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Entrevista com Mario Vedovello Filho

Clinical Orthodontics

Apresentar o professor Mario Vedovello Filho não é tarefa das mais fáceis, mas é, certamente, fascinante, por ser repleta de fatos, análises e histórias que contam sobre a evolução da Graduação, da Pós-graduação e, lógico, da Ortodontia. Tendo o privilégio de ser sua filha e parceira de trabalho, tenho o ângulo que certamente poucos conhecem daquele que sabe ensinar, dividir e delegar — características dos mestres. Nascido em Mogi-Guaçu, no interior de São Paulo, em 1945, logo conheceu a vocação política, sendo eleito vereador várias vezes. Faceta, essa, que mostra a capacidade de comunicação e a preocupação com a comunidade. Graduado cirurgião-dentista há mais de 50 anos, incorpora a luta pela classe odontológica e a formação acadêmica de qualidade. Em dezembro de 2022, o Prof. Mario Vedovello Filho completa 52 anos do seu título de Mestre em Ortodontia, obtido na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (UNICAMP). Sua natureza destemida e a preocupação com a formação acadêmica fizer...

E N T R E V I S TA Mario Vedovello Filho a [8] © Dental Press Publishing | Clin Orthod. 2022 Oct-Nov;21(5):8-15 Vedovello Filho M, Bastos M, Santamaria Jr M, Vilella H, Vedovello SA b c 1 2 3 4 5 6 7 8 d 9 e 10 11 12 13 Uma entrevista com Mario Vedovello Filho Apresentar o professor Mario Vedovello Filho não é tarefa das mais fáceis, mas é, certamente, fascinante, por ser repleta de fatos, análises e histórias que contam sobre a evolução da Graduação, da Pós-graduação e, lógico, da Ortodontia. Tendo o privilégio de ser sua filha e parceira de trabalho, tenho o ângulo que certamente poucos conhecem daquele que sabe ensinar, dividir e delegar — características dos mestres. Nascido em Mogi-Guaçu, no interior de São Paulo, em 1945, logo conheceu a vocação política, sendo eleito vereador várias vezes. Faceta, essa, que mostra a capacidade de comunicação e a preocupação com a comunidade. Graduado cirurgião-dentista há mais de 50 anos, incorpora a luta pela classe odontológica e a formação acadêmica de qualidade. 14 16 17 19 b) Henrique VILELLA c) Marden BASTOS 20 21 22 d) Milton SANTAMARIA JR. e) Silvia Amélia VEDOVELLO 23 24 Enviado em: 08/09/2022 – Revisado e aceito: 01/11/2022 25 26 Como citar: Vedovello Filho M, Bastos M, Santamaria Jr M, Vilella H, Vedovello SA. 27 An interview with Mario Vedovello Filho. Clin Orthod. 2022 Oct-Nov;21(5):8-15. 28 DOI: https://doi.org/10.14436/2675-486X.21.5.008-015.int 29 Endereço para correspondência: Mario Vedovello Filho 30 E-mail: mario@vedovelloeassociados.com.br 31 32 33 34 35 36 37 38 a) Fundação Hermínio Ometto, Departamento de Ortodontia (Araras/SP, Brasil). https://orcid.org/0000-0002-5944-7937 b) Mestre em Ortodontia, UNIARARAS (Araras/SP, Brasil). Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial, Associação Brasileira de Odontologia-BA (Salvador/BA, Brasil). https://orcid.org/0000-0002-4473-583X c) Especialista em Ortodontia, EAP-ABO (Campo Belo/MG, Brasil). Mestre em Ortodontia, Faculdade São Leopoldo Mandic (Campinas/SP, Brasil). https://orcid.org/0000-0002-9993-4174 39 40 41 42 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 Em dezembro de 2022, o Prof. Mario Vedovello Filho completa 50 anos do seu título de Mestre em Ortodontia, obtido na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (UNICAMP). 15 18 44 d) Fundação Hermínio Ometto, Programa de Pós-Graduação em Ortodontia (Araras/SP, Brasil). https://orcid.org/0000-0002-3490-5030 e) Fundação Hermínio Ometto, Departamento de Ortodontia (Araras/SP, Brasil). https://orcid.org/0000-0002-7203-2867 58 59 60 61 Sua natureza destemida e a preocupação com a formação acadêmica fizeram-no trilhar um caminho ímpar. Há 34 anos é docente do Centro Universitário da Fundação Hermínio Ometto (FHO), em Araras/SP, tendo ocupado diversos cargos, como a coordenação do Curso de Graduação em Odontologia, a coordenação do Programa de Pós-graduação em Odontologia e a Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa. Por 12 anos ele foi membro do Conselho Estadual de Educação de São Paulo, órgão normativo, deliberativo e consultivo do sistema educacional público e privado do estado. Uma trajetória de vida e de vida acadêmica como essa merece ser conhecida. São muitos anos acompanhando e atuando nas mudanças no ensino da Graduação e Pós-graduação, no perfil do aluno, mas, obviamente, com aquele olhar carinhoso para a Ortodontia e seu futuro. O professor Mario, como, carinhosamente, alunos, colegas e professores o tratam, continua produzindo ciência, criando oportunidades de trabalho, participando do desenvolvimento acadêmico e lutando pelo melhor da Ortodontia. Nesse sentido, a presente entrevista é uma oportunidade para se conhecer um pouco desse legado. 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 Silvia Amélia Scudeler Vedovello (coordenadora da entrevista) 85 43 86 © Dental Press Publishing | Clin Orthod. 2022 Oct-Nov;21(5):8-15 [9] Vedovello Filho M, Bastos M, Santamaria Jr M, Vilella H, Vedovello SA Uma entrevista com Mario Vedovello Filho 87 130 88 1) A sua história de vida e sua dedicação ser- 131 89 vem como um grande exemplo para as novas 132 90 gerações de ortodontistas. Qual a sua maior 133 91 motivação para se manter atuante, ao longo 134 92 desses anos, na área de ensino? 135 93 (Henrique Vilella) 136 94 Certamente, o desafio de ensinar e formar 137 95 alunos com qualidade. Na década de 1970, só 138 96 existiam três cursos de Pós-graduação em 139 97 Ortodontia no Brasil: no Rio de Janeiro (com 140 98 o Prof. Édimo Martins), em São Paulo (com o 141 99 Prof. Sebastião Interlandi) e em Piracicaba 142 100 (com o Prof. Muller de Araújo). Eu fui fazer o 101 Mestrado porque eu queria aprender Orto- 102 dontia (Fig. 1), e, como sou do interior de São 103 Paulo, foi possível estudar em Piracicaba e ter 146 104 a honra de ser formado pelo Prof. Manoel Car- 147 Figura 1: Em 1972, na FOP-UNICAMP, recebendo, das mãos do Prof. Manoel Carlos Muller de Araújo, o diploma de Mestre em Ortodontia. 143 144 145 105 los Muller de Araújo. Também tive o privilégio 148 106 de ser colega de turma de grandes nomes da 149 107 Ortodontia nacional, como Carlos Martins Coe- 150 108 lho Filho (São Luís/MA), Dante Bresolin (Brasí- 151 109 lia/DF), Delcik Dutra (Salvador/BA), Edi Piedade 152 110 (Piracicaba/SP), Norma Sabino Prates (Piraci- 153 111 caba/SP), Caetano Gomes da Silva (Recife/PE), 154 112 Lindalva Albuquerque Chaves (João Pessoa/PB) 155 113 e Ademar Valente (Ribeirão Preto/SP), com os 156 114 quais tive momentos de excelente convivência 157 115 e aprendizado (Fig. 2). Assim, a Odontologia, 158 116 para mim, foi direcionada completamente para 159 117 a Ortodontia. Sou um entusiasta da especiali- 160 118 dade porque o profissional consegue devolver 161 119 ao paciente estética e função, melhorando sua 162 120 qualidade de vida e sua autoestima. Ao mes- 163 121 mo tempo, a docência trouxe a oportunidade 164 122 de ensinar Ortodontia de qualidade a profis- 165 123 sionais dos mais variados lugares do Brasil 166 124 (Fig. 3 e 4). Participei da formação de centenas 167 125 de ortodontistas, de todos os estados do Brasil 168 126 e de alguns países da América do Sul. Figura 2: Em 1972, com os alunos do curso de Mestrado em Ortodontia da FOP-UNICAMP ( Piracicaba/SP ). 127 169 170 128 171 129 172 [ 10 ] © Dental Press Publishing | Clin Orthod. 2022 Oct-Nov;21(5):8-15 Vedovello Filho M, Bastos M, Santamaria Jr M, Vilella H, Vedovello SA Uma entrevista com Mario Vedovello Filho 173 com a limitada qualificação do corpo docente, 214 174 que poderão resultar na formação de cirur- 215 175 giões-dentistas inaptos e inseguros. Mas fo- 216 176 cando a discussão na Ortodontia, diante desse 217 177 cenário, é essencial que o degrau seguinte, a 218 178 Pós-graduação, tanto a Lato sensu quanto a 219 179 Stricto sensu, qualifique de forma eficiente o 220 180 futuro ortodontista. Observe que, atualmente, 221 181 o aluno do curso de Especialização em Orto- 222 182 Figura 3: Em 1986, no Laboratório da Disciplina de Orto- dontia é, em sua maioria, um recém-formado, 223 183 dontia do curso de Graduação em Odontologia da Fundação Hermínio Ometto (FHO, Araras/SP ). aumentando a responsabilidade do professor. 224 Assim, vejo com muita preocupação a abertu- 225 ra indiscriminada de novos cursos. 226 184 185 186 227 187 3) Quando me especializei, na década de 1990, 188 para entrar em um curso de Especialização em 229 189 Ortodontia eram necessários muitos cursos pré-Es- 230 190 pecialização, fazendo com que o aluno iniciasse 231 191 sua Especialização com uma bagagem de conhe- 232 192 cimentos prévios. Nos dias atuais, notamos que 233 193 a grande maioria dos alunos é recém-formada, 234 sem pré-requisitos. O senhor acredita que isso 235 pode influenciar na qualidade final da Ortodontia 236 oferecida aos pacientes? (Marden Bastos) 237 194 195 196 Figura 4: Em 2022, aula no curso de Mestrado em Odontologia (área de concentração em Ortodontia), disciplina de Metodologia do Ensino Superior, da FHO ( Araras/SP ). 228 As dificuldades na formação do ortodontista sem- 238 198 2) Com o aumento na quantidade de cursos de pre existiram; o que mudou foram os contextos. 239 197 199 graduação em Odontologia no Brasil nos últimos O perfil atual do aluno de Especialização é o de re- 240 200 anos, qual sua percepção em relação à relevância cém-formado. Então, esse é o desafio atual: formar 241 201 dos cursos de Pós-graduação em Ortodontia nesse um ortodontista de qualidade nessa nova realida- 242 202 novo cenário? (Henrique Vilella) de. Uma formação preliminar, que você chamou 243 203 Tem havido um crescimento muito grande na de pré-Especialização, é desejável, mas não é mais 244 204 quantidade de cursos de graduação em Odon- a realidade. Posto isso, o curso de formação, atual- 245 205 tologia1. Nos últimos cinco anos, o número de mente, deve se moldar a esse contexto, e seu corpo 246 206 instituições de ensino superior com cursos de docente e estrutura devem se adequar. Esse é o di- 247 207 Odontologia aumentou cerca de 90% no Bra- ferencial dos bons cursos da atualidade. Eu sempre 248 208 sil1,2. Nesse cenário, a maior preocupação é a enfatizo para os meus alunos que a Especialização, 249 209 qualidade do ensino. Porém, creio não ser essa o Lato sensu, é um aprimoramento da formação e, 250 210 uma preocupação exclusiva da Ortodontia. por isso mesmo, e em qualquer área, deve ser de 251 211 Entre suas causas, podemos elencar a preo- educação continuada — ou seja, o aluno deve re- 252 212 cupação com a adequação da carga horária e conhecer a importância da disciplina, dedicação e 253 213 254 © Dental Press Publishing | Clin Orthod. 2022 Oct-Nov;21(5):8-15 [ 11 ] Vedovello Filho M, Bastos M, Santamaria Jr M, Vilella H, Vedovello SA Uma entrevista com Mario Vedovello Filho 255 busca constante pelo conhecimento. Nesse sentido, ca de qualidade. Isso é diferente do passado, e o 296 256 estimulo os docentes a buscarem novas metodolo- progresso é inegável. Assim, a infraestrutura do 297 257 gias de ensino, criar aulas dinâmicas e interativas, curso e a qualificação do corpo docente ganham 298 258 associando o conhecimento clínico e científico, destaque. O que não muda é o comprometimento 299 259 sempre atentos ao perfil dessa geração que está em que o aluno deve ter. 300 260 sala de aula. O jovem recém-especialista em Orto- 261 dontia deve, obrigatoriamente, dominar as ferra- 5) Nesse contexto, é inegável que os recursos para o 302 262 mentas de diagnóstico ortodôntico e a biomecânica tratamento ortodôntico mudaram ao longo dos seus 303 263 dos aparelhos ortodônticos, para tratar a criança, o 50 anos de profissão, e essas mudanças também 304 264 adolescente, o adulto e os pacientes na maturidade, impactam no ensino da Ortodontia. Como o senhor 305 301 265 que, hoje, buscam efetivamente a melhoria da face acha que deve ser conduzido o ensino do conteúdo 306 266 e da oclusão. E, partindo do princípio de que a Orto- ortodôntico, considerando toda a evolução tecnoló- 307 267 dontia é dinâmica, como eu já disse, jamais parar de gica da especialidade? (Silvia Vedovello) 308 268 estudar e buscar novos conhecimentos. Eu sou um ortodontista essencialmente clí- 309 nico. Sempre estive atento às mudanças da 310 269 270 4) Qual foi a maior transformação em relação aos especialidade, mas nunca perdi de vista mi- 311 271 cursos de Pós-graduação em Ortodontia ao longo nha formação. Todas as decisões clínicas e 312 272 desses 50 anos da sua atuação na área de ensino? acadêmicas relacionadas ao conteúdo dos 313 273 (Henrique Vilella) nossos cursos de formação profissional fo- 314 274 Não há dúvida de que as maiores dificuldades ram tomadas em conjunto, com base em 315 275 estavam relacionadas ao acesso, seja aos mate- evidências científicas e experiência clínica. 316 276 riais e equipamentos ortodônticos, seja à litera- Lembro, na ocasião, da nossa decisão de subs- 317 277 tura científica e aos livros-texto. Hoje, o aluno tituir os braquetes Edgewise pelos braquetes 318 278 tem acesso a todo tipo de tecnologia (computa- Straight-wire. Mudamos. Sou entusiasta do 319 279 dores, máquinas fotográficas, scanners, impres- novo. Mas sempre reforcei que o conhecimen- 320 280 soras 3D)3,4 e, também, às evidências científicas. to profundo da biomecânica, do manejo de 321 281 Já falamos um pouco sobre a questão do perfil fios de aço, das dobras de primeira, segunda 322 282 do aluno e entendo que, hoje, existem recursos e e terceira ordens, é essencial para o bom orto- 323 283 facilidades para quem quer ser um bom ortodon- dontista (Fig. 5). Entendo, também, que o con- 324 284 tista. A tecnologia traz maior velocidade de comu- teúdo ortodôntico deve incluir os conceitos 325 285 nicação e precisão na área do diagnóstico; temos clássicos de Ortodontia, no que diz respeito 326 286 o fluxo digital ou o acesso à informação científi- ao diagnóstico e tratamento ortodôntico, pois 287 327 328 288 329 289 330 290 331 291 332 292 333 293 294 334 Figura 5: Tratamento ortodôntico compensatório realizado em 2018, em paciente adulto (antes, durante e depois). 295 335 336 [ 12 ] © Dental Press Publishing | Clin Orthod. 2022 Oct-Nov;21(5):8-15 Vedovello Filho M, Bastos M, Santamaria Jr M, Vilella H, Vedovello SA Uma entrevista com Mario Vedovello Filho 337 isso não muda. Com o domínio desse conteú- Assim, além das postagens e apresentação de ca- 378 338 do, as mecânicas de ancoragem esquelética, sos, vieram as "lives". Acompanhei, participei e vi- 379 339 por exemplo, ficam mais fáceis, e tudo o que brei com o bom conteúdo. Participei de algumas e 380 340 vier será compreendido. A evolução com base adorei. O lado preocupante é do profissional que 381 341 científica sólida é bem-vinda, incluindo o busca a informação apenas nas redes sociais. Aca- 382 342 diagnóstico 3D e os alinhadores ortodônticos. bei de ler um artigo, publicado na The Angle Or- 383 thodontist5, que avaliou postagens relacionadas à 384 343 344 6) Ainda nessa perspectiva, gostaria do seu olhar Ortodontia no Instagram no período de janeiro a 385 345 sobre a facilidade de resgatar informações pela março de 2021, e mostrou que pouquíssimas afir- 386 346 internet e redes sociais. Sabemos que nem sempre mações eram consideradas confiáveis. Esse estudo 387 347 é possível checar a confiabilidade das informações. reforça que o melhor lugar para adquirir conheci- 388 348 O senhor acredita que essa mudança favorece a mento é a escola, principalmente as boas escolas. 389 349 formação profissional? Como o ortodontista pode A evolução tecnológica é necessária e bem-vinda, 390 350 se beneficiar dessa evolução? (Marden Bastos) sempre, mas o desafio fica na capacidade de inter- 391 392 351 Nesses 50 anos, acompanhei muitas transforma- pretar e checar a informação científica, e isso está 352 ções; uma delas é a facilidade que a internet pro- relacionado à boa formação acadêmica. Além dis- 393 353 porcionou para a busca de conhecimento. Quem so, a literatura6,7 tem mostrado que poucos estudos 394 354 precisou fazer buscas sem a tecnologia atual sabe abordaram o papel das mídias sociais para os pa- 395 355 da dificuldade que estou falando, e não somente cientes ortodônticos. Esse ponto merece reflexão, já 396 356 no acesso, mas também no tempo para chegar o que o leigo tem acesso direto às informações. 357 material. A internet trouxe a informação instanta- 358 neamente, podendo acessar a evidência científica 7) As empresas, principalmente as de alinhadores 399 397 398 359 do seu consultório, não precisando estar perto das ortodônticos, têm buscando atingir o público leigo 400 360 grandes bibliotecas. Essa é uma realidade. A outra por meio das grandes mídias, fato que gera grande 401 361 realidade se refere às redes sociais e ao comparti- ansiedade nos futuros especialistas em Ortodontia 402 362 lhamento de informações. As redes sociais também dessas gerações mais imediatistas. Como adminis- 403 363 vieram reforçar o acesso instantâneo às informa- trar essa questão para aqueles que estão iniciando 404 364 ções e trouxeram grande visibilidade aos profissio- a especialidade? (Silvia Vedovello) 405 365 nais. Eu acho fantástico! Um canal de comunicação É natural que a nova geração tenha ansiedade 406 366 para relatar suas experiências clínicas e acadêmi- em aprender tudo que é novo. O ensino da Or- 407 367 cas é igualmente importante e salutar. A pandemia todontia tem que gerar o alicerce para que os 408 368 gerou a necessidade de adaptação e criatividade. futuros especialistas possam utilizar as novas 409 369 410 370 411 371 412 372 413 373 414 374 415 375 376 416 417 Figura 6: Tratamento ortodôntico com alinhadores realizado em 2022. 377 © Dental Press Publishing | Clin Orthod. 2022 Oct-Nov;21(5):8-15 [ 13 ] Vedovello Filho M, Bastos M, Santamaria Jr M, Vilella H, Vedovello SA Uma entrevista com Mario Vedovello Filho 418 tecnologias com segurança. Mas não é possível dessa natureza pela CAPES abriu um leque de 458 419 pular etapas na “curva de aprendizado”. Os ali- oportunidades e, ao mesmo tempo de respon- 459 420 nhadores são reconhecidamente uma opção de sabilidades enormes para a coordenação de um 460 421 tratamento, e o ortodontista deve dominar mais Programa de Pós-graduação na modalidade 461 422 esse recurso (Fig. 6). Porém, a condução do tra- profissional, em função do desenvolvimento dos 462 423 tamento continua sendo responsabilidade do produtos tecnológicos, além dos bibliográficos. 463 424 ortodontista. Não consigo ver diferença. Para aqueles que consideram essa modalidade, 464 425 por assim dizer, “mais fácil”, seguramente des- 465 conhecem o que é Pós-graduação. 466 426 8) O senhor coordenou durante 20 anos um 427 Mestrado Profissional com grande alcance, que 428 formou inúmeros alunos do Brasil e da América 9) Ainda sobre o mesmo foco, hoje os Mestrados 468 429 Latina. Qual a diferença entre essa modalidade Profissionais desenvolvem produtos tecnológicos 469 430 em relação ao Mestrado Acadêmico, e como ela e de inovação, além dos artigos científicos, refor- 470 431 vem contribuindo para o desenvolvimento da çando a necessidade de formar profissionais de 471 432 Ortodontia nacional e internacional? diferentes perfis, vindos do mercado de trabalho 472 433 (Milton Santamaria Jr.) e do meio acadêmico. Na sua longa experiência 473 434 Essa é uma questão importante dentro do cená- como coordenador de cursos de Pós-graduação, 474 467 435 rio atual do sistema nacional de Pós-graduação. quais são as transformações necessárias que os 475 436 Na verdade, quando a modalidade Profissional docentes devem incorporar para a formação do 476 437 foi criada, o objetivo era para ser uma resposta ortodontista nos dias atuais? (Milton Santamaria Jr.) 477 438 a demandas específicas, seja na formação pro- Voltamos à questão de o aluno procurar um bom 478 439 fissional de um grupo de docentes, um contexto curso de Pós-graduação. Por quê? O objetivo de 479 440 da sociedade, uma questão econômica ou como um Mestrado Profissional ou Acadêmico é, tam- 480 441 resposta a determinado problema do setor pro- bém, formar um profissional preparado para, 481 442 dutivo. Na verdade, o que aconteceu é que a mo- além de exercer a docência, apresentar capa- 482 443 dalidade profissional respondeu ao modelo de cidade de dar a resposta necessária aos outros 483 444 política nacional de Pós-graduação vigente ao campos do mercado de trabalho e da indústria . 484 445 longo do tempo, ou seja, a modalidade profissio- Fica claro que somente bons cursos Profissio- 485 446 nal ficou como um espelhamento da modalidade nais, no caso em questão da sua pergunta, têm 486 8 447 acadêmica, na qual o produto final sempre teve o corpo docente adequado para dar resposta 487 448 um enfoque maior na produção bibliográfica, ou ao desafio enorme de acompanhar as transfor- 488 449 seja, o artigo científico. Isso foi fundamental, é mações. Nesses 20 anos de coordenação, acom- 489 450 claro, para o avanço da ciência e, em particular, panhei de perto todas as transformações na 490 451 da pesquisa em Ortodontia. Evidentemente que Pós-graduação; por isso, afirmo com tranquili- 491 452 a formação profissional não foi deixada de lado; dade que somente os bons cursos de Mestrado 492 453 muito pelo contrário, sempre formamos profis- Profissional têm condições de oferecer o corpo 493 454 sionais qualificados. A verdade é que o resgate docente para essa formação adequada. 494 455 495 456 496 457 497 [ 14 ] © Dental Press Publishing | Clin Orthod. 2022 Oct-Nov;21(5):8-15 Vedovello Filho M, Bastos M, Santamaria Jr M, Vilella H, Vedovello SA Uma entrevista com Mario Vedovello Filho 498 10) Mediante toda a sua trajetória de formação, A participação da indústria em uma agenda de 538 499 rompendo barreiras e dando oportunidade para produção científico-tecnológica em conjunto com 539 500 docentes e clínicos da Ortodontia, qual é a men- a Ortodontia sempre existiu de alguma forma. 540 501 sagem de incentivo e esperança que você deixa Considero um caminho que deve ser consolidado 541 502 para todos nós? (Milton Santamaria Jr.) cada vez mais. Tanto a Academia quanto a indús- 542 503 As crises são cíclicas e, em 50 anos, presen- tria têm a noção exata de sua dependência mútua 543 504 ciei muitos momentos difíceis. Realmente, a para o crescimento e aprimoramento. Prova disso 544 505 pandemia trouxe um novo cenário, que afetou foi um congresso realizado no fim do ano passado 545 506 diretamente o ensino e o consultório dos orto- por importante setor produtivo nacional, em con- 546 507 dontistas. Preocupo-me com os profissionais junto com professores renomados. 547 508 que parecem preferir o caminho mais rápido e 509 fácil. A Odontologia e, mais especificamente, a Outro ponto a se considerar é a participação da 549 510 Ortodontia dependem de um trabalho em longo especialidade no SUS, ponto que considero como 550 511 prazo, que parte de uma formação de excelên- responsabilidade social. Temos um país de gran- 551 512 cia e requer muita disciplina. Em momentos de des desigualdades e, justamente por isso, uma 552 513 crise, o profissional deve redobrar sua dedica- parcela grande da população não tem acesso ao 553 514 ção e investir na sua qualificação. que temos de melhor em nossa especialidade. Te- 554 548 mos mentes brilhantes na Ortodontia que, certa- 555 516 11) Diante de sua vasta experiência, como o senhor mente, poderiam trazer soluções interessantes. 556 Deixo como uma provocação para o debate. 515 517 vê o futuro da Ortodontia no Brasil? 518 (Marden Bastos) 558 519 Em relação ao futuro, considero que alguns 559 520 pontos são importantes nesse debate: aspectos 521 acadêmicos, a evolução tecnológica e de inova- 522 ção em parceria com a indústria nacional, e a 523 responsabilidade social. A Ortodontia brasileira tem um importante des- 526 taque no cenário acadêmico, e acompanha as 560 REFERÊNCIAS 561 1. 524 525 557 Vélez Rodríguez R. CFO reforça necessidade do Ministério da Educação suspender autorizações para abertura de novos cursos de odontologia. 2019 [Access 28 Jan 2019]. Available from: https://website.cfo. org.br/cfo-reforca-necessidade-do-ministerio-da-educacaosuspender-autorizacoes-para-abertura-de-novos-cursos-deodontologia/#:~:text=Em%20apenas%20quatro%20anos%2C%20 de,hoje%20n%C3%A3o%20passe%20por%20mudan%C3%A7as 2. San Martin AS, Chisini LA, Martelli S, Sartori LRM, Ramos EC, Demarco FF. Distribuição dos cursos de Odontologia e de cirurgiões-dentistas no Brasil: uma visão do mercado de trabalho. Rev ABENO. 2018;18(1):63–73. 3. Papageorgiou SN, Koletsi D, Iliadi A, Peltomaki T, Eliades T. Treatment outcome with orthodontic aligners and fixed appliances: a systematic review with meta-analyses. Eur J Orthod. 2020 Jun;42(3):331-43. 562 563 564 565 566 527 métricas de crescimento da ciência brasileira 528 como um todo. Isso obviamente deve continuar 4. Cunha TMAD, Barbosa IDS, Palma KK. Orthodontic digital workflow: devices and clinical applications. Dental Press J Orthod. 2021 Dec;26(6):e21spe6. 568 529 crescendo e, agora, com as novas diretrizes que 5. 569 530 a CAPES coloca, prevejo um incremento quali- Alkadhimi A, Al-Moghrabi D, Fleming PS. The nature and accuracy of Instagram posts concerning marketed orthodontic products. Angle Orthod. 2022 Mar;92(2):247-54. 6. Graf I, Gerwing H, Hoefer K, Ehlebracht D, Christ H, Braumann B. Social media and orthodontics: a mixed-methods analysis of orthodontic-related posts on Twitter and Instagram. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2020 Aug;158(2):221-8. 531 tativo importante. Considero que faltam cursos 532 de Doutorado no Brasil — isso é um fato. A con- 533 tinuação da formação acadêmica de qualidade 534 é muito importante e, como já destaquei ante- 535 riormente, fundamental na formação adequa- 536 da do futuro docente. 7. 8. 567 570 571 572 Meira TM, Prestes J, Gasparello GG, Antelo OM, Pithon MM, Tanaka OM. The effects of images posted to social media by orthodontists on public perception of professional credibility and willingness to become a client. Prog Orthod. 2021 Mar;22(1):7. 573 574 Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Mestrado Profissional: o que é? 2014 [Access 3 Jul 2019]. Available from: https://www. gov.br/capes/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/avaliacao/ sobre-a-avaliacao/avaliacao-o-que-e/sobre-a-avaliacao-conceitosprocessos-e-normas/mestrado-profissional-o-que-e 575 576 577 537 © Dental Press Publishing | Clin Orthod. 2022 Oct-Nov;21(5):8-15 [ 15 ]