Luciferina
Luciferina[1] (do latim lucifer, "que ilumina") é uma classe de pigmentos responsável pela bioluminescência em alguns animais, fungos e algas, como por exemplo os vaga-lumes.[2] O termo luciferina é usado para referir-se a qualquer molécula emissora de luz usada por uma luciferase ou fotoproteína.[2]
As luciferinas são substratos de enzimas denominadas luciferases, que efectuam a descarboxilação oxidativa das luciferinas (sob a forma de adenilato de luciferina, obtido através da activação de luciferina por ATP) a oxiluciferinas usando oxigénio (O2) e produzindo energia luminosa nessa reacção. As oxiluciferinas podem ser regeneradas posteriormente a luciferinas.[3]
História
[editar | editar código-fonte]No séc. XVII, Robert Boyle observara que todos os sistemas bioluminescentes precisavam de oxigénio para funcionar.
Por seu turno, no advento do século XVIII, René Réaumur apercebeu-se de que o pó resultante da moagem de organismos bioluminescentes secos brilhava no escuro, quando misturado com água.[4]
Os primeiros estudos experimentais com sistemas bioluminescentes, no binómio da luciferina-luciferase, reconduzem-se ao francês Raphaël Dubois.[5] Em 1885, quando fazia experiências com pirilampos, descobriu que a reacção bioluminosa do insecto advinha da utilização de uma substância, que era consumida num processo biológico natural.[6] Destarte, extraiu substâncias de vários organismos bioluminescentes diferentes e separou-as em dois grupos, em função da sua termolabilidade.[5] Às que eram termolábeis (destruíveis pelo calor), deu-lhes o nome de luciferase e às que não o eram denominou-as de luciferina.[6] Ao misturar a luciferina e a luciferase, na presença de oxigénio, Raphaël Dubois conseguiu reproduzir um efeito idêntico à bioluminescência natural.[5]
Ulteriormente, a luciferina foi melhor estudada nos anos 50 pela equipa de William McElroy na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, a partir de milhares de pirilampos recolhidos por crianças na região de Baltimore.[7]
Tipos de luciferina
[editar | editar código-fonte]Existem cinco tipos gerais de luciferinas.
- Luciferina de pirilampo (benzotiazol)[8]: encontrada em pirilampos, o substrato da enzima luciferase EC 1.13.12.7.
- Luciferina bacteriana (mononucleótido de flavina)[9]: encontrada em bactérias, alguns cefalópodes da ordem Sepiolida e alguns peixes. Consiste num ácido carboxílico de cadeia longa e um fosfato de riboflavina reduzido.
- Luciferina de dinoflagelados (tetrapirrol)[10]: derivado da clorofila encontrado em dinoflagelados, frequentemente os responsáveis pelo fenómeno de fosforescência nocturna na superfície de oceanos. Um tipo semelhante de luciferina é encontrado no krill.
- Vargulina[11]: encontrada em determinados peixes de águas profundas, especificamente ostracodes e peixes pertencentes ao género Porichthys. É uma imidazolopirazina.
- Coelenterazina[12]: é encontrada em radiolários, ctenóforos, cnidários, lulas, copépodos, quetognatas, peixes e camarões. Encontra-se ligada à proteína aequorina.
Referências
- ↑ Infopédia. «luciferina | Definição ou significado de luciferina no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 24 de maio de 2021
- ↑ a b Hastings J.W (1996). «Chemistries and colors of bioluminescent reactions: a review». Gene. 173 (1): 5–11. PMID 8707056. doi:10.1016/0378-1119(95)00676-1
- ↑ Grimberg, Keila E. (1998). «OS MISTÉRIOS DO VAGA-LUME». Programa Educ@r - USP Sao Carlos. Consultado em 3 de junho de 2012. Arquivado do original em 30 de maio de 2012
- ↑ E. N. Harvey: Bioluminescence. Academic, New York 1952.
- ↑ a b c Waldemar, Adam (1973). Biologisches Licht. [S.l.]: Chemie in unserer Zeit. pp. 182–192. doi:10.1002/ciuz.19730070605
- ↑ a b DuBois, Raphael (1914). La Vie Et La Lumière: Biophotogénèse Ou Production de la Lumière Par Les Êtres Vivants; Action de la Lumière Visible, Des Radiations Ultra-Violettes, ... Des Ondes Hertziennes Sur Les Animaux Et Sur Les Végétaux Photothérapie. Paris: Librarie Félix Alcan. 348 páginas
- ↑ NELSON, David L.; COX, Michael M., Lehninger Principles of Biochemistry, 4th ed., W.H.Freeman, 2004, ISBN 978-0-7167-4339-2
- ↑ Shimomura, Osamu (2006). Bioluminescence: Chemical Principles and Methods. [S.l.]: Word Scientific Publishing Company. p. 11. ISBN 981-256-801-8
- ↑ Shimomura, Osamu (2006). Bioluminescence: Chemical Principles and Methods. [S.l.]: Word Scientific Publishing Company. p. 30. ISBN 981-256-801-8
- ↑ Shimomura, Osamu (2006). Bioluminescence: Chemical Principles and Methods. [S.l.]: Word Scientific Publishing Company. p. 249. ISBN 981-256-801-8
- ↑ J. G. Morin: Based on a review of the data, use of the term 'cypridinid' solves the Cypridina/Vargula dilemma for naming the constituents of the luminescent system of ostracods in the family Cypridinidae. In: Luminescence. 26(1), 2011, S. 1–4. PMID 19862683; doi:10.1002/bio.1178
- ↑ Infopédia. «coelenterazina | Definição ou significado de coelenterazina no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 3 de novembro de 2021
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Os principais tipos de luciferina» (em inglês)