Esfera sublunar
A esfera sublunar, conforme a física aristotélica e a astronomia grega, é a região do cosmos geocêntrico abaixo da Lua, consistindo dos quatro elementos clássicos: terra, água, ar e fogo.[1][2]
A esfera sublunar era o reino da natureza mutável. Começando com a Lua até os limites do universo, tudo (para a astronomia clássica) era permanente, regular e imutável — a região do éter onde os planetas e estrelas estão localizados. Somente na esfera sublunar os poderes da física prevaleciam.[3]
Evolução do conceito
[editar | editar código-fonte]Platão e Aristóteles ajudaram a formular a teoria original de uma esfera sublunar na Antiguidade[4] — a ideia geralmente ia de mãos dadas com o geocentrismo e o conceito de uma Terra esférica.
Avicena levou adiante para a Idade Média a ideia aristotélica de geração e corrupção sendo limitada à esfera sublunar.[5] Escolásticos medievais como Santo Tomás de Aquino — que traçou a divisão entre as esferas celestes e sublunares em sua obra Summa Theologica — também recorreram a Cícero e Lucano para uma consciência da grande fronteira entre a Natureza e o Céu, as esferas sublunares e etéricas.[6] O resultado para as mentalidades medievais/renascentistas foi uma consciência generalizada da existência, na Lua, do que C. S. Lewis chamou de "essa 'grande divisão'... do éter ao ar, do 'paraíso' à 'natureza', do reino de deuses (ou anjos) para o de demônios, do reino da necessidade para o da contingência, do incorruptível para o corruptível."[carece de fontes]
No entanto, as teorias de Nicolau Copérnico começaram a desafiar a distinção sublunar–etérica. As observações de Tycho Brahe acerca de uma nova estrela e de cometas nos céus supostamente imutáveis minaram ainda mais a visão aristotélica.[7] Thomas Kuhn viu a nova capacidade dos cientistas de ver a mudança nos céus 'incorruptíveis' como um exemplo clássico das novas possibilidades abertas por uma mudança de paradigma.[8]
Ramificações literárias
[editar | editar código-fonte]Dante Alighieri imaginou o Monte Purgatório tão alto que chegava acima da esfera sublunar, de modo que “essas encostas estão livres de qualquer mudança natural”.[9]
Samuel Johnson elogiou as peças de Shakespeare como “exibindo o estado real da natureza sublunar, que compartilha do bem e do mal, alegria e tristeza, misturados”.[10]
Referências
- ↑ Aristotle, Ethics (1974) p. 357-8
- ↑ Stephen Toulmin, Night Sky at Rhodes (1963) p. 38 and p. 78
- ↑ C. C. Gillespie, The Edge of Objectivity (1960) p. 14
- ↑ Gillespie, p. 13-5
- ↑ J. J. E. Garcia, Individuation in Scholasticism (1994) p. 41
- ↑ W. Hooper, C. S. Lewis (1996) p. 529-31
- ↑ R. Curley, Scientists and Inventors of the Renaissance (2012) p. 6-8
- ↑ Thomas S. Kuhn, The Structure of Scientific Revolutions (1970) p. 116-7
- ↑ Dante, Purgatory (1971) p. 235
- ↑ Samuel Johnson, Selected Writings (Penguin) p. 266
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- J. Barnes, Aristotle (1982)
- MA Orr, Dante and the Medieval Astronomers (1956)
- Thomas Kuhn, The Copernican Revolution (1957)