Psicopatologia 01
Psicopatologia 01
Psicopatologia 01
DALGALARRONDO,P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais, 2ª ed. Porto Alegre Artmed, 2008
O campo da psicopatologia
• Esses fenômenos são marcados, por um lado, pela especificidade psicológica (“as
vivências dos doentes mentais possuem dimensão própria, genuína, não sendo apenas
‘exageros’ do normal”) e, por outro, por suas conexões complexas com a psicologia
normal (“o mundo da doença mental não é um mundo totalmente estranho ao mundo
das experiências psicológicas ‘normais’)
DALGALARRONDO,P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais, 2ª ed. Porto Alegre Artmed, 2008
Jaspers – Psicopatologia
vs. prática clínica
• Para Jaspers, a psicopatologia é uma ciência
básica que serve de auxílio à técnica clínica
(psiquiatria, psicologia clínica),
– Técnica = conhecimento aplicado a uma prática
profissional e social concretas
DALGALARRONDO,P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais, 2ª ed. Porto Alegre Artmed, 2008
Psicopatologia descritiva
vs psicopatologia
dinâmica
• A psicopatologia descritiva centra-se basicamente na forma das alterações psíquicas e na
estrutura dos sintomas – portanto, na experiência geral e “típica”
– Jaspers: “Principalmente as formas têm mais interesse para o psicopatologista. Os conteúdos parecem
comumente mais acidentais e inteiramente individuais”
DALGALARRONDO,P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais, 2ª ed. Porto Alegre Artmed, 2008
Psicopatologia categorial vs.
psicopatologia dimensional
• Doenças são categorias, “entidades nosológicas
completamente individualizadas, com contornos e
fronteiras bem-demarcados” (Dalgalarrondo, p. 37) -
tipos naturais
OU
DALGALARRONDO,P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais, 2ª ed. Porto Alegre Artmed, 2008
Modelo prototípico
• Uma terceira estratégia para organizar e classificar os transtornos é o
modelo prototípico (DSM-IV-TR, DSM-5)
BARLOW, D. H; DURAND, V. M.. Psicopatologia: Uma abordagem integrada. Tradução Noveritis do Brasil. 7a. ed.
São Paulo: Cengage Learning Nacional, 2016.
Exemplo: Transtorno depressivo
maior, DSM-5
• Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas 1.Humor deprimido na maior parte do dia
estiveram presentes durante o mesmo 2.Acentuada diminuição do interesse ou
período de duas semanas e prazer em todas ou quase todas as
representam uma mudança em relação atividades na maior parte do dia
ao funcionamento anterior; pelo menos 3. Perda ou ganho significativo de peso ou
um dos sintomas é (1) humor deprimido redução ou aumento do apetite
ou (2) perda de interesse ou prazer: 4.Insônia ou hipersonia
5.Agitação ou retardo psicomotor
6.Fadiga ou perda de energia
7. Sentimentos de inutilidade ou culpa
excessiva ou inapropriada (que podem ser
delirantes)
8. Capacidade diminuída para pensar ou se
concentrar, ou indecisão
9. Pensamentos recorrentes de morte (não
somente medo de morrer), ideação suicida
recorrente sem um plano específico, uma
tentativa de suicídio ou plano específico
para cometer suicídio
DSM-5 - Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre: Artes Médicas, 2014.
Exemplo: Transtorno depressivo
maior, DSM-5
• Os critérios diagnósticos incluem diversos sintomas não-essenciais
DALGALARRONDO,P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais, 2ª ed. Porto Alegre Artmed, 2008
Signo e
semiologia
• A semiologia é um campo mais amplo, que estuda “a vida
dos signos no seio da vida social” (Saussure, 1916)
KAPLAN, B. J.; SADOCK, V. A.. Compêndio de psiquiatria – Ciência do comportamento e psiquiatria clínica, 9ª
ed. Porto Alegre: Artmed, 2007
Síndromes e entidades
nosológicas em psicopatologia
• Ao se delimitar uma síndrome, “não se trata ainda da definição e
da identificação de causas específicas e de uma natureza
essencial do processo patológico” (Dalgalarrondo, p. 26)
DALGALARRONDO,P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais, 2ª ed. Porto Alegre Artmed, 2008
Ordenação dos
fenômenos
psicopatológicos
• Dalgalarrondo: classificação dos fenômenos humanos
em
– Fenômenos semelhantes em todas as pessoas (p. ex., medo
de animais perigosos, ansiedade frente a uma situação social
nova)
– Fenômenos parcialmente semelhantes, que apenas em parte
são semelhantes ao que o paciente vivencia (a tristeza é
apenas parcialmente semelhante ao humor deprimido)
O problema da classificação
• A observação sistemática e cuidadosa das manifestações
psicopatológicas implica em “classificar, interpretar e
ordenar o observado em determinada perspectiva,
seguindo certa lógica” (Dalgalarrondo, p. 29)
BARLOW, D. H; DURAND, V. M.. Psicopatologia: Uma abordagem integrada. Tradução Noveritis do Brasil. 7a. ed.
São Paulo: Cengage Learning Nacional, 2016.
O conceito de validade
• Robbins e Guze (1970) – uma entidade nosológica deve ter cinco conjuntos de validadores
– Descrição clínica
– Estudos laboratoriais
– Diferenciação de outros transtornos
– Estudos de desfecho
– Estudos familiares
ZACHAR, P.; JABLENSKY, A. “Introduction: The concept of validation in psychiatry and psychology”. In: P. ZACHAR, D. ST. STOYANOV, M
ARAGONA, A. JABLENSKY, eds., Alternative perspectives on psychiatric validation: DSM, ICD, RDoC, and Beyond, pp. 3-24. Oxford:
Oxford University Press, 2015.
Modelos uni- e multi-
dimensionais
• Afirmar que uma doença mental é causada por uma alteração no funcionamento do cérebro,
ou por condicionamento, ou por mecanismos de defesa inconscientes, é aceitar um modelo
linear um uni-dimensional, “que tenta traçar as origens do comportamento a uma única causa”
(Barlow & Durand, p. 29)
• Mesmo os modelos que afirmam se opor ao modelo biomédico tem essa característica
BARLOW, D. H; DURAND, V. M.. Psicopatologia: Uma abordagem integrada. Tradução Noveritis do Brasil. 7a. ed.
São Paulo: Cengage Learning Nacional, 2016.
Contribuições das
neurociências para a
psicopatologia
• Um entendimento do funcionamento do cérebro é necessário para entendermos o
comportamento, emoções, e processos cognitivos, e como se alteram nos transtornos.
BARLOW, D. H; DURAND, V. M.. Psicopatologia: Uma abordagem integrada. Tradução Noveritis do Brasil. 7a. ed.
São Paulo: Cengage Learning Nacional, 2016.
Influências psicossociais sobre
estrutura e função do
• Aencéfalo
interação entre encéfalo e ambiente é de mão dupla, e o
efeito do ambiente sobre o cérebro é relevante para os
tratamentos psicológicos
• Uma análise cuidadosa dos processos cognitivos pode produzir previsões mais
precisas do comportamento
Influências da psicologia afetiva
na psicopatologia
• Diversos transtornos tem um componente emocional, central ou não
• É difícil definir o que é uma “emoção”, mas alguns autores afirmam ser uma tendência para a
ação (tendência a se comportar de determinada forma, eliciada por um evento externo e um
estado de sentimento, e acompanhada de uma resposta fisiológica característica)
• As emoções são eventos de duração curta, e quase sempre atrelados a um evento externo; o
humor é um período mais persistente de afeto ou emocionalidade
2) no que desordens mentais diferem quantitativa e 8) qual é a eficácia dos métodos do "curandeiro"
qualitativamente entre nativos de populações estabilizadas tradicional, no tratamento do doente mental, nos
através de muitas gerações e os migrantes recentes?; países em desenvolvimento?;
3) em que medida mudanças políticas e culturais - rotura das 9) a evolução para a cura espontânea é diferente em
tradições familiares ou de outras instituições sociais, a
países diferentes?;
industrialização e a urbanização - afetam negativamente a
saúde mental?;
10) quais os métodos psicoterápicos ocidentais
4) em que extensão diferenças de crença influem no conteúdo aplicáveis às populações nativas nos países em
de manifestações psico-patológicas?; desenvolvimento?;
• Efeitos patogênicos: referem-se a situações nas quais a cultura é um fator causal direto na formação da doença
(p. ex., ideias e crenças culturais contribuem para o estresse, que por sua vez produz patologia)
– A síndrome que ocorre tende a ser relacionada à cultura
• Efeitos seletivos: referem-se à tendência de algumas pessoas, face a acontecimentos vitais, de selecionar certos
padrões de reação culturalmente determinados que resultam na manifestação de certos transtornos
• Efeitos plásticos: referem-se à forma como a cultura contribui para a modelagem das manifestações da patologia
(p. ex., conteúdo de sintomas)
• Efeitos elaboradores: ainda que certas reações comportamentais sejam universais, podem tornar-se exageradas
em algumas culturas através do reforçamento cultural (p. ex., suicídio no Japão)
• Efeitos facilitadores: referem-se à incidência diferencial de determinados transtornos em culturas diferentes (p.
ex., transtornos alimentares nas sociedades ocidentais pós-industriais)
• Efeitos reativos: referem-se à maneira como os membros de uma cultura entendem e reagem a um transtorno
TSENG, W.-S.. “Culture and psychopathology: A general view”, In: BHUGRA, D.; BHUI, K. (Eds.), Textbook of Cultural
Psychiatry, p. 95-112. Cambridge: Cambridge University Press, 2007
Formas diferentes afetam
síndromes diferentes
Determinantes Síndromes
sócio-
ligadas à cultura
culturais
Transtornos
“epidêmicos”
psicológicos
Abuso de substâncias
Transtornos “maiores”
Determinantes
biológicos Transtornos orgânicos
CASO JUDY
Exemplo: O caso de Judy (Barlow &
Durrand)
• Judy, uma garota de 16 anos, foi levada à nossa clínica para tratamento de transtornos
de ansiedade após crescentes episódios de desmaio. Cerca de dois anos antes, em
sua primeira aula de biologia, o professor mostrou um filme sobre a dissecação de uma
rã para exemplificar diversos aspectos da anatomia.
• Foi um filme com imagens vívidas de sangue, tecidos e músculos Mais ou menos na
metade da exibição, Judy se sentiu um pouco zonza e deixou a sala. Mas as imagens
não saíam da sua mente. Ela continuou a ser atormentada por elas e, ocasionalmente,
sentia-se nauseada. Começou a evitar situações nas quais poderia ver sangue ou
ferimentos. Parou de ver revistas que poderiam trazer fotos de violência e sangue.
Começou a achar difícil olhar carne vermelha crua, ou até mesmo curativos, porque eles
traziam lembranças das imagens de sangue que a amedrontavam. Por fim, qualquer
coisa que seus amigos ou parentes lhe diziam que trazia imagem de sangue ou
ferimento fazia com que Judy tivesse a sensação de desmaio. A situação ficou tão séria
que, se um de seus amigos gritasse “corta essa!”, ela se sentia fraca.
BARLOW, D. H; DURAND, V. M.. Psicopatologia: Uma abordagem integrada. Tradução Noveritis do Brasil. 7a. ed.
São Paulo: Cengage Learning Nacional, 2016.
Exemplo: O caso de Judy (Barlow &
Durrand)
• Seis meses antes de visitar a clínica, Judy desmaiou de fato quando
inevitavelmente viu alguém ensanguentado. Nem o médico da família nem
outros médicos conseguiam achar nada de errado com ela. Quando foi
encaminhada à nossa clínica, ela desmaiava de cinco a dez vezes por
semana, frequentemente durante suas aulas. É óbvio que isso era
problemático para ela e que a atrapalhava na escola; cada vez que Judy
desmaiava, os outros estudantes se aglomeravam ao redor, tentando ajudá-
la, e a aula era interrompida. Pelo fato de ninguém ter encontrado nada de
errado, o diretor concluiu que ela estava sendo manipuladora e a
suspendeu, mesmo sendo uma aluna excelente.
BARLOW, D. H; DURAND, V. M.. Psicopatologia: Uma abordagem integrada. Tradução Noveritis do Brasil. 7a. ed.
São Paulo: Cengage Learning Nacional, 2016.
Fobia específica – DSM-
5
A)Medo ou ansiedade acentuados acerca de um objeto ou situação (p. ex., voar, alturas, animais, tomar uma injeção,
ver sangue). Nota: Em crianças, o medo ou ansiedade pode ser expresso por choro, ataques de raiva, imobilidade ou
comportamento de agarrar-se.
B) O objeto ou situação fóbica quase invariavelmente provoca uma resposta imediata de medo ou ansiedade.
C) O objeto ou situação fóbica é ativamente evitado ou suportado com intensa ansiedade ou sofrimento.
D)O medo ou ansiedade é desproporcional em relação ao perigo real imposto pelo objeto ou situação específica e ao
contexto sociocultural.
E) O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente com duração mínima de seis meses.
F)O medo, ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social,
profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
G)A perturbação não é mais bem explicada pelos sintomas de outro transtorno mental, incluindo medo, ansiedade e
esquiva de situações associadas a sintomas do tipo pânico ou outros sintomas incapacitantes (como na agorafobia);
objetos ou situações relacionados a obsessões (como no transtorno obsessivo-compulsivo); evocação de eventos
traumáticos (como no transtorno de estresse pós-traumático); separação de casa ou de figuras de apego (como no
transtorno de ansiedade de separação); ou situações sociais (como no transtorno de ansiedade social).
DSM-5 - Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre: Artes Médicas, 2014.
O que causou a fobia de
Judy?
• Influências comportamentais?
• Influências biológicas?
• Fatores emocionais?
• Influências sociais?
• Influências de desenvolvimento?