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Papers by Cláudia Múrias
Através da metodologia de aprendizagem pela conversa, desenvolvida por Ann Baker, Patricia Jensen e David Kolb, e a partir das representações de participação e de responsabilidade partilhadas entre homens e mulheres nos espaços público e privado, tentámos, com profissionais de intervenção socioeducativa, líderes locais, profissionais em lugares de tomada de decisão e cidadãos e cidadãs em geral, desenvolver um olhar crítico na reformulação de lideranças.
Designamos estes processos de reflexão e ação, potencialmente questionadores do status quo, como percursos de literacia.
Sendo literacia comummente definida como capacidade de ler ou escrever, como capacidade de perceber e interpretar o que é lido, implica um processo de aprendizagem. Neste projeto, literacia foi abordada num sentido mais lato, segundo inspiração de Paulo Freire, enquanto capacidade de leitura do mundo, de intervenção ou ação na polis, implicando o desenvolvimento de competências de falar, de agir e de pensar com as outras pessoas.
Para estimular o iniciar dos percursos de literacia, foram promovidos 15 workshops de sensibilização, em contextos diversificados e segundo três tipologias: Promover a Qualidade de Vida pela Igualdade de Género; Introduzir a Igualdade de Género no Reinventar de Lideranças; e Partilhar Lideranças nos Espaços Público e Privado.
Na construção destes percursos de literacia, contámos com a colaboração de várias instituições parceiras, nomeadamente através da constituição de uma equipa de dinamização que nos acompanhou em sessões de trabalho, nos workshops de sensibilização e na posterior transição dos processos de reflexão-ação para o contexto de vida profissional e/ou pessoal das pessoas participantes. O caráter aberto e flexível do projeto exigiu processos de reflexão, avaliação e redefinição contínuos em torno das estratégias, dos materiais e das conceções dos percursos de literacia propostos. Nestes processos contámos com a colaboração, para além da equipa de dinamização, de consultoras e da equipa de avaliação externa de acompanhamento do projeto, constituindo-se assim um grupo alargado e diverso de sustentação de percursos de literacia das pessoas intervenientes.
Este trabalho em rede foi priorizado a priori, numa perspetiva de disseminação e territorialização do projeto, tendo incluído também a participação em diversas iniciativas promovidas por instituições locais ou organizadas em parceria, como debates, tertúlias, comunicações orais, sessões de informação e sensibilização. O registo de todo o trabalho realizado ao longo destes dois anos encontra-se disponível no blogue http://www.liderancaspartilhadas.blogspot.com
Porquê este Caderno?
Numa sociedade que se quer de conhecimento e de aprendizagem contínua, faz-nos sentido a partilha sistematizada da experiência vivida, de modo que possa ser questionada por outras pessoas. Daí a ousadia de apresentar aqui algumas sugestões de trabalho.
Assim, tal como afirmámos inicialmente,
não pretendemos “formar” ninguém, este caderno não é um manual de instrução, onde conceitos e textos teóricos, aplicações práticas e exercícios conduziriam o/a leitor/a a aperfeiçoar as suas capacidades e competências no domínio da liderança. Este caderno serve antes como proposta de Percursos de Literacia para serem conduzidos e co construídos pelos/as próprios/as participantes (Múrias, Koning, & Ribeiro, 2010: 6).
A nossa proposta, revisitando a inicial, é que o Caderno possa constituir um desafio para a realização de Percursos de Literacia com diversos grupos sociais. Assim, desejamos que este Caderno possa ser uma ferramenta útil e contribuir para a construção de espaços de sensibilização e conscientização capazes de enformar novas práticas, permitindo o envolvimento de um número cada vez maior de cidadãs e cidadãos com uma consciência crítica capaz da emergência de feminilidades e masculinidades alternativas em liderança.
Tivemos cinquenta anos de fascismo. Portanto, nós habituamo-nos a reconhecer como líder aquele que é autoritário, aquele que manda, aquele que pode, aquele que exerce autoritariamente o seu poder”, afirmou uma participante num dos workshops realizados no contexto da Fundação Cuidar O Futuro. Será que vamos conseguir vencer a reprodução destes estereótipos e hábitos? Ou será que a proposta de reinventar lideranças e de transformar as formas dominantes de liderança em formas de liderança partilhada constitui uma utopia?
O conteúdo do Caderno
Acreditamos que é preciso traduzir os horizontes das dimensões utópicas em projetos concretos de intervenção em que problematizamos o nosso agir. É importante abrandar e conversar. Foi essa a proposta do projeto Lideranças Partilhadas: proporcionar espaços e momentos de conversa, reflexão e partilha. É esse o desafio que, no termo do projeto, apresentamos neste Caderno a outras pessoas e grupos.
No Capítulo Aprendizagem pela conversa tentamos fundamentar a proposta de uma metodologia de aprendizagem narrativa e existencial.
No Capítulo Conceitos em construção apresentamos contributos para a concetualização dos elementos centrais dos percursos de literacia que se propuseram neste projeto – igualdade de género, qualidade de vida, lideranças partilhadas – assumindo o nosso posicionamento.
O Capítulo Operacionalização da metodologia: guias de ação e tipologias de workshops inclui propostas concretas para a dinamização dos workshops de Aprendizagem pela conversa segundo as tipologias que estruturaram o projeto, com potencial para ser apropriado e recontextualizado em torno de tópicos e espaços distintos.
No sentido de que este Caderno passe a ser vosso, resta-nos desejar-vos bom trabalho.
Boas conversas!
Marijke, Cláudia, Raquel, Alexandra e Liliana