CAPITULO_TerritoriosInvisiveisBrasilAfricano
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REFERÊNCIA
ANJOS, Rafael Sanzio Araújo dos. Territórios Invisíveis do Brasil Africano: cartografias &
tensões sócio-espaciais nos terreiros religiosos. In: REGO, Nelson; KOZEL, Salete;
AZEVEDO, Ana Francisca (org.). Narrativas Geografias e Cartografias: para viver, é
preciso espaço e tempo. Porto Alegre: Compasso Lugar/Cultura; IGeo/UFRGS, 2020. v.
1, p. 39-64. DOI: 10.29327/519558.1-4. Disponível em:
https://lume.ufrgs.br/handle/10183/212906. Acesso em: 06 out. 2020.
NARRATIVAS
GEOGRAFIAS &
CARTOGRAFIAS
2020
Editoras
Rafael Sanzio Araújo dos Anjos
A Geografia e a Cartografia do mundo vai ser profundamente
modificada ao longo dos séculos XV - XIX, sobretudo pelos
novos territórios a ele incorporado, as “novas” fronteiras
constituídas e impostas e, a evolução significativa das técnicas, ou
seja, o horizonte geográfico das terras emersas vai ser ampliado de
forma significativa pelos novos encontros de culturas, identidades e
territorialidades. Neste sentido, a África e a Europa tiveram
interferencias marcantes no suporte e na manutenção da
estruturação do mundo nos últimos cinco séculos, particularmente
na formação do Novo Mundo, a América e no enrriquecimento e
fortalecimento da Europa moderna. O Brasil, por sua vez, apresenta
um posição particular neste cotexto global por ser a unidade política
contemporânea que registra na sua hitoriografia as maiores
estatísticas de importação forçada de distintos contingentes
populacionais africanos ao longo dos séculos XVI a XIX. É nesta
direção que preconizamos que se fazem necessário, interpretações
espacias mais apuradas dos deslocamentos dos povos africanos na
diáspora África-Brasil (do passado e no presente) e os processos
resultantes no território real e conflitante secularmente.
Um entendimento mais holístico da formação territorial do
Brasil passa por contemplar outras perspectivas de explicação das
distintas configurações espaciais e mosicos étnicos que se
sobrepuseram e se justapõem, constituíndo territórios distintos de
convivência com estratégias distintas, desde o seu início até o
contexto atual. Esta estrutura hsitórica básica, se mantém
justamente porque a ordem social dominante e o sistema econômico
operante preconizavam e continua apostando na inferiorização dos
distintos povos com os seus conhecimentos, saberes e tecnologias,
para justificar o processo de dominação e controle dos territórios
chamados oficiais, invisibilizando a "Geografia Real", ou seja, a
manutenção da hostilidade e da inferiorização, como fundamentos
básicos para manter os contextos de exploração, de inexistência
espacial e de manutenção em uma "zona de conforto"
institucionalizada de um seleto grupo da sociedade brasileira,
“branca” e escravocrata.
Neste sentido, a compreensão das demandas e complexidades
das dinâmicas da nossa sociedade e dos territórios usados são grandes
e existem poucas disciplinas mais bem colocadas do que a Geografia
e a Cartografia para auxiliar na representação e interpretação das
inúmeras indagações do passado e desse momento histórico. A
Geografia continua sendo o melhor instrumento de observação dos
tipos e das formas de uso do território, ou seja, do que aconteceu,
porque apresenta as marcas da historicidade espacial e do que está
acontecendo, isto é, tem registrado os agentes que atuam na
configuração espacial atual. Entendemos que o território usado é o
resultado de um processo espacial, se caracterizando como um fato
físico e social, político e econômico, categorizável e possível de
dimensionamento (ANJOS, 2009).
A Geografia com foco na matriz africana que tratamos nesta
oportunidade resgata um dos principais “Brasis invisíveis”
secularmente, ou seja, povos e territórios que existiram e se mantém
sobreviventes, mas de uma maneira marginal, não oficial na sua
plenitude. Esta “Geografia da Exclusão e do Conflito” é o que
questionamos aqui e propomos outras leituras e representações do
espaço geográfico, onde a complexidade conflitante da África
exitente-resistente no Brasil seja considerada devidamente. Os mapas
temáticos, por sua vez, são as representações gráficas do mundo real
e se firmam decisivamente como ferramentas eficazes nas
interpretações e leituras dos territórios, possibilitando revelar a
territorialidade das construções sociais e feições naturais do espaço e,
justamente por isso, podem mostrar os fatos geográficos na sua
plenitude. É sempre oportuno lembrar que um mapa não é o
território, mas que nos produtos da Cartografia estão as melhores
possibilidades de representação e leitura da história do território
(ANJOS, 2007).
É importante lembrar que o conceito geográfico de diáspora
tem haver com a referência de dispersão de uma população e das suas
matrizes culturais e tecnológicas. Ao longo da história podemos
identificar a construção de territórios pela mobilidades das
migrações, tanto de forma voluntária quanto das migrações forçadas.
Na África, podemos caracterizar alguns destes grandes movimentos
demográficos, a começar pela primeira diáspora, que corresponde ao
processo espacial milenar de povoamento e ocupação do próprio
continente e, posteriormente, para outras terras emersas do mundo.
O fenômeno espacial que abordamos, nesta oportunidade está
ligado aos séculos de deslocamentos, geralmente, denominado,
“tráfico negreiro” para a América (Novo Mundo), fruto de longos
períodos de migração forçada do continente africano, contexto
propulsor do sistema escravista e base fundamental do capitalismo
primitivo (ANJOS, 2014).
Neste paper buscamos auxiliar na ampliação dos
conhecimentos sobre as matrizes territoriais étnicas dos povos que
formaram e formam o Brasil, particularmente as referências
geográficas oriundas da África, em temporalidades distintas e com
foco no processo de exclusão sistêmica dos terreiros religiosos
afrobrasileiros.