização em pessoas
assintomáticas, sexualmente ativas HORNER et al., 2018). Especialistas não
recomendam triagem de rotina para M. hominis e U. urealyticum/parvum em homens
e mulheres assintomáticos. Em mulheres sintomáticas, recomendam pesquisar e
tratar primeiramente vaginose bacteriana. Em homens sintomáticos, recomendam
excluir infecção por agentes tradicionais de uretrites (N. gonorrhoeae, C. trachomatis,
M. genitalium e T. vaginalis), antes de realizar testes para U. urealyticum, e tratar
somente pacientes com alta carga da bactéria (realizar cultura quantitativa). A
preocupação atual com o excesso de tratamento, baseado em diagnóstico molecular
para microrganismos presentes na microbiota genital de indivíduos saudáveis, irá
resultar em aumento da resistência aos antimicrobianos, inclusive para M. genitalium,
Neisseria gonorrhoeae e Chlamidia trachomatis (HORNER, 2018).
Assim, a diferenciação entre a colonização e a infecção, baseada na
quantidade de microrganismos na amostra, é importante para estabelecer ou não a
utilização de terapia antimicrobiana. A cultura quantitativa realizada em meio líquido,
determina o número de microrganismos presentes por cada mililitro de amostra
biológica, sendo traduzido por UAC/mL (Unidades de alteração de cor por mL).
14

3.5 TRATAMENTO

Mollicutes são naturalmente resistentes aos antimicrobianos que interferem na


síntese da parede celular, como betalactâmicos (penicilinas, cefalosporinas e
carbapenemicos), além de sulfametoxazol/trimetoprima, polimixina, rifampicina,
nitrofurantoína e vancomicina (OPLUSTIL, 2010; HORNER, 2018).
Os antimicrobianos mais utilizados no tratamento de Mollicutes são as
tetraciclinas, macrolídeos e as quinolonas. Sendo a Azitromicina, Ciprofloxacino,
Claritromicina, Doxiciclina, Eritromicina, Ofloxacino e Tetraciclina os medicamentos
mais comuns na clínica.
A sensibilidade aos macrolídeos e lincosamidas é variável conforme a espécie,
as espécies de Ureaplasma são sensíveis à eritromicina e clindamicina. M. hominis é
resistente à eritromicina. As fluoroquinolonas são os únicos que possuem ação
bactericida para micoplasmas e ureaplasmas, já os outros antimicrobianos citados
possuem ação bacteriostática (OPLUSTIL, 2010).
15

4 OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL

Avaliar o resultado das culturas para Mycoplasma hominis e Ureaplasma spp.


realizadas pelo setor de microbiologia/HU/EBSERH-UFSC, no período de 2013 a
2018.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Determinar a frequência do crescimento significativo (≥ 10⁴ UAC/mL) nas


culturas para Mycoplasma hominis e Ureaplasma urealyticum/parvum no
período do estudo;
• Correlacionar variáveis epidemiológicas como gênero e idade, bem como, ano
e origem da coleta de amostra com crescimento significativo de Mycoplasma
hominis e Ureaplasma urealyticum/parvum;
• Avaliar o perfil de sensibilidade dos antimicrobianos testados para Mycoplasma
hominis e Ureaplasma urealyticum/parvum ao longo do período estudado.
16

5 METODOLOGIA

5.1 PESQUISA EXPLORATÓRIA RETROSPECTIVA

5.2 AMOSTRAGEM

Foram analisados os resultados das culturas para Mycoplasma hominis e


Ureaplasma urealyticum/parvum, e dos testes de sensibilidade aos antimicrobianos
(TSA), realizados no setor de Microbiologia da Divisão de Análises Clínicas (DACL)
do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago, localizado na
Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC), no período de janeiro de 2013
a dezembro de 2018.
As culturas foram realizadas utilizando o kit Mycoplasma IST 2 (Biomérieux,
França), que é composto por um frasco contendo meio de transporte (R1), um frasco
contendo meio de cultura liofilizado (R2) e uma tira plástica (Figura 5) com poços para
identificação de Ureaplasma urealyticum/parvum (Uu) e Mycoplasma hominis (Mh),
quantificação bacteriana (Uu≥10⁴ e Mh ≥10⁴) e teste de sensibilidade para nove
antimicrobianos liofilizados (Doxiciclina: Dot, Josamicina: Jos, Ofloxacina: Ofl,
Eritromicina: Ery, Tetraciclina: Tet, Ciprofloxacina: Cip, Azitromicina: Azi,
Claritromicina: Cla e Pristinamicina: Pri).

Figura 5 - Teste Mycoplasma IST 2

Fonte: registrado pela autora (2019)

Amostras endocervicais e uretrais foram coletadas por swab e colocadas


imediatamente no meio de transporte do kit. No laboratório de microbiologia o frasco
com meio de transporte foi homogeneizado e todo o conteúdo foi transferido para o
frasco R2, contendo meio de cultura liofilizado. Após homogeneização, 55 µL do meio
17

de cultura foi dispensado em cada poço do kit, que foi imediatamente vedado com
vaselina líquida estéril. A cultura foi incubada a 35 ±2°C, com leitura em 24 horas e
48 horas.
A mudança de cor de amarelo para vermelho nos poços de identificação e
quantificação, indicam a presença de Ureaplasma urealyticum/parvum (Uu) e/ou
Mycoplasma hominis (Mh). O crescimento no poço ≥10⁴/Uu em até 24 horas de
incubação indica quantidade de Ureaplasma ≥10⁴ UFC/amostra (unidades
formadoras de colônia). Para Mycoplasma hominis a leitura no poço ≥10⁴/Mh deve
ser a realizada em 24 e 48 horas.
No teste de sensibilidade os antimicrobianos possuem duas concentrações,
com exceção da pristinamicina. As duas concentrações de cada fármaco permitem
caracterizar os isolados como sensíveis quando não há crescimento nas
concentrações baixa e alta (Figura 5 DOT, JOS, TET); Intermediário, quando há
crescimento na concentração baixa (Figura 5 OFL e CIP); ou resistente, quando há
crescimento nas duas concentrações do antimicrobiano (Figura 5 ERY, AZI, CLA).
No laudo do setor de microbiologia são liberados somente os antimicrobianos
Ofloxacina, Eritromicina, Tetraciclina, Ciprofloxacina, Azitromicina, Claritromicina,
pois os demais não são padronizados no HU ou não tem registro no Brasil.
A busca no sistema de administração hospitalar do HU-UFSC, no Setor de
Microbiologia, incluiu o período de 2013 a 2018. As variáveis consultadas foram:
gênero do paciente, idade, tipo de amostra, data de realização, setor requisitante,
resultado da cultura e o resultado do antibiograma, caso a cultura tivesse um
crescimento superior a 10⁴ UFC/amostra. Esses dados alimentaram uma planilha
excel para as análises posteriores. Os dados foram identificados com numeração
sequencial, sem qualquer registro da identidade do paciente.

5.3 ANÁLISE DOS DADOS

Os dados foram analisados no programa SPSS Statistics, versão 22.0. A


associação entre as variáveis nominais (gênero, idade do paciente, setor requisitante,
data de realização do teste, resultado da cultura e sensibilidade antimicrobiana) e os
desfechos (cultura positiva, coinfecção e sensibilidade antimicrobiana) de M. hominis
e U. urealizaticum/parvum foi realizada pelo teste Qui-quadrado ou Exato de Fisher.
18

Análise de Regressão Logística Binária foi utilizada para verificar a correlação entre
as varáveis nominais e os desfechos.

6 RESULTADOS

Durante o período estudado (2013 - 2018), foram realizadas 815 culturas para
M. hominis e Ureaplasma urealyticum/parvum em amostras urogenitais no setor de
microbiologia/HU/EBSERH-UFSC. Do total de amostras 97,8% (797/815) foram
provenientes de raspado cervical (feminino) e 2,2% (18/815) de raspado uretral
(masculino). A média de idade dos pacientes foi de 29 anos (14-57anos), 67,5%
(550/815) tinham idade igual ou inferior a 30 anos (≤ 30 anos) e 32,5% (265/815)
superior a 30 anos (> 30 anos).
Duas amostras masculinas (0,25%) e 434 (53,25%) femininas apresentaram
cultura positiva para os micoplasmas urogenitais (crescimento de M. hominis e
Ureaplasma urealyticum/parvum independente da contagem de UFC/amostra).
Assim, 53,5% (436/815) das amostras apresentaram algum tipo de crescimento para
um e/ou para ambas as bactérias.
O ponto de corte considerado significativo para culturas quantitativas de
amostras urogenitais, quando há indicação de tratamento, é crescimentos ≥10⁴
UFC/amostra. Em quantidades inferiores, esses microrganismos são considerados
como parte da microbiota urogenital normal.
Para Ureaplasma urealyticum/parvum, a frequência de crescimento foi de
51,3% (418/815), sendo que 77,0% (322/417) dessas amostras apresentaram
crescimento ≥10⁴ UFC/amostra e 23,0% (96/418) apresentaram crescimento < 10⁴
UFC/amostra. Dessa forma, do total de amostras analisadas, 39,5% (322/815)
apresentaram crescimento significativo de Ureaplasma urealyticum/parvum.
Para M. hominis a frequência de crescimento de foi de 8,7% (71/815), sendo
que 32,4% (23/71) dessas amostras apresentaram crescimento ≥10⁴ UFC/amostra e
67,1% (48/71) crescimento <10⁴ UFC/amostra. Assim, do total de amostras
analisadas, 2,8% (23/815) apresentaram crescimento significativo de M. hominis.
19

Em 53 amostras (6,5%), foi observado crescimento simultâneo de M. hominis


e U. urealyticum/parvum. Entre essas, sete amostras apresentaram crescimento
significativo dos dois microrganismos, sendo consideradas coinfecção (Tabela1).

Tabela 1 - Associação entre a positividade para Ureaplasma spp. e M. hominis

M. hominis M. hominis
Negativo e positivo Total
Cresc. <10⁴ (Cresc. ≥ 10⁴)
Ureaplasma spp.
Negativo e Cresc. <10⁴ 477 (96,8%) 16 (3,2%) 493 (100%)
Positivo (Cresc. ≥ 10⁴) 315 (97,8%) 7 (2,2%) 322 (100%)
Total 792 (100%) 23(100%) 815 (100%)
Fonte: elaborado pela autora (2019)

As Figuras 6 e 7 apresentam os resultados quantitativos anuais das culturas


para M. hominis e U. urealyticum/parvum, respectivamente.

Figura 6 – Frequência de crescimento de Mycoplasma hominis


96.2

93.7
92.1
89.1

87.5
86.4

FREQUÊNCIA DE
MYCOPLASMA
HOMINIS
(%)
8.5

8.3
6.6
5.9

5.1

4.2
3.9
3.2

2.4
1.3
0.6

2013 2014 2015 2016 2017 2018


Negativo 96.2 89.1 92.1 93.7 86.4 87.5
Cresc. <10⁴ 3.2 5.9 6.6 3.9 8.5 8.3
Cresc. >10⁴ 0.6 5 1.3 2.4 5.1 4.2

Frequência do crescimento de M. hominis de acordo com a contagem de UFC/amostra, sendo que


crescimento superior ou igual a 10⁴ (≥ 10⁴) é de relevância clínica e crescimento inferior a 10⁴ (< 10⁴)
é considerado colonização por este microrganismo.
Fonte: elaborado pela autora (2019).
20

Figura 7 – Frequência de crescimento de Ureaplasma spp.

65

48.6
48

48

48
42.6

42.1

40.1
37.6

40
FREQUÊNCIA DE

32
28.5
UREAPLASMA
SPP. (%)

19.8

19.4
11.8
11
9.9
6.5

2013 2014 2015 2016 2017 2018


Negativo 65 42.6 42.1 48 48 32
Cresc. <10⁴ 6.5 19.8 9.9 11 11.8 19.4
Cresc. >10⁴ 28.5 37.6 48 40 40.1 48.6

Frequência do crescimento de U. urealyticum/parvum de acordo com a contagem de UFC/amostra,


sendo que crescimento superior ou igual a 10⁴ (≥ 10⁴) é de relevância clínica e crescimento inferior a
10⁴ (< 10⁴) é considerado colonização por este microorganismo.
Fonte: elaborado pela autora (2019)

Quanto a origem, as amostras foram provenientes dos setores de UTI (n=1),


UTD (n=14), Emergência Obstétrica e Ginecológica (n=241), Emergência Adulto
(n=6), Centro Obstétrico (n= 23), Unidade de Internação Ginecológica (n=31), Clínica
Cirúrgica I: Unidade de Internação (n=1), Alojamento Conjunto (n=12), Clínica Médica
III (n=18), Unidade de Quimioterapia (n=1), Ambulatório do HU (n=272), Ambulatório
de Gestantes de Alto Risco (n=8), Ambulatório de Cirurgia Bariátrica (n=7), SASC
(Serviço de Atendimento à Saúde da Comunidade Universitária)/Perícia UFSC (n=
179) e Hemoterapia (n=1). Os setores com maior número de solicitações para
realização da pesquisa de M. hominis e Ureaplasma spp. foram Ambulatório e
Emergência Obstétrica e Ginecológica do HU e SASC/Perícia UFSC (Figura 8).
21

Figura 8 - Frequência das amostras de acordo com o setor de origem

Fonte: elaborado pela autora (2019)

A associação entre as variáveis estudadas (idade e gênero dos pacientes,


origem e período da coleta) e a presença significativa de U. urealyticum/parvum e M.
hominis nas amostras está descrita na tabela 2.
O crescimento ≥10⁴ UFC/amostra para U. urealyticum/parvum foi
significativamente maior entre indivíduos com idade ≤ 30 anos (p=0,007), sexo
feminino (p = 0,013) e entre as amostras coletadas no setor de ginecologia/obstetrícia
(P<0,001). Não foi observada associação entre estas mesmas variáveis e o
crescimento significativo de M. hominis entre as amostras do estudo.
Para esta análise as amostras do estudo foram divididas em dois períodos de
três anos cada: de 2013 a 2015 e de 2016 a 2018. No primeiro período, 37,4% das
amostras apresentaram crescimento significativo para U. urealyticum/parvum e 1,8%
para M. hominis, subindo para 42,0% e 4,0% no segundo período, respectivamente.
Para M. hominis , apesar de ter dobrado a porcentagem de culturas com crescimento
≥ 10⁴ UFC/amostra, não foi observada associação significativa no segundo período
(p= 0,63).
Em relação à presença de coinfecção (M. hominis e U. urealyticum/parvum),
não foi observada associação significativa em relação às variáveis analisadas no
estudo.
22

Tabela 2 - Distribuição das variáveis estudadas de acordo com a presença de Mycoplasma


hominis e U. urealyticum/parvum

Ureaplasma Mycoplasma
Ureaplasma Mycoplasma
Variáveis Ausência e P* Ausência e P*
Cresc ≥ 10⁴ Cresc ≥ 10⁴
Cresc < 10⁴ Cresc < 10⁴
Idade (815) 493 322 792 23
0,007 0,264
≤ 30 anos (n=550) 57,3% (315) 42,7% (235) 97,6% (537) 2,4% (13)
> 30 anos (n=265) 67,2% (178) 32,8% (87) 96,2% (255) 3,8% (10)
Gênero (815) 493 322 792 23
1,000
Feminino (n=797) 59,8% (477) 40,2% (320) 0,013 97,1% (774) 2,9% (16)
Masculino (n=18) 88,9% (16) 11,1% (2) 100,0% (18) 0,0% (0)
Origem da amostra (815)
493 322 792 23
Ambulatório (n=459)
68,6 (315) 31,4% (144) 96,9% (445) 3,1% (14)
UTI/UTD/QUIMIO (n=16)
68,8% (11) 31,2% (5) <0,001 100,0% (16) 0,0% (0) 0,691
Internação (n=31)
41,9% (13) 58,1% (18) 100,0% (31) 0,0% (0)
Ginecologia/Obstetrícia
49,8% (154) 50,2% (155) 97,1% (300) 2,9% (9)
(n=309)
Período (815) 493 322 792 23
2013-2015 (n=439) 62,6% (275) 37,4% (164) 0,175 98,2% (431) 1,8% (8) 0,063
2016-2018 (n=376) 58,0% (218) 42,0% (158) 96,0% (361) 4,0% (15)
*Valores de p para teste Qui-Quadrado e Exato de Fischer
Fonte: elaborado pela autora (2019)

Para U. urealyticum/parvum observou-se que pacientes com idade superior a


30 anos têm 34,5% menos chance de ter a infecção em relação aos com idade ≤ 30
anos, RC= 0,655 e o IC 95% (0,482-0,891), p= 0,007. Mulheres têm 5,37 mais
chances de infecção em relação aos homens, RC= 5,37 e IC 95% (1,226-23,501), p=
0,013. Amostras provenientes do setor de ginecologia/obstetrícia têm 2,26 vezes mais
chance de infecção do que os outros setores (ambulatório, internados,
UTD/UTI/QUIMIO), RC= 2,26 e o IC 95% (1,529-2,730). Com relação ao semestre
não foi encontrada associação significativa entre a infecção por U.
urealyticum/parvum.

Perfil de sensibilidade dos isolados

A sensibilidade aos antimicrobianos, agrupada segundo o ano de isolamento


dos microrganismos está descrita nas tabelas 3 e 4.
Analisando os isolados de U. urealyticum/parvum, observou-se um aumento
na porcentagem de isolados resistentes à classe dos macrolídeos ao longo dos anos,
23

subindo de 5,7% em 2013 para 20,0% em 2018 para azitromicina, de 5,7% em 2013
para 22,9% em 2018 para a claritromicina e de 7,5% em 2013 para 22,9% em 2018
para a eritromicina. Quanto às quinolonas, o ciprofloxacino apresentou a pior
atividade entre os antimicrobianos testados, com resistência variando entre 40% nos
anos de 2017 e 2018 a 50% nos anos de 2014 e 2016. A resistência ao ofloxacino foi
muito menor para os isolados de U. urealyticum/parvum, chegando ao máximo de
12,7% no ano de 2017, sendo que em 2018 100% dos isolados foram sensíveis a
essa quinolona. Outro antimicrobiano que manteve baixos níveis de resistência para
esse microrganismo, durante todo o período do estudo, foi a tetraciclina, que
apresentou sensibilidade superior a 96% em todos os anos (Figuras 9 e 10).
24

Figura 9 – Perfil de resistência de U. urealyticum/parvum aos antimicrobianos ao longo dos anos


(2013-2018).

60

50

40

30

20

10

0
2013 2014 2015 2016 2017 2018
Azitromicina 6 16 18 17 17 20
Ciprofloxacin 48 50 44 50 41 40
Claritromicina 6 13 18 20 23 23
Eritromicina 8 13 19 19 20 23
Ofloxaxin 12 5 3 6 13 0
Tetraciclina 4 3 1 4 0 0

Fonte: elaborado pela autora (2019)

Figura 10 - Perfil de Resistência de Mycoplasma hominis ao longo dos anos (2013-2018)

120

100

80

60

40

20

0
2013 2014 2015 2016 2017 2018
Azitromicina 100 0 100 33 100 67
Ciprofloxacin 100 60 50 100 22 0
Claritromicina 100 0 100 33 100 100
Eritromicina 100 0 100 33 78 100
Ofloxaxin 0 0 50 0 11 0
Tetraciclina 0 20 0 33 0 0

Fonte: elaborado pela autora (2019)


25

Dos 322 TSAs analisados com isolados de U. urealyticum/parvum, 54,0%


(174/322) apresentaram resistência a pelo menos um antimicrobiano e 46,0%
(148/322) não apresentaram nenhuma resistência. Outros três (0,9%) apresentaram
resistência a cinco dos seis antimicrobianos testados (entre 2015-2017),
apresentando sensibilidade somente à tetraciclina.
Isolados de M. hominis são intrinsecamente resistentes a eritromicina e outros
macrolideos de 14 e 15 membros no anel lactona, que incluem a claritromicina e a
azitromicina. Para esta espécie, o número de isolados foi muito pequeno (23),
prejudicando a avaliação anual. No entanto, avaliando todos os 23 isolados,
observou-se uma elevada resistência ao ciprofloxacino (43,5%), e baixa resistência
ao ofloxacino (8,7%), similar ao observado para U. urealyticum/parvum. A tetraciclina
também manteve baixos níveis de resistência durante o estudo (8,7%).
26

Tabela 3 – Perfil de sensibilidade do Ureaplasma spp. aos antimicrobianos no período de 2013-2018 (n=322)

Azitromicina (n= 322) Ciprofloxacino (n= 322) Claritromicina (n= 320) Eritromicina (n= 322) Ofloxacino (n= 319) Tetraciclina (n= 322)
Ano/Antimicrobiano
S+I R S+I R S+I R S+I R S+I R S+I R
1º período (n=164)
2013 (n=53) 94,3% (50) 5,7% (3) 52,8% (28) 47,2% (25) 94,3% (50) 5,7% (3) 92,5%(49) 7,5%(4) 88,0%(44) 12,0%(6) 96,2%(51) 3,8%(2)
2014 (n=38) 84,2% (32) 15,8% (6) 50,0% (19) 50,0% (19) 86,8% (33) 13,2% (5) 86,8%(33) 13,2%(5) 94,7%(36) 5,3%(2) 97,4%(37) 2,6%(1)
2015 (n=73) 82,2% (60) 17,8% (13) 56,2% (41) 43,8% (32) 82,2% (60) 17,8% (13) 80,8%(59) 19,2%(14) 97,3%(71) 2,7%(2) 98,6%(72) 1,4%(1)
2º período (n=158)
2016 (n=52) 82,7% (43) 17,3% (9) 50,0% (26) 50,0% (26) 80,4% (41) 19,6%(10) 80,8%(42) 19,2%(10) 94,2%(49) 5,8%(3) 96,2%(50) 3,8%(2)
2017 (n=71) 83,1% (59) 16,9% (12) 59,2% (42) 40,8% (29) 77,1% (54) 22,9%(16) 80,3%(57) 19,7%(14) 87,3%(62) 12,7%(9) 100,0(71) 0,0%(0)
2018 (n=35) 80,0% (28) 20,0% (7) 60,0% (21) 40,0% (14) 77,1% (22) 22,9%(8) 77,1%(27) 22,9%(8) 100,0%(35) 0,0%(0) 100,0%(35) 0,0%(0)
Total 84,5% (272) 15,5% (50) 55,0% (177) 45,0% (145) 82,8% (265) 17,2%(55) 82,9%(267) 17,1%(55) 93,1%(297) 6,9%(22) 98,1%(316) 1,9%(6)
Fonte: elaborado pela autora (2019)
Tabela 4 - Sensibilidade do Mycoplasma hominis aos antimicrobianos no período de 2013-2018 (n=23)
Azitromicina (n= 23) Cipprofloxacino (n= 23) Claritromicina (n= 23) Eritromicina (n= 23) Ofloxacino (n= 23) Tetraciclina (n= 23)
Ano/Antimicrobiano
S+I R S+I R S+I R S+I R S+I R S+I R
1º período
2013 (n=1) 0,0%(0) 100,0% (1) 0,0%(0) 100,0% (1) 0,0%(0) 100,0% (1) 0,0%(0) 100,0% (1) 100,0% (1) 0,0%(0) 100,0% (1) 0,0%(0)
2014 (n=5) 100,0% (5) 0,0% (0) 40,0% (2) 60,0%(3) 100,0% (5) 0,0%(0) 100,0% (5) 0,0%(0) 100,0% (5) 0,0% (0) 80,0%(4) 20,0%(1)
2015 (n=2) 0,0% (0) 100,0% (2) 50,0%(1) 50,0%(1) 0,0%(0) 100,0% (2) 0,0%(0) 100,0% (2) 50,0%(1) 50,0%(1) 100,0% (2) 0,0%(0)
2º período
2016 (n=3) 66,7% (2) 33,3% (1) 0,0%(0) 100,0%(3) 66,7% (2) 33,3% (1) 66,7% (2) 33,3% (1) 100,0%(3) 0,0% (0) 66,7% (2) 33,3% (1)
2017 (n=9) 0,0% (0) 100,0% (9) 77,8%(7) 22,2%(2) 0,0%(0) 100,0% (9) 22,2%(2) 77,8%(7) 88,9%(8) 11,1%(1) 100,0% (9) 0,0%(0)
2018 (n=3) 33,3% (1) 66,7%(2) 100,0%(3) 0,0%(0) 0,0%(0) 100,0%(3) 0,0%(0) 100,0%(3) 100,0%(3) 0,0%(0) 100,0%(3) 0,0%(0)
Total 34,8% (8) 65,2% (15) 56,5%(13) 43,5%(10) 30,4%(7) 69,6%(16) 39,1%(9) 60,9%(14) 91,3%(21) 8,7%(2) 91,3%(21) 8,7%(2)
S= Sensível, I= Intermediário, R= Resistente; Colunas em branco: sinalizam resistência intrínseca. Fonte: elaborado pela autora (2019)
27

Associação dos antimicrobianos às variáveis

Infecção por Ureaplasma spp

A coinfecção por M. hominis e Ureaplasma spp tem associação com


a resistência à eritromicina (p= 0,018), ou seja, isolados com coinfecção possuem 6,9
vezes mais chances de desenvolver resistência à eritromicina do que os que não
possuem coinfecção, RC= 6,902 e o IC 95% (1,500-31,769), p= 0,018.

Para à tetraciclina as variáveis que apresentaram associação com a


resistência foram a origem da amostra (p= 0,030). Amostras oriundas nos setores
de ambulatório, UTD/UTI/QUIMIO e internação tem associação com resistência à
tetraciclina. Já as oriundas dos setores de ginecologia/obstetrícia possuem 3,6%
menos chances de possuírem bactérias resistentes do que as dos demais setores,
RC= 0,964 e o IC95% (0,936-0,993), p=0,030.

Em relação ao ciprofloxacino, houve diferença significativa entre a infecção por


Ureaplasma spp e a resistência à ciprofloxacino em relação à idade (p=0,039).
Pacientes com idade superior a 30 anos possuem 41,2% menos chance
de resistência ao ciprofloxacino, RC= 0,588 e o IC 95% (0,354-0,976), p=0,039.

Observou-se associação da resistência à azitromicina em relação aos


pacientes com coinfecção por Ureaplasma spp e M. hominis (p=0,001). Estes
pacientes possuem 15 vezes mais chances de ter bactérias resistentes à
azitromicina do que pacientes infectados apenas com Ureaplasma spp. RC= 15,0 e o
IC 95% (2,824-79,676), p= 0,001.

Foi observado associação da resistência à claritromicina com a infecção por


Ureaplasma spp em relação ao período de coleta (2013-2015 x 2016-2018) (p=0,033).
A coinfecção com M. hominis (p= 0,002) foi associada a colonização e infecção por
M. hominis (p<0,001). Os pacientes diagnosticados no segundo período (2016-
2018) possuem associação com a resistência à claritromicina, tendo1,90 vezes mais
chance de ter bactérias resistêntes, RC= 1,898 e o IC 95% (1,047-3,441). Isolados
com coinfecção por M. hominis têm 13,15 vezes mais chance deter bactérias
resistêntes à claritroimcina, RC= 13,150 e o IC 95% (2,482-69,679), p=0,002.). Não
28

houve associação da resistência antimicrobiana ao Ofloxacino com a colonização


e/ou infecção por M. hominis.

Infecção por Mycoplasma hominis

Para o M. hominis foi observado associação significativa da resistência à


claritromicina com coleta de amostras no segundo período (2016-2018). Esses
isolados coletados no segundo período possuem 10,83 vezes mais chance
de serem resistentes do que isolados coletados no primeiro período (2013-2015),
RC=10,833 e o IC 95% (1,374-85,440), p= 0,026. Não houve associação da
resistência antimicrobiana com as demais variáveis estudadas.

7 DISCUSSÃO
O Hospital Universitário/HU-UFSC é considerado uma instituição de referência
em saúde para a região da Grande Florianópolis, atendendo exclusivamente usuários
do Sistema Único de Saúde (SUS). Oferece aos usuários tratamentos clínicos e
cirúrgicos, de ginecologia, obstetrícia com alojamento conjunto, berçário, pediatria,
Unidade de Terapia Intensiva - adulto e neonatal, e emergências adulto,
obstétrica/ginecológica e pediátrica, realizando em média 11.000 consultas
especializadas por mês (GELBCKE et al., 2017-2018).

No presente estudo, foram obtidas 815 solicitações de pesquisa para


Mycoplasma hominis e Ureaplasma urealyticum/parvum ao longo de 6 anos. Estas,
em sua maioria, oriundas dos setores de Ambulatório, Emergência Obstétrica e
Ginecológica/HU e SASC/Perícia UFSC. Tendo em vista que esses setores atendem
predominantemente o público de gênero feminino, principalmente os setores de
Ginecologia Ambulatorial e Emergência Obstétrica e Ginecológica, e esse último
aplicando protocolos padronizados para pesquisa/diagnóstico de Infecções
Sexualmente Transmissíveis voltadas a mulheres e gestantes de risco/rompimento
de membranas, justifica o maior número de solicitações oriundas de pacientes do
gênero feminino neste estudo, fato que indica viés na análises comparativas entre
resultados de homens e mulheres. Da mesma forma, em relação ao tipo de amostra,
os protocolos do setor de microbiologia preconizam, preferencialmente, amostras
uretrais para homens e amostras endocervicais para mulheres, justificando que a
maioria das amostras foi de raspado endocervical.
29

Seguindo pela análise dos testes de sensibilidade aos antimicrobianos, levou-


se em consideração apenas as culturas com crescimento igual ou superior a 10⁴
UFC/amostra, devido a essas bactérias pertencerem a biota do trato genital dos seres
humanos, no entanto, quando estão em concentração elevada, podem estar
associadas a infecções geniturinárias e há indicação de tratamento. Embora
rotineiramente o Setor de Microbilogia/DACL/HU realize TSA para as culturas com
crescimento <10⁴ UFC/amostra, esses resultados não são liberados ficam disponíveis
por três meses, caso clinicamente se justifique tratamento do paciente. No entanto,
os resultados desses TSAs após esse período são descartados, fato que inviabilizou
a análise da variação de resistência ao longo do tempo das amostras com
crescimento inferior ao ponto de corte.
A prevalência de Ureaplasma spp. e M. hominis entre pacientes com resultados
clinicamente significativos varia entre as regiões geográficas mundiais. Neste estudo,
a prevalência de micoplasmas urogenitais foi de 53,5% nas amostras estudadas. Foi
isolado com maior frequência U. urealyticum/parvum (39,5%) do que M. hominis
(2,8%), indicando uma prevalência não proporcional destes dois microrganismos.
Muitos estudos demonstram taxas semelhantes (ZDRODOWSKA et al., 2006;
AVELAR et al. 2007; ZHU, LIU et al., 2012; SONG et al., 2014), entretanto Domingues
e colaboradores (2003) e Kataoka e colaboradores (2006) encontraram Mycoplasma
hominis em maior frequência.

Em relação a sensibilidade para Ureaplasma spp., os isolados foram


extremamente sensíveis à tetracilina (96,2% - 100%). Para Ureaplasma spp
observou-se ao longo dos anos aumento do número de isolados resistentes à
claritromicina (5,7% - 22,9%), à azitromicina (5,7% - 20%) e à eritromicina (7,5% -
22,9%), podendo indicar tendência aumento do número de isolados resistentes nos
próximos anos. Em relação à resistência ao ciprofloxacino os isolados apresentaram
45% de resistência em todos os períodos, corroborando com outras pesquisas
(BAYRAKTAR et al., 2010; KECHAGIA et al., 2008; SKILJEVIC et al., 2016). Por sua
vez Schneider e colaboradoes (2015) e BEETON e colaboradores (2016)
encontraram número menor de isolados resistentes.
Em certa medida, a análise das tendências de resistência do Ureaplasma spp.
entre 2013 e 2018, em nosso estudo, refletem mudanças no consumo de antibióticos,
30

o uso de tetraciclinas diminuiu, enquanto o uso de macrolídeos e fluoroquinolonas


aumentou.
No presente estudo, todos os isolados de M. hominis foram suscetíveis à
tetraciclina e a ofloxacino. Três isolados (11%) apresentaram resistência a cinco dos
seis antimicrobianos. Desses, dois apresentaram sensibilidade apenas para a
tetraciclina e um apresentou sensibilidade intermediária para ofloxacino. Houve uma
alta porcentagem de isolados resistentes à claritromicina (69,6%), azitromicina
(65,2%) e eritromicina (60,9%), nos 23 isolado de Mycoplasma hominis com
crescimento igual ou superior ao ponto de corte.
M. hominis é intrinsicamente resistente à azitromicina, claritromicina e
eritromicina, embora não haja necessidade de avaliar estes antimicrobianos, o fato
do kit cultivar simultaneamente Mycoplasma hominis e Ureaplasma spp., as
informações de resistência desses antimicrobianos são fornecidas e apenas
confirmam o dado conhecido de resistência.
Os isolados com crescimento significativo de M. hominis apresentaram altas
porcentagens de resistência ao ciprofloxacino (43,5%), outros estudos corroborando
que encontraram porcentagens variando de 30 a 40% (BAYRAKTAR et al., 2010;
KECHAGIA et al., 2008 e SKILJEVIC et al., 2016). No entanto, isolados resistentes à
tetraciclina foram menos frequentes, assim como verificado na maioria dos países
europeus (SCHNEIDER et al., 2015; KRAUSSE e SCHUBERT, 2010). Por outro lado,
uma pesquisa na Sérvia relata 100% de isolados resistentes à tetraciclina (SKILJEVIC
et al., 2016).
As altas taxas de resistência de ambas bactérias, Ureaplasma spp. e M.
hominis, ao ciprofloxacino indicam a necessidade de uma melhor gestão da
prescrição e diretrizes seguidas para o tratamento destes microrganismos. Não há
comprovação ainda, mas poderá haver influência do resultado de resistência ao
ciprofloxacino pelo fato de ter havido modificação em 2017 das recomendações do
Ministério da Saúde para o manejo de outras infecções sexualmente transmitidas,
como gonorreia, que não recomenda mais o uso de ciprofloxacino (Ministério da
Saúde, 2017).
Neste estudo, também foram observadas associações do perfil de resistência
de certos antimicrobianos com algumas variáveis. Entre elas, para o Ureaplasma,
destacam-se a resistência ao ciprofloxacino à idade ≤ 30 anos (p=0,007) e ao gênero
feminino (p = 0,013). Esse apresentando 5,37 vezes mais chances de as mulheres
31

desenvolverem, do que os homens; e 34,5% menos chance de infecção para os


pacientes com idade superior a 30 anos, não sendo encontrado nenhum estudo
demonstrando estas associações.
Em relação a pacientes coinfectados por Ureaplasma spp. e Mycoplasma
hominis, as chances de desenvolver resistência à claritromicina, eritromicina e
azitromicina são 1,90, 39,88 e 15 vezes maiores, respectivamente. O que pode ser
explicado pela resistência intrínseca do M. hominis para os macrolídeos.
Para a tetraciclina, são associadas com menos chances de resistência, as
amostras provenientes do setor de ginecologia/obstetrícia, possuindo 3,5% menos
chances em relação aos demais setores do hospital. O que pode ser explicado devido
a diversidade dos setores, suas especializações clínicas e utilização deste
antimicrobiano para outros tipos de agentes.
A tetraciclina e o ofloxacino se apresentaram boas opções para o tratamento
para ambos micoplasmas genitais em nossa região, embora existam outras opções
de tratamento a serem exploradas, como novas quinolonas e clindamicinade.
O estudo apresenta algumas limitações relativas à utilização do kit
Mycoplasma IST 2. Algumas desvantagens com a utilização deste foram encontradas.
Sendo uma delas a não diferenciação das espécies de Ureaplasma urealyticum e
parvum. Outra é que, quando ambos, M. hominis e Ureaplasma urealyticum/parvum,
estão presentes na amostra, a determinação da sensibilidade antimicrobiana de cada
organismo separadamente não é possível, obtendo-se o padrão de sensibilidade
relacionado a ambos os micoplasmas e podendo levar a relatos inapropriados de
resistência à antimicrobianos.
Tendo em vista as limitações do teste de sensibilidade aos antimicrobianos no
ensaio M-IST2, há uma necessidade de introduzir novas metodologias para a
melhorar a avaliação de cepas resistentes em nossa população.
32

8 CONCLUSÃO

Esta é a primeira análise retrospectiva de resultados das culturas de


micoplasmas urogenitais na cidade de Florianópolis, em Santa Catarina/Brasil. Sendo
realizado no laboratório de microbiologia do HU/UFSC/EBSERH

Houve alta prevalência de crescimento clinicamente significativo para


Ureaplasma spp. (39,5%) e baixa de M. hominis (2,8%) nos isolados estudados ao
longo de seis anos. As amostras com crescimento clinicamente significativos foram
associadas a pacientes com idade igual ou menor a 30 anos, ao gênero feminino e
aos setores de Ambulatório e Emergência Obstétrica e Ginecológica do HU e SASC
Perícia.

Considerando os menores níveis de resistência encontrados para a tetraciclina


e o ofloxacino, esses se apresentando como boas opções para o tratamento dos
micoplasmas urogenitais em nossa região.

Os resultados evidenciam uma resistência de Ureaplasma urealyticum/parvum


e Mycoplasma hominis principalmente ao ciprofloxacino, indicando a necessidade de
melhor manejo na hora da prescrição do antimicrobiano em pacientes que
apresentam a infecção, corroborando, assim, a tese postulada pelos profissionais do
laboratório de que há um aumento da resistência aos antimicrobianos ao longo dos
anos no que diz respeito ao tratamento destes microrganismos.

Ressalta a importância de uma pesquisa continuada com a finalidade de


compreender mudanças em nossa região ao longo dos anos em relação ao perfil dos
pacientes infectados e o perfil de resistência dos micoplasmas urogenitais aos
antimicrobianos utilizados na terapia clínica, implicando em um melhor embasamento
para essa terapêutica.
33

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