Fernando Fuão
Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pelotas (1980), Doutor em Projetos de Arquitetura Texto e Contexto pela Escuela Tecnica Superior de Arquitectura de Barcelona-UPC (!987- 92) com a tese 'Arquitectura como Collage', Pós Doutor pelo Programa de Pós-graduação em Filosofia-UERJ sob a supervisão da Filosofa Dra. Dirce Solis (2011-12). Professor Titular da Faculdade de Arquitetura. (UFRGS). Ministro na graduação desde 1992, a disciplina: Projeto Arquitetonico, e no Programa de Pesquisa e Pós Graduação em Arquitetura. PROPAR, a disciplina: Textos Fundamentais da Arquitetura Moderna. Atuo principalmente nos seguintes temas: arquitetura e inclusão social, galpões de reciclagem, filosofia da desconstrução, ética na arquitetura, processo de criação, collage, e representação, . Fui editor chefe do periódico ARQtexto durante 2005 e 2006, atualmente sou editor chefe da Revista PIXO. Revista de arquitetura, cidade e contemporaneidade. UFPEL. Autor dos livros: Derrida e Arquitetura (Solis
less
Uploads
Drafts by Fernando Fuão
Esse ensaio apresenta uma possibilidade de desdobramento da ideia de hospitalidade-acolhimento enunciado por Jacques Derrida. Apresenta a teoria dos Encontros na collage como um intento de avançar nas obscuras relações entre hospede e hospedeiro, para tanto se compara essas duas figuras analogamente as figuras da espera e da errancia como apresentei em A collage como trajetória amorosa. Procura-se mostrar que a questão da hospitalidade similarmente a collage tem a propriedade de unir as diferenças, mas conservando-as enquanto diferenças; e que tanto a figura da espera e do errante são entidades indissociáveis uma da outra.
Palavras-chave: Hospitalidade. Collage. Espera. Errância. Jacques Derrida
ABSTRACT
This paper presents a possibility of unfolding the idea of hospitality-host statement by Jacques Derrida. It presents the Theory of Encounters in collage as an attempt to advance the historical relationship between guest and host, comparing them similarly figures of waiting and wandering, as it was presented at my book called “The collage as loving trajectory”. It seeks to show that the issue of hospitality – similar to collage – has the property of uniting paste the differences, but keeping them as differences; and that both the figure of waiting and wandering are inseparable entities from each other.
O feitiço das embalagens. Os fardos do tempo moderno, o tempo dos fardos modernos. O novo tempo da colheita e o ciclo "capetalista", como diria o profeta Gentileza, os fardos da reciclagem dos resíduos sólidos, o lixo mesmo constituem a grande colheita da atualidade, a grande plantação, a nova cultura. Os frutos do desperdício, os flakes da superficialidade da modernidade proliferam em todos os lugares. Um sentido que a pobreza encontrou dentro de um processo produtivista massacrante de uma sociedade sem sentido mesmo. O lixo é também metafórico de um sentido jogado fora, esvaziado. Um sentido que os pobres encontraram no desperdício, sentido e sem sentido, que vem justificar toda cultura do desperdício humano, sobretudo do descartável humano. A (i)numanidade do (i)mundo. Colheita do desperdício, cultura da superficialidade. Na nova plantação, não há sementes nem frutos, tampouco se vê a polpa viva, só cascas que achamos que protegem os produtos, embalagens. Produzem-se fardos enganosos coloridos de latinhas de refrigerantes, de detergentes, tetrapak, compondo um mosaico de cores admirável, como florais. ..........
iremos inserir nosso trabalho no deslocamento da ética tradicional, como ética dos valores, para o campo do ético derridiano, o de uma democracia
por vir. A discussão ética na arquitetura será compreendida, então, por esse viés de desvio derridiano a partir do qual coloca-se em discussão
também seu ensino nas universidades, apontando a fraqueza de um entendimento que pouco avançou até hoje além dos limites de uma ética de
escritório ou de originalidade de projetos .
Palavras-chave: Arquitetura; ético; desconstrução; democracia por vir;
Abstract
Our proposal is to think the context of the architecture from ethical-political references, considering the deconstruction posture. To do so, we will
insert our work in the displacement of traditional ethics, as ethics of values, to the field of derridian ethics, that of a democracy to come. The
ethical discussion in architecture is then understood by this bias of Derridean deviation from which its teaching in the universities is also
discussed, pointing to the weakness of an understanding that has not yet advanced beyond the limits of an ethics of office or originality of projects.
Key words: Architecture; ethical; deconstruction; democracy to come;
Esse ensaio faz parte da espaçologia das bordas.
As bordas do tempo. A ideia de collage em Antonio Negri
O que é uma borda
AS BORDAS DO TEMPO 2. Diferença e repetição. A lagoa do peixe
Esse ensaio é fruto de duas inquietações: meu trabalho durante dezoito anos com moradores de rua, recicladores e catadores; e principalmente de um curso que propus de filosofia, com o prof. Jose Luiz Ferreira educador popular, e a população em situação de rua na Escola Porto Alegre; uma escola voltada a formação básica de primeiro grau aos moradores de rua. Além de não contarmos com muitos alunos durante esse curso percebíamos a prática comum dos alunos de não conseguirem ficar sentados muito tempo, observávamos a inquietação do corpo não docilizado, do corpo indisciplinado. As aulas não podiam se prorrogar por muito tempo, aguentavam uma hora até uma hora e meia no máximo, mesmo que a aula para todos fosse interessante e contasse com a participação e curiosidade de todos. Trabalhamos nesse curso as ideias de acolhimento de Jacques Derrida e E. Levinas, André Conte-Sponville sobre o amor, as ideias de Heidegger, Michel Foucault, e muito John Zerzan. Essa situação de estar confinado numa sala de aula nos interrogava muito, e nos questionava sobre a questão da domesticação escolar e de conceitos como civilidade e cidadania. Poucos anos antes enquanto estudava o tema da domesticação humana conheci o pequeno livro Regras para o Parque Humano de Peter Sloterdijk, o qual me marcou profundamente dada a dura realidade em que o livro apresenta a seus leitores. Essas inquietações permaneceram latentes e me levaram a debruçar sobre ele, e acabei trabalhando e apresentando ele durante três anos no programa de pesquisa e pós-graduação em arquitetura. PROPAR. UFRGS. Entretanto essa análise nunca implicou uma relação explicita pelo menos no texto com os moradores de rua; mas aquela experiência do curso de filosofia está silenciosamente entranhada nesse texto; o porquê de suas inquietações, da fala corporal, a questão da indisciplinaridade e da domesticação humana a que fomos submetidos desde a nossa infância, e sobre tudo os estigmas que eles carregam. Certamente aprendemos muito mais sobre a existência com o pessoal em situação de rua do que eles sobre filosofia. Esse ensaio, enfim procura mostrar quanto eles têm para nos mostrar como alternativa a nossas ansiedades e inquietações, sobretudo questionar essa modelagem de nossos corpos, enfim: o que fizeram e fazem com a gente; corroborando com a ética da alteridade e da pedagogia do oprimido de Paulo Freire. É justamente esse outro que carrega a diferença que vem questionar a própria existência minha. E nessa tentativa de explicar a domesticação humana não há nenhum romantismo em retratar os moradores de rua e todos esses corpos que escaparam e resistem à domesticação humana; pelo contrário, é intenção mesmo de mostrar o caro preço e sofrimento da vida que eles pagam por essas escolhas conscientes e inconscientes, nem se pode falar em escolhas visto que foram submetidos involuntariamente pelo Estado. Esse poder que castiga é também punitivo desde o nascimento desses corpos, fabrica-se seres que permaneceram toda sua vida quase como espécimes para justificar o humanismo e a civilização; essa constatação dirige-se especificamente a própria criação e manutenção da miséria e pobreza.
Uma filosofia do abandono, reflexão do corpo presente, do corpo partido, sepultado e oculto. Filosofia que exala o choro da desesperança, expondo a longa trajetória da negação do corpo na filosofia e na História.
Foi justamente no absurdo dessa ausência, desse abandono do corpo que tem-se pautado a reflexão de nossas vidas e de nossa civilização. A culpabilidade, a punição sobre o corpo, as cruxificações religiosas. Uma obliteração da nossa percepção da vulnerabilidade de nossas limitações enquanto corpo, que se revoltando contra a natureza, mascarou a merreca da vida, e das limitadas condições para sua manifestação.
Filosofia que exalta o corpo e todas as coisas que caracterizam o humano o carnat, a carne, o sangue. O humano encarnado.
O corpo é a única ponte sobre o abismo da existência. Cinza é a cor da terra humana, da distancia entre pai e filho, ente o filho e a mãe, cinza é a cor do abandono. Mas cinza também é a cor da religação. Mais que uma filosofia, Cinza é uma categoria de tempo-espaço pouco observada. Uma espacialidade constituída de pequenos pontos que, a cada ponto que se fragmenta, gera novos espaços intermediários, tão ou mais extensos que os anteriores, onde se situam os conceitos antigos e novos, entre o branco e o preto, entre o incluído e o excluído, entre o dentro e fora. Cinza é o espaço intermediário, o grande espaço da existência.
A lógica da fragmentação da matéria diz que exatamente a cada fragmentação gera-se um novo espaço que é sempre espaço da criação, da reconjugação, dos desdobramentos da matéria. Cinza
Como filosofia o cinza é ponte, é cola, conecta pensamentos e figuras através do artificio da incisão, da perfuração. Sua função é eviscerar as superfícies, ainda que as expensas das incisões expostas, das cicatrizes.
Aponta aos buracos, os cortes como lugar da criação, por onde tudo entra, tudo sai. Mas esse buraco não é o nada. O buraco é a vida, o recipiente da existência. "O lugar do corpo é o lugar do espírito: a película fina de sua superfície é o fundo grosso de seu abismo"
Filosofia Cinza derrete muito da filosofia clássica, reenvia a garnde “Razão” sem perdão ao corpo, lugar de onde nunca deveria ter saído. Filosofia cinza é uma filosofia da exclusão, da representação dos excluídos, do corpo carne como única representação do espoliado, difere-se do corpo escrita, do corpo figura, fotografia. Representação não desfiável, ou dobrável, mas instantânea.
O corpo é sempre político, seu valor como inumerável é sempre o esquecido.
Marcia Tiburi mostra o corpo na sua verdade de fantasma, ser da solidão, enterrado na filosofia, e ao precipitar-se como pó sobre o pensamento leva o leitor a reflexão de seu próprio corpo como escrita, como representação
Abstract
The paper explores some areas of the concept of “interiority” in architecture. It begins with a search for a sense of the existence of an “interior” - being this interior the place that bears the meaning – and conducts an analysis of the geometric and spatial “deconstruction” of inside and outside, center and periphery. Further on, the theme hospitality is presented as the place called “other” of architecture; the place that allows for human relations to manifest; hospitality is the “founder” or “establisher” of cities. This theme is introduced after Jacques Derrida and Levinas’ ideas, in which the logic of the “other” indicates the prospect of a new look over the question of space, city and architecture. It also studies the etymology of home, lares - having Foustel de Coulanges as a source - and shows relationships among religion, private property and family. By way of illustration, it shows the disappearance of the human in the theory of interiority in Peter Eisenman’s architecture.
Publicado em Cadernos PROARQ. http://www.proarq.fau.ufrj.br/site/cadernos_proarq/cadernos-proarq_14.pdf
Assim, esse ensaio lança-se além das reflexões sobre as nove lições de Negri, buscando atingir aquilo que eu ainda não havia tratado com a devida intensidade na collage: os contornos, as bordas das figuras, as bordas da matéria, as bordas do ser, as bordas das multidões. Collage, aqui, não é uma reflexão sobre o procedimento ou a técnica, mas sim um questionamento sobre os limites da representação, sobre a organização dos corpos no espaço, na vida. Sobre essas imprecisões, por assim dizer, a collage se delineia como os novos contornos do ser.
Portanto, em meio às “nove lições ensinadas a mim mesmo” de Negri, misturam-se também reflexões, muito pessoais, de uma experiência em torno aos limites da natureza, das relações da matéria presentes na estreita e extensa faixa da beira do mar do Rio Grande do Sul, Brasil. É o encontro dessas forças da vida, como devaneios poéticos, que vem iluminar as questões que se seguem. A argumentação desse texto está entrelaçada – como um estranho casamento – pelas passagens de Negri de “Kairòs, Alma Vênus, Multitudo” e as passagens de “A Collage como trajetória amorosa”; ambas costuram-se pelos contornos das figuras, pelos encontros, pela pobreza e excessos, pelo acaso e, sobretudo, pelo amor.
Books by Fernando Fuão
Papers by Fernando Fuão
Esse ensaio apresenta uma possibilidade de desdobramento da ideia de hospitalidade-acolhimento enunciado por Jacques Derrida. Apresenta a teoria dos Encontros na collage como um intento de avançar nas obscuras relações entre hospede e hospedeiro, para tanto se compara essas duas figuras analogamente as figuras da espera e da errancia como apresentei em A collage como trajetória amorosa. Procura-se mostrar que a questão da hospitalidade similarmente a collage tem a propriedade de unir as diferenças, mas conservando-as enquanto diferenças; e que tanto a figura da espera e do errante são entidades indissociáveis uma da outra.
Palavras-chave: Hospitalidade. Collage. Espera. Errância. Jacques Derrida
ABSTRACT
This paper presents a possibility of unfolding the idea of hospitality-host statement by Jacques Derrida. It presents the Theory of Encounters in collage as an attempt to advance the historical relationship between guest and host, comparing them similarly figures of waiting and wandering, as it was presented at my book called “The collage as loving trajectory”. It seeks to show that the issue of hospitality – similar to collage – has the property of uniting paste the differences, but keeping them as differences; and that both the figure of waiting and wandering are inseparable entities from each other.
O feitiço das embalagens. Os fardos do tempo moderno, o tempo dos fardos modernos. O novo tempo da colheita e o ciclo "capetalista", como diria o profeta Gentileza, os fardos da reciclagem dos resíduos sólidos, o lixo mesmo constituem a grande colheita da atualidade, a grande plantação, a nova cultura. Os frutos do desperdício, os flakes da superficialidade da modernidade proliferam em todos os lugares. Um sentido que a pobreza encontrou dentro de um processo produtivista massacrante de uma sociedade sem sentido mesmo. O lixo é também metafórico de um sentido jogado fora, esvaziado. Um sentido que os pobres encontraram no desperdício, sentido e sem sentido, que vem justificar toda cultura do desperdício humano, sobretudo do descartável humano. A (i)numanidade do (i)mundo. Colheita do desperdício, cultura da superficialidade. Na nova plantação, não há sementes nem frutos, tampouco se vê a polpa viva, só cascas que achamos que protegem os produtos, embalagens. Produzem-se fardos enganosos coloridos de latinhas de refrigerantes, de detergentes, tetrapak, compondo um mosaico de cores admirável, como florais. ..........
iremos inserir nosso trabalho no deslocamento da ética tradicional, como ética dos valores, para o campo do ético derridiano, o de uma democracia
por vir. A discussão ética na arquitetura será compreendida, então, por esse viés de desvio derridiano a partir do qual coloca-se em discussão
também seu ensino nas universidades, apontando a fraqueza de um entendimento que pouco avançou até hoje além dos limites de uma ética de
escritório ou de originalidade de projetos .
Palavras-chave: Arquitetura; ético; desconstrução; democracia por vir;
Abstract
Our proposal is to think the context of the architecture from ethical-political references, considering the deconstruction posture. To do so, we will
insert our work in the displacement of traditional ethics, as ethics of values, to the field of derridian ethics, that of a democracy to come. The
ethical discussion in architecture is then understood by this bias of Derridean deviation from which its teaching in the universities is also
discussed, pointing to the weakness of an understanding that has not yet advanced beyond the limits of an ethics of office or originality of projects.
Key words: Architecture; ethical; deconstruction; democracy to come;
Esse ensaio faz parte da espaçologia das bordas.
As bordas do tempo. A ideia de collage em Antonio Negri
O que é uma borda
AS BORDAS DO TEMPO 2. Diferença e repetição. A lagoa do peixe
Esse ensaio é fruto de duas inquietações: meu trabalho durante dezoito anos com moradores de rua, recicladores e catadores; e principalmente de um curso que propus de filosofia, com o prof. Jose Luiz Ferreira educador popular, e a população em situação de rua na Escola Porto Alegre; uma escola voltada a formação básica de primeiro grau aos moradores de rua. Além de não contarmos com muitos alunos durante esse curso percebíamos a prática comum dos alunos de não conseguirem ficar sentados muito tempo, observávamos a inquietação do corpo não docilizado, do corpo indisciplinado. As aulas não podiam se prorrogar por muito tempo, aguentavam uma hora até uma hora e meia no máximo, mesmo que a aula para todos fosse interessante e contasse com a participação e curiosidade de todos. Trabalhamos nesse curso as ideias de acolhimento de Jacques Derrida e E. Levinas, André Conte-Sponville sobre o amor, as ideias de Heidegger, Michel Foucault, e muito John Zerzan. Essa situação de estar confinado numa sala de aula nos interrogava muito, e nos questionava sobre a questão da domesticação escolar e de conceitos como civilidade e cidadania. Poucos anos antes enquanto estudava o tema da domesticação humana conheci o pequeno livro Regras para o Parque Humano de Peter Sloterdijk, o qual me marcou profundamente dada a dura realidade em que o livro apresenta a seus leitores. Essas inquietações permaneceram latentes e me levaram a debruçar sobre ele, e acabei trabalhando e apresentando ele durante três anos no programa de pesquisa e pós-graduação em arquitetura. PROPAR. UFRGS. Entretanto essa análise nunca implicou uma relação explicita pelo menos no texto com os moradores de rua; mas aquela experiência do curso de filosofia está silenciosamente entranhada nesse texto; o porquê de suas inquietações, da fala corporal, a questão da indisciplinaridade e da domesticação humana a que fomos submetidos desde a nossa infância, e sobre tudo os estigmas que eles carregam. Certamente aprendemos muito mais sobre a existência com o pessoal em situação de rua do que eles sobre filosofia. Esse ensaio, enfim procura mostrar quanto eles têm para nos mostrar como alternativa a nossas ansiedades e inquietações, sobretudo questionar essa modelagem de nossos corpos, enfim: o que fizeram e fazem com a gente; corroborando com a ética da alteridade e da pedagogia do oprimido de Paulo Freire. É justamente esse outro que carrega a diferença que vem questionar a própria existência minha. E nessa tentativa de explicar a domesticação humana não há nenhum romantismo em retratar os moradores de rua e todos esses corpos que escaparam e resistem à domesticação humana; pelo contrário, é intenção mesmo de mostrar o caro preço e sofrimento da vida que eles pagam por essas escolhas conscientes e inconscientes, nem se pode falar em escolhas visto que foram submetidos involuntariamente pelo Estado. Esse poder que castiga é também punitivo desde o nascimento desses corpos, fabrica-se seres que permaneceram toda sua vida quase como espécimes para justificar o humanismo e a civilização; essa constatação dirige-se especificamente a própria criação e manutenção da miséria e pobreza.
Uma filosofia do abandono, reflexão do corpo presente, do corpo partido, sepultado e oculto. Filosofia que exala o choro da desesperança, expondo a longa trajetória da negação do corpo na filosofia e na História.
Foi justamente no absurdo dessa ausência, desse abandono do corpo que tem-se pautado a reflexão de nossas vidas e de nossa civilização. A culpabilidade, a punição sobre o corpo, as cruxificações religiosas. Uma obliteração da nossa percepção da vulnerabilidade de nossas limitações enquanto corpo, que se revoltando contra a natureza, mascarou a merreca da vida, e das limitadas condições para sua manifestação.
Filosofia que exalta o corpo e todas as coisas que caracterizam o humano o carnat, a carne, o sangue. O humano encarnado.
O corpo é a única ponte sobre o abismo da existência. Cinza é a cor da terra humana, da distancia entre pai e filho, ente o filho e a mãe, cinza é a cor do abandono. Mas cinza também é a cor da religação. Mais que uma filosofia, Cinza é uma categoria de tempo-espaço pouco observada. Uma espacialidade constituída de pequenos pontos que, a cada ponto que se fragmenta, gera novos espaços intermediários, tão ou mais extensos que os anteriores, onde se situam os conceitos antigos e novos, entre o branco e o preto, entre o incluído e o excluído, entre o dentro e fora. Cinza é o espaço intermediário, o grande espaço da existência.
A lógica da fragmentação da matéria diz que exatamente a cada fragmentação gera-se um novo espaço que é sempre espaço da criação, da reconjugação, dos desdobramentos da matéria. Cinza
Como filosofia o cinza é ponte, é cola, conecta pensamentos e figuras através do artificio da incisão, da perfuração. Sua função é eviscerar as superfícies, ainda que as expensas das incisões expostas, das cicatrizes.
Aponta aos buracos, os cortes como lugar da criação, por onde tudo entra, tudo sai. Mas esse buraco não é o nada. O buraco é a vida, o recipiente da existência. "O lugar do corpo é o lugar do espírito: a película fina de sua superfície é o fundo grosso de seu abismo"
Filosofia Cinza derrete muito da filosofia clássica, reenvia a garnde “Razão” sem perdão ao corpo, lugar de onde nunca deveria ter saído. Filosofia cinza é uma filosofia da exclusão, da representação dos excluídos, do corpo carne como única representação do espoliado, difere-se do corpo escrita, do corpo figura, fotografia. Representação não desfiável, ou dobrável, mas instantânea.
O corpo é sempre político, seu valor como inumerável é sempre o esquecido.
Marcia Tiburi mostra o corpo na sua verdade de fantasma, ser da solidão, enterrado na filosofia, e ao precipitar-se como pó sobre o pensamento leva o leitor a reflexão de seu próprio corpo como escrita, como representação
Abstract
The paper explores some areas of the concept of “interiority” in architecture. It begins with a search for a sense of the existence of an “interior” - being this interior the place that bears the meaning – and conducts an analysis of the geometric and spatial “deconstruction” of inside and outside, center and periphery. Further on, the theme hospitality is presented as the place called “other” of architecture; the place that allows for human relations to manifest; hospitality is the “founder” or “establisher” of cities. This theme is introduced after Jacques Derrida and Levinas’ ideas, in which the logic of the “other” indicates the prospect of a new look over the question of space, city and architecture. It also studies the etymology of home, lares - having Foustel de Coulanges as a source - and shows relationships among religion, private property and family. By way of illustration, it shows the disappearance of the human in the theory of interiority in Peter Eisenman’s architecture.
Publicado em Cadernos PROARQ. http://www.proarq.fau.ufrj.br/site/cadernos_proarq/cadernos-proarq_14.pdf
Assim, esse ensaio lança-se além das reflexões sobre as nove lições de Negri, buscando atingir aquilo que eu ainda não havia tratado com a devida intensidade na collage: os contornos, as bordas das figuras, as bordas da matéria, as bordas do ser, as bordas das multidões. Collage, aqui, não é uma reflexão sobre o procedimento ou a técnica, mas sim um questionamento sobre os limites da representação, sobre a organização dos corpos no espaço, na vida. Sobre essas imprecisões, por assim dizer, a collage se delineia como os novos contornos do ser.
Portanto, em meio às “nove lições ensinadas a mim mesmo” de Negri, misturam-se também reflexões, muito pessoais, de uma experiência em torno aos limites da natureza, das relações da matéria presentes na estreita e extensa faixa da beira do mar do Rio Grande do Sul, Brasil. É o encontro dessas forças da vida, como devaneios poéticos, que vem iluminar as questões que se seguem. A argumentação desse texto está entrelaçada – como um estranho casamento – pelas passagens de Negri de “Kairòs, Alma Vênus, Multitudo” e as passagens de “A Collage como trajetória amorosa”; ambas costuram-se pelos contornos das figuras, pelos encontros, pela pobreza e excessos, pelo acaso e, sobretudo, pelo amor.
ABSTRACT The article revisits modernity from the point of view of specters. The 'hontology' proposed by Jacques Derrida in his 1993 book Specters of Marx is presented as the study of this totally different and unexpected other. It shows the obsession of a hygienism of specters and ghosts made by the Modern Movement, the exorcism of modernity. It has as input the study of the Lares gods of Greco-Roman antiquity and the current relations with the practice of living.