Laraia Cultura
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Laraia Cultura
conceito
Antropológico
Roque de Barros Laraia
1. Determinismo Biológico
São velhas e persistentes as teorias que atribuem capacidades específicas inatas a
"raças" ou a outros grupos humanos. Muita gente ainda acredita que os nórdicos são mais
inteligentes do que os negros; que os alemães têm mais habilidade para a mecânica; que os judeus
são avarentos e negociantes; que os norte-americanos são empreendedores e interesseiros; que os
portugueses são muito trabalhadores e pouco inteligentes; que os japoneses são trabalhadores,
traiçoeiros e cruéis; que os ciganos são nômades por instinto, e, finalmente, que os brasileiros
herdaram a preguiça dos negros, a imprevidência dos índios e a luxúria dos portugueses.
Nesse sentido, os antropólogos estão totalmente convencidos de que as diferenças
genéticas não são determinantes das diferenças culturais. Segundo Felix Keesing, ”não existe
correlação significativa entre a distribuição dos caracteres genéticos e a distribuição dos
comportamentos culturais. Ou seja, qualquer criança humana pode ser educada em qualquer
cultura, se for colocada desde o início em situação conveniente de aprendizado. Em outras
palavras, se transportarmos para o Brasil, logo após o seu nascimento, uma criança sueca e a
colocarmos sob os cuidados de uma família sertaneja, ela crescerá como tal e não se diferenciará
mentalmente em nada de seu irmãos de criação. Ou ainda, se retirarmos uma criança xinguana de seu
meio e a educarmos como filha de uma família de alta classe média de Ipanema, o mesmo
acontecerá: ela terá as mesmas oportunidades de desenvolvimento que os seus novos irmãos.
Dimorfismo sexual
A espécie humana se diferencia anatômica e fisiologicamente através do
dimorfismo sexual. No entanto, é falso argumentar que as diferenças de comportamento
existentes entre pessoas de sexos diferentes sejam determinadas biologicamente. As
antropologias têm demonstrado que muitas atividades atribuídas às mulheres em uma cultura
podem ser atribuídas aos homens em outra.
A verificação de qualquer sistema de divisão sexual do trabalho mostra que ele é
determinado culturalmente e não em função de uma racionalidade biológica. Por exemplo,
o transporte de água para a aldeia é uma atividade feminina no Xingu (como nas favelas
cariocas). Carregar cerca de vinte litros de água sobre a cabeça implica, na verdade, um esforço
físico considerável, muito maior do que o necessário para o manejo de um arco, arma de uso
exclusivo dos homens. Até muito pouco tempo, a carreira diplomática, o quadro de funcionários
do Banco do Brasil, entre outros exemplos, eram atividades exclusivamente masculinas. O
exército de Israel demonstrou que a sua eficiência bélica continua intacta, mesmo depois da
maciça admissão de mulheres soldadas.
História cultural de cada grupo
Os dados científicos de que dispomos atualmente não
confirmam a teoria segundo a qual as diferenças genéticas
hereditárias constituiriam um fator de importância primordial diante
as causas das diferenças que se manifestam por meio das culturas e
das obras das civilizações dos diversos povos ou grupos étnicos. Ao
contrário, eles nos informam que essas diferenças se explicam,
antes de tudo, pela história cultural de cada grupo. Os fatores que
tiveram um papel preponderante na evolução do homem são a
sua faculdade de aprender e a sua plasticidade. Esta dupla
aptidão é o apanágio de todos os seres humanos. Ela constitui, de
fato, uma das características específicas do Homo sapiens.
2. Determinismo Geográfico
O determinismo geográfico considera que as diferenças do ambiente físico
condicionam a diversidade cultural. São explicações existentes desde a Antigüidade, do tipo
das formuladas por Pollio, Ibn Khaldun, Bodin e outros, como vimos anteriormente.
Estas teorias, que foram desenvolvidas principalmente por geógrafos no final do
século XIX e no início do século XX, ganharam uma grande popularidade. Exemplo
significativo desse tipo de pensamento pode ser encontrado no livro Civilization and Climate
(1915) de Ellsworth Huntington, no qual o autor formulou a relação entre a latitude e os centros
de civilização, considerando o clima como um fator importante na dinâmica do progresso.
A partir de 1920, antropólogos como Boas, Wissler, Kroeber, entre outros,
refutaram este tipo de determinismo e demonstraram que existe uma limitação na
influência geográfica sobre os fatores culturais. E mais: que é possível e comum existir uma
grande diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de ambiente físico.
Domínio da natureza