quinta-feira, 24 de abril de 2025

Análise: Alexandra Kim, Filha da Sibéria

Alexandra Kim, Filha da Sibéria, de Keum Suk Gendry-Kim - Levoir e Público

Alexandra Kim, Filha da Sibéria, de Keum Suk Gendry-Kim - Levoir e Público
Alexandra Kim, Filha da Sibéria, de Keum Suk Gendry-Kim

Em pouco tempo, em cerca de um ano, a autora coreana Keum Suk Gendry-Kim passou de uma autora com nenhuma obra publicada em Portugal para uma autora com quatro livros editados por duas editoras portuguesas diferentes que, no seu todo, lançaram Erva, A Árvore Despida e A Espera, para além do livro a que este artigo se dedica. E será lançada ainda, brevemente, uma nova obra da autora, intitulada O meu amigo Kim Jong-Un, que nos há de chegar no próximo mês de Maio, pelas mãos da editora Iguana.

Hoje trago-vos aquele que foi o primeiro livro por cá editado, que dá pelo nome de Alexandra Kim, Filha da Sibéria, e que a editora Levoir publicou na sétima Coleção de Novelas Gráficas, lançada em parceira com o jornal Público.

Alexandra Kim, Filha da Sibéria, de Keum Suk Gendry-Kim - Levoir e Público
Este é um trabalho de cunho biográfico que nos mergulha na vida de Alexandra Kim, uma figura histórica pouco conhecida, mas de grande relevância. A obra retrata a trajetória de Kim como a primeira coreana a aderir ao movimento bolchevique, destacando o seu papel na luta pelos direitos dos trabalhadores, no início do século XX. A narrativa é baseada no romance biográfico de Jung Cheol-Hoon.​

A história arranca com a infância de Alexandra passada na China, onde o seu pai trabalhava como intérprete na construção dos Caminhos-de-Ferro do Leste da China. Talvez por isso, desde cedo Alexandra Kim se viu sensibilizada para as condições precárias dos trabalhadores. Daí a ter-se envolvido na luta pela emancipação dos trabalhadores russos face à repressão do regime czarista, quando, após a morte do seu pai, regressou à Rússia, foi um mero passo expectável. Para além das barreiras linguísticas, foi a situação dos trabalhadores - e o seu sofrimento - aquilo que motivou o empenho de Alexandra Kim, numa altura em que o direito do trabalho era praticamente inexistente na Rússia. Durante a Primeira Guerra Mundial, Kim passou a trabalhar como intérprete nas fábricas dos Urais, aproximando-se ainda mais do Partido Comunista de Lenine.​

Alexandra Kim, Filha da Sibéria, de Keum Suk Gendry-Kim - Levoir e Público
Keum Suk Gendry-Kim volta a dar-nos uma história carregada de humanismo para que possamos compreender o passado precário do proletariado russo - e não só - que teve que enfrentar múltiplas adversidades, demonstrando resiliência e coragem. A vida atribulada de Alexandra Kim, que se desenrolou por vários territórios, é particularmente rica devido ao seu percurso pessoal se ter cruzado com momentos importantes da história da luta das classes.

A narrativa de Gendry-Kim é marcada por uma abordagem sensível e respeitosa das experiências retratadas, evitando o sensacionalismo desenfreado e, em sentido oposto, optando por representar a violência e o sofrimento de forma subtil, utilizando sombras e cenários escuros para transmitir o impacto emocional dos eventos. Essa escolha estilística permite que o leitor se conecte profundamente com a história sem ser confrontado com imagens demasiado explícitas. Com efeito, Alexandra Kim, Filha da Sibéria não consegue ser tão impactante e chocante como o livro Erva, por exemplo, mas, mesmo assim, a obra consegue ser​ informativa e relevante.

Alexandra Kim, Filha da Sibéria, de Keum Suk Gendry-Kim - Levoir e Público
O traço delicado e expressivo da autora, que se mantém fiel ao seu estilo, contrasta, pois, com a dureza dos eventos retratados, criando uma narrativa visualmente impactante. A escolha do preto e branco reforça a atmosfera sombria da época, enquanto os detalhes nas expressões faciais e nos cenários transportam o leitor para o contexto histórico da narrativa.​ Devo dizer que neste livro a autora me pareceu especialmente inspirada nos desenhos, apresentando ilustrações mais aprimoradas e de traço mais limpo do que noutras ilustrações contidas em livros já por cá publicados.

A meio do livro, é verdade que a narrativa se torna mais densa e fragmentada, o que pode dificultar o acompanhamento do percurso da protagonista. Esta mudança coincide com o aprofundamento do contexto político da Revolução Russa e das movimentações comunistas internacionais, o que exige do leitor uma maior familiaridade com os acontecimentos históricos e com as suas figuras-chave. Os saltos temporais e geográficos sucedem-se com mais rapidez, e a inclusão de personagens secundárias menos desenvolvidas também pode contribuir para um certo desencontro na leitura, exigindo maior atenção para não se perder o fio condutor da vida de Alexandra Kim.

A edição da Levoir é em capa dura baça, com bom papel baço no miolo e boa encadernação e impressão. Esta edição conta com um prefácio da autoria de Rui Cartaxo e, no final, com três páginas com informações biográficas sobre Alexandra Kim.

Em suma, pode dizer-se que Alexandra Kim, Filha da Sibéria é uma leitura interessante e especialmente relevante para quem se interessa por histórias de resistência e luta por justiça social. A obra destaca a importância de uma figura histórica de que se fala pouco, trazendo à luz o seu contributo para os movimentos sociais e políticos que ocorreram no início do século XX e mostrando como as fronteiras nacionais podem (e devem) ser facilmente transpostas quando se trata de combater a opressão e promover a igualdade.​


NOTA FINAL (1/10):
8.5



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020




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Alexandra Kim, Filha da Sibéria, de Keum Suk Gendry-Kim - Levoir e Público

Ficha técnica
Alexandra Kim,Filha da Sibéria
Autora: Keum Suk Gendry-Kim
Editora: Levoir
Páginas: 236, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 170 x 240 mm
Lançamento: Outubro de 2023





Coimbra BD 2025 começa amanhã!


O Coimbra BD 2025 arranca amanhã! A esse propósito, deixo-vos com a programação completa das atividades que os visitantes poderão encontrar neste evento que acontece entre os dias 25 e 27 de Abril no Convento de São Francisco, em Coimbra, e que tem entrada livre.

Relembro que a programação relativamente aos autores que estarão presentes, bem como em relação às exposições já aqui foi previamente anunciada.

Vemo-nos por lá!



















quarta-feira, 23 de abril de 2025

Análise: O Ditador e o Dragão de Musgo

O Ditador e o Dragão de Musgo, de Fabien Tillon e Fréwé - ASA - LeYa

O Ditador e o Dragão de Musgo, de Fabien Tillon e Fréwé - ASA - LeYa
O Ditador e o Dragão de Musgo, de Fabien Tillon e Fréwé

O Ditador e o Dragão de Musgo, da dupla francesa Fabien Tillon e Fréwé, é um dos mais recentes lançamentos de banda desenhada da editora ASA. Este é um livro originalmente lançado em 2024 no mercado francófono, que desafia convenções ao apresentar uma história verídica com contornos tão improváveis que mais parecem saídos da ficção. 

A história acontece nas Coreias, a partir do ano 1978, e conta-nos a história verídica do realizador e produtor de cinema Shin Sang-Ok - uma autêntica estrela da Coreia do Sul. A sua mulher, Choi Eun-hee, é atriz e outra estrela do cinema nacional. A vida destes dois artistas, cujo casamento parece estar à beira do fim, é profundamente alterada quando Choi Eun-hee desaparece sem deixar qualquer rasto. Isto motiva Shin Sang-Ok a procurar a sua esposa desenfreadamente. Até que ele mesmo acaba por ser raptado, tal como - vimos a descobrir entretanto - a sua mulher. Por quem? Bem... pelo regime totalitário da Coreia do Norte.

O Ditador e o Dragão de Musgo, de Fabien Tillon e Fréwé - ASA - LeYa
À semelhança do que aconteceu com outros artistas japoneses, chineses ou coreanos, o regime de Kim Jong-Il raptava alguns dos talentos mais proeminentes dos países vizinhos com o intuito de colocar esses mesmos artistas a trabalhar para o regime ditatorial. Assim, Shin Sang-Ok e Choi Eun-hee vêem-se cativos na Coreia do Norte com a tarefa de realizarem, em nome da ditadura, filmes que marcarão a história do cinema de Pyongyang, contribuindo para a propaganda política, alicerçada na propagação da ideia de que a Coreia do Norte é um país perfeito. 

Ao casal é concedida uma boa vida, com muitas mordomias, e liberdade para que façam os seus filmes da maneira que bem entenderem, desde que, claro está, esses filmes tracem uma boa imagem da Coreia do Norte. Como seria fácil de prever, Shin Sang-Ok não fica propriamente satisfeito com esta vida. Mesmo que uma gaiola seja bela e dourada, não passa disso mesmo: de uma gaiola, de uma prisão. Portanto, enquanto Shin Sang-Ok realiza filmes que são um sucesso junto do público e da crítica da Coreia do Norte, o realizador começa a encetar planos para uma fuga. Até porque, esta prisão levou o casal a ter que estar longe - e sem qualquer contacto - dos seus filhos ou de outros familiares ou amigos. Não conto mais para não privar os leitores das surpresas que esta história vai revelando.

Custa a crer, mas aconteceu mesmo. A narrativa mergulha o leitor num enredo mirabolante, mas assente em factos reais, o que a torna não apenas envolvente, mas também profundamente reveladora. Esta dualidade entre o absurdo e o verídico é o que dá à obra a sua principal força e originalidade, provocando tanto a incredulidade como a reflexão. 

O trabalho de Tillon no argumento é bem conseguido ao conseguir contar-nos uma história real com o ritmo de um thriller, fazendo com que uma das coisas mais fascinantes desta obra seja precisamente o facto de que, apesar de tudo parecer uma invenção absurda, se tratar de uma história real. A incredulidade que sentimos ao ler certos episódios é constantemente desafiada pela lembrança de que estes acontecimentos realmente tiveram lugar. Por essa razão, O Ditador e o Dragão de Musgo transcende o mero entretenimento, sendo uma obra com potencial educativo, que pode ser usada como porta de entrada para discussões sobre regimes autoritários, propaganda, resistência e até mesmo sobre o papel do absurdo na história política. A banda desenhada, muitas vezes subestimada como meio, revela-se aqui (e mais uma vez) como uma poderosa ferramenta de comunicação e crítica.

O Ditador e o Dragão de Musgo, de Fabien Tillon e Fréwé - ASA - LeYa
Os desenhos da autora Fréwé seguem um estilo rápido e simples, que à primeira vista pode parecer modesto, mas que revela uma eficiência narrativa surpreendente. As expressões faciais, os cenários e a linguagem corporal são transmitidos com clareza e fluidez, permitindo que o leitor acompanhe a história sem qualquer esforço. É um estilo que privilegia a funcionalidade narrativa em detrimento do virtuosismo gráfico, o que, neste caso, funciona muito bem.

No entanto, é inevitável pensar no potencial estético não totalmente explorado. Isso fica especialmente evidente nas ilustrações que marcam as divisões entre capítulos: nestes momentos, Fréwé abandona a simplicidade funcional para apresentar imagens verdadeiramente belíssimas, detalhadas e evocativas. São desenhos que nos mostram o que a artista é capaz de alcançar quando não está restrita ao ritmo da narrativa sequencial, e que nos fazem desejar mais momentos assim ao longo da obra. A diferença entre o estilo principal e estas ilustrações de separação dos capítulos sugere que a autora optou conscientemente por um traço mais leve e rápido para a narrativa. Ainda assim, essa escolha deixa a sensação de que a obra poderia ter alcançado um impacto visual ainda mais duradouro se houvesse uma maior integração do seu lado mais artístico ao longo de toda a história.

A edição da ASA é em capa mole, sem badanas. Bem, tecnicamente falando, o acabamento não é meramente em "capa mole", mas em "flexicover", sendo este um material mais maleável e resistente do que uma habitual "capa mole". Seja como for, e termos técnicos à parte, não se trata da "capa dura" a que os leitores portugueses de banda desenhada mais estão habituados. Para além disto, o livro apresenta bom papel baço no miolo, boa impressão e uma encadernação boa, embora um pouco frágil.

Em suma, O Ditador e o Dragão de Musgo é uma leitura que vale especialmente a pena por nos retratar uma história que, mesmo sendo inspirada em factos verídicos, é incrivelmente mirabolante. O seu relato extraordinário, aliado à eficácia do texto e ao charme visual, mesmo com as suas limitações, fazem desta uma obra que merece ser conhecida, debatida e, sobretudo, lida com espírito crítico.


NOTA FINAL (1/10):
8.0




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O Ditador e o Dragão de Musgo, de Fabien Tillon e Fréwé - ASA - LeYa

Ficha técnica
O Ditador e o Dragão de Musgo
Autores: Fabien Tillon e Fréwé
Editora: ASA
Páginas: 144, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 291 x 210 mm
Lançamento: Março de 2025

terça-feira, 22 de abril de 2025

Análise: Lovistori | Cadafalso | O Diabo e Eu

Lovitori | Cadafalso | O Diabo e Eu, de Alcimar Frazão - Polvo

Lovitori | Cadafalso | O Diabo e Eu, de Alcimar Frazão - Polvo
Lovistori | Cadafalso | O Diabo e Eu, de Alcimar Frazão

Hoje trago-vos uma dose tripla de um autor brasileiro que muito aprecio e cuja obra tem vindo a ser editada em Portugal pela editora Polvo, mas que, com alguma pena minha, não tem recebido o destaque e o louvor que, quanto a mim, lhe é devido.

Falo-vos de Alcimar Frazão que, com uma obra marcada por um traço visual inconfundível e uma escrita densa e poética, se tem vindo a afirmar como uma das vozes mais singulares da banda desenhada contemporânea do Brasil. Por cá, a Polvo já editou O Diabo e Eu, Cadafalso e, mais recentemente, Lovistori.

Comecemos por este último.

Lovitori | Cadafalso | O Diabo e Eu, de Alcimar Frazão - Polvo
Lovistori, com argumento de Lobo, narra uma história de amor que se desenrola nas ruas de Copacabana entre um travesti e um polícia. É uma história em género slice of life que nos coloca no turbilhão de sentimentos que envolve as personagens Sereia e Paixão, num relacionamento amoroso que, aos olhos de muitos, e possivelmente dos próprios protagonistas, tem muito de condenável. Sereia e Paixão tentam, como podem, fazer o seu amor e a sua paixão resistir a barreiras que parecem demasiado altas para serem ultrapassadas. Abordando os temas da transfobia, do preconceito e da violência de que é alvo a comunidade LGBTQI+ no Brasil atual, este é um livro de forte impacto, com alguma violência à mistura, que desafia o leitor a uma reflexão sobre os temas aqui presentes. Reflexão essa que não é demasiado politizada, o que me agradou. A narrativa, aparentemente simples, esconde camadas emocionais profundas e uma crítica subtil à banalização das relações humanas e da aceitação do outro. Dos três livros, é este o meu preferido - embora também tenha gostado muito de O Diabo e Eu

Em Cadafalso, Alcimar Frazão oferece-nos um conjunto de histórias curtas, em que os temas e as abordagens diferem bastante entre si, embora quase todas estas histórias curtas nos apresentem uma realidade algo sombria e triste que é, como expectável, sublinhada pela bela utilização dos tons negros e do espaço negativo das ilustrações, por parte do autor brasileiro. Há bastantes referências nestes contos, passando pela música, pela literatura ou pela filosofia existencialista, e as várias histórias acontecem em lugares muito variados como Florença, Barcelona, São Paulo ou Porto Alegre. Sendo um bom livro, admito que, dos três do autor, foi este aquele que menos me marcou, talvez pelo fio condutor - se é que o mesmo existe - ser algo disperso entre as diversas histórias. O que, reconheço, até pode ser um ponto a favor para os leitores que procuram histórias mais curtas e independentes, sobre variados temas.

Lovitori | Cadafalso | O Diabo e Eu, de Alcimar Frazão - Polvo
Finalmente, O Diabo e Eu, obra através da qual conheci o trabalho do autor brasileiro, é uma biografia/homenagem muda, sem qualquer balão de fala ou legenda, ao músico Robert Johnson, uma figura incontornável dos blues americanos que criou na década de 1930 uma sonoridade entendida por muitos como a ligação entre o blues rural, acústico e sujo, e o blues moderno e eletrificado. O seu talento foi atribuído a um suposto pacto que ele teria feito com o Diabo na encruzilhada das estradas 61 com a 49, nos Estados Unidos. Pegando nas canções de Johnson para a partir daí construir uma narrativa de tom existencial sobre esta figura emblemática, Alcimar Frazão oferece-nos um livro que consegue o feito de fazer o leitor refletir e, por ventura, reler o livro uma segunda vez para mais profundamente conseguir captar os intentos do autor, já que há várias mensagens subliminares a retirar daqui. Gostei muito!

Olhando para estes três livros como um todo, é legítimo afirmar que os mesmos formam uma espécie de tríptico temático e estético, cada um mergulhado em atmosferas próprias é certo, mas todos conectados por uma visão profundamente humana e estilisticamente apurada da condição existencial. A arte ilustrativa de Frazão é um elemento unificador poderoso, com traços firmes e contrastes duros, que evocam tanto a elegância clássica da banda desenhada europeia, quanto um certo lirismo moderno e cinematográfico.

Lovitori | Cadafalso | O Diabo e Eu, de Alcimar Frazão - Polvo
O desenho de Alcimar Frazão é, pois, e sem dúvida, um espetáculo à parte. Executado sempre a preto e branco puro, o seu estilo alia o rigor técnico à expressividade emocional. A elegância realista com que representa corpos e rostos é impressionante, revelando uma atenção minuciosa ao detalhe sem nunca perder a força simbólica. As sombras e luzes, magistralmente distribuídas, conferem profundidade psicológica a cada cena, enquanto os enquadramentos e composições sugerem uma clara influência do cinema clássico e da banda desenhada europeia.

O seu estilo de ilustração é verdadeiramente belo, diferenciado e magnífico! Daqueles tipos de desenho carregados de charme, drama e noção estética que, tudo somado, são um deleite para os olhos e que é particularmente notável nas sequências de silêncio, onde as personagens falam apenas com os olhos ou com o corpo. Nestes momentos, o estilo de Frazão transcende o desenho narrativo e entra no território da poesia visual. 

Quanto às edições dos três livros, todas elas apresentam o mesmo tipo de aspeto e acabamento. Os três livros envergam capa mole com badanas, bom papel baço no interior, boa encadernação e boa impressão. Os livros O Diabo e Eu e Cadafalso, por terem papel preto, adquirem um certo requinte e destaque visual que me agrada especialmente.

Em suma, Alcimar Frazão é um artista verdadeiramente impressionante, que muito admiro, e que ao longo destes três livros nos acena com um estilo de ilustração depurado, belo, cinematográfico e poético. O facto de também as histórias terem algum existencialismo abstrato pode fazer com que os livros do autor não sejam necessariamente fáceis - ou para toda a gente. Contudo, isso não me impede de afirmar que este é um dos meus autores preferidos da banda desenhada brasileira da atualidade. Não deixem de dar uma oportunidade ao seu trabalho.


NOTA FINAIS (1/10):
Lovistori: 8.6
Cadafalso: 7.4
O Diabo e Eu: 8.2




Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Lovitori | Cadafalso | O Diabo e Eu, de Alcimar Frazão - Polvo

Fichas técnicas
Lovistori
Autores: Lobo e Alcimar Frazão
Editora: Polvo
Páginas: 80, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 169 x 233 mm
Lançamento: Outubro de 2023

Lovitori | Cadafalso | O Diabo e Eu, de Alcimar Frazão - Polvo

Cadafalso
Autor: Alcimar Frazão
Editora: Polvo
Páginas: 120, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 169 x 233 mm
Lançamento: Maio de 2019

Lovitori | Cadafalso | O Diabo e Eu, de Alcimar Frazão - Polvo

O Diabo e Eu
Autor: Alcimar Frazão
Editora: Polvo
Páginas: 48, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 169 x 233 mm
Lançamento: Junho de 2015