TRABALHO NO BRASIL: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Work in Brasil: challenges and perspectives
José Dari Krein
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas,
Brasil
Marcelo Manzano
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas,
Brasil
Marilane Teixeira
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas,
Brasil
Informações do artigo
Recebido em 10/05/2022
Aceito em 30/05/2022
doi>: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2022.n256.p293-317
Resumo
No presente artigo propõe-se a refletir sobre as incontornáveis
transformações que, carreadas pela crise da Covid-19, se
sobrepuseram ao mundo do trabalho em geral e em particular
em países como o Brasil, marcados pela condição periférica e
pela persistência do excedente estrutural de força de trabalho.
O artigo começa com a apresentação das características
estruturais do mercado de trabalho brasileiro e uma breve
análise da dinâmica das ocupações no período mais recente. Em
seguida, faz-se uma reflexão sobre as múltiplas dimensões da
crise (civilizacional, política, econômica) para, então, delinear
algumas diretrizes programáticas, não apenas para pensar em
formas de superação da atual crise do trabalho no Brasil, mas,
principalmente, para provocar uma discussão a respeito da
redefinição do próprio sentido e configuração do trabalho na
quadra atual da história e em um contexto político e econômico
carregado de tensões e contradições como as que estiveram
vigentes no Brasil na segunda década do século XXI.
Palavras-Chave: Mundo do trabalho. Covid-19. Mercado de
trabalho-Brasil - Excedente estrutural de força de trabalho.
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons
Atribuição 4.0 Internacional.
Como ser citado (modelo ABNT)
KREIN, José Dari; MANZANO, Marcelo; TEIXEIRA,
Marilane. Trabalho no Brasil: desafios e perspectivas.
Cadernos do CEAS: Revista Crítica de Humanidades.
Salvador/Recife, v. 47, n. 256, p. 293-317, maio/ago.
2022. DOI: https://doi.org/10.25247/2447861X.2022.n256.p293-317
Abstract
In this article we propose to reflect on the inevitable
transformations that, driven by the Covid-19 crisis, overlapped
the world of work in general and in countries like Brazil in
particular, marked by the peripheral condition and by the
persistence of the structural surplus of workforce. The article
begins with a presentation of the structural characteristics of the
Brazilian labor market and a brief analysis of the dynamics of
occupations in the most recent period. Then, we reflect on the
multiple dimensions of the crisis (civilizational, political,
economic) and then outline some programmatic guidelines, not
only to think about ways to overcome the current labor crisis in
Brazil, but mainly to provoke a discussion at respect for the
redefinition of the meaning and configuration of work in the
current period of history and in a political and economic context
full of tensions and contradictions as they were in force in Brazil
in the second decade of the 21st century.
Keywords: World of Labor. Covid-19. Labor Market-Brazil Structural surplus of labor force.
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 256, p. 293-317, maio/ago. 2022 | ISSN 2447-861X
Trabalho no Brasil: desafios e perspectivas | José Dari Krein, Marcelo Manzano e Marilane Teixeira
INTRODUÇÃO
A crise avassaladora que se instalou com a pandemia de Covid-19 no início de 2020 fez
agravar tendências já em curso no Brasil, indicando a aceleração de processos de mudanças
em várias dimensões da vida humana e da economia. Em relação ao mercado de trabalho
brasileiro, deve-se ter em mente que foi atingido por essa inescapável onda de
transformações sem que houvesse sido superado, em qualquer momento anterior de nossa
história, o problema do excedente estrutural de força de trabalho, evidenciando aspectos
históricos que condicionam parcela da sociedade a posições subalternas e precárias. Ou seja,
somos abalroados por uma crise de profundas repercussões sobre o mundo do trabalho,
partindo de um patamar civilizatório muito baixo, marcado pela precariedade das relações
de emprego, pela informalidade como norma, pela grande dispersão salarial que deixa mais
de dois terços da força de trabalho sujeita a remunerações baixas e insuficientes, pela
inacessibilidade a direitos sociais e trabalhistas fundamentais. É incontornável considerar que
estamos tratando de um país profundamente marcado pelo escravismo, pela condição de
capitalismo tardio e periférico, com um mercado de trabalho débil e desorganizado
(MACHADO SILVA, 1990) e que sujeita sua população a transitar de forma reiterada do
emprego ao desemprego, do formal ao informal, das atividades precárias às ilegais.
Nesse contexto, parte-se do pressuposto de que, sem um projeto de desenvolvimento
que enfrente essa insuficiência estrutural de ocupações, será muito difícil, para não dizer
impossível, mudar a realidade atual do trabalho no país e, por conseguinte, reverter a enorme
desigualdade que nos caracteriza. Logo, o enfrentamento desse quadro coloca a necessidade
de uma alteração política e de modelo de sociedade que leve à superação do atual regime de
acumulação, crescentemente orientado para os interesses rentistas e do grande capital sem
pátria. A anomia institucional em que nos encontramos exige, portanto, uma redefinição do
papel do Estado e do lugar do trabalho em nossa sociedade.
Isto posto, a análise aqui desenvolvida parte das seguintes hipóteses: (i) o
reconhecimento de que ocorreram profundas transformações no mundo do trabalho,
decorrentes das novas formas de produção e distribuição de bens e serviços, especialmente
a partir da crise econômica dos anos 1970, quando se consolidou um novo padrão de
acumulação baseado na dominância financeira e na globalização, impulsionadas pelas novas
tecnologias de comunicação e informação e pela crescente participação de serviços ligados
às famílias; (ii) que tais mudanças alteraram também as percepções e valores da sociedade,
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com implicações para regulação do trabalho e para proteção social – isto é, a própria
organização da vida em sociedade - decorreram também de determinações políticas
impulsionadas pela hegemonia neoliberal. Mudanças que interromperam o processo de
assalariamento advindo com a industrialização brasileira e reafirmaram os traços estruturais
de desorganização do mercado de trabalho, expressos no excedente estrutural de força de
trabalho e, consequentemente, no avanço da precariedade do trabalho e na exclusão de
milhões de pessoas do acesso ao trabalho.
O propósito do presente artigo é apresentar como os problemas estruturais do
mercado de trabalho vêm se agravando nos últimos 40 anos - apesar do intervalo favorável
entre 2004 e 2014 - bem como indicar alguns eixos que poderiam pautar uma nova agenda
que contribua para a construção de novas bases para a transformação social.
O texto está estruturado em quatro partes. Além desta introdução, na seção 1
abordamos os principais problemas estruturais do trabalho no Brasil, notadamente no que
tange às últimas quatro décadas e à desfavorável dinâmica ocupacional que se observa como
derivada deste já longo percurso de desenvolvimento débil e errático. Na seção seguinte,
item 2, dedicamo-nos à reflexão dos principais marcos da crise sistêmica e civilizacional que
se instalou no Brasil e no mundo a partir do colapso financeiro de 2008, com severas
repercussões sobre o mundo do trabalho e sobre a própria legitimidade das políticas
neoliberais. Por fim, na seção 3, esboçamos alguns eixos norteadores que podem contribuir
para uma necessária agenda de transformação econômica e social.
OS PROBLEMAS ESTRUTURAIS DO TRABALHO NO BRASIL
O Brasil carrega uma herança histórica que se renova constantemente, qual seja, a
existência de um excedente estrutural de força de trabalho (OLIVEIRA, 1998) e um penoso e
incompleto processo de transição para o assalariamento, marcado pela exclusão de parcela
significativa da população, especialmente das pessoas negras e das mulheres. No caso
brasileiro, assim como no de diversos países latino-americanos, o processo de
industrialização foi incapaz de promover o assalariamento com direitos para o conjunto dos
trabalhadores, tal como ocorreu na Europa, por um curto e excepcional período da história
do capitalismo (do pós-guerra até os anos 1970).
Como chama atenção Baltar (2003), ao longo do século XX, os governos brasileiros
direcionaram suas forças para viabilizar a industrialização, deixando em segundo plano a
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tarefa civilizatória de organizar o trabalho e um sistema de proteção social - até porque, em
grande medida, a informalidade era funcional à dinâmica de acumulação da estratégia de
modernização conservadora (OLIVEIRA, 2003). Consequentemente, foram sendo produzidos
crivos próprios de seleção no mercado de trabalho, legando às pessoas negras, às mulheres
e aos com maiores dificuldades de acesso ao ensino formal as ocupações mais vulneráveis,
precárias e mais mal remuneradas. É a herança escravocrata que assume novos significados
e se traduz por meio da exclusão de segmentos sociais inteiros, transformados em força de
trabalho descartável ou incorporados às condições de trabalho mais precárias e ocupando as
piores posições de classe.
Assim, com o forte crescimento econômico, o ápice desse processo ocorreu em 1980,
quando 70% da população já vivia nas cidades e dois terços da força de trabalho alcançou o
assalariamento, mas com alta taxa de informalidade e uma grande maioria inserida em
atividades precárias, com salários baixos e desigualmente distribuída.
Apesar de o Brasil ter logrado um sistema de direitos sociais bastante avançado nos
anos 1930 e 1940 (expressos na CLT) (BOSI, 1992), não foi capaz de constituir um sistema de
proteção para a maioria dos ocupados. Parte importante das lutas operárias antes de 1964
foi para reivindicar a efetivação dos direitos trabalhistas, especialmente nos anos 1950
(TEIXEIRA, 1999).
Algumas hipóteses explicativas para a pequena efetivação dos direitos são: 1) o
arcabouço legal era seletivo, pois valia para os trabalhadores da indústria e comércio,
portanto, para os que se encontravam na base do desenvolvimento capitalista. As demais
pessoas ocupadas não tiveram assegurados os mesmos direitos. Somente com o tempo,
outras categorias de ocupações foram incluídas no sistema de direitos e proteções sociais.
Por exemplo, os trabalhadores rurais, apesar das primeiras leis terem sido introduzidas nos
anos 1960, a sua integração ao sistema de direitos e proteções sociais somente irá ocorrer na
Constituição de 1988. Outro exemplo, as trabalhadoras domésticas, que tiveram parte dos
seus direitos reconhecidos e equiparados aos demais somente em 2015.
Em segundo lugar, o processo de industrialização, apesar do grande dinamismo
econômico entre 1940 e 1980, veio acompanhado de um forte “excedente estrutural de força
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de trabalho”1, permitindo ampla liberdade às empresas para manejarem a gestão da força de
trabalho, com o pagamento de baixos salários e oferecendo péssimas condições de trabalho
(KREIN, 2013). A outra face foi a criação de uma concorrência predatória pelos postos de
trabalho com melhores salários (NOVAIS; MELLO, 1998). A ausência de emprego para todas
as pessoas dispostas a trabalhar, fez com que muitas delas tivessem que se virar em
atividades muito heterogêneas, de baixo rendimento, alta informalidade, atividades por
conta própria como estratégia de sobrevivência.
O terceiro vetor explicativo é que o forte crescimento capitalista no Brasil foi
acompanhado por períodos de déficit democrático. Entre 1933 e 1980 (período da
industrialização restritiva e pesada) houve longos períodos de regimes autoritários. Mesmo
nos momentos democráticos (entre 1946 e 1964) prevaleceu a instabilidade política, o que
representou um obstáculo à efetivação dos direitos pelas entidades de representação dos
trabalhadores e pelas instituições públicas. No chamado período do milagre econômico, de
forte crescimento do emprego, os sindicatos foram silenciados e os seus instrumentos de
reivindicação foram suprimidos. Não é sem razão que a desigualdade entre os rendimentos
do trabalho cresceu fortemente naquele momento (BALTAR, 2003). Apesar disso, os
sindicatos emergem na cena social com força na passagem da década de 1970 para a de 1980,
quando o país já se defronta com os impasses da crise da dívida externa.
Por último, as instituições do poder público, apesar de sua relevância, não tiveram
estrutura suficiente para garantir a efetividade dos direitos, no contexto econômico e político
do período. Ao mesmo tempo, Cardoso e Lage (2005) "mostram que o crime da sonegação
dos direitos foi sempre compensatório, pois as implicações para os infratores são muito
baixas" (KREIN; MANZANO; LEMOS, 2020, p.4). Ademais, as amarras legais e a tutela estatal
não permitiram o surgimento de um sindicalismo com força social para alterar o padrão
prevalecente de relações de trabalho despóticas praticadas por grande parte dos
empregadores. Ademais, é preciso reafirmar que a sociedade se estruturou conservando
práticas racistas e sexistas que precisam ser confrontadas cotidianamente.
1
Esse excedente foi possibilitado pela intensa migração do pobre mundo rural para as cidades. Entre os anos
1950 e 1980, migraram em torno de 40 milhões de pessoas. Em 1940, dois terços da população estava no
campo. Em 1980, dois terços estavam nas cidades (DEDECCA; BALTAR, 1997). A modernização do campo se
intensifica a partir dos anos 1960 (NOVAIS; MELLO, 1998)
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Soma-se a esses argumentos, a intensificação de presença das mulheres no mercado
de trabalho nos anos de 1970, resultado tanto da necessidade econômica, quanto das
transformações demográficas, culturais e sociais que vinham ocorrendo no país e no mundo.
Desde então, o perfil da classe trabalhadora alterou-se bastante, com o nível de ocupação
entre as mulheres passando de 26%, em 1980, para 44% em 2010 (TEIXEIRA, 2017).
Concomitante, reduz-se o tamanho das famílias e ocorrem mudanças expressivas na sua
composição e nos papéis tradicionais de homem provedor e de mulher dona de casa. Esse
padrão de família tradicional vai perdendo posição relativa diante de novos arranjos
familiares, especialmente os domicílios monoparentais, chefiados por mulheres com filhos,
da mesma forma em que os ingressos das famílias passam a ser formados por mais de uma
renda.
Essas transformações, contudo, não foram acompanhadas de uma alteração na
distribuição do tempo dedicado à reprodução social, evidenciando os próprios limites que o
mercado de trabalho representa para alterar as condições em que o trabalho de reprodução
é realizado. Sem o reconhecimento social desse trabalho, as mulheres seguem sendo as
únicas responsáveis pelas múltiplas atividades associadas às tarefas de reprodução e, assim,
naturalizar e justificar a sua presença em atividades informais e precárias, ao atribuir a elas a
escolha por essa forma de inserção.
A combinação de um contexto em que prevalece o excedente estrutural de força de
trabalho, o déficit de democracia e as dificuldades institucionais fez com que o Brasil
construísse um mercado de trabalho bastante desorganizado (SILVA, 1990, 2003), com alta
informalidade, rendimentos do trabalho baixos e desiguais, elevada rotatividade e forte
discriminação de raça e gênero. Temos um mercado de trabalho historicamente flexível, pois
as liberdades para o empregador promover dispensas imotivadas estiveram sempre
presentes, especialmente a partir da criação do FGTS em 1966. Como consequência, os
rendimentos do trabalho sempre flutuaram de acordo com os ciclos econômicos (KREIN;
MANZANO LEMOS, 2020).
Desde então, com a grave crise da dívida externa que solapou o processo de
industrialização brasileiro, despontam crescentemente no Brasil os limites do capitalismo
periférico, um sistema intrinsecamente disfuncional e propenso a crises, incapaz de gerar
empregos e bem-estar social para toda a sociedade. A partir de então, a despeito de alguns
anos de melhora do emprego e dos salários, a heterogeneidade estrutural do mercado de
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trabalho se manteve presente, agravada, mais recentemente, pelo retorno do desemprego
elevado, pelo avanço do desassalariamento e da precarização.
É de se esperar que, na ausência de emprego, as pessoas busquem outras formas de
inserção social percorrendo variadas estratégias de sobrevivência para obter renda. Assim,
foi possível perceber, por exemplo, a explosão do comércio de rua a partir da crise da dívida
nos anos 1980 ou o forte crescimento do trabalho informal e por conta própria ao longo dos
anos 1990. Entre 2004-2014, os indicadores do mercado de trabalho melhoraram, mas as
ocupações geradas estavam concentradas em atividades de baixos salários, nas quais a
juventude - e particularmente as mulheres negras - não encontraram ocupação condizente
com a sua escolaridade. Além disso, os avanços neste período não estiveram assentados
numa correspondente transformação da estrutura produtiva e por isso foram insuficientes
para organizar o mercado de trabalho brasileiro.
Nos últimos 6 anos, com o choque recessivo de 2015-2016 e a guinada neoliberal,
essas tendências regressivas se aprofundaram de forma dramática. Como se pode observar
na Tabela I, entre o primeiro trimestre de 2012 e o mesmo trimestre de 2020 cresceu a
participação dos trabalhadores em situações de maior precariedade (conta-própria,
empregados e trabalhadores domésticos sem carteira) enquanto declinou a participação dos
empregados e trabalhadores domésticos com carteira assinada. Esse declínio entre os mais
protegidos sinaliza para do desmonte dos direitos promovido pelas reformas trabalhistas,
mas também indica a perda de densidade da estrutura produtiva, o aumento da desigualdade
social e a incapacidade de retomar um novo ciclo de crescimento apenas pelas forças do
mercado.
Tabela 1 - Distribuição dos ocupados por posição na ocupação Brasil, 1ºT2012 e 1ºT2020
Fonte: IBGE/PNAD Contínua
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Já quando se observa a dinâmica das quarenta principais ocupações no país (Tabela II)
fica patente uma deterioração qualitativa, com ocupações de melhor prestígio e
remuneração perdendo posição no ranking, enquanto ocupações sujeitas a maior
precariedade, a menores rendimentos e de menor qualificação profissional avançaram. Entre
as ocupações que mais cresceram, cabe destacar a dos “vendedores em domicílio” que
galgou 28 posições entre 2012 e 2020, a de “trabalhadores de cuidados pessoais em
domicílio” (avanço de 40 posições), ambas ocupações características de um mercado de
trabalho desorganizado no qual avançam os trabalhos voltados a demandas das famílias e
das pessoas, muitos dos quais já operando em modalidades “uberizadas”. Em relação aos
“trabalhadores de cuidados” vale ressaltar que esses dados também refletem mudanças
demográficas profundas na sociedade brasileira, que avança para um perfil de maior
longevidade. A própria OIT estima que até 2030, 2,3 bilhões de pessoas irão necessitar de
cuidados pessoais (OIT, 2018).
Ao mesmo tempo, entre as ocupações que sofreram quedas mais expressivas no
ranking, são simbólicas as perdas de ocupados como “dirigentes de administração e de
serviços” (-11 posições), “operadores de máquinas de costura” (-22 posições), “gerentes de
comércio atacadista e varejista” (-16 posições) e “dirigentes de vendas e comercialização” (12). Trata-se de um grupo importante de ocupações tradicionalmente vinculadas a
estabelecimentos mais estruturados e que frequentemente correspondem a posições mais
estáveis, mais bem remuneradas e menos sujeitas à informalidade.
Como sugerem essas alterações nas posições no ranking das ocupações, o que se
percebe é, na verdade, a culminância de um longo processo que se desenrola nos últimos 40
anos e que aponta para uma importante inflexão no mercado de trabalho brasileiro, em que
as condições materiais para o assalariamento foram sendo erodidas. Os indicadores mostram
o crescimento da informalidade, dos trabalhos por conta própria, da desocupação e da
precariedade de trabalho2. A participação do setor industrial no total dos ocupados caiu de
27,8% para 12,9% e o setor terciário teve um salto de 39,3% para 62,7% no período
(POCHMANN, 2019) 3, associados ao avanço da terceirização, dos serviços pessoais e de
2
Os dados são bastante conhecidos, por isso, deixamos de citá-los no presente artigo.
A soma dos desempregados, sem rendimentos, subocupados e assalariados informais chegou a quase 50%,
com forte crescimento entre 1980 e 2018.
3
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atendimento às famílias e ao crescimento da participação de ocupações de baixos salários.
Em síntese, reafirmaram-se a precariedade estrutural do mercado de trabalho e suas
discriminações históricas, especialmente em relação às mulheres e às pessoas negras.
Tabela 2 - Ranking das 40 maiores ocupações Brasil, 1ºT2012 e 1ºT2020
Fonte: IBGE/PNAD Contínua
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De modo sumário, podem-se identificar quatro razões principais que explicam esse
processo de transformações estruturais que atingiram o desenvolvimento do país e que
resultaram mais desfavoráveis aos trabalhadores e à ação coletiva das camadas populares:
a) Desde a crise da dívida externa, no começo dos anos 1980, a economia brasileira
adentrou em um severo e prolongado processo de regressão de sua estrutura
produtiva. Sem o motor das holdings estatais, desmontadas pelo esforço de
pagamentos aos credores externos, o modelo de desenvolvimento que vinha
sendo trilhado desde os anos 1950 foi revertido, sem que houvesse, de fato, uma
outra estratégia a ser colocada no lugar. Já nos anos noventa, com a rendição ao
ideário neoliberal que emanava do Consenso de Washington, foi realizada uma
inserção passiva do país à nova ordem internacional, o que contribuiu para avançar
na desestruturação de elos estratégicos da cadeia produtiva, que haviam sido
erigidas ao longo das décadas anteriores, dando início ao processo de
desindustrialização precoce da matriz produtiva nacional e à proeminência das
atividades econômicas primárias. Desde então, o Brasil perdeu posição em termos
de desenvolvimento industrial e tecnológico, viu reduzir seu dinamismo produtivo
e, mais grave do que isso, inviabilizou o desenvolvimento e a consolidação de uma
base material suficiente para levar adiante o projeto de ampliação da soberania
nacional que vinha sendo experimentado desde o pós-guerra e cuja continuidade
e aprofundamento deveriam servir de lastro para o projeto de Estado Social que
foi delineado pela Constituição Federal de 1988. Ou seja, essa opção pelo
neoliberalismo estreitou muito as margens para pensar um desenvolvimento
nacional.
b) Junto com a regressão do parque industrial brasileiro e a progressiva perda de elos
das cadeias de produção, a matriz produtiva brasileira perdeu o passo tecnológico,
ficando cada vez mais defasada em relação às inovações técnicas e
organizacionais que avançavam em especial nas economias centrais e asiáticas.
Se, por um lado, perdemos participação em setores chaves e dinâmicos da
economia contemporânea, por outro, o padrão de inserção passiva, baseado em
ganhos de competitividade espúria, desestruturou setores dinâmicos e de maior
complexidade ou intensivos em força de trabalho (por exemplo, nos setores de
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alta tecnologia, metal mecânico, indústria têxtil, química fina, entre outros).
Enquanto isso, para sobreviver àquele contexto adverso, fortemente agravado por
um longo período de câmbio e juros fora do lugar, os setores empresariais
buscaram formas novas de organizar as atividades intensivas em trabalho
humano, lançando mão da terceirização, da contratação por hora trabalhada, da
ampliação do poder unilateral para a realização de contratos e uso do trabalho.
Claramente, dado o grau de exposição que resultou da liberalização da economia
brasileira, observou-se uma crescente transferência do risco econômico
(historicamente associado ao capital) da esfera empresarial para a do trabalhador
e as novas tecnologias (IA, Internet das coisas, robótica etc.) acabaram sendo
utilizadas como forma de acelerar e facilitar esse processo, dissolvendo os
compromissos típicos das relações de assalariamento.
Com a recente onda de inovações tecnológicas – geralmente denominadas de
Revolução 4.0, aprofundou-se a subordinação do trabalho ao capital, pois se
acentuou a dependência em relação às grandes estruturas, - a exemplo das
plataformas digitais, que vão avançando para múltiplos setores (serviços de
entrega, transporte individual, logística, produção de software, ensino, saúde,
comércio, finanças, etc..), em que tende a prevalecer a ausência ou redução de
direitos e proteções sociais. De acordo com Belluzzo (2020), trata-se de mudanças
tecnológicas no trabalho que podem ser descritas como uma “procissão de
desgraças”, uma vez que deixa um rastro de desemprego, insegurança e
precariedade. Algumas poucas ocupações geradas são de qualidade superior, mas
a grande maioria é precária, revelando uma tendência de polarização das
ocupações e de maior heterogeneidade na composição das classes trabalhadoras
c) As transformações do trabalho se processaram também por meio das políticas
públicas e do debate ideológico sob-hegemonia do neoliberalismo e ganharam
concretude com as reformas trabalhistas e dos sistemas de proteção, isto é, em
última instância, um processo de profunda redefinição do Estado. Essas reformas
tendem a caminhar juntas no sentido de sujeitar os trabalhadores à concorrência
no mercado, deixando-os em situação de maior insegurança e vulnerabilidade. Em
uma análise comparada, percebe-se que os conteúdos das reformas em diversos
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países - a despeito da distinção de seus sistemas de proteção social e de direitos
tendem a ser bastante similares. Elas introduzem contratos mais flexíveis,
despadronizam o uso do tempo de trabalho, implantam o rendimento variável,
fragilizam as instituições públicas e os sindicatos e diminuem ou derrogam as
políticas de proteção social.
A implantação dessa agenda retrata o movimento descrito por Streeck (2013) que
é a libertação ou distanciamento da “justiça de mercado da justiça social”. Tende
a prevalecer uma ação de Estado que fortalece a lógica da concorrência, inclusive
desconsiderando as bases da democracia4. Na mesma perspectiva, Prado (2018)
argumenta que uma agenda de retirada de direitos promove um esvaziamento da
substância da democracia, pois esta pressupõe cidadania, ao passo que o
neoliberalismo busca transformar o ser humano em mero agente econômico. Na
mesma linha, Dardot e Laval (2016), afirmam que estamos diante de um
movimento de “privatização das condutas”, materializado no fomento da
capacidade dos sujeitos de criar as próprias condições de acesso ao trabalho e ao
bem-estar (KREIN; COLOMBI, 2019, p. 8). Ou seja, sob o neoliberalismo,
eliminaram-se os instrumentos para a repartição dos ganhos de produtividade em
favor do trabalho e, ao mesmo tempo, foram introduzidas soluções
individualizadas, exaltando as supostas virtudes do empreendedorismo, da
meritocracia e da empregabilidade, ao mesmo tempo em que transfere para as
famílias e, em alguns casos, para as comunidades a responsabilidade pela
proteção social.
Ou seja, observa-se a combinação de uma mentalidade financeirizada e
individualista, em um contexto de escassez de ocupações, com políticas de
estímulo a contratações flexíveis (intermitente, parcial, temporária etc.) e de
organização do trabalho por demanda, em que o trabalhador pode, inclusive, ficar
à disposição sem receber salário. Com isso, a identidade com o trabalho e o
4
Para o autor, no capitalismo do século XXI, a questão é até que ponto os Estados conseguirão impor os
direitos de propriedade e as expectativas de lucro dos mercados resguardando alguma legitimidade
democrática, já que sua capacidade de fazer mediações entre direitos sociais e requisitos de acumulação de
capital está profundamente abalada.
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próprio conceito de profissão vem se diluindo e são substituídos pelo instinto de
sobrevivência que empurra para formas de empregos com elevado grau de
competição, de desvalorização das relações de solidariedade (formal e informal) e
de intensificação de formas mais precárias de contratação. Desse processo,
resultam implicações profundas na vida das pessoas, pelo grau de insegurança e
de incertezas que esse tipo de trabalho oferece em termos de futuro, além de ser
um fator que contribui para as desigualdades. Ademais, a ausência de identidade
com o trabalho dificulta a formação de vínculos entre os trabalhadores, o que é um
problema para a ação coletiva.
d) A compreensão da nossa estrutura ocupacional também tem relação direta com a
brutal desigualdade social que caracteriza o país. Dada a escassez de
oportunidades de trabalho de qualidade, uma parte substantiva das pessoas
ocupadas presta serviços às classes privilegiadas, de média e alta renda. Não por
acaso, somos o país com o maior contingente de trabalhadoras domésticas do
mundo, um traço que revela a permanência da lógica da servidão e uma herança
da escravidão. A dimensão do racismo associado às atividades mais precárias e
mal remuneradas é ainda muito presente.
Da mesma forma em que é essencial compreender as interações que se constituem
entre os sistemas econômicos e de reprodução social na manutenção da discriminação e
exclusão das mulheres do mundo produtivo em um sistema - uma vez que as políticas de
ajuste estrutural de cunho neoliberal vêm reduzindo de forma continua as políticas públicas
dos Estados - que necessita, cada vez mais, do enorme volume de trabalho gratuito realizado
pelas mulheres no âmbito do trabalho doméstico e das comunidades que envolvem cuidados,
afeto, bem estar e suporte emocional (TEIXEIRA, 2020).
Portanto, o trabalho de reprodução não é algo estático, mas dinâmico, se transforma,
se intensifica ou diminui conforme o ciclo de vida e as relações sociais. Dessa forma, as
mulheres serão integradas ao mundo produtivo sem reduzir as suas responsabilidades
domésticas, criando um conflito que se expressa nas intermitências laborais, na integração
em setores ou ocupações mais precárias, na maior vulnerabilidade em períodos de crise.
Gera-se, assim, um paradoxo porque, ao mesmo tempo em que o capital não pode prescindir
da força de trabalho das mulheres, ele reforça a exclusão por meio de práticas
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 256, p. 293-317, maio/ago. 2022.
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discriminatórias e excludentes, de ajustes fiscais e políticas de austeridade com o corte de
gastos com saúde, educação, infraestrutura e necessidades básicas forçando as mulheres a
buscar maneiras de compatibilizar a dinâmica produtiva e reprodutiva, reforçando ao mesmo
tempo a divisão sexual do trabalho por meio de uma estrutura ocupacional segmentada.
Conforme os dados do terceiro trimestre de 2020, as mulheres representavam 75% das
atividades em educação, saúde humana, serviços sociais, outros serviços e serviços
domésticos.
MUDANÇAS ESTRUTURAIS, CRISE CIVILIZACIONAL E DELEGITIMIDADE
DO
NEO-
LIBERALISMO
Como visto acima, os problemas do trabalho no Brasil são históricos e estruturais e se
agravaram com as profundas transformações recentes. Apesar do cenário não ser favorável,
há sinais de desgaste e contestação pela ausência de melhores oportunidades de emprego e
pelo aumento da precarização estrutural.
Por um lado, o avanço da utilização das novas tecnologias e de novas formas de
gestão do trabalho (“uberização”, teletrabalho, “agentes autônomos”, etc...) indica um
aprofundamento da desestruturação dos direitos, da proteção social, em que se driblam as
regras legais. Ou seja, parece ser o avanço de uma nova forma de subordinação do trabalho
que reforça as características do atual regime de acumulação financeiro e amplia ainda mais
a precarização estrutural do trabalho. No caso brasileiro, há o risco concreto dessas
mudanças virem acompanhadas de uma nova onda de desregulação trabalhista, caso sejam
aprovadas novas propostas de flexibilização dos contratos de trabalho que ampliem um
padrão de regulação equivalente à informalidade, incentivando o pagamento por hora
trabalhada. Adicionalmente, corre-se o risco do sucateamento e fragilização das instituições
públicas responsáveis por garantir a efetividade dos direitos. Neste sentido, as novas
tecnologias possibilitam o avanço da marca sem fábrica, da empresa com pouquíssimos
empregados, do varejo sem loja e do patrão que procura esconder o rosto. É cada vez menos
perceptível a fronteira entre trabalho remunerado e não remunerado, bem como é
vertiginoso o avanço do vínculo individual por meio de uma plataforma digital, a substituição
do trabalho vivo pelo da inteligência artificial e pela robótica.
Por outro lado, fica cada vez mais evidente a impotência da política econômica de
recorte neoliberal para dinamizar a produção e o emprego. Novas rodadas de austeridade
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 256, p. 293-317, maio/ago. 2022.
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fiscal, privatizações, reformas liberalizantes que visam redefinir o papel do Estado (ex:
administrativa, tributária, comercial, cambial, previdenciária, trabalhista, saúde e educação)
poderão resultar, já no curto prazo, em um agravamento da situação do emprego no país:
estima-se que o desemprego deva se manter em patamares elevados, que a precariedade se
torne explosiva e parte significativa dos postos de trabalho seja definitivamente extinta,
ampliando o número de pessoas fora da força de trabalho por desalento ou se envolvendo
em atividades muito precárias como estratégia de sobrevivência.
Porém, há também sinais de uma crise de legitimidade do neoliberalismo. Entre
outras, é possível citar as mudanças de posturas dos governos nacionais, inclusive de matizes
mais conservadoras, com disposição de intervir na economia e construir mecanismos de
proteção aos trabalhadores e às empresas. Essas iniciativas mostram que, aonde o Estado
atuou, os efeitos da crise estão sendo mitigados. Atualmente, parece que, em muitos países,
o discurso da desconstrução de direitos perdeu força e despontam os casos de aumento da
proteção social, de introdução de políticas de renda mínima permanentes, e até proposta
para derrogar aspectos flexibilizadores de reformas trabalhistas, a exemplo da Espanha. Isso
não significa necessariamente movimentos contraditórios com o atual regime de
acumulação, mas sugerem uma fragilização das teses até então hegemônicas e a
constatação de que as forças do mercado são incapazes de construir saídas para as grandes
crises. Para o nobel de economia Joseph Stiglitz (CARTA MAIOR, 2020), a maneira mais
eficaz de enfrentar o poder de mercado é aprimorar os sistemas de regulação e ampliar o
investimento público em educação, infraestrutura e tecnologia, ao mesmo tempo em que é
necessária mais ação coletiva.
Além das questões do trabalho, há outros elementos que estão provocando crescente
mal-estar social: a degradação ambiental, a pobreza e as desigualdades sociais, a crise dos
cuidados, as recorrentes discriminações e opressões de gênero e raça, o autoritarismo, a
tirania da meritocracia (SANDEL. 2020). Situações que estão gerando tensões e temores
políticos. Trata-se de uma visão expandida da luta social e que pode representar respostas à
crise do capitalismo. Em síntese, mesmo que não se enxergue, atualmente, uma clara
alternativa política, há uma crescente crise de legitimidade do neoliberalismo, o que abre
espaço para apresentação de uma agenda diferente de organização da vida social e
particularmente para o lugar do trabalho na sociedade. Neste sentido, a pandemia, a
despeito de suas mazelas, oferece uma oportunidade para abrir esse debate. O seu desfecho
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Trabalho no Brasil: desafios e perspectivas | José Dari Krein, Marcelo Manzano e Marilane Teixeira
depende da correlação de forças que se estabeleça na sociedade, considerando que as
instituições herdadas do século XX e moldadas pela perspectiva de generalização do
fordismo e das relações salariais necessitam ser repensadas para enfrentar essa nova e
complexa realidade social, para a qual o mercado é claramente incapaz.
DESAFIOS PARA CONSTRUIR DE UMA NOVA AGENDA DO TRABALHO
O primeiro desafio é analítico e pressupõe considerar que as transformações em curso
significam uma nova reconfiguração das classes trabalhadoras, mesmo tendo clareza que o
capitalismo busca sempre ressignificar suas formas tradicionais de exploração do trabalho
sob o argumento de que a flexibilização é condição para gerar emprego, que as empresas
precisam se adaptar a uma economia globalizada, que as pessoas preferem o trabalho
autônomo e a saída seria o autoemprego, o empreendedorismo, etc.
Um segundo desafio, de caráter transversal e que deve estar presente em uma nova
agenda do trabalho, é articular os direitos trabalhistas com o combate a todas as formas
históricas de exclusão e discriminação pela condição de gênero e/ou de raça. Essas formas de
opressão estão ancoradas na estrutura da sociedade capitalista, de modo que não podem ser
negligenciadas ou tratadas como lutas identitárias, uma vez que estão profundamente
entrelaçadas com a luta social e pelos direitos. Assim, repensar as formas de inserção no
mercado de trabalho, em que todas as pessoas possam ser incluídas igualmente,
independentemente de sua orientação sexual, origem e raça, faixa etária ou que apresentam
alguma deficiência. Ou seja, que a inclusão não seja vista com exceção, mas como parte de
uma sociedade mais inclusiva em todas as suas dimensões.
Um terceiro desafio, a defesa dos direitos e da proteção é essencial para não permitir
um rebaixamento ainda maior das condições de vida e enfraquecer ainda mais as instituições
públicas na área do trabalho. Ao mesmo tempo em que se deve encarar a nova realidade e
ser capaz de formular alternativas de políticas de proteção social a todas as pessoas, que
precisam ser de caráter mais universal, como direito de cidadania e independente de sua
condição de formalização.
Até determinado período do desenvolvimento capitalista, as conquistas pelas
categorias mais organizadas extravasavam para outros segmentos de trabalhadores e isso
permitia construir um sistema de direitos e proteção vinculados fortemente à inserção
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 256, p. 293-317, maio/ago. 2022.
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Trabalho no Brasil: desafios e perspectivas | José Dari Krein, Marcelo Manzano e Marilane Teixeira
laboral. A atual fragmentação da classe trabalhadora, contudo, nos faz refletir sobre a
necessidade de que os direitos e proteções sociais necessitam ser tratadas como políticas
universais, independente do vínculo. Ou seja, a negociação coletiva continua importante,
mas é hoje insuficiente para avançar nos direitos e nas proteções sociais da atual classe
trabalhadora, reconfigurada, heterogênea e dispersa geograficamente. Isso implica a
necessidade de pensar em uma organização dos trabalhadores também mais horizontal e
classista. Aproximar a ação sindical das comunidades e dos territórios, articular a luta por
direitos sociais ao acesso às políticas públicas como saúde, educação moradia, mobilidade.
Um quarto desafio é fortalecer as instituições públicas responsáveis pela regulação
pública do trabalho, que estão sendo desconstruídas para ampliar a liberdade de o capital
determinar as condições de contratação, uso e remuneração do trabalho. É um campo em
disputa, em que se faz necessário reforçar o seu papel como instrumento de proteção social
e de afirmação de direitos.
Um quinto desafio, que é central na perspectiva do presente texto, é apresentar uma
saída para o problema estrutural de falta de trabalho. Dadas as inovações tecnológicas
poupadoras de trabalho, o simples crescimento econômico – apesar de ser uma condição
necessária – não é suficiente para gerar postos de trabalhos decentes a toda força de trabalho
disponível. É crucial garantir trabalho a todas as pessoas e que estes trabalhos sejam
reconhecidos como relevantes socialmente para o coletivo da comunidade e não fiquem
restritos ao circuito de acumulação capitalista. Ou seja, mais do que nas etapas anteriores do
capitalismo, caberá ao poder público garantir o direito ao trabalho e à renda por meio de
criação de oportunidades de trabalho para atender às necessidades da vida em sociedade e
que estejam articuladas com um novo padrão de consumo e produção que respeitem a
sustentabilidade ambiental e se orientem para o bem viver. Em outras palavras, o Estado,
como empregador de última instância, ao estimular com recursos públicos o
desenvolvimento de iniciativas de cuidados, de preservação ambiental, de projetos culturais
e de melhora dos padrões de vida no campo e na cidade, permitirá que as pessoas possam
realizar atividades compatíveis com a sua vocação e sua formação profissional, bem como
dará lugar a formas de atividade em circuitos sociais não mercantilizados, com a criação de
serviços coletivos e, no limite, novos padrões de sociabilidade. A viabilização destas
proposições exige repensar como se constitui o fundo público para financiar este programa
de trabalho para todas as pessoas.
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Trabalho no Brasil: desafios e perspectivas | José Dari Krein, Marcelo Manzano e Marilane Teixeira
Outra dimensão a se apresentar para a questão da falta de trabalho é de se reconectar
com um projeto de desenvolvimento econômico e social. O ciclo expansivo que marcou o
Brasil nos anos 2000 foi fundamental para a geração de empregos e a redução das
desigualdades. No entanto, não foi suficiente para recolocar o país na rota do
desenvolvimento. Em 2016 os setores industriais de alta intensidade tecnológica
representavam menos de 6,0% do PIB e o peso da indústria de transformação caiu para
menos de 12%. O baixo dinamismo associado à crescente participação de setores menos
dinâmicos tem produzido efeitos preocupantes sobre o tipo de emprego e ocupação que são
gerados. Recuperar o potencial de inovação e de inserção em áreas estratégicas da indústria
é, portanto, essencial para alterar nosso padrão de crescimento e reverter a tendência que
tem sido sustentada nas últimas décadas pela posição de grande exportador de produtos
primários. Sem incentivos públicos e com baixa capacidade de inovação, o país reproduz uma
estrutura produtiva fragmentada, dispersa geograficamente e desconectada do ponto de
vista das cadeias produtivas, o que leva tanto ao aumento do desemprego de longa duração
quanto à crescente redundância de uma força de trabalho que, mesmo escolarizada, não
encontra ocupação condizente.
Um sexto desafio em particular é o de alcançar os jovens da periferia e aglutiná-los em
torno de um projeto de sociedade que, ao mesmo tempo, se apresente como uma
oportunidade para enfrentar o desemprego, a informalidade e a subocupação. O acesso à
maior escolaridade não resultou em melhores formas de inserção. A qualificação profissional
e a elevação da escolaridade são muito importantes como direito democrático e como
condição de cidadania, mas hoje a exclusão dos jovens não pode mais ser explicada como
consequência de um suposto déficit educacional. No Brasil, 38% das jovens negras com
ensino superior trabalham em atividades que exigem no máximo o ensino fundamental e
40% dos jovens que estão saindo das universidades brasileiras não encontram uma ocupação
compatível com a sua formação.
Um sétimo desafio é incorporar, no curto prazo, a defesa da renda básica universal,
articulada com a proposta de criação de ocupações que atendam às necessidades coletivas
que contribuam para o bem-estar coletivo da sociedade, com redução da jornada e respeito
aos direitos e à proteção social. A renda básica articulada com a proposta de redesenhar as
relações de trabalho e o uso do tempo do trabalho e de gerar postos de trabalho que
assegurem dignidade e contribuam para resolver os problemas sociais e ambientais. Ou seja,
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Trabalho no Brasil: desafios e perspectivas | José Dari Krein, Marcelo Manzano e Marilane Teixeira
a prioridade é começar a resolver o problema do excedente de força de trabalho, tendo a
renda básica apenas como um pequeno passo inicial e não uma solução definitiva.
Por último, é um desafio central recolocar a centralidade da redução da jornada de
trabalho como forma de gerar e distribuir empregos para a sociedade. Os avanços
tecnológicos permitem tecnicamente reduzir a jornada de trabalho e, como sempre ocorreu
na história do capitalismo, a questão é política e ideológica. A defesa da redução da jornada
poderia estar associada ao debate mais geral sobre a distribuição do tempo entre o trabalho
e não-trabalho e na própria distribuição das responsabilidades familiares por todos os seus
membros.
É inegável a relevância do debate sobre a jornada de trabalho para a organização da
vida social uma vez que a distribuição do tempo é um dos problemas centrais de todas as
sociedades. Os tempos são recorrentemente transformados pelas mudanças econômicas,
sociais e culturais, mas tais mudanças não se processam unicamente na esfera produtiva com
o controle da extensão, distribuição e intensidade da jornada relativa ao trabalho
remunerado, mas na forma como o trabalho reprodutivo está organizado e como mulheres e
homens distribuem o seu tempo entre essas duas dimensões de forma articulada entre si.
Apesar da grande capacidade do capitalismo em transformar as condições de trabalho, ele
não foi capaz de eliminar a necessidade de um tempo necessário para a reprodução social de
mulheres e homens. Portanto, qualquer que seja a perspectiva em que analise a jornada de
trabalho não se pode desprezar o impacto sobre a distribuição do tempo para ambos os
sexos.
Em última instância, a reversão da atual tendência de precarização estrutural do
trabalho e a construção de nova utopia do trabalho é definida na disputa política, na
correlação de forças. O desafio é construir uma agenda que seja capaz de colocar em
movimento todas as forças sociais que lutam pela transformação social. Se começamos o
presente texto afirmando que a pandemia tendeu a reforçar tendências em curso, o atual
contexto também coloca novas possibilidades de lutas sociais e redefinição de rumos no
trabalho e na sociedade, o que irá depender da capacidade de construir uma nova agenda que
responda a essa realidade em mutação.
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Trabalho no Brasil: desafios e perspectivas | José Dari Krein, Marcelo Manzano e Marilane Teixeira
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os problemas estruturais e históricos do mercado de trabalho brasileiro são
reafirmados e agravados com as transformações ocorridas no capitalismo contemporâneo.
O Brasil, diferentemente de outros países centrais, não conseguiu incorporar no sistema de
direitos e proteção formal a maioria dos ocupados, apesar de avanços expressivos do
assalariamento formal entre 1940 e 1980, no bojo do forte crescimento econômico. O
balanço de 40 anos (1980 a 2020) é que o processo de desorganização do mercado de
trabalho prevaleceu, pois há um número maior de pessoas, em termos proporcionais sem
direitos e vivendo sem proteção social, o assalariamento caiu e tendeu a prevalecer
ocupações mais precárias para a maioria das pessoas. É o fenômeno, chamado por
Kalleberger (2011), de “polarização das ocupações”, em que uma pequena parte tem
trabalhos mais qualificados e de maior renda, enquanto outra, majoritária, exerce atividades
precárias e de baixos salários, que são aceitas pela necessidade de sobrevivência. Ou seja,
apesar de uma melhora substantiva dos indicadores do mercado de trabalho entre 2004 e
2014 (queda do desemprego, avanço do assalariamento com proteção social, elevação da
renda especialmente dos que estavam na base da pirâmide social) e políticas públicas de
enfrentamento à pobreza e à desigualdade social, a crise de 2015 e 2016, adicionada às
reformas trabalhistas e do sistema de proteção social, indicam um grande retrocesso
econômico, social e político, rompendo com uma perspectiva, ainda que fraca, que avançava
na construção de uma sociedade mais integrada, com instituições públicas comprometidas
com a construção da igualdade e com os direitos sociais.
Consideramos que ocorreram, atualmente, mudanças substantivas na forma de
produzir bens e serviços, que alteraram profundamente o mundo do trabalho. Contudo, os
novos modos de vida e de sociabilidade que emergem são antes resultado de uma construção
política do que dos imperativos tecnológicos e circunstanciais do capitalismo
contemporâneo. O desafio atual é muito superior e exigirá uma ação pública que vai para
muito além de garantir a volta do crescimento econômico, de revogação de reformas
liberalizantes, trata-se de um esforço político e social similar ao que a humanidade enfrentou
para resolver o problema do emprego, após o colapso da ordem liberal, das inovações da 2ª
Revolução Industrial e das crises econômicas, sociais e políticas do começo do século XX. Para
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 256, p. 293-317, maio/ago. 2022.
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deixar mais claro o tamanho do desafio, naquele momento histórico, o excedente estrutural
de força de trabalho foi enfrentado a partir, entre outras, de quatro grandes iniciativas
políticas: 1) redução da jornada de trabalho de quase 3000 horas em média no final do século
XIX para 1500 e 1700 horas na maioria dos países europeus (GIBB, 2017), resultante da luta do
movimento trabalhista; 2) retirada da força de trabalho de crianças e adolescentes, que
passaram a ter o direito à educação formal, também fruto de lutas sociais e políticas e a
própria retirada das mulheres da força de trabalho por meio de políticas de estímulo a sua
permanência na família; 3) a incorporação dos assalariados no padrão de consumo,
fundamentalmente, por meio da elevação progressiva dos rendimentos dos trabalhos em
que parte dos ganhos de produtividade elevou o poder de compra dos salários; 4) a criação
de um amplo sistema de políticas sociais (saúde, educação,...) acessível como direito de
cidadania, que foi responsável pela criação de milhões de empregos, especialmente públicos.
Assim, além do crescimento econômico - que foi um pressuposto e, ao mesmo tempo, foi
retroalimentado por essa dinâmica - houve iniciativas políticas que proporcionaram
incorporar milhões de trabalhadores (as) em ocupações e, ao mesmo tempo, garantir um
amplo sistema de proteção social.
Essa perspectiva se altera com o avanço do neoliberalismo. Para Federici (2019), no
processo de globalização e liberalização da economia mundial, as mulheres compensaram a
deterioração das condições econômicas, por meio dos cortes orçamentários, assumindo o
provimento das famílias; um segundo aspecto diz respeito ao processo de mudanças no
mercado de trabalho com as novas formas de trabalho informal, do trabalho em domicílio,
estratégia amplamente utilizada pelos setores empresariais fixando as mulheres ao trabalho
doméstico sob a ilusão de reconciliar a obtenção de uma renda com o cuidado de sua família;
o terceiro aspecto trata da permanência das hierarquias de gênero e a violência contra as
mulheres.
Recentemente, no período sob-hegemonia do neoliberalismo as respostas políticas
foram em outra direção, com reformas que ampliaram a desproteção social e que
objetivaram deixar os indivíduos em uma situação de maior vulnerabilidade para submetêlos à concorrência do mercado. Ou seja, não houve redução da jornada geral do trabalho. A
redução, segundo dados da OIT, ocorreu pelo avanço de contratos mais precários, tais como
o por tempo parcial. Como está ficando evidente, inclusive para os organismos multilaterais,
não haverá emprego ou ocupação para todos os disponíveis a trabalhar, a nova solução que
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 256, p. 293-317, maio/ago. 2022.
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Trabalho no Brasil: desafios e perspectivas | José Dari Krein, Marcelo Manzano e Marilane Teixeira
aparece é a instituição de renda básica universal para os excluídos do mercado de trabalho. É
um avanço, mas totalmente insuficiente para enfrentar os problemas estruturais do
excedente de força de trabalho e também porque não oferece às pessoas uma perspectiva de
vida e de realização humana.
No caso brasileiro, até houve uma pequena redução do tempo médio das horas
trabalhadas nos últimos 40 anos, mas totalmente insuficiente, dados os avanços tecnológicos
e ganhos de produtividade. Assim como, também de forma tardia, houve o crescimento do
emprego público no período em análise, mas totalmente insuficiente para fazer frente às
necessidades da sociedade e de enfrentar o problema do desemprego, pois ainda temos uma
proporção menor de funcionários públicos do que os países que construíram um amplo
sistema de políticas sociais. Por outro lado, é ainda lenta, apesar de avanços importantes nos
anos 2000, a retirada de crianças e adolescentes do mercado de trabalho. Por último, o
processo de incorporação dos trabalhadores no consumo é débil, como mostram os
indicadores de desigualdade e pobreza. Ao mesmo tempo, as experiências brasileiras
recentes, especialmente de 2004 a 2014, mostraram que a incorporação no consumo tem
ainda um efeito bastante importante na geração de postos de trabalho.
Enfim, o Brasil não conseguiu alcançar uma organização mais robusta do seu mercado
de trabalho ao longo de sua trajetória histórica. Apesar de avanços em alguns momentos,
manteve-se o problema do excedente estrutural de força de trabalho e uma desestruturação
do mercado de trabalho que, se explicada em primeiro lugar pelas opções políticas, e não
deve ser entendida como resultante de determinismos tecnológicos ou de imperativos
incontornáveis colocados a partir do centro do capitalismo.
O presente artigo, em síntese - sem desconsiderar que ocorreram profundas
mudanças na forma de produção de bens e serviços, com importantes inovações tecnológicas
e organizacionais, com alteração no modo de vida e de valores das pessoas, das estruturas
familiares e demográficas - procura apontar para a necessidade de repensar a agenda do
trabalho, pois, apesar do processo de acumulação capitalista depender de um volume cada
vez menor de trabalho, que continua ocupando centralidade na vida social do século XXI.
Logo, sem enfrentar os problemas relacionados ao mundo do trabalho, dificilmente será
possível construir uma sociedade menos desigual e civilizada, em que as pessoas possam
viver a vida em todas as suas dimensões e que o trabalho socialmente relevante seja para
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 256, p. 293-317, maio/ago. 2022.
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Trabalho no Brasil: desafios e perspectivas | José Dari Krein, Marcelo Manzano e Marilane Teixeira
atender às necessidades da coletividade, inclusive em harmonia para preservação ecológica
do nosso planeta, e uma fonte de realização pessoal.
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Economia e Feminismo, nº7).
Dados dos autores
José Dari Krein
Pesquisador do CESIT (Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho) / IE da Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). E-mail: dari.krein@gmail.com.
Marcelo Manzano 5
Pesquisador do CESIT (Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho) / IE da Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). E-mail: marmanzo@gmail.com
Marilane Teixeira
Pesquisadora do CESIT (Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho)/IE da Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). E-mail: mari@uol.com.br
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 256, p. 293-317, maio/ago. 2022.
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