Papers by Veridiana Godoy
Dissertação (Mestrado) — Universidade Federal do ABC, Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Gestão do Território, São Bernardo do Campo, 2023
O objetivo desta dissertação consiste em analisar como a construção social de gênero distribui as... more O objetivo desta dissertação consiste em analisar como a construção social de gênero distribui as responsabilidades pelas práticas de acesso à água em contexto de moradias precárias no espaço urbano, tendo como estudo de caso a comunidade Mangueirinha, localizada no extremo leste do município de São Paulo, um assentamento precário que apresenta vivências diversas de acesso, uso e gestão da água. Para este fim, partiu-se da perspectiva teórica e prática da Ecologia Política Feminista e sua contribuição para o planejamento territorial, aprofundando questões socioambientais do direito à água em escalas menos visíveis, como da casa e do corpo, entrelaçada com as relações de poder de gênero. Com a aplicação de uma metodologia feminista, o objeto de estudo do trabalho são as experiências corporificadas que moradores e moradoras da comunidade Mangueirinha vivenciam frente a realidade de insegurança hídrica e as diversas estratégias que utilizam diariamente para superá-la. Tais experiências corporificadas são a materialização da violência de gênero, da distribuição desigual de infraestruturas no território urbano e da naturalização da insegurança hídrica no cotidiano. Adota-se, então, uma visão crítica sobre o acesso à água em assentamentos precários e abre-se espaço para o debate de como as relações sociais de gênero são produzidas em contexto de moradias precárias. Assim, a pesquisa traz como contribuição uma possibilidade de formulação de políticas públicas mais coerentes com a realidade da parcela da sociedade que vivencia a insegurança hídrica cotidianamente, bem como amplia os estudos de gênero na área da Ecologia Política Urbana em diálogo com o campo do Planejamento Territorial, possibilitando um fértil terreno de mudança teórica e prática.
V Encontro Internacional de Experiências de Planejamento Urbano em Contexto de Conflito Social, 2023
Feminising urban struggles: bodies, territories and politics in the production of peripheral spaces, 2023
A entrevista com Carolina foi a mais dolorosa e sensível que eu fiz para a minha pesquisa de diss... more A entrevista com Carolina foi a mais dolorosa e sensível que eu fiz para a minha pesquisa de dissertação de mestrado. Carolina é uma mulher de 50 anos, preta, de cabelos trançados e manchas na pele. Estudou até a primeira série e está desempregada, mas trabalhava como diarista. Ela trouxe na entrevista a interseccionalidade de classe, raça e gênero que vive na pele. Moram com ela a filha de 24 anos, o filho de 22 anos e o netinho de 2 meses. Durante a entrevista, ela ficou com o neto no colo, segurando-o como se tentasse proteger ele daquela realidade tão dolorida. A família mora há 4 anos em um barraco de madeira na comunidade Mangueirinha, localizada no extremo leste da cidade de São Paulo. Parte da casa é suspensa por palafitas sobre o córrego que cruza a comunidade e que recebe o esgoto das 2000 famílias que moram no território. O barraco tem um cômodo, sem instalação hidráulica e elétrica. O banheiro, construído do lado de fora, está com o piso cedendo sobre o córrego. O deslizamento aconteceu pelas chuvas que encheram o córrego e inundaram sua casa até o nível das janelas. Para acessar água, Carolina busca com balde na torneira da casa de alvenaria da vizinha à frente do lote. Não tem caixa d’água, armazena água em baldes. Tudo ela faz com balde. Sua casa não tem pia de cozinha, lava a louça em uma bacia e depois joga a água utilizada no vaso sanitário, que tem um cano para o córrego. Assim, o corpo de Carolina torna-se parte da infraestrutura. O caminho que ela faz várias vezes ao dia pegando água com balde na torneira da vizinha faz o papel do cano de abastecimento de água, já suas mãos são como a torneira da pia da cozinha, ao lavar a louça com água do balde em uma bacia sobre uma mesa. Após, seu corpo torna-se novamente cano ao levar o esgoto gerado até o vaso sanitário, e depois é como a descarga jogando a água residual na privada, torcendo para que o encanamento não entupa e leve todo esse esgoto para o córrego. Frente a realidade de insegurança hídrica da comunidade Mangueirinha, o objetivo deste trabalho foi analisar como os corpos das moradoras são constituídos por meio de práticas cotidianas para complementar a falta de infraestrutura do território. Com a aplicação de uma metodologia feminista, o trabalho analisa as experiências corporificadas de acesso água e como os corpos são produzidos na prática cotidiana e tornam-se parte da infraestrutura. Tais transformações corporais são a materialização da desigualdade e da violência e a sua naturalização no cotidiano urbano. A análise deste estudo é feita através de narrativas e desenhos, um fazer pesquisa feminista acompanhado pela criatividade além da escrita do texto acadêmico, colocando em pauta a corporificação, a capacidade de agência e também o desconforto, afim de debater uma produção contínua com reflexões sobre desigualdades e subordinações de gênero, raça e classe no objetivo comum de transformação social.
Anais do X Encontro Nacional da Anppas, 2021
O conceito de segurança hídrica predominante na literatura sobre recursos hídricos e incorporado ... more O conceito de segurança hídrica predominante na literatura sobre recursos hídricos e incorporado nas políticas públicas prioriza os aspectos técnicos, infraestruturais e regionais que seriam responsáveis por garantir o acesso à água dos mananciais aos domicílios. Esse artigo problematiza essa perspectiva dialogando com o conceito de insegurança hídrica, que tem como ponto de partida sua compreensão processual, o reconhecimento das desigualdades, das relações que engendram os problemas de acesso à água a partir do domicílio e das práticas cotidianas, em especial, realizadas pelas populações em condição de vulnerabilidade, e onde se concentram os déficits de saneamento. Esse debate crítico é elaborado a partir de análise qualitativa de dados de pesquisa domiciliar empírica realizada em 9 comunidades no município de São Paulo, no contexto da pandemia da Covid-19. Assim, problematiza-se a abordagem dos dados comumente produzidos para expressar a segurança hídrica, apontando a necessidade de se repensar a aplicação desse conceito.
Anais do X Encontro Nacional da Anppas, 2021
Frente à crise ecológica e civilizatória que vem se aprofundando nas últimas décadas, observa-se ... more Frente à crise ecológica e civilizatória que vem se aprofundando nas últimas décadas, observa-se o protagonismo das mulheres rurais nos movimentos de resistência pelos territórios e em defesa da vida. Ao trazer a dimensão de gênero para as questões socioambientais, demanda-se novas epistemologias e metodologias de pesquisa e ação, cruzando a Ecologia Política com objetivos, estratégias e práticas feministas. Assim, pontua-se o debate da crise ecológica a partir dos estudos críticos do desenvolvimento e de escalas menos visíveis, da casa e do corpo, bem como cria-se bases teóricas que se vinculam a mobilizações e propostas feministas alternativas. Nesse sentido, este artigo se propõe a abordar a luta das mulheres no campo a partir da Ecologia Política Feminista (EPF) e dos ecofeminismos, com enfoque na América Latina.
Anais do Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional, 2023
Os dados oficiais sobre abastecimento de água privilegiam a porcentagem de cobertura de rede ou a... more Os dados oficiais sobre abastecimento de água privilegiam a porcentagem de cobertura de rede ou a população atendida, não adentrando na escala domiciliar, na vida cotidiana e nos impactos no corpo dos moradores de assentamentos precários que sofrem insegurança hídrica. Assim, é necessário abordar os processos de produção do espaço urbano e colocar em pauta as relações sociais de poder, como as relações de gênero. Para essa análise crítica do planejamento territorial com foco na insegurança hídrica domiciliar, a perspectiva da Ecologia Política Feminista torna-se um terreno fértil de debate, pois parte da crítica ao pensamento dualista e hierárquico moderno; traz a dimensão de gênero para as questões socioambientais, demandando novas epistemologias e metodologias de pesquisa e ação; cruza o planejamento territorial com objetivos, estratégias e práticas feministas, abordando a crise ecológica a partir dos estudos críticos do desenvolvimento e de escalas menos visíveis, da casa e do corpo; bem como possibilita pensar em propostas alternativas de mundo. Portanto, o objetivo desse artigo é apresentar a Ecologia Política Feminista e sua contribuição para uma análise crítica do planejamento territorial, usando como caso a discussão da insegurança hídrica domiciliar vivenciada nos assentamentos precários urbanos.
A crise mundial provocada pela pandemia da COVID-19 exacerba algumas caracteristicas do atual sis... more A crise mundial provocada pela pandemia da COVID-19 exacerba algumas caracteristicas do atual sistema socioeconomico. Nesse momento, amplia a agudizacao das desigualdades e do controle da populacao. Por outro lado, tambem e possivel vislumbrar uma oportunidade de colapso e reinvencao do futuro, com a elaboracao de utopias. Como lembra Svampa1, na crise economica de 2008, as medidas de protecao economica dos governos foram seletivas e concentraram ainda mais as riquezas nas contas dos “1%” mais ricos.
Anais do Encontro Nacional pelos Direitos Humanos à Água e ao Saneamento, 2021
No início da pandemia de Covid-19 no Brasil, emergiu o debate sobre o acesso à água em assentamen... more No início da pandemia de Covid-19 no Brasil, emergiu o debate sobre o acesso à água em assentamentos precários, pois, sem água disponível em quantidade e qualidade, os moradores não poderiam seguir as recomendações de higiene emelhor se protegerem do contágio da doença. Nesse contexto, foi desenvolvido o projeto de pesquisa e extensão“Cartografias do acesso à água em moradias precárias na pandemia da Covid-19”, numa parceria de universidades commovimentos de moradia. O projeto visou identificar e mapear os problemas de acesso à água nesses assentamentos. Oobjetivo desse artigo é apresentar a metodologia de espacialização dos dados e uma análise de seus resultados. A pesquisa qualitativa utilizou questionário eletrônico para coletar dados, identificou e mapeou, de forma inovadora,remota e colaborativa, os problemas de acesso à água abrangendo municípios da Região Metropolitana de São Paulo e,com maior ênfase, no município de São Paulo.
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