Papers by Ilana Goldstein
Modos. Revista de História da Arte. , 2024
Although indigenous arts have always been present, with great diversity and sophistication, among... more Although indigenous arts have always been present, with great diversity and sophistication, among peoples all over the world, they only began to be included in art history and exhibited in the Western art system from the second half of the 20th century onwards. In Brazil, the process was even later, with a particular effervescence in the last ten years, with great indigenous protagonism. However, the ways of collecting and exhibiting indigenous works within the art system are complex and thorny, ranging from ethical issues to techniques for preserving things that are often made to be ephemeral. They involve ontological misunderstandings and language barriers. They encompass decisions about how to identify and contextualise exhibition elements. They require cultural translation efforts and respect for the visibility regimes specific to each object and image - what can be seen, by whom. They require rapprochement between curatorship and mediation/education. It was with these challenges in mind and the lack of forums to discuss them that we set out to bring together, in this dossier, reflections on indigenous art exhibitions and collections in/of Latin America. After all, the projects have multiplied, but the memories about them often end up being restricted to the people directly involved. We were also interested in stimulating reflections that moved between the history of art, anthropology, museology and other neighbouring disciplines, and that put side by side indigenous and non-indigenous thought. In other words, we sought to build a panoramic, interdisciplinary and, whenever possible, inter-epistemic dossier.
Embora as artes indígenas sempre tenham estado presentes, com grande diversidade e sofisticação, entre povos do mundo todo, elas só começaram a ser incluídas na história da arte, e exibidas no sistema da arte ocidental a partir da segunda metade do século XX. No Brasil, o processo foi ainda mais tardio, observando-se uma especial efervescência nos últimos dez anos, com grande protagonismo indígena. Porém, os modos de colecionar e expor obras indígenas dentro do sistema da arte são complexos e espinhosos, abrangendo desde questões éticas, até técnicas de preservação de coisas muitas vezes feitas para serem efêmeras. Passam por mal-entendidos ontológicos e por barreiras linguísticas. Abarcam decisões sobre como identificar e contextualizar os elementos da exposição. Exigem esforços de tradução cultural e respeito aos regimes de visibilidade próprios de cada objeto e imagem – o que pode ser visto, por quem. Demandam aproximações entre curadoria e mediação/educação. Foi pensando nesses desafios e na falta de fóruns de discussão sobre eles que nos propusemos a reunir, no presente dossiê, reflexões sobre exposições e coleções de artes indígenas na/da América Latina. Afinal, os projetos têm se multiplicado, contudo, as memórias sobre eles muitas vezes acabam ficando restritas às pessoas diretamente envolvidas. Interessava-nos, também, estimular reflexões que transitassem entre a história da arte, a antropologia, a museologia e outras disciplinas vizinhas, e que colocassem lado a lado o pensamento indígena e o não-indígena. Em outras palavras, procuramos construir um dossiê panorâmico, interdisciplinar e, sempre que possível, interepistêmico.
The international journal of arts theory and history, 2023
Estou muito contente de estar aqui, não apenas por ter estudado nesta casa, como também porque fa... more Estou muito contente de estar aqui, não apenas por ter estudado nesta casa, como também porque falar numa mesa ao lado da professora Els Lagrou é uma honra. Ela é uma referência para todos que trabalham com arte indígena, foi da minha banca no doutorado e trabalho com seus textos nos meus cursos. Também admiro o Programa de História da Arte da Unicamp, por sua abertura em relação à arte não-Ocidental. Além disso, nesse momento, em que temos tido notícias preocupantes acerca dos rumos da educação e da cultura no país, estarmos juntos aqui, conversando sobre arte, museus, coleções, memória e criatividade oferece um certo alento. Noto uma continuidade interessante entre a mesa de ontem e a de hoje. A mesa de ontem sugeria que as exposições e os acervos de museus devem ser mais plurais, democráticos e inclusivos. Foi citado, por exemplo, que o número de artistas mulheres no acervo do MASP, quando a gestão atual assumiu, era de 3%. Situação similar se podia observar em relação aos artistas afro-brasileiros. Acho que na mesa de hoje lançaremos luz sobre uma outra parcela de criadores que também costuma ter pouquíssimo espaço nos acervos e no mercado, nos cursos e livros de história da arte. Penso, assim, que as duas mesas dialogam uma com a outra, à distância.
Cadernos de Sociomuseologia Vol. 66 - nº22, 2023
O artigo compartilha e discute experiências que vêm sendo desenvolvidas na Universidade Federal d... more O artigo compartilha e discute experiências que vêm sendo desenvolvidas na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), no âmbito da Cátedra Kaapora de Conhecimentos Tradicionais e não-Hegemônicos. Criada em 2016 e vinculada à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, a Kaapora funciona como uma plataforma de diálogos entre os saberes acadêmicos e os não acadêmicos. Um de seus diferenciais é a valorização do protagonismo dos detentores de saberes e formas expressivas não-hegemônicos, assim como a abertura a suas formas próprias de construção e transmissão de conhecimento. Trata-se de um conjunto de iniciativas que combinam ensino, pesquisa e extensão, levadas a cabo por docentes e estudantes de diversos cursos e campi da Unifesp. A Cátedra Kaapora promove cursos dentro e fora da grade curricular, oficinas, palestras presenciais e remotas, visitas técnicas, levantamentos, residências artísticas e publicações – sozinha ou em parceria com outras entidades. Assim, contribui para ampliar os horizontes intelectuais, estéticos e epistemológicos dos envolvidos e para transformar a universidade em uma “pluriversidade”.
DOAJ (DOAJ: Directory of Open Access Journals), Dec 1, 2010
First of all, thank you for the opportunity to contribute to PROA. I've always enjoyed dialogues ... more First of all, thank you for the opportunity to contribute to PROA. I've always enjoyed dialogues about art with my Brazilian colleagues!) PROA: How did your interest for the anthropology of art begin? SALLY PRICE: That's a three-in-one question: art, anthropology, and the anthropology of art. My interest in art began when I was in school, taking weekend art classes, submitting pieces to art contests, and dreaming of becoming an artist; by the time I got to college, I realized that my talents weren't quite sufficient for a full-time commitment, and I began studying literature instead. (I did, however, make one brief return to hands-on art by providing 50 pen-and-ink drawings for a 1992 book about museum collecting called Equatoria. That was fun!) My interest in anthropology began when, quite young, I married Richard Price, a graduate student in anthropology, and we began going to "the field" together-first Martinique, then Spain and Mexico, and finally Suriname. I became an active fieldworker years before starting graduate school in anthropology. My interest in the anthropology of art was sparked during the first several years that Richard and I lived with the Saramaka Maroons of Suriname. They were the first people I'd done fieldwork with who cared a lot about the aesthetic dimension of life, not only producing beautiful woodcarvings, engraved calabashes, and brilliant patchwork textiles, but also viewing everything from a rice garden to an imported enamel bucket with an attention to its aesthetics. I can't imagine being interested in Saramaka culture without being very interested in art.
Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, 2021
O artigo que tenho a honra de comentar na presente edição dos Anais do Museu Paulista traça, de m... more O artigo que tenho a honra de comentar na presente edição dos Anais do Museu Paulista traça, de maneira clara e articulada, um histórico ao mesmo tempo objetivo e panorâmico das relações entre a antropologia e os museus, desde o século XIX até os dias atuais. O autor Camilo de Mello Vasconcellos recupera processos convergentes pelos quais tanto a disciplina antropológica quanto as instituições museais passaram. Se, durante a vigência dos paradigmas evolucionista e positivista, ambas eram pautadas por visões eurocêntricas e unilineares da história e por uma postura colonialista, hoje, ao contrário, estão em curso experiências dialógicas bastante interessantes, como as descritas na última parte do artigo de Vasconcellos, voltada à curadoria compartilhada entre o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE USP) e os povos indígenas ali representados. Uma vez que a argumentação do artigo está bem desenvolvida e fundamentada, optei
Com o intuito de contribuir para expandir os campos da Estetica e da Historia da Arte, e propondo... more Com o intuito de contribuir para expandir os campos da Estetica e da Historia da Arte, e propondo uma reflexao interdisciplinar que tem como ponto de partida a Antropologia, este texto apresenta, de modo panorâmico e introdutorio, a pintura dos povos aborigenes da Australia. Este tipo de producao artistica, bem como as politicas publicas que possibilitaram sua insercao no sistema das artes ocidental, sao ainda pouco conhecidos no Brasil, e ajudam a pensar no contexto brasileiro por meio do contraste. Destacam-se, aqui, alguns dos principais movimentos artisticos e dos mais conhecidos artistas indigenas que floresceram na Australia ao longo do seculo XX. Apontam-se tambem os ricos dialogos e as complexas tensoes que perpassam esse universo.
Resumo: Este artigo apresenta uma estrutura conceitual desenvolvida em uma equipe interdisciplina... more Resumo: Este artigo apresenta uma estrutura conceitual desenvolvida em uma equipe interdisciplinar, visando tratar as relações entre tecnologia e formas musicais, com recorte na música popular brasileira do século XX, e segundo um tecnocentrismo horizontal de inspiração mcluhaniana: a tecnologia, ao mesmo tempo em que é fruto do contexto sociocultural, projeta sobre o real os conceitos de onde emerge. Entre as categorias utilizadas em nossa taxonomia estão:�dispositivo, aparelho, aparato, matrizes tecnológicas e funções-aplicadas à compreensão de fenômenos, movimentos e escolhas características de cada momento. Ao final, apresentamos um breve exemplo de aplicação destas categorias e conceitos à indústria fonográfica e ao rádio.
PROA Revista de Antropologia e Arte, Nov 24, 2016
Alain Quemin é um dos jovens autores que vêm se destacando na sociologia da arte européia. Seu fo... more Alain Quemin é um dos jovens autores que vêm se destacando na sociologia da arte européia. Seu foco de interesse recai sobre as abordagens do mercado de arte e de seus sujeitos a partir de perspectivas das Ciências Sociais. Tem se debruçado sobre as diversas profissões artísticas, o funcionamento dos leilões e a internacionalização da arte contemporânea. Nascido em Lyon, em 1967, Alain Quemin formou-se em Ciências Sociais na Universidade de Paris X-Nanterre e doutorou-se em Sociologia na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, também em Paris, com uma tese sobre a figura do curador. Desde 2003, é professor de Sociologia na Universidade Marne-la-Vallée e membro do Instituto Universitário da França. Faz parte também de um projeto de pesquisa interdisciplinar e interuniversitário intitulado Laboratoire Techniques, Territoires et Sociétés-L.A.T.T.S., que, em francês, significa "laboratório de tecnologia, territórios e sociedades". É membro do comitê editorial da revista francesa Sociologie de l´art e da revista inglesa Cultural Sociology, além de vice-presidente do grupo de trabalho de Sociologia da arte da European Sociological Association. Foi professor convidado na London School of Economics em 2000, na Columbia University e na New York School for Social Research, em 2007. Entre os livros que publicou, estão L'art contemporain international. Entre les institutions et le marché (Editions Jacqueline Chambon/Artprice, 2002) e Le rôle des pays prescripteurs sur le marché et dans le monde de l'art contemporain (Ministère des Affaires Etrangères, 2001). Quemin viaja muito para dar palestras participar de congressos e, durante uma de suas viagens, proferiu uma palestra em São Paulo, no Centro Universitário SENAC, em 2007. Foi nessa ocasião que o comitê editorial da Proa teve seu primeiro contato com Quemin, que gentilmente se disponibilizou a continuar a conversa por e-mail, posteriormente. Dessa simpática e estimulante troca surgiu a entrevista que se segue.
The Expanding World Ayahuasca Diaspora, 2018
CARELLI, Vincent. Iauarete: cachoeira das oncas. Documentario em video. 48 minutos. Video nas Ald... more CARELLI, Vincent. Iauarete: cachoeira das oncas. Documentario em video. 48 minutos. Video nas Aldeias/IPHAN/FOIRN, 2006.
O livro revela os processos de aquisição e as mudanças de significado dos objetos coletados no Br... more O livro revela os processos de aquisição e as mudanças de significado dos objetos coletados no Brasil por Maurício de Nassau, que circularam em diferentes (e surpreendentes) contextos-como o manto de plumas que adornou o corpo de Mary Stuart, em um baile à fantasia da corte holandesa, em 1655. A experiência de pesquisa levou a autora a desafiar ideias que se tornaram senso-comum, mesmo entre cientistas sociais. "O mundo colonial era muito mais dinâmico do que as ideias de (sub)desenvolvimento e dependência-muitas vezes vindas de teorias de dependência econômica-costumam sugerir", defendeu em sua entrevista à PROA. Recentemente, o interesse de Françozo por coleções levou-a a uma experiência interessante de co-curadoria. Desenvolveu, em parceria com o Museu Emilio Goeldi, em Belém, e com representantes do povo Ka´apor, um projeto de identificação e classificação de 240 objetos Ka'apor do acervo do Museu Nacional de Etnologia de Leiden, na Holanda. Um dos resultados do projeto foi uma exposição, no Museu Emilio Goeldi, sobre a festa do cauim. A mostra aborda, entre outras coisas, a delicada situação vivenciada por essa comunidade indígena frente às ameaças e às invasões de madeireiras em suas terras. Entrevista com Mariana Françozo | PROA-revista de antropologia e arte "Os museus servem também para isso: para serem uma plataforma a partir da qual se pode falar de questões políticas tão urgentes, e chamar atenção para estes problemas", acredita Françozo. Leia abaixo a entrevista concedida pela antropóloga a Eduardo Dimitrov, Ilana Seltzer Goldstein e Luisa Pessoa. 1) Gostaríamos de iniciar conversando um pouco a respeito de sua trajetória. Seu mestrado versa sobre o uso que Sérgio Buarque fez das etnologias alemãs. Seu doutorado, agora lançado em livro, trata do gabinete de curiosidades de Nassau. O que une os dois trabalhos? Seria, justamente, a circulação de ideias e objetos entre países ditos centrais e o Brasil? Acho que uma série de coisas une os temas do meu mestrado e do doutorado-coisas que, de certa forma, continuam presentes no meu trabalho atual. A mais importante delas é o interesse pela cultural material. No mestrado, tentei compreender como o historiador Sergio Buarque de Holanda utilizou a produção dos etnólogos alemães sobre o Brasil no século XIX para compor sua análise das bandeiras e monções-estudei especificamente os livros Caminhos e Fronteiras e Monções. A etnologia alemã do XIX tinha na cultura material o objeto por excelência para pensar questões como difusionismo, círculos culturais, Elementargedanken-isto é, uma tentativa de explicar as diferenças entre povos e culturas, e o que se acreditava serem os diversos estágios evolutivos dos grupos humanos, a partir dos objetos. Sergio Buarque tomou esses dados sobre o uso de artefatos por grupos indígenas no XIX como indícios das adaptações dos bandeirantes e luso-brasileiros às Eduardo Dimitrov, Ilana Seltzer Goldstein e Luisa Pessoa | dossiê | PROA 5 práticas e aos saberes indígenas para adentrar os sertões do Brasil durante o período colonial. São dois livros magníficos, do Sergio Buarque. Depois, no doutorado, tentei seguir estas mesmas trilhas, de certa forma pensando também na circulação e nos significados da cultura material durante o período colonial, mas escolhendo, desta vez, o Brasil Holandês como estudo de caso. Conversando com meu orientador, o Prof. John M. Monteiro, achamos que este seria um trabalho original e eu poderia aproveitar para colocar meu conhecimento da língua holandesa em prática. Então, de fato, acho que a cultura material-e especialmente as coleções etnográficas-têm sido o objeto do meu trabalho. Questões teóricas e metodológicas são pautadas pelos temas da circulação, mobilidade, transformação de significados, conexões históricas. Agora, vejam só, trabalho numa faculdade de Arqueologia-Meca da cultural material!-e comecei uma pesquisa sobre artefatos indígenas do Caribe em museus europeus. Todos estes projetos estão articulados em torno da pesquisa em coleções (etnográficas e arqueológicas). O foco na Idade Moderna, ou no período colonial, dão o tom historiográfico do trabalho. 2) Falando agora de seu livro, como a coleção de Maurício de Nassau foi formada e que tipo de objetos continha? A coleção foi formada durante os oito anos em que Maurício de Nassau foi governador do Brasil Holandês-isto é, de 1637 a 1644. Os objetos vieram de diferentes lugares e por meio das relações de Nassau. Por um lado, ele havia levado consigo para o Recife um grupo de artistas e cientistas que, aos poucos, foi compondo obras (pinturas) e coletando espécies naturais que vieram a fazer parte da coleção. Estou falando, obviamente, de Albert Eckhout, Frans Post, Willem Piso-que era médico de Nassau-e George Marcgraf. Há fontes que sugerem a existência outros artistas neste grupo, portanto ainda há pesquisa a ser feita neste sentido. Acho que o René Lommez Gomes, professor na Universidade Federal de Minas Gerais, está trabalhando com este tema. Por outro lado, as alianças que Nassau foi fazendo ao longo do tempo também trouxeram elementos para a coleção. Assim, por exemplo, ele recebeu de presente de enviados do Rei do Congo uma bacia de prata, que depois se tornou uma pia batismal. Do mesmo modo, os objetos que hoje chamamos etnográficos-ornamentos plumários, bordunas-certamente recebeu em trocas diplomáticas com líderes indígenas. Temos indícios de que tal tipo de troca tenha sido feita com Janduí, líder dos Tapuia, já em 1638. 3) Por que você tem afirmado que essa coleção foi quase mais importante ao ser dissipada, do que enquanto ainda estava completa, nas mãos de Maurício de Nassau? A dinâmica dessa coleção é muito interessante. Como eu disse, ela foi formada por meio do trabalho da entourage de Nassau, mas também dos presentes que ele recebia nas suas relações Entrevista com Mariana Françozo | PROA-revista de antropologia e arte diplomáticas. Evidentemente, todo presente pressupõe um contra-presente, então Nassau também oferecia alguns objetos, como pano, facas, anzóis e chapéus. Esse foi o primeiro momento Oliver Impey e Arthur MacGregor (edição) Clarendon Press, Oxford. 1985.
A arte contemporânea dos povos indigenas da Australia e um fenomeno sui generis e ainda pouco con... more A arte contemporânea dos povos indigenas da Australia e um fenomeno sui generis e ainda pouco conhecido no Brasil. Ancora-se em praticas e valores tradicionais, e, ao mesmo tempo, esta inserida nas instituicoes museologicas e no mercado de arte. Na Australia, sua valorizacao e institucionalizacao vem ocorrendo, gradualmente, desde os anos 1970, gracas a uma rede de apoio intersetorial e interetnica, abrangendo de orgaos publicos a cooperativas de artistas, de premios a leiloes. O reconhecimento internacional se faz igualmente notar em iniciativas como a encomenda feita a oito aborigines australianos, em 2006, para que realizassem intervencoes permanentes no edificio do Musee du Quai Branly, em Paris. Do ponto de vista formal, trata-se de uma producao muito diversificada, que pode ser dividida em movimentos ou estilos regionais, como a pintura "abstrata" de tinta acrilica sobre tela do Deserto Central, a pintura figurativa de pigmentos naturais sobre entrecasca de arvore de...
O sistema das artes vem se tornando cada vez mais internacional, com a formacao de redes e fluxos... more O sistema das artes vem se tornando cada vez mais internacional, com a formacao de redes e fluxos. Entretanto, as criacoes populares e indigenas costumam ser ignoradas ou relegadas a segundo plano. A dicotomia arte versus artesanato e uma das estrategias de hierarquizacao desse sistema. O presente artigo aborda duas maneiras pelas quais as formas expressivas dos povos indigenas vem sendo inseridas na sociedade envolvente: sua paulatina circulacao no sistema das artes e seu recente reconhecimento como patrimonio cultural. A maioria dos dados e trazida da Australia, pais em que, a partir dos anos 1970, formou-se uma rede impressionante de fomento as artes indigenas, compreendendo premiacoes, alas especiais em museus, cooperativas de artistas e galerias comerciais nas grandes cidades. Nas paginas finais sao abordados tambem exemplos brasileiros.
A Proa conversou com Sally Price, entre outros assuntos, sobre o anonimato que costuma pairar sob... more A Proa conversou com Sally Price, entre outros assuntos, sobre o anonimato que costuma pairar sobre as artes nao-ocidentais, sobre a criacao do Musee du Quai Branly, em Paris, e sobre sua longa parceria com seu marido Richard Price. Apesar de curta, a entrevista levanta questoes instigantes sobre as relacoes entre arte, Antropologia e praticas museologicas. Serve como um aperitivo para a vasta obra dessa antropologa que, alem do pensamento agudo, brinda o leitor com um estilo prazeroso e bem humorado, quase literario. (Talvez o prazer que chega aos leitores esteja relacionado, de alguma maneira, a linda vista da varanda da residencia do casal Price na Martinica, onde os dois passam metade do ano escrevendo).
Uploads
Papers by Ilana Goldstein
Embora as artes indígenas sempre tenham estado presentes, com grande diversidade e sofisticação, entre povos do mundo todo, elas só começaram a ser incluídas na história da arte, e exibidas no sistema da arte ocidental a partir da segunda metade do século XX. No Brasil, o processo foi ainda mais tardio, observando-se uma especial efervescência nos últimos dez anos, com grande protagonismo indígena. Porém, os modos de colecionar e expor obras indígenas dentro do sistema da arte são complexos e espinhosos, abrangendo desde questões éticas, até técnicas de preservação de coisas muitas vezes feitas para serem efêmeras. Passam por mal-entendidos ontológicos e por barreiras linguísticas. Abarcam decisões sobre como identificar e contextualizar os elementos da exposição. Exigem esforços de tradução cultural e respeito aos regimes de visibilidade próprios de cada objeto e imagem – o que pode ser visto, por quem. Demandam aproximações entre curadoria e mediação/educação. Foi pensando nesses desafios e na falta de fóruns de discussão sobre eles que nos propusemos a reunir, no presente dossiê, reflexões sobre exposições e coleções de artes indígenas na/da América Latina. Afinal, os projetos têm se multiplicado, contudo, as memórias sobre eles muitas vezes acabam ficando restritas às pessoas diretamente envolvidas. Interessava-nos, também, estimular reflexões que transitassem entre a história da arte, a antropologia, a museologia e outras disciplinas vizinhas, e que colocassem lado a lado o pensamento indígena e o não-indígena. Em outras palavras, procuramos construir um dossiê panorâmico, interdisciplinar e, sempre que possível, interepistêmico.
Embora as artes indígenas sempre tenham estado presentes, com grande diversidade e sofisticação, entre povos do mundo todo, elas só começaram a ser incluídas na história da arte, e exibidas no sistema da arte ocidental a partir da segunda metade do século XX. No Brasil, o processo foi ainda mais tardio, observando-se uma especial efervescência nos últimos dez anos, com grande protagonismo indígena. Porém, os modos de colecionar e expor obras indígenas dentro do sistema da arte são complexos e espinhosos, abrangendo desde questões éticas, até técnicas de preservação de coisas muitas vezes feitas para serem efêmeras. Passam por mal-entendidos ontológicos e por barreiras linguísticas. Abarcam decisões sobre como identificar e contextualizar os elementos da exposição. Exigem esforços de tradução cultural e respeito aos regimes de visibilidade próprios de cada objeto e imagem – o que pode ser visto, por quem. Demandam aproximações entre curadoria e mediação/educação. Foi pensando nesses desafios e na falta de fóruns de discussão sobre eles que nos propusemos a reunir, no presente dossiê, reflexões sobre exposições e coleções de artes indígenas na/da América Latina. Afinal, os projetos têm se multiplicado, contudo, as memórias sobre eles muitas vezes acabam ficando restritas às pessoas diretamente envolvidas. Interessava-nos, também, estimular reflexões que transitassem entre a história da arte, a antropologia, a museologia e outras disciplinas vizinhas, e que colocassem lado a lado o pensamento indígena e o não-indígena. Em outras palavras, procuramos construir um dossiê panorâmico, interdisciplinar e, sempre que possível, interepistêmico.
Indigenous art and the contemporary Australian art field".