RESSONÂNCIAS FILOSÓFICAS
XXII Simpósio de Filosofia Moderna e
Contemporânea da UNIOESTE
Volume I:
Resumos
Imagem da capa:
https://pixabay.com/pt/coruja-bird-animal-natureza-1996169/
Célia Machado Benvenho
José Dias
Junior Cunha
(Organizadores)
RESSONÂNCIAS FILOSÓFICAS
XXII Simpósio de Filosofia Moderna e
Contemporânea da UNIOESTE
Volume I:
Resumos
Primeira Edição E-book
Toledo - PR
2018
Copyright 2018 by
Organizadores
EDITORA:
Daniela Valentini
CONSELHO EDITORIAL:
Dr. Celso Hiroshi Iocohama - UNIPAR
Dr. José Aparecido Pereira – PUC-PR
Dr. José Beluci Caporalini - UEM
REVISÃO FINAL:
Prof.ª Luciana Bovo Andretto
CAPA, DIAGRAMAÇÃO E DESIGN:
Junior Cunha
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
R435
Ressonâncias filosóficas: volume I: resumos /
organizadores, Célia Machado Benvenho, José
Dias, Junior Cunha. – 1. ed. e-book –
Toledo, PR: Vivens, 2018.
158 p.
“XXII Simpósio de Filosofia Moderna e
Contemporânea da UNIOESTE”
Modo de Acesso: World Wide Web:
<http://www.vivens.com.br>
ISBN: 978-85-92670-62-7
1. Filosofia.
CDD 22. ed. 106.3
Rosimarizy Linaris Montanhano Astolphi
Bibliotecária CRB/9-1610
Todos os direitos reservados aos Organizadores
Os textos aqui publicados são de responsabilidade exclusiva de seus autores.
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Celular: (45) 9-9995-9031
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E-mail: contato@vivens.com.br
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ...................................................................................... 13
I A EXTENSÃO COMO ATRIBUTO PRINCIPAL DA
MATÉRIA
o problema cartesiano segundo Malebranche .......................................................... 15
II A IMPORTÂNCIA DE MAQUIAVEL E DA VINCI NO
INÍCIO DO MODERNISMO ................................................................ 17
III A INFÂNCIA COMO QUESTÃO FILOSÓFICA
uma contribuição a partir da concepção de história da filosofia de Gilles Deleuze ... 19
IV A INTERPRETAÇÃO DE QUENTIN SKINNER ACERCA
DO CONCEITO DE LIBERDADE EM MAQUIAVEL ............... 21
V A INTERPRETAÇÃO HEIDEGGERIANA DA
EXPERIÊNCIA CRISTÃ DA VIDA E DE SUA REALIZAÇÃO 23
VI A NATUREZA COMO UMA UTOPIA CONCRETA DE
MUDANÇA QUALITATIVA .................................................................. 25
VII A NATUREZA DO EU CARTESIANO ...................................... 29
VIII A PROPRIEDADE EM JOHN LOCKE .................................... 31
IX A QUESTÃO DO “SER”
Considerações acerca dos sete primeiros parágrafos de “Ser e Tempo”, de Martin
Heidegger ............................................................................................................ 33
X A TEORIA DA IDENTIDADE A PARTIR DE PAUL
CHURCHLAND ......................................................................................... 35
XI A TRADIÇÃO DE PESQUISA EM LARRY LAUDAN
contribuições epistemológicas para o ensino de ciências ............................................ 37
8
Ressonâncias filosóficas - Resumos
XII ACERCA DAS EMOÇÕES
o colóquio Sartre/Goldstein ................................................................................. 41
XIII AS FILOSOFIAS DA CIÊNCIA DO SÉCULO XX
A metodologia rigorosa como validação do conhecimento versus a crítica aos métodos
........................................................................................................................... 43
XIV COMO CONQUISTAR UMA SOCIEDADE JUSTA E
ESTÁVEL?
contribuições da teoria da justiça como equidade .................................................... 45
XV CRIANÇA E O CORPO SEM ÓRGÃOS
Uma abordagem a partir de Deleuze e Guattari................................................... 47
XVI CRÍTICA DA RAZÃO PURA COMO OBRA DE
METAFÍSICA
evidências textuais ............................................................................................... 49
XVII DELEUZE E O ENSINO DE FILOSOFIA ........................... 55
XVIII DEUS E A PROVA DE SUA EXISTÊNCIA EM
ANSELMO DE CANTUÁRIA................................................................ 57
XIX DEUS E O DESEJO: O FUNDAMENTO
ANTROPOLÓGICO DA MORAL RELIGIOSA EM
FEUERBACH .............................................................................................. 59
XX EDUCACÃO E SOLIDÃO EM NIETZSCHE ......................... 61
XXI ELEMENTOS PARA PENSAR A CONDIÇÃO
FORMATIVA DO ENSINO DE FILOSOFIA .................................. 63
XXII ENSAIO SOBRE FELICIDADE E MORALIDADE
os (des)caminhos da razão prática ........................................................................ 67
XXIII ENTRE A ANGÚSTIA E A NÁUSEA
Uma comparação dos referidos conceitos ................................................................ 71
Sumário
9
XXV FILOSOFIA DA CIÊNCIA E ANÁLISE CRÍTICA .............. 75
XXVI FISIOLOGIA NIETZSCHIANA
Uma análise sobre Richard Wagner ..................................................................... 77
XXVII IMPLICAÇÕES DA TEORIA DA
INTENCIONALIDADE DA CONSCIÊNCIA DE EDMUND
HUSSERL PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA
TEOLOGIA DA CULTURA EM PAUL TILLICH ......................... 79
XXVIII KANT E SCHOPENHAUER: UMA REFLEXÃO
SOBRE O FUNDAMENTO DA MORAL.......................................... 83
XXIX LIBERDADE EM HANNAH ARENDT
Conceito de liberdade e suas implicações no pensamento político ............................. 85
XXX MAQUIAVEL E A IMPORTÂNCIA DO CONFLITO ....... 87
XXXI MARCUSE: A OBJETIVAÇÃO DO HOMEM PELA
LINGUAGEM E PELO PENSAMENTO UNIDIMENSIONAL
........................................................................................................................... 89
XXXII MARX E ENGELS
Acerca do Manifesto Comunista .......................................................................... 91
XXXIII MESTRES E POSSUIDORES DA NATUREZA
Concepção e consequências do conhecimento segundo Descartes ............................... 93
XXXIV NIETZSCHE – CRÍTICAS À METAFÍSICA E AO
PRIMADO DA RAZÃO
a arte como afirmação da vida .............................................................................. 97
XXXV NIETZSCHE E A CRÍTICA DA LINGUAGEM COMO
CRÍTICA A METAFÍSICA....................................................................... 99
XXXVI NOTAS INTRODUTÓRIAS ACERCA DO CONTRATO
SOCIAL DE HOBBES E LOCKE ....................................................... 101
10
Ressonâncias filosóficas - Resumos
XXXVII NOTAS SOBRE A CRÍTICA DE LÉVINAS ÀS
FILOSOFIAS DA MESMIDADE E A QUESTÃO PELA
ALTERIDADE DO OUTRO ................................................................ 105
XXXVIII O AMOR EM O BANQUETE DE PLATÃO ............... 109
XXXIX O COERENTISMO DE WILLARD VAN ORMAN
QUINE ......................................................................................................... 111
XXXX O CONCEITO DE ‘INTELECÇÃO’ EM BERNARD
LONERGAN .............................................................................................. 113
XXXXI O CONCEITO DE DEUS EM ESPINOSA E A SUA
IMPORTÂNCIA PARA A ÉTICA ....................................................... 115
XXXXII O CONCEITO DE PESSOA NO PENSAMENTO
ÉTICO DE MAX SCHELER ................................................................ 119
XXXXIII O CONCEITO DE VONTADE LIVRE NA
ENCICLOPÉDIA DAS CIÊNCIAS FILOSÓFICAS DE HEGEL
......................................................................................................................... 121
XXXXIV O DE ANIMA, DE ARISTÓTELES
e a unidade entre razão e sensação como forma de vida ........................................ 123
XXXXV O ESCLARECIMENTO DOUTRINADOR SEGUNDO
ADORNO E HORKHEIMER.............................................................. 125
XXXXVI O PROBLEMA DA LINGUAGEM ESPECIALIZADA
PARA LUDWIG WITTGENSTEIN ................................................... 127
XXXXVII O PROMETEU ACORRENTADO DE ÉSQUILO
uma investigação sob a perspectiva trágica nietzschiana ....................................... 129
XXXXVIII OS PRINCÍPIOS NORMATIVOS DA POLÍTICA
NAS 20 TESES DE POLÍTICA DE ENRIQUE DUSSEL .......... 131
Sumário
11
XXXXIX POLÍTICA E LINGUAGEM NA OBRA DE JACQUES
RANCIÈRE................................................................................................. 133
L POTÊNCIAS UTÓPICAS DA RELIGIÃO
Reflexões a partir de L. Feuerbach e E. Bloch ................................................... 135
LI QUESTIONAMENTOS ACERCA DA
RESPONSABILIDADE MORAL DO CIENTISTA ..................... 137
LII SARTRE E LEIBNIZ
da construção do conceito de Liberdade ............................................................... 141
LIII "SI VIS PACEM, PARA BELLUM"
O problema da "paz" no pensamento de Maquiavel ........................................... 145
LIIII SOBRE A DEFINIÇÃO DE TEMPO (ΚΡΌΝΟΣ) NA
FÍSICA DE ARISTÓTELES ................................................................. 149
APRESENTAÇÃO
Este livro recolhe os resumos provenientes das Comunicações
apresentadas no XXII Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea
da UNIOESTE, realizado entre 06 e 10 de novembro de 2017,
no campus de Toledo-PR. Participantes de diferentes instituições do país
discorreram sobre temas de História da Filosofia e da Ciência, Metafísica,
Fenomenologia, Estética, Filosofia Política, Ética, Ensino de Filosofia e
outras áreas de conhecimento. Os textos completos referentes às
comunicações apresentadas estão publicados no volume II desta coleção,
assim como os textos decorrentes das Conferências e Minicursos estão
publicados no volume III desta coleção.
O Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da
UNIOESTE de 2017 foi a vigésima segunda edição consecutiva do
evento, promovido pelos cursos de Graduação e Pós-Graduação em
Filosofia de nossa universidade. Esta regularidade do evento, somada ao
contínuo crescimento em quantidade e qualidade, mostra a força do
trabalho em equipe, que envolve professores, estudantes e técnicos da
instituição. Tivemos, em 2017, mais de trezentos e cinquenta participantes
inscritos, com expressiva participação de público em todas as atividades
oferecidas; recebemos conferencistas da Itália, da Espanha e da Argentina,
além de nomes significativos da filosofia do Brasil; sete conferências e três
minicursos simultâneos foram apresentados; ocorreram 120
comunicações (nas várias áreas de pesquisa filosófica e das ciências
humanas) e apresentamos diversificada agenda cultural, incluindo
lançamentos de livros. A comunidade do município se fez presença
marcante, tanto na plateia quanto no auxílio ao financiamento e
manutenção do evento. Prova-se, assim, que o trabalho sólido é sempre
possível, se instituições e comunidade solidariamente se empenham.
Ao longo desses 22 anos, a participação de estudantes e
pesquisadores tem se mantido significativa; tanto de universidades do
Estado do Paraná, tais como UEL, UEM, PUCPR, UNICENTRO,
UENP, UEPG, UNICESUMAR, UEPG, UNIPAR, FAG, UFPR,
UNILA, UNESPAR, IFPR, UTFPR, quanto de outros estados brasileiros,
dentre as quais podemos citar a PUCRS, UNISINOS, UFRGS, UNIFRA,
UFSM, UPF, UFSC, UFFS, UESC, UNICAMP, UFABC, UNESP, USP,
PUCSP, UFRJ, UERJ, UFF, UFMG, UFOP, UFSCAR, UFBA, UNB,
UFU, UFC, UFPE, UFAL, etc. O mesmo tem ocorrido com jovens
14
Ressonâncias filosóficas - Resumos
professores e pesquisadores, muitos deles ainda estudantes em programas
de Mestrado e Doutorado de vários Estados, além, evidentemente, dos
palestrantes de renome nacional e internacional que prestigiaram nossos
eventos com suas conferências, provindos principalmente dos seguintes
países e instituições: Lisboa, Udelar/Uruguay, Asheville/EUA, DuisburgEssen/Alemanha,
Évora/Portugal,
Univ.
Valladolid/Espanha,
UBA/Argentina, Univ. Tel Aviv, UCA/Argentina, UMSB/Venezuela,
Sorbonne/Paris, Unsam/Argentina, Lille/França, Universidade de
Urbino/Itália, Coimbra/Portugal, Piza/Itália.
É sensível a influência do SIMPÓSIO DE FILOSOFIA da
UNIOESTE sobre os acadêmicos de Filosofia e sobre seu interesse na
pesquisa e na atividade filosófica, no estado e em âmbito nacional. A
convivência com outros acadêmicos e docentes tem servido de incentivo
em diversas áreas. É, portanto, um evento integrado e vinculado às várias
atividades filosóficas, tais como pesquisas, ciclos de palestras, grupos de
pesquisa cadastrados no CNPq e na Fundação Araucária, grupos de
estudos, seminários, Grupo Pet-Filosofia, Grupo PIBID-Filosofia, cursos
de especialização e outras atividades afins; é expressão do trabalho e do
desempenho de seus docentes, em nível interno e externo.
Por fim, esta tradição de ser um evento de qualidade e em sua
vigésima segunda edição não seria possível sem o apoio financeiro das
agências de fomento: Fundação Fausto Castilho, Fundação Araucária,
Reitoria e Pró-Reitoria de Extensão da UNIOESTE (PROEX) e
PPGFIL/Unioeste (Programa de Pós-Graduação em Filosofia). Sem esse
aporte, a participação dos renomados convidados do exterior e de
professores brasileiros que sempre abrilhantaram as edições anteriores
estaria inviabilizada. Nossa gratidão a todos os mencionados, direta e
indiretamente, fica registrada aqui, junto ao convite para que as próximas
edições continuem mostrando nosso compromisso brasileiro, paranaense
e toledense com a difusão pública da pesquisa, do ensino e da extensão
em Filosofia.
Os Organizadores
I
A EXTENSÃO COMO ATRIBUTO PRINCIPAL DA MATÉRIA:
o problema cartesiano segundo Malebranche
Vanessa Henning*
RESUMO
Esse trabalho tem como objetivo mostrar a objeção de Nicolas
Malebranche à definição cartesiana de atributo principal, sobretudo, no
que se refere à extensão entendida como essência da matéria. Do mesmo
modo que Descartes, Malebranche entende que o atributo principal é
aquilo que é capaz de definir essencialmente uma substância. Contudo,
Malebranche nega que o atributo seja um modo de ser de uma substância.
Para ele, sendo o atributo principal, no caso a extensão, a condição pela
qual a matéria é pensada, ela não pode ser concebida como um modo de
ser de uma substância, mas ela própria é o ser. O problema de Descartes,
segundo Malebranche, foi entender que o espírito é capaz de pensar a
matéria como um modo de uma natureza corpórea e exterior ao espírito.
Conceber dessa forma exige que o espírito deva pensar a extensão
juntamente com a substância da qual esse atributo é modo. Isso porque o
espírito, ao perceber o atributo essencial, apreenderia concomitantemente
o corpo por ser esse a substância da qual a extensão é modo. Ora, na
filosofia cartesiana sabemos que não é possível uma percepção direta do
corpo pelo espírito devido à incompatibilidade entre essas duas naturezas.
Apesar disso, nos Princípios da Filosofia, o próprio Descartes afirma que a
distinção entre atributo principal e substância é apenas uma distinção de
razão, sem valor algum. Ele alega que essa separação que fizemos não é de
fato possível, porque não há como conceber uma substância sem perceber
ao mesmo tempo a natureza ou o atributo principal que dá o ser a ela. São
essas dificuldades encontradas em Descartes que Malebranche
compreende a extensão como o próprio ser ou a coisa concebida pelo
espírito, sem haver relação alguma com algo corpóreo exterior a alma. As
consequências da afirmação malebranchiana é que não se pode provar a
existência da matéria quando concebemos a extensão, bem como
*
UNIOESTE; E-mail: nessahen@gmail.com
16
Ressonâncias filosóficas - Resumos
Descartes aponta em um de seus argumentos para a prova da existência
dos corpos na Sexta Meditação. Para Malebranche, se existe corpos
exteriores ao espírito que sejam constituídos de extensão, tal percepção é
impossível à razão humana, em razão dela ser capaz somente de conceber
a matéria em seu aspecto intelectual, isto é, a extensão enquanto ser que
define essencialmente o corpo.
PALAVRAS-CHAVE: extensão, atributo principal, substância, corpo,
Descartes, Malebranche.
REFERÊNCIAS
DESCARTES, René. Discurso do Método; Meditações Metafísicas;
Objeções e Respostas e Paixões da Alma. In: Obra Escolhida. Tradução
de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo – SP. Editora: Difusão
Europeia do Livro, 1962.
_____. Oeuvres de Descartes. Publiées par Charles Adam et Paul Tannery
(AT). 11 v. Paris. J. Vrin, 1996.
_____. Princípios da Filosofia. Tradução de João Gama. Lisboa. Editora:
Edições 70, s/d.
MALEBRANCHE, Nicolas. A Busca da Verdade. Trad. Plínio Junqueira
Smith. São Paulo. Discurso Editorial Paulus., 2004.
_____. Oeuvres Complètes de Malebranche. Direction André Robinet
(dorénavant citées OC). Vrin, 1959-76.
II
A IMPORTÂNCIA DE MAQUIAVEL E DA VINCI NO INÍCIO
DO MODERNISMO
Katriel Luiz Kochem*
RESUMO
Com base na obra Da Vinci e Maquiavel: um sonho renascentista (1999)
de Roger Masters, que detalha o contexto da época e de que forma ocorreu
o encontro entre estes dois pensadores, pretende-se analisar o encontro
entre estes dois importantes personagens, Maquiavel e Da Vinci, e o
legado que ambos deixaram para a história ocidental. Ao contrário de
outros filósofos que vislumbravam na política um meio para um estado
ideal a ser alcançado, Maquiavel trata com extremo realismo este contexto
político e seus pensamentos perpetuam até a contemporaneidade dentro
da Filosofia Política. Da Vinci é amplamente conhecido por seus feitos
artísticos, mas é importante mencionar que Da Vinci buscou unir arte e
ciência, na tentativa de se obter uma “ciência visível”. Com sua incrível
habilidade de detalhar suas experiências em desenhos, ele produz um vasto
portfólio de engenhos militares, mapas, anatomia e inventos mecânicos.
Leonardo Da Vinci apresentava assim uma nova forma de ver o mundo.
Ainda que de modo sutil, delineou a ciência moderna com base no
experimento, utilizando a observação como principal técnica na
elaboração de seus projetos. Maquiavel e Da Vinci buscaram assim uma
conquista da natureza para que esta pudesse seguir as demandas dos
homens, esta ideia de usar o conhecimento humano para controlar as
necessidades naturais e os eventos políticos começou a transformar tanto
a ciência quanto a política. Posteriormente, a concepção do mundo
científico de Da Vinci e o realismo resoluto de Maquiavel se tornam tão
naturais que são adotados por diversos filósofos e teóricos políticos. Ao
final cabe refletir através desses pensadores como o indivíduo moderno
uniu a ciência e a política, buscou cada vez mais alterar a natureza com fins
políticos e o questionamento, se nosso controle sobre esses eventos seria
mais tênue do que geralmente se supõe.
*
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; E-mail: katrielluiz@gmail.com
18
Ressonâncias filosóficas - Resumos
PALAVRAS-CHAVE: Maquiavel; Da Vinci; Renascimento; Política;
Ciência.
REFERÊNCIAS
MAQUIAVEL, N. Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio. 5. Ed.
Trad. Sérgio Bath. Brasília: UNB, 2008.
MASTERS, R. Da Vinci e Maquiavel: um sonho renascentista. Trad. Maria
Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
III
A INFÂNCIA COMO QUESTÃO FILOSÓFICA:
uma contribuição a partir da concepção de história da filosofia de Gilles Deleuze
Gustavo Henrique Martins*
RESUMO
Essa comunicação tem origem na pesquisa individual realizada no PETFilosofia/UNIOESTE, seu objetivo é ocupar-se dos usos da História da
Filosofia, a partir da filosofia de Deleuze, buscando compreender qual a
importância dos conceitos criados pelos filósofos ao longo da história do
pensamento que, de certa forma, ajudam a identificar e transformar os
problemas contemporâneos. A primeira parte desse projeto foi
apresentada na XX Semana acadêmica de Filosofia (UNIOESTE/ToledoPR) e buscou mostrar a relação do professor Deleuze com a imagem do
filósofo Deleuze; destacar como os “retratos conceituais/espirituais” são
fabricados, com ênfase na importância de fazer uma filosofia não abstrata;
investigar o que Deleuze, em seus movimentos filosóficos, mostrou
quando afirmou que a História da Filosofia não é um movimento reflexivo
nem contemplativo, mas criativo, isto na medida em que o filósofo é
alguém que busca, na criação conceitual, um sentido naquilo que estuda.
Com o desenvolvimento do projeto, nessa comunicação, são apresentadas
relações ressoantes dos conceitos filosóficos apresentados nos artigos em
que Deleuze é citado da revista Childhood e Philosophy (2005-2017), os
quais mostram um papel importante para a pesquisa: a transformação dos
problemas e a movimentação dos conceitos. Ou seja, nessa apresentação
discutirei referências filosóficas de pesquisadores que encontraram na
história da filosofia, especificamente a filosofia de Deleuze, conceitos que,
mesmo com a transformação dos problemas, não foram esquecidos e
continuam a enriquecer/efervescer o pensar contemporâneo. Para tanto,
apresentarei a esfera em que os problemas se apresentam e qual a relação
dos conceitos desenvolvidos com os problemas expostos. O objetivo
principal dessa comunicação é apresentar um movimento que mesclará
alguns artigos da revista, expondo seus conceitos e seus problemas, com a
*
UNIOESTE; E-mail: martins2017.gustavo@gmail.com
20
Ressonâncias filosóficas - Resumos
filosofia de Deleuze. Para que seja feita tal apresentação, primeiro voltarme-ei as abordagens de Deleuze em seu Abecedário (O Abecedário de
Gilles Deleuze) nas letras “Q de Questão” e “H de História da Filosofia”,
buscando também referências do seu trabalho nos livros Conversações
(1972-1990), Diálogos com Claine Parnet (1998) e Diferença e Repetição (1988
ou 2006). Após expor os conceitos de Deleuze, buscarei nos artigos em
que ele é referido na revista Childhood e Philosophy (2005-2017),
identificarei quais conceitos foram usados e a quais problemas tais
conceitos correspondem.
PALAVRAS-CHAVE: Deleuze; História da Filosofia; Revista Childhood
e Philosophy (2005-2017).
REFERÊNCIAS
DELEUZE, Gilles. O Abecedário de Gilles Deleuze. Vídeo. Editado no
Brasil pelo Ministério da Educação, “TV Escola”, 2001.
DELEUZE, Gilles. Conversações (1972-1990). Tradução de Peter Pál
Pelbart. São Paulo: Ed. 34, 1992, 240 p. (Coleção TRANS).
DELEUZE, Gilles. Diálogos (Gilles Deleuze Claire Parnet). Trad. Eloisa
Araújo Ribeiro. São Paulo: Ed. Escuta, 1998, 184 p.
DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Trad. Luiz Orlandi, Roberto
Machado. 2 ed. Rio de Janeiro: Graal, 2006, 437 p.
HEUSER, Ester Maria Dreher. Pensar em Deleuze: violência e empirismo
no ensino da filosofia. Ijuí: Ed. Unijuí, 2010, 192 p. (Coleção filosofia e
ensino; 14).
IV
A INTERPRETAÇÃO DE QUENTIN SKINNER ACERCA DO
CONCEITO DE LIBERDADE EM MAQUIAVEL
Fabiana de Jesus Benetti*
RESUMO
Dentre os vários temas que permeiam as obras de Skinner, o tema da
liberdade teve um grande destaque a partir da problematização que este
autor faz da dicotomia entre liberdade negativa e liberdade positiva,
exposta por Isaiah Berlin. Se por um lado Skinner pensa na dificuldade de
aplicação do conceito positivo de liberdade aos moldes das republicas
contemporâneas, por outro lado ele vê a necessidade de ampliação do
conceito de liberdade negativa no que tange aos direitos e liberdades dos
indivíduos. No processo de formulação desta concepção, o autor retoma
os textos de pensadores da tradição republicana de liberdade, que ao seu
ver teriam ficado de lado nos debates contemporâneos acerca do tema.
Nesta retomada há um grande destaque ao pensamento de Maquiavel, pois
Skinner vê nos escritos dele uma clara definição da liberdade, pertinente
aos seus propósitos. O que nos propomos neste texto é analisar esta leitura
que Quentin Skinner faz do conceito de liberdade republicana no
pensamento de Maquiavel, tendo como intuito maior trazer elementos de
confrontação a sua leitura acerca dos textos do florentino.
PALAVRAS-CHAVE:
Republicanismo.
Liberdade;
Maquiavel;
Quentin
Skinner,
REFERÊNCIAS
BERLIN, I. “Two Concepts of Liberty”. In: Four Essays on Liberty.
Oxford: Oxford University Press, 1969, pp. 118-172.
*
UNIOESTE; E-mail: benettifabiana@hotmail.com
22
Ressonâncias filosóficas - Resumos
MAQUIAVEL, N. Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. São Paulo:
Martins Fontes, 2007.
SKINNER, Q. As Fundações do Pensamento Político Moderno. São Paulo:
Companhia das Letras, 1996.
_____. “Machiavelli on the Maintenance of Liberty”, Politcs, v. 18, n. 2,
1983, p. 3-15.
V
A INTERPRETAÇÃO HEIDEGGERIANA DA EXPERIÊNCIA
CRISTÃ DA VIDA E DE SUA REALIZAÇÃO
Marcelo Ribeiro da Silva
RESUMO
Em questão na comunicação está o significado da realização na
constituição do sentido fundamental da religiosidade, tal como o filósofo
alemão Martin Heidegger (1889-1976) a apropria do cristianismo do
apóstolo Paulo. Nosso objetivo de pesquisa é compreender
fenomenologicamente o sentido realizador no modo de ser do
cristianismo e, com isso, continuar o empreendimento heideggeriano
(observado em suas preleções sobre Fenomenologia da vida religiosa) de
busca do sentido fundamental da religiosidade cristã. Para tanto, buscarse-á primeiramente compreender a posição do filósofo a respeito da
experiência fática da vida e entender a peculiaridade do sentido de
realização no caminho de acesso ao fenômeno da vida fática. Depois,
considerar-se-á a ênfase realizadora constitutiva da religiosidade cristã,
sobretudo compreendendo como Paulo tematizou o sentido de realização
em suas epístolas. Por fim, procurar-se-á, nas próprias cartas do referido
apóstolo, o significado da realização na facticidade da vida cristã, em
especial nos conceitos originários: “ter-se-tornado”, “parousia”, “servir” e
“esperar”.
PALAVRAS-CHAVE: Experiência fática da vida; Sentido de realização;
Cristianismo.
REFERÊNCIAS
HEIDEGGER, Martin. Fenomenologia da vida religiosa. Trad. Enio Paulo
Giachini, Jairo Ferradin, Renato Kirchner. 2.ed. Petrópolis: Vozes;
Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2014. (Coleção
Pensamento Humano). 339p.
24
Ressonâncias filosóficas - Resumos
_____. Ontologia: Hermenêutica da facticidade. Trad. Renato Kirchner.
2.ed. Petrópolis: Vozes: 2013. (Coleção Textos Filosóficos). 133p.
ADRIÁN ESCUDERO, Jesús. El jovem Heidegger: un estudio
interpretativo de su obra temprana al hilo de la pregunta por el ser. 2000.
Tese (Doutorado em Filosofia) – Facultat de Lletres, Universitat
Autònoma de Barcelona, Barcelona, 2000. 543p.
CASALE, Carlos. La interpretación fenomenológica de Heidegger de la escatologia
paulina (I). Teologia y Vida. Santiago, n. 3, v. 49, 2008, pp. 399-429.
CERFAUX, Lucien. O cristão na teologia de São Paulo. Trad. José Raimundo
Vidigal. São Paulo: Paulinas, 1976. 556p.
DUNN, James Douglas Grant. A teologia do apóstolo Paulo. Trad. Edwino
Royer. São Paulo: Paulus, 2003. 907p.
FERNANDES, Marcos Aurélio. Fenomenologia da facticidade da vida religiosa
cristã desde o Novo Testamento: mundo, si-mesmo, temporalidade. Revista
Brasileira de Filosofia da Religião, Brasília, v. 2, n. 2, pp. 14-34, dez.
2015.
KIRCHNER, Renato. Heidegger: da filosofia fenomenológica à
fenomenologia da religião. Numem: revista de estudos e pesquisa da
religião, Juiz de Fora, v. 17, n. 2, p. 135-168, jul./dez. 2014.
VI
A NATUREZA COMO UMA UTOPIA CONCRETA DE
MUDANÇA QUALITATIVA
Cleberson Odair Leonhardt*
RESUMO
Mais do que uma sobrevida, o ser humano precisa se perguntar o que quer
de sua existência, o que almeja enquanto ser vivente, racional e se quer
apenas prolongar sua existência? Uma leitura evolucionista talvez aponte
para o prolongamento de sobrevida da espécie. Mas ampliando um pouco
essa visão pode-se contemplar o ser humano como produto desta
natureza; seus desejos, sua vontade e até mesmo sua racionalidade são
resultados dela. Assim, os impulsos construtivos ou destrutivos (Eros e
Thanatos em Freud) estão intimamente ligados com a pergunta.
Sobretudo, qualquer análise mais apurada pode apontar diversos caminhos
ou hipóteses de resolução; uma sobrevida, uma ideia (crença) inexorável
no progresso racional que levaria inevitavelmente a uma vida evoluída, ou
uma busca por se desenvolver como seres humanos interligados entre si e
o mundo. Aqui a perspectiva se coaduna justamente com a terceira
hipótese: buscar de maneira ativa (utopia concreta) a possibilidade de
novas relações, que tragam mudanças qualitativas aos seres humanos. No
contexto contemporâneo de guerras, ameaças bélicas estratosféricas,
exploração desenfreada da natureza e do homem, desastres ambientais,
etc., é possível precisar que a natureza esteja ameaçada de permanecer
como é conhecida, entretanto, oferece também alternativas e pode ser
aliada no processo de mudança qualitativa; ela também anseia por esta
mudança, segundo Marcuse. A indagação pertinente então é: como
“explorar” mais este potencial da natureza e como essa teoria marcuseana
seria viés importante para a questão. Sobretudo, quando ele estabelece que
essa natureza racional, tecnológica e instrumentalizada, porquanto
intrínseca a existência dos seres humanos é, na verdade, uma entidade
histórica encontrada no nascimento. É um “a priori” histórico específico
desta sociedade humana atual, não uma natureza codificada
geneticamente, imutável. Uma sociedade livre, segundo ele, poderá
desenvolver perfeitamente um “a priori” diferente. Nela, talvez as
*
UNIOESTE; E-mail: cleber6@yahoo.com.br
26
Ressonâncias filosóficas - Resumos
pesquisas científicas e tecnológicas possam tomar como base uma
experiência de natureza como totalidade de vida a ser cuidada, protegida,
cultivada. E ciência e tecnologia poderiam ser aplicadas na reconstrução
do meio ambiente, na modificação das relações com a natureza, na
interação entre os seres humanos ou outros modos de convivências homem/natureza - mais harmoniosas que possam surgir. Inicialmente,
esta preposição pode parecer utópica, mas o objetivo é delinear as
possibilidades estabelecidas no que já existe na realidade e como elas
seriam potenciais de mudança qualitativa. Essa problemática precisa iniciar
fomentando o desenvolvimento de uma nova sensibilidade de relação com
a natureza, de modo que, ela seja um requisito para a modificação do
princípio de realidade (para Freud é o que delimita o modo do ser humano
viver em sociedade, modificando sua natureza primária e instintiva). E isso
só acontece a partir do desenvolvimento de um novo olhar e uma nova
conceituação da realidade histórica. Essa conceituação histórica e não
natural possibilita o vislumbre da mudança; e a mudança sempre está mais
propensa nos grupos e indivíduos mais dispostos a ela, aqueles que não
estão satisfeitos nem acomodados diante do “status quo” da totalidade do
sistema como ele é.
PALAVRAS-CHAVE: Natureza; Utopia; Mudança Qualitativa.
REFERÊNCIAS
MARCUSE, Herbert. Materialismo histórico e existência. Rio de Janeiro, RJ:
Tempo Brasileiro, 1968.
_____. O fim da Utopia. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1969.
_____. Ideias sobre uma teoria crítica da sociedade. Trad. Fausto Guimarães.
Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 1972.
_____. Contra-revolução e Revolta. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro, RJ:
Zahar, 1973a.
_____., et alii. Ecologia caso de vida ou de morte. Trad. Maria da Madre de
Deus Pimenta de Souza. Lisboa: Moraes Editores, 1973b.
A natureza como uma utopia...
27
_____. Um ensaio para a libertação. Trad. Maria Ondina. Lisboa: Livraria
Bertrand, 1977.
_____. Razão e revolução: Hegel e o Advento da Teoria Social. Trad.
Marília Barroso, 2ª Ed., Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1978.
_____. Ideologia da sociedade industrial: o homem unidimensional. Rio de
Janeiro, RJ: Zahar, 1979.
_____. Eros e Civilização: Uma interpretação Filosófica do Pensamento de
Freud. Trad. Álvaro Cabral. 8ª Ed., Rio de Janeiro, RJ: LTC, 1999a.
_____. Tecnologia, guerra e fascismo. Coletânea de artigos de Herbert
Marcuse. Edit. Douglas Kellner. Trad. Maria Cristina Vidal Borba. São
Paulo, SP: UNESP, 1999b.
_____. Cultura e Psicanálise. Trad. Wolfgang Leo Maar, Robespierre de
Oliveira, Isabel Loureiro. São Paulo, SP: Paz e Terra, 2001.
_____. A responsabilidade da Ciência. Trad. Marilia Mello Pisani. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S167831662009000100008> Acesso em: 16 out. 2017.
KANT, Immanuel. Para a Paz Perpétua. Trad. de Bárbara Kristensen.
Rianxo: Instituto Galego de Estudos de Segurança Internacional e da
Paz, 2006.
_____. Ideia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita. Trad.
Rodrigo Naves. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. V. 13.
Totem e tabu. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1996.
_____. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. V. 18. Além do
princípio de prazer. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1996.
_____. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. V. 21. Futuro de uma
ilusão e Mal estar na civilização. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1996.
28
Ressonâncias filosóficas - Resumos
JAY, Martin. A Imaginação Dialética: História da Escola de Frankfurt e do
Instituto de Pesquisas Sociais. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro, RJ:
Contraponto, 2008.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Vol.1. 3ed. Trad.
Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo, SP: Ed. Nova Cultural.
1988.
_____. Manuscritos econômicos-filosóficos. Trad. Jesus Ranieri. São Paulo, SP:
Ed. Boitempo. 2008b.
NOBRE, Marcos (org.). Curso Livre de Teoria Crítica. Campinas, SP:
Papirus, 2008.
SCHÜTZ, Rosalvo. Trabalho Alienado e Propriedade Privada: desvendando
imbricações ocultas. Revista Eletrônica Espaço Acadêmico, v. 87, p. 87,
2008.
_____. Por um outro princípio de realidade: novos lugares e motivos sociais
da negação segundo Herbert Marcuse. Educação e Filosofia. Uberlândia,
v. 27, n. 54, p. 699-718, jul./dez. 2013. Disponível em:
<http://www.seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/1
7344/12709> Acesso em: 17 out. 2017.
WIGGERSHAUS, Rolf. A Escola de Frankfurt: história, desenvolvimento
teórico, significação política. Trad. LilyaneDeroche-Gurgel. 3ed. Rio de
Janeiro, RJ: Difel, 2010.
VII
A NATUREZA DO EU CARTESIANO
Gleyce Kelly de Oliveira*
RESUMO
O cogito, ou “penso, logo existo”, cartesiano inaugurou o sujeito que
através do pensar, renasceu da escuridão medieval enraizada até meados
do século XVII. Tal formulação constitui um avanço de séculos para toda
a História da Filosofia. Não é por acaso que René Descartes (1596-1650)
é considerado o pai da Filosofia Moderna, pois muitos foram os avanços
proporcionados por ele para a sua constituição. Uma questão de grande
contribuição e originalidade, é a questão do sujeito, o “Eu” cartesiano, foi
anunciado através do “cogito ergo sum”. O “Penso, logo existo” é a
primeira afirmação do sujeito, mas é preciso definir de que se trata esse
“Eu” presente nas obras cartesianas, que se apresenta como questão
fundamental levantada para a modernidade. O sujeito moderno foi
descrito pela primeira vez na obra Discurso do Método como (ce moi)
esse “Eu”, cuja a essência é marcada pelo pensar, foi admitido através da
dúvida, pois toda vez que se exercita o caminho em busca da verdade, se
pensa e, portanto, o sujeito nasce. Dito isso se observa que o “Eu” ora é
definido por substância pensante a qual não depende do corpo para sua
existência, ora é descrito por alma cuja a natureza é inteiramente distinta
do corpo; e mais tarde nas Meditações Metafísicas chamada de “res
cogitans”; que é definida como coisa pensante. Portanto não há precisão
na definição do conceito. Apesar de Descartes ter dado luz ao sujeito
moderno, esse conceito não é definido linguisticamente em suas obras;
Pascal é que mais tarde nomeará o “Eu” como (le moi). Face ao exposto,
nos cabe a dúvida de quais seriam a pretensões de Descartes ao descobrir
algo de extrema originalidade, e mesmo assim evitar de defini-lo
nominalmente com precisão. Compete a esse trabalho, causar uma
reflexão acerca do “Eu” o qual promoveu a possibilidade de recorrentes
*
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; E-mail: gleycenrs.oliveira@gmail.com
30
Ressonâncias filosóficas - Resumos
discussões acerca da imaterialidade da mente, bem como, sua
determinação para existência humana.
PALAVRAS-CHAVE: Eu cartesiano, Originalidade, Cogito, René
Descartes.
REFERÊNCIAS
CARRAUD, Vincent. L’invention du moi. Paris: PUF, 2010.
COTTINGHAM, John. Descartes: A Filosofia da Mente de Descartes.
São Paulo: UNESP,
1999.
VIII
A PROPRIEDADE EM JOHN LOCKE
Kesia Priscila Gomes Gentil*
José Dias**
RESUMO
John Locke (1632-1704), um dos principais representantes do empirismo
britânico e muitos momentos considerado o “pai” do iluminismo, avesso
a doutrina das ideias inatas. Em seu entendimento as ideias são oriundas
do que se percebe por meio dos sentidos, sendo assim o homem nasce
como uma tabula rasa e as ideias adquiridas ao longo da vida são mediante
a experiência sensível. Neste artigo será discutida brevemente a visão
política liberal de John Locke e sua postura radicalmente contraria ao
absolutismo monárquico, nesta ideia de estado liberal ele defendia a
liberdade do indivíduo e uma intervenção mínima do estado na sociedade.
Entretanto o cerne das discussões trazidas neste artigo é compenetrado
essencialmente no conceito de propriedade na visão de John Locke,
atrelando ainda algumas de suas principais ideias referente ao direito de
propriedade do indivíduo. O autor tem passagens marcantes em suas
obras defendendo o direito natural do homem quanto a posse de
propriedade, no pensamento lockiano ainda no período pré-social o ser
humano é dotado de direitos, referindo-se ao direito de estado natural do
homem, isto é, desde de seu nascimento tem direito a todas as coisas
oferecidas pela natureza. John Locke aborda a questão do trabalho de
modo bem especifico apresentado também uma relação de propriedade
entre o trabalhador e o resultado de seu trabalho, sendo o trabalho
propriedade do trabalhador. Por essa ótica é possível que para Locke o
trabalho seja critério original de aquisição de propriedade, de modo que
ao se trabalhar em determinada terra e produzir na mesma o indivíduo
trabalhador toma posse de tal terra, sendo essa propriedade ainda do
estado de natureza, já que na concepção lockiana antes mesmo do homem
*
UNIOESTE; E-mail: kesia.gentil@gmail.com
UNIOESTE; E-mail: jfad_br@hotmail.com
**
32
Ressonâncias filosóficas - Resumos
viver em sociedade ou sobre a égide do estado o homem já tem direito a
propriedade.
PALAVRAS-CHAVE: Propriedade; Direito; Trabalho; Estado.
REFERÊNCIAS
LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo Civil e Outros Escritos:
Ensaio sobre a Origem, os Limites e os Fins Verdadeiros do Governo
Civil. Traduzido por Magda Lopes e Marisa Lobo da Costa. Petrópolis:
Vozes, 1994.
IX
A QUESTÃO DO “SER”
Considerações acerca dos sete primeiros parágrafos de “Ser e Tempo”, de Martin
Heidegger
Geder Paulo Friedrich Cominetti*
RESUMO
A temática do texto que se pretende levar ao Simpósio é a recolocação da
questão do ser, presente na obra Ser e Tempo, de Martin Heidegger (18891976). Como é sabido, Heidegger é o pensador contemporâneo que se
dedica à recolocação da questão do “ser” por meio da fenomenologia. A
atenção se volta à recolocação da questão do “ser” sobretudo nos
primeiros sete parágrafos da obra supramencionada porque Heidegger
parece focar seus critérios e caraterísticas neste início da obra. O problema
que se enfrenta aqui é o seguinte: quais são as especificidades que a questão
do “ser” guarda para si? Com isso, o que se objetiva é esclarecer a maneira
que Heidegger coloca a questão do “ser”, tão importante para o seu
pensamento. Acredita-se que a pesquisa auxilie o estudo da obra “Ser e
Tempo” na medida em que procura enumerar as características daquela
que foi a questão de Martin Heidegger.
PALAVRAS-CHAVE: Heidegger; Ser e Tempo; a questão do “ser”.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA PRIMÁRIA
HEIDEGGER, Martin. História da Filosofia de Tomás de Aquino a Kant.
Petrópolis: Vozes, 2009.
*
Instituto de Educação,
geder.cominetti@ifpr.edu.br
Ciência
e
Tecnologia
do
Paraná;
E-mail:
34
Ressonâncias filosóficas - Resumos
_____. Interpretaciones fenomenológicas sobre Aristóteles. Tradução de Jesús
Adrián Escudero. Madrid. Trotta, 2002.
_____. Introdução à Filosofia. 2. ed. São Paulo: Wmfmartinsfontes, 2009
_____. Ontologia: hermenêutica da facticidade. Tradução de Renato
Kirschner. Petrópolis: Vozes, 2013.
_____. Os conceitos fundamentais da metafísica: mundo, finitude, solidão. Rio
de Janeiro: Forense, 2003.
_____. Que é uma coisa? Tradução de Carlos Morujão. Lisboa: Edições 70,
2002.
_____. Ser e tempo. Tradução de Marcia Sá Cavacante Schuback.
Petrópolis, RJ: Vozes; Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São
Francisco, 2015.
BIBLIOGRAFIA SECUNDÁRIA
BEAUFRET, Jean. Introdução às filosofias da existência. Tradução de Salma
Tannus Muchail. São Paulo: Editora Duas Cidades, 1976.
ESCUDERO, Jesús Adrián. Heidegger y la genealogia de la pregunta por el ser:
una articulación temática y metodológica de sua obra temprana.
Barcelona: Herder, 2010.
FIGAL, Günter. Introdução a Martin Heidegger. Tradução de Marco
Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Via Veritá, 2016.
_____. Oposicionalidade: o elemento hermenêutico e a filosofia. Tradução
de Marco Antônio Casanova. Petrópolis: Vozes, 2007.
KAHLMEYER-MERTENS, Roberto Saraiva. 10 lições sobre Heidegger.
Petrópolis: Vozes, 2015.
X
A TEORIA DA IDENTIDADE A PARTIR DE PAUL
CHURCHLAND
Lucas Antonio Vogel*
RESUMO
A presente comunicação discorrerá sobre teoria da identidade, conhecida
também como reducionismo, exposta pelo filósofo Paul Churchland (em
seu livro Matéria e Consciência de 1988), para quem o reducionismo tem uma
relação com a causalidade. Será verificado ainda, que Churchland enuncia
a teoria da identidade como aquela que procura identificar a mente com o
cérebro, assim, ela é uma forma de materialismo. Segundo essa teoria
quando se demonstrar que a psicologia é reduzida a neurofisiologia, e vice
e versa, então será demonstrado que na nossa mente não há nada além do
físico. Para isso é preciso dois passos: em primeiro lugar reduzir as duas a
mesma linguagem, em segundo lugar, defender que os objetos da
psicologia são os mesmos que os da neurofisiologia. Nesse aspecto os
filósofos da mente vão esquematizar o reducionismo da seguinte maneira:
se procura explicar que a mente é simplesmente o nosso cérebro; sendo o
cérebro apenas um sistema biológico; compreendendo esses sistemas
biológicos somente por interações químicas e, essas interações químicas,
por sua vez, compreendidas simplesmente como interações físicas, ou seja,
essa interpretação conclui argumentando que a nossa mente é então um
jogo de interações físicas. Se procurará mostrar também que a ideia do
reducionismo fisicalista possui a fundamentação da sua ideia em que tudo
pode ser reduzido simplesmente ao material, por essa razão que muitos
confundem o materialismo com o físicalismo. O autor vai defender que
os eventos mentais são iguais aos eventos físicos que ocorrem no cérebro,
e ou seja, ele quer demostrar que os estados mentais são os próprios
estados físicos. Será demonstrado também que o fisicalismo da identidade
terá um aspecto verdadeiro se o estado mental ter uma identificação com
o estado cerebral, por exemplo, que o estado mental específico da dor vai
se correlacionar com o estado cerebral específico da dor, considerando
*
UNIOESTE; E-mail: lucascoronel@hotmail.com.br
36
Ressonâncias filosóficas - Resumos
que um estado mental tem a possibilidade de ser produzido por muitos
estados cerebrais físicos que são diferentes. Para contra argumentar a ideia
do reducionismo fisicalista, outros autores argumentam a ideia do
fisicalismo não-reducionista, está teoria mostra a ideia que, mesmo sendo
físicos, os estados mentais não se reduzem a propriedades físicas. Está
teoria está sendo muito estudada pelos filósofos da biologia e biólogos que
procuram defender que já estão fixados nos fatos biológicos os fatos
físicos. Para finalizar, será explicado com isso que, das teorias materialistas
da mente a teoria da identidade é a mais simples, pois como já foi dito, os
estados mentais são estados físicos do cérebro. Mesmo não tendo um
conhecimento total sobre o funcionamento do cérebro para poder
estabelecer as identidades apropriadas, com as pesquisas atuais em
neurociência, a teoria da identidade vai procurar revelar esses mistérios.
PALAVRAS-CHAVE: Reducionismo; Materialismo; Fisicalismo;
REFERÊNCIAS
CHUCHLAND, Paul. Matéria e consciência: uma introdução
contemporânea à filosofia da mente. Trad. Maria Clara Cescato. Ed.
UNESP, São Paulo, 1998.
CESCON, Everaldo. Quatro perspectivas contemporâneas em filosofia da mente.
Revista Internacional de Filosofia, Suplemento 3, ISSN: 1130-0507,
2010.
XI
A TRADIÇÃO DE PESQUISA EM LARRY LAUDAN:
Contribuições epistemológicas para o ensino de ciências
Saulo Cezar Seiffert Santos*
Cléria Maria Wendling**
RESUMO
A elaboração de propostas para a renovação do ensino de ciências tem se
dado por meio de reflexões epistemológicas a respeito da natureza da
ciência. Nestas, tem sido enfatizado o movimento da Nova Filosofia da
Ciência a partir de epistemologias como Popper, Kuhn, Feyerabend, entre
outros (CUPANI; PIETROCOLA, 2002; PRAIA et al., 2002). O objetivo
deste ensaio é elencar possíveis contribuições de Larry Laudan para a
superação de visões deformadas (CACHAPUZ; PRAIA; JORGE, 2004) a
respeito da construção científica como empreendimento neutro, linear,
estritamente empírico, acumulativo e feitos por poucas pessoas com
capacidade intelectual elevada (GIL-PÉREZ et al, 2001). Laudan (2011)
analisa problemas empíricos, conceituais e anomalias das teorias científicas
e assume as seguintes proposições sobre o progresso da ciência: a ciência
não é acumulativa; normalmente não se refutam teorias por suas
anomalias; as mudanças e controvérsias científicas são normalmente
resolvidas conceitualmente; os princípios da racionalidade do pensamento
científico mudam ao decorrer do tempo; a existência de teorias rivais é
comum, de tal forma que o progresso das teorias é uma atividade
comparativa. Laudan apresenta o termo tradição de pesquisa como “[...]
um conjunto de suposições acerca das entidades e dos processos de uma
área de estudo e dos métodos adequados a serem utilizados para investigar
os problemas e construir teorias dessa área do saber” (LAUDAN, 2011,
grifos do autor, p. 115). No diálogo com seus contemporâneos se opõem
a Kunh ao resgatar a racionalidade por meio dos pressupostos cognitivos
nos objetivos das investigações numa tradição de pesquisa. Laudan levanta
a questão da mudança de paradigma racional por novas opções
*
Universidade Federal do Amazonas; E-mail: sauloseiffert@ufam.edu.br
UNIOESTE; E-mail:cleriamwe@gmail.com
**
38
Ressonâncias filosóficas - Resumos
axiológicas, metodológicas e factuais (SALVI, 2011). Propõem o Modelo
Reticulado de Racionalidade Científica (MRRC) (LAUDAN, 1984) em
função dos métodos, teorias, fins e metas de pesquisa. Entende que
demandas axiológicas, metodológicas e factuais estão conectadas. Assim,
os objetivos justificam os métodos, as teorias restringem as metodologias,
os fins e metas justificam as metodologias, as metodologias tornam
factíveis os fins e metas, e as teorias devem se harmonizar com os fins e
metas (CUDMANI, 1997). Nesse sentido as reflexões epistemológicas de
Laudan são interessantes para a superação de deformações acerca da
natureza das ciências apontadas em pesquisas (HARRES, 1999) com
professores e alunos, as quais indicam uma ênfase no aspecto empíricoindutivista, na valorização da ideia de método científico unificado, de
verdade originada da observação e de uma tendência ao cientificismo. A
compreensão de Laudan pode contribuir para refletir o ensino de ciências,
ao indicar que: a ciência é uma atividade orientada para a solução de
problemas, sendo esses de ordem empírico ou conceitual; as teorias são
elaboradas para resolver problemas numa concepção anterior e organizada
de mundo associadas a uma tradição de pesquisa; as tradições de pesquisa
legitimam formas de pensar e praticar a ciência, pois evitam que o cientista
tenha de repensar em todos os pressupostos integralmente; as mudanças
científicas podem ser analisadas racionalmente pelo MRRC, que pode ser
usado para compreender as escolhas dos cientistas. A ideia é evitar o
dogmatismo nos modelos metodológicos e epistemológicos científicos
(LAUDAN, 1984).
PALAVRAS-CHAVE: Larry Laudan;
Epistemologia da Ciência; Ensino.
Tradição
de
Pesquisa;
REFERÊNCIAS
CACHAPUZ, A.; PRAIA, J.; JORGE, M. Da Educação em Ciência às
orientações para o ensino das Ciências: um repensar epistemológico. Ciência e
Educação, Bauru, v. 10, p. 363 – 381, 2004.
CUDMANI, L. C. Historia y epistemología de las ciencias. Enseñanza de las
ciencias, s.l, v. 17, n. 2, p. 327–331, 1997. Disponível em:
<http://www.raco.cat/index.php/ensenanza/article/viewFile/21583/2
1417>. Acesso em: 28 set. 2017.
A tradição de pesquisa...
39
CUPANI, A.; PIETROCOLA, M. A relevância da epistemologia de
Mario Bunge para o ensino de ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de
Física, Florianopolis, v. 19, p. 100–125, 2002. Disponível em:
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/article/viewFile/10057/1
5387>. Acesso em: 5 set. 2017.
HARRES, J. B. S. Uma revisão de pesquisas nas concepções de
professores sobre a natureza da ciência e suas implicações para o ensino.
Investigações em Ensino de Ciências, Porto Alegre, v. 4, n. 3, p. 197–211,
1999. Disponível em:
<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos
_teses/Ciencias/Artigos/harres.pdf>. Acesso em: 5 set. 2017.
GIL-PÉREZ, D.; MONTORO, L. F.; ALIS, J. C.; CACHAPUZ, A.;
PRAIA, E. J. Para uma imagem não deformada do trabalho científico.
Revista Ciência & Educação, 7, 2, 125-153, 2001.
LAUDAN, L. O progresso e seus problemas: rumo a uma teoria do
crescimento científico. São Paulo: EdUNESP, 2011.
LAUDAN, L. Science and Values: The aims of science and their role in
scientific debate. Berkeley: University of California Press, 1984.
PRAIA, J. F.; et alii. Problema, teoria e observação em ciência: para uma
reorientação epistemológica da educação em ciência. Ciência &
Educação, Bauru, v.8, n. 1 p. 127–145, 2002.
SALVI, R. F. A rede triádica dos compromissos científicos da Geografia Regional:
um olhar sob a perspectiva da Teoria da Ciência de Larry Laudan.
Brazilian Geographical Journal, s.l, v. 2, n. 1, p. 86–98, 2011. Disponível
em:
<http://www.seer.ufu.br/index.php/braziliangeojournal/article/viewFil
e/11750/7577>. Acesso em: 24 set. 2017.
XII
ACERCA DAS EMOÇÕES:
o colóquio Sartre/Goldstein
Caroline de Paula Bueno*
RESUMO
O objetivo desse trabalho é analisar as convergências e divergências entre
a obra do psiquiatra alemão Kurt Goldstein e do fenomenólogo francês
Jean-Paul Sartre. Esse tema, em específico, foi escolhido para
conhecermos um pouco mais sobre o trabalho do psiquiatra alemão Kurt
Goldstein, que tem uma grande aproximação com os fenomenólogos,
sendo considerado um dos pioneiros em neuropsicologia. Para isso foi
necessário a tradução de trechos da obra goldsteiniana, visto que esse
material se encontra disponível somente em língua inglesa. Levando em
consideração a maneira que Goldstein pensou e elaborou seus escritos
sobre as emoções, percebe-se certa aproximação com o filósofo Sartre,
pois ambos entendem a emoção como uma atitude concreta, que serviria
para proteger o agente dos perigos reais e imaginários que o
atormentariam; por isso, os dois autores compreendem a emoção como
uma relação entre o indivíduo e seu mundo circundante. Para o
desenvolvimento do trabalho, além da tradução do capítulo que aborda o
tema das emoções, extraído da importante coletânea Selected papers, de Kurt
Goldstein, também cotejamos O esboço de uma teoria das emoções de Sartre
como texto capital no sentido de se estabelecer um primeiro e frutífero
colóquio. Como método de pesquisa para a elaboração deste trabalho foi
utilizada a pesquisa bibliográfica, desenvolvida por meio da consulta em
livros, artigos online, revistas e periódicos científicos. Desse modo,
faremos uso de materiais pesquisados e publicados por outros
pesquisadores sobre o tema em questão.
PALAVRAS-CHAVE: Fenomenologia; Goldstein; Sartre; Teoria das
emoções.
*
UNIOESTE; E-mail: carol_bueno14@hotmail.com
42
Ressonâncias filosóficas - Resumos
REFERÊNCIAS
GOLDSTEIN, Kurt. Selected papers. Hague: Martinus Nijhoff, 1971.
DICIONÁRIO Oxford Advanced Learner’s Dictionary. Oxford
University Press. Oxford. 1999.
SARTRE, Jean-Paul. Esboço para uma teoria das emoções. Porto Alegre:
L&PM, 2014. Tradução Paulo Neves.
_____. O ser e o nada. 15 ed., tradução de Paulo Perdigão. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2007.
SASS, Simeão Donizeti. “Goldstein e Sartre: considerações acerca das
emoções”, in Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea, Vol. III, nº 2,
2015, p. 103-112.
XIII
AS FILOSOFIAS DA CIÊNCIA DO SÉCULO XX
A metodologia rigorosa como validação do conhecimento versus a crítica aos métodos
José Luiz Giombelli Mariani*
RESUMO
O presente trabalho visa explanar algumas das mais importantes filosofias
da ciência do século XX, a saber: O positivismo lógico, que teve início nas
primeiras décadas do século XX, com o conhecido Círculo de Viena, com
diversos cientistas e filósofos que concebiam a ciência com base na
experiência empírica, portanto, é um método de análise científica onde as
hipóteses só podem ser comprovadas se as mesmas puderem passar por
provas empíricas. Outra filosofia que será abordada é do filósofo húngaro
Irme Lakatos, que nitidamente tem a pretensão de estruturar a ciência,
através dos chamados programas de pesquisa, para isto são criados meios
de garantir o conhecimento científico, como os núcleos irredutíveis, que
são as características principais e invioláveis de determinada pesquisa, além
de um “cinturão protetor” que corresponde não somente as hipóteses
auxiliares que sustentam o núcleo, mas também suposições diversas, como
descrições das condições iniciais e demais proposições das observações
realizadas para que determinada pesquisa científica aconteça. O cientista
que estiver dentro de determinado programa não poderá violar o núcleo,
sendo assim, fica claro o objetivo desta filosofia da ciência, que é estruturar
e organizar, a partir de um método a ciência. Outras tantas filosofias da
ciência como: o falsificacionismo de Popper e os paradigmas de Thomas
Kuhn, tem a mesma pretensão, que as duas explanadas anteriormente, que
é estruturar através de teorias e métodos a ciência, para que a mesma, tenha
uma autoridade de conhecimento infalível e explique a maioria dos
fenômenos existentes no mundo. A ciência moderna instaurada por
Galileu Galilei busca tal “status” dentro da sociedade ocidental
contemporânea e por vezes, esquece que muitos dos seus conhecimentos
são equivocados e muitas vezes são apenas hipóteses e teorias que não
podem ser comprovadas. Exigir tal rigor, segundo Paul Feyerabend, é
*
UNIOESTE; E-mail: jose.mariani@unioeste.br
44
Ressonâncias filosóficas - Resumos
impedir que a ciência progrida. Afinal, para este filósofo a ciência não é
linear, mas sim caótica e de modo complexo, não podemos restringir a
ciência em poucas teorias, mas se deve levar em consideração todas as
possibilidades, e não excluir algumas pesquisas em detrimentos de outras
que são mais vantajosas ou com rigor metodológico maior. A ciência não
pode ter autoridade para dizer que teoria deve ser estudada e qual deve ser
abandonada, assim sendo, a ciência aos olhos de Feyerabend deve ser livre
e proporcionar a liberdade e a humanização da sociedade. O presente
trabalho busca explanar de forma breve as duas filosofias da ciência
(positivismo lógico e programas de pesquisa de Lakatos) e elucidar alguns
pontos breves da crítica de Feyerabend as metodologias científicas.
PALAVRAS-CHAVE: Metodologia;
Experiência; Programas de Pesquisa.
Conhecimento
Científico;
REFERÊNCIAS
CHALMERS, Alan F. O que é ciência afinal? São Paulo: Brasiliense, 1993.
FEYERABEND, Paul K. A ciência em uma sociedade livre. São Paulo:
Editora UNESP, 2011
_____. Adeus à razão. São Paulo: Editora UNESP, 2010.
_____. Contra o método. 2. ed. São Paulo: Editora UNESP, 2011.
XIV
COMO CONQUISTAR UMA SOCIEDADE JUSTA E
ESTÁVEL?
contribuições da teoria da justiça como equidade
Nelsi Kistemacher Welter*
RESUMO
No momento em que vivemos (no Brasil e no mundo) uma situação de
grave instabilidade – que pode ser observada da perspectiva política, social
e econômica, mas também da perspectiva da organização das instituições
sociais básicas – procuraremos pensar as contribuições do pensamento de
John Rawls e da justiça como equidade para o problema da estabilidade
social. Embora o filósofo americano tenha deixado incompleta a obra
Justice as fairness: a briefer restatement onde, no capítulo quinto mais
propriamente, reformule alguns de seus argumentos em favor da
estabilidade da justiça como equidade, procuraremos compreender suas
contribuições, ao longo de suas obras, para pensar a concepção de justiça
que é, segundo ele, a mais adequada à sociedade democrática e que é capaz
de torna-la estável. Na obra Uma teoria da justiça, Rawls já manifestará sua
preocupação com a estabilidade social ao questionar que forças seriam
capazes de garantir que a sociedade bem ordenada – aquela regulada pelos
princípios da justiça como equidade – pudesse ser justa e estável. No
capítulo quinto da obra, o pensador norte americano busca identificar o
que levaria os cidadãos a apoiarem voluntariamente e continuamente as
instituições justas contra as forças desruptivas que possam surgir na
sociedade. Para ele, a estabilidade social implica na aceitação e apoio
contínuo às instituições justas – aquelas às quais são aplicados os
princípios da justiça como equidade. Essa situação, no entanto, leva as
instituições a imporem algumas restrições aos indivíduos. Mas o que
levaria o indivíduo a aceitar essas restrições na sua vida cotidiana? Ainda
na mesma obra, o problema da estabilidade está relacionado a dois
argumentos: o primeiro se relaciona ao senso de justiça e sua importância
*
UNIOESTE; E-mail: nk.welter@hotmail.com
46
Ressonâncias filosóficas - Resumos
e envolve a preocupação em explicar como os cidadãos o adquirem no
processo de desenvolvimento psicológico; o segundo trata da congruência
do correto e do bom, reforçando a importância do “endosso reflexivo”
dos cidadãos aos princípios de justiça. É importante salientar que nas
obras posteriores a Uma teoria da justiça, Rawls passa a pensar a
possibilidade da estabilidade no contexto de sociedades democráticas, cuja
característica é o pluralismo de doutrinas (morais, filosóficas e religiosas)
e indica a fundamentação da concepção da justiça como equidade através
de uma estratégia política, sendo sua ideia principal a da produção de um
consenso sobreposto. Pretendemos nos apropriar das ideias do autor para,
a partir delas, refletir sobre a condição de instabilidade que hoje vivemos
as possíveis contribuições para pensarmos uma sociedade justa e estável.
PALAVRAS-CHAVE: estabilidade social; justiça como equidade;
instabilidade.
REFERÊNCIAS
RAWLS, John. A Theory of Justice. Cambridge: Harvard University Press,
1971.
RAWLS, John. Justiça como Eqüidade: Uma Reformulação. Tradução de
Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
_____. Justiça e Democracia. Tradução de Irene A. Paternot. São Paulo:
Martins Fontes, 2000.
_____. Political Liberalism. 2 ed. New York: Columbia Univerity Press,
1996.
WELTER, Nelsi Kistemacher. O problema da estabilidade na justiça como
equidade: da teoria moral à defesa de uma concepção política. (Tese).
Florianópolis: UFSC, 2013.
XV
CRIANÇA E O CORPO SEM ÓRGÃOS
Uma abordagem a partir de Deleuze e Guattari
Ana Carolina Noffke*
RESUMO
Este trabalho tem como intuito investigar de que forma a criança pode ser
pensada junto a análise de alguns pontos do primeiro capítulo da obra o
Anti-Édipo (2011) de Deleuze e Guattari, principalmente no que se refere
ao que eles chamam de processo de produção e os conceitos que
perpassam tal processo. O que atravessa a obra aqui referida é a teoria do
desejo como força motriz de tal processo, como produção e não como
falta, e que a tudo está conectada. A ideia de produção que atravessa a obra
baseia-se na definição de produção estabelecida por Marx, bem como o
papel do desejo junto a essa produção. Assim, uma breve referência será
feita a Marx a fim de estabelecer os dois pontos de processo de produção.
Deleuze e Guattari estabelecem diversas vezes, a relação da criança a tal
processo, bem como a relação desta com o desejo, afirmando que o
inconsciente é órfão e que é pura produção, diferente da teoria freudiana
que o tem como um teatro. A criança está desde o nascimento em um
processo de produção e de anti-produção. Pensamos, dessa forma, ser
válido pensar a criança também a partir da ideia de anti-produção como
relacionada ao conceito de “Corpo Sem Órgãos”, que, nesse caso, pode
ser pensado como a atividade da criança em fugir de se tornar um
organismo. Deleuze e Guattari estabelecem a diferença entre organismo e
Corpo Sem Órgãos como uma questão de intensidade. O organismo deve
ter controle sobre seus órgãos, e desse modo, eles devem obedecer a uma
forma pré-estabelecida de funcionamento. Já o Corpo Sem Órgãos não é
passível de uma definição, visto que se estabelece sobre um conjunto de
práticas que visam libertar o corpo da representação de organismo. É
nítido o esforço para a constituição de um organismo na criança desde a
mais tenra idade. Com o passar dos anos, cada vez mais esse corpo se
torna alvo de inúmeras outras técnicas de disciplina para que se torne parte
*
UNIOESTE: E-mail: carolinanoffke@hotmail.com
48
Ressonâncias filosóficas - Resumos
de um grande organismo: o social. A criança não para de tentar extrapolar
os limites da lógica, da função, do significante, não apenas com seus
órgãos, mas a partir da relação que mantém com os objetos parciais, com
a linguagem, e de forma geral, com a forma como esse corpo é tomado no
campo social. A denúncia que os autores estabelecem sobre a psicanálise
é de que esta, arbitrariamente, realoca tudo na triangulação edipiana. A
síntese representativa que acompanha Édipo e que estabelece um vínculo
familiar e pessoal a todas as coisas faz escapar as determinações do campo
social que incidem sobre o desejo. Nessa perspectiva, estabelecer de que
forma se dá a criação do Corpo Sem Órgãos pela criança e de como este
é entendido como uma anti-produção pode ser muito frutífero para
estabelecermos algumas relações que o capitalismo estabelece com o
desejo e com o corpo do ser genérico.
PALAVRAS-CHAVE: Desejo; Criança; Produção; Corpo Sem Órgãos.
REFERÊNCIAS
DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Felix. O Anti-Édipo: capitalismo e
esquizofrenia. Trad. Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: Editora 34, 2011.
_____. Crítica e clínica. Trad. Peter Pál Pelbart. São Paulo: Editora 34,
1997.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro I. Trad.
Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013.
XVI
CRÍTICA DA RAZÃO PURA COMO OBRA DE METAFÍSICA:
evidências textuais
Luis Cesar Yanzer Portela*
RESUMO
O propósito do presente trabalho é demostrar a existência de abundantes
evidências textuais em várias obras de Kant que corroboram a
interpretação de que ele a concebe como uma obra de Metafísica. A
primeira parte visa apresentar as mais difundidas interpretações acerca do
propósito primordial de Kant na Crítica da Razão Pura. Para fazer isso
dividimos as interpretações em dois grupos: Grupo A, composto pelas
interpretações que não concebem a Crítica da Razão Pura como uma obra
de Metafísica, mas como uma obra de: a) Metodologia ou Epistemologia
das Ciências Naturais. Cohen (2001), Wildelband (1951), Cassirer (1986,
1993), Vuillemin (1955), Philonenko (1975, 1989), são exemplo de
comentaristas que sustentam tal interpretação; b) Teoria do
Conhecimento. Tal interpretação é sustentada, dentre outros, por Russerl
(1971), Bennett (1966), Allison (1983) e Guyer (1987); c) Psicologia
Transcendental. Patricia Kitcher (1995) é na contemporaneidade a mais
conhecida representante desse tipo de interpretação, que segundo ela
própria, teve proeminência na primeira centúria da publicação da Crítica da
Razão Pura. Outro autor contemporâneo que tem defendido tal
interpretação é Brook (1994); d) Semântica Transcendental. Butts (1969),
Loparic (2000), Hanna (2004) e Perez (2008), são alguns dos comentaristas
e estudiosos que preconizam tal interpretação. Grupo B, composto pelas
interpretações que sustentam que a Crítica da Razão Pura é prioritariamente
uma: a) Metafisica da Experiência. Paton (1935) e Strawson (1966) são
exemplos paradigmáticos desse tipo de interpretação; b) Ontologia.
Heiddegger (1996) é sem dúvida o mais conhecido representante desse
tipo de interpretação. No entanto, tal interpretação também tem sido
sustentada por, Martin (1963), Chenet (1994), Americks (1993)
Longuenesse (1993) e Bonaccini (2016), dentre outros. Feito isso
*
UNIOESTE/UNICAMP; E-mail: luis.yportela@gmail.com
50
Ressonâncias filosóficas - Resumos
passamos a demonstrar que as interpretações acima mencionadas para
evitar ser consideradas artificiosas e para corroborarem as suas propostas
interpretativas se utilizam do expediente da apresentação de evidências
textuais extraídas da obra de kantiana. Na sequência nos ocupamos de
mostrar algumas deficiências dessas interpretações no que respeita as
evidências textuais que utilizam. Quanto às interpretações pertencentes ao
Grupo A, mostramos que sua principal deficiência é desconsiderarem uma
abundante quantidade de evidências textuais encontradas tanto na Crítica
da Razão Pura quanto em outras obras kantianas nas quais Kant atribui a
primeira Crítica o caráter de uma obra de metafísica. Quanto às
interpretações pertencentes ao segundo grupo, mostramos que sua
principal deficiência é a apresentação de insuficientes evidências textuais
usadas para corroborarem suas propostas interpretativas. Por último, nos
posicionamos frente às interpretações pertencentes tanto ao Grupo A,
defendendo que a Crítica da Razão Pura é concebida por Kant como uma
obra de metafísica, o que também faz as interpretações pertencentes ao
grupo B. Dados as deficiências apontadas às evidências textuais das
interpretações pertencentes ao grupo B, e as diferentes concepções de
metafísica que os autores sustentam a partir de evidências textuais
extraídas da obra de Kant, nos propomos na sequência a apresentar uma
série de evidências textuais ínsitas em várias obras de Kant na busca da
identificação do significado que atribui à Crítica da Razão Pura como obra
de metafísica.
PALAVRAS-CHAVE: Crítica da Razão Pura; Interpretações; Evidências
Textuais; Metafísica.
REFERÊNCIAS
ALLISON, H. A. El Idealismo transcendental de Kant: una interpretación y
defesa. Trad. Dulce Maria Granja Castro. Barcelona: Anthropos
ALMEIDA, G.A. Kant e o “escândalo da filosofia”. In: Kriterion. nº. 95,
p. 49-72, 1997.
AMERIKS, Karl. The critique of metaphysics: Kant and traditional
ontology. In: GUYER, Paul (ed.). The Cambridge Companion to Kant.
Cambridge: Cambridge, University Press, 1992, pp. 249 – 271.
Crítica da razão pura...
51
BENNETT, J. La “Crítica de la razón pura” de Kant. 1. La Analítica. Trad.
A. Montesinos. Madrid: Alianza Editorial, 1990.
BONACCINI, J. A. Analítica e Ontologia: Sobre a Teoria kantiana dos
objetos. In: Princípios - Revista de Filosofia, maio-agosto, p. 295-346,
2016.
BROOK, A. Kant and the Mind. Cambridge: Cambridge University Press,
1994.
CASSIRER, E. El problema del Conocimiento en la Filosofia y en la Ciencia
Modernas. V. 2. Trad. Wenceslau Roces.3ª Ed. México: FCE, 1986.
_____. Kant, vida y doctrina. México: Fondo de Cultura Económica, 1993.
CHENET, F. X. L’assise de L’ontologie critique: L’Esthétique
transcendantale.Lille: Presses Universitaires de Lille, 1994..
COHEN, H. La Théorie kantienne de l`expérience. Trad. Éric Dufour et
Julien Servois.Paris: Les Éditions du Cerf, 2001.
FREULER, L. Kant et la métaphysique spéculative. Paris: Vrin, 1992.
GUYER, P. Kant and the Claims of Knowledge. Cambridge/Ma: Cambridge
University Press, 1987.
HANNA, R. Kant and the Foundations of Analytic Philosophy. Clarendon:
Oxford, Univ. Press, 2001.
HEIDEGGER, M. Kant y el Problema de la Metafísica. Trad. Gred Ibscher
Roth. México: FCE, 1996.
KANT, I. Crítica da Razão Pura. Trad. Valério Rohden e Udo B.
Moosburger. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
_____. Prolegômenos a qualquer Metafísica Futura que Possa Apresentar-se como
Ciência. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Eitora Estação
Liberdade, 2014.
_____. Lógica. Trad. Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1992.
52
Ressonâncias filosóficas - Resumos
_____. Acerca da Pergunta da Academia Real de Ciências de Berlim: Quais são
os Verdadeiros Progressos que a Metafísica Realizou na Alemanha desde
os Tempos de Leibniz e Wolff? Trad. Artur Morão. Lisboa: Edições 70,
1985.
_____. Princípios Metafísicos da Ciência da Natureza. Trad. Artur Morão.
Lisboa: Edições 70, 1990.
KITCHER, P. Kant´s Transcendental Psychology. Oxford, UK: Oxford
University Press, 1990.
LONGUENESSE, B. Kant et le pouvoir de juger. Sensibilité et discursivité
dans l´Analytique transcendantale de la “Critique de la raison pure”.
Paris: Presses Universitaires de France, 1993.
LOPARIC, Z. A Semântica Transcendental de Kant. Campinas: Unicamp,
Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência, 2000.
MARTIN, G. Science moderne et ontologie traditionnelle chez Kant. Trad. JeanClaude Piguet. Paris: Puf, 1963.
PHILONENKO, A. L’École de Marbourg - Cohen-Natorp-Cassirer. Paris:
Vrin, 1989.
_____. L’ouvre de Kant: la philosophie critique. Paris: Vrin, 1996.
PATON, H. J. Kant’s Metaphysic of Experience. A Commentary on the First
Half of the Kritik der reinen Vernunft. London: Allen & Unwin, 1936.
PEREZ, D. O. Kant Pré-crítico: A Desventura Filosófica da Pergunta.
Cascavel: Edunioeste, 1998.
PÉREZ, D. O. Kant e o Problema da Significação. Curitiba: Champagnat,
2008.
RUSSEL, B. The Problems of Philosophy. Oxford: Oxford University Press,
1971.
STRAWSON, P. F. The Bounds of Sense. An Essay on the 'Critique of Pure
Reason'. London: Methuen/Reprinted by Routledge, London, 1999.
Crítica da razão pura...
WINDELBAND, W. Historia de la Filosofia Moderna. T.2. Trad. Elsa
Tabernig. Buenos Aires: Editorial Nova, 1951.
53
XVII
DELEUZE E O ENSINO DE FILOSOFIA
Ana Claudia Barbosa Nunes*
RESUMO
O filósofo e educador Gilles Deleuze, nos provoca com ideias de pensar
e de criar conceitos; a especificidade da filosofia é criar conceitos, “a
filosofia é a arte de formar, de inventar, de fabricar conceitos”
(DELEUZE, 1997, p.10). O filósofo pensa sobre um determinado
problema, os conceitos surgem a partir de um problema. O filósofo utiliza
os conceitos filosóficos existentes, recriando-os, a fim de que sejam
satisfatórios para responder ao problema. Ou seja, se utiliza de um mesmo
termo da língua, porém o ressignifica a partir de um problema vivido,
dando autenticidade a esse termo. Os conceitos devem ser sempre
discutidos, reavivados na filosofia, para ganhar força e retornar à vida, para
tornar a filosofia viva. Para ele, não cabe ao filósofo somente o refletir
sobre as questões educacionais, pois o filósofo é um criador de conceitos
e deve ter intimidade com os problemas educacionais, que não são
exclusivos da educação, mas fazem parte da vida. Cabe ao pensador da
educação ou ao professor de filosofia, se apropriar de conceitos filosóficos
para pensar os problemas educacionais. Na sala de aula o professor deve
dialogar com os alunos sobre as obras filosóficas e problemas existentes
em nossa realidade, para que a partir do pensamento dos filósofos os
alunos possam pensar e criar seus próprios conceitos com o intuito de
resolver esses problemas. Deleuze, dizia que cada aula deveria ser ensaiada,
“uma aula é ensaiada” (DELEUZE, G., 1988, p. 1). O papel do professor
é ensaiar suas aulas, para que elas coloquem o pensamento em movimento
pelo despertar da emoção, do interesse. O professor de filosofia é uma
personagem que deve buscar a linguagem dos alunos, isso não significa
que ele deve se tornar aluno, mas que deve pensar e sentir como aluno,
para dessa maneira acontecer a filosofia. Nesse ato filosófico ocorre o
pensar que é experimentar, ou seja, sempre ver o novo. O professor pode
criar milhares de métodos para ensinar seus alunos, mas não conseguirá
*
UNIOESTE; E-mail: anabarbosa_ab@hotmail.com
56
Ressonâncias filosóficas - Resumos
saber se todos aprenderam, porque o aprendizado ultrapassa todos os
limites. “[...] ensinar é como lançar sementes, que não sabemos se
germinarão ou não; já aprender é incorporar a semente, fazê-la germinar.”
(GALLO, Silvio, pag. 84). O professor ensaiando suas aulas, tendo total
dedicação com a educação, lançará essas sementes; às vezes não serão
todos os alunos que irão incorporar a semente, mas com o tempo mais
alunos terão interesse em aprender.
PALAVRAS-CHAVE: Deleuze; Conceito; Ensino; Filosofia.
REFERÊNCIAS
DELEUZE, Gilles. O que é a filosofia? 2. Ed. Rio de Janeiro: 34, 1997
_____. Gilles. O abecedário de Gilles Deleuze. Vídeo. Editado no Brasil
pelo Ministério de Educação, “TV Escola,2001.
DOSSE, François. Gilles Deleuze e Félix Guattari: Biografia Cruzada. Porto
Alegre: Artmed, 2010.
ASPIS, Renata Lima; GALLO, Silvio. Ensinar filosofia: um livro para
professores. São Paulo: Atta Mídia e Educação,2009.
GALLO, Silvio. Deleuze & a Educação. Belo Horizonte: Autêntica,2008.
XVIII
DEUS E A PROVA DE SUA EXISTÊNCIA EM ANSELMO DE
CANTUÁRIA
Filipe Luís Brustolin*
José Dias**
RESUMO
Foi a pedido de seus colegas de monastério1 que Anselmo, sem se utilizar
das Sagradas Escrituras, provasse a existência de Deus de uma vez por
todas, com um argumento simples e irrefutável. Ele parte do enunciado
de que Deus é o “ser do qual não é possível pensar nada maior”. Somente ao
pensar em tal ser pode-se provar sua existência. É possível (somente)
pensar algo que não exista na realidade, entretanto, se fosse o caso do “ser
do qual não é possível pensar nada maior” seria possível pensar algo maior do
que ele, o que é irracional, e, ainda, já que existir é melhor do que não
existir, e o “ser do qual não é possível pensar nada maior” é perfeito, nada lhe
falta, logo, ele existe2. Anselmo continua por descrever a natureza do “ser
do qual não é possível pensar nada maior”: é superior a tudo, existe por si, e é
causa de ser de todos os outros seres3. “É viva, sábia, onipotente, verdadeira,
justa, feliz, eterna e tudo aquilo que, igualmente, é melhor ser do que não ser, de maneira
absoluta” 4. A substância divina criou todas as coisas do nada. Não como
se o nada fosse algo do qual ela pudesse tirar as criaturas, nem, muito
menos, as criou a partir de si mesma, mas do não-ser absoluto5. Mas, antes
de a coisa existir de fato, ela existia, de certa forma, antes de sua criação,
na inteligência da substância divina6, talvez como um modelo da obra de
arte existe já no intelecto do artista, mesmo antes de ele a realizar7. Além
*
UNIOESTE; E-mail: filipebrustolin@hotmail.com
UNIOESTE; E-mail: jfad_br@hotmail.com
1 Monológio. Prólogo. P. 5.
2 Proslógio. Capítulo II. P. 101-102.
3 Monológio. Capítulo III. P. 9-11.
4 Ibid. Capítulo XV. P. 27.
5 Ibid. Capítulo VIII. P. 17-20.
6 Ibid. Capítulo IX. P. 20.
7 Ibid. Capítulo X. P. 20-22.
**
58
Ressonâncias filosóficas - Resumos
de criar todas as coisas, a substância divina também as mantém no ser8, ou
seja, sem sua ação elas retornam ao nada. Esta razão da coisa que existe
na inteligência suprema antes de a mesma ser criada é relacionada por
Anselmo a uma palavra, e, instantaneamente, ele diz que se encontra no
Verbo eterno, que também é Deus, que nem a substância divina9.
Conceitos trinitários aparecem mais posteriormente em sua obra. Devido
à sua suma simplicidade, tudo o que se diz a respeito da natureza suprema
redunda em uma só coisa10, ou seja, sendo assim, pode-se dizer que ela é
justa, mas também a própria justiça (fonte de tudo aquilo que é justo),
enquanto todas essas palavras remetem unicamente à sua essência11.
Quanto a sua eternidade, deve-se dizer que não é uma mera infinitude,
assim como a alma humana, por exemplo, mas que o ser supremo não tem
princípio nem fim12. A essência suprema, apesar de ser imutável, está em
todo lugar e em todo tempo, ou melhor, em toda parte e existe sempre.
Isto é, está presente em tudo, sem ser o tudo, se encontra completa em
todos os lugares sem se condicionar13. Ela não se encontra estendida no
tempo, nem se altera com o seu passar, apesar de existir sempre não tem
no tempo limite14. O Santo também discorre longa e sensacionalmente
sobre o mistério da Santíssima Trindade: um único Deus que é Pai, e Filho,
e Espírito15. Porém, tal reflexão deixa-se para outro lugar.
PALAVRAS-CHAVE: Deus; Existência de Deus; Anselmo; Argumento
ontológico.
REFERÊNCIAS:
CANTUÁRIA, Santo Anselmo de. Monológio. Col. Os pensadores. Trad.
Angelo Ricci. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p. 3-93.
_____. Proslógio. Col. Os pensadores. Trad. Angelo Ricci. São Paulo:
Nova Cultural, 1988. p. 95-123.
8
Ibid. Capítulo XIII. P. 24.
Ibid. Capítulo XII. P. 23.
10 Ibid. Capítulo XVII. P. 29-30.
11 Ibid. Capítulo XVI. P.28-29.
12 Ibid. Capítulo XVIII. P. 31-32.
13 Ibid. Capítulo XXIII. P. 41-42.
14 Ibid. Capítulo XXIV. P. 42-43.
15 Ibid. Capítulo LXXVIII. P. 91-92.
9
XIX
DEUS E O DESEJO: O FUNDAMENTO ANTROPOLÓGICO
DA MORAL RELIGIOSA EM FEUERBACH
Douglas Monteiro Pinto*
José Dias**
RESUMO
A moral nas relações humanas, tanto com o outro, quanto consigo
mesmo, é marcada por uma profunda relação com o desejo. Mesmo
quando não evoca preceitos religiosos, a moralidade carrega consigo
algum tipo de lei natural, e mesmo quando nega valores metafísicos
anteriores a ela mesma, ainda há um alvo, uma finalidade, um desejo que
projeta valor à moralidade e a determinadas formas de comportamento.
Apesar de muitos desses comportamentos variarem de acordo com
costumes e normas culturais, a existência desses costumes e normas revela
muito sobre como o ser humano, ao longo da sua construção histórica,
viu a si mesmo num patamar altamente idealizado, e baseado nessa visão,
traçou caminhos pelos quais ele deveria submeter-se a fim de alcançar este
ideal, ou este desejo. Sendo assim, este trabalho visa analisar esse processo,
tal como argumentado por Ludwig Feuerbach em suas “Preleções sobre a
essência da religião”. No texto, o autor alemão, ao presumir uma essência
humana, não consegue fugir da metafísica, apesar do caráter
profundamente materialista de sua filosofia. Isso, no entanto, não torna
menos interessante a forma como ele usa essa essência humana e os
desejos intrínsecos a ela para fundamentar a própria essência de Deus. E
sua conclusão é provocante: A crença que o ser humano tem em Deus é,
na verdade, nada mais que a crença que ele tem em sua própria essência.
Nessa visão, Deus tem como função realizar os desejos humanos. Para
que esse Ser Supremo se torne crível, então, é necessário que o homem
creia antes na sacralidade dos seus próprios desejos, ou seja, da sua própria
essência. A imagem que o homem cria da Divindade está ligada
diretamente à imagem que tem de si mesmo, de sua essência e de seus
*
UNIOESTE; E-mail: douglasmonteiro@rocketmail.com
UNIOESTE; E-mail: jfad_br@hotmail.com
**
60
Ressonâncias filosóficas - Resumos
desejos. Por isso, construir um aparato moral religioso, ou seja,
fundamentado em Deus, é antes de mais nada, projetar os desejos
humanos em algo acima de si que em essência é, na verdade, próprio de si
mesmo. Feuerbach afirma que a perfeição e a felicidade divinas são como
o homem realiza o próprio desejo de ser feliz e perfeito, mesmo
moralmente, afinal não há felicidade onde não há perfeição moral. A
maldade, a inveja, os ciúmes ou qualquer outra manifestação da ausência
de moral são impeditivos para a felicidade, logo, são reprovados por Deus
e evitados pelos homens. O desejo de imortalidade é, no entanto, o mais
importante em todo esse contexto. Sendo esse o desejo mais profundo do
homem, a essência divina imortal nada mais é, segundo Feuerbach, que a
projeção do homem acreditado, futuro, que é perfeito, imortal e superior
ao homem presente, assim como Deus. O autor, dessa forma, coloca o
homem como o cerne da religião espiritual (ou cristã), na medida em que
ele é o objeto e a essência dos desejos humanos.
PALAVRAS-CHAVE: Moral; Religião; Deus; Desejo.
REFERÊNCIAS
FEUERBACH, Ludwig. Preleções sobre a essência da religião. Trad. José da
Silva Brandão. Campinas: Papirus: 1989.
XX
EDUCACÃO E SOLIDÃO EM NIETZSCHE
Kelly de Fátima Castilho*
RESUMO
Este trabalho pretende analisar os escritos de Nietzsche no que se refere
à educação e solidão, para tal faremos uma análise dos primeiros escritos
do filósofo, no qual ele critica o caráter massificar da educação e da cultura
de sua época. Para Nietzsche, uma educação que nivela os homens,
suprimindo as singularidades e tornando-os medíocres, não proporciona
o surgimento de um tipo mais elevado, tampouco permite a manifestação
do gênio e é neste sentido que a educação de sua época é alvo de duras
críticas. Ao servir aos interesses do mercado e do Estado a educação
massifica os homens e não cumpre seu papel na elevação da cultura, pois
valoriza aspectos meramente eruditos e defende a memorização em
detrimento da criação. Nietzsche propõe uma educação que não suprima
a contradição dos impulsos e instintos, mas que permita o surgimento de
singularidades capazes de criar novos valores e verdades. A solidão e o
sofrimento possuem papel decisivo neste processo e jamais devem ser
suprimidos. Faremos uma análise destes conceitos na obra tardia de
Nietzsche a fim de compreender a educação como um processo de
formação do homem elevado.
PALAVRAS-CHAVE: Nietzsche; educação; solidão; criação.
REFERÊNCIAS
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Escritos sobre Educação. Trad. Noéli
Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: PUC-Rio; Ed. Loyola, 2009.
FREZZATTI, J. Wilson Antônio. A fisiologia de Nietzsche: a superação da
dualidade cultura/biologia. Ijuí: Ed. Unijuí, 2006.
*
Instituto Federal Farroupilha; E-mail: kellyfcastilho2@hotmail.com
XXI
ELEMENTOS PARA PENSAR A CONDIÇÃO FORMATIVA
DO ENSINO DE FILOSOFIA
José Carlos Mendonça*
RESUMO
Tomando por base para reflexão elementos da experiência pessoal do
ofício docente no Curso de Licenciatura em Filosofia, tanto das atividades
de pesquisas realizadas quanto das do ensino e da prática de orientação e
supervisão de estágios, e neste contexto principalmente as advindas da
condição (in)formativa do sujeito na prática da filosofia que visa educar, o
que se visa com este trabalho é trazer para o centro da discussão um
problema no qual se encontram submetidos tanto o professor quanto o
aluno em suas práticas de ensino de filosofia, cuja natureza problemática,
que coloca em xeque tanto a natureza quanto a efetividade do fim didático
da filosofia, pode ser traduzida pela seguinte questão: Como é possível se
educar no ensino de filosofia sem o exercício da mesma pelo “sujeito” –
ou seja, sem o ‘filosofar’? Na tentativa de resposta à questão, o primeiro
passo consiste em localizar os elementos da problemática e analisá-los por
algumas variáveis tomadas da própria filosofia as quais nos servem tanto
para demarcamos a especificidade quanto o sentido formativo da atividade
filosófica no contexto de educação escolar, para então ter as condições de
apontar os elementos implicados no processo do ensino de filosofia que,
por não preservar uma efetiva relação entre filosofia e educação, acaba por
remeter os sujeitos a uma condição não condizente com a natureza e aos
fins esperados, principalmente tendo a atividade natureza e função
educativo-formativa. Circunscrita a base do problema, tomando como
referência conceitos da proposta filosófica de Hadot, Foucault e
Wittgenstein, o segundo passo consiste em localizar na prática filosófica
alguns elementos que se fazem necessários para sustentar a condição
formativa da filosofia, principalmente quando constituída como uma
prática de ensino que visa a educar, de modo a situar e compreender o
papel reservado tanto ao sujeito quanto ao processo em si da atividade
*
Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS); E-mail: jcmendonca2001@uol.com.br
64
Ressonâncias filosóficas - Resumos
filosófica neste contexto, os quais podem ser assim resumidos: 1) é preciso
voltar-se com a filosofia para o presente do “viver”, e aí potencializar
novos sentidos; 2) situados, “territorializados” – tanto a filosofia em
relação a si, quanto os alunos em relação ao seu modo de viver –, faz-se
necessário abrir-se ao movimento do processo filosófico pela própria
prática de exercitação; e, por fim, instado em uma prática no mínimo
crítica, é preciso fazer mover o sentido, conjecturar possibilidades, ao
modo de existir humano pelo trabalho do sujeito sobre si mesmo. Por fim,
no terceiro e último passo, tomando como referência de análise elementos
conceituais de alguns filósofos tais como Platão, Kant, Rousseau e
Deleuze, o que se visa é mostrar que na prática da filosofia que se dá no
ensino escolar a condição formativa só encontra seu fim se
consubstanciada por um movimento do sujeito que se dê, intermediado
por uma prática de escri(lei)tura filosófica, ao mesmo tempo pelo
conhecimento e pela experiência, nos quais, se imbricados, o sujeito não
pode ser remetido a outra condição que não à educação pelo trabalho
formativo de sua própria verdade, pois neste, além de preservar a prática
do ensino com a base mencionada, o que se privilegia didáticopedagogicamente com a filosofia é o trabalho de si sobre si no presente da
vida que se tem.
PALAVRAS-CHAVE: Filosofia; Ensino de filosofia; Experiência e
Formação
REFERÊNCIAS
DELEUZE, Gilles; GUATTARI. Félix. O que é filosofia. São Paulo:
Editora 34, 1997.
FOUCAULT, Michel. O governo de si e dos outros: curso no Collège de
France (1982-1983). Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Editora WMF
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_____. A coragem da verdade: o governo de si e dos outros II: curso no
Collège de France (1983-1984). Trad. Eduardo Brandão. São Paulo:
Editora WMF Martins Fontes, 2011.
_____. História da sexualidade 2; o uso dos prazeres. 12.ed. Trad. Maria T.
Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2007.
Elementos para pensar...
65
_____. A Escrita de Si. In: FOUCAULT, Michel. Ética, sexualidade,
política. 2.ed. Trad. Elisa Monteiro. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2010b (Ditos e escritos; V), pp. 144-62.
HADOT, Pierre. Exercices spirituels et philosophie antique. Paris: Éd. Albin
Michel S.A., 2002.
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Castilho. 2.ed. Campinas: Editora Unicamp; Uberlândia: Edufu, 2002.
PLATÃO. A República: [ou sobre a justiça, diálogo político]. Trad. Anna
Lia Prado. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou Da Educação. São Paulo: Martins
Fontes, 2004.
WITTGENSTEIN, L. Carnets de Cambridge et de Skjolden 1930-1931, 19361937. Editado por Ilse Somavilla. Trad. Jean-Pierre Cometti. Paris:
Presses Universitaires de France, 1999.
_____. Diario filosófico 1914-1916. Editado por G.E.M. Anscombe e G.H.
von Wright. Trad. J. Muñoz e I. Reguera. Barcelona: Ariel, 1982.
_____. Diarios secretos. Edição de Wilhelm Baum. 4.ed. Trad. Andrés
Sánchez Pascual. Madrid: Alianza Editorial, Edição bilíngue (alemãoespanhol), 2008.
_____. Remarques Mêlées. Editado por G.H. von Wright. Tradução,
apresentação e notas Gérard Granel e Jean-Pierre Cometti. Paris:
Flammarion, 2002.
XXII
ENSAIO SOBRE FELICIDADE E MORALIDADE:
os (des)caminhos da razão prática
Solange de Moraes Dejeanne*
RESUMO
Para as considerações e reflexões que se seguem neste ensaio tomou-se
como ponto de partida a contribuição dos professores Osvaldo Guariglia
e Graciela Vidiella sob o título “La pregunta por la felicidade”, capítulo 11
de seu livro Breviario de Ética. Neste texto, os autores argumentam no
sentido de mostrar como os filósofos gregos que se ocuparam da moral
fizeram uso do termo “eû zên, literalmente ‘viver bem’, para referir-se
tanto a uma vida feliz como a uma vida moralmente boa” (p. 198). Sobre
esse aspecto exploram, sobretudo, o conceito de autarquia, atitude moral
por definição, mas, ao mesmo tempo, condição imprescindível para obterse a felicidade. Os autores ainda notam que a modernidade substitui o
conceito antigo de felicidade por uma concepção essencialmente diferente
daquela concepção que predomina na Antiguidade, dos tempos de
Sócrates até, aproximadamente, o século II da era cristã. Ora, de acordo
com Guariglia e Vidiella a pergunta pela felicidade havia sido esquecida,
ou apenas colocada parcialmente no cenário filosófico dos últimos três
séculos, e reaparece apenas nas últimas décadas do século XX. Aqui
importa, sobretudo, explorar a questão no sentido de compreender por
que o tema da vida boa, da vida feliz, foi esquecido, ou apenas
parcialmente colocado a partir da modernidade. O fato não se discute, mas
se pode arriscar uma hipótese que possa facilitar a compreensão do
mesmo. Para uma primeira aproximação à questão proposta procura-se
considerar o próprio conceito de felicidade que se desenvolve na
modernidade. O individualismo moderno faz surgir um ideal de felicidade
que, para usar expressão de Kant, não é exatamente um ideal da razão,
mas um ideal da imaginação. Ora, é notório que para os filósofos gregos
o lugar da razão na prossecução da felicidade é indiscutível. Mas essa
condição é favorecida pela identificação, em termos gerais, da felicidade
*
Centro Universitário Franciscano (Unifra); E-mail: sdejeanne@gmail.com
68
Ressonâncias filosóficas - Resumos
com a virtude. Pois, se em Aristóteles, apesar desse filósofo definir a
felicidade como atividade da alma de acordo com a razão, atividade da qual
resulta o agir virtuoso, a virtude não é ainda suficiente para a felicidade
plena, carecendo cada indivíduo ainda de saúde, beleza, amigos, bons
descendentes, etc.; no estoicismo encontramos que a virtude, bem
supremo que é, é o único componente da felicidade. Mas, na modernidade,
Hume vai afirmar sobre os filósofos da antiguidade que “embora afirmem
muitas vezes que a virtude nada mais é que a conformidade com a razão,
[eles] parecem em geral considerar, não obstante, que a moral deriva sua
existência do gosto e do sentimento” (HUME, p. 20-21). Nesse sentido,
aqui importa, sobretudo, investigar e refletir sobre essas questões, a) sobre
a origem da virtude; b) sobre como a razão incide (ou não) sobre a virtude,
e, c) em que medida podemos (se podemos) esperar encontrar na
contemporaneidade uma resposta sobre a vida boa, entendida tanto como
“fim último de todo ser humano” quanto “fonte das virtudes morais
imprescindíveis para levar a cabo uma vida me comum, tal como havia
sido instaurado nos começos da ética na Antiguidade clássica”
(GUARIGLIA; VIDIELLA, p. 198).
PALAVRAS-CHAVE: Virtude; Felicidade; Autarquia; Sentimentos
morais; Ideais de vida
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 2 ed. Trad. Mário da Gama Kury.
Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1992.
CANTO-SPERBER, Monique (org.). Dicionário de ética e filosofia moral.
Trad. Ana Maria Ribeiro-Althoff, Magda França Lopes, Maria Vitória K.
de Sá Brito, Paulo Neves. São Leopoldo: Ed. UNISINOS, 2013.
CORNFORD, F. M. Antes e depois de Sócrates. Trad. Valter Lellis Siqueira.
São Paulo: Martins Fontes, 2005.
GUARIGLIA, Osvaldo e VIDIELLA, G. Breviário de Ética. Buenos
Aires: Edhasa, 2011.
HUME, David. Uma investigação sobre os princípios da moral. Trad. José
Oscar de Almeida Marques. Campinas: Editora da Unicamp, 1995.
Ensaio sobre felicidade e moralidade...
RUSSELL, Bertrand. A conquista da Felicidade. 3 ed. Trad. Luiz Guerra.
Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
69
XXIII
ENTRE A ANGÚSTIA E A NÁUSEA
Uma comparação dos referidos conceitos
Guilherme Gonçalves Ribeiro*
RESUMO
Quais os pontos de semelhança existentes entre os conceitos de angústia
e náusea na obra dos referidos filósofos? Na formulação desse problema
se expressa não apenas nosso tema, quanto também a tarefa do presente
trabalho, a saber: comparar as experiências de angústia e náusea nas obras
de Heidegger e Sartre. Uma tal pesquisa se interessa não apenas por
encontrar pontos de semelhança quanto também de dessemelhança entre
as duas experiências no âmbito do pensamento dos dois filósofos. Em sua
analítica existencial, Martin Heidegger analisa o ser-aí em todos seus traços
fenomenais e, dentre outras coisas, indica como o ser-aí é capaz de
compreender ser. A pergunta pelo sentido de ser proposta por Heidegger
é, no fundo, uma pergunta pela possibilidade dos entes, muito embora o
que o autor busque não seja um ente. O ser-aí, portanto, não possui
nenhuma determinação de caráter empírico que o designa essencialmente
como isso ou aquilo, configurando-se enquanto experiência do humano
no mundo é possibilidade, o poder-ser do homem em determinado aí. Será
que há algo que possibilite a nós obtermos a percepção do nosso poderser? A angústia é a tonalidade afetiva responsável por isso. Tal fenômeno
se classifica como uma tonalidade afetiva fundamental, isso significa que
ela, ao tonar o ser-aí no mundo, aplica a essa tonalidade uma intensidade
maior do que um simples transtorno de humor. Dessa forma, ela revela ao
ser-aí o seu caráter ontológico, colocando em suspensão todos os projetos
existenciais em que se encontra. Em suma, a angústia coloca o homem à
presença do próprio nada. Em seu romance intitulado A Náusea, o filósofo
Jean-Paul Sartre narra, por meio de um diário, a vida de Antoine
Roquentin, um historiador que está retornando à Bouville (sua cidade
natal) para escrever sobre a vida de uma figura histórica que ele estuda, o
Marquês de Rollebon. Tal retorno acarreta à Antoine um sentimento que
*
UNIOESTE; E-mail: gui_ribeiro0508@hotmail.com
72
Ressonâncias filosóficas - Resumos
parece neutralizar os sentidos da existência, desfalecendo cada
significância impressa no mundo, fazendo com que tome a si mesmo
como desprovido de sentidos - é a náusea. No existencialismo proposto
por Sartre o sujeito não pode ser pensado como algo concretamente
definido, o que nos levaria à uma compreensão delimitada de homem e
excluiria a consciência imediata do homem no mundo. Portanto, a Náusea
se configura como uma experiência existencial que é capaz de revelar ao
homem, ou seja, à essa consciência imediata de mundo, o sentido do seu
ser, porque não há sujeito ou consciência fechada em si, mas sim uma
consciência que age como um veículo de compreensão que capacita o
homem a perceber como sua existência se dá em consonância com o
mundo. Pretendemos afirmar que, embora desempenhem um mesmo
papel, tais fenômenos podem ser diferenciados em suas bases mais
particulares, uma vez que a Náusea se apresenta como um amargor com a
própria existência que em seu ápice coloca o homem frente à sua
liberdade; já a angústia, por se tratar de uma tonalidade afetiva, desde
sempre está presente.
PALAVRAS-CHAVE: Náusea; Angústia; Existencialismo; Ser-aí.
REFERÊNCIAS
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Tradução de Márcia Sá Cavalcanti.
Petrópolis – RJ: Ed. Vozes, 2008.
SARTRE, Jean-Paul. A Náusea. Trad. Rita Braga. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2011.
SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada: Ensaio de Ontologia
Fenomenológica. Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 2001.
XXIV
FILOSOFIA COMO PREPARAÇÃO PARA A MORTE
Caio Fernando Vellozo*
RESUMO
Na obra Fédon, Sócrates reponde as perguntas de seus amigos que o
acompanham em seus derradeiros momentos antes de tomar cicuta.
Durante o diálogo ele é questionado por não estar com medo da morte, a
partir disso o filósofo explica porque uma pessoa que se voltou para a
filosofia não teme este destino. Então ele explica que por ter dedicado sua
vida a filosofia está tranquilo, pois a mesma prepara o indivíduo para este
fim, pois o corpo nada mais é, segundo Sócrates que um receptáculo da
alma que a perturba, pois ela pertence ao mundo das ideias ontológicas,
onde estava antes de se fundir a um corpo que sempre está voltado para
os prazeres. Visto isso, a alma, por pertencer ao mundo das ideias tem a
mesma natureza que estas: ser imutável, indivisível e conservadora da
identidade após a morte, atributos que são o contrário do corpo, que é
composto pela participação de várias formas e portando divisível, sensível,
mutável. Ai que, a filosofia, faz com que o homem mesmo durante a vida
corporal, negue seu corpo e se volte para sua alma que está preocupada
com a verdade. Portanto, um filósofo como Sócrates não sentirá diferença
entre a vida e a morte, pois ele já morreu em vida por ter conseguido viver
para filosofar e assim focando sua vida na alma e rejeitando os extintos
corporais dos quais não sentirá falta. Porém, algumas dúvidas surgem
durante o diálogo, uma delas é a prova pedida a Sócrates da existência da
alma. Para então provar a existência dessa ele recorre as ideias dos
contrários, nisso ele demonstra que tudo deriva de seu oposto
mutuamente, o justo do injusto, o feio do belo, e assim a vida da morte.
Entretanto, para que o ciclo da vida recomece a alma deve ser imortal.
Assim o fim da vida corporal passa a ser para o filósofo um alívio, pois
este teve que esperá-la, já que este tipo de homem voltado para a filosofia
que o aproxima da verdade e o bem durante, não comete injustiça, nem
*
UNIOESTE; Email: nietzschecazu@gmail.com
74
Ressonâncias filosóficas - Resumos
contra si mesmo, diante disso não se suicidaria, pois assim não estaria
sendo justo consigo mesmo.
REFERÊNCIA
SOBRINHO, Rubens Nunes Garcia. Platão e a Imortalidade: Mito e
Argumentação no Fédon. Uberlândia, Minas Gerais: Editora da
Universidade Federal de Uberlândia: 2007.
XXV
FILOSOFIA DA CIÊNCIA E ANÁLISE CRÍTICA
Douglas Antonio Bassani*
RESUMO
O objetivo desta pesquisa é debater sobre o papel da atividade crítica na
filosofia da ciência contemporânea. Esta análise aparece, por exemplo,
com o filósofo da ciência Karl Popper quando alertou para os problemas
do período da ciência normal na concepção de Thomas Kuhn, em um
texto intitulado Os perigos da Ciência Normal apresentado no Congresso
Internacional de Filosofia da Ciência em Londres (1965), realizado para
análise da Estrutura das Revoluções Científicas de Kuhn, muito difundida na
época e também em nossos dias. Neste Congresso estiveram presentes o
próprio Thomas Kuhn, bem como Feyerabend, Lakatos, entre outros
importantes filósofos da ciência do século XX. O debate da época era
sobre os escritos de Kuhn, sua fundamentação filosófica, sua viabilidade
enquanto filosofia da ciência, sendo que os ataques de Popper e de outros
foram respondidos no texto de Kuhn “Resposta a meus críticos” durante
o evento e também publicado em “A crítica e o desenvolvimento do
conhecimento”. O debate filosófico gira em torno do cientista adotar ou
não uma atividade crítica em todo o processo de investigação científica ou
se seria possível conceber que em algum processo do desenvolvimento da
ciência, tal atividade poderia ser descartada, ou deveria ser descartada,
como no período de ciência normal defendido por Thomas Kuhn. O
filósofo americano defende a ciência normal como o período de resolução
de quebra-cabeças, como aquele onde o cientista vai ao laboratório fazer
suas análises, verificar correlações com outras áreas do conhecimento,
aprofundar a pesquisa que o paradigma determina como correta, etc., sem
que o paradigma seja questionado, porque considera que este não é o
momento para tal questionamento. Esta compreensão de Kuhn “congela”
a atividade crítica da ciência em todos os seus períodos históricos, e ela se
confronta diretamente com concepções racionalistas importantes da
ciência na época, entre elas a de Karl Popper. Por um lado, para Popper,
*
UNIOESTE; E-mail: douglasbassani@uol.com.br
76
Ressonâncias filosóficas - Resumos
o cientista normal foi alguém “mal ensinado” ou alguém que deveríamos
“ter pena”, pois o estímulo ao pensamento crítico é necessário ao alunocientista, e jamais deveria ser abandonado em qualquer momento do
desenvolvimento das teorias (POPPER, 1979, p. 65). Por outro lado,
Kuhn defende a ciência normal e o seu papel de resolução de anomalias,
e considera que este trabalho automaticamente é o gerador de crises para
as possíveis revoluções científicas na ciência, ou seja, nos seus próprios
termos, “a existência da ciência normal é um corolário da existência de
revoluções” (p. 288), e quanto mais a pesquisa estiver direcionada a
resolução de quebra-cabeças, sem o questionamento crítico do paradigma,
mais temos a possibilidade de nos depararmos com anomalias, crises e
revoluções científicas. Para ele, “as revoluções através da crítica não
exigem menos à ciência normal do que as revoluções através da crise”
(KUHN, 1979, p. 288).
PALAVRAS-CHAVE: Atividade Crítica; Racionalismo Crítico; Ciência
Normal; Thomas Kuhn; Karl Popper.
REFERÊNCIAS
KUHN, Thomas. Reflexão sobre meus críticos. In: A crítica e o
desenvolvimento do conhecimento. LAKATOS, Imre & MUSGRAVE, Alan
(Org). São Paulo: Cutrix & Editora da USP, 1979.
_____. A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Perspectiva, 9° ed.
2006.
POPPER, Karl. A ciência normal e seus perigos. In: A crítica e o
desenvolvimento do conhecimento. Lakatos, Imre & Musgrave, Alan
(Org). São Paulo: Cutrix & Editora da USP, 1979.
_____. Conhecimento Objetivo. Belo Horizonte: Itatiaia, v. 13, 1999.
XXVI
FISIOLOGIA NIETZSCHIANA:
Uma análise sobre Richard Wagner
Estevão Bocalon*
RESUMO
O propósito deste texto abarca as análises do filósofo alemão, Friedrich
Nietzsche, sobre o compositor e ensaísta Richard Wagner, o principal
compositor da época. As críticas realizadas pelo filósofo são úteis para
entender como seus principais conceitos são aplicados, remetendo
também ao seu próprio pensamento, entre eles o conceito de fisiologia. A
fisiologia era um estudo em ascensão na época e o pensador em questão
teve contato com esses estudos. Apesar disso, o conceito passa a ter uma
significação diferenciada no pensamento nietzschiano, pois é intimamente
ligado com a configuração de impulsos que compõe um organismo. Esta
configuração de impulsos é parte marcante no pensamento de Nietzsche,
onde há duas configurações principais: a saudável e a doente. A primeira
diz respeito a uma hierarquização e organização dos impulsos, permitindo
a potencialização destes. A segunda é antagônica, trata-se de uma estrutura
que é desorganizada, sem hierarquia e não há potencialização. Mas como
aplicar isso à um organismo? Para isto, há uma análise com este enfoque
realizada pelo pensador alemão sobre o compositor conterrâneo Richard
Wagner. Por terem uma relação conturbada, há várias interpretações sobre
o compositor e para o propósito do texto, a análise se aterá às últimas
críticas desferidas pelo filósofo, na sua maturidade filosófica, contidas na
obra O Caso Wagner. Nesta obra, o compositor é tido como um artista
da décadence, sendo o principal responsável também pela decadência na
modernidade em geral. O conceito de décadence está aqui intimamente
ligado com o de fisiologia, compondo o que será chamado de
fisiopsicologia. A razão para estas relações conceituais está precisamente
na análise do pensador sobre Wagner, segundo a qual, o artista da
décadence possui uma configuração de impulsos doente, por buscar ideais
ascéticos, negando a vida, buscando algo para “além da vida”, e com isso,
*
UNIOESTE; E-mail: estevaonod@gmail.com
78
Ressonâncias filosóficas - Resumos
uma fuga, ou um consolo para o destino inexorável da existência: a morte.
São ideais como virtude, redenção e ascetismo que o pensador aponta
como negação da vida, ambos muito presentes na obra de Wagner. Desta
forma, a partir da produção artística do compositor, realiza-se uma análise
do próprio artista, isto é possível analisando não apenas os valores
expressos na obra do compositor, mas também as suas motivações, em
maior grau, as próprias estruturas da personalidade do mesmo. É devido
a valores já difundidos pelo cristianismo e as influências do filósofo Arthur
Schopenhauer que o ensaísta, Wagner, procura redimir a si mesmo e não
apenas aos personagens em sua ópera. Esta aura positivista na obra se dá
justamente como reflexo das configurações de impulsos presentes na
persona Wagner, em conjunto com a admiração da filosofia elaborada por
Schopenhauer, a qual o encantou fortemente, pois coloca o músico como
aquele que compreende e alcança a compreensão da Vontade Universal.
É a partir dessas colocações que a análise fisiopsicológica se torna possível.
PALAVRAS-CHAVE: Nietzsche; Wagner; Fisiologia; Décadence;
REFERÊNCIAS
_____. O caso Wagner: Um problema para músicos. Trad. de Paulo César
de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
FREZZATTI Jr., Wilson. Verbete “Fisiopsicologia”. In: GEN. Dicionário
Nietzsche. São Paulo: GEN, Loyola, 2016. p. 236-238.
MÜLLER-LAUTER, Wolfgang. Décadence artística enquanto décadence
fisiológica. A propósito da crítica tardia de Friedrich Nietzsche a Richard
Wagner. Cadernos Nietzsche, São Paulo, n.6, p. 11-30, 1999.
XXVII
IMPLICAÇÕES DA TEORIA DA INTENCIONALIDADE DA
CONSCIÊNCIA DE EDMUND HUSSERL PARA O
DESENVOLVIMENTO DE UMA TEOLOGIA DA CULTURA
EM PAUL TILLICH
Thiago Rafael Englert Kelm*
RESUMO
A presente pesquisa tem por objetivo analisar as implicações da teoria da
intencionalidade da consciência de Edmund Husserl para o
desenvolvimento de uma teologia da cultura em Paul Tillich. A aplicação
que Tillich faz da teoria da intencionalidade da consciência de Husserl na
fundamentação de seu conceito de religião irá repercutir em sua
formulação dos modos como religião e cultura se relacionam. Para o
teólogo, a religião é o direcionamento intencional da consciência ao
sentido incondicional através das formas culturais postas pelo espírito
humano em sua incessante criatividade no mundo da vida. Religião e
cultura, ou os correlatos substância e forma, estão, portanto,
essencialmente unidos numa relação de interdependência, e nesse sentido,
a determinação do caráter religioso ou cultural de um ato depende do
direcionamento subjetivo da consciência que pode estar dirigido para à
substância ou para a forma. Diante disso, quando a intencionalidade da
consciência se volta para a substância, isto é, o sentido profundo ou
incondicional da realidade se está diante da religião e quando a consciência
se volta para a forma se está diante da cultura. Tillich descreve, portanto,
dois estados da intencionalidade da consciência, uma dirigida à forma e a
outra à substância e de acordo com ele, a teologia da cultura dirige-se
justamente na direção de possibilitar uma análise religiosa das criações
culturais segundo a substância que se realiza nelas considerando ambos os
polos dessa relação. Sendo assim, a demarcação conceitual dos modos
como religião e cultura se relacionam apresentam-se ao ver desta pesquisa
como as implicações do desenvolvimento de uma teoria da consciência
intencional no pensamento de Paul Tillich que é, como será discutido
*
Universidade Metodista de São Paulo; E-mail: thiagoenglert@hotmail.com
80
Ressonâncias filosóficas - Resumos
neste trabalho, oriunda de seu contato com a fenomenologia de Edmund
Husserl.
PALAVRAS-CHAVE: Paul Tillich; Edmund Husserl; Intencionalidade;
Cultura; Religião.
REFERÊNCIAS
ABREU, Fábio Henrique de. Apontamentos sobre a relação entre
religião e autorreflexividade nos escritos sobre filosofia da religião de
Paul Tillich (1919-1925). In: Revista Eletrônica Correlatio, São Paulo, v. 14,
n. 27. p. 85-110, 2015. Disponível em:
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Tillich’s Philosophy of Spirit, Meaning, and Religion (1919-1925). Texto
não publicado de pós-doc. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2017.
DANZ, C. Tillich’s Philosophy. In: MANNING, R. R. A Cambridge
Companion to Paul Tillich. Cambridge: Cambridge University Press, 2009,
pp. 173-188.
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In Der Gegenwärtigen Kritik. Disponível em:
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HEINEMANN, Lars. The conception of the Religious Symbol in
Tillich’s Early Philosophy of Spirit: Guardian Against Exclusive Claims about
the Absolute. In GRAU, Karin; HAIGI, Peter; NORD, Ilona. Tillich
Preview 2009.Berlin: LIT Verlag, 2009.
Implicações da teoria...
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HIGUET, Etienne Alfred. As relações entre religião e cultura no
pensamento de Paul Tillich. Revista Eletrônica Correlatio, São Paulo, v. 7, n.
14. p. 123-143, 2008. Disponível em:
<https://www.metodista.br/revistas/revistasmetodista/index.php/COR/article/view/1155>. Acesso em 09 jun.
2017.
HUSSERL, Edmund. Ideias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia
fenomenológica: introdução geral à fenomenologia pura. Tradução de
Márcio Suzuki. Aparecida: Ideias & Letras, 2006.
_____. Investigações Lógicas: Primeiro Volume – Prolegómenos à Lógica
Pura. Trad. Diogo F. Ferrer. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014.
_____. Meditações cartesianas: introdução à fenomenologia. Tradução
Frank de Oliveira. São Paulo: Midras, 2001.
NEUGEBAUER, G. Die geistphilosophischen Grundlagen der
Kulturtheologie Tillichs vor dem Hintergrund seiner Schelling- und
Husserlrezeption. In: DANZ, C.; SCHÜßLER, W. (Hrsg.). Paul Tillichs
Theologie der Kultur: Aspekte, Probleme, Perspektiven. Berlin; Boston:
Walter de Gruyter GmbH & Co. KG., 2011
SCHÜßLER, W. Where does Religion Come from? Paul Tillich’s
Concept of Grundoffenbarung. In: DESPLAND, M.; PETIT, J.-C.;
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Ressonâncias filosóficas - Resumos
_____. Paul Tillich – Emanuel Hirsch [1917/1918]: Die große
religionsphilosophische Debatte. In: ALBRECHT, R.; TAUTMANN, R.
(Hrsg.). Ergänzungs - und Nachlaßbände zu den Gesammelten Werken von Paul
Tillich. Band VI: Briefwechsel und Streitschriften. Theologische,
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religionsphilosophische Debatte. In: ALBRECHT, R.; TAUTMANN, R.
(Hrsg.). Ergänzungs- und Nachlaßbände zu den Gesammelten Werken
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_____. The conquest of the concept of religion in the philosophy of
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XXVIII
KANT E SCHOPENHAUER: UMA REFLEXÃO SOBRE O
FUNDAMENTO DA MORAL
Dayane Aparecida Dias de Souza*
RESUMO
Na história da filosofia encontramos diversas teorias éticas, portanto não
há “a ética”, mas “éticas”, uma vez que os filósofos a medida que se
sucederam aproveitaram-se das teorias anteriores, por vezes criticando-as
e modificando-as conforme as indagações e necessidades do seu tempo.
Neste trabalho pretendemos analisar a fundamentação do pensamento
moral de Kant e Schopenhauer. Enquanto Kant edificou sua teoria ética
com base na razão, defendendo que qualquer um, tendo atingido a idade
da razão, é capaz e agir moralmente. Basta o sujeito pautar sua ação no
imperativo categórico, agindo em conformidade com o dever. Em
contrapartida, Schopenhauer não buscou o fundamento da moral no
formalismo de uma pretensa razão prática, mas no coração, no
sentimento. Em sua ética, a partir da observação empírica, o filósofo de
Dantzig elencou três motivações distintas no agir humano: o egoísmo, a
maldade e a compaixão, e toda ação tem origem em uma dessas
motivações. Segundo Schopenhauer, naturalmente nossas ações tendem a
ser egoístas, pois estamos sempre focados em nosso bem-estar ou malestar. Mas como o egoísmo é uma fonte infinita de sofrimento, o ser
humano precisa cultivar a compaixão. A compaixão age buscando o bem
do outro, consistindo em não colocar a vontade própria acima da vontade
do outro. Desta maneira, Schopenhauer assumi o seguinte princípio geral
como fundamento de uma moral da compaixão: “Neminem laede, immo
omnes, quantum potes, iuva!” (“Não prejudiques ninguém, ao contrário, ajuda
a todos quanto puderes”).
PALAVRAS-CHAVE: Kant; Schopenhauer; ética; dever e compaixão;
*
UNIOESTE; E-mail: dayane_sofia@hotmail.com
84
Ressonâncias filosóficas - Resumos
REFERÊNCIAS
VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 2005 (Coleção
Primeiros Passos).
ABBAGNANO, Nicolas. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi. 2ª ed.
São Paulo: Martins Fontes, 1998.
_____. História da filosofia. Lisboa: Presença, 1978.
BARBOZA, Jair. Schopenhauer. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.
BARROS, Clovis. A vida que vale a pena ser vivida. Petrópolis, RJ: Vozes,
2014.
DURANT, Will. A história da filosofia. Rio de Janeiro: Editora Nova
cultural, 1996
KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos costumes. Trad.: Paulo
Quintela.
LEFRANC, Jean. Compreender Schopenhauer. 3ª Ed. Trad. Ephraim Ferreira
Alves. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.
PASCAL, Georges. O pensamento de Kant. Petrópolis, RJ: Vozes,1983.
REALE, G.; ANTISSERI, D. História da filosofia: de Spinoza a Kant - Vol.
4. São Paulo: Paulus, 2005.
SCHOPENHAUER, Arthur. As Dores do Mundo. Trad. José Souza de
Oliveira. São Paulo: Edipro, 2014.
_____. Sobre o fundamento da moral. Trad. M. L. M. O. Cacciola. São Paulo:
Martins Fontes. 1995.
_____. O mundo como vontade e como representação. Tradução, apresentação,
notas e índices de Jair Barboza. São Paulo: Editora UNESP, 2005.
XXIX
LIBERDADE EM HANNAH ARENDT
Conceito de liberdade e suas implicações no pensamento político
Viviane Arruda Sanches*
RESUMO
A presente comunicação propõe a investigação acerca da liberdade no
pensamento político de Hannah Arendt. Em Entre o passado e o futuro,
a pensadora objetiva suas ideias, principalmente, no ensaio ‘‘— Que é a
liberdade?’’, a autora demonstra sua originalidade, distanciando-se do
ordinário, do religioso, da psicologia, e de correntes filosóficas sobre o
tema, como o existencialismo, por exemplo. Diante da dificuldade de
esclarecer de forma objetiva o que seja liberdade, Hannah assemelha a
esforço de imaginar um círculo quadrado. O embaraço acontece devido
ao caráter interno concebido da liberdade, não possuindo um corpo
concreto de estudo, muitas vezes criando um obstáculo intransponível
para um conhecimento prático, excluindo do campo da política. O
pensamento de liberdade como algo próprio da interação comigo mesmo,
obscurece em vez de iluminar qualquer tentativa de tornar tangíveis
indagações sobre o assunto. Isto representaria apenas o temor da perca da
individualidade. A sugestão de Arendt, portanto, é perceber a questão da
liberdade de um outro ponto de vista, não restrito ao intimismo e livre
arbítrio. Exposto ao conteúdo prático da ação coletiva, temos a liberdade
como algo mais tocável, e assim a politóloga aponta a liberdade como algo
evidente, que pode tornar-se parte do dia-a-dia. Somente é possível o
ocorrer da liberdade na admissão da política e a ação do homem, sendo a
liberdade a razão de ser da política, as próprias leis são fundamentadas
com a manifestação fenomênica da liberdade, não como experiência
interior, mas algo palpável. A liberdade política não pode ser vivida na
interioridade, ela é evidenciada no convívio entre homens, ela necessita ser
experimentada, o homem nem seria capaz de conceber isoladamente a
liberdade sem vivenciar algo anteriormente entre iguais, distante do jugo
das necessidades.
No contato
*
UNIOESTE; E-mail: vivianearruda011@gmail.com
86
Ressonâncias filosóficas - Resumos
com o outro, na organização politizada, é realmente possível à liberdade
enquanto que, em organizações sociais não politicas abrem-se espaço para
os instintos e as necessidades. Apontando o modelo grego de cidadão da
polis, como exemplo de indivíduo livre. Assim sendo, ao contrário do
senso comum, liberdade e política não são antônimos, mas coincidem.
Aqueles que pensam a impossibilidade da coexistência entre liberdade e a
política não se orientam por bons caminhos, pois apenas no agir diante
dos demais o homem pode verdadeiramente ser livre. Em vista disso, o
conceito de liberdade no pensamento político de Arendt ocupa lugar de
destaque, pois sua gênese está enraizada na ação política, que para autora,
rege o início do homem, juntamente com discurso, que é o meio possível
para a revelação do que ele é.
PALAVRAS-CHAVE: Liberdade; Política; Ação.
REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. 10º ed. Rio de Janeiro: Ed.
Forense Universitária, 2000;
_____. Entre o Passado e o Futuro. 5º ed. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2000.
XXX
MAQUIAVEL E A IMPORTÂNCIA DO CONFLITO
Henrique Zanelato*
RESUMO
O pensamento político de Nicolau Maquiavel configura-se como um dos
mais importantes, não apenas em seu contexto específico, mas em toda a
tradição filosófica. Tendo isso em mente pretendemos, na presente
comunicação, expor a reflexão do autor acerca de um aspecto controverso:
a natureza e o caráter do conflito no meio político. Ao refletir a respeito
do contexto político e social da Itália de seu tempo a partir da história da
antiguidade, em especial a romana, Maquiavel defende, nos Discursos sobre
a primeira década de Tito Lívio, ao contrário do que parece natural e do que
era defendido muitos de seus contemporâneos, que o conflito é uma das
características que melhor representam a saúde de uma república. Para
melhor compreender o que o autor florentino quer dizer com isso, é
preciso retornar para a divisão que ele faz dentro do campo social. De
acordo com ele, toda sociedade se separa em dois “humores”, a saber,
grandes e povo. Assim, o conflito representa a disputa entre ambos pelo
desejo de dominar, no caso dos primeiros, e o de manter certa liberdade,
de não ser dominado, portanto, no caso dos segundos. Em linhas gerais,
Maquiavel caracteriza o conflito como positivo na medida em que entende
que ele somente é possível em uma república onde exista certo equilíbrio
para o exercício da liberdade. No caso de uma tirania ou ditadura, por
exemplo, onde o conflito, caso exista, acaba por ser suprimido, o espaço
da liberdade para o equilíbrio entre os dois humores é praticamente nulo.
Queremos, assim, seguir a argumentação do pensador italiano para
compreender o aspecto peculiar de sua reflexão que, ao fazer uma leitura
dos conflitos ocorridos entre nobres e plebeus romanos, lançou luz sobre
os problemas políticos italianos de seu tempo e que ainda oferece
ferramentas para que pensemos sobre os nossos.
PALAVRAS-CHAVE: Maquiavel; Conflito; Liberdade; Humores; Roma.
*
UNIOESTE; E-mail: henriquezanelatoii@hotmail.com
88
Ressonâncias filosóficas - Resumos
REFERÊNCIAS
AMES, José Luiz. Lei e violência ou a legitimação política em Maquiavel.
Trans/Form/Ação, Marília, v. 34, n. 1, p. 21-42, 2011.
_____. A função do poder militar na vida política segundo Maquiavel.
In: Revista Ética & Filosofia Política, vol. 8, nº 1, junho de 2005.
BENETTI, Fabiana de Jesus. O conceito de stato em Maquiavel: elementos
constitutivos da modernidade estatal. Dissertação (Mestrado em Filosofia
Moderna e Contemporânea) - Universidade Estadual do Oeste do
Parana, Toledo, 2010.
BIGNOTTO, Newton. Maquiavel republicano. São Paulo: Loyola, 1991.
MAQUIAVEL, Nicolau. Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. Trad.
MF. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
_____. O príncipe. Tradução de Maria Júlia Goldwasser. São Paulo:
Martins Fontes, 1998.
ZORZO, Douglas Antônio Fedel. Maquiavel e a função política da arte da
guerra. Dissertação (Mestrado em Filosofia Moderna e Contemporânea) Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Toledo, 2015.
XXXI
MARCUSE: A OBJETIVAÇÃO DO HOMEM PELA
LINGUAGEM E PELO PENSAMENTO UNIDIMENSIONAL
Marcelo Barbosa*
RESUMO
Este artigo tem o objetivo de discutir dois textos de Herbert Marcuse, que
são: O Fechamento do Universo de Locução e A Vitória do Pensamento
Positivo: Filosofia Unidimensional. Estes textos compõe o livro: A
ideologia da sociedade industrial – o homem unidimensional (1964), onde Marcuse
tematiza uma sociedade unidimensional organizada por parâmetros
racionais e lógicos, que legitimam uma ordem de dominação que
instrumentaliza os homens e a natureza. O primeiro texto é um dos que
compõe o primeiro tópico do livro, onde Marcuse discute a
unidimensionalização da sociedade. Trata-se de expor, como na sociedade
industrializada se atribuiu uma funcionalização da linguagem que ajuda a
repelir elementos não conformistas, limitando a linguagem uma
característica operacional e instrumental, que contribui para ordenar e
organizar a sociedade segundo os interesses de dominação. Além do mais,
uma linguagem unidimensional é também anticrítica e antidialética, pois se
encontra fechada dentro de um universo de locução, que comunica
decisões e sentenças de comando. O segundo texto é um dos que compõe
o segundo tópico do livro, onde Marcuse discute a unidimensionalização
do pensamento. Trataremos de expor a partir deste texto a crítica de
Marcuse à filosofia positivista, que busca uma harmonia entre a teoria e a
prática, desde que a realidade possa ser cientificamente compreendida e
que se possa tornar industrial e tecnológica. Desse modo, o mudo
empírico se mostra como objeto do mundo positivo, aparecendo como o
resultado de uma experiência restrita que reduz o sujeito humano a um
indivíduo abstrato e mutilado por um comportamento unidimensional.
Portanto, o objetivo é mostrar, nos dois casos, o quanto a concepção
positivista restrita aos limites de uma Teoria Tradicional cria um véu
mitológico sobre a razão, subordinando todos os fatos a uma
*
UNIOESTE; E-mail: barbosa_mondai@hotmail.com
90
Ressonâncias filosóficas - Resumos
sistematização de não contraditórios, negando a realidade histórica e seus
potenciais revolucionários. Nestes limites da Teoria Tradicional, tanto na
sociedade quando no pensamento, institucionaliza-se um determinado
tipo de vida e de comportamento que busca fazer do ser humano um
reflexo de sua razão instrumental bloqueando os potenciais
emancipatórios.
PALAVRAS-CHAVE:
Tradicional;
Unidimensional;
Marcuse;
Razão;
Teoria
REFERÊNCIAS
MARCUSE, Herbert. A Ideologia da Sociedade Industrial: O Homem
Unidimensional. Trad. Giasone Rebuá. Zahar, Rio de Janeiro, 1968.
XXXII
MARX E ENGELS:
Acerca do Manifesto Comunista
André Felipe Belmirio*
RESUMO
“A história de toda sociedade até hoje É a história de lutas de classes”
(Marx, 1990). Esta é a frase inicial do manifesto do partido comunista
escrita por Karl Marx e Friedrich Engels. Tal frase é um dos critérios
fundamentais para se entender com profundidade o pensamento marxista
imperado dentro da obra o ‘manifesto do partido comunista’, pois ela traz
elementos fundamentais que aprofundam outros conceitos tais como: a
alienação, o materialismo histórico e o materialismo dialético. A partir do
manifesto do partido comunista assim como as outras obras escritas por
Marx, é de se destacar que ele foi um dos primeiros a fazer uma análise
crítica e profunda da sociedade, pois ressaltando a luta de classes, ele deu
um fundamento para história. Fundamentando a história, a sociedade tem
a possibilidade de uma análise profunda das conjunturas que a rege,
lutando contra os sistemas que a alienam. Com Engels e, mas de um modo
especial com Marx, inicia-se na história da humanidade um estudo crítico
de suas conjunturas, isto é, uma análise e uma crítica com a intensão
primeira de fazer uma profunda modificação social, além da superfície,
mas uma transformação radical de todo sistema. A filosofia marxista surge
na história da humanidade com o objetivo de transformação social, sua
construção e embasamento histórico é a luta de classes, pois somente
quando os operários deste mundo tomarem consciência das estruturas
alienantes, é que podem lutar contra o sistema imperador que abnegam o
ser humano de seu princípio básico, que é o sentido da vida. Uma pessoa
alienada é uma pessoa sem sentido naquilo que se faz. O conceito de
alienação é um dos principais elementos para se entender a dinâmica social
reinante na época de Marx, e também atualmente, ressaltava alguns tipos
de alienação tais com a: política, econômica, religiosa. A alienação religiosa
consistia nos mecanismos das religiões em alimentar as desilusões da
*
Faculdade Palotina (FAPAS); E-mail: andre_f42@hotmail.com
92
Ressonâncias filosóficas - Resumos
população, ou seja, a religião tem o objetivo de salvaguardar a alma, no
entanto valorizava o sofrimento do povo, numa espécie de conformismo
social. Ao invés da religião favorecer a tomada de consciência do povo
para as realidades que aprisionam, ela se tornava um mecanismo de
alienação, porque; na esperança da vida eterna poder-se-ia sofrer no
mundo. Na parte política o estado, para Marx, é o instrumento de poder
em favor da classe dominante. Com o advento da sociedade alienada o
Estado tem a função de manter o povo cada vez mais inconsciente em
relação às estruturas do sistema político. Se o conflito é a base da história,
e a grande preocupação marxista é a materialidade, quando alcançaremos
uma sociedade em paz?
PALAVRAS-CHAVE: Marxismo; Alienação; Luta, História.
REFERÊNCIAS
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. 9. ed. Petrópolis,
RJ: Vozes, 1990.
_____. Os pensadores. 9. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999
XXXIII
MESTRES E POSSUIDORES DA NATUREZA:
Concepção e consequências do conhecimento segundo Descartes
César Augusto Battisti*
RESUMO
Como todo filósofo, Descartes tem sido “fotografado” a partir de, pelo
menos, duas perspectivas, aquela construída pelos intérpretes e aquela
oriunda da história da recepção de seu pensamento. Não se trata de saber
qual é mais adequada ou correta, mas, antes disso, de utilizar cada uma em
seu devido lugar. Se quiséssemos torná-las equivalentes ou substituíveis,
teríamos que concluir que a avaliação da história de um pensamento
geralmente não faz justiça a esse mesmo pensamento. Esse é o caso de
Descartes quanto à sua inclusão na perspectiva sintetizada popularmente
pelo adágio baconiano “saber é poder”. Não há dúvidas de que a ciência
moderna deu no que deu. Ocorre que o domínio e a posse que o sujeito
conhecedor exerce, na perspectiva cartesiana, é, antes de tudo, uma atitude
teórica constitutiva da própria atividade de conhecer que não implica
violação ontológica do objeto na equação envolvida no processo. O
idealismo presente na filosofia cartesiana é uma defesa do realismo. A
presente comunicação pretende examinar a afirmação cartesiana da Sexta
Parte do Discurso do Método sobre a capacidade de o conhecimento nos
fazer “senhores e possuidores da natureza”, muitas vezes interpretada
dentro de um viés utilitarista e de uma perspectiva de preconização e de
autorização do uso da ciência com consequências nefastas e indesejáveis.
O primeiro ponto a ser examinado diz respeito à tese de que conhecer não
é contemplar a natureza, mas operar sobre ela, o que significa dizer que as
ações relativas ao ato de “tomar posse da natureza” são intrínsecas ao
conhecer e não uma consequência dele. Assim, ou conhecemos a natureza
– e isso implica dominá-la – ou não a conhecemos, de sorte que não é
possível conhecê-la e se negar a “subjugá-la” cognitivamente. Disso não
se segue que esse ato teórico-operativo determine necessariamente o
*
UNIOESTE; E-mail: cesar.battisti@hotmail.com
94
Ressonâncias filosóficas - Resumos
modo de utilização dos resultados científicos, e, portanto, parece que a
acusação do utilitarismo cartesiano se alimenta de uma compreensão
parcial de sua concepção de conhecimento. Um segundo ponto diz
respeito à tese da indistinção moderna e pré-moderna entre objetos
naturais e artefatos, uma tese que nos coloca como imitadores da ação
divina ou, se quiserem, que apresenta Deus como grande relojoeiro a ser
imitado pelos seres humanos em diferentes ofícios. Acusar os humanos de
produzirem uma ciência nefasta é indiretamente acusar a Deus de ter
criado uma natureza nefasta. Um terceiro ponto é entender a
experimentação, caracterizada como elemento de “tortura” da natureza,
também como elemento teórico-operativo da ciência sem implicação
utilitarista. Um penúltimo ponto diz respeito aos frutos do saber,
encarnados especialmente na ciência moral e na medicina, os quais são
incompatíveis com uma atitude imoral e de não conservação ou de
destruição da natureza. Finalmente, é preciso dizer que Descartes não
afirma que nos tornamos, mas “como que” nos tornamos mestres e
possuidores da natureza, de sorte que, segundo ele, devemos apenas
simular isso, sem pretender nem substituir nem, rigorosamente falando,
imitar o criador nem, muito menos, se autoatribuir plenos poderes sobre
o mundo.
PALAVRAS-CHAVE: Descartes; Natureza e utilidade do conhecimento;
Sabedoria, poder, habilidade; Objetos naturais, artificiais e experiência.
REFERÊNCIAS
ALQUIÉ, Ferdinand (ed.). Œuvres philosophiques de Descartes. Paris:
Classiques Garnier, 1988-89. 3 v.
BATTISTI, César Augusto. O método de análise em Descartes: da resolução
de problemas à constituição do sistema do conhecimento. Cascavel (PR):
Edunioeste, 2002.
BEYSSADE, Jean-Marie. Scientia perfectissima. Analyse et synthèse
dans les Principia. In: J.-R. Armogatte, G. Belgioioso (dir.), Descartes:
Principia Philosophiae (1644-1994). Nápoles: Vivarium, 1996, p. 5-36.
DESCARTES, René. Discurso do método; Dióptrica; Meteoros; Geometria.
Edição organizada por Pablo R. Mariconda e de Marisa Carneiro de O.
Franco Donatelli (no prelo, [s. d.]).
Mestres e possuidores da natureza...
95
_____. Discurso do método; Meditações; Objeções e respostas; As paixões
da alma; Cartas. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Os Pensadores).
_____. El mundo. Tratado de la luz. Introdução, tradução e notas de
Salvio Turró. Barcelona: Anthropos; Madri: MEC, 1989.
_____. Meditações sobre filosofia primeira. Edição em latim e em português.
Tradução de Fausto Castilho. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2004.
_____. O mundo ou Tratado da luz; O homem. Apresentação, tradução e
notas: César Augusto Battisti e Marisa Carneiro de O. Franco Donatelli.
Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2009.
_____. Œuvres de Descartes. Publicadas por Charles Adam e Paul Tannery
(AT). Paris: Vrin, 1996. 11 v.
_____. Regras para a Direcção do Espírito. Lisboa: Ed. 70, 1985.
GARBER, Daniel. Descartes’ metaphysical physics. Chicago / London:
University of Chicago Press, 1992.
GUENANCIA, Pierre. La nature objet de science et la nature source de sens.
Disponível em:
<http://www.itereva.pf/disciplines/philo/Enseignement%20de%20la%
20philosophie/Bulletins/Bulletin12/pgbull12.htm>. Acesso em: 22 nov.
2015.
GUENANCIA, Pierre. Lire Descartes. Paris: Gallimard, 2000.
MARION, Jean-Luc. Sur la théologie branche de Descartes. Paris: PUF, 1981.
XXXIV
NIETZSCHE – CRÍTICAS À METAFÍSICA E AO PRIMADO
DA RAZÃO:
a arte como afirmação da vida
Bruna Barbosa Retameiro*
RESUMO
Nietzsche propõe uma filosofia que afirme a vida e a existência do mundo
com todas as suas possibilidades, incertezas, angústias, em comunhão com
o corpo, com os instintos e não se afastando destes, uma visão não
metafísica do mundo, mas sim, uma relação de proximidade e afeto
(deixar-se afetar pelo mundo). Uma filosofia não niilista que aceita a vida,
tem que aceitar a totalidade da vida, com todo seu sofrimento, dor e
ausência de sentido e não tentar justificar tais males como algo que faça
parte de um propósito maior, de uma verdade, de algo que está além da
nossa compreensão. A dificuldade disso, é que o homem suporta o
sofrimento, mas não sabe lidar com a ausência de sentido deste
sofrimento. É preciso esclarecer que Nietzsche critica o niilismo quando
esse é encarado como uma condenação ao nada, um desespero, uma
angústia e a partir disso, o homem ao invés de usar deste para se libertar
de crenças metafísicas e absolutas, acaba por criá-las, ou por abandonar e
apegar-se a outra, como é o caso da ciência, pois com o início da Idade
Moderna, o cristianismo começa a ser questionado e muitos descreem dos
conceitos metafísicos apresentados por este, mas este momento de
descrença, de vazio, logo é preenchido por ela, a nova detentora da
unidade, do perfeito, e de um novo modelo a ser seguido – o novo “deus”
a partir de então, é a razão. Quando Nietzsche fala de amar o seu destino,
ele não está falando de um destino pré-concebido, mas sim de um destino
construído, onde cada homem deve viver sua vida amando aquilo que está
vivendo de tal modo, que poderia viver isso infinitas vezes. Para ele não
existem fatos, o que existem são interpretações, não há uma verdade
absoluta, precisamos viver a vida e não a projetar transcendentalmente, o
homem tem um corpo, com desejos e instintos e estes não podem ser
*
UNIOESTE; E-mail: brunaretameiro@gmail.com
98
Ressonâncias filosóficas - Resumos
negados. Além disso, precisamos amar o nosso destino, o destino que
construímos, sob a interpretação que fazemos do mundo, vivendo de
modo a amar cada instante, com a certeza de que ele se repetirá infinitas
vezes. Para chegar a esta visão afirmativa diante da vida, superar os valores
que induzem a uma vontade de verdade, Nietzsche nos apresenta uma
possibilidade: a arte! Ela é então, a única possibilidade para lidar com a
ausência de verdade do niilismo mais extremo, levando à criação e não ao
desespero, pois ela interpreta o mundo e cria seus próprios valores para a
vida. A vida, que para Nietzsche é vontade de potência e esta é o que
impulsiona o movimento da vida, é o desejo de expandir, de crescer, de
superar, e criar. Vontade de potência é vida, e a tendência fundamental da
vida é o aumento e o crescimento de potência e não a sua conservação.
Ela difere-se da ciência e de outras interpretações, porque se reconhece
como interpretação, enquanto as ciências e as demais explicações se
reconhecem como e buscam por uma verdade absoluta.
PALAVRAS-CHAVE: Nietzsche; metafísica; razão; niilismo; arte.
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes,
2012 b.
CONSTÂNCIO, João. Arte e niilismo. Nietzsche e o enigma do mundo.
Lisboa: Edições Tinta-da-China, 2013.
DIAS, Rosa. Nietzsche, vida como obra de arte. Rio de janeiro: Civilização
brasileira, 2011 a.
NIETZSCHE, Friedrich W. A gaia ciência. São Paulo: Companhia das
letras, 2012 a.
_____. Genealogia da moral. São Paulo: Companhia das letras, 2009.
_____. O nascimento da tragédia. São Paulo: Companhia das letras, 1992.
_____. Zaratustra. São Paulo: Companhia das letras, 2011 b.
XXXV
NIETZSCHE E A CRÍTICA DA LINGUAGEM COMO
CRÍTICA A METAFÍSICA
Célia Machado Benvenho*
RESUMO
A reflexão de Nietzsche sobre a linguagem é um dos elementos
fundamentais de sua crítica à tradição metafísica, principalmente por sua
pretensão epistemológica de ter acesso à verdade das coisas. Nesta busca
pela verdade, a linguagem aparece como um instrumento essencial, pois é
tomada como a expressão do conhecimento verdadeiro pelo seu caráter
representacional em relação à realidade. Para Nietzsche, os homens não
utilizam a linguagem, inicialmente, com a intenção de transmitir uma
informação acerca do mundo ou de comunicar um conhecimento efetivo
sobre as coisas, mas dela se valem porque desejam expressar uma emoção
e uma apreensão subjetiva. Nesse sentido, a função primitiva da linguagem
não é referencial nem epistemológica, mas a expressão de vivências. A
linguagem apenas designa a relação dos homens com as coisas através de
símbolos; ela não é um espelhamento do mundo objetivo, real, verdadeiro
ou factual. Conceituar é negar a diferença, fazer do diferente o semelhante.
A linguagem opera com simplificações, abreviações e falsificações; assim,
longe de ser expressão adequada, é expressão “grosseira” da realidade. O
objetivo desse trabalho é identificar como a objeção do filósofo à
pretensão metafísica de um discurso que expresse a verdade, objeção típica
da crítica genealógica que ele irá empreender em suas obras da maturidade,
já está presente, de modo embrionário, em sua obra Curso de Retórica
(1872/73), e no escrito Sobre verdade e mentira em sentido extra-moral (1873).
PALAVRAS-CHAVE: Linguagem; Metafísica; Verdade; Conceito;
Metáfora.
*
UNIOESTE; E-mail: celia.benvenho@gmail.com
100
Ressonâncias filosóficas - Resumos
REFERÊNCIAS
NIETZSCHE, F. Curso de Retórica. Tradução: Thelma L. da Fonseca. In:
Cadernos de Tradução. São Paulo: 1999.
_____. Escritos sobre retórica. Edição, tradução e introdução de Luis
Enrique de Santiago Guervós. Madrid: Editorial Trotta, 2000, p. 9-77.
_____. Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral. (Org. e Trad.
Fernando de Moraes Barros). São Paulo: Hedra, 2007.
_____. Fragmentos póstumos (1869-1874). Trad. Luis E. de Santiago
Guervós.v. I. 2. ed. Madrid: Tecnos, 2010.
GUERVÓS, L.E.S. Nos limites da linguagem: Nietzsche e a expressão vital
da dança. In: Cadernos Nietzsche, n. 14, 2003, p. 83-104.
XXXVI
NOTAS INTRODUTÓRIAS ACERCA DO CONTRATO
SOCIAL DE HOBBES E LOCKE
Gabriela Peixoto Oliveira Barbosa*
RESUMO
O presente texto tem por objetivo apresentar dois representantes de suma
importância para a teoria dos direitos naturais, a saber, Thomas Hobbes
(1588 – 1679) e John Locke (1632 – 1704). Ambos apresentam um modelo
semelhante, pois, partem do estado de natureza do homem que através do
contrato social, estabelece o Estado. Contudo, veremos no decorrer do
texto, que eles conceituam de forma distinta cada um dos termos (estado
de natureza, contrato social e estado civil). Os quais tornam a sua lógica
de pensamento totalmente peculiar. Para Thomas Hobbes (1588 – 1679),
os indivíduos agem racionalmente em função dos próprios benefícios e
agindo separadamente, eles vivem disputando uns com os outros
constantemente. Por conseguinte, a guerra de todos contra todos se
generaliza. No estado de natureza, Hobbes afirma que os homens são
iguais, são livres e todos possuem os mesmos direitos. Contudo, são
inseguros também em relação a sua própria vida, pois, esta liberdade
implica ao indivíduo o risco de pôr fim na vida do outro. Com base nessa
insegurança, eles criam um contrato social, ou seja, firmam entre si um
pacto de submissão, o qual passa para o soberano todos os seus direitos e
abrem mão até mesmo da sua liberdade (já que esta implica também tirar
a vida do outro) em função da sua segurança, da sua paz, em suma, da
preservação da sua própria vida. Feito isto, o que reina então é a vontade
única, a qual fica acima de todos os conflitos, e esta vontade única pode
inclusive contrariar os interesses particulares dos indivíduos, porém, como
o que está em jogo é a segurança, logo, será o melhor. Em John Locke
(1632 – 1704), os indivíduos no seu estado de natureza são livres, são
também iguais e possuem direito a propriedade. Eles são basicamente
razoáveis e entendem que precisam respeitar os direitos dos outros e
jamais ferir os mesmos. O conceito de propriedade é de suma importância
*
Universidade Estadual de Feira de Santana; E-mail: barbosagabriela93@gmail.com
102
Ressonâncias filosóficas - Resumos
para compreendermos o pensamento de Locke. A propriedade se refere á
vida, a liberdade e aos bens. E tudo isso, ou seja, a vida, a liberdade e os
bens, os indivíduos já possuem no seu estado natural. O que lhes garante
a propriedade (bens) é o seu trabalho, o qual torna a propriedade (bens)
algo particular e retira do outro o direito sobre a mesma. O contrato social
em Locke é na verdade um pacto de consentimento, o qual os homens de
forma livre criam a sociedade civil para assegurar ainda mais o que lhes é
próprio no seu estado de natureza, ou seja, a propriedade. A criação do
Estado então surge com o propósito de proteger esta propriedade. O qual
é estabelecido pelas leis do Legislativo. Caso o Estado não proteja esta
propriedade melhor que os homens, eles têm o direito à resistência.
PALAVRAS-CHAVE: Estado de natureza; Contrato Social; Estado Civil
REFERÊNCIAS
HOBBES, Thomas 1992 (1642) Do cidadão, tradução para o português de
Renato Janine Ribeiro (São Paulo, Martins Fontes).
JANINE RIBEIRO, Renato 1978 A marca do Leviatã: linguagem e poder
em Hobbes (São Paulo: Ática)
JANINE RIBEIRO, Renato 1992 “Apresentação” a Thomas Hobbes, Do
cidadão (São Paulo: Martins Fontes).
MACPHERSON, C. B. 1970 (1962) The Political Theory of Possessive
Individualism, Hobbes to Locke (Londres: Oxford University Press).
OSTRENSKY, Eunice 1997 A obra política de Hobbes na Revolução Inglesa de
1640 (São Paulo: mestrado defendido na Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo sob orientação de
Renato Janine Ribeiro).
JANINE RIBEIRO, Renato 1999 (1984) Ao leitor sem medo: Hobbes
escrevendo contra o seu tempo (Belo Horizonte: Editora UFMG).
Notas introdutórias acerca do Contrato Social...
103
RIBEIRO, Renato Janine. Thomas Hobbes, ou: a paz contra o clero. En
publicacion: Filosofia política moderna. De Hobbes a Marx Boron, Atilio
A. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales; DCPFFLCH, Departamento de Ciencias Politicas, Faculdade de Filosofia
Letras e Ciencias Humanas, USP, Universidade de Sao Paulo. 2006.
ISBN: 978-987-1183-47-0
WEFFORT, Francisco (Org.). Os Clássicos da Política. 14º ed. São Paulo,
Ática, 2006.
XXXVII
NOTAS SOBRE A CRÍTICA DE LÉVINAS ÀS FILOSOFIAS DA
MESMIDADE E A QUESTÃO PELA ALTERIDADE DO
OUTRO
Thayla Magally Gevehr*
RESUMO
Em sua obra Totalidade e Infinito, Emmanuel Lévinas se propõe a pensar a
alteridade absoluta do Outro. Tal proposta o conduz a uma análise crítica
do que ele denominou de “filosofia da mesmidade”, a que pensa a
constituição de sentido como aquilo que só é possível desde o horizonte
projetivo do Mesmo (o eu, a consciência, o sujeito, etc.). A título de
exemplificação, cabe notar que tanto Husserl quanto Heidegger pensaram
a constituição da realidade como uma série de momentos que tem o “eu”
ou a “si mesmidade” como “ponto de partida” e de “chegada”.
Aparentemente, quando o sentido está em jogo nessas filosofias, a
instância que “permanece”, que é “capaz” de transcendência (de
ultrapassar compreensivamente o ser dos objetos), abarca o ser de tudo o
que é numa totalidade de significância. O problema implícito nesse
pensamento, segundo Lévinas, não é que o sujeito seja o ponto de partida
para pensar o sentido, mas que tudo – tanto o objeto quanto o Outro – só
tenha status de ser enquanto referido a ele (ao sujeito) ou enquanto
presente nessa totalidade de momentos do Mesmo (uma totalidade que se
completa quando o Mesmo chega a si com a compreensão ou o significado
dos entes em geral). O que está em jogo, dito por outras palavras, é que
existe uma distinção entre o objeto e o Outro que ultrapassa a mera
diferença formal apontada pelas filosofias da mesmidade. Se o objeto não
pode resistir o poder captador, abarcador do Mesmo, o Outro lhe faz
frente, questiona seu poder de poder, e impede a formação ou a redução
de seu ser a uma compreensão, a um conceito. O fato do Outro fazer
frente, de ser Outro, não em relação ao “eu” e como outro do “eu”, mas
Outro por si, revela que há uma distância entre o Mesmo e o Outro que
permanece instransponível, que não pode, em nenhuma medida, ser
*
UFG; E-mail: gevehrthayla@gmail.com
106
Ressonâncias filosóficas - Resumos
preenchida. É só essa distância que pode impedir que uma nova totalidade
de momentos seja formada e que possibilita que o sentido seja pensado
como a relação entre o Mesmo e um ser que permanece exterior,
transcendente a ele (o Outro). Nosso objetivo, aqui, será o de apresentar
o desencadeamento das teses agora apenas anunciadas. Pensaremos (1) em
que medida a constituição de sentido pode ser vista como a relação entre
o Mesmo e o Outro e (2) como, a partir da proposta de Lévinas, a
exterioridade do Outro pode ser “pensada” sem ele seja parte de uma
totalidade de momentos.
PALAVRAS-CHAVE: Mesmo. Outro. Sentido. Transcendência.
REFERÊNCIAS
DESCARTES, René. “Meditações”. In: Coleção Os Pensadores. Tradução
de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. 3. Ed. São Paulo: Abril Cultural,
1983.
FERRETTI, Giovanni. “L’intenzionalità metafisica del desiderio in
Emmanuel Levinas”. In: Metafísica do Desiderio. Milão: Vita e Pensiero,
2003, p. 303-326.
KORELC, Martina. O problema do ser na obra de E. Levinas. Goiânia:
Editora da Imprensa Universitária, 2017.
LÉVINAS, Emmanuel. Totalidade e Infinito. Tradução de José Pinto
Ribeiro. Portugal: Edição 70, 1980.
_____. Descobrindo a Existência com Husserl e Heidegger. Tradução de
Fernanda Oliveira. Lisboa: Instituto Piaget.
NODARI, Francesca. Il pensiero incarnato in Emmanuel Levinas. Università
di Trieste: XXIII Ciclo de Dottorato di Ricerca in Filosofia. Ano
2009/2010.
NODARI, Paulo. “O Rosto como apelo à responsabilidade e à justiça
em Levinas”. In: Síntese. Revista de Filosofia de Belo Horizonte, v. 29, n.
94 (2002), p. 191-220.
Notas sobre a crítica de Lévinas...
107
PAULA, Maria Bernadete Gonçalves. “Ética e metafísica no pensamento
de Emmanuel Levinas”. In: Kairós: revista acadêmica da Prainha. Ano
II/2, julho/dezembro de 2005, p. 415-422.
REIMÃO, Cassiano. “Rosto, racionalidade e linguagem em Emmanuel
Lévinas”. In: Revista da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, n. 13,
Lisboa, Edições Colibri, 2000, p. 211-231.
XXXVIII
O AMOR EM O BANQUETE DE PLATÃO
Gustavo Rohte de Oliveira*
José Dias**
RESUMO
Neste trabalho pretende-se analisar o conceito de Amor presente no
diálogo O Banquete de Platão. Observa-se que em seus diálogos com
Diotima, Sócrates aprende que: o Amor não é uma divindade, visto que,
realmente busca a beleza e a bondade, porém isso não implica que amor
seja feio e mau, mas antes há um meio-termo no qual se põe um amor,
como um daímon entre o divino e o mortal, todo espiritual ao qual cabe
interpretar e transmitir as mensagens dos deuses aos homens, bem como
o caminho inverso (PLATÃO, 1995); Amor não sendo um deus, mas um
semideus, filho dos deuses Penúria, de quem herda a condição de eterna
indigência e a falta da beleza, e Engenho, de quem puxou a incessante
busca pela beleza e a virilidade, concebido no dia do nascimento de
Afrodite, torna-se seu companheiro e servo. Sua sina será viver entre
miséria e riqueza na busca do belo e do saber (PLATÃO, 1995);
“Forçosamente o Amor é um filósofo e, sendo filósofo, está situado entre
o sábio e o ignorante” (PLATÃO, 1995, p. 76), pois, aspira conhecer. O
filósofo não é deus, não é sábio nem ignorante, é um meio-termo entre os
dois a semelhança do próprio Amor. O amor é desejo de possuir as coisas
belas, e possuindo aquilo que deseja chega-se à felicidade; “o amor, em
síntese [...] é o desejo da posse perpétua do que é bom” (PLATÃO, 1995,
p.78); O amor é também desejo de imortalidade; pela procriação dos seres
mortais, gerados pelo desejo do belo e do bom, garante-se a imortalidade.
Assim não há procriação no domínio daquilo que não é belo, mas sim na
face divina daquilo que é belo (PLATÃO, 1995, p.79). Tendo os convivas
todos dito o que pensam de Eros e tecido seus elogios, vê-se no diálogo
platônico um novo rumo, a partir desse ponto os elogios são tecidos à
Sócrates, por ser o filósofo por excelência, expressão mais perfeita do ser
*
UNIOESTE; E-mail: guto-oliveira_13_@hotmail.com
UNIOESTE; E-mail: jfad_br@hotmail.com
**
110
Ressonâncias filosóficas - Resumos
daimónico. O banquete tem nova direção a partir da chegada de
Alcibíades, personagem embriagado que faz questão de demonstrar seu
amor pelo mestre Sócrates, que é capaz de encantar os homens assim
como o músico, porém com palavras (PLATÃO, 1995). Platão faz questão
de demonstrar que Sócrates, preocupado somente com sua “filosofia”,
não dá chances para que seus “discípulos” se tornem seus amantes, como
na época era costume acontecer, a ponto de não corresponder ao amor do
jovem em suas diversas tentativas de um contato amoroso. Aí, percebe-se
que o amor verdadeiro, seria aquele que faz da Sophia sua amante
(OLIVEIRA, 2012). Esta postura socrática faz o leitor perceber que o
verdadeiro filósofo é aquele semideus que está fora dos desejos humanos
e busca a transcendência em seu amor pela sabedoria. No diálogo,
Alcibíades é a personificação da paixão, sem regras e despreocupada,
Sócrates, porém, é a expressão perfeita e divina do Eros, do amor à
sabedoria, filosofo por excelência (OLIVEIRA, 2012).
PALAVRAS-CHAVE: Amor; Platão; O Banquete.
REFERÊNCIAS
OLIVEIRA, José Roberto de. O Banquete e o Eros platônico: narrativas
sobre o amor e criação. Eunápolis: Revista Pindorama: 2012. Disponível
em:<http://www.revistapindorama.ifba.edu.br/files/edicao_3_o_banqu
ete.pdf> Acesso em: 13/10/2017.
PLATÃO. O Banquete. São Paulo: Cultrix, 1995.
XXXIX
O COERENTISMO DE WILLARD VAN ORMAN QUINE
Pablo de Carvalho Knierin*
RESUMO
Deseja-se com esse trabalho abordar a teoria epistemológica do
Coerentismo em Willard Quine, e também demonstrar como de tal teoria
gerou-se a chamada epistemologia naturalizada. Esse filósofo
estadunidense, Willard Quine, causou grande impacto na filosofia
contemporânea, como também criticou conceitos basilares da
epistemologia tradicional. Para afirmar o seu Coerentismo, Quine
desenvolve duas críticas à tradição epistemológica. Primeiramente
questiona a distinção entre as proposições sintéticas e analíticas. Em
seguida, refuta a tese da redução radical das proposições sintéticas. Através
dessas críticas à tradição, já se pode perceber a postura construtivista do
autor, que serão expressas em seu holismo semântico e metodológico.
Para compor a sua tese coerentista, Quine desenvolve a teoria
comportamental do significado e também afirma a impossibilidade de
traduções literais. Assim, com essas duas afirmações tem-se os elementos
básicos do holismo semântico. Visto que, todo o significado dado por um
indivíduo a algo é determinado por uma série de esquemas conceituais e
expectativas subjetivas. Dessa forma, não há verdadeira ciência se as
proposições não são coerentes com os esquemas conceituais do indivíduo,
e esse é o núcleo, a essência do Coerentismo. Após a compreensão desses
conceitos, pode-se demonstrar a necessária relação entre o Coerentismo e
a afirmação de uma epistemologia naturalizada. Para tanto, deve-se
analisar primeiramente a tese do relativismo ontológico. Nessa tese, Quine
afirma que dada a impossibilidade de conhecer as coisas tais quais ela são,
pelo fato do conhecimento ser uma interpretação do comportamento,
todas as categorias e definições dos indivíduos são tão sólidas quanto os
deuses homéricos. Contudo, as categorias conceituais ao contrário dos
deuses gregos só não são relegadas ao esquecimento pelo fato de que
auxiliam as pessoas a organizar os estímulos sensoriais advindos do meio.
*
Faculdade Palotina (FAPAS); E-mail: pablodecknierin@gmail.com
112
Ressonâncias filosóficas - Resumos
Desse modo, pode-se afirmar que o homem, não passando de matéria
viva, ou seja, um ser sem dimensão espiritual, sem alma no sentido
tradicional, somente capta os estímulos do meio pelos sentidos e os
processa através do cérebro, que elabora os conceitos, as ideias sobre a
realidade. Logo, não cabe mais à epistemologia especular sobre o que é
cognoscível, mas sim explorar como dá-se o conhecimento. Cabe à
epistemologia entender como os dados recebidos pelos sentidos (imputs)
são processados pelo cérebro que elabora uma visão de mundo, da
realidade (outputs). Por isso, ao deparar-se com o pensamento de Quine
pode-se correr o risco de pensar que ele reduz demasiado a epistemologia
e os limites do conhecimento humano, mas tal interpretação é, na verdade,
errônea. Pois, ao demonstrar os ‘defeitos’ da epistemologia tradicional
busca-se somente um lugar mais adequado para essa ciência. Dado que,
como afirma o autor: “[...] nesse ponto seria mais útil dizer, em vez disso,
que a epistemologia continua a avançar ainda, embora num novo quadro
e com um status clarificado.” (1975, p. 170). Ora, somente através desse
novo status da epistemologia será possível progresso no conhecimento.
Pois, ao aliar-se ao progresso científico, ela encontra bases empíricas
sólidas. E somente o conjunto coerente de conhecimentos científicos
poderá garantir a subsistência da epistemologia nas atuais conjunturas da
modernidade.
PALAVRAS-CHAVE: Coerentismo; Holismo semântico; Epistemologia
naturalizada.
REFERÊNCIAS
QUINE, Willlard Van Orman. Epistemologia naturalizada. São Paulo:
Abril Cultural, 1975.
REALE, Giovanni. História da Filosofia: de Freud à atualidade. São
Paulo: Paulus, 2006. v. 7.
XXXX
O CONCEITO DE ‘INTELECÇÃO’ EM BERNARD
LONERGAN
Filipe Gomes de Freitas*
RESUMO
A ‘intelecção’ é um conceito fundamental para se entender a proposta
epistemológica cunhada por Bernad Lonergan. O autor busca empreender
sua jornada filosófica construindo o conceito de Intelecção se
perguntando: como se dá o ato de conhecer? Esta pergunta não é uma
mera formulação especulativa/biológica representativa de mecanismos
funcionais da capacidade cerebral. Mas, uma análise fundamental do ato
de conhecer. É destacável na filosofia de Lonergan que o conceito de
‘intelecção’ está intimamente ligado ao conceito de ‘Realidade’, no seu
significado mais profundo, ou seja, a realidade metafísica da coisa.
Lonergan é um filosofo canadense nascido no ano de 1904, terminando
sua jornada terrestre no ano de 1984 sucumbido por um câncer. Deixou
um legado escrito de importante significância para o mundo da filosofia,
destacando-se com a obra “insight: um estudo do conhecimento
humano”. É nesta obra que Lonergan desenvolveu sua teoria sobre a
intelecção, o próprio ato de conhecer. “A intelecção surge como uma
libertação da tensão da pesquisa, ocorre de modo súbito e inesperado, é
uma função de condições internas, e não de circunstancias externas”
(LONERGAN, 2010, p. 43). Um dos exemplos utilizados por Lonergan
na obra insight é a descoberta de Arquimedes, que desafiado a testar a
pureza de ouro de uma coroa, inicia assim o processo de investigação, e
como que algo instantânea enquanto estava tomando banho pronto:
eureka (descobri). A descoberta de Arquimedes ficou conhecida depois
por hipótese universal do peso específico. Quais as intenções de Lonergan
com este exemplo? Buscar ilustrar a capacidade humana, que está dentro
do sujeito, de inteligir. Não foi pesquisando que Arquimedes conseguiu o
seu feito, mas em um banho. O ato de inteligir se dá nos lugares mais
inusitados, a luz do conhecimento ocorre quando menos esperamos. Este
*
Faculdade Palotina (FAPAS); E-mail: filipe.sh.freitas@gmail.com
114
Ressonâncias filosóficas - Resumos
fato de conhecer que ocorreu com Arquimedes, ora em um momento ele
não fazia ideia de sua descoberta, e depois como um estalo ele passou a
entender; Lonergan chama este estalo de insight, o justo momento da
descoberta e do entendimento humano, momento este que caracteriza a
passagem da ignorância para a sabedoria de algo. Desta forma o conceito
de intelecção pode ser definido como o ato de descoberta ou de
compreensão de algo. A intelecção está vinculada com a realidade, pois
são os dados da experiência que permitem o desencadear da descoberta.
A intelecção tenta responder, sempre, a pergunta por quê? atrelada
intimamente com a pergunta o que é? A descoberta de Lonergan no
campo da epistemologia consiste em apresentar ao mundo uma
compreensão do próprio ato de conhecer. O insight é o causador e o
gerador da compreensão acerca de alguma coisa fora ou dentro de nós. A
intelecção vai além do método aplicado. Ora muitos tentaram,
metodologicamente, desvendar o mistério da coroa, no entanto, somente
Arquimedes, indo além do método de pesquisa, descobriu e exultante
gritou “eureka”, o método é “a exploração dessa intenção, pois delineia os
passos que devem ser tomados para que se passe da intencionalidade
inicial da questão ao conhecimento [...]” (LONERGAN, 2012, p. 37).
PALAVRAS-CHAVE: Conhecimento; Intelecção; Insight; Método.
REFERÊNCIAS
LONERGAN, Bernard. Insight: Um Estudo Do Conhecimento
Humano. Trad. Mendo Castro e Artur Mourão. São Paulo: Erealizações:
2010.
______. Método em Teologia. Trad. Hugo Langone. São Paulo:
Érealizações: 2012.
XXXXI
O CONCEITO DE DEUS EM ESPINOSA E A SUA
IMPORTÂNCIA PARA A ÉTICA
Elvio Camilo Crestani Junior*
RESUMO
Esta comunicação consiste em uma aproximação com a grande obra Ética
(1677) tendo como pretensão explorar o seu primeiro livro De Deus no
intuito, de esclarecer conceitos e relações que Baruch Espinosa (16321677) nele faz, para poder, dessa forma, apresentar sua concepção de
Deus. Com base em nossa análise, buscaremos compreender a crítica
realizada pelo pensador holandês direcionada ao conceito de substância
cartesiano, e reforçar a hipótese de que Espinosa vai contra uma forte
corrente religiosa e dogmática que acredita em um Deus transcendente,
para sugerir em sua obra um conceito de um Deus imanente e sempre
presente em tudo. Para cumprir com a nossa proposta, será realizada uma
análise histórica das crenças religiosas, sobretudo judaicas, predominantes
da época e uma caracterização do significado de substância para a filosofia
de René Descartes, para então, realizarmos uma identificação direta dos
conceitos construídos por Espinosa, tendo em conta o método
matemático euclidiano utilizado em sua obra, o que torna a caracterização
conceitual mais imediata, de modo que compete à nossa comunicação
estabelecer relações entre esses conceitos, a fim de elaborar uma
concepção de Deus, e compreender quais as principais diferenças entre as
concepções de Deus e de substância mais aceitas em seu tempo, e quais as
mudanças conceituais propostas pelo filósofo holandês. Segundo
Espinosa, ao observarmos criticamente a natureza a nossa volta,
conseguimos notar que existem diversas formas de corpos e mentes se
manifestando ao mesmo tempo. Todos esses corpos e mentes são efeitos
de alguma relação estabelecida entre outros corpos e mentes. Com base
em nossas observações, seria possível concordar que parece existir uma
produção infinita desses modos, que emergem sob alguma ordem que age
por si, e não compete a nós controlar. É possível, portanto, que estejamos
*
UNIOESTE; E-mail: elviocrestani@hotmail.com
116
Ressonâncias filosóficas - Resumos
participando de uma natureza ordenada, que tenha produzido tudo o que
conhecemos com base em suas características. Essa natureza pode ser
compreendida como uma substância eterna e infinita, que é causa de si
mesma e na qual a essência envolve a existência, ou seja, que ela existe
necessariamente. Dentro de suas características, o filósofo propõe que a
substância possui infinitos atributos, e que estão sendo produzidos
infinitamente. Nós, seres humanos limitados, conseguimos identificar
somente dois desses atributos: a extensão e o pensamento, que dão forma
a tudo o que conhecemos partindo de modificações dos atributos dessa
substância, que é Deus. Em vista disso, procuraremos afirmar que o
conceito de Deus para Espinosa traz uma visão muito diferente da
concepção que apela para uma explicação transcendente, e também se
difere do conceito de substância de Descartes, o que gerou na época um
forte embate com os partidários de outras visões, sendo que nem judeus
nem cartesianos se sentiam confortáveis com a bela forma de entender
Deus e a natureza do pensador holandês.
PALAVRAS-CHAVE: Deus; Substância; Atributo; Modos; Corpo e
Mente.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Pablo Joel. A concepção imanente de Deus em Spinoza.
Disponível em:
<http://www.uel.br/eventos/sepech/sumarios/temas/a_concepcao_im
anente_de_deus_em_espinosa.pdf>. Acesso em: 19 set. 2017.
BERNAL, César Colera. O Conceito de Modos em Spinoza. Disponível em:
<http://seer.uece.br/?journal=Conatus&page=article&op=view&path
%5B%5D=1671&path%5B%5D=1443>. Acesso em: 19 set. 2017.
FRAGOSO, Emanuel Angelo. A definição de Deus na Ética de Benedictus de
Spinoza. Revista de Filosofia do Mestrado Acadêmico Em Filosofia da
UECE, Fortaleza, v.2, n.4, p.11-31, verão 2005.
MARQUES, Ramiro. A Ética de Espinosa (1632-1677). Disponível em:
<http://www.eses.pt/usr/Ramiro/docs/etica_pedagogia/A%20%C3%
89TICA%20DEESPINOSA.pdf>. Acesso em: 17 ago. 2017.
O conceito de Deus...
117
OLIVEIRA, Leonardo Araújo. A filosofia prática de Spinoza: uma ética da
imanência contra a moral transcendente. Revista Urutágua – acadêmica
multidisciplinar – DCS/UEM, Maringá, n.27, p. 82-94, novembro 2012 –
abril 2013.
SPINOZA, Baruch. Ética. Trad. Tomaz Tadeu. Belo Horizonte:
Autêntica Editora: 2016.
XXXXII
O CONCEITO DE PESSOA NO PENSAMENTO ÉTICO DE
MAX SCHELER
Leonan Ferrari Felipin*
RESUMO
Como anuncia o título, o tema da pesquisa que ora se apresenta é a noção
de pessoa na ética de Max Scheler (1874-1928). Para nos colocarmos no
caminho dessa investigação, e diante de um filósofo não tão conhecido do
grande público, estrutura o nosso estudo, respectivamente, a tarefa de
apresentar sumariamente notícias biográficas do autor e, ainda,
caracterizar sua Filosofia ética em vista de suas obras, mais
especificamente sua Ética (1913). Scheler desenvolve a sua teoria dos
valores partindo de uma aproximação fenomenológica, constatando que
os valores não existem fundamentados em um fim (Tomás de Aquino),
assim como também não o são por conta de uma norma (Kant), mas
valem a priori, validados independentemente das coisas e apreendidos pela
intuição emocional das essências a partir da objetivação que o homem faz
do mundo, das coisas e de si próprio. Desse modo, o "ir às coisas mesmas"
tem por alvo, na ética scheleriana, a pessoa. Destarte, compõe a segunda
parte deste artigo enumerar os saldos da busca scheleriana para o conceito
de pessoa na Ética, afim de que se possa sustentar a hipótese de que este
conceito não é apenas vivo no personalismo enquanto escola, mas
também na Filosofia ética e dos Valores do filósofo. Isto posto, vemos
que pessoa, aqui, não se refere a uma substância, mas ao centro de um
conjunto de atos que formam uma identidade, uma personalidade em cada
indivíduo, superando o sujeito lógico do criticismo submisso à lei moral.
Pessoa diz da esfera espiritual do ser, é o valor fonte de onde desembocam
outros valores e de cujos quais o amor é o que está acima na hierarquia
esquematizada pelo autor. O centro de atos do qual se fala é a constituição
essencial da pessoa, onde se encontram os valores da esfera sensitiva, vital,
espiritual e religiosa. As ações da pessoa têm influência direta desta
estrutura e, portanto, este arranjo valorativo é central na ética. Desse
*
UNIOESTE; E-mail: leonan.jstferrari@hotmail.com
120
Ressonâncias filosóficas - Resumos
modo, vê-se também que, para Scheler, é o aspecto espiritual presente no
homem que objetiva as coisas. Para o filósofo bávaro, pessoa tem um
mundo; objetivar é abrir-se ao mundo.
PALAVRAS-CHAVE: Pessoa; Scheler; Ética; Homem; Valores;
REFERÊNCIAS
PRINCIPAL
SCHELER, Max. Ética – Nuevo ensayo de fundamentación de um
personalismo ético. Trad. Hilario Rodrígues Sanz. Madrid: Caparrós,
2001.
SECUNDÁRIA:
COSTA, José Silveira da. Max Scheler: o personalismo ético. São Paulo:
Moderna, 1996. – (Coleção logos)
DERISI, Octavio N. Max Scheler: Ética material de los valores. Madrid:
EMESA, 1979.
LÓPEZ, Rodrigo Guerra. Volver a la persona: El método filosófico de
Karol Wojtyla. Madrid: Caparrós, 2002. (Coleção Esprit)
SCHELER, Max. A posição do homem no cosmos. Trad. Marco Antônio
Casanova. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.
MEISTER, José Antônio Fracalossi. Amor x conhecimento: inter-relação
ético-conceitual em Max Scheler. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1994. ‒
(Coleção Filosofia)
PEREIRA, Rosane Maria Batista. O sistema ético-filosófico dos valores de Max
Scheler. Porto Alegre: EST, 2000.
VAZ, Henrique C. Lima. Escritos de Filosofia IV: Introdução à Ética
Filosófica 1. São Paulo: Loyola, 1999. – (Coleção Filosofia - 47)
WOJTYLA, Karol. Max Scheler e a ética cristã. Diva Toledo Pisa: Curitiba:
Champagnat, 1993.
XXXXIII
O CONCEITO DE VONTADE LIVRE NA ENCICLOPÉDIA
DAS CIÊNCIAS FILOSÓFICAS DE HEGEL
Patrícia Riffel de Almeida*
RESUMO
O presente trabalho investiga a gênese da vontade livre na seção
‘Psicologia’ da Filosofia do Espírito Subjetivo da Enciclopédia das Ciências
Filosóficas de Hegel. O espírito subjetivo, que na ‘Antropologia’ acede da
imediatez à alma efetiva e à consciência, e ao longo da ‘Fenomenologia’
volve-se consciência universal mediante o reconhecimento recíproco,
volta, uma vez mais, no início da ‘Psicologia’, a ser espírito finito e uma
totalidade imediata, que deve ser superada a fim de que o espírito conheça
a razão que encontra no objeto como idêntica à sua razão. Com efeito,
pensamento e vontade, “espírito teórico” e “espírito prático” são de início
um saber apenas formal. Por um lado, o pensamento deve elevar-se até “o
saber determinado e conforme ao conceito”; por outro, a vontade deve
enfrentar “a singularidade excludente do efetivo”. A vontade efetivamente
livre em si e para si surge da interpenetração e determinação mútua de
pensamento e vontade, operando a transição do espírito subjetivo para o
espírito objetivo. Esta transição engendra, concomitantemente, o conceito
de direito, e posteriormente Hegel pressupõe a sua dedução aí exposta
(Filosofia do direito, §4). Juntamente a comentadores como Siep, Pippin
e Williams, argumenta-se no sentido de mostrar que o filósofo altera
substancialmente a forma de compreensão da vontade livre, assim como
da autonomia individual. A vontade livre não é entendida como a
capacidade de uma faculdade independente de eximir-se da influência das
inclinações, mas antes o exercício das capacidades é concebido como
resultado de interações sociais entre sujeitos desenvolvidos ao longo do
tempo em uma comunidade social específica. Hegel desenvolve desta
forma uma teoria social da agência. Neste contexto, determinar o grau de
liberdade de uma ação não depende da extensão de um poder causal
exercido, senão do tipo e qualidade das justificações que são oferecidas.
*
UNIOESTE; E-mail: patriciariffel@gmail.com
122
Ressonâncias filosóficas - Resumos
Dentre as dificuldades metodológicas suscitadas pelo capítulo, está a de
saber se a Psicologia permanece no nível do espírito subjetivo ou já está
no espírito objetivo, e o que levou Hegel a acrescentar o capítulo “O
espírito livre” na edição de 1830, o qual não constava nas duas edições
anteriores.
PALAVRAS-CHAVE: Vontade livre; Espírito; Intersubjetividade.
REFERÊNCIAS
HEGEL, George W. F. Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Compêndio.
Trad. Paulo Meneses. São Paulo: Loyola, 1995.
_____. Lectures on the Philosophy of Spirit 1827-8. Translated with an
Introduction by Robert R. Williams. Oxford: Oxford University Press,
2007.
HÖSLE, Vittorio. O sistema de Hegel – o idealismo da subjetividade e o
problema da intersubjetividade. São Paulo: Loyola, 2007.
MÜLLER, Marcos Lutz. “A gênese lógica do conceito especulativo de
liberdade”. Analytica. Rio de Janeiro: UFRJ, v. 1, n. 1, pp. 77-141, 1993.
PIPPIN, Robert. Hegel’s practical philosophy – rational agency as ethical life.
Cambridge: Cambridge University Press, 2008.
SIEP, Ludwig. Anerkennung als Prinzip der praktischen Philosophie –
Untersuchungen zu Hegels Jenaer Philosophie des Geistes. Hamburg:
Meiner, 2014 [1976].
XXXXIV
O DE ANIMA, DE ARISTÓTELES,
e a unidade entre razão e sensação como forma de vida
Matheus Gabriel de Oliveira*
RESUMO
Ciências humanas e biológicas questionam a relação entre atividade
psíquica e atividade fisiológica. No De Anima, tratado sobre a psykhé
(“alma” ou intelecto), a unidade psicofísica é pensada a partir do
hilemorfismo, ou seja, o pensamento humano não pode ser concebido
sem o corpo. Sabemos que Aristóteles compreende a “razão” em contraste
com a sensação: a razão é simples, sem mistura, impassível (não padece
afecções). Mas a ordem do tratado mostra que só podemos pensar a partir
do que a imaginação fornece a partir das impressões sensíveis. Isto
significa que todo pensamento depende do corpo senciente. Será que só
podemos pensar o que a sensação nos entrega e de que a imaginação
separa a matéria? Não haveria, então, nem alma sem corpo, nem
pensamento puro. E como se daria o pensamento, afinal? Essas questões
serão examinadas, na comunicação, à luz de dois eixos: (1) a definição
aristotélica de psykhé, segundo a qual esta não é uma substância, mas a
forma (atividade) de um corpo potencialmente vivo (marcando o tipo de
vida propriamente humana) e (2) trecho do comentário Razão e Sensação
em Aristóteles, de Marco Zingano – para pôr à prova a tese de que o
pensamento depende da sensação mas não como seu efeito, e também
para compreender como o início da filosofia ocidental se propôs o
problema da existência, origem e autonomia do pensamento “puro”.
PALAVRAS-CHAVE: Aristóteles; “De Anima”; Psicofisiologismo
*
UNIOESTE; E-mail: matheusgabrieloliveira@hotmail.com
124
Ressonâncias filosóficas - Resumos
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. De Anima. Apresentação, tradução e notas de Maria
Cecilia Gomes dos Reis. São Paulo: Editora 34, 2006.
_____. De Anima. Livros I-II, trechos. Introdução, tradução e notas de
ZINGANO, Marco Antônio. Razão e sensação em Aristóteles: um ensaio
sobre" De Anima" III 4-5. L & MP ed., 1998.
BERTI, Enrico. "A alma é, para Aristóteles, individual?." Revista Hypnos
24 (2010).
DE ANDRADE MARTINS, Roberto; MARTINS, Lilian Al-Chueyr
Pereira. Uma leitura biológica do 'De Anima'de Aristóteles. Filosofia e história
da biologia, v. 2, n. 1, p. 405-426, 2007.
XXXXV
O ESCLARECIMENTO DOUTRINADOR SEGUNDO
ADORNO E HORKHEIMER
Andressa dos Santos Cizini*
RESUMO
A obra Dialética do esclarecimento, regido pelos filósofos Adorno e
Horkheimer publicado em 1947, em suma é um estudo direcionado em
“[...] por que a humanidade, em vez de entrar em um estado
verdadeiramente humano, está se afundando em uma nova espécie de
barbárie”. No decorrer da obra utilizam o exemplo sobre a segunda guerra
mundial, ressaltando as barbáries que o homem é capaz de fazer quando
se coloca toda força e todo crédito na razão, por consequência disso, faz
uso da razão instrumental para o extermínio das massas. Devido a isso
destacam o esclarecimento como mistificação de massas. A saída da
menoridade, ou seja, desse esclarecimento doutrinador, só é possível
quando usamos o pensamento emancipatório libertador que buscam
benefícios para a humanidade. Ao analisarmos o filme “A Onda” de
Dennis Gansel, podemos relacionar com os conceitos na qual os filósofos
trabalham: Crítica ao modo do esclarecimento doutrinador de massas x
Esclarecimento (emancipação) libertador. A história do filme passa em
uma escola na Alemanha na qual um professor tem o desafio de ministrar
um conteúdo sobre Autocracia. Em primeiro momento Rainer inicia sua
aula expondo os principais fatores que definem um poder Aristocrático;
ao questionar seus alunos se seria possível uma ditadura na Alemanha
atual, os estudantes em primeiro momento afirmam que esse
acontecimento estaria fora de cogitação. O professor decide então fazer
uma experiência didática por uma semana, em que o professor passa a ser
a figura de governante e seus estudantes os “seguidores”. A partir daí
várias características vão sendo criadas ao grupo, com o objetivo de
ressaltar o exercício unificador que a ditadura retrata junto de si a liderança
e as ordens que devem ser cumpridas, a igualdade entre as pessoas e o
padrão na qual todos devem adquirir e respeita-lo. As pessoas que se
*
UNIOESTE; E-mail: andressa.cizini@hotmail.com
126
Ressonâncias filosóficas - Resumos
colocaram contra os ideais do movimento eram excluídas do grupo.
Investigando de acordo com o pensamento dos filósofos temos a figura
do professor como um doutrinador, uma pessoa esclarecida que usa de
seu pensamento para manipular as massas. Os alunos que não concordam
com o posicionamento doutrinador, são os emancipados. Aqueles que
continuam na menoridade, ou seja, os que seguem o pensamento do
professor sem questiona-lo sobre sua experiência doutrinadora. A
emancipação é a saída da menoridade do homem, ou seja, é a libertação
dos domínios da alienação. Os filósofos propõem que o mecanismo para
a libertação da massa que tem como base o pensamento emancipado, é
através da educação. Os indivíduos devem ser educados desde crianças, a
fim de promover atitudes humanitárias para a sociedade. Segundo
Adorno, este uso da razão instrumental como forma de dominação é
baseado em doutrinas ideológicas que beneficiam um governante, ou um
determinado grupo de pessoas. Na prática, suas ações podem levar a
destruição de massas. A emancipação ainda é uma ilusão, portanto o que
Adorno enfatiza é que devemos sempre olhar ao passado, para evitar que
a barbárie no futuro aconteça, emancipação só é possível quando o
homem se liberta da alienação.
PALAVRAS-CHAVE: Esclarecimento doutrinador; Emancipação; A
Onda.
REFERÊNCIAS:
ADORNO, Theodor W; Horkheimer, Max. Dialética do esclarecimento.
XXXXVI
O PROBLEMA DA LINGUAGEM ESPECIALIZADA PARA
LUDWIG WITTGENSTEIN
Robson Raddatz Ramos*
RESUMO
Pretende-se com esse trabalho expor a distinção entre a linguagem comum
e a linguagem especializada, sendo a primeira considerada solução para a
linguagem especializada, por intermédio da lógica procura-se
desembaralhar confusões conceituais, causadas pelo uso incorreto das
palavras, a linguagem especializada já é o salto em que não mais se precisa
utilizar da lógica, mas, ainda necessita de uma linguagem primitiva, qual
deve dar bases para seu entendimento e crescimento, diante de uma
concepção do autor Ludwig Wittgenstein. Para isso, utilizar-se-á das suas
obras, a saber: Livro azul, Livro castanho, Investigações Filosóficas, Tractatus
logicus-philosophicus e Gramática filosófica, nas quais Wittgenstein considera
acerca da cientificidade da linguagem filosófica. Desse modo, ele considera
este aspecto como prejudicial para a produção filosófica, pois necessita de
uma generalidade e de regras rígidas para a escrita, enquanto o autor sugere
que possamos produzir uma linguagem mais acessível, que privilegie a
todos, sendo necessário o desmembramento de conceitos complexos e
específicos de áreas do conhecimento, como antídoto. Assim,
Wittgenstein propõe tomar as proposições pela linguagem lógica, de tal
forma que se possam analisar os argumentos de forma clara, linguagem
sem equívocos ou erros, como diria o autor, criando uma linguagem
descritiva da realidade, se utilizando de jogos de linguagem, quais são
essenciais para uma comunicação efetiva. Diante de tal perspectiva, não
nos deteremos em apenas uma das fases de seu pensamento, mas nas suas
duas fases, no primeiro Wittgenstein, quando a linguagem figura o real e
depois no segundo, quando expressa o real.
PALAVRAS-CHAVE: Wittgenstein; Linguagem; Lógica; Jogos de
linguagem;
*
Faculdade Palotina (FAPAS); E-mail: robsonraddatz@gmail.com
128
Ressonâncias filosóficas - Resumos
REFERÊNCIAS
BUCHHOLZ, Kai. Compreender Wittgenstein. Petrópolis: Vozes, 2008.
CHILD, William. Wittgenstein. Porto Alegre: Penso, 2013.
DALL’AGNOL, Darlei (Org.). Wittgenstein em retrospectiva. Florianópolis:
Editora da UFSC, 2012.
HACKER, P. M. S. Wittgenstein: Sobre a natureza humana. São Paulo,
Editora UNESP, 2000.
STRAWSON, Peter Frederick. Análise e metafísica: uma introdução à
filosofia. São Paulo: Discurso Editorial, 2002.
WITTGENSTEIN, Ludwig. O livro azul. Lisboa: Edições 70, 1992.
_____. O livro castanho. Lisboa: Edições 70, 1992.
_____. Tractatus logico-philosophicus. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2001.
_____. Gramática filosófica: a proposição e seu sentido: sobre a lógica e a
matemática. São Paulo: Loyola, 2003.
XXXXVII
O PROMETEU ACORRENTADO DE ÉSQUILO:
uma investigação sob a perspectiva trágica nietzschiana
Nilson Rodrigo da Silva*
RESUMO
Nietzsche em o Nascimento da Tragédia (1871), identifica o desenvolvimento
da arte ateniense como uma resultante da união dos impulsos Apolíneo e
Dionisíaco, lançando, assim, um novo olhar para o drama grego, um olhar
metafísico para a arte, a qual apresenta-se como uma analogia ao próprio
movimento do mundo. O impulso Dionisíaco através da destruição das
formas, faz com que o múltiplo destrua suas delimitações e retorne ao
Uno-primordial, e desse sentimento de Unidade, parte o impulso apolíneo
na construção do múltiplo, eis o jogo da vida que se exprimi na arte
ateniense: Por meio da música, expressa-se o impulso Dionisíaco, o qual
possui por característica o rompimento inebriante, em que se desfaz toda
individuação. Neste rompimento, há uma manifestação do sentimento de
unidade ante o mundo (Uno-primordial), no qual, ao mesmo tempo, os
homens extasiados pelo efeito dionisíaco deparam-se com sua finitude,
com o pessimismo da existência. O impulso Dionisíaco explicita-se como
a essência por detrás das coisas, a unidade metafísica do mundo; e como
representação da música do coro dissonante, por meio do impulso
apolíneo, o drama trágico (o mito) representa as imagens ou formas do
mundo empírico, imagens que trazem “luz” e “verdade” aos homens.
Nesse movimento, análogo ao movimento do cosmos, desenrolava-se a
tragédia grega. Para Nietzsche o ápice da tragédia está nas peças de
Ésquilo, onde o coro exerce uma notável participação e os heróis são
determinados por seus suplícios. Segundo o filósofo os gregos não viam
o desenvolvimento da tragédia como uma simples arte estética, outrossim
reconhecem no coro trágico uma figura viva, a qual apresenta-se como
uma alusão à própria natureza, sem determinações ou conhecimentos.
Ante a perspectiva nietzschiana o presente trabalho tem por intento
apresentar como o tragediógrafo Ésquilo estruturou seu drama Prometeu
*
UNIOESTE; E-mail: nilsonrodrigo25@hotmail.com
130
Ressonâncias filosóficas - Resumos
Acorrentado, perscrutando o modo como os impulsos cósmicos agem no
decorrer da narrativa, e como a sabedoria trágica pode ser compreendida
como uma afirmação da vida. Visto que para o filósofo alemão na tragédia,
mais especificamente, no coro trágico o homem passa a enxergar suas mais
profundas emoções pela a experimentação dionisíaca. A voz de Dioniso
era ouvida através desses que o louvavam como os sátiros. Destarte, o
homem, ao experimentar o êxtase da realidade dionisíaca, que rompe todas
as barreiras pessoais, toma consciência de sua realidade cotidiana: sua
finitude. E ao deparar-se com todo este horror da existência, vê sua
redenção na representação da vida pelo mito (Apolíneo), o qual, apresentase ali como uma representação de todos aqueles pensamentos da
existência. Como reafirma Nietzsche a respeito dos extasiados pelo
trágico: [o heleno] “é salvo pela arte, e através da arte salva-se nele – vida”.
PALAVRAS-CHAVE:
Dionisíaco.
Tragédia;
Nietzsche;
Ésquilo;
Apolíneo;
REFERÊNCIAS
ÉSQUILO. Prometeu acorrentado. Tradução de Daisi Malhadas e Maria
Helena de Moura Neves. Araraquara: UNESP / ILCSE, 1977.
HESÍODO. Teogonia. Tradução de Jaa Torrano. São Paulo, Iluminuras,
1995.
NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos Ídolos: ou como se filosofa com o
martelo. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
_____. O Nascimento da Tragédia ou Helenismo e pessimismo. Tradução de J.
Guinsburg. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
XXXXVIII
OS PRINCÍPIOS NORMATIVOS DA POLÍTICA NAS 20 TESES
DE POLÍTICA DE ENRIQUE DUSSEL
Evânio Márlon Guerrezi*
RESUMO
O presente trabalho tem como principal objetivo a apresentação do modo
como Enrique Dussel concebe a política por um viés normativo, com
ênfase em sua obra 20 teses de política. Para o autor, parece ser possível
rastrear um “conjunto ético” com o qual as ações políticas podem ser
avaliadas. Esse conjunto ético é tomado como o referencial para a
constituição de princípios normativos orientadores da política. Embora
essa perspectiva apareça em diversos momentos da obra em questão,
circunscreveremos nossa comunicação a dois blocos conceituais
específicos. O primeiro se situa na primeira parte do livro, mais
especificamente nas teses 9 e 10, e se mostra como uma etapa de
constatação dos três grandes princípios normativos da política, a saber, o
princípio material, o princípio democrático e o princípio de factibilidade.
O segundo, por sua vez, está presente na segunda parte das 20 teses, no
bloco composto pelas teses 13 e 14, que tratam dos princípios por meio
de uma orientação declaradamente mais crítica, momento em que são
utilizados para afirmar a possibilidade de um novo momento histórico.
Tornam-se, portanto, instrumentos críticos que norteiam a atividade
política em vistas de uma nova possibilidade existencial. Com essa
apresentação, pretendemos traçar as diferenças presentes entre esses dois
blocos conceituais, expondo as alterações ocorridas nos princípios
normativos. Além disso, acreditamos ser possível, ao final, afirmar que os
princípios políticos normativos elaborados por Dussel, podem servir
como um conjunto de ferramentas avaliativas da política, a fim de
constatar se determinados quadros políticos concretos, tais como as
recentes democracias latino-americanas, se encontram em processo de
corrupção ou regeneração.
*
UNIOESTE; E-mail: evanioguerrezi@hotmail.com
132
Ressonâncias filosóficas - Resumos
PALAVRAS-CHAVE: Política; Democracia; Princípios Normativos.
REFERÊNCIAS
DUSSEL, Enrique. 20 teses de política. Tradução de Rodrigo Rodrigues. São
Paulo: Expressão Popular, 2007.
XXXXIX
POLÍTICA E LINGUAGEM NA OBRA DE JACQUES
RANCIÈRE
Fabio Antônio da Silva*
RESUMO
A presente comunicação propõe um estudo sobre a relação entre política
e linguagem na obra do filósofo argelino Jacques Rancière com o objetivo
de esclarecer de que modo, em diferentes obras, o autor afirma o elemento
estético como determinante (além do aspecto lógico) na construção de um
discurso político convincente. Na tradição filosófica a lógica é, muitas
vezes, definida como habilidade racional capaz de avaliar os argumentos
de modo seguro e imparcial. Desse modo, nossos ideais estéticos e éticos
(da beleza e da justiça), como efeito de nossa produção racional, deveriam
ser o resultado de uma avaliação lógica dos argumentos (da verdade) dos
discursos. Parece-nos que, para o autor, há uma interação com o âmbito
estético, uma vez que a “partilha do sensível” (em seus termos) precede o
discurso, que, por sua vez, pode vir a ser capaz de mudar a distribuição
dos corpos nessa mesma partilha; e de que há a possibilidade, no interior
dessa “loucura retórica” apontada por Rancière, de uma sistematização
dos recursos utilizados para alcançar o convencimento. Tais como a
metáfora, o performativo “compreendeu?” e a posição da terceira pessoa
que ocupa o lugar da primeira pessoa em: “Nós operários...”. Exemplos
do poder da escolha das palavras, bem como da ocupação dos espaços de
fala no desentendimento que se gera na partilha do sensível.
REFERÊNCIAS
RANCIÈRE, Jacques. O desentendimento: política e filosofia. Trad. Ângela
Leite Lopes, Ed. 34, São Paulo, 1996.
*
UNIOESTE; E-mail: fabioasilva1983@gmail.com
134
Ressonâncias filosóficas - Resumos
_____. O mestre ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual.
Trad. Lilian do Valle, Ed. Autêntica, Belo Horizonte, 2002.
_____. A partilha do sensível: estética e política. Trad. Mônica Costa Netto,
Ed. 34, São Paulo, 2009.
_____. O ódio à democracia. Trad. Mariana Echalar, Ed. Boitempo, São
Paulo, 2014.
L
POTÊNCIAS UTÓPICAS DA RELIGIÃO:
Reflexões a partir de L. Feuerbach e E. Bloch
Rosalvo Schütz*
RESUMO
Talvez uma das argumentações mais duras contra a religião e em favor do
materialismo tenha sido desenvolvida por Ludwig A. Feuerbach. Segundo
Feuerbach, ao contrário do que de modo geral é atribuído ao ateísmo no
sentido de que este seria a negação dos predicados divinos (como o amor,
a solidariedade, a capacidade de criação, de conhecimento infinito, justiça,
etc.), o ateísmo implicaria apenas a negação do sujeito ilusório destes
predicados. Feuerbach entende demonstrar que todos os predicados que
geralmente são atribuídos a Deus não passam de predicados da espécie
humana como gênero. A ilusão de que existiria objetivamente um ser (que
não a humanidade) portador destes predicados gera, segundo este autor,
um estranhamento da humanidade em relação a si própria, uma vez que
exterioriza/aliena suas próprias propriedades e passa, ilusoriamente, a
atribuí-las a um ser independente dele. Retomar e reabilitar estas
propriedades humanas/antropológicas seria, portanto, condição
fundamental para o desenvolvimento do humanismo. Como, no entanto,
tudo o que é projetado/objetivado em Deus não passa de
características/propriedades humanas, a religião é a realização indireta
daquilo que poder ser considerado essencialmente humano. Só por ser
“humano, demasiadamente humano”, é que algo pode vir a ser
considerado divino. No entanto, na medida em que esta “essência
genérica” da humanidade não é reconhecida como tal, permanecendo
projetada em um ser estranho, ela acaba atravancando a efetiva
apropriação e desenvolvimento das potencialidades humanas. Em vez de
servir à humanidade, o ser religioso passa a venerar e fetichizar uma
criatura sua: o criador passa a venerar a sua própria criatura. Ao evidenciar
os fundamentos humanos e antropológicos da religião, Feuerbach, mesmo
que não explicitamente, colocou sob suspeita todas as estruturas sociais
*
UNIOESTE; E-mail: rosalvoschutz@hotmail.com
136
Ressonâncias filosóficas - Resumos
baseadas nas supostas verdades religiosas da época. Estas “verdades” eram
defendidas pela teologia como dogmas inquestionáveis. Assim, a redução
antropológica da religião realizada por Feuerbach permitiu desmascarar a
teologia como antropologia disfarçada. Segundo o autor, o que importa é
desvendar os fundamentos sociais e antropológicos da teologia,
evidenciando seu conteúdo e objetivos ocultos. Vislumbra-se, assim, uma
nova forma de abordagem filosófica e produtiva da religião. Esta nova
perspectiva é definida por Ernst Bloch enquanto “[...] o divino como
imagem do desejo humanamente hipostasiada de primeira grandeza”. Esta
potência utópica inerente à religião que pretendemos abordar e explorar.
PALAVRAS-CHAVE: Crítica antropológica; materialismo; potência
utópica.
REFERÊNCIAS
BLOCH, Ernst. O Princípio Esperança. Volume I e III. Tradução de Nélio
Schneider. Rio de Janeiro: EdUERJ: Contraponto, 2006.
FEUERBACH, Ludwig. A Essência do Cristianismo. Campinas: Papirus,
1988.
LI
QUESTIONAMENTOS ACERCA DA RESPONSABILIDADE
MORAL DO CIENTISTA
João Marcos Granero Ramos*
RESUMO
Séculos atrás, com o avanço da tecnologia e com as descobertas e teorias
realizadas nas guerras, decaiu sobre a comunidade científica e intelectual
fardos que já estavam presentes com os primeiros pensadores das ciências
aplicadas, os fardos da responsabilidade moral do cientista, porém com
pesos maiores. Mediante essa questão, vários pensadores oriundos de
diversos cantos do mundo, se reuniram em 1968, no Congresso de Viena,
para debaterem vários temas, mas em especial o que atinge o cerne da
consciência ética do cientista, já citado neste parágrafo. Dentre as
personalidades que estavam presentes no evento, a de Karl Popper se
destacava. Esse pensador, após o congresso, escreveu sobre o assunto com
a intenção de problematizá-lo ainda mais e alargar o seu campo de
abrangência. O mesmo possuía a compreensão de que não iria trazer
contribuições significativas. Ao escrever sobre o tema, o filósofo destacou
alguns pontos que podem contribuir com a compreensão do assunto.
Dessa maneira, para Karl Popper, grande parte dos cientistas ou técnicos
em ciência da atualidade, não aprofundam os seus estudos e pesquisas
devidamente. No decorrer dos tempos pensadores como: Maxwelle e
Marie Curie, não sofreram tantas dificuldades ao aplicarem suas teorias,
eles aprofundaram e fundamentaram ao máximo suas pesquisas. Esse fato,
para o pensador austríaco, não é bem visto. Vários países utilizam a ciência
como um meio para vencerem a guerra e não a enxergam como uma área
que pode proporcionar o bem-estar da sociedade. A ótica de Popper
apresenta a concepção de que o estado deve usar o pensamento
científico como um meio para aliviar o sofrimento, visto que a felicidade
é uma instância que deve ser alcançada por empenho pessoal, já a primeira
pode ser aplicada e proliferada pelos sistemas governamentais. No
decorrer do texto, Karl Popper contextualiza o juramento de Hipócrates
*
UNIOETE; E-mail: joaograneroramos@gmail.com
138
Ressonâncias filosóficas - Resumos
e diz que o mesmo é apenas um pequeno passo, porém significante, para
a conscientização moral do cientista, já nos primeiros momentos da sua
caminhada científica. Segundo o que é apresentado na obra, o juramento
de Hipócrates pode levar à questões mais vastas como o alívio do
sofrimento. Assim sendo, um dos meios de aliviar o sofrimento é evitar a
guerra. O cientista deve possuir a visão de que se o seu país estiver
sofrendo ataques, ele pode desenvolver pesquisas e criar utensílios para
defender a si mesmo e a sua pátria. Em um clima pacífico, o mesmo não
deve ser obrigado a realizar pesquisas para atacar outros países, por
dinheiro ou cismas políticas, deve apenas possuir a responsabilidade de
contribuir com o bem-estar do seu país e do mundo. A ciência, como
expresso anteriormente, é utilizada e vista como um meio de defesa
pessoal, podendo causar, se não for bem manejada, complicações que
podem criar sequelas físicas e psíquicas em uma pessoa ou várias. O
cientista social nesse contexto, possui um papel importantíssimo, o de
relatar a sociedade e a comunidade científica os problemas e os efeitos dos
atos realizados pelos estados e por determinados pensadores.
PALAVRAS-CHAVE: Moral; Ciência e Responsabilidade.
REFERÊNCIAS:
ALMEIDA, M. Science and morals. Saúde, Ética e Justiça. 2013; 18(2) ;1346. Disponivel em: <http://dx.doi.org/10.11606/issn.23172770.v18i2p134-136>. Acesso em: 21 de out. de 2017.
ARENDT, Hannah. Responsabilidade e julgamento. Trad. Rosaura
Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
EI-HANI, N. C.; QUEIROZ, J. Modos de irredutibilidade das propriedades
emergentes. Scientiæ Zudia, São Paulo, v. 3, n. 1, p. 9-41, 2005. Disponivel
em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1678-31662005000100002>. Acesso
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GOULART, M. C. V et al. Manipulação do genoma humano: ética e direito.
Ciência e Saúde coletiva, 15 (Supl. 1): 1709 -1713, 2010. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232010000700082>. Acesso em:
21 de out. de 2017.
Questionamentos...
139
HAWKING, S. Uma Breve História do Tempo. Trad. Maria Helena Torres.
Rio de Janeiro: Rocco, 1988.
HARRIS, S. A Paisagem Moral - Como a Ciência Pode Determinar os
Valores Humanos. Trad. Claudio Angelo. São Paulo: Companhia das
Letras, 2013.
LACEY, H. A Imparcialidade da Ciência e as Responsabilidades dos Cientistas.
ScientiæZudia, São Paulo, v. 9, n. 3, p. 487-500, 2011. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/S1678-31662011000300003>. Acesso em:
21 de out. de 2017.
LACEY, H. Ciência, Respeito à Natureza e Bem-Estar Humano. Scientiæ
Zudia, São Paulo, v. 6, n. 3, p. 297-327, 2008. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/S1678-31662008000300002>. Acesso em:
21 de out. de 2017.
MACDOWELL, S. Responsabilidade Social dos Cientistas: Natureza das
Ciências Exatas. Estud. av. v.2 n.3. São Paulo set./dez. 1988. Disponível
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MARCUSE, H. A Responsabilidade da Ciência. Trad. Marilia Mello Pisani.
ScientiæZudia, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 159-64, 2009. Disponível em:
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21 de out. de 2017.
POPPER, Karl. O Mito do Contexto: em Defesa da Ciência e da
Racionalidade. Trad. Paula Taipas. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2009.
LII
SARTRE E LEIBNIZ:
da construção do conceito de Liberdade
Cristiane Picinini*
RESUMO
O que queremos colocar em questão aqui, é como Jean-Paul Sartre, leitor
de Gottfried Leibniz, construiu bases para criar o conceito de liberdade,
fundamental ao existencialismo para explicar a condição da existência
humana, e mostrar os contrapontos de uma filosofia que se baseia na
existência de Deus, e outra que a nega totalmente. O problema da
liberdade para Leibniz – e, pois, da determinação do ser do homem –
também depende, em sua filosofia, da posição conceitual central de Deus.
Segundo Leibniz, Deus “controla”, sem eliminá-la, nossa liberdade: a
criação e sustentação do mundo implica que este seja, em seu todo,
voltado para o bem. Nossas ações, mesmo quando equivocadas,
pretendem alcançar o que nos parece o bem, e participam do conjunto de
ações que criam, na mente de Deus, o melhor dos mundos possíveis, se
partimos de uma infinidade de movimentos. A filosofia leibniziana nos diz
que o mundo é composto por inúmeras mônadas, substâncias
determinadas que podem se relacionar entre si, mas que já possuem uma
determinação, pensada em Deus. Assim, se em Deus todas as
possibilidades de cada ente composto estão simultaneamente presentes, e
se as mônadas imutáveis que compõem o universo “em movimento”, da
“ação”, já têm em si uma determinação eternamente inscrita, como
podemos ter de fato escolha livre? Como podemos escolher de modo a
que o mundo tenda ao bem previsto por Deus e ainda assim sermos livres?
Não podemos ser inautênticos? Sartre não trata especificamente do
conceito de substância. Pelo contrário, na mesma linha aberta, por
exemplo, por Husserl e toda a tradição fenomenológica, critica o ideal
clássico do substancialismo. No caso mais específico da existência
humana, não há outra tarefa senão a de dessubstancializar a situação de
fato pela qual a condição humana se institui. E isto porque a noção
*
UNIOESTE; E-mail: cristianepicinini@gmail.com
142
Ressonâncias filosóficas - Resumos
filosófica central de Sartre é a da liberdade, uma vez que o existencialismo,
aqui sartrianamente proposto, exprime uma filosofia da possibilidade, e
não da efetividade substancial. Sartre compreende, portanto, a liberdade
como projeto lançado, o encontro sempre já dado entre Para-si e Em-si,
movimento este em que nos encontramos aptos para construir nossa
essência. Somos livres porque podemos escolher que caminho seguir, uma
vez ainda que esta liberdade não emana de nenhuma instância superior: o
existencialista só acredita no “poder” do próprio homem. Ao contrário de
Leibniz, que determinada as substâncias como simplesmente fechadas,
nada podendo afetá-las depois, Sartre dá voz à contingência, considerando
a possibilidade ontologicamente. Nossa consciência, a priori, não possui
nada, requerendo ser afetada pelo mundo. No súbito irromper do possível,
que se dá em meio à situação de um projeto, percebemos nossa existência
e reconhecemos a existência do outro diante de nós. É a relação entre
Para-si (consciência) e Em-si (objetos), de copertencimento ontológico. Se
o Para-si é vazio, sua abertura ao Em-si significa a um só tempo a abertura
de um mundo “infestado” pela falta constitutiva do Para-si e uma
tendência deste último ao ser, isto é, tendência ao Em-si, à determinação,
para Sartre, o possível quer ser efetividade.
PALAVRAS-CHAVE: Liberdade; Substância; Deus; Possibilidade;
Projeto.
REFERÊNCIAS
BORNHEIM, G. Sartre, Metafísica e Existencialismo. 3. ed. São Paulo:
Perspectiva, 2005
LEIBNIZ, G. W. A Monadologia e outros textos. Org. e Trad. Fernando
Luiz B. G. e Souza. São Paulo: Hedra. 2009.
_____. Leibniz: Escritos en torno a la Libertad, el Azar y el Destino.
Madrid: Tecnos, 1990.
_____. Essais de théodicée sur la bonté de Dieu, la liberté de l’homme et l’Origine
du mal. Chronol. et introd. par J. Brunschwig. Paris: Garnier-Flammarion,
1969.
_____. Discurso de Metafísica. Trad. Marilena Chauí. São Paulo: Abril
Cultural, 1979 (Coleção Os Pensadores).
Sartre e Leibniz...
143
SARTRE, J-P. O existencialismo é um Humanismo. Trad. Rita Correia
Guedes. 13. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
_____. O ser e o Nada: Ensaio de uma Ontologia Fenomenológica. Trad.
Paulo Perdigão. 16. ed. Petrópolis, RJ: Vozes 2008.
SILVA, L. D. A filosofia de Sartre entre a liberdade e a história. São Carlos:
Claraluz, 2010.
SILVA, A. M. V. B. A concepção de liberdade em Sartre. Revista
Eletrônica de Pesquisa e Graduação da Unesp, Vol 6, nº 1. 2013. Disponível
em: http://www.marilia.unesp.br/#!/revistaseletronicas/filogenese/edicoes-anteriores/2013---volume-61/.
LIII
"SI VIS PACEM, PARA BELLUM":
O problema da "paz" no pensamento de Maquiavel
Douglas Antônio Fedel Zorzo*
RESUMO
A questão da "guerra" ocupa uma posição central no pensamento político
de Nicolau Maquiavel. Toda a argumentação do Secretário florentino é
construída em torno da iminência dos conflitos armados. Para o autor, a
guerra é uma realidade inexorável da política. Contudo, a noção de guerra
é estruturalmente conectada àquela de paz. No âmago da teoria políticomilitar maquiaveliana, identificamos o problema da "paz" ter seu núcleo
significativo subversivamente deslocado. Por um lado, a "concórdia
internacional" revela-se intimamente atrelada à capacidade militar dos
Estados, tornando-se dependente da predisposição para a guerra; por
outro, a paz pode representar um risco cáustico para os organismos
políticos, responsável pela corrupção das cidades que imergem no estado
de abdicação dos conflitos. Assim, diante da importância inovativa dessa
problemática, nosso escrito possui duas diretrizes centrais. Em primeiro
lugar, buscaremos avaliar como, para Maquiavel, a paz não se constitui
como a ausência absoluta da guerra, mas como sua inesgotável preparação.
Recuperando a sentença latina do "si vis pacem, para bellum", seu
pensamento postula que a garantia da paz reside na preparação das
condições de defesa de um Estado. A paz é desejável somente diante da
condição que durante sua vigência haja a preparação permanente para a
guerra. O exercício militar deve ser uma constante preocupação dos
dirigentes políticos. Portanto, a capacidade para a guerra é reconhecida
como um dos recursos vitais do Estado, inclusive daqueles que
ambicionam manter uma ordenação de paz. Ao invés de antitéticos, a
predisposição para a batalha representa a condição de possibilidade para
um estado de não beligerância. O binômio "guerra e paz" é operado como
dois termos indissociáveis, cada qual sendo útil para pensar o outro,
porque a passagem entre eles é frequentemente provável. Em segundo
*
UNIOESTE; E-mail: douglasfedel@hotmail.com
146
Ressonâncias filosóficas - Resumos
lugar, procuraremos analisar o controverso argumento maquiaveliano
segundo o qual a paz plena, o completo silêncio dos movimentos militares,
representa a corrosão do corpo político por dois vieses: um externo, como
vítima de outra potência militarmente preparada; outro interno, com a
corrupção propiciada pelo ócio, efeminação e divisão das cidades em
grupos partidários. Nessa instância, Maquiavel opera uma clara inversão,
apontando não mais para a malignidade da guerra, mas de uma certa
inconveniência da paz. Considerando a inevitabilidade dos conflitos, a
guerra não deve ser vista como maléfica, mas as ações que são tomadas
durante a paz que desconsideram sua iminência. A paz comporta uma
consequência profunda, que estabelece a ruína dos Estados: faz nascer o
"ócio", condição que torna as cidades "efeminadas". O período
intermitente entre os conflitos insere a ociosidade como um elemento
corrosivo para o tecido político e social. Tal rovina não deriva
exclusivamente do domínio de um Estado estrangeiro, diante da inanição
militar causada pela falsa aparência de tranquilidade, mas também
internamente, com o ócio espalhando a paralisia da preparação à guerra.
O ócio transforma as cidades em "effeminate o divise": frívolas, vistas
como presa fácil para uma conquista estrangeira; divididas, sem um
inimigo em comum para congregar os indivíduos diante de uma causa
compartilhada, aumenta a potencialidade de uma guerra civil.
PALAVRAS-CHAVE: Maquiavel; guerra e política; guerra e paz;
pensamento militar.
REFERÊNCIAS
CICERONE, M. Tullio. Le Filippiche. In: Le Orazioni. Vol. IV. A cura di
Giovanni Bellardi. Torino: UTET, 1978.
FOURNEL, Jean-Louis; ZANCARINI, Jean-Claude. Guerra e pace. In:
SASSO, Gennaro (A cura di). Machiavelli: Enciclopedia Machiavelliana.
Vol. I. Roma: Istituto della Enciclopedia Italiana fondata da Giovanni
Treccani, 2014, p. 674-679.
MACHIAVELLI, Niccolò. Opere. A cura di Corrado Vivanti. Torino:
Einaudi-Gallimard, 1997.
MAQUIAVEL, Nicolau. A Arte da Guerra. Tradução de MF. São Paulo:
Martins Fontes, 2006.
Si vis pacem, para bellum...
147
_____. Discursos sobre a primeira década de Tito Livio. Tradução de MF. São
Paulo: Martins Fontes, 2007.
_____. História de Florença. Tradução de MF. São Paulo: Martins Fontes,
2007.
_____. O Príncipe. 2ªed. Tradução de Maria Júlia Goldwasser. São Paulo:
Martins Fontes, 1998.
NEPOTE, Cornelio. Opere. A cura di Leopoldo Agnes. Torino: UTET,
1977.
VEGEZIO, Flavio Renato. L'Arte Militare. Traduzione di Antonio
Angelini. Roma: Stato Maggiore dell'Esercito Ufficio Storico, 1984.
ZANZI, Luigi. Machiavelli e gli "Svizzeri": e altre "machiavellerie" filosofiche
concernenti la natura, la guerra, lo stato, a società, l'etica e la civiltà.
Bellinzona: Edizioni Casagrande, 2009.
LIIII
SOBRE A DEFINIÇÃO DE TEMPO (ΚΡΌΝΟΣ) NA FÍSICA
DE ARISTÓTELES
Suellen Dantas Godoi*
RESUMO
Em suas lições sobre a Física, Aristóteles pergunta pelos entes que
possuem em si mesmos a mobilidade ou capacidade de mudança, a fim de
investigar o princípio do Movimento, isto é, de toda e qualquer
transformação; no Livro IV, depois de tratar da natureza do Lugar (τόπος),
o filósofo inicia o que ficaria conhecido pela tradição como “tratado do
tempo” (Fís. IV, 10-14). A passagem entre esses temas é consequente, se
pensarmos que até mesmo a noção mais elementar de movimento – o
deslocamento – transcorre, aparentemente, “em” um lugar e “no” tempo.
Qual é, porém, a origem dessa aparência tão determinante de nossa
experiência cotidiana? Além disso, parece não haver meio de falar de
movimento sem falar de tempo. Por isso, convém perguntar o que é o
tempo, em sua distinção relativamente ao movimento. Nosso intento, no
presente projeto, é investigar essa questão a partir de algumas recentes
abordagens, dado que a leitura do tratado aristotélico foi renovada nas
últimas décadas. Para tanto, buscaremos, além de consultar comentadores
relevantes (Couloubaritsis, Coope, Berti), analisar especificamente a
estrutura da definição aristotélica de tempo, expondo o sentido dos
conceitos que a compõem ou que são por ela pressupostos, como
movimento (μεταβολή / κίνησις), anterior-posterior (πρότερον ᾽καί
ὕστερον), magnitude (μέγεθος), número (ἀριθμός) e agora (τὸ νυν). Este
último, embora não sendo parte formal da definição, mostrar-se-á de
essencial relevância para o entendimento da temporalidade aristotélica.
Começaremos fundamentando o objetivo geral da Física como estudo dos
entes determinados pelo movimento; prosseguiremos mostrando como e
por que se dá a passagem de tema da mobilidade para a investigação sobre
o tempo; a partir disso, passaremos ao exame da natureza do tempo, de
*
UNIOESTE; E-mail: suu.godoi@gmail.com
150
Ressonâncias filosóficas - Resumos
acordo com a definição mencionada, constante do capítulo onze do livro
quarto da Física. Ao final, tentaremos responder, ou compreender melhor,
algumas questões, como as que seguem. Se o tempo não é movimento,
mas algo relativo a ele, como se dá e determina essa relação de “pertença”?
Pode-se conceber um movimento sem tempo? Por que o Agora não é uma
parte do tempo, para Aristóteles, se cotidianamente se diz que o tempo é
uma sequência de agoras (e até se atribui a Aristóteles essa posição)? Por
que o Agora, sendo origem do tempo, não aparece na definição? Se na
alma (pensamento) só se percebe o tempo quando há percepção de
movimento ou mudança, então o tempo é menos originário que o
movimento? O tempo é um modo de percebermos o movimento ou existe
em si mesmo?
PALAVRAS-CHAVE: Aristóteles; Física; Tempo; Movimento; Agora.
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Física. Trad. Guillermo R. de Echandía. 1ª ed. Madrid:
Gredos, 2007.
_____. Metafísica. Livros VII e VIII. Trad. Lucas Angioni. In: Clássicos
da Filosofia: Cadernos de Tradução. Nº 11. UNICAMP/IFCH, 2005 –
p.16-165.
_____. Metafísica. Livros IV e VI. Trad. Lucas Angioni. In: Clássicos da
Filosofia: Cadernos de Tradução. Nº 14. UNICAMP/IFCH, 2007 –
p.12-59.
_____. Metafísica. Trad. Valentín García Yebra. Madrid: Gredos, 1990.
_____. Physics. Trad. William David Ross. New York: Oxford University
Press, 1936.
BERTI, Enrico. Novos Estudos Aristotélicos II – Física, Antropologia e
Metafísica. São Paulo: Edições Loyola, 2011.
BRAGUE, Remi. O tempo em Platão e Aristóteles. Trad.: Nicolás
Campanário. São Paulo: Loyola, 2006.
Sobre a definição de tempo...
151
COOPE, Ursula. Time for Aristotle – Physics IV 10-14. L’avenement:
Oxford University Press, 2009.
COULOUBARITSIS, Lambros. La Physique d’Aristote. L’avenement de la
science physique. Bruxelles: Ousia, 1997.
PUENTE, Fernando Rey. Os Sentidos do Tempo em Aristóteles. 1998. Tese
de Doutorado em Filosofia – UNICAMP, Campinas.
PUENTE, Fernando Rey. “Algumas aporias sobre o conhecimento do
Tempo em Aristóteles”. Hypnos, São Paulo, v.12, n.18, p.29-41, 1º sem.
2007.
PUENTE, Fernando Rey. Ensaios sobre o tempo na filosofia antiga. Coimbra:
Imprensa da Universidade de Coimbra, 2012.
OS ORGANIZADORES:
CÉLIA MACHADO BENVENHO é doutoranda em Filosofia pela
Universidade Estadual do Oeste do Paraná; é Mestre em Filosofia pela
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (2008), financiado pelo
CNPQ, na linha de pesquisa Metafísica e Conhecimento. Possui
graduação em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(1994). Especialista em Administração e Planejamento de Sistemas
Educacionais pela UNIPAR - Universidade Paranaense (1997), e
especialista em Computação Aplicada ao Ensino pela Universidade
estadual de Maringá (1998). Atualmente é professor Assistente da
UNIOESTE - campus de Toledo.
E-mail: celia.benvenho@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9781758140510682
JOSÉ FRANCISCO DE ASSIS DIAS é Licenciado em Filosofia pela
Universidade de Passo Fundo - RS (1996) e Bacharel em Teologia pela
Unicesumar (2014); Especialista em Docência no Ensino Superior pela
Unicesumar (2015); Mestre em Direito Canônico pela Pontifícia
Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano, Roma, Itália (1992); Mestre
em Filosofia pela mesma Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do
Vaticano, Roma, Itália (2006); Doutor em Direito Canônico também pela
Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano, Roma, Itália
(2005); Doutor em Filosofia também pela Pontifícia Universidade
Urbaniana, Cidade do Vaticano, Roma, Itália (2008). Atualmente é
professor Adjunto da UNIOESTE, no Campus de Toledo-PR, onde é
Coordenador do curso de Licenciatura em Filosofia; Pesquisador do
Grupo de Pesquisa “ÉTICA E POLÍTICA”, da UNIOESTE, CCHS,
Campus de Toledo-PR; parecerista de revistas filosóficas e juristas.
E-mail: jfad_br@hotmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9950007997056231
JUNIOR CUNHA é graduando do curso de Licenciatura em Filosofia
pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Toledo-PR. É estagiário
da Biblioteca Universitária da UNIOESTE-Campus Toledo. Bolsista – no
período de 01 de junho de 2016 a 31 de março de 2017 – do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), vinculado a
CAPES/MEC. Bolsista – no período de 1 de abril de 2017 até 31 de março
de 2018 – do Projeto de Extensão Teatro em Ação, vinculado ao
Programa Universidade Sem Fronteiras-USF, financiado com recursos do
Fundo Paraná. Atualmente desenvolve pesquisa nas áreas de Teatro e
Filosofia com enfoque em William Shakespeare e Friedrich Nietzsche.
E-mail: juniorlcunha@hotmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7824455868007103