Claro Enigma (1951)
Claro Enigma (1951)
Claro Enigma (1951)
Poesia
Conquistas da 1ª geração asseguradas: maior liberdade em
relação à forma e ao conteúdo
Vale lembrar: 1ª geração precisou ser mais
contundente para romper com a tradição europeia e
parnasiana
Temática: “estar no mundo”
Inquietações das mais diversas ordens, como social,
religiosa, filosófica, amorosa
Carlos Drummond de Andrade
1902 (Itabira do Mato de Dentro - MG) – 1987 (Rio de
Janeiro – RJ)
Expulso do internato jesuíta por “insubordinação
mental”;
Formado em Farmácia;
Professor de Geografia e Português
Revista Antropofagia: “No meio do caminho”;
Redator, diretor do DPHAN, tradutor;
Chefe de gabinete de ministro durante do Estado
Novo;
Contos, crônicas, poesia – obra traduzida em cerca
de 15 línguas.
Análise crítica da obra: Eu X mundo
Eu maior que o mundo: poesia irônica
Eu menor que o mundo: poesia social
Eu igual ao mundo: poesia “metafísica”
(Profº Affonso Romano de Sant’Anna)
Eixos temáticos – por Drummond,
em Antologia Poética, 1962
• Um eu todo retorcido (indivíduo gauche)
• Uma província: esta (terra natal)
• A família que me dei (memória)
• Cantar de amigos
• Na praça de convites (choque social)
• Amar-amaro
• Poesia contemplada (metalinguagem)
• Uma, duas argolinhas (poesia lúdica
• Tentativa de exploração (e explicação) do estar-
no-mundo
Claro Enigma (1951)
A visão trágica e a experiência de ser
brasileiro
Contextos:
Mundial Nacional
Pós-Segunda Guerra Governo Dutra (1946 – 1951):
Governo reacionário e
Mundial (1939-45)
“entreguista”
Luto pela derrota da Radicalização do PCB
utopia social Anos 50: crescente divisão do
Guerra Fria trabalho intelectual
Poesia: formalismo e
Rigidez ideológica
reclassicização
(capitalismo vs comunismo)
Sociedade de massas: Indústria
Cultural
Entre o esteticismo estéril e o dogmatismo
partidário
Isso, é certo, não fez com que Drummond, por força
mesma da ironia e da consciência crítica reveladas mais
atrás, incorresse no convencionalismo da reclassicização
do verso – Vagner Camilo
Superação da distinção entre “arte engajada” e “arte pela
arte”
“Para me limitar à fase de que se ocupa o presente
trabalho, é possível afirmar que a atitude
conscientemente oscilante, como estratégia mesma de
combate ao dogmatismo partidário, encontra-se
formalmente transposta na lírica do período através do
emprego recorrente do oxímoro, a começar pelo título do
livro de 1951.” – Vagner Camilo
Dedicatória
• Claro Enigma é dedicado a Américo Facó (1885 – 1953),
intelectual e poeta brasileiro, por sua independência de
espírito.
Epígrafe
• “Os acontecimentos me entediam” (Paul Valéry)
• Pessimismo devido à perda do ideal revolucionário ligado a um
projeto futuro (socialista), que impulsionava a lírica de combate
dos anos 40.
• O tédio não é sinônimo de conformismo e evasão da realidade.
• No livro, a melancolia se apresenta como uma força de criação
literária: resistência e crítica
• Melancolia: figuras etéreas (universo estelar) e vazio.
Ruptura na obra de Drummond
• Retomada das formas poéticas tradicionais (sonetos e
versos regulares)
• Abandono do engajamento político-partidário
• Desilusão e espírito crítico
• Angústia: esvaziamento radical de sentido (ausência
de foco existencial)
• Ser para a morte (transitoriedade da vida)
“Lobo e Cão”
• Constelações: baixada da noite
• Pressentimento de morte
• Ameaças: risco de panfletagem política/risco de
quietismo (formalismo)
“Dissolução”: desengano e falta de perspectivas (não há utopia social)
Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada. E aquele agressivo espírito
Pois que aprouve ao dia que o dia carreia consigo,
findar, já não oprime. Assim a paz,
aceito a noite. destroçada.
E mereço esperar mais do que os outros, eu? “Orfeu”: mitologia grega - lira (sedução
Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti. dos monstros)
Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu, Objeto direto pleonástico
a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Noite. Certo
muitos são os astros.
Zumbido
Mas o edifício
de besouro. Motor
barra-me a vista.
arfando. O edifício barra-me
a vista.
Quis interpretá-lo.
Valeu? Hoje Assim ao luar é mais humilde.
barra-me (há luar) a vista. Por ele é que sei do luar.
Não, não me barra
a vista. A vista se barra
Nada escrito no céu,
a si mesma.
sei.
Mas queria vê-lo.
O edifício barra-me
a vista.
“Aspiração”: a “indiferença” inconformada
Já não queria a maternal adoração
que afinal nos exaure, e resplandece em pânico,
tampouco o sentimento de um achado precioso
como o de Catarina Kippenberg aos pés de Rilke.
(...)
• Manuel Bandeira
• Mário Quintana
• Homenagens a
• Mário de Andrade
Clique no í
IV- Selo de Minas:
• Ligação com Minas Gerais
• Concepção do transitório que preside o livro
Clique no ícone para adic
“Museu da Inconfidência”
São palavras no chão • Museu marcado pelo esquecimento
E memórias nos autos. • Culpa remoída pela barbárie contra
As casas inda restam, a vida e os ideais libertários dos
Os amores, mais não. inconfidentes
ESMERIL PISSARRÃO
CANDONGA CONCEIÇÃO
(...)
Cliq
II (...)
V
Mais que todos deserdamos • Conflito trágico:
deste nosso oblíquo modo inadaptação do — Não judie com o menino,
um menino inda não nado menino ao contexto
(e melhor não fora nado)
compadre.
familiar (regime — Não torça tanto o pepino,
que de nada lhe daremos
agrário patriarcal) major.
sua parte de nonada
e que nada, porém nada — Assim vai crescer mofino,
o há de ter desenganado. • Ancestrais: divindades sinhô!
oraculares – poder dos
(...)
patriarcas rurais, que (...)
III decidiam o destino
dos familiares. VI
Este figura em nosso
pensamento secreto.
Num magoado alvoroço Os urubus no telhado:
o queremos marcado
a nos negar; depois • O destino do menino se vincula ao
de sua negação destino coletivo da região (declínio
nos buscará. Em tudo completo)
será pelo contrário
seu fado extra-ordinário.
Vergonha da família
que de nobre se humilha
na sua malincônica
tristura meio cômica,
Cliq
VII
V- Lábios cerrados:
• A permanência dos mortos nas pessoas vivas
• Fragilidade da condição humana
• “Eternidade negativa”
Cliq
toda uma realidade que transcende assim me disse, embora voz alguma
a própria imagem sua debuxada*** ou sopro ou eco ou simples percussão
no rosto do mistério, nos abismos. atestasse que alguém, sobre a montanha,
A bela Tétis, soberana das ninfas da Ilha dos Amores, concede a visão secreta
e total do universo para Vasco da Gama.
“A Máquina do Mundo”: A recusa da revelação
• Relação com o poema “Elegia 1938”
que se entrelaça no meu próprio choro, dor de tudo e de todos, dor sem nome,
e compomos os dois um vasto coro. ativa mesmo se a memória some,
dor primeira e geral, esparramada, dor dos bichos, oclusa**** nos focinhos,
nutrindo-se do sal* do próprio nada, nas caudas titilantes*****, nos arminhos, Pelagens
dor do espaço e do caos e das esferas, Nem existir é mais que um exercício
do tempo que há de vir, das velhas eras! de pesquisar de vida um vago indício,
Não é pois todo amor alvo divino, a provar a nós mesmos que, vivendo,
e mais aguda seta que o destino? estamos para doer, estamos doendo.
{
Não é motor de tudo e nossa única Mas, na dourada praça do Rosário, • Câmara sepulcral
fonte de luz, na luz de sua túnica? foi-se, no som, a sombra. O columbário • Habitação para
pombas
O amor elide* a face... Ele murmura já cinza se concentra, pó de tumbas,
algo que foge, e é brisa e fala impura. já se permite azul, risco de pombas.
*Eliminar **Manche
“Relógio do Rosário”: A iluminação à beira do túmulo