Gurgenes II Arzerúnio
Gurgenes II Arzerúnio | |
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Príncipe de Vaspuracânia | |
Reinado | 904-908 (com Cacício I) 908-923 (sozinho) |
Antecessor(a) | Asócio Sérgio |
Sucessor(a) | Título abolido |
Nascimento | 883/4 |
Morte | 923 |
Nome completo | |
Գուրգեն Բ Արծրունի | |
Casa | Arzerúnio |
Pai | Gregório Derenício |
Mãe | Sofia Bagratúnio |
Religião | Cristianismo |
Gurgenes II Arzerúnio (Γουργένης; em armênio: Գուրգեն; romaniz.: Gurgen; n. 883/4 - m. 923) foi um [[príncipe de Vaspuracânia de 904 a 923 que pertenceu à nobre família Arzerúnio. Ele governou sobre a porção sudeste do país, enquanto seu irmão Cacício I a porção noroeste. Com sua morte em 923, suas propriedades foram legadas por Cacício I.
Contexto
[editar | editar código-fonte]Desde o final do século VII a Armênia era uma província sob domínio árabe liderada por um osticano (governador) árabe representando o califa omíada e depois abássida,[1] e tornar-se-ia campo de batalha entre o califado e o Império Bizantino até o início do século IX.[2] Para reforçar a sua autoridade, estes osticanos implementaram emires em diversas regiões armênias; em Vaspuracânia, província histórica situada ao sul e dominada pelos Arzerúnio, não houve exceção à regra.[3] A família, no entanto, se beneficiaria da autonomia dos emires locais e da oposição que criavam ao governador[3] e gradualmente expandiu seus domínios: em 850 e sem que se saiba exatamente como, os Arzerúnio eram ixicanos (príncipes) de Vaspuracânia.[4] A aquisição da Armênia pelo turco Buga Alquibir em nome do califa Mutavaquil (r. 847–861) pelos anos 850 afetou muitas famílias nacarar (principescas), incluindo os Arzerúnio.[5]
Nome
[editar | editar código-fonte]Gurgenes (Γουργένης, Gourgénēs) é a forma grega do armênio Gurguém (Գուրգեն, Gurgēn) e Verquém (Վրկեն, Vrkēn), que por sua vez derivou do iraniano antigo Vercaina (*Vr̥kaina-; do hipocorístico para *vr̥ka-, "lobo") através do parta Vurquém (*Wurkēn). Foi registrado em elamita como Marguena, persa novo como Gurguim (Gurgīn).[6]
Vida
[editar | editar código-fonte]Gurgenes nasceu em 883 ou 884 e era o terceiro filho do príncipe de Vaspuracânia Gregório Derenício com sua esposa Sofia Bagratúnio, a filha do rei da Armênia Asócio I, o Grande (r. 856–890).[7] Gregório Derenício foi morto em 877 numa emboscada quando tentava submeter o emir de Her, deixando Gurgenes e seus irmãos Asócio Sérgio e Cacício I, que foram colocados sob regência dum membro da família, Cacício Abu Maruane,[8] que havia sido designado por Asócio I, mesmo embora fosse rejeitado pela nobreza, por ter combatido ao lado de Gregório Derenício.[9] O regente tentou reclamar a herança dos irmãos, provavelmente com ajuda de seu tio, Simbácio I (r. 890–914), que havia sucedido seu pai Asócio I,[8] uniu Asócio Sérgio a sua própria filha Seda e impôs a troca de territórios desfavoráveis.[10]
Simbácio I autorizou que Cacício Abu Maruane prendesse os três príncipes[8] e ele foi confirmado com o título de príncipe de Vaspuracânia em 896/897 pelo irmão e condestável do monarca, Sapor, que era, por sua vez, padrasto do novo príncipe.[11] Cacício permaneceria no trono até 898, quando foi assassinado numa emboscada orquestrada por Cacício I, que havia sido recentemente libertado e estava presente em Vã para assistir um desfile que celebrava uma vitória militar do regente.[8] Com o falecimento de Cacício Abu Maruane, Asócio Sérgio reassumiu as rédeas do principado. Simbácio I, visando reconciliar-se com seus sobrinhos, elevou Cacício I ao posto de general e Gurgenes ao de marzobã ("governador").[12] Asócio Sérgio, por entanto, para confirmar sua fidelidade ao emir sájida do Azerbaijão e representante do califa abássida Almutâmide (r. 870–892), Maomé Alafexim,[13] a quem havia jurado vassalagem, enviou seu irmão Cacício I como refém; após sete meses Cacício I foi substituído por Gurgenes II, que acabou preferindo fugir devido aos maus-tratos sofridos. Alafexim invadiu Vaspuracânia e manteve uma ocupação militar do país até sua morte em 901.[14]
Com a morte de Asócio Sérgio em 13 de novembro de 903,[15] Cacício e Gurgenes sucederam-lhe no ano seguinte através da partilha de sua herança: Cacício herdou as possessões noroeste de Arzerúnio, enquanto Gurgenes as do sudeste.[16] Gurgenes participou nas operações de seu irmão contra diversas rebeliões, envolveu-se nas trocas de territórios realizada por Cacício para fazer seus domínios mais compacto e seguiu-lhe o exemplo: ele se recuperou e envolveu-se na edificação de vários edifícios em seus territórios, incluindo Adamaquerta.[17] Gurgenes também participou da aliança de seu irmão com o emir sájida Iúçufe ibne Abi Alçaje (r. 901–918; 922–928) e participou na campanha contra Simbácio I em 910.[18] No entanto, vendo a devastação causada por esta campanha, Gurgenes, como Cacício, procurou distanciar-se gradualmente de Iúçufe,[19] porém, com a morte e martírio de Simbácio I em 914, os irmãos deixaram de resistir[20] e permaneceram aliados pelo resto de suas vidas. Gurgenes morreu após 923, aparentemente sem deixar descendência, permitindo a Cacício I finalmente concluir a unificação de Vaspuracânia.[21]
Referências
- ↑ Martin-Hisard 2007, p. 223.
- ↑ Martin-Hisard 2007, p. 231.
- ↑ a b Martin-Hisard 2007, p. 233.
- ↑ Martin-Hisard 2007, p. 235.
- ↑ Grousset 1973, p. 368.
- ↑ Martirosyan 2021, p. 14.
- ↑ Cawley 2006–2014.
- ↑ a b c d Thierry 2007, p. 275.
- ↑ Grousset 1973, p. 389.
- ↑ Grousset 1973, p. 404.
- ↑ Grousset 1973, p. 409.
- ↑ Jones 2007, p. 23.
- ↑ Grousset 1973, p. 416.
- ↑ Grousset 1973, p. 418.
- ↑ Thierry 2007, p. 276.
- ↑ Grousset 1973, p. 422.
- ↑ Grousset 1973, p. 423.
- ↑ Grousset 1973, p. 435.
- ↑ Grousset 1973, p. 438.
- ↑ Grousset 1973, p. 440.
- ↑ Grousset 1973, p. 462.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Ačaṙyan, Hračʻya (1942–1962). «Գուրգեն». Hayocʻ anjnanunneri baṙaran [Dictionary of Personal Names of Armenians]. Erevã: Imprensa da Universidade de Erevã
- Cawley, Charles (2006–2014). «Armenia - Kings of Vaspuracan (Arzerúnio)». Medieval Lands, Foundation for Medieval Genealogy
- Grousset, René (1973) [1947]. Histoire de l'Arménie: des origines à 1071. Paris: Payot
- Jones, Lynn (2007). Between Islam and Byzantium: Aght'amar and the Visual Construction of Medieval Armenian Rulership. Farnham: Ashgate. ISBN 978-0754638520
- Martin-Hisard, Bernadette (2007). «Domination arabe et libertés arméniennes (viie ‑ ixe siècle». In: Gérard Dédéyan. Histoire du peuple arménien. Tolosa: Privat. pp. 213–241. ISBN 978-2-7089-6874-5
- Martirosyan, Hrach (2021). «Faszikel 3: Iranian Personal Names in Armenian Collateral Tradition». In: Schmitt, Rudiger; Eichner, Heiner; Fragner, Bert G.; Sadovski, Velizar. Iranisches Personennamenbuch. Iranische namen in nebenüberlieferungen indogermanischer sprachen. Viena: Academia Austríaca de Ciências
- Thierry, Jean-Michel (2007). «Indépendance retrouvée : royaume du Nord et royaume du Sud (ixe ‑ xie siècle) — Le royaume du Sud : le Vaspourakan». In: Gérard Dédéyan. Histoire du peuple arménien. Tolosa: Privat. pp. 274–296. ISBN 978-2-7089-6874-5