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pensador-frances-pai-positivismo
Publicado em NOVA ESCOLA 01 de Outubro | 2008

Pensadores de Educação

Auguste Comte, o homem


que quis dar ordem ao
mundo
Pai do positivismo, ele acreditava que era possível planejar
o desenvolvimento da sociedade e do indivíduo com
critérios das ciências exatas e biológicas
Márcio Ferrari
Crédito: Hulton Archive/Getty Images
O nome do pensador francês Auguste Comte (1798-1857) está
indissociavelmente ligado ao positivismo, corrente filosófica que ele fundou
com o objetivo de reorganizar o conhecimento humano e que teve grande
influência no Brasil. Comte também é considerado o grande sistematizador da
sociologia.

O filósofo viveu num período da história francesa em que se alternavam


regimes despóticos e revoluções. A turbulência levou não só a um
descontentamento geral com a política como a uma crise dos valores
tradicionais. Comte procurou dar uma resposta a esse estado de ânimo pela
combinação de elementos da obra de pensadores anteriores a ele e também de
alguns contemporâneos, resultando num corpo teórico a que chamou de
positivismo.
"Ele reviu as ciências para definir o que, nelas, decorria da realidade dos fatos e
permitia a formulação de leis naturais, que orientariam os homens a agir para
modificar a natureza", diz Arthur Virmond de Lacerda, professor da Faculdade
Internacional de Curitiba.
Um dos fundamentos do positivismo é a idéia de que tudo o que se refere ao
saber humano pode ser sistematizado segundo os princípios adotados como
critério de verdade para as ciências exatas e biológicas. Isso se aplicaria
também aos fenômenos sociais, que deveriam ser reduzidos a leis gerais como
as da física. Para Comte, a análise científica aplicada à sociedade é o cerne da
sociologia, cujo objetivo seria o planejamento da organização social e política.

Planejamento social traria o bem-estar


O funcionamento da sociedade, para Comte, obedeceria a diretrizes
predeterminadas para promover o bem-estar do maior número possível
de indivíduos. Além de uma reformulação geral das ciências e da
organização sociopolítica, o filósofo planejou uma nova ordem espiritual,
inspirada na hierarquia e na disciplina da Igreja Católica, que considerava
muito eficientes.
A nova doutrina, porém, se dissociava totalmente da teologia cristã, que
Comte rejeitava por se basear no sobrenatural, e não no materialismo
científico. No fim da vida, ele chegou a preconizar a construção de templos
positivistas, onde a humanidade, e não a divindade, seria venerada. O
filósofo via a humanidade como uma entidade una, que chamou de
Grande Ser.
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Educação?
Comte formulou uma lei histórica de três estágios. Segundo essa lei, o
pensamento humano partiu de um estágio teológico, quando recorria às idéias
de deuses e espíritos para explicar os fenômenos naturais, e passou para um
estágio metafísico, caracterizado por fundamentar o conhecimento em
abstrações - como essências, causas finais ou concepções idealizadas da
natureza.

De acordo com Comte, a humanidade só alcançaria plenitude intelectual ao


chegar ao estágio positivo, que pressupõe a admissão das limitações do
entendimento humano. Para ele, a razão não é capaz de operar a não ser pela
via da experiência concreta. Todo esforço da ciência e da filosofia deveria se
restringir, portanto, a encontrar as leis que regem os fenômenos observáveis.

Antes de Comte, a sociologia já havia dado os primeiros passos, mas foi ele
quem a organizou como ciência. O pensador a dividiu em duas áreas: estática
social e dinâmica social. A primeira estuda as forças que mantêm a sociedade
unida, enquanto a segunda se volta para as mudanças sociais e suas causas.
A estática social se fundamenta na ordem e a dinâmica no progresso - daí o
lema "ordem e progresso", que figura na bandeira brasileira por inspiração
comtiana (leia quadro acima). Conhecidos a estrutura e os processos de
transformação da sociedade, seria possível, para o pensador, reformar as
instituições e aperfeiçoá-las. "As leis sociológicas permitem planejar o futuro
porque indicam critérios de atuação política", diz Virmond de Lacerda.

Cientistas deveriam formar elite dirigente


A concepção planejada das reformas sociais que o filósofo julgava
necessárias não era compatível com a democracia, imprevisível por
natureza, e por isso Comte a rejeitou. Ele acreditava que a ciência positiva
seria o fundamento da fraternidade entre os homens, mas a
responsabilidade por conduzir o aperfeiçoamento das instituições estaria
restrita a uma elite de cientistas.

O filósofo via todas as sociedades constituídas por núcleos permanentes,


como a família e a propriedade, que devem promover o progresso. O
positivismo compara a sociedade a um organismo biológico, no qual
nenhuma parte tem existência independente. Num estágio positivo,
próximo da perfeição, não haveria lugar para o individualismo, apenas
para o desenvolvimento da solidariedade e do altruísmo (termo cunhado
por Comte) de cada um em favor da coletividade.
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O pensamento de Comte foi alvo de desconfiança e até de escárnio - em


especial a criação da religião da humanidade. Mas o positivismo teve
grande influência em seu tempo e peso decisivo no surgimento de
correntes de pensamento futuras, como o evolucionismo.

Disciplina, hierarquia e ciência na escola


Como Comte tinha a ordem na conta de valor supremo, para ele era
fundamental que os membros de uma sociedade aprendessem desde
pequenos a importância da obediência e da hierarquia. A imposição da
disciplina era, para os positivistas, uma função primordial da escola.

Segundo Comte, a evolução do indivíduo segue um trajeto semelhante à


evolução das sociedades. Assim, na infância passa-se por uma espécie de
estágio teológico, quando a criança tende a atribuir a forças sobrenaturais
o que acontece a seu redor. A maturidade do espírito seria encontrada na
ciência. Por isso, na escola de inspiração positivista, os estudos científicos
prevalecem sobre os literários.
O filósofo acreditava ainda que todos os seres humanos guardam em si
instintos tanto egoístas quanto altruístas. A educação deveria assumir a
responsabilidade de desenvolver nos jovens o altruísmo em detrimento do
egoísmo, mostrando a eles que o objetivo existencial mais nobre é dedicar
a vida às outras pessoas.
"A educação positivista visa a informar o aluno sobre a ordem - isto é,
como o mundo funciona - e formar seu caráter, tornando-o mais bondoso",
diz Virmond de Lacerda. O pensamento de Comte tinha forte aspecto
empirista, por levar em conta apenas os fenômentos observáveis e
considerar anticientíficos os estudos dos processos mentais do
observador.

Na educação, isso acarreta ênfase na aferição da eficiência dos métodos


de ensino e do desempenho do aluno. No século 20, a psicologia
comportamental aperfeiçoaria ao máximo esses procedimentos, com
experimentos e testes aplicados em grande escala.
Biografia de Auguste Comte
Auguste Comte nasceu em 1798 em Montpellier, na França. Seus pais eram
católicos e monarquistas fervorosos. Comte, que rejeitou as convicções
dos pais ainda bem jovem, foi aluno brilhante, dos estudos básicos aos
superiores, na Escola Politécnica de Paris. Nesse período, seu melhor
amigo foi Henri de Saint-Simon (1760-1825), expoente do socialismo
utópico, com quem viria a romper mais tarde por questões ideológicas.
Comte trabalhava intensamente na criação de uma "filosofia positiva"
quando sofreu um colapso nervoso, em 1826. Recuperado, mergulhou na
redação do Curso de Filosofia Positiva, que lhe tomou 12 anos. Em 1842,
por divergências com os superiores, perdeu o emprego de pesquisador na
Politécnica e começou a ser ajudado por admiradores, como o pensador
escocês John Stuart Mill (1773-1826).
No mesmo ano, Comte se separou de Caroline Massin, após 17 anos de
casamento. Em 1845, apaixonou-se por Clotilde de Vaux, que morreria de
tuberculose no ano seguinte. Clotilde seria idealizada por Comte como a
expressão perfeita da humanidade. O filósofo, que dedicou os anos
seguintes a escrever Sistema de Política Positiva, morreu de câncer em
1857, em Paris.

Proclamação da República teve influência


positivista
O projeto sociopolítico de Comte pressupunha uma evolução ordeira da
sociedade, incompatível com revoluções e mudanças bruscas.
Curiosamente, no Brasil os ideais positivistas serviram para alavancar
uma troca de regime, com a proclamação da República. O aparente
paradoxo se explica, em parte, pelo fato de a influência positivista ter
resultado em pensamentos muito diversos no Brasil, conforme se
combinou com outras correntes ideológicas.
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Nenhum setor teve maior presença da ideologia comtiana do que as
Forças Armadas, de onde saiu o vitorioso movimento republicano e a idéia
de adotar o lema "ordem e progresso". Várias das medidas
governamentais dos primeiros anos da República tiveram inspiração
positivista, como a reforma educativa de 1891 e, no mesmo ano, a
separação oficial entre Igreja e Estado.
O positivismo ficou de tal forma conhecido no Brasil que o prenome de
Comte foi aportuguesado para Augusto e a corrente filosófica tornou-se
tema de um samba de Noel Rosa e Orestes Barbosa. A canção, intitulada
Positivismo e lançada em 1933, termina com os versos: "O amor vem por
princípio, a ordem por base/O progresso é que deve vir por
fim/Desprezaste esta lei de Augusto Comte/E foste ser feliz longe de mim".

Para pensar

O modelo de escola rígida e autoritária que os positivistas defendiam está


ultrapassado, mas vale a pena refletir sobre as idéias de Comte. Ele
acreditava que a solidariedade era um impulso natural no ser humano e
que a escola é um dos órgãos sociais responsáveis por promovê-la. Numa
época individualista como a atual, você já pensou em conversar com seus
alunos sobre a importância de sempre ter em mente que todos fazemos
parte de uma sociedade?

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