Atentado na Barra da Tijuca
Atentado na Barra da Tijuca | |
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Local | Avenida Lúcio Costa, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro |
Coordenadas | 23° 00′ 43″ S, 43° 19′ 24″ O |
Data | 5 de outubro de 2023 00:59 (Horário de Brasilia) |
Tipo de ataque | Execução |
Alvo(s) | Taillon de Alcântara Pereira Barbosa (suposto) |
Arma(s) | Arma de fogo |
Mortes | 3 |
Feridos | 1 |
Vítimas |
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Situação | Taillon preso em 31 de outubro |
Consequência | Repercussão nacional e internacional; investigação sobre possível execução e envolvimento de milicianos |
Motivo | Suspeita de engano de identidade, possível execução por traficantes |
Na madrugada de 5 de outubro de 2023, ocorreu um atentado na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Um grupo de quatro médicos, que estava na cidade para participar de um congresso de ortopedia, foi alvejado por disparos de arma de fogo, na Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca.[1] Em decorrência dos disparos, três médicos morreram e outro ficou ferido. O crime é investigado como uma execução.
A hipótese de motivação política foi levantada, porque uma das vítimas, o médico Diego Bomfim, é irmão de Sâmia Bomfim.[2][3] Entretanto, a principal linha de investigação é de que houve um engano e os criminosos confundiram o médico Perseu Almeida com o miliciano Taillon Barbosa. No dia seguinte ao atentado, foram localizados quatro corpos de possíveis envolvidos com o crime, executados devido à repercussão midiática e à morte de inocentes, que desagradou os mandantes.
Vítimas
[editar | editar código-fonte]- Marcos de Andrade Corsato (9 de outubro de 1960 – 5 de outubro de 2023).[4] Cirurgião-ortopedista do Hospital das Clínicas de São Paulo.[5] O corpo será velado em Sorocaba (SP).[6]
- Diego Ralf Bomfim (30 de janeiro de 1988 – 5 de outubro de 2023).[4] Cirurgião ortopedista, irmão da deputada federal Sâmia Bomfim e cunhado do congressista Glauber Braga.[5] O corpo será velado em Presidente Prudente (SP).[6]
- Perseu Ribeiro Almeida (3 de outubro de 1990 – 5 de outubro de 2023).[4][7] Especializado em cirurgia do pé e do tornozelo.[5] O corpo será velado em Ipiaú (BA).[6] Era torcedor do Esporte Clube Bahia, que manifestou condolências por sua morte, e vestia a camiseta do clube no momento do crime.[7]
- O médico Daniel Sonnewend Proença, especialista em cirurgia ortopédica, também foi ferido no atentado após levar pelo menos 3 tiros. Tem 32 anos de idade no dia de atentado.[8][5][9]
Cronologia
[editar | editar código-fonte]A ação dos criminosos durou 25 segundos.[10]
- 00:59:20. Um carro branco para sobre a faixa de pedestres em frente ao estabelecimento.
- 00:59:22: Três homens começam a descer do veículo: o carona e dois do banco de trás, cada um por um lado. Os médicos aparentemente não percebem os criminosos se aproximando.
- 00:59:26: Somente quando dois deles chegam bem perto da mesa onde os médicos estavam, começam os disparos.
- 00:59:27: Perseu, na cabeceira da mesa, tomba para trás, já possivelmente morto. Diego também cai. Marcos morre sentado na cadeira.
- 00:59:30: Os três atiradores recuam, embora ainda atirando; é possível ver Daniel tentando escapar agachado.
- 00:59:34: Dois dos criminosos voltam ao carro. O terceiro se aproxima de Daniel e faz mais disparos.
- 00:59:37: Um dos bandidos que já estavam no veículo retorna ao quiosque e vai até os fundos do estabelecimento, onde volta a atirar.
- 00:59:39: O outro criminoso no carro também volta e parece ver se Marcos está mesmo morto. O que perseguia Daniel fica atrás do veículo.
- 00:59:43: Os dois que tinham retornado ao bar correm para o veículo.
- 00:59:47: Os criminosos embarcam, e o automóvel dá a partida.
- 00:59:55: O carro some da área da câmera[11]
Investigação
[editar | editar código-fonte]A Polícia Civil do Rio de Janeiro considera que o crime teve características de execução, porque os pertences das vítimas não foram espoliados e 33 disparos foram deflagrados, visando a região torácica.[12][8] Segundo o gerente do quiosque Nana 2, onde ocorreu o crime, os médicos já haviam pago a conta e se preparavam para deixar o estabelecimento.[5] A Polícia investiga uma possível relação do Comando Vermelho com o crime, uma vez que o carro utilizado no crime teve sua localização rastreada e dirigiu-se à Cidade de Deus, território da facção.[13]
Como a vítima Diego Ralf Bomfim é irmão da deputada federal Sâmia Bomfim, a polícia investiga se o crime possui motivação política. Entretanto, a Polícia Civil desacreditou essa hipótese, porque o crime ocorreu em um local monitorado por câmeras e os autores não se preocuparam em ocultar o rosto com balaclava.[14] Por isso, uma das linhas da investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro é de que os quatro médicos foram mortos por engano; há a hipótese de que o médico Perseu Ribeiro Almeida, uma das vítimas, foi confundido com um miliciano da região de Jacarepaguá, Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, que era alvo de traficantes locais.[15][16] Taillon era semelhante fisicamente ao médico Perseu Ribeiro Almeida, reside na Avenida Lúcio Costa onde ocorreu o crime,[17] e é um chefe de milícia na Zona Oeste do Rio de Janeiro.[18][19]
Uma conversa entre criminosos interceptada pela Polícia Civil reforça a hipótese de engano. Nesse áudio, um criminoso diz a seu interlocutor a localização do miliciano Taillon. A voz nesse áudio seria de Juan Breno Malta, o BMW, que tem ligações com o criminoso Philip Motta, também conhecido como Lesk.[20][21] No dia seguinte ao triplo homicídio, a Polícia localizou, em dois carros, quatro corpos de traficantes, dois deles suspeitos de participação no delito: Lesk e Ryan Nunes de Almeida. Eles teriam sido executados a pedido dos líderes do Comando Vermelho, insatisfeitos com a morte de inocentes e com a repercussão do crime.[22] Faziam parte de um grupo apelidado "Equipe Sombra", que utilizou um Fiat Pulse branco no assassinato dos médicos e em outros crimes.[23]
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse que não descarta a possibilidade de federalização do caso, e enviou o secretário Ricardo Cappelli ao Rio para acompanhar o caso.[24] A deputada denunciou, em outras ocasiões, ter recebido ameaças de morte contra si e contra sua família.[25][26]
Em 9 de outubro, a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária bloqueou o sinal de celular e encontrou 58 aparelhos durante uma varredura em dois presídios quatro dias depois de uma videoconferência feita de dentro da cadeia em que traficantes ordenaram a execução de suspeitos da morte dos médicos na Barra da Tijuca.[27]
Localização dos corpos de traficantes mortos
[editar | editar código-fonte]Em 5 de outubro, a Polícia Civil do Rio de Janeiro encontrou os corpos de traficantes suspeitos de terem participado do ataque a tiros contra os médicos na capital do mesmo nome. A Delegacia de Homicídios localizou três corpos dentro do primeiro carro na Rua Abrahão Jabour, nas proximidades do Riocentro, e outro corpo no segundo carro, na na Avenida Tenente-Coronel Muniz de Aragão, na Gardênia Azul.[28]
Prisão do verdadeiro alvo dos traficantes
[editar | editar código-fonte]Em 31 de outubro, Taillon Alcântara Pereira Barbosa, filho do ex-sargento da Polícia Militar Dalmir Pereira Barbosa, foi preso na ação da Polícia Federal na zona oeste do Rio de Janeiro. Dalmir também foi preso na mesma ação ao ser apontado em diversas investigações como um dos chefes da milícia de Rio das Pedras, pioneira no Rio de Janeiro.[29] Taillon, que é apontado como um dos principais chefes de uma milícia que atua na Zona Oeste do Rio do Janeiro, era o verdadeiro alvo dos traficantes que executaram os médicos por engano.[30][31]
Reação
[editar | editar código-fonte]O crime teve repercussão nacional e internacional.[32] Organizações médicas, como o Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da FMUSP, o Hospital Sírio-Libanês, o Hospital das Clínicas, a Sociedade Brasileira de Ortopedia e a Associação Médica Brasileira manifestaram repúdio ao crime e pesar com a morte dos médicos.[12]
Referências
- ↑ «Vídeo: veja momento em que médicos são executados em quiosque no RJ | Metrópoles». www.metropoles.com. 5 de outubro de 2023. Consultado em 5 de outubro de 2023
- ↑ «4 doctors were gunned down on a Rio beach and there are suspicions of a political motive». The Times of India. 5 de outubro de 2023. ISSN 0971-8257. Consultado em 5 de outubro de 2023
- ↑ Press, Associated (5 de outubro de 2023). «Three doctors shot dead in Brazil in suspected politically motivated attack». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077. Consultado em 5 de outubro de 2023
- ↑ a b c «NOTA DE PESAR». Sociedade Brasileira de Cirurgia do Ombro e Cotovelo. 6 de outubro de 2023. Consultado em 6 de outubro de 2023. Cópia arquivada em 4 de novembro de 2023
- ↑ a b c d e McCoy, Terrence (5 de outubro de 2023). «Three doctors shot dead on popular tourist beach in Rio de Janeiro». Washington Post (em inglês). ISSN 0190-8286. Consultado em 5 de outubro de 2023
- ↑ a b c «Corpos de médicos mortos no Rio serão velados no interior de São Paulo e Bahia». Folha de S.Paulo. 5 de outubro de 2023. Consultado em 5 de outubro de 2023
- ↑ a b «Esporte Clube Bahia lamenta morte do médico torcedor assassinado no Rio». www.correio24horas.com.br. Consultado em 5 de outubro de 2023
- ↑ a b «Policiais dizem ver execução de médicos no Rio, e Promotoria cobra apuração imediata». Folha de S.Paulo. 5 de outubro de 2023. Consultado em 5 de outubro de 2023
- ↑ «Sâmia homenageia irmão no Dia do Médico e posta foto dele com amigos trabalhando em hospital; os 3 foram vítimas de ataque no RJ». G1. 18 de outubro de 2023. Consultado em 19 de outubro de 2023
- ↑ «Médicos mortos a tiros no Rio: infográficos mostram passo a passo da execução». O Globo. 5 de outubro de 2023. Consultado em 5 de outubro de 2023
- ↑ «Médicos mortos na Barra da Tijuca: o que se sabe e o que falta esclarecer». G1. 5 de outubro de 2023. Consultado em 5 de outubro de 2023
- ↑ a b «USP, entidades médicas, Lula e governadores lamentam mortes de ortopedistas assassinados no Rio». G1. 5 de outubro de 2023. Consultado em 5 de outubro de 2023
- ↑ «Carro usado em ataque a médicos foi para a Cidade de Deus, que traficantes usam como base em guerra com milícia». G1. 5 de outubro de 2023. Consultado em 6 de outubro de 2023
- ↑ «Polícia do Rio diz que execução de médicos não tem sinais de crime político; saiba por quê». O Globo. 5 de outubro de 2023. Consultado em 5 de outubro de 2023
- ↑ «Principal linha de investigação é que traficantes executaram médicos na Barra por engano e alvo era miliciano». G1. 5 de outubro de 2023. Consultado em 5 de outubro de 2023
- ↑ «Principal linha de investigação é que traficantes executaram médicos na Barra por engano; alvo seria miliciano». G1. 5 de outubro de 2023. Consultado em 5 de outubro de 2023
- ↑ «A principal linha de investigação sobre a morte de 3 médicos em um quiosque no Rio de Janeiro». CartaCapital. 5 de outubro de 2023. Consultado em 5 de outubro de 2023
- ↑ Pernambuco, Diario de (5 de outubro de 2023). «Médico assassinado no Rio teria sido confundido com miliciano». Diario de Pernambuco. Consultado em 5 de outubro de 2023
- ↑ «Principal linha de investigação é que traficantes executaram médicos na Barra por engano; alvo seria miliciano». G1. 5 de outubro de 2023. Consultado em 5 de outubro de 2023
- ↑ «Áudio é pista da polícia para linha de investigação que aponta traficantes como autores de ataque a médicos, por engano». G1. 5 de outubro de 2023. Consultado em 6 de outubro de 2023
- ↑ «Áudio reforça linha de investigação de que assassinato de médicos no Rio teria sido por engano». Estadão. Consultado em 6 de outubro de 2023
- ↑ «Polícia encontra corpos de traficantes suspeitos de matar médicos no Rio de Janeiro». G1. 6 de outubro de 2023. Consultado em 6 de outubro de 2023
- ↑ «'Pulse branco da Equipe Sombra': suspeitos da execução de médicos eram monitorados pela polícia havia meses e usaram o mesmo modelo de carro em outros crimes». G1. 6 de outubro de 2023. Consultado em 6 de outubro de 2023
- ↑ Agostini, Renata. «Federalização não está descartada e será analisada "tecnicamente", diz Dino sobre assassinato de médicos». CNN Brasil. Consultado em 5 de outubro de 2023
- ↑ Resende, Leandro. «Sâmia Bomfim registrou boletim de ocorrência após sofrer ameaças de morte no ano passado». CNN Brasil. Consultado em 5 de outubro de 2023
- ↑ Brasília, O. Tempo (5 de outubro de 2023). «Em entrevista, Sâmia Bomfim relatou que recebia ameaças de morte a familiares | O TEMPO». www.otempo.com.br. Consultado em 5 de outubro de 2023
- ↑ «Depois de 'videoconferência' da cadeia, secretaria bloqueia sinal de celular e encontra 58 aparelhos». G1. 9 de outubro de 2023. Consultado em 9 de outubro de 2023
- ↑ Leslie Leitão (5 de outubro de 2023). «Polícia encontra corpos de traficantes suspeitos de matar médicos no Rio de Janeiro». G1. Consultado em 31 de outubro de 2023
- ↑ «Dalmir Barbosa e o filho Taillon, presos pela PF, estão à frente de milícia na Zona Oeste; saiba quem são». G1. 1 de novembro de 2023. Consultado em 6 de novembro de 2023
- ↑ «VÍDEO: veja os detalhes da prisão de Taillon Barbosa, chefe da milícia de Rio das Pedras». G1. 5 de novembro de 2023. Consultado em 6 de novembro de 2023
- ↑ Marco Antônio Martins e Felipe Freire (5 de abril de 2024). «Passados 6 meses, polícia do Rio conclui que 5 criminosos que atacaram médicos em quiosque da Barra da Tijuca foram mortos». G1. Consultado em 5 de abril de 2024
- ↑ The Times of India, The Guardian, abcnews, Washington Post, Clarín,