Thesis Chapters by Luísa Molina
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Resumo
Esta tese é uma resposta à experiência de guerra que vivemos sob um governo que fez do e... more Resumo
Esta tese é uma resposta à experiência de guerra que vivemos sob um governo que fez do extrativismo predatório a sua agenda para a terra. Trataremos do cerco que se deu na região do rio Tapajós, sudoeste paraense, com enfoque nas investidas contra o povo Munduruku e seus territórios. Caracterizada por um denso histórico de exploração intensiva da floresta, do solo e do subsolo, mas também pela ocupação indígena de longa duração, essa região esteve no centro das disputas pela abertura das terras indígenas à mineração e ao garimpo entre 2019 e 2022. A maneira como essas disputas se deram e seus desdobramentos nos territórios dos Munduruku são analisados aqui, em uma proposta de expandir o que comumente se enquadra sob “impactos do garimpo”. Articularemos descrições dos modos indígenas de constituição de coletivo em composição com a terra para trazer à tona o que, na perspectiva da luta munduruku, deve ser considerado ao falar de invasões, e observaremos como a tenacidade da luta não permite que o cerco a defina.
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Abstract
This dissertation is a response to the experience of war we have lived through under a government that has made predatory extractivism its agenda for the land. We will deal with the siege that has taken place in the Tapajós River region, south-west Pará, with a focus on the attacks against the Munduruku people and their territories. Characterised by a dense history of intensive exploitation of the forest, soil and subsoil, but also by long-standing indigenous occupation, this region was at the centre of disputes over the opening up of indigenous lands to mining and prospecting between 2019 and 2022. The way in which these disputes took place and their consequences for the territories of the Munduruku are analysed here, in a bid to expand what is commonly described as the ‘impacts of mining’. We will articulate descriptions of the indigenous ways of constituting a collective in composition with the land in order to bring to light what, from the perspective of the Munduruku struggle, should be considered when talking about invasions, and we will observe how the tenacity of the struggle does not allow the siege to define it.
In: Insurgências, ecologias dissidentes e antropologia modal. [E-book] / or-ganizadores, Suzane de Alencar Vieira, Jorge Mattar Villela. - Goiânia: Editora da Imprensa Universitária, 2020

Resumo
A que esforço imaginativo as políticas indígenas nos convidam hoje? Se por um lado a o... more Resumo
A que esforço imaginativo as políticas indígenas nos convidam hoje? Se por um lado a ofensiva contra as terras e as vidas dos indígenas recrudesce, por outro, as lutas indígenas se propagam em diversas formas e em um espaço distinto daquele onde impera a identidade e a obediência; onde o coletivo não se reduz à unidade sob os signos da civilização, mas promove a multiplicação mesma da diferença. Inspirada por iniciativas de autodemarcação de Terras Indígenas (TIs), a presente dissertação se debruça sobre a relação entre terra, luta e vida para discutir dois problemas principais. Primeiro, acerca do que são e o que fazem as autodemarcações quando os indígenas indicam que elas não se reduzem à pressão sobre o governo, à simples garantia de direitos, ou à dimensão estritamente técnica de suas atividades. Segundo, sobre como pensar a atuação do Estado brasileiro em relação aos direitos territoriais e à vida dos indígenas, de modo a pensar com e para o que esses povos enfrentam e clamam hoje. Tomando como fio condutor o conflito em torno do território Daje Kapap Eypi/Sawré Muybu, dos índios Munduruku, e o complexo de 43 usinas hidrelétricas projetadas para o rio Tapajós, este trabalho parte das críticas munduruku à atuação do governo brasileiro nesse conflito, e à política de expropriação e exploração predatória do solo e dos rios da Amazônia, para discutir práticas e discursos de omissão, improviso e gestão da ilegalidade que têm levado à frente projetos e políticas etnocidas e genocidas. Além disso, e principalmente, esta dissertação procura mostrar que não é apenas da garantia de sobrevivência numa terra demarcada que se trata a luta – como se sobreviver bastasse e qualquer terra servisse; é, antes, pela existência do coletivo como tal e a persistência de seu modo de vida, indissociável da vida em sua terra, que lutam. A autodemarcação como autodeterminação indígena: eis a potência dessa iniciativa.
Papers by Luísa Molina
Stanford University Press eBooks, Nov 29, 2022
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Dissertação (mestrado)—Universidade de Brasília, Instituto de Ciências Sociais, Departamento de A... more Dissertação (mestrado)—Universidade de Brasília, Instituto de Ciências Sociais, Departamento de Antropologia, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, 2017.A que esforço imaginativo as políticas indígenas nos convidam hoje? Se por um lado a ofensiva contra as terras e as vidas dos índios recrudesce, por outro, as lutas indígenas se propagam em diversas formas e em um espaço distinto daquele onde impera a identidade e a obediência; onde o coletivo não se reduz à unidade sob os signos da civilização, mas promove a multiplicação mesma da diferença. Inspirada por iniciativas de autodemarcação de Terras Indígenas (TIs), a presente dissertação se debruça sobre a relação entre terra, luta e vida para discutir dois problemas principais. Primeiro, acerca do que são e o que fazem as autodemarcações quando os índios indicam que elas não se reduzem à pressão sobre o governo, à simples garantia de direitos, ou à dimensão estritamente técnica de suas atividades. Segundo, sobre como pensa...

Este resumo executivo é uma versão reduzida do relatório homônimo, desenvolvido ao longo de seis ... more Este resumo executivo é uma versão reduzida do relatório homônimo, desenvolvido ao longo de seis meses por quatro pesquisadoras com atuação prévia no vale do Tapajós. Trata-se da apresentação do caso emblemático da Terra Indígena (TI) Munduruku, no escopo do complexo e multifacetado problema da garimpagem de ouro realizada (ilegalmente) no interior de terras tradicionalmente ocupadas por povos indígenas. Localizada no alto curso do rio Tapajós, sudoeste do Pará, e habitada tanto por comunidades Munduruku e Apiaká como por indígenas em isolamento voluntário, a TI Munduruku está localizada na margem direita do rio Tapajós, com uma área de 2.382 mil hectares. Junto com a TI Sai Cinza (também no alto Tapajós) e com a TI Kayabi (no baixo Teles Pires), essa Terra Indígena abriga cerca de 145 aldeias Munduruku. Há ainda terras Munduruku no médio Tapajós: as TIs Sawre Muybu e Sawre Ba'pin, e as reservas indígenas Praia do Índio e Praia do Mangue. Atualmente, a população Munduruku conta com cerca de 14 mil pessoas. Guerreiros em fiscalização autônoma da TI Munduruku, 2018 Highlights Destacamos a seguir alguns pontos centrais desta nota técnica: O avanço da exploração garimpeira nas terras indígenas (TI) habitadas pelo povo Munduruku no alto Tapajós é explicitado pelo aumento expressivo do desmatamento.
ACENO - Revista de Antropologia do Centro-Oeste, 2019
Que tipo de encontro é produzido na conjugação entre, de um lado, as Terras Indígenas (TIs) const... more Que tipo de encontro é produzido na conjugação entre, de um lado, as Terras Indígenas (TIs) constituídas sob o regime estatal, e de outro os modos indígenas de entender a terra e de habitá-la? Partindo da ideia de que a terra é central para a condição de autodeterminação ontológica e política dos ameríndios, e de que estes sabem melhor do que ninguém que as suas terras não se resumem às TIs, o presente artigo apresenta uma proposta de abordagem das autodemarcações de terra que questiona diretamente a redução da ação política desses povos à pressão sobre o Estado-nação. Para isso, debate contribuições recentes – como a de Oliveira Filho (2018) – e mobiliza tanto a descrição de experiências de autodemarcação como a produção específica sobre retomadas de terra.
R@u. Revista de antropologia social dos alunos do PPGAS-UFSCar, Jun 1, 2017
A que esforço imaginativo as políticas indígenas nos convidam? O presente artigo explorará uma vi... more A que esforço imaginativo as políticas indígenas nos convidam? O presente artigo explorará uma via de encontro entre autodemarcações e retomadas de terra ao examinar, de um lado, as cartas publicadas pelos índios Munduruku durante a autodemarcação da terra indígena Sawré Muybu (PA); e, de outro, a etnografia realizada junto aos Tupinambá da Serra do Padeiro (BA). Central nesse encontro, a articulação entre terra, vida e luta, enfatizada pelos discursos indígenas, iluminará ainda o esforço deste artigo em discutir a atualidade da tese clastreana do contra-Estado e em sugerir uma certa torção na abordagem que Ghassam Hage (2012) propõe ao pensamento antropológico crítico diante do imaginário político radical. Palavras-chave: autodemarcação de terra; retomada de terra; política indígena; contra-Estado.
Resumo: Que tipo de encontro é produzido na conjugação entre, de um lado, as Terras Indígenas (TI... more Resumo: Que tipo de encontro é produzido na conjugação entre, de um lado, as Terras Indígenas (TIs) constituídas sob o regime estatal, e de outro os modos indí-genas de entender a terra e de habitá-la? Partindo da ideia de que a terra é central para a condição de autodeterminação ontológica e política dos ameríndios, e de que estes sabem melhor do que ninguém que as suas terras não se resumem às TIs, o presente artigo apresenta uma proposta de abordagem das autodemarcações de terra que questiona diretamente a redução da ação política desses povos à pressão sobre o Estado-nação. Para isso, debate contribuições recentes-como a de Olivei-ra Filho (2018)-e mobiliza tanto a descrição de experiências de autodemarcação como a produção específica sobre retomadas de terra.

O presente artigo tem como fio condutor o conflito em torno da regularização fundiária da Terra I... more O presente artigo tem como fio condutor o conflito em torno da regularização fundiária da Terra Indígena (TI) Sawré Muybu (do povo Munduruku, no Médio Rio Tapajós) e a investida de megaprojetos de infraestrutura sobre a bacia Tapajós-Teles Pires – como usinas hidrelétricas, hidrovias e portos. Ao tratar da arena complexa desse conflito, será dado destaque àquilo que a crítica munduruku aponta como operações do tipo “faz de conta”, a partir das quais determinados órgãos do governo federal passam a ignorar a presença indígena naquelas áreas e, assim, abrir caminho aos planos de exploração intensiva dos seus “recursos”. Ligada a esta noção está outra, também apresentada neste texto, segundo a qual os direitos territoriais indígenas – e os processos administrativos referentes a eles, como o de uma demarcação de terra – são não raro objetos de jogos de improviso. Ao introduzir essas duas noções – e partindo da inseparabilidade entre “terra” e “vida”, afirmada nos discursos indígenas –, este atrigo buscará argumentar que a garantia da demarcação de uma terra é condição para a própria existência e a autodeterminação dos povos indígenas. Defenderemos ainda que, inversamente, os projetos de barramento de rios amazônicos são de fato promotores de morte. Partindo de elaborações indígenas a esse respeito, buscaremos contribuir para a recente recuperação do conceito de “etnocídio” por promotores e juízes, sugerindo uma ampliação do seu escopo ao abriga-lo sob o conceito de genocídio.
MOLINA, L. P. 2018. As encruzilhadas das demarcações de TIs:
'interesse nacional', etnocídio e genocídio. In: Alcântara, G., Tinôco, L., Maia, L. (org.) "Índios, Direitos Originários e Territorialidade." Associação Nacional dos Procuradores da República
A que esforço imaginativo as políticas indígenas nos convidam? O presente artigo explorará uma vi... more A que esforço imaginativo as políticas indígenas nos convidam? O presente artigo explorará uma via de encontro entre autodemarcações e retomadas de terra ao examinar, de um lado, as cartas publicadas pelos índios Munduruku durante a autodemarcação da terra indígena Sawré Muybu (PA); e, de outro, a etnografia realizada junto aos Tupinambá da Serra do Padeiro (BA). Central nesse encontro, a articulação entre terra, vida e luta, enfatizada pelos discursos indígenas, iluminará ainda o esforço deste artigo em discutir a atualidade da tese clastreana do contra-Estado e em sugerir uma certa torção na abor-dagem que Ghassam Hage (2012) propõe ao pensamento antropológico crítico diante do imaginário político radical. Palavras-chave: autodemarcação de terra; retomada de terra; política indígena; contra-Estado.
Books by Luísa Molina

Terra rasgada: como avança o garimpo na Amazônia brasileira, 2023
Embora haja uma transformação em curso no modo como se encara o garimpo ilegal em Terras Indígena... more Embora haja uma transformação em curso no modo como se encara o garimpo ilegal em Terras Indígenas (TI) no Brasil, esse debate ainda carece de abordagens sistêmicas e multiescalares que façam jus à complexidade do problema. A presente publicação visa contribuir com essas abordagens, explicitando os mecanismos que permitem o avanço do garimpo na Amazônia brasileira, e aprofundando-se sobre as fragilidades institucionais que contribuem para o descontrole da cadeia do ouro atualmente. Além disso, apresenta uma lista de medidas fundamentais para a garantia da proteção integral de terras indígenas e para o controle da cadeia de produção e comercialização do ouro.
Publicação organizada por Luísa Pontes Molina, para o Conselho político Aliança em Defesa dos Territórios: Dário Kopenawa Yanomami, Júlio Ye’kwana, Maial Paiakan Kayapó, Doto Takak-Ire Kayapó, Alessandra Korap Munduruku, Ademir Kaba Munduruku.
Textos de: Estêvão Benfica Senra, Juliana de Paula Batista, Luísa Pontes Molina, Luiz Henrique Reggi Pecora, Rodrigo Magalhães de Oliveira
Book Reviews by Luísa Molina
Resenha da obra MORAIS, Bruno M. 2017. Do corpo ao pó: crônicas da territorialidade kaiowá e gua... more Resenha da obra MORAIS, Bruno M. 2017. Do corpo ao pó: crônicas da territorialidade kaiowá e guarani nas adjacências da morte. São Paulo: Elefante. Publicada em R@U, 10 (2), jul./dez. 2018: 272-277.
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Thesis Chapters by Luísa Molina
Esta tese é uma resposta à experiência de guerra que vivemos sob um governo que fez do extrativismo predatório a sua agenda para a terra. Trataremos do cerco que se deu na região do rio Tapajós, sudoeste paraense, com enfoque nas investidas contra o povo Munduruku e seus territórios. Caracterizada por um denso histórico de exploração intensiva da floresta, do solo e do subsolo, mas também pela ocupação indígena de longa duração, essa região esteve no centro das disputas pela abertura das terras indígenas à mineração e ao garimpo entre 2019 e 2022. A maneira como essas disputas se deram e seus desdobramentos nos territórios dos Munduruku são analisados aqui, em uma proposta de expandir o que comumente se enquadra sob “impactos do garimpo”. Articularemos descrições dos modos indígenas de constituição de coletivo em composição com a terra para trazer à tona o que, na perspectiva da luta munduruku, deve ser considerado ao falar de invasões, e observaremos como a tenacidade da luta não permite que o cerco a defina.
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Abstract
This dissertation is a response to the experience of war we have lived through under a government that has made predatory extractivism its agenda for the land. We will deal with the siege that has taken place in the Tapajós River region, south-west Pará, with a focus on the attacks against the Munduruku people and their territories. Characterised by a dense history of intensive exploitation of the forest, soil and subsoil, but also by long-standing indigenous occupation, this region was at the centre of disputes over the opening up of indigenous lands to mining and prospecting between 2019 and 2022. The way in which these disputes took place and their consequences for the territories of the Munduruku are analysed here, in a bid to expand what is commonly described as the ‘impacts of mining’. We will articulate descriptions of the indigenous ways of constituting a collective in composition with the land in order to bring to light what, from the perspective of the Munduruku struggle, should be considered when talking about invasions, and we will observe how the tenacity of the struggle does not allow the siege to define it.
A que esforço imaginativo as políticas indígenas nos convidam hoje? Se por um lado a ofensiva contra as terras e as vidas dos indígenas recrudesce, por outro, as lutas indígenas se propagam em diversas formas e em um espaço distinto daquele onde impera a identidade e a obediência; onde o coletivo não se reduz à unidade sob os signos da civilização, mas promove a multiplicação mesma da diferença. Inspirada por iniciativas de autodemarcação de Terras Indígenas (TIs), a presente dissertação se debruça sobre a relação entre terra, luta e vida para discutir dois problemas principais. Primeiro, acerca do que são e o que fazem as autodemarcações quando os indígenas indicam que elas não se reduzem à pressão sobre o governo, à simples garantia de direitos, ou à dimensão estritamente técnica de suas atividades. Segundo, sobre como pensar a atuação do Estado brasileiro em relação aos direitos territoriais e à vida dos indígenas, de modo a pensar com e para o que esses povos enfrentam e clamam hoje. Tomando como fio condutor o conflito em torno do território Daje Kapap Eypi/Sawré Muybu, dos índios Munduruku, e o complexo de 43 usinas hidrelétricas projetadas para o rio Tapajós, este trabalho parte das críticas munduruku à atuação do governo brasileiro nesse conflito, e à política de expropriação e exploração predatória do solo e dos rios da Amazônia, para discutir práticas e discursos de omissão, improviso e gestão da ilegalidade que têm levado à frente projetos e políticas etnocidas e genocidas. Além disso, e principalmente, esta dissertação procura mostrar que não é apenas da garantia de sobrevivência numa terra demarcada que se trata a luta – como se sobreviver bastasse e qualquer terra servisse; é, antes, pela existência do coletivo como tal e a persistência de seu modo de vida, indissociável da vida em sua terra, que lutam. A autodemarcação como autodeterminação indígena: eis a potência dessa iniciativa.
Papers by Luísa Molina
MOLINA, L. P. 2018. As encruzilhadas das demarcações de TIs:
'interesse nacional', etnocídio e genocídio. In: Alcântara, G., Tinôco, L., Maia, L. (org.) "Índios, Direitos Originários e Territorialidade." Associação Nacional dos Procuradores da República
Books by Luísa Molina
Publicação organizada por Luísa Pontes Molina, para o Conselho político Aliança em Defesa dos Territórios: Dário Kopenawa Yanomami, Júlio Ye’kwana, Maial Paiakan Kayapó, Doto Takak-Ire Kayapó, Alessandra Korap Munduruku, Ademir Kaba Munduruku.
Textos de: Estêvão Benfica Senra, Juliana de Paula Batista, Luísa Pontes Molina, Luiz Henrique Reggi Pecora, Rodrigo Magalhães de Oliveira
Book Reviews by Luísa Molina
Esta tese é uma resposta à experiência de guerra que vivemos sob um governo que fez do extrativismo predatório a sua agenda para a terra. Trataremos do cerco que se deu na região do rio Tapajós, sudoeste paraense, com enfoque nas investidas contra o povo Munduruku e seus territórios. Caracterizada por um denso histórico de exploração intensiva da floresta, do solo e do subsolo, mas também pela ocupação indígena de longa duração, essa região esteve no centro das disputas pela abertura das terras indígenas à mineração e ao garimpo entre 2019 e 2022. A maneira como essas disputas se deram e seus desdobramentos nos territórios dos Munduruku são analisados aqui, em uma proposta de expandir o que comumente se enquadra sob “impactos do garimpo”. Articularemos descrições dos modos indígenas de constituição de coletivo em composição com a terra para trazer à tona o que, na perspectiva da luta munduruku, deve ser considerado ao falar de invasões, e observaremos como a tenacidade da luta não permite que o cerco a defina.
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Abstract
This dissertation is a response to the experience of war we have lived through under a government that has made predatory extractivism its agenda for the land. We will deal with the siege that has taken place in the Tapajós River region, south-west Pará, with a focus on the attacks against the Munduruku people and their territories. Characterised by a dense history of intensive exploitation of the forest, soil and subsoil, but also by long-standing indigenous occupation, this region was at the centre of disputes over the opening up of indigenous lands to mining and prospecting between 2019 and 2022. The way in which these disputes took place and their consequences for the territories of the Munduruku are analysed here, in a bid to expand what is commonly described as the ‘impacts of mining’. We will articulate descriptions of the indigenous ways of constituting a collective in composition with the land in order to bring to light what, from the perspective of the Munduruku struggle, should be considered when talking about invasions, and we will observe how the tenacity of the struggle does not allow the siege to define it.
A que esforço imaginativo as políticas indígenas nos convidam hoje? Se por um lado a ofensiva contra as terras e as vidas dos indígenas recrudesce, por outro, as lutas indígenas se propagam em diversas formas e em um espaço distinto daquele onde impera a identidade e a obediência; onde o coletivo não se reduz à unidade sob os signos da civilização, mas promove a multiplicação mesma da diferença. Inspirada por iniciativas de autodemarcação de Terras Indígenas (TIs), a presente dissertação se debruça sobre a relação entre terra, luta e vida para discutir dois problemas principais. Primeiro, acerca do que são e o que fazem as autodemarcações quando os indígenas indicam que elas não se reduzem à pressão sobre o governo, à simples garantia de direitos, ou à dimensão estritamente técnica de suas atividades. Segundo, sobre como pensar a atuação do Estado brasileiro em relação aos direitos territoriais e à vida dos indígenas, de modo a pensar com e para o que esses povos enfrentam e clamam hoje. Tomando como fio condutor o conflito em torno do território Daje Kapap Eypi/Sawré Muybu, dos índios Munduruku, e o complexo de 43 usinas hidrelétricas projetadas para o rio Tapajós, este trabalho parte das críticas munduruku à atuação do governo brasileiro nesse conflito, e à política de expropriação e exploração predatória do solo e dos rios da Amazônia, para discutir práticas e discursos de omissão, improviso e gestão da ilegalidade que têm levado à frente projetos e políticas etnocidas e genocidas. Além disso, e principalmente, esta dissertação procura mostrar que não é apenas da garantia de sobrevivência numa terra demarcada que se trata a luta – como se sobreviver bastasse e qualquer terra servisse; é, antes, pela existência do coletivo como tal e a persistência de seu modo de vida, indissociável da vida em sua terra, que lutam. A autodemarcação como autodeterminação indígena: eis a potência dessa iniciativa.
MOLINA, L. P. 2018. As encruzilhadas das demarcações de TIs:
'interesse nacional', etnocídio e genocídio. In: Alcântara, G., Tinôco, L., Maia, L. (org.) "Índios, Direitos Originários e Territorialidade." Associação Nacional dos Procuradores da República
Publicação organizada por Luísa Pontes Molina, para o Conselho político Aliança em Defesa dos Territórios: Dário Kopenawa Yanomami, Júlio Ye’kwana, Maial Paiakan Kayapó, Doto Takak-Ire Kayapó, Alessandra Korap Munduruku, Ademir Kaba Munduruku.
Textos de: Estêvão Benfica Senra, Juliana de Paula Batista, Luísa Pontes Molina, Luiz Henrique Reggi Pecora, Rodrigo Magalhães de Oliveira