Airã
Airã, Airão (Ahiram) ou Airom (Ahirom) foi um rei fenício de Biblos por volta de 1 000 a.C..[1] Não é atestado por qualquer outra fonte oriental da Antiguidade, e se tornou famoso apenas pelo seu sarcófago, com inscrições em fenício, encontrado em 1923 pelo arqueólogo francês Pierre Montet na tumba V da necrópole real de Biblos. Foi sucedido por seu filho, Etbaal, primeiro a receber explicitamente o título de 'Rei de Biblos'.[2] Etbaal é citado na Bíblia em I Reis 16:31 como pai de Jezabel e rei dos sidônios.
Sarcófago
[editar | editar código-fonte]O sarcófago de Airã foi descoberto por Pierre Montet em 1923,[3] em Jbeil, a Biblos histórica.[4] Seus painéis inscritos com baixos-relevos fazem dele "o maior documento artístico do início da Idade do Ferro" na Fenícia.[5] Objetos encontrados no local e datados do fim da Idade do Ferro dão apoio à tese de uma data anterior, provavelmente o século XIII a.C., ou atestam a reutilização de uma tumba já existente por volta do século XI a.C.
A cena principal representa um rei sentado sobre um trono adornado com esfinges aladas. Uma sacerdotisa lhe oferece uma flor de lótus. Na tampa do sarcófago duas figuras masculinas se enfrentam, e entre elas leões sentados de costas um para o outro; o conjunto foi interpretado pelo curador de Artes Clássicas e do Oriente Médio do Museu de Arte de Cincinnati, Glenn Markoe, como uma referência a pai e filho.[6] A influência egípcia marcante nos artefatos do fim da Idade do Bronze no noroeste de Canaã foi substituída aqui pelas influências assírias no modo de reprodução dos objetos e no formato do trono e da mesa.[5] Uma ausência total de objetos egípcios da XX e XXI dinastias do Egito na Fenícia[7] contrasta enormemente com a retomada dos laços fenícios-egípcios durante a XXII Dinastia.[8]
Inscrições
[editar | editar código-fonte]Uma inscrição com 38 palavras encontra-se em partes das bordas e na tampa do sarcófago. Foi escrita no dialeto de Biblos do fenício antigo, e é o exemplo mais antigo do uso do alfabeto fenício em grande escala a ter sido descoberto até hoje.[9]
De acordo com a reedição recente das inscrições de Airã feita por Reinhard G.Lehmann,[10] esta seria a tradução dos escritos do sarcófago:
"Um caixão construiu [It]tobaal, filho de Ahirom, rei de Biblos, para Ahirom, seu pai, veja!, assim ele o colocou em seclusão. Agora, se um rei entre reis e um governador entre governadores e um comandante de um exército se insurgir contra Biblos; e quando ele então descobrir este caixão - (então:) poderá o cetro de seu judiciário ser removido, o trono de seu reino derrubado, e a paz e a tranquilidade poderão fugir de Biblos. Quanto a ele, deve-se cancelar seu registro em relação à banheira de abluções do memorial sacrificial."[11]
As fórmulas da inscrição foram imediatamente reconhecidas como sendo de natureza literária, e o entalhe preciso das letras arcaicas sugeriu ao historiador americano Charles Torrey[3] que ela representaria uma forma de escrita já tendo uso corrente. Uma data de por volta do século X a.C. é amplamente aceita para a inscrição.
Na meta do caminho para dentro da câmara funerária outra inscrição curta foi encontrada, sobre a parede sul. Foi interpretada inicialmente como um aviso para qualquer saqueador ou invasor da sepultura, para que não seguisse adiante,[12] porém atualmente acredita-se que seja parte de um ritual de iniciação cujos detalhes ainda permanecem desconhecidos.[13]
"A respeito do conhecimento
aqui e agora seja humilde (você mesmo!)
‹dentro› deste porão!"[14]
Referências
- ↑ A data ainda é motivo de controvérsia, de acordo com Glenn E. Markoe, "The Emergence of Phoenician Art" Bulletin of the American Schools of Oriental Research No. 279 (August 1990):13-26) p. 13. "A maior parte dos estudiosos acredita que a inscrição de Airã date de por volta de 1 000 a.C.", observa Edward M. Cook, "On the Linguistic Dating of the Phoenician Ahiram Inscription (KAI 1)", Journal of Near Eastern Studies 53.1 (janeiro de 1994:33-36) p. 33 JSTOR. Cook analisa a refuta a data do século XIII a.C. adotada por C. Garbini, "Sulla datazione della'inscrizione di Ahiram", Annali (Istituto Universitario Orientale, Nápoles) 37 (1977:81-89), que era a principal fonte para a data citada em Bernal, Martin (1990). Cadmean Letters: The Transmission of the Alphabet to the Aegean and further West before 1400 BC. Winona Lake, Ind.: Eisenbrauns. ISBN 0-931464-47-1
- ↑ Vance, Donald R. (1994). «Literary Sources for the History of Palestine and Syria: The Phœnician Inscriptions». The Biblical Archaeologist. 57 (1): 2–19. doi:10.2307/3210392
- ↑ a b Torrey, Charles C. (1925). «The Ahiram Inscription of Byblos». Journal of the American Oriental Society. 45: 269–279. doi:10.2307/593505
- ↑ Pritchard, James B. (1968). Archaeology and the Old Testament. Princeton: Univ. Press; Moscati, Sabatino (2001). The Phoenicians. Londres: Tauris. ISBN 1-85043-533-2;
- ↑ a b Markoe, Glenn E. (1990). «The Emergence of Phoenician Art». Bulletin of the American Schools of Oriental Research. 279: 13–26. doi:10.2307/1357205 [pp. 13, 19-22]
- ↑ Markoe, Glenn. Phoenicians, p. 128, volume 2 - Peoples of the Past. University of California Press, 2000. ISBN 0520226143, 9780520226142
- ↑ J. Leclant, "Les relations entre l'Égypte et la Phénicie du voyage de Ounamon à l'expédition d'Alexandre", in The role of the Phoenicians in the Interaction of Mediterranean Civilisations, W. Ward, ed. (Beirute: Universidade Americana) 1968:11.
- ↑ Para uma discussão recente sobre os aspectos da história da arte, ver Ellen Rehm: Der Ahiram-Sarkophag, Mogúncia 2004 (Forschungen zur phönizisch-punischen und zyprischen Plastik, hg. von Renate Bol, II.1. Dynastensarkophage mit szenischen Reliefs aus Byblos und Zypern Teil 1.1)
- ↑ O livro acadêmico mais recente a lidar com todos os aspectos da inscrição é Lehmann, Reinhard G. Die Inschrift(en) des Ahirom-Sarkophags und die Schachtinschrift des Grabes V in Jbeil (Byblos), (Mogúncia), 2005 (Forschungen zur phönizisch-punischen und zyprischen Plastik, hg. von Renate Bol, II.1. Dynastensarkophage mit szenischen Reliefs aus Byblos und Zypern Teil 1.2)
- ↑ Lehmann, Reinhard G.: Die Inschrift(en) des Ahirom-Sarkophags und die Schachtinschrift des Grabes V in Jbeil (Byblos), 2005, p. 38
- ↑ No original:
"A coffin made it [It]tobaal, son of Ahirom, king of Byblos, for Ahirom, his father,lo, thus he put him in seclusion. Now, if a king among kings and a governor among governors and a commander of an army should come up against Byblos; and when he then uncovers this coffin – (then:) may strip off the sceptre of his judiciary, may be overturned the throne of his kingdom, and peace and quiet may flee from Byblos. And as for him, one should cancel his registration concerning the libation tube of the memorial sacrifice."
- ↑ Dussaud, René, in Syria 5 (1924:135-57).
- ↑ Lehmann, Reinhard G.: Die Inschrift(en) des Ahirom-Sarkophags und die Schachtinschrift des Grabes V in Jbeil (Byblos), 2005, p. 39-53
- ↑ No original:
"Concerning knowledge:
here and now be humble (you yourself!)
‹in› this basement!"
- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Ahiram».
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Browning, Michael: "Scholar updates translation of ancient inscription", in: The Palm Beach Post, 3 de julho de 2005 p. 17A.
- Rehm, Ellen: Der Ahiram-Sarkophag, Mainz, 2004 (Forschungen zur phönizisch-punischen und zyprischen Plastik, hg. von Renate Bol, II.1. Dynastensarkophage mit szenischen Reliefs aus Byblos und Zypern Teil 1.1)
- Lehmann, Reinhard G.: Die Inschrift(en) des Ahirom-Sarkophags und die Schachtinschrift des Grabes V in Jbeil (Byblos), Mainz, 2005 (Forschungen zur phönizisch-punischen und zyprischen Plastik, hg. von Renate Bol, II.1. Dynastensarkophage mit szenischen Reliefs aus Byblos und Zypern Teil 1.2)
- Montet, Pierre: Byblos et l'Egypte, Quatre Campagnes des Fouilles 1921-1924, Paris, 1928 (reimpresso Beirute, 1998): 228-238, Tafel CXXVII-CXLI
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Ahirom-Sarkophag: Älteste alphabetische Inschrift neu übersetzt und herausgegeben. Petra Giegerich, Universidade de Mogúncia. 23 de junho de 2005.