Pirandello
Pirandello
Pirandello
Pirandello tornou-se famoso graças ao teatro que chama de “teatro do espelho”, porque nele retrata a vida real, aquela nua, amarga, sem a máscara da
hipocrisia e das conveniências sociais, de modo que o espectador possa se ver como em um espelho, da forma como é realmente, e torna-se melhor. A
crítica o define como um dos grandes dramaturgos do século XX. Ele escreveu muitas obras, algumas das quais reelaborações dos seus próprios contos,
que se dividem de acordo com o estágio de maturidade do autor:
Primeira fase - O teatro siciliano: Na fase do Teatro Siciliano, Pirandello é iniciante e ainda tem muito o que aprender. Assim como as outras, apresenta
várias características relevantes; alguns textos foram escritos inteiramente em siciliano porque o autor o considerava mais vivo do que o italiano e capaz de
expressar maior aderência à realidade.
Segunda fase - O teatro humorístico / grotesco: À medida que o autor distancia-se do verismo e do naturalismo, e aproxima-se do decadentismo, tem-se
início a segunda fase com o teatro humorístico. Pirandello apresenta personagens que comprometem as certezas do mundo burguês: ao introduzir a versão
relativista da realidade, invertendo os modelos habituais de comportamento, pretende expressar a dimensão autêntica da vida para além da máscara.
Terceira fase - O teatro no teatro (metateatro):Na fase do “teatro no teatro”, as coisas mudam radicalmente. Para Pirandello, o teatro deve falar também aos
olhos e não somente aos ouvidos, e para isso ele resgatará uma técnica teatral de Shakespeare, o cenário múltiplo, onde se pode ter, por exemplo, uma casa
dividida em que é possível visualizar várias cenas feitas em várias salas contemporaneamente; além disso, o “teatro no teatro” permite assistir ao mundo
que se transforma no palco cênico. Pirandello também abole o conceito de quarta parede, que é a parede transparente que se encontra entre os atores e o
público: nessa fase, de fato, Pirandello tende a envolver o público que não é mais passivo, mas que reflete a própria vida naquela representada pelos atores
em cena. .Nesse período, Pirandello teve um encontro decisivo com um grande autor teatral italiano do século XX: Eduardo De Filippo. Como
consequência, além do nascimento de uma amizade que durou três anos, foi o que o autor napolitano sentiu, como aconteceu no passado com o siciliano, a
necessidade de se afastar do "regionalismo" da arte verista, ainda que conservando, no entanto, suas tradições e influências.
Quarta fase - O teatro dos mitos: Apenas três obras da produção de Pirandello são associadas a essa fase:
La nuova colonia;
Lazzaro;
I giganti della montagna.
Escrita em 1921, Seis personagens à Procura de Autor relata um ensaio de teatro.
O ensaio é invadido por seis personagens que, rejeitadas por seu criador, tentam
convencer o diretor da companhia a encenar suas vidas.
No início, o diretor fica perturbado por ter seu ensaio interrompido, mas aos
poucos começa a interessar-se pela situação inusitada que se apresenta diante de
seus olhos. As personagens o convidam a encenar suas vidas, mostrando que
mereciam ter uma chance. Com isso, acabam convencendo-o a tornar-se autor.
Seis personagens do teatro. Assim, o peso da peça divide-se entre a narrativa em si, e os aspectos
paratextuais, que ganham a cena.
a procura de um
autor
Diretor e personagens discutindo constroem também uma querela de formas de
fazer teatro. As personagens, tentando mostrar ao diretor que suas vidas são reais,
em relação ao palco, e ele defendendo a relatividade do que está sobre o palco,
toma como parâmetro a vida "real". A peça entra, assim, em um outro aspecto:
torna-se um estudo metalinguístico do teatro, a arte discutindo a si mesma. A
forma de representação proposta pelo diretor não é aceita pelas personagens. Não
querem ser representadas pelos atores da companhia. Afinal, como alguém
poderia representar melhor a vida de uma personagem do que ela própria?