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Besta (arma)

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Besteiro, desenho por Viollet-le-Duc
Desenho antigo de uma besta chinesa.

A besta (pronuncia-se bésta)[1][2][3] ou balestra é uma arma com a aparência de uma espingarda, com um arco de flechas acoplado no lado oposto da coronha, accionada por gatilho, que projecta setas (ou dardos) similares a flechas, porém mais curtos. Ela foi bastante usada no século XVI e chegou a coexistir com e depois foi substituída pelos mosquetes, primeiras armas de fogo. Hoje, continua a ser fabricada, pois é usada por caçadores em algumas partes do mundo. Alguns modelos sofisticados também são utilizados por forças especiais. A palavra besta teria sido sincopada da italiano balestra, que por sua vez deriva do latim tardio ballistra.

O suíço Guilherme Tell, para se livrar da prisão, teve que atirar uma flecha numa maçã colocada sobre a cabeça do próprio filho. Tratava-se de uma ordália, ou prova divina de sua inocência (caso acertasse) ou culpa (se errasse), no conceito do direito medieval europeu.

Acredita-se que a besta foi criada muito antes da era cristã pelos chineses. Desde o século III a.C., que a besta (nǔ, 弩) está totalmente desenvolvida e o seu uso difundido na China[4]. Encontraram-se em Xi'an bestas entre os soldados do exército de terracota no túmulo do imperador Qin Shi Huangdi (260 a.C.-210 a.C.)[5]. Leonardo da Vinci chegou a desenhar a besta, porém não a fabricou. As verdadeiras origens desta arma são controversas e de difícil conclusão já que muitos povos a utilizaram em pequena e grande escala. A besta tinha diversas variações e tamanhos para diferentes projécteis que podiam ser atirados sendo os mais comuns as próprias flechas e o quadradelo de aço que continha uma ponta semelhante a uma pirâmide que facilitava a entrada na carne ou armadura inimiga.

A besta chinesa tem uma variante bastante interessante, a que foi chamada besta de repetição, e que consistia em uma única arma capaz de lançar de cinco a dez projécteis de uma só vez, mas era uma arma para grandes exércitos pois necessitava de, no mínimo, dois homens para carregá-la e armá-la (um homem sentado no chão esticando a corda com os pés para o alto enquanto o segundo carregava e orientava para a execução do tiro). Era uma arma para grandes quantidades de tiros e muito útil contra exércitos, onde eram atiradas milhares de flechas no ar que caiam sobre o campo inimigo, que podia estar até 350 metros do tiro e, após a violência do ataque das bestas, podiam fazer os ataques por terra já com os exércitos inimigos praticamente derrotados pelo imenso poder da rajada desta arma.

Cavaleiro francês do século XVI armado com uma besta.

Já havia registos desta arma na Roma Antiga antes e depois da era cristã, como arma de caça ou de guerra. Na Europa, também há vários registos, inclusive na Guerra dos Cem Anos onde os besteiros genoveses deram apoio à França contra a invasão da Inglaterra, porém foi mal sucedida pela fraca estratégia usada pelos franceses e pelo baixo número de guerreiros que utilizavam a arma. Nesta época, entre os século XIV e século XVI, as bestas tinham um alcance considerável, entre 230 e 250 metros de distância, e pesavam cerca de cinco a sete quilogramas enquanto o arco longo inglês tinha um alcance entre 180 e 200 metros, o que apresentava vantagem da besta, porém a mesma tinha um intervalo muito grande entre os disparos: o besteiro tinha de colocar um novo quadradelo na haste, enrolar, então, a corda com uma alavanca, que se encontrava na parte anterior da arma, até ao ponto certo para o novo tiro, o que, além de requerer muita força física, ainda demorava cerca de dois a cinco minutos, tempo de que não se tinha na guerra contra os arqueiros ingleses que eram apelidados de Arlequim, que significa demónio, e os mesmos conseguiam atirar facilmente cerca de cinco flechas no curto espaço de vinte segundos; além disto, o besteiro sempre estava acompanhado de um segundo homem que carregava um pavês que é um escudo comprido feito de carvalho e salgueiro que era usado para defender o besteiro dos ataques de flechas inimigas nos momentos em que ele estava carregando sua besta que era sempre feito atrás deste escudo. A besta tinha uma força suficiente para atravessar a maioria das armaduras da época como cotas de malha e algumas armaduras leves de placas a uma boa distancia, porém havia outras bestas chamadas leves que não tinham o mesmo alcance e potência, sendo usadas principalmente na caça.

Uma variação da besta de repetição chinesa foi criada na Europa por volta do século XIII, consistia numa besta maior com cerca de quinze a 25 quilos que continha um encaixe para até sete quadradelos que eram atirados com um pequeno intervalo de dez a quarenta segundos o que a tornava bastante preciosa. Porém ficou obsoleta logo em seguida devido ao peso e ao grande tamanho que dificultava muito o transporte e uso da mesma que demorava também de cinco a dez minutos para recarregar, tinha muitos defeitos mecânicos, emperrava muito facilmente, tinha um alcance muito pequeno menos de trinta metros, necessitava de dois ou mais ajudantes para transportar, apontar, recarregar etc e pouca força contra as armaduras da época, foi desconsiderada logo após a criação como muitas armas, virou uma arma mais de decoração para ficar pendurada em paredes ou pequenas competições de tiro ao alvo não sendo uma arma para batalhas ou guerras pelo seu desempenho ruim e dificuldade de uso e transporte.

A besta de repetição teve uma nova chance no século XVII com a melhoria considerável da mecânica e dos ferreiros, porém foi novamente descartada pelo auge das armas de fogo que estavam bastante avançadas comparadas com as primeiras criadas, sendo novamente apenas produto de decoração ou competições e caça.

Informações complementares

Besta
  • A besta tem esse nome por causa da proibição papal de utilizá-la contra outro cristão. Em regiões onde essa ordem não foi ouvida, ela tem outros nomes (como o inglês crossbow, literalmente "arco em cruz").
  • No armeiro anexo ao Arsenal de Veneza, está exposto um belo e raríssimo exemplar da besta-garrucha.
  • Os projécteis das Besta eram dardos comuns, mas muito frequentemente, eram ainda flechas de cabeça quadrangular (como o ferro em pirâmide) ou botão, com pontas e excrescências; algumas vezes, também, eram lançadas setas incendiárias.
  • Naturalmente, cada besta era carregada de maneira diferente e, assim havia vários tipos dessa arma.
  • A besta de gancho é assim definida por causa do gancho pendente do pulso do besteiro. Com isso ele puxava a corda até conseguir esticá-la o quanto necessário.
  • As manuais ou portáteis, que eram carregadas e manejadas por um só homem, a pé ou a cavalo, distinguiam-se das "pesadas", que eram posta sobre bancos ou cavaletes, para a defesa das muralhas ou para serem usadas nos campos de batalha.
  • A arma é dotada, ainda de uma espécie de coronha que o besteiro apoia ao encontro de ombro, quando faz a mira e, na extremidade oposta, de um estribo, ou gancho, para poder prender a besta à sela ou à cintura, e facilitar o porte da arma.
  • Durante um certo período, bestas e arcabuzes figuraram lado a lado até que, em 1630, num edital de Urbino, aparece a última e melancólica referência à arma que assinalara uma época com a qual estava destinada a desaparecer.
Besta gigante desenhada por Da Vinci.
  • Durante o Segundo Concílio de Latrão, foi emanado um dispositivo, mediante o qual ficou severamente proibido o uso da Besta entre adversários cristãos, ao passo que continuava permitido, de parte destes, contra os infiéis.
  • Tal proibição foi tranquilamente ignorada por Ricardo Coração de Leão, que dotou os seus exércitos de infantaria, em 1198, infringindo, também, o "breve" (ato pontifício) de Inocêncio III, que apoiava as precedentes providências, definindo como "micidial" (mortífera) a arma em questão.
  • As bestas utilizadas pelos chineses, na maioria das vezes, eram feitas de prata.
  • A Besta Gigante sobre Rodas foi um projeto de Leonardo da Vinci. Ele chegou a desenhar a besta, porém não a fabricou. A besta gigante era um desenho de tanque de guerra futurista, só que se usavam como munição flechas ou similares.

Referências

  1. Deve-se ler com o "e" aberto: bésta: priberam (Porto Editora). «Dicionário Priberam da Língua Portuguesa». Consultado em 4 de Março de 2010 
  2. Ciberdúvidas da língua portuguesa. «Besta (animal) 'vs.' besta (arma)». Consultado em 12 de Março de 2010 
  3. Sua língua (Cláudio Moreno). «"O" aberto ou fechado?». Consultado em 12 de Março de 2010 
  4. computersmiths.com. «Chinese Invention of the Crossbow» (em inglês). Consultado em 12 de Março de 2010 
  5. travelchinaguide.com. «Exquisite Weaponry of Terra Cotta Army» (em inglês). Consultado em 12 de Março de 2010 
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