DOI http://dx.doi.org/10.23925/1809-3876.2021v19i4p1567-1581
Construindo Cidadãos Digitais:
Proposta Curricular “Safeweb” para Crianças e Jovens em Portugal
Natália PESTANAi
Carolina ALMEIDAii
Filipe T. MOREIRAiii
Maria José LOUREIROiv
Resumo
Neste artigo, apresentam-se o desenvolvimento e a validação de uma proposta curricular em Literacia
Digital, no âmbito de um projeto-piloto na Branca (Portugal). O projeto SafeWeb tinha como objetivo
desenvolver a literacia digital de crianças e jovens entre os 6 e os 16 anos através de oficinas de formação
extracurriculares e também de pais e outros agentes educativos. Os planos de cada oficina foram
validados pela equipa da PROBRANCA e pelo Centro de Competência TIC da Universidade de Aveiro
(ccTIC UA). Esses planos foram parcialmente co-construídos com os alunos, uma vez que a planificação
inicial foi sendo adaptada às necessidades dos alunos. Como produto final, foi possível desenvolver um
Guião Orientador passível de ser aplicado em outros contextos.
Palavras-chave: Literacia digital; Aprendizagem informal; Proposta curricular.
Building Digital Citizens:
“Safeweb” Curriculum Proposal for Children and Young People in Portugal
Abstract
This article presents the development and validation of a curriculum proposal in Digital Literacy, in the
context of a pilot project in Branca (Portugal). The SafeWeb project aimed to develop the digital literacy
of children and young people between 6 and 16 years old through extracurricular training workshops
and also for parents and other educational agents. The plans for each workshop were validated by the
PROBRANCA team and the ICT Competence Center from University of Aveiro (ccTIC UA). These plans
were partially co-constructed with the students as the initial planning was adapted to the students' needs.
As a final product, it was possible to develop a Guiding Guide that could be applied in other contexts.
i
Mestre em aconselhamento dinâmico pelo Instituto Miguel Torga, Psicóloga Clínica e Diretora Técnica do
CATL – PROBRANCA. E-mail: natalia.pestana@probranca.pt - ORCID Id: https://orcid.org/0000-0002-47703550.
ii
Doutorada em Multimédia em Educação pela Universidade de Aveiro, Formadora e Coordenadora Pedagógica
do projeto SafeWeb – PROBRANCA. E-mail: carolinagabrielalmeida@gmail.com - ORCID Id:
https://orcid.org/0000-0002-2525-8628.
iii
Doutorado em Multimédia em Educação pela Universidade de Aveiro, Investigador e Professor Adjunto no
Instituto Politécnico da Guarda e colaborador do ccTIC UA. E-mail: filipertmoreira@ua.pt - ORCID Id:
https://orcid.org/0000-0002-3461-9827.
iv
Doutorada em Didática e eLearning pela Universidade de Aveiro, Professora em mobilidade no Centro de
Competência ccTIC UA. E-mail: zeloureiro@ua.pt - ORCID Id: https://orcid.org/0000-0003-3265-5311.
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Keywords: Digital Literacy; Informal learning; Curriculum proposal.
Construyendo Ciudadanos Digitales:
Propuesta Curricular "Safeweb" para Niños y Jóvenes en Portugal
Resumen
Este artículo presenta el desarrollo y la validación de una propuesta curricular en Alfabetización
Digital, en el contexto de un proyecto piloto en Branca (Portugal). El proyecto SafeWeb tenía como
objetivo desarrollar la alfabetización digital de niños y jóvenes de entre 6 y 16 años a través de talleres
de formación extraescolar y también para padres y otros agentes educativos. Los planes de cada taller
fueron validados por el equipo de PROBRANCA y la del Centro de Competencia Digital de la
Universidad de Aveiro (ccTIC UA). Estos planes fueron parcialmente co-construidos con los
estudiantes, ya que la planificación inicial se adaptó a las necesidades de los estudiantes. Como
producto final se pudo elaborar una guía orientativa que podría aplicarse en otros contextos.
Palabras clave: Alfabetización digital; Aprendizaje informal; Propuesta curricular.
1 INTRODUÇÃO
A evolução tecnológica tem progredido a uma velocidade estonteante, de tal forma que,
em momento algum da humanidade, a tecnologia esteve tão presente em nossas vidas como
agora (MOREIRA; LOUREIRO; CABRITA, 2020). Antes do desenvolvimento das tecnologias
digitais, as tecnologias existentes permitiam, essencialmente, à humanidade ultrapassar
dificuldades do mundo físico, todavia, diante das mais recentes tecnologias, acrescem-se a essa
dimensão uma compreensão mais profunda do mundo físico e natural e, ainda, o
desenvolvimento de novos mundos (digitais) (MOREIRA, 2021).
Portanto, hoje, é de suma importância que a criança desenvolva conhecimento sobre o
mundo natural, mas também sobre a tecnologia (BERS; SEDDIGHIN; SULLIVAN, 2013),
nomeadamente os artefactos tecnológicos e, mais ainda, que deles tire, em matéria de
aprendizagem, o máximo proveito.
Queremos com isso afirmar que, num mundo cada vez mais globalizado,
designadamente, científica e tecnologicamente, é vital desenvolver nos alunos competências
essenciais para enfrentar e instigar novos desafios à sociedade atual (COUTINHO; LISBÔA,
2011). Foi nesse quadro que surgiu o projeto SafeWeb, que visou o desenvolvimento de uma
proposta curricular e de um guião de conteúdos e de orientações passíveis de serem aplicados
em outros contextos, especialmente o contexto de ensino formal, sob a forma de uma unidade
Natália PESTANA, Carolina ALMEIDA, Filipe T. MOREIRA, Maria José LOUREIRO
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Proposta Curricular “Safeweb” para Crianças e Jovens em Portugal
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extracurricular ou curricular para a promoção de competências de literacia digital em jovens
conforme descrito na próxima secção deste artigo.
A proposta de desenvolvimento curricular que se apresenta neste artigo surge após um
projeto-piloto desenvolvido pela PROBRANCA – Associação para o Desenvolvimento Social
da Branca (Albergaria-a-Velha, Aveiro, Portugal) ao longo do ano letivo 2020/2021. O projeto
recebeu financiamento do BPI e da Fundação “la Caixa”. A validação externa da proposta
curricular foi realizada pelo Centro de Competência TIC da Universidade de Aveiro (ccTIC
UA). O ccTIC UA integra a Equipa de Recursos e Tecnologias Educativas (ERTE) da DirecçãoGeral da Educação de Portugal. Desenvolve projetos transversais específicos, no âmbito da
integração das TIC no processo de Ensino e de Aprendizagem em colaboração com outros
centros de competência, a ERTE/DGE e alguns dos seus programas nacionais e internacionais
e, ainda, ocasionalmente, com unidades de investigação do Departamento de Educação e
Psicologia da Universidade de Aveiro.
Preparou-se uma versão inicial de um Guião curricular com um total de 70 sessões de
promoção de literacia digital destinado a cada grupo etário (PESTANA et al., 2020) de crianças
e jovens com idades compreendidas entre os 6 e os 15 anos de idade, o qual foi sendo
reestruturado de acordo com as necessidades e sugestões dos alunos de modo a ser uma proposta
contextualizada nos desafios que estes enfrentam em seu quotidiano, nomeadamente um
confinamento geral e a interrupção letiva que ocorreram em fevereiro de 2021 (o segundo
confinamento desde o início da dispersão pandémica do vírus SARS-CoV-2).
As sessões ou oficinas decorreram em tempos não letivos, num espaço destinado à
ocupação pedagógica e lúdica dos alunos (Centro de Atividades de Tempos Livres – CATL).
Participaram de todo o estudo 52 alunos, sendo alguns deles (13) participantes a distância,
através da plataforma Zoom. Esses participantes não eram clientes da instituição que acolheu a
pesquisa e, atendendo às restrições impostas para conter a propagação do vírus, estavam
impedidos de frequentar as sessões.
Algumas das temáticas constantes da proposta curricular foram trabalhadas em sessões
destinadas a pais, encarregados de educação, e a outros adultos interessados. Estas realizaramse online, em direto na página do Facebook da instituição. A situação pandémica anulou a
possibilidade de realizar sessões presenciais, mas permitiu que a palavra dos especialistas
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convidados chegasse a uma audiência alargada, impossível de reunir numa sessão presencial.
2 ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Sabe-se que cerca de um terço dos utilizadores de Internet são crianças e adolescentes
menores de 18 anos e que a idade do primeiro contacto com a Internet ocorre a idades
progressivamente menores (UNICEF, 2017).
A utilização da Internet durante a infância e a adolescência pode acarretar riscos,
contudo permite o acesso à informação e oportunidades de desenvolvimento de competências,
em especial a crianças e jovens de contextos mais desfavorecidos socialmente (UNICEF, 2017).
A proposta curricular SafeWeb propicia desenvolver competências de literacia digital e alinhase com três dos 17 objetivos para o desenvolvimento sustentável (UN, 2015): 3 – saúde e bemestar na medida em que a utilização de recursos digitais deve ser equilibrada com outras
experiências relevantes para o desenvolvimento de crianças e jovens; 4 – educação de
qualidade; e 12 – consumo e produção responsáveis na medida em que crianças e jovens se
configuram como consumidores de conteúdos e também produzem os seus conteúdos originais,
necessitando de aprender a respeitar os direitos dos autores dos conteúdos que mobilizam para
a produção dos seus próprios conteúdos, utilizando, por exemplo, licenças Creative Commons.
Promover as competências de literacia digital revela-se importante para que as crianças
e jovens consigam aproveitar as potencialidades que a ligação à Internet lhes oferece, mas
também diminuir a sua exposição a riscos (HELSPER, 2021).
Promover as competências digitais, a par de competências-base tradicionais (de
aprendizagem, de inovação e sociais), é imperativo para as profissões futuras dos alunos
(KIVUNJA, 2014) do presente e para o esclarecimento e compreensão da realidade que os
rodeia, propiciando o sentido crítico num tempo em que diariamente são confrontados com
enormes quantidades de informação (GUERRA et al., 2020) que necessitam filtrar.
Em linha com as conclusões e metas apresentados, as três áreas temáticas da proposta
curricular foram as seguintes: riscos, potencialidades e equilíbrio e bem-estar na utilização das
tecnologias.
3 METODOLOGIA
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3.1 Elaboração e validação da proposta curricular
Planeou-se, com base nas três áreas identificadas (riscos, benefícios e equilíbrio e bemestar na utilização de tecnologia), um conjunto de tópicos a abordar ao longo das cerca de 240
sessões inicialmente planificadas. Realizaram-se ao todo 180 oficinas, 72 destinadas aos alunos
com idades entre os 6 e os 10 anos (1.º Ciclo do Ensino Básico (CEB)), 68 voltadas aos alunos
entre os 10 e os 12 anos (2.º CEB) e 42 dedicadas aos alunos entre os 12 e os 15 anos (3.º CEB).
Apesar de previamente definidas as três áreas, os participantes puderam, ao longo do
desenvolvimento do projeto, sugerir temáticas a abordar. A base de dados distribuída
(blockchain) e os modos de transacionamento de criptomoedas foram uma das sugestões,
motivada pela atualidade mediática portuguesa.
A sequência didática iniciou-se pela contextualização histórica do surgimento da
Internet, intercalou-se com a abordagem a riscos e potencialidades da exploração de recursos e
dispositivos digitais, concluindo-se com a planificação de sessões de exploração de tecnologias
emergentes (IoT, Internet dos sentidos).
A sequência cronológica de abordagem dos temas que se seguiu é apresentada no
Quadro 1.
Quadro 1 – Proposta curricular SafeWeb
CEB
Domínio
Tópico
1.º
2.º
3.º
✓
✓
✓
✓
História da Internet/O mundo antes da Internet
✓
Riscos
Viciação online*
✓
Riscos
A pegada digital/Roubo de identidade*
Riscos
Salvaguarda da privacidade online*
✓
✓
✓
Riscos
Ciberbullying (prevenir e reagir; ciberbullying em EaD)*
✓
✓
✓
Riscos
Regras para elaboração e manutenção de palavras-passe
✓
Potencialidades
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✓
✓
✓
✓
✓
Direitos de autor/Licenças Creative Commons
✓
✓
✓
Potencialidades
Escrita de e-mail
✓
Potencialidades
Compras online (acompanhamento de preços e métodos
de pagamento seguros)*
✓
✓
✓
✓
Potencialidades
Operações com criptomoeda: definições e casos atuais
Potencialidades
Dicas de Pesquisa online
Potencialidades
Bem-estar/Riscos
Influenciadores digitais e conteúdos virais (filtrar
informação de caráter publicitário e falsa)
✓
Riscos
Ciberataques à escala global: grandes ataques
Riscos
Ameaças à segurança dos dispositivos
✓
✓
✓
Bem-estar
Equilíbrio online/offline em tempos de confinamento e
em férias*
✓
✓
✓
Bem-estar
Netiqueta (boas práticas na comunicação online)
✓
✓
✓
✓
✓
Riscos
Política de privacidade (o caso do WhatsApp)
✓
Potencialidades
Conceção e avaliação de animação Stopmotion
Riscos/
Potencialidades
Localização e previsão do comportamento dos
utilizadores (triangulação de dispositivos móveis,
assistentes virtuais e algoritmos de previsão)
Riscos/Bem-estar
Literacia para os media (identificação de notícias e
informações falsas)*
✓
✓
✓
Direitos e deveres online/Direitos digitais das crianças*
✓
✓
✓
Riscos
Sexting e Sextrorsion*
✓
✓
✓
Riscos
Grooming*
✓
Riscos
(Cyber) violência no namoro
✓
✓
✓
✓
✓
✓
Bem-estar
Bem-estar
Discurso de ódio e empatia
Bem-estar
(Distorção da) Imagem corporal
Potencialidades/
Cópias de segurança
✓
✓
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Bem-estar
Potencialidades
Iniciação/Princípios de código (Scratch e MIT App
Inventor)
✓
✓
✓
Potencialidades
Tecnologias emergentes (inteligência artificial, Internet
dos sentidos, redes 5G)*
✓
✓
✓
Potencialidades
Tecnologias e ar livre (atividades outdoor com tecnologia)
✓
✓
✓
Fonte: Os autores (2021).
Nota: *Temas abordados em oficinas destinadas a pais e encarregados de educação.
Os temas abordados em cada nível etário foram adaptados, em complexidade de
abordagem e nos exemplos selecionados, à idade e maturidade dos alunos.
A proposta curricular enfatizava o desenvolvimento de competências digitais dos alunos
mencionadas em documentos nacionais, como o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade
Obrigatória (MARTINS et al., 2017), e em documentos internacionais, como as competências
relevantes para o século XXI (KIVUNJA, 2014) e os 17 objetivos para o desenvolvimento
sustentável (UN, 2015).
Cada planificação foi elaborada e validada pela equipa SafeWeb, bem como pelo ccTIC
UA. Elaborou-se um Questionário intermédio cujas questões permitiram recolher a avaliação
dos alunos. Os resultados dessa validação são apresentados na secção 4.
3.2 Proposta curricular adaptada a pais e encarregados de educação
Uma das metas do projeto SafeWeb prendia-se com o envolvimento da comunidade,
particularmente de pais e encarregados de educação. Desse modo, algumas das temáticas
(assinaladas no Quadro 1 com *) foram abordadas em sessões de promoção da literacia digital
de adultos, previstas inicialmente como sessões práticas presenciais, mas que a situação
pandémica induziu a alterações pelo que estas foram transmitidas online, em direto no Facebook
da instituição de acordo com a calendarização apresentada no Quadro 2.
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Quadro 2 – Mapa de oficinas de formação para pais/encarregados de educação
N.º
Oficina
Data
Especialista(s)
Tópico(s)
1
11/02/2021
M.ª José
Loureiro
Susana Senos
(ccTIC UA)
Pegada Digital
Salvaguarda da privacidade online
Grooming
Sexting e Sextorsion
Direitos e deveres online/Direitos digitais das crianças
Equilíbrio online/offline
2
11/03/2021
Daniela Gomes
(CNCS)
Compras online (acompanhamento de preços e métodos
de pagamento seguros)
3
08/04/2021
Filipe Moreira
(Digimedia
UA)
Tecnologias Emergentes (inteligência artificial, Internet
dos sentidos, redes 5G)
4
30/04/2021
Rute Agulhas
(ISCTE)
Viciação online
5
13/05/2021
Mónica Aresta
(Digimedia
UA)
Equilíbrio online/offline
Pegada Digital
Salvaguarda da Privacidade online
6
28/05/2021
Tito Morais
(MiudosSeguro
sNa.net)
Ciberbullying (prevenir e reagir; ciberbullying em EaD)
7
17/06/2021
Sara Moreira
(MilObs – UM)
Literacia para os media (identificação de notícias e
informações falsas)
8
01/07/2021
Cristina Ponte
(NOVA-FCSH)
EU Kids Online (resultados dos estudos)
Fonte: Os autores (2021).
O alcance das oficinas foi avaliado através das métricas analíticas da plataforma
Facebook. A análise de conteúdo dos comentários permitiu também analisar a pertinência das
referidas oficinas. Na secção seguinte, apresentam-se os resultados desta avaliação.
4 RESULTADOS
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4.1 Validação da proposta curricular e modelo de interação
A proposta curricular, apresentada no Quadro 1, foi sendo co-construída e validada pelo
ccTIC UA ao longo da implementação do projeto.
A observação participante de elementos do ccTIC UA validou o modelo de interação
seguido na maioria das sessões: apresentação de materiais de reflexão (vídeos, imagens, sons
ou textos) e discussão em grupo de ideias acerca da temática da sessão, encorajando-se a
partilha de experiências pessoais dos alunos e trabalhando o raciocínio crítico deles. Sempre
que tal era possível, dinamizaram-se atividades práticas recorrendo a dispositivos digitais,
respeitando as normas de higiene e segurança (desinfeção de equipamentos sempre que estes
eram partilhados, por exemplo).
4.2 Avaliação da proposta curricular pelos alunos
A aplicação do questionário intermédio aos alunos que participaram no projeto SafeWeb
permitiu recolher a sua autoavaliação das competências digitais e também a sua perceção acerca
da pertinência e apreciação das oficinas.
Os alunos do 1.º CEB autoavaliam-se como mais conscientes, após a frequência das
oficinas, dos procedimentos que devem ou não fazer e também das potencialidades que a
ligação à Internet lhes oferece. Uma parte significativa dos alunos considera-se inclusive mais
conhecedora da Internet do que os seus pais (dados do Gráfico 1).
Gráfico 1 – Competências digitais dos alunos do 1.º CEB (N=23)
Fonte: Os autores (2021).
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Uma parte significativa dos alunos do 2.º CEB (seis alunos) não reconhece uma
alteração nas suas competências, após a frequência das oficinas, relativamente aos
procedimentos que devem ou não fazer e também às potencialidades que a ligação à Internet
lhes oferece. Contudo, nove alunos consideram-se mais esclarecidos acerca dos procedimentos
a realizar online e sete, mais conscientes das potencialidades das ferramentas online. A grande
maioria dos alunos, ainda assim, julga ter aumentado as suas competências de literacia digital
(terceira afirmação, apresentada a laranja no Gráfico 2).
Uma parte dos alunos de 2.º CEB (sete alunos) reputa-se mais conhecedora, após a
frequência das oficinas, da Internet do que os seus pais, enquanto outra parte (cinco alunos) não
notou melhorias (dados do Gráfico 2).
Gráfico 2 – Competências digitais dos alunos do 2.º CEB (N=15)
Fonte: Os autores (2021).
A maioria dos alunos do 3.º CEB (seis alunos) considera ter ampliado as suas
competências de utilização de Internet, estando mais conscientes dos procedimentos adequados
necessários. Também a maioria desses alunos está mais consciente das potencialidades das
ferramentas online e julga-se mais conhecedora que os pais após a frequência das oficinas
(dados do Gráfico 3).
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Gráfico 3 – Competências digitais dos alunos do 3.º CEB (N=8)
Fonte: Os autores (2021).
A apreciação global do projeto SafeWeb foi bastante positiva; em abril de 2021, 44%
dos alunos gostavam e 41% afirmavam gostar muito das oficinas, como se pode comprovar
consultando o Gráfico 4.
Gráfico 4 – Apreciação global das oficinas SafeWeb (N=46)
Fonte: Os autores (2021).
Quando questionados acerca das temáticas abordadas nas sessões, a grande maioria dos
alunos do 1.º CEB reconheceu utilidade à exploração das diversas ameaças à segurança dos
dispositivos (vírus, phishing etc.), das dicas de escolha de palavras-passe e também à
exploração dos direitos dos autores e sua salvaguarda, como se pode verificar pelos dados do
Gráfico 5.
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Gráfico 5 – Apreciação dos temas abordados nas oficinas SafeWeb – Alunos do 1.º CEB (N=23)
Fonte: Os autores (2021).
Os alunos do 2.º e do 3.º CEB reconheceram utilidade e apreciaram a abordagem da
temática das operações com criptomoeda e do roubo de identidade online. Os procedimentos
de acompanhamento de preços e pagamento seguro de compras online, as ameaças à integridade
dos dispositivos ou as dicas de escolha de palavras-passe seguras foram também valorizados
por esses alunos.
Gráfico 6 – Apreciação dos temas abordados nas oficinas SafeWeb – Alunos dos 2.º e 3.º CEB (N=23)
Fonte: Os autores (2021).
No mesmo questionário, os alunos foram questionados acerca das dúvidas que
persistiam ou dos tópicos que gostariam de abordar em sessões futuras.
Apesar de já terem participado de diversas sessões em que se trataram acerca de
procedimentos de segurança durante a navegação na Internet, cinco dos alunos do 1.º CEB
manifestaram curiosidade e necessidade de conhecer melhor os procedimentos seguros na
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utilização de sites e aplicações (especialmente o Tik Tok). A exploração de aplicações de edição
de vídeo ou de aprendizagem de línguas estrangeiras foi um dos tópicos que alguns alunos
apontaram como do seu interesse.
Os alunos de 2.º CEB sugeriram aprofundar a temática da segurança de dispositivos e
os procedimentos em compras online. Propuseram ainda abordar em maior detalhe os direitos
de imagem. Um dos alunos expôs a sugestão de tratar sobre linguagens de programação.
Os alunos do 3.º CEB indicaram o aprofundamento da temática da segurança de
dispositivos e também os procedimentos de gestão do tempo online. Um dos alunos manifestou
curiosidade para conhecer as diversas partes que constituem o hardware de um computador.
Algumas dessas sugestões foram validadas e incluídas na proposta curricular.
4.3 Avaliação das oficinas destinadas a pais e encarregados de educação
As oficinas de capacitação digital, destinadas a pais e outros agentes educativos,
acumularam todas mais de 1.500 visualizações, como se pode verificar através da análise do
Gráfico 7.
Gráfico 7 – Visualizações acumuladas até 29/07/2021 por oficina destinada a pais e encarregados de
educação
Fonte: Os autores (2021).
Em todas as sessões, a audiência deixou comentários de cumprimento, parabenização
ou questões e reflexões. A generalidade dos comentários é oriunda de pais e outros familiares
dos alunos participantes. Salienta-se ainda que a quarta oficina, acerca de viciação online, foi a
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que recebeu menos comentários, cinco no total, enquanto a primeira oficina, sobre literacia e
parentalidade digital, foi a que registou o maior número de comentários, ao todo 17.
5 CONCLUSÕES
Os resultados apresentados permitem afirmar que a maioria dos alunos é da opinião de
que aumentou a sua literacia digital e apreciou os temas abordados, validando a pertinência da
proposta curricular desenvolvida após a implementação do projeto-piloto.
A proposta curricular apresentada e validada pode ser transferível para outros contextos,
principalmente o de ensino formal. A validação do Guião desenvolvido num clube, numa oferta
extracurricular ou mesmo como uma oferta curricular complementar de uma escola local, é uma
das perspectivas de trabalho futuro, que se prevê iniciar brevemente.
Organizar oficinas presenciais mensais destinadas a pais e agentes educativos e avaliar
as diferenças no modelo de interação é também uma das propostas de trabalho futuro, tendo em
vista a participação que se verificou por parte dos encarregados de educação.
REFERÊNCIAS
BERS, Marina Umaschi; SEDDIGHIN, Safoura; SULLIVAN, Amanda. Ready for Robotics:
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Recebido em: 14/09/2021
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Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo – PUC-SP
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