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CADERNO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

EXPEDIENTE
Coordenação editorial
Inspire-C Arquitetura, Urbanismo e Patrimônio Cultural
Núcleo de Mídia e Conhecimento

Edição, conteúdo e pesquisa


Fernanda Cheffer (Medusa Projetos Culturais e Comunicação)

Ilustrações e consultoria
Denni Capetta

Projeto gráfico e diagramação


Danielle Dalavechia (Núcleo de Mídia e Conhecimento)

Revisão ortográfica
Valéria Stüber

Revisão histórica
Antônio Cavalheiro
Kim Alan Vasco

PRONAC 220245 – MARCO ZERO: Projetos arquitetônicos e de


restauro da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário – Paranaguá.

LEITURA COMPLEMENTAR

BALHANA, A. P.; MACHADO, B. P.; WESTPHALEN, C. História do


Paraná. Curitiba: Grafipar, 1969.

FREITAS, Waldomiro Ferreira de. História de Paranaguá: das origens à


atualidade. Paranaguá: Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá, 1999.

MARTINS, Romário. História do Paraná. Coleção Farol do Saber.


Curitiba: Prefeitura Municipal de Curitiba, 1995

VIEIRA DOS SANTOS, Antonio. Memória Histórica de Paranaguá. V. I e


II. Curitiba: Vicentina, 2001.

WACHOWICZ, Ruy Cristovam. História do Paraná. Ponta Grossa:


Editora UEPG, 2010.
Carta ao Leitor

GrossaOque é ser paranaense?


O que é ser parnanguara?
Qual é nossa identidade cultural?

Culturas diferentes encontraram-se nesse territó-


rio e estabeleceram conexões importantes para formar
o que conhecemos hoje como Estado do Paraná. Nossa
identidade cultural é uma confluência de muitas socie-
dades. Temos a marca dos povos indígenas, africanos,
portugueses e outras etnias europeias, asiáticas e árabes.
As contribuições desses indivíduos são diversas e intera-
gem com nossos modos de vidas, crenças, saberes, for-
mas de expressão, celebrações, valores, sentidos e signi-
ficados coletivos.
Nesse projeto, adotamos uma referência, um Marco
Zero. Não é a marca dos primeiros habitantes, já que o ter-
ritório foi ocupado há milhares de anos, de modo intermi-
tente, por sociedades primitivas e pelos povos indígenas.
Por sua vez, os colonizadores europeus foram chegando e
ocupando o território a partir do litoral e, de forma concomi-
tante, a partir do interior, na região sudoeste, configurando
por lá ocupações que foram perecendo ao longo do tempo.
O Marco Zero é referência histórica do início de um
processo virtuoso, que culminou na formação do Estado
do Paraná. Também, o primórdio da cidade de Paranaguá
como conhecemos hoje, desenhada aos moldes do urba-
nismo português e que abriga um modo de vida pauta-
do no modelo ocidental. Modelo esse que teve entre suas
peças fundamentais a instituição da Igreja Católica, que
foi fundada pelos colonizadores para congregar, assistir e
administrar a população que ali se estabelecia.
A Catedral Diocesana de Paranaguá é referência
dessa ocupação primordial, inclusive uma referência
urbana, que se estabeleceu em um lugar elevado, e é a
partir desse promontório que convidamos você a acom-
panhar essa jornada, a fim de conhecer um pouco mais
sobre as referências históricas e culturais que nos fazem
paranaenses e parnanguaras.
Vamos lá!
Letícia Nardi
Coordenadora do Projeto Marco Zero

2
3
O Território de

4
Paranaguá é considerada a cidade mais antiga do
Estado do Paraná e uma referência quando falamos do li-
toral sul brasileiro. Suas belas paisagens naturais contras-
tam com os casarões e edifícios que dispõem de elemen-
tos arquitetônicos luso-brasileiro e neoclássicos. O vai e
vem de barcos pelo rio Itiberê e o cais de pedra atraem os
turistas para a rua da Praia.
Para além de sua história e riqueza cultural, a cidade
tem importante função na economia estadual e nacional
há séculos, por meio das atividades portuárias e de na-
vegação. Já no século XVII, era na Ilha da Cotinga, local
do primeiro assentamento branco, que bandeirantes en-
contravam-se para o escambo.
No entanto, a história de Paranaguá, do Paraná e do
Brasil começou muito antes da expansão portuguesa no
litoral brasileiro...
Os registros mais an-
tigos de população no terri-
tório brasileiro são de 12 mil
anos atrás, quando grupos de
caçadores coletores se dis-
persaram por toda a América
do Sul, após atravessarem a
América Central, do Norte e
o Estreito de Bering, respec-
tivamente, vindos original-
mente da Ásia.

O Paraná tem um sítio arqueológico datado de 9.000 anos


atrás, o Sítio Ouro Verde, no vale do Rio Iguaçu, na região
Sudoeste. Na região litorânea, as informações existentes
remetem a ocupações em torno de 6.000 anos atrás. A
maioria dos sambaquis tem datação de 4 a 5 mil anos, mas
pesquisas mais aprofundadas podem revelar que as suas
camadas mais primitivas sejam ainda mais antigas.

Os grupos indígenas que habitavam o Brasil


antes do processo de colonização europeia
representam os povos originários desse
território. Estima-se que cerca de 5 milhões
de indígenas viviam no território brasileiro no
1. Diogo de Unhate, primeiro
ano de 1500, aproximadamente, pertencentes sesmeiro.
2. Hans Staden passou por
a centenas etnias, com hábitos culturais, orga- Paranaguá em 1549. É dele a
nização social, línguas e religiões diversas. primeira ilustração do mapa
da nossa baía.
6
Por volta de 1548, ocorreram os
primeiros encontros entre bran-
cos (espanhóis e portugueses) e
grupos indígenas do litoral para-
naense, a grande maioria carijós
(tupi-guarani), que chamavam a
baía de pernagua (grande mar
redondo).
Domingos Peneda, régulo e matador, e
outros bandeirantes fizeram a preação
do indígena carijó.

Motivado pelas notícias da existência de ouro na região, grupos


provenientes de São Vicente e Cananéia estabeleceram uma pe-
quena vila na Ilha da Cotinga, entre eles estava Domingos Peneda,
que ficou conhecido como o primeiro povoador da região. Nesta
área, encontraram ouro de aluvião em diversos rios e exploraram a
mão de obra dos carijós para a cata do minério.

A fim de escapar das eventuais incursões piratas que adentra-


vam a baía, os colonizadores portugueses mudaram-se para o
continente, instalando-se às margens do rio Itiberê, próximo
a uma fonte de água doce, e construindo a Igreja de Nossa
Senhora do Rosário, considerada a primeira do Paraná.

Após um período sob domínio espanhol da região, o capitão


bandeirante Gabriel de Lara recuperou o território para a Coroa
portuguesa e notificou a existência de minas de
ouro em Serra Negra, atual Guaraqueçaba. A descober-
ta acarretou na criação de um pelourinho,
em 1646, e a elevação do povoado local
à Vila de Nossa Senhora do Rosário de
Paranaguá, em 1648. A intensa atividade
aurífera provocou a instalação de uma
Casa de Fundição na vila, uma das primeiras
do Brasil. 7
A Coroa portuguesa instalou a Capitania
de Nossa Senhora do Rosário de
Paranaguá e, alguns anos mais tarde, a
casa de câmara e cadeia local. Os escra-
vizados foram a mão de obra que levan-
tou os casarios e marcos civilizatórios do
reino português no local.

Após um período de protago-


nismo político no Brasil colônia,
a Capitania de Nossa Senhora do
Rosário de Paranaguá foi extinta e
incorporada à Capitania de São Paulo.

Os jesuítas, que já estavam na região desde a primeira


ocupação na Ilha da Cotinga, inauguraram o Colégio dos
Jesuítas, às margens do rio Itiberê. Menos de uma década depois, em 1759,
a Coroa portuguesa expulsou a Companhia de Jesus de seu território nas
américas, obrigando os padres a abandonarem o edifício de Paranaguá,
que passou a ser ocupado por repartições públicas, como a alfândega.

Início da construção
da fortaleza de Nossa
Senhora dos Prazeres,
na Ilha do Mel, com o
propósito de proteger
a entrada da Baía de
Paranaguá.

8
Paranaguá é elevada à categoria de cidade,
mantida até então pela intensa atividade
portuária e o trabalho dos escraviza-
dos. Ciclos econômicos vinculados
às atividades agrícolas são inicia-
dos com a chegada dos imigran-
tes europeus no século XIX, como
alemães, italianos e poloneses. O
ciclo da erva-mate é considera-
do um dos mais longos, sendo o
produto mais exportado pelo
estado até a década de 1930.

O Incidente Cormorant, ocorrido na Ilha do


Mel em 1° de julho de 1850, entrou para a
história da navegação internacional e mar-
cou o dia em que moradores de Paranaguá
derrotaram a Marinha Britânica.

O Paraná é emancipado do estado de São Paulo, fato


possível por meio de articulações intensas, que envol-
veram aristocratas de Paranaguá. No ano seguinte, foi
criada a Capitania dos Portos do Paraná.

A Estrada da Graciosa é concluída, facilitando o acesso


entre o litoral e o restante do território paranaense.
9
Com a presença do Imperador Dom Pedro II,
foi lançada a pedra fundamental de construção
da Estrada de Ferro entre Paranaguá e Curitiba.
Inaugurada em 1885, a obra é uma referência
da engenharia nacional, contribuindo para a
consolidação da atividade portuária do estado.

Tropas da Revolução Federalista paralisam as


atividades portuárias de Paranaguá.

Inauguração do porto Dom Pedro II.

O Porto de Paranaguá é o maior exportador de


café do mundo.

O Setor Histórico de Paranaguá é reconhecido


como patrimônio cultural do Estado do Paraná.

O Setor Histórico de Paranaguá é reconhecido


como patrimônio material pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O Fandango Caiçara é reconhecido como


patrimônio imaterial pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

10
Paranaguá atual
Cidade Portuária
A inauguração do Porto Dom Pedro II, em 1935, foi um
marco determinante para a cidade de Paranaguá e para
a economia do Paraná. O porto não apenas impulsionou
o desenvolvimento local, mas também destacou a cidade
em nível nacional e internacional.
Com a estrada de ferro, inaugurada no final do século
XIX, as demandas por atividades alfandegárias aumenta-
ram, sendo preciso construir um prédio exclusivo para isso
em 1911. Até então, as atividades estavam concentradas no
antigo Colégio dos Jesuítas.
A constante modernização das atividades portuárias
foram uma consequência de sua localização e dos séculos
de experiência com as atividades de comércio e navega-
ção. O Porto de Paranaguá foi (e ainda é) essencial para o
fortalecimento dos ciclos econômicos do estado, como er-
va-mate, madeira, café, algodão, soja e milho.
Hoje, o porto é reconhecido como o segundo maior em
volume de exportações no Brasil e o primeiro da América
Latina em movimentação de grãos. Este papel de destaque
deve-se a sua infraestrutura avançada e localização estra-
tégica, que facilitam o escoamento da produção agrícola e
industrial, não apenas do Paraná, mas também de estados
vizinhos e países do Mercosul.
Paranaguá é o 13° maior município do Paraná. Além do
território continental, cinco comunidades insulares integram
o município e estão dispersas nas ilhas, onde tradições cai-
çaras são mantidas, como a pesca, o fandango e a Folia do
Divino. A Ilha dos Valadares é a única conectada ao continen-
te por uma ponte, por onde transitam pedestres e ciclistas.

11
Herança indígena, negra,
caiçara, portuguesa:
riqueza cultural de Paranaguá

12
Os bens culturais estão presentes em diversas expe-
riências nos grupos que compõem uma sociedade. Essas
experiências concedem valores que podem tornar espe-
ciais e significativos lugares, estruturas edificadas, obje-
tos, elementos naturais, celebrações, narrativas, memó-
rias, crenças, práticas sociais, conhecimentos e técnicas,
entre outros.
A dimensão temporal é fundamental para a preser-
vação dos bens culturais, que se caracterizam pela trans-
missão entre as gerações. O compartilhamento dos bens
culturais torna o patrimônio dinâmico: seus valores e sig-
nificados podem se modificar e adquirir novos aspectos
ao longo do tempo.
As conexões humanas estendem-se a grupos diver-
sos, que permanecem unidos por laços de proximidade, in-
teresses em comum e identidade cultural compartilhada
que ultrapassa fronteiras.
Isto é, nossa herança cultu-
ral pode ser local, regional
ou até mesmo global.
A herança cultural
sempre é coletiva, tem sig-
nificado para um grupo e
conecta pessoas. Esses ele-
mentos são essenciais para
agregar valor a um bem –
cultural –, e é por meio deles
que o grupo se identifica e
deseja ser reconhecido pe-
los outros.

13
O patrimônio cultural forma-se a partir de referên-
cias culturais que estão muito presentes na história
de um grupo e que foram transmitidas entre várias
gerações. Ou seja, são referências que ligam as pes-
soas aos seus pais, aos seus avós e aqueles que vi-
veram muito tempo antes delas. São as referências
que se quer transmitir às próximas gerações. (IPHAN,
2016, p. 7)*

A condição portuária da cidade de Paranaguá favo-


receu a constante miscigenação da sua população. A he-
rança cultural local, que deu origem aos povos caiçaras, é
diversificada e influenciada por guaranis mbya e carijós,
descendentes de portugueses, espanhóis, africanos, ale-
mães, italianos, entre outros.
Um exemplo da
influência das diversas
culturas locais é a reli-
gião. Assim como em
outras regiões do Brasil,
o sincretismo religioso
faz parte da vida dos
parnanguaras, e por
aqui mistura-se com a
própria história secular
da cidade. Templos ca-
tólicos, como a Igreja de
São Benedito, são tam-
bém pontos referen-
ciais para as religiões de
matriz africana.

A madeira de caixeta é utilizada para


a produção dos instrumentos de
fandango e do artesanato local.

14
*INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL
(BRASIL). Educação Patrimonial: inventários participativos. Manual
de aplicação / Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional;
texto, Sônia Regina Rampim Florêncio et al. – Brasília-DF, 2016.
15
Rota do Patrimônio Cultural
de Paranaguá

16
1. Alexandra.
2. Antiga Santa Casa de
Misericórdia.
3. Igreja de São Benedito
Glorioso.
4. Fontinha da Camboa.
5. Ilha dos Valadares – reduto
do fandango caiçara.
6. Santuário Estadual de Nossa
Senhora do Rocio de
Paranaguá.
7. Primeira Igreja Batista de
Paranaguá.
8. Catedral Diocesana de
Paranaguá.
9. Casa Monsenhor Celso e
Brasílio Itiberê.
10. Praça dos povos árabes.
11. Instituto Estadual de
Educação Dr. Caetano
Munhoz da Rocha.
12. Casa Elfrida Lobo.
13. Casa Cecy.
14. Clube Literário.
15. Instituto Histórico e
Geográfico de Paranaguá.
16. Museu de Arqueologia e
Etnologia da UFPR.
17. Aquário de Paranaguá.
18. Praça de Eventos Mário
Roque.
19. Mesquita.
20. Pelourinho.
21. Mercado do café.
22. Mercado do artesanato.
23. Rua da praia (R. General
Carneiro).
24. Antiga alfândega.
25. Porto Dom Pedro II.
26. Irmãos Rebouças.
27. Estação ferroviária.
28. Palacete Visconde de Nácar.
29. Santuário de São Francisco
das Chagas de Paranaguá.
30. Manguezal.
31. Rio Itiberê.
32. Ilha do Mel.
33. Gruta das Encantadas.
34. Fortaleza Nossa Senhora dos
Prazeres.
35. Farol das Conchas.
36. Ilha da Cotinga.
37. Igreja Nossa Senhora das
Mercês.
38. Opy – Casa de reza 17
Mbyá-Guarani.
Patrimônio
O que é?

Lugares – Paisagens naturais ou construídas podem


ser lugares especiais que fortalecem os significados e va-
lores de grupos e comunidades, sendo referências no dia a
dia ou em momentos especiais de determinado grupo.
Objetos – Os objetos contam histórias de comunida-
des e antepassados, revelando modos de vida, atividades
diárias e práticas culturais. Além disso, podem ter impor-
tância relacionada às celebrações, aos rituais, ao trabalho e
aos modos de vida.
Formas de expressão – A cultura de um grupo é ex-
pressa de várias maneiras, como por meio de linguagem
visual, tradições orais, danças e lendas. Essas expressões
comunicam a identidade cultural e podem ter significados
religiosos, artísticos, de lazer ou de resistência.
Celebrações – As celebrações são transmitidas de
geração em geração, mantendo sua essência e seu signi-
ficado, mesmo que mudem de local ou sofram alterações.
Cada celebração tem características únicas na preparação,
nas vestimentas, nas danças, nas comidas e nas encena-
ções, podendo ser festas cívicas, religiosas ou de Carnaval
ou comemorações de ciclos produtivos.
Saberes – São técnicas e conhecimentos usados para
produzir produtos ou serviços que são considerados re-
ferências culturais. Estão relacionados à interação com o
ambiente, às matérias-primas disponíveis, aos modos de
construir, às práticas tradicionais, à culinária, à música, ao
artesanato e à cura (benzeduras e pajelanças).
18
Patrimônio
Material

O patrimônio material abrange imóveis, lugares, ob-


jetos, documentos, móveis e paisagens. Além disso, pode
compreender cidades inteiras, sítios arqueológicos e co-
leções diversas. No Brasil, a proteção do patrimônio por
meio de leis e convenções foi introduzida com a aprova-
ção do Decreto Lei n° 25, de 1937, que estabeleceu o me-
canismo de tombamento federal.
O Setor Histórico de Paranaguá foi o segundo nú-
cleo urbano paranaense a ser tombado pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em
2009. No entanto, o reconhecimento e resguardo da pai-
sagem urbana já existia em nível estadual desde 1990,
bem como municipal, por meio da delimitação da área
no plano diretor da cidade de 1967.

Na realidade, a Paranaguá nos séculos XVIII e XIX é


ainda perfeitamente identificável no conjunto urbano.
Estendendo-se às margens do Itiberê, a cidade velha
tem sua paisagem própria, formada por pequena trama
de ruas e vielas tortuosas, onde se enfileiraram séries
de casas térreas e assobradas construídas no alinha-
mento, sem recuo. Sobressaem-se, no conjunto, algu-
mas edificações de maior vulto, portadoras no passa-
do, de papel importante na vida local, como as igrejas, a
antiga fonte, entre outras. (LYRA, 2006, p. 377)*

Paranaguá apresenta uma diversidade de bens culturais


materiais, como sítios arqueológicos, igrejas, a Fortaleza da
Ilha do Mel, o Colégio dos Jesuítas, imagens sacras e outros.
*LYRA, Cyro. I. C. de O; PARCHEN, Rosina C. A; LA PASTINA FILHO, José. Espirais do
tempo – bens tombados do Paraná. Curitiba: Secretaria de Estado da Cultura, 2006.
19
Patrimônio
Imaterial
Décadas após o
Decreto Lei n° 25, de 1937,
a legislação de tomba-
mento passou a abranger
a preservação de bens
imateriais, com a imple-
mentação do Decreto n°
3.551, de 2000. As referên-
cias culturais que se enquadram como patrimônio imate-
rial abrangem as celebrações e as formas de expressão e
saberes, como festas tradicionais para uma comunidade,
um dialeto específico, a forma de preparo de determinado
prato típico, entre outros. Em Paranaguá, por exemplo, o
Fandango Caiçara é considerado patrimônio imaterial.

20
1. Construtor de canoinhas de caixeta.
2. Violeiro construtor de instrumentos.
3. Cozinha caiçara: barreado, bijú
e as casas de farinha.
4. Cipózeira, artesanato local.
5. Pesca da tainha na Ilha do Mel.
6. Catadores de caranguejo
e pescadores artesanais.
7. Festa do Divino.
8. Dança da Balainha.
9. Capoeira.
10. Brincadeiras indígenas.
11. Grupo de músicos e coral da etnia
Mbyá-Guarani da Ilha da Cotinga.

21
Eu Sou o Fandango O fandango onde é que tem
Tem lá por São Paulo
O Fandango o que é? Em Morretes lá tem
É verso e é poesia Tem Guaraqueçaba...
É festejo e é fé E Parnanguara também
É música e dança
E batida de pé O fandango é pixirão
É puxada de rede
O fandango de onde vem Trabalho, união
Vem lá das arábias É gambar o arroz
Da Espanha ele vem num só multirão
É de Portugal
E Açores também... O fandango é tocar
A viola e o machete
O Fandango quem que faz E o adufo rufar
O caboclo sitiense É o som da rabeca
É quem lembra mais E o tamanquear
pescador, ilhéu
Na memória traz

22
O fandango é versador
É poesia e verso
Improvisador
Desafio de poeta
E de cantador

O fandango é dançar
vai-e-vem duma saia
E em roda girar
trançado dum oito...
e no chão desenhar

O fandango é tradição
É folclore parnanguara
Ritmo do litoral
E patrimônio caiçara.

Denni Capetta
(Paranaguá, 2020)

1. Boi Mamão.
2. Pau de fita.
3. Fandango.

23
A Preservação
do Patrimônio
Conhecer os instrumentos legais de proteção ao
patrimônio cultural é um direito e um dever de to-
dos. Por meio deles, podemos dialogar com o poder
público, buscando medidas eficazes para agregar di-
namismo e valorização à paisagem e identidade cul-
turais.
O conhecimento também é uma maneira de
ampliar a gama de referências culturais reconheci-
das. Ao compreender os mecanismos e conceitos pa-
trimoniais, podemos relacioná-los com nossas vivên-
cias comunitárias e aplicá-los no dia a dia.
Em Paranaguá, cidade mãe do Paraná, o patri-
mônio cultural é vivenciado na arquitetura, na gas-
tronomia, nas expressões, nos objetos, nos modos
de fazer, nos rituais e nas celebrações que exaltam a
diversidade de povos que deram origem ao parnan-
guara.
A cidade tem, por exemplo, dezenas de samba-
quis, considerados propriedades da União e prote-
gidos por legislação própria. Estes locais requerem
atenção e cuidado da população em prol de sua con-
servação. Os sambaquis representam os últimos ves-
tígios dos povos que viveram no Brasil milênios atrás.
Por isso, cuidar do nosso patrimônio é preservar
nossa história e exaltar nossas raízes!

24
25
A Preservação do
Marco Zero de Paranaguá
O prédio da Catedral Diocesana de Paranaguá é
tombado em nível estadual como patrimônio histórico
e artístico do Paraná, assim como em nível federal, por
pertencer ao conjunto do Centro Histórico de Paranaguá.
Trata-se, portanto, de um patrimônio parnanguara e de
todos os paranaenses!

26
O Projeto Marco Zero foi concebido a partir da
necessidade apresentada pela Diocese de Paranaguá,
responsável pela Catedral, que passou a vivenciar com
mais frequência, ao longo dos últimos anos, episódios
adversos em razão da dificuldade de conservação e
manutenção da estrutura física da igreja.
Os projetos técnicos e de restauro, iniciados em
2023 e que devem ser concluídos em dezembro de
2025, são documentos essenciais que embasam a pro-
posta de intervenção no prédio, que precisa ser apro-
vada para execução pelos órgãos competentes.

27
A Diocese de Paranaguá
A fé cristã chegou ao Paraná com os colonizadores,
na década de 1550. O legado da religião em Paranaguá
vai além da fé, e envolve relações sociais, desenvolvimen-
to regional, economia, calendário local e turismo em ní-
vel estadual e nacional.
A Paróquia de Nossa Senhora do Rosário de
Paranaguá foi estabelecida em 5 de abril de 1655, pelo
Prelado do Rio de Janeiro. Foi a primeira paróquia do es-
tado do Paraná e a mais meridional do Brasil na época de
sua criação, sendo símbolo do início da organização reli-
giosa formal na região.
Já a Diocese de Paranaguá foi estabelecida em 1959,
sendo formalmente desmembrada da Arquidiocese
de Curitiba. Hoje, a Diocese abrange 13 municípios,
sendo seis localizados na Região Metropolitana de
Curitiba e sete na região do Litoral Paranaense.
Os meses de setembro, outubro e novem-
bro são especiais para os fiéis, quando são
celebradas Nossa Senhora das Mercês,
Nossa Senhora do Rosário e Nossa
Senhora do Rocio, com novenas,
procissões, missas e festas popula-
res. Respectivamente, as come-
morações acontecem na Ermida
da Ilha da Cotinga, na Catedral
Diocesana de Paranaguá e no
Santuário Estadual de Nossa
Senhora do Rocio.

28
1. Igreja Nossa Senhora do Rosário do
Saco do Morro de Guaraqueçaba*.
2. Paróquia Bom Jesus dos Perdões
de Guaraqueçaba.
3. Paróquia São Pedro Apóstolo de
Matinhos.
4. Paróquia São José e São Sebastião
de Pontal do Paraná.
5. Igreja Nossa Senhora do Bom
Sucesso de Guaratuba.
6. Igreja de Bom Jesus do Saivá de
Antonina.
7. Igreja de São Benedito
de Antonina.
8. Santuário de Nossa Senhora
do Pilar de Antonina.
9. Paróquia Nossa Senhora do Porto
de Morretes.
10. Igreja de São Benedito de Morretes.
11. Igreja de São Sebastião do Porto de
Cima de Morretes.
12. Catedral Diocesana de Paranaguá.
13. Igreja do Glorioso São Benedito
de Paranaguá*.
14. Santuário de São Francisco das
Chagas de Paranaguá.
15. Santuário Estadual de Nossa
Senhora do Rocio de Paranaguá.

29
Atividades Educativas
1) As referências culturais fazem parte do nosso convívio
familiar e em comunidade. A partir dos conceitos e exemplos
de patrimônio que mencionamos nas páginas anteriores, lhe
convidamos para fazer uma reflexão sobre uma referência
cultural vivenciada por você e sua importância.

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2) Use os seus lápis de cor e a criatividade para colorir as
ilustrações abaixo:

31
32
Os piratas e o primeiro milagre
de Nossa Senhora do Rosário
Em março de 1718, um galeão espanhol carregado
de prata adentrou a baía de Paranaguá em busca de su-
primentos antes de seguir viagem para a Europa. Mas
um temido navio pirata, chamado “Louise”, estava no seu
encalço desde alto mar!
O capitão espanhol decidiu ancorar na parte inter-
na da Ilha da Cotinga, enquanto os piratas se instalaram
do lado externo da Ilha, prontos para atacar. Quando
perceberam a situação, os es-
panhois se aproximaram do
porto da Vila de Paranaguá.
A população ficou em pâ-
nico, temendo que os piratas
não só roubassem o cargueiro,
mas também invadissem a vila.
Desesperados, os mora-
dores se reuniram na igreja
matriz e começaram a rezar
o rosário, implorando
pela proteção da padro-
eira, Nossa Senhora do
Rosário. Foi então que o
céu escureceu e uma tem-
pestade se formou! Desprevenidos
e sem tempo para se esconder,
os piratas foram atingidos pela
fúria da natureza e naufragaram.

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