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Jorge da Grécia e Dinamarca

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Jorge
Príncipe da Grécia e Dinamarca
Jorge da Grécia e Dinamarca
Jorge, c. 1890
Alto Comissário de Creta
Reinado 21 de dezembro de 1898
a 12 de dezembro de 1906
Predecessor Função Criada
Sucessor Aléxandros Zaímis
 
Nascimento 24 de junho de 1869
  Palácio de Mon Repos, Corfu, Reino da Grécia
Morte 25 de novembro de 1957 (88 anos)
  Saint-Cloud, Ilha de França, França
Sepultado em 4 de dezembro de 1957, Cemitério Real de Tatoi, Atenas, Reino da Grécia
Esposa Maria Bonaparte
Descendência Pedro da Grécia e Dinamarca
Eugénia da Grécia e Dinamarca
Casa Eslésvico-Holsácia-Sonderburgo-Glucksburgo
Pai Jorge I da Grécia
Mãe Olga Constantinovna da Rússia
Religião Igreja Ortodoxa Grega

Jorge (Corfu, 24 de junho de 1869Saint-Cloud, 25 de novembro de 1957) foi o segundo filho do rei Jorge I da Grécia e sua esposa a grã-duquesa Olga Constantinovna da Rússia. Ele serviu como alto comissário do Estado de Creta durante seu período de transição de independência do Império Otomano e união com o Reino da Grécia.

A partir de 1883, Jorge viveu no Palácio de Bernstorff, perto de Copenhaga com o seu tio, o príncipe Valdemar da Dinamarca, irmão mais novo do seu pai. O rei tinha levado o filho para a Dinamarca com o objectivo de o integrar na marinha dinamarquesa e entregou-o aos cuidados do seu irmão Valdemar que era um almirante na frota dinamarquesa. Sentindo-se abandonado pelo seu pai nesta ocasião, Jorge descreveria mais tarde à sua noiva o afecto profundo que sentia pelo seu tio.

Em 1891, Jorge acompanhou o seu primo, o czarevih Nicolau, na sua viagem à Ásia e salvou-o de uma tentativa de assassinato no Japão que ficou conhecida como o Incidente de Otsu.

Aventuras gregas

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Jorge, c. 1890
Brasão pessoal de Jorge

Jorge, juntamente com os seus irmãos Constantino e Nicolau, estiveram envolvidos na organização dos Jogos Olímpicos de Verão de 1896 em Atenas. Jorge foi presidente do vice-comité para desportos náuticos.

Apesar de uma grande parte da Grécia moderna ser independente desde a década de 1820, a ilha de Creta continuava em poder do Império Otomano. Durante o resto do século XIX, tinha havido protestos na ilha. Uma força militar grega chegou para anexar Creta em 1897 e as grandes potências atacaram, ocupando a ilha e dividindo-a em áreas de controlo britânicas, russas e italianas.

Em 1898, as tropas turcas foram expulsas e foi instalado um governo nacional que tinha como tarefa normalizar a situação pós-otomana. O príncipe Jorge, que ainda não tinha 30 anos, foi nomeado Alto Comissário e uma assembleia muçulmano-cristã foi em parte eleita e em parte nomeada. Contudo, isto não foi suficiente para satisfazer as exigências dos nacionalistas de Creta.

Elefthérios Venizélos era o líder do movimento para reunir Creta à Grécia. Ele tinha lutado nas primeiras revoluções e era agora membro da Assembleia, sendo o ministro da justiça para o príncipe Jorge. Não demorou muito até os dois se oporem. Jorge, um ávido monárquico, tinha assumido poder absoluto. Venizélos liderou a oposição a esta decisão. Em 1905, no entanto, ele convocou uma assembleia revolucionária ilegal em Theriso.

Durante a revolta, o recém-criado exército de Creta manteve-se fiel a Jorge. Neste período difícil, a população da ilha ficou dividida: nas eleições de 1906 os partidos a favor do príncipe ficaram com 38 127 votos, enquanto que os partidos a favor de Venizélos arrecadaram 33 279. Mas o exército conseguiu cumprir os seus deveres sem tomar partidos. Finalmente os diplomatas britânicos conseguiram um acordo e, em Setembro de 1906, Jorge foi substituído pelo antigo primeiro-ministro grego Aléxandros Zaímis e deixou a ilha. Em 1908, a assembleia de Creta declarou oficialmente a união com a Grécia.

Em outubro de 1912, Jorge regressou de Paris a Atenas para que se pudesse juntar ao Ministério da Marinha, uma vez que a Grécia se preparava para uma guerra contra a Turquia. Mais tarde ele serviu como ajudante-de-campo do seu pai, o rei Jorge I da Grécia, que, contudo, foi assassinado em Março de 1913. Jorge viajou mais tarde até Copenhaga para resolver os assuntos financeiros que o pai tinha lá, uma vez que o rei nunca deixou de ser também um Príncipe da Dinamarca.

Casamento e família

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Após um lanche parisiense entre o rei Jorge da Grécia e o príncipe Roland Napoléon Bonaparte em setembro de 1906, durante o qual o rei concordou com a perspectiva de casamento entre os seus filhos, Jorge conheceu a única filha de Roland, a princesa Marie Bonaparte (1882-1962) no dia 19 de julho de 1907, na casa de Bonaparte em Paris. Apesar de ela pertencer a um ramo não-imperial da dinastia Bonaparte, ela era uma herdeira da fortuna do Casino Blanc que pertencia à família da mãe.

Ele cortejou-a por 28 dias, confidenciando que tinha passado por grandes desapontamentos quando o seu papel no incidente de Otsu e na governação de Creta tinham sido ignorados e desvalorizados tanto pelas pessoas individuais como pelos governos. Também admitiu que, ao contrário do que ela esperava, ele não se poderia comprometer a viver permanentemente na França uma vez que continuava preparado a assumir os seus deveres reais na Grécia ou em Creta se foi convocado para isso. Assim que a sua proposta de casamento foi aceite, o pai da noiva ficou atónito quando Jorge rejeitou qualquer tipo de clausula contratual que lhe garantisse uma remuneração ou herança de Marie. Ela receberia e geriria a sua própria fortuna (cerca de 800,000 francos anuais) e apenas os seus futuros filhos receberiam qualquer dinheiro dela.

Marie Bonaparte e Jorge

Jorge casou-se com Marie pelo civil no dia 21 de novembro de 1907 e numa cerimónia na Igreja Ortodoxa Grega em Atenas no mês seguinte, na qual o tio de Jorge, Valdemar, participou. Em março seguinte Marie estava grávida e, como concordado, o casal regressou a França para se instalar. Quando Jorge levou a sua esposa a Bernstorff para a primeira visita familiar, a esposa de Valdemar, Maria de Orléans teve grandes dificuldades para explicar a Marie a intimidade que unia tio e sobrinho, tão forte que, no final de todas as visitas de Jorge a Bernstorff, ele chorava e Valdemar ficava doente. Ambas as mulheres aprenderam a ter paciência para os momentos privados dos seus maridos. Durante a primeira das visitas, Marie Bonaparte sentiu que se tinha intrometido na intimidade do seu marido e do tio quando se sentou entre os dois e nenhum deles falou. Numa outra visita ela começou a seduzir o príncipe Aage, filho mais velho de Valdemar.

Jorge ter-se-á queixado da esposa do seu tio a Marie, dizendo que ela bebia demasiado e estava a ter um caso com um tratador de cavalos do palácio. No entanto Marie Bonaparte não via nenhum tipo de defeitos nela e admirava-a pela sua perseverança e independência. Este assunto causou uma separação entre o casal.

De 1913 até inícios de 1916, a esposa de Jorge seduziu e depois teve uma relação intensa até novembro de 1919 com o primeiro-ministro francês Aristide Briand. Em 1915, Briand escreveu a Marie Bonaparte que, tendo conhecido e gostado do príncipe Jorge, se sentia culpado pela sua paixão secreta. Jorge tentou persuadi-lo de que a Grécia, oficialmente neutra durante a Primeira Guerra Mundial, mas suspeita de simpatias pelos Poderes Centrais, espera realmente pela vitória dos Aliados. Ele pode ter influenciado Britand a apoiar a desastrosa expedição aliada contra a Turquia em Salonica. Quando o príncipe e a princesa regressaram em julho de 1915 a França após uma visita ao rei Constantino I da Grécia, o caso de Marie com Briand já tinha tornado notório e Jorge expressou um ciúme restringido. Em dezembro de 1916, uma frota francesa estava a bombardear Atenas e em Paris, Briand era suspeito, alternadamente, de ter seduzido Marie para que ela tentasse colocar a Grécia do lado aliado, ou de ter sido seduzido por ela para desafiar Constantino e colocar Jorge no trono grego.

Apesar de simpatizar com o mentor da sua esposa, Sigmund Freud, em 1925, Jorge pediu a Marie para deixar o seu trabalho com o psicanalista para se dedicar à vida familiar, mas ela recusou. Quando ele soube pelos jornais que o seu filho se tinha casado com uma plebeia russa em 1938, ele proibiu-o de regressar a casa e recusou-se a sequer conhecer a sua esposa.

O príncipe Jorge e a princesa Marie tiveram dois filhos: Pedro e Eugénia. Pedro (1908-1980) foi um antropólogo que rejeitou os seus direitos dinásticos ao casar-se com uma plebeia. Eugénia (1910-1988) casou-se com o príncipe Dominic Radziwill (1939-) de quem se divorciou em 1948. O seu segundo marido foi o príncipe Raymundo della Torre e Tasso, Duque de Castel Duino com quem se casou em 1949 e divorciou em 1965.

No dia 21 de fevereiro de 1957, a princesa Marie e o seu marido celebraram a sua boda de ouro. O príncipe Jorge morreu no dia 25 de novembro desse ano, aos 88 anos, sendo o membro da Casa de Oldemburgo mais velho da sua geração. Foi enterrado no Cemitério Real de Tatoi com as bandeiras grega e dinamarquesa no caixão, a sua aliança de casamento, uma madeixa do cabelo e uma foto do seu tio Valdemar e terra do Palácio de Bernstorff.

Relação com Valdemar

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Em 1883, o príncipe foi enviado por seu pai para a Dinamarca, para se juntar à Marinha Dinamarquesa. Com apenas quatorze anos, Jorge está encantado com esta decisão, porque a vê como uma maneira de escapar das restrições do palácio e de seus professores. Na Academia Naval em Copenhague, torna-se também em breve um dos melhores alunos de sua classe.[1]

Valdemar e Jorge, c. 1900

Na Dinamarca, o adolescente foi colocado sob a tutela de seu avô paterno, o rei Cristiano IX, e sob a do caçula de seus tios, o príncipe Valdemar. Com vinte e cinco anos, Valdemar tinha assumido o papel de almirante da frota dinamarquesa e, portanto, foi naturalmente escolhido pelo rei dos helenos como guardião de seu filho. No entanto, o relacionamento de Jorge e Valdemar rapidamente ultrapassa o carinho clássico que une um sobrinho ao tio. Quando o barco de seus pais sai do porto de Copenhague, Jorge é dominado por um forte sentimento de abandono. Consciente da consternação do sobrinho, Valdemar então pegou sua mão. Para o adolescente, esse sinal de afeto é uma revelação. Ele se apaixona muito por seu tio e declara, mais tarde, sobre esse episódio e Valdemar: "A partir daquele dia, a partir daquele momento, eu o amava e nunca tive outro amigo além dele".[2]

De fato, a paixão que une os dois homens dura até a morte do príncipe dinamarquês, em 14 de janeiro de 1939 e, mesmo após os respectivos casamentos, Jorge e Valdemar se reúnem todos os anos, durante várias semanas, na Dinamarca ou no exterior. Camuflada por trás de uma amizade muito forte, sua homossexualidade parece não ter suscitado a desaprovação de sua família e muitas fotografias, tiradas por ocasião de sua reunião anual ou das comemorações de Gota, mostram o quanto nunca hesitaram em exibir juntos.[3]

Devido à longa relação sexual e emocional de Jorge com Valdemar, seus filhos, Pedro e Eugênia se referiram a Valdemar como "Papa Dois".[4]

Cavaleiro da Ordem do Elefante

Cavaleiro da Ordem do Serafim

Grande Comendador da Ordem Real do Dannebrog

Cavaleiro da Ordem da Águia Negra

Referências

  1. Van der Kiste 1994, p. 43.
  2. Bertin 1999, p. 151 et 183.
  3. Mateos Sainz de Medrano 2004, p. 220.
  4. Bertin, Celia (1982). Perrin, ed. Marie Bonaparte. Paris: [s.n.] ISBN 226201602X 
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  • H.R.H Prince George of Greece, The Cretan Drama : The Memoirs of H.R.H. Prince George of Greece, New York, Robert Speller and sons, 1959 (ISBN 0831500743).