Internet na Coreia do Norte
A Coreia do Norte, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, é o único país do mundo onde o acesso à Internet é restrito, sendo autorizado a alguns participantes do governo norte-coreano (porém, há uma Intranet). Fazendo a Coreia do Norte ser um dos países mais isolados do mundo, limitando o acesso da população à informação externa.[1] Embora exista uma rede de telefonia pública, a população não conta com acesso a banda larga, somente através de Internet via satélite está disponível, porém oferendo velocidades máxima de 492Kbits/s de download e 400kbit/s de upload, fazendo uma missão difícil o contrabando de satélite em terminais no país.[2] O acesso a Internet via satélite na Coreia do Norte é efetuado em smartphones, lan houses e em hotéis da capital do país, Pyongyang.
Estimativas sugerem que o número de usuários que acessam a Internet na Coreia do Norte não passa de alguns milhares de indivíduos, sendo em sua maioria funcionários do governo e estrangeiros.[3] Outra alternativa de acesso é através da rede 3G de celulares que foi sendo implementada no país, e contemporaneamente o 4G.[4]
Acesso ao conteúdo na Coreia do Norte
[editar | editar código-fonte]Mesmo com certos obstáculos proporcionados pelo governo, ainda assim é possível acessar a rede de computadores em alguns casos através de links para a China,[5] sendo que até o ditador Kim Jong-Il disse que gosta muito de navegar na net.[6]
Estrangeiros, entre turistas e jornalistas, também possuem acesso a Internet nos hotéis onde são hospedados e em lan houses específicas, o acesso ocorre somente através de computadores pertencentes ao governo norte-coreano. Porém o acesso pode ser ampliado em determinadas situações, como ocorreu durante o 65° aniversário do Partido dos Trabalhadores da Coreia, onde o acesso foi ampliado permitindo o uso de computadores pessoais dos jornalistas para a cobertura do evento, todavia somente dentro da Agência Central de Notícias da Coreia.[7]
Sites
[editar | editar código-fonte]No ano de 2010, muitos antigos endereços reservados para hospedagens de sites foram registrados por companhias ligadas diretamente ao governo de Pyongyang. Cerca de 1024 endereços antigos foram registrados.[3] Mesmo com o aumento de endereços para o uso na Coreia do Norte, o país conta, em quase a totalidade dos acessos, de servidores fora do país para enviar informações ou hospedar páginas.[3] Dos poucos servidores localizados na Coreia do Norte, muito poucos são acessíveis por computadores de fora do país, mesmo que a partir de 2010 o acesso as páginas norte-coreanas no estrangeiro tivesse aumento significativo.
É possível acessar uma versão em inglês e uma versão em espanhol da Agência Central de Notícias da Coreia. O endereço de IP é registrado por uma companhia norte-coreana chamada Star Joint Venture.
Existem cerca de 30 sites (como o http://www.uriminzokkiri.com e o http://www.kcckp.net/en Arquivado em 28 de agosto de 2010, no Wayback Machine.) que são geridos pelo governo norte-coreano.[8] Outros 43 sites com apoio ao governo norte-coreano, segundo a polícia sul-coreana, tem servidores localizados em outros países. O relatório da polícia afirma esses sites incentivam atitudes hostis contra a Coreia do Sul e os países ocidentais e retratam a Coreia do Norte de forma positiva. De acordo com o jornal sul-coreano The Dong-a Ilbo os seguintes sites norte-coreanos estão hospedados em outros países:
- Joseon Tongsin: um dos sites da Agência Central de Notícias da Coreia está atualmente hospedado no Japão;
- Guk jeonseon: o nome do site em coreano significa "canais entre nações" e fica localizado também no Japão;
- Unification Arirang: o site fica hospedado na China, a palavra coreana Arirang é uma referência a uma canção folclórica tradicional coreana;
- Tongsin Minjok: hospedado nos EUA, o nome do site significa "grupo ético nacional"). Também nos EUA ficam localizados outros doze sites pró-Coreia do Norte incluindo o Korea Network.[9]
Kwangmyong
[editar | editar código-fonte]A Kwangmyong (em coreano significa "brilhante") é uma rede interna de computadores de âmbito nacional na Coreia do Norte e foi inaugurada no ano 2000 e seu acesso é feito através de Acesso discado. A rede pode ser acessada através de navegadores (como por exemplo o Mozilla Firefox, Internet Explorer, Google Chrome), além de possuir serviços de e-mail, Grupo de notícias e um motor de busca próprio.
A Kwangmyong é disponível à população norte-coreana que não possui privilégios de acessar a Internet. Mantido pelo governo, a rede é um serviço gratuito e concebido para uso doméstico. A rede não possui nenhuma ligação direta e indiretamente com a rede mundial, evitando assim o contato da população a fontes externas de informação. A Kwangmyong pode ser considerada uma forma de censura pois não permite o acesso de informações indesejáveis aos seus usuários.
A rede é alimentada por páginas da Internet que são processadas, seu conteúdo analisado e previamente censurado, antes de serem disponíveis aos usuários, possibilitando a visita de páginas sem nenhuma informação considerada desagradável. Ela é acessível dentro das grandes cidades norte-coreanas, estradas, alguns pequenos municípios, além de universidades e grandes organizações industriais e comerciais.
O conteúdo da rede é bastante similar do que é encontrado na Internet, só que bem mais simples. A Kwangmyong possui páginas com informações sobre política, economia, descobertas científicas e atividades culturais, além de fornecer acesso a troca de informações entre universidades, instituições de ensino norte-coreanos e agências governamentais. As páginas baixadas da Internet para a Kwangmyong possui maior parte de seu conteúdo sobre conhecimento científico.
Transações Comerciais
[editar | editar código-fonte]Mesmo com a censura há a possibilidade de efetuação de negócios pela Internet com a Coreia do Norte, porém das poucas transações que ocorreram, boa parte aconteceu entre empresas asiáticas diretamente com o governo norte-coreano. A Associação de Futebol da Coreia do Norte, representante da Seleção Norte-Coreana de Futebol, antes de sua participação na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, comprou equipamentos e uniformes para o mundial através da Internet,[10] após perder seus uniformes após um amistoso contra a Seleção Venezuelana de Futebol.[11] A seleção não possui nenhum contrato ou acordo comercial com nenhuma marca de roupas esportivas.
Em 2002, alguns norte-coreanos, em colaboração com uma empresa sul-coreana, criaram um site de jogos de azar com segmentação para clientes sul-coreanos (porém o jogo de azar e suas partidas online são proibidas na Coreia do Sul), mas o site não vingou e foi encerrado.[6] Em 2007, a Coreia do Norte criou a sua primeira loja online, chamada de Chollima, através de uma joint venture com uma empresa chinesa não identificada.[12]
Atividades norte-coreanas na Internet
[editar | editar código-fonte]Em agosto de 2010, a BBC informou que uma agência contratada pelo governo norte-coreano abriu contas oficiais do governo no Youtube, Facebook e Twitter.[13] Todas as contas são intituladas uriminzok ("nosso povo", em coreano). Tanto o Twitter quanto o YouTube estão apenas em coreano, porém a página no Facebook encontra-se inexistente. As mensagens no Twitter nada mais são que links que redirecionam para o site Uriminzokkiri onde são encontrados notícias e imagens. Entre as mensagens postadas estão links do ensaio sobre a reunificação coreana, pelo ditador Kim Jong-Il.[14] A BBC reportou que "em uma mensagem recente no Twitter, a Coreia do Norte disse que o atual governo da Coreia do Sul era 'uma prostituta' dos EUA".[15] Embora esta mensagem possa ser uma má tradução do coreano para o inglês. A conta no Twitter conta com aproximadamente 2,3 mil seguidores, sendo que muito improvável seja que algum desses perfis são de algum morador do país.[16]
No YouTube, os vídeos postados pela Coreia do Norte são parte do material apresentado na TV estatal norte-coreana. Em outros vídeos, Hillary Clinton é chamada de ministro "de saia", o secretário de Defesa, Robert M. Gates, de "maníaco de guerra", enquanto o ministro da Defesa sul-coreano, Kim Tae-young é mostrado como um servil “cão que gosta de levar tapinhas de seu mestre americano”.[17]
Entre alguns dos conteúdos nos sites oficiais, há uma imagem de um soldado dos EUA a perseguido por dois mísseis juntamente com vários outros desenhos, imagens e textos com muito sentimento anti-EUA e anti-Coreia do Sul.[18]
A repercussão sobre a adesão do país as redes sociais foi relativamente observada, porém o próprio governo norte-coreana nega a participação no conteúdo publicado no Twitter, Facebook e YouTube, responsabilizando apoiadores do governos em outros países, como China e Japão.[19] O principal objetivo do conteúdo postado pelos norte-coreanos é alcançar, de forma mais direta e abrangente, a população sul-coreana, além de ser uma possível resposta da Guerra psicológica proposta pelos dois países. O conteúdo das atividades e de sites norte-coreanos não são permitidos na Coreia do Sul, podendo receber uma advertência do governo por "conteúdo ilegal".[17]
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Coreanos
- Coreia do Norte
- Demografia da Coreia do Norte
- Demografia da Coreia do Sul
- Programa nuclear norte-coreano
- Drama coreano
- Língua de sinais coreana
Referências
- ↑ [carece de fontes]
- ↑ TS2 √ Satellite Phones & Internet in Korea North
- ↑ a b c «Coreia do Norte registra, na surdina, mais endereços web». 11 de junho de 2010. Consultado em 22 de dezembro de 2010. Arquivado do original em 17 de junho de 2010
- ↑ «Is North Korea finally getting 4G?»
- ↑ Zeller Jr, Tom (23 de outubro de 2006). «LINK BY LINK; The Internet Black Hole That Is North Korea». The New York Times. Consultado em 5 de maio de 2010
- ↑ a b Andrei Lankov (11 de dezembro de 2007). «Surfing Net in North Korea». Korea Times
- ↑ «Coreia do Norte abriu Internet no aniversário». 19 de outubro de 2010. Consultado em 21 de dezembro de 2010[ligação inativa]
- ↑ «North Korea's baby steps for the Internet». PhysOrg.com. United Press International. 30 de agosto de 2005
- ↑ Yoon, Jong-Koo (8 de setembro de 2004). «Police Announce 43 Active Pro-North Korean Websites». The Dong-a Ilbo
- ↑ «Incrível: Coreia do Norte compra equipamento pela internet». 26 de maio de 2010. Consultado em 21 de dezembro de 2010
- ↑ «Uniforme pela Internet». 26 de maio de 2010. Consultado em 21 de dezembro de 2010
- ↑ Kelly Olson, "Elusive Web Site Offers N. Korean Goods", WTOPnews.com, February 4, 2008. Retrieved on April 27, 2008.
- ↑ uriminzok
- ↑ «Coreia do Norte começa a usar o Twitter». 16 de agosto de 2010. Consultado em 22 de dezembro de 2010. Arquivado do original em 20 de agosto de 2010
- ↑ BBC News - North Korea creates Twitter and YouTube presence
- ↑ «Coreia do Norte cria conta no Twitter». 16 de agosto de 2010. Consultado em 22 de dezembro de 2010. Arquivado do original em 19 de agosto de 2010
- ↑ a b «Coreia do Norte leva guerra de propaganda para a internet». 18 de agosto de 2010. Consultado em 22 de dezembro de 2010
- ↑ uriminzokkiri
- ↑ «Coreia do Norte nega conta no Twitter». 23 de agosto de 2010. Consultado em 22 de dezembro de 2010. Arquivado do original em 26 de agosto de 2010
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- North Korea Tech – Um site de rastreamento do uso da Internet na Coreia do Norte
- My-Korea.info – Um banco de dados de todos os sites norte coreanos na Internet
- Fernanda Moneta, "Tecnocin@", ed. Costa&Nolan, 2007, ISBN 8874370415
- urimzokkriri.com in english
- uriminzokkiri no X