Dimensões da lusofonia como política linguística1
Dimensions of lusophonia as language policy
Jefferson Evaristo*
Carla Barbosa de Farias Santos**
RESUMO
Este texto apresenta um panorama sobre o conceito da Lusofonia no processo de
globalização. Busca-se apontar a importância de políticas de internacionalização
da língua portuguesa no Brasil. Os resultados da pesquisa concluem que esse tema
ainda é pouco explorado e que necessita de maiores ações voltadas para a promoção
da língua portuguesa, sobretudo em instituições educacionais de graduação e pósgraduação em letras.
Palavras Chave: lusofonia, internacionalização, língua portuguesa.
ABSTRACT
This text provides an overview of the concept of lusophony in the process of
globalization. It attempts to show the importance of politics for the internationalization
of the Portuguese language in Brazil. The research findings conclude that this topic
is still under-researched and that more action is needed to promote the Portuguese
language, especially in undergraduate and graduate educational institutions.
Keywords: Lusophony, internationalization, Portuguese language.
Recebido em 24 de abril de 2023
Aceito em 13 de julho de 2023.
DOI: https://doi.org/10.18364/rc.2024n66.1376
*
**
1
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, jefferson.evaristo@uerj.br
https://orcid.org/0000-0002-7561-5400
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, prof.carlafarias@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-5428-5601
Este estudo foi financiado pela FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, Processo SEI 260003/000538/2023.
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Considerações iniciais
Em sentido geral e comum, o termo Lusofonia é amplamente
difundido como o grupo de países que tem a língua portuguesa como língua
materna e/ou língua oficial. No entanto, diversos autores mostram que há
uma concepção histórica marcada por conflitos e prevalências que aludem
à chegada dos portugueses e da língua no Brasil, nos países africanos e no
oriente (RIZZO, 2019; PAULINO, 2015; BRITO, 2013; BASTOS, 2012).
Cabe destacar a definição de Lusofonia2 descrita por Martins (2014, p.
25) “como um movimento multicultural de povos que falam a língua mesma, o
português”. Em sentido parecido vai o verbete Lusofonia do recém-divulgado
Dicionário da Língua Portuguesa, da Acadêmia das Ciências de Lisboa, para
quem a Lusofonia pode ser:
1.comunidade formada pelos países que têm o português como língua
materna ou oficial
Angola, Brasil, Cabo Verde, Galiza, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique,
Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste, Goa, Damão e Diu e outras
comunidades em todo o mundo.
2.difusão da língua portuguesa e da cultura dos que falam português no
mundo
3.qualidade de quem fala a língua portuguesa; condição de lusófono
Ainda assim, Martins (2014, p. 25) segue com o acréscimo de que “a
lusofonia ao invés da homogeneização empobrecedora e de sentido único,
estabelecida pela globalização cosmopolita, tem a virtude do heterogêneo”
(MARTINS, 2014, p. 25). Uma dimensão de heterogeneidade já bem descrita
no documentário “Língua: vidas em português” (PORTUGUÊS, 2004). No
atual ambiente globalizado e de diversidade cultural em que as sociedades
2
Disponível em: https://dicionario.acad-ciencias.pt/pesquisa/?word=lusofonia – acesso
em 19/12/2023
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se inserem, “surgem as demandas linguísticas, que colocam em evidência
a necessidade de agir sobre as diversas línguas que circulam no cenário
das dinâmicas transnacionais”. (CARVALHO e SCHLATTER, 2011, p.
261). É a realidade da língua portuguesa no século XXI, como descrita por
Meyer (2015) ou Lopes (2013), por exemplo. Uma dimensão globalizada que
motivou, inclusive, a organização dos países lusófonos em torno da CPLP, a
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa3.
Ao mesmo tempo, diversas são as iniciativas de promoção dessa língua
no cenário mundial, levadas a cabo tanto pelos países individualmente (DINIZ,
2020; DINIZ, 2015; CARVALHO e SCHLATTER, 2011) – especialmente
e quase exclusivamente Portugal e Brasil – quanto por representações
supranacionais como a CPLP e, como uma de suas subsidiárias para assuntos
relativos à língua, o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, o IILP4.
Dentro desse panorama, nosso texto busca refletir como o conceito de
Lusofonia só pode ser entendido dentro de uma chave de política linguística e
quando se leva em consideração todos os atores envolvidos nesses processos.
Procura-se compreender como os países que falam a língua portuguesa
têm promovido ações conjuntas de promoção da língua, respeitando as
diversidades históricas e culturais e, nessa perspectiva, cabe a discussão sobre
a implementação de políticas públicas conciliatórias, pautadas no princípio
da “integração” entre unidade e variedade, visão defendida por Brito (2018;
2013), por exemplo.
Nosso texto está organizado da seguinte maneira: no primeiro
momento, este, apresentaremos o texto e exporemos nossa questão de
discussão. Em um segundo momento, falaremos acerca da discussão em
torno do conceito de Lusofonia, mostrando alguns de seus impasses e
conflitos para, na sequência, falar sobre sua compreensão como sendo uma
3
Disponível em: https://www.cplp.org/ - acesso em 19/12/2023
4
Disponível em: https://iilp.cplp.org/ - acesso em 19/12/2023
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política linguística. No terceiro momento, encerrando o texto, apresentaremos
algumas considerações sobre nossa discussão.
A nossa discussão – princípios teóricos e observações
ensaísticas.
Nesta seção, apresentaremos os pressupostos teóricos da pesquisa,
mostrando como a língua portuguesa se encontra no contexto da Lusofonia, da
globalização e das políticas de internacionalização. Inicialmente, discutiremos
a definição de Lusofonia e a relevância da diversidade cultural no contexto
linguístico dos países da CPLP para, em seguida, apresentarmos uma posição
da Lusofonia como sendo uma ação de política linguística (EVARISTO,
2022a; CALVET, 2007) que, como tal, não está isenta de embates.
O termo Lusofonia é empregado para designar o conjunto das
comunidades de língua portuguesa no mundo, ou mais especificamente,
“uma conexão, no plano institucional, dos países que assumiram o Português
constitucionalmente como oficial” (BRITO, 2018, p. 121).
Podemos considerar que essa língua “única” está presente em nove
espaços territoriais: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné
Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste,
assumidos pela CPLP5 como sendo estados-membros6. No entanto, parece que
a concepção da palavra Lusofonia nos remete a uma visão histórica e política
portuguesa do período pré-colonial, quando do espalhar da língua pelo
mundo afora. Essa concepção é tão arraigada que, mesmo inconscientemente,
destacamos sempre a origem de sua formação à comunidade de Portugal,
5
Disponível em: https://www.cplp.org/id-2597.aspx - acesso em 19/12/2023
6
Aqui, caberia uma observação acerca da composição desse rol de estados-membros. Em
Brito (2013), é apresentada uma discussão acerca, por exemplo, de a Galícia não estar
incluída nessa lista e não ser considerada como uma das partes componentes da ideia de
Lusofonia. Conhecedores da discussão, não a traremos para este texto por não ser nosso
escopo imediato.
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sem “vislumbrar a diversidade de sensações” provenientes do termo (BRITO,
2013, p. 4). De fato, historicamente,
tudo indica que a noção começou a ter maior difusão no contexto
português anos depois da descolonização, entre o final de década de 1980
e o início dos anos 1990, no marco do processo de integração da União
Europeia e da recomposição dos vínculos com os países africanos e com
o Brasil, o que permitiria a Portugal posicionar-se como um interlocutor
privilegiado entre eles e a Europa (RIZZO, 2019, p. 290)7.
Dessa forma, como afirma Brito (2013, p. 10), é difícil dissociar o
significado do termo Lusofonia do passado colonial. Os dicionários, como
vimos, comumente a descrevem como: “conjunto de povos ou comunidades
que falam a língua portuguesa”8 (AULETE, 2012); um fato que pode ser
confirmado com a simples observação etimológica do conceito, que repousa
sobre o significado dos dois elementos que formam a palavra: (i) luso, como
termo remetendo a lusitano ou Lusitânia, com a mesma significação de
português, Portugal; (ii) fonia, indicando o mesmo que fala, língua, termo
oriundo do verbo grego foneo, que pode ser traduzido por falar (AMORIM,
MARQUES e MOITA, 2005, p. 652).
Para Paulino (2015, p. 85), a “Lusofonia é Portugal no Mundo ou o
mundo à portuguesa”, o que nos mostra a imponente imposição cultural em
outros países e a ideia/ilusão de império da modernidade. Nesse contexto,
a exploração marítima dos portugueses influenciou significativamente nas
tradições culturais de diversos países, que ainda apresentam características
7
“todo indica que la noción comenzó a tener una mayor difusión en el contexto portugués
años después de la descolonización, entre fines de la década de 1980 y principios de la de
1990, en el marco del proceso de integración a la Unión Europea y de la recomposición de
los vínculos con los países africanos y con Brasil, lo cual le permitiría a Portugal ubicarse
como interlocutor privilegiado entre estos y Europa.” (tradução nossa)
8
Disponível em: https://aulete.com.br/lusofonia - acesso em 19/12/23
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marcantes da cultura portuguesa em suas raízes históricas e culturais.
“Vestígios de uma ilusão, de um sonho que levou Portugal à descoberta de
outros mundos” (PAULINO, 2015, p. 85).
Nesse ínterim, a língua portuguesa difundida no Brasil desde a
colonização traz arraigada no inconsciente dos portugueses que a Lusofonia
caracteriza o conjunto de países que assumiram o Português como língua
oficial, através de indivíduos que partilham traços culturais comuns e que se
apropriaram do mesmo falar em suas convenções.
Essa visão linguística unificada e homogeneizada é justificada pelo
processo de globalização, “que busca anular diferenças, impondo uma cultura
dominante; ou seja, é um processo que tudo padroniza e que tende a eliminar
o particular” (BRITO, 2018, p. 120).
No entanto, Bastos (2012, p. 306) afirma que a globalização precisa
ser compreendida a partir da noção de desterritorialização, posição em que as
diversas sociedades não estariam mais definidas por seus territórios, mas por
suas práticas socioculturais e políticas – e, por que não dizer, linguísticas. A
própria CPLP, em diferentes documentos oficiais, toma a língua portuguesa
como uma língua multifacetada, pluricultural e pluricêntrica (EVARISTO
2022b; CPLP, 2021; CPLP, 2017).
Nesse contexto, é preciso reconhecer o “ponto de confluência de
identidades sociais distintas e dispersas” (BRITO, 2018, p. 131), considerando
a cultura e a identidade de cada povo como fator de reconhecimento da
diversidade e da unidade. Logo, precisamos compreender a heterogeneidade
cultural dos povos que falam a língua portuguesa, reconhecendo as variedades
linguísticas como parte de um processo histórico e de formação da “unidade
na diversidade”.
A Lusofonia constitui-se, assim, “como espaço marcado não apenas
pelo uso da língua, mas também pelos usos e costumes culturais comuns,
capazes de promover as bases essenciais para um ambiente fecundo de
comunicação inter, trans, pluri e multicultural” (BASTOS, BRITO, 2013,
p. 1).
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Sobre isso, afirma Brito (2018, p. 121):
Consequentemente, a herança portuguesa manteve-se como uma das
bases do caldo cultural desses países; assim, de certa forma, pensar numa
lusofonia viável (Brito, 2017) supõe estabelecer ou restabelecer vínculos
históricos e culturais entre países de diferentes regiões do globo, partindo
de elemento comum, a língua portuguesa – que, necessariamente, se
reveste de normas distintas em cada localidade.
Assim, a autora parte do elemento comum entre as comunidades, que
é a própria língua portuguesa, e argumenta sobre a necessidade de considerar
sua importância na história de diversas localidades. Dessa forma, antes de
considerar a língua como “única”, é preciso considerar o contexto geográfico
e multicultural em que os variados sistemas linguísticos se inserem.
Nesse contexto plural baseado em “unidade na diversidade”, rompese o conceito de centralidade da Lusofonia como uma comunidade idealizada
pelos portugueses e marcada pela visão colonial.
De acordo com esse entendimento, Paulino afirma que “os portugueses
imaginam-se no centro de uma comunidade que só existe na sua imaginação”
(PAULINO, 2015, p. 88). No entanto, esse imaginário lusófono deve ser
ressignificado pelo imaginário da pluralidade e da diferença. (BASTOS,
BRITO, 2013, p. 4). É nesse sentido que, ecoando outras vozes, as mesmas
autoras vão defender que a dimensão de Lusofonia assumida por Portugal só
em um sentido muito estrito poderia coincidir com as mesmas concepções do
conceito assumidas por cada um dos outros países que a compõe.
Desse modo, o conceito de Lusofonia ultrapassa a dimensão
linguística e geográfica e passa a considerar a identidade cultural e particular
de cada comunidade; significaria, portanto, “um espaço de articulação da
diversidade em uma base unitária.” (BRITO, 2018, p.127).
Essa é a concepção que, por exemplo, a CPLP assume para a Lusofonia,
procurando reconhecer as diversidades e afinidades linguístico-culturais e
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identitárias que unem os países. No entanto, parece-nos haver um impasse
que merece um olhar mais criterioso e reflexivo.
É Rizzo (2019, p. 290) quem vai defender que a Lusofonia tem tido um
peso desigual no mundo lusófono, com Portugal conferindo status e relevância
consideravelmente maior ao conceito do que o Brasil, os países africanos ou
os espaços orientais da língua. Partindo dessa premissa, a autora buscará se
desvencilhar da noção de uma Lusofonia como comunidade linguística ou
identitária para defender que sua compreensão só pode ser dada dentro de um
âmbito de políticas linguísticas.
Para começar, para a autora, “a área linguística da Lusofonia caracterizase pela ausência de uma entidade reguladora forte e, consequentemente, de
instrumentos linguísticos que assumam o papel de representar essa língua
de forma unificada”9 (RIZZO, 2019, p. 291). Essa incapacidade – a despeito
da criação da própria CPLP ou de suas subsidiárias, como o IILP – decorre,
dentre outros elementos, de ao menos duas questões às quais queremos dar
destaque: a primeira, pelo fato de as ações supranacionais defendidas por
essas instituições por vezes conflitarem ou serem desconsideradas pelos
instrumentos políticos internos. Apenas a título de exemplo, a promoção
internacional da língua portuguesa é dada no Brasil a partir do Ministério das
Relações Exteriores, enquanto as ações culturais são feitas pelo Ministério
da Cultura e as ações educacionais são feitas pelo Ministério da Educação10;
isso tudo enquanto, globalmente, a CPLP/IILP traça(m) diretrizes mundiais
para a língua. No meio de tantas instâncias, é natural que haja desencontros,
9
“El área idiomática de la lusofonía se caracteriza por la ausencia de una única entidad
reguladora fuerte y, en consecuencia, de instrumentos lingüísticos que asuman el papel
representativo de todas las variedades como un todo” (tradução nossa)
10 Durante os quatro anos da presidência de Jair Bolsonaro (2018-2022), essa estrutura foi
parcialmente modificada, em seus nomes e atuação; a partir de 2023, com o terceiro
mandato do presidente Lula, a questão parece retornar ao modelo anterior a 2018. De
qualquer modo, no momento da escrita final deste texto, o novo governo estava em
vigor há pouco mais de um mês; um tempo muito curto, portanto, para apontarmos
qualquer análise.
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como aconteceu com a criação do então Instituto Machado de Assis. À época,
buscava-se a criação de um instituto que, aos moldes do Instituto Camões
de Portugal, pudesse ser a representação internacional e a instância de
promoção e difusão da língua portuguesa no mundo. Em 2004/2005, houve
algumas movimentações nesse sentido, chegando a haver a Portaria n.4.056,
de 29 de novembro de 2005, que realizava a criação da COLIP, a Comissão
de Língua Portuguesa, órgão que seria responsável pela estruturação do
projeto. Problemas internos entre os ministérios, entretanto, fizeram com que
o trabalho da COLIP nunca pudesse ser terminado e, por consequência, o
Instituto Machado de Assis nunca fosse concretizado11. Como se vê, se nem
mesmo dentro do Brasil é possível haver diálogo e resolução para uma ação
comum, como seria possível havê-lo supranacionalmente com uma dezena de
outros países? De qualquer forma, o fato é que o exemplo citado corrobora a
defesa de Rizzo (2019) sobre estarmos diante de uma comunidade definida
por ser uma política linguística.
Para exemplificar novamente essa discussão e reafirmar a dimensão
sociopolítica da questão, tomemos por base a constituição do Dia Mundial
da Língua Portuguesa (PINTO, 2020), instituído pela CPLP no dia 05 de
maio. Por iniciativa dessa instituição, em todo o mundo se comemora e se
celebram atividades pelo dia da língua. A data rememora a morte de Camões,
considerado o escritor-mór de toda a Lusofonia. Contrariamente, no Brasil,
após a Lei 11.310 de 12 de junho de 200612, há a celebração do Dia Nacional da
Língua Portuguesa, comemorado a 05 de novembro em homenagem à data de
nascimento de Ruy Barbosa, aquele que é tido como um dos maiores nomes
da política e da diplomacia brasileiras. De acordo com Rizzo (2019), o Brasil
11 Algumas das informações não estão mais disponíveis nem mesmo no site do projeto,
que pode ser consultado online. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/conaescomissao-nacional-de-avaliacao-da-educacao-superior/191-secretarias-112877938/sesu478593899/13443-instituto-machado-de-assis-apresentacao - acesso em 19/12/2023.
12 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11310.
htm - acesso em 19/12/2023.
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designou uma data distante da promulgada por Portugal para apresentar uma
tendência separatista para a data; não discordamos e, acrescentamos: o fato
de haver uma data brasileira serve, inclusive, para esvaziar as comemorações
da data internacional.
Outra tensão marcada por relações de poder foi a padronização do
português europeu com o português brasileiro através do AOLP, o Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa. O objetivo do acordo era unificar as duas
ortografias oficiais dessa língua para favorecer uma maior circulação dos
materiais produzidos em língua portuguesa. Desde então, o AOLP é uma
verdadeira arena de disputas.
De acordo com Rizzo (2019, p. 301), os argumentos de Portugal eram
de rejeição à proposta, evocando uma suposta pureza da linguagem – no
que era visto, também, como uma pretensão de hegemonia por possuir uma
alegada legitimidade para tanto. O posicionamento do Brasil, entretanto, era
de total indiferença à questão. Portugal chegava ainda a alegar que o Brasil
queria como que tomar a língua para si e ditar tudo sobre o AOLP, invertendo
o “vínculo tradicional de dominação portuguesa de (ex)colonizador para (ex)
colonizado”13. (RIZZO, 2019, p. 301).
Nesse contexto de disputas ideológicas, o acordo elaborado pela
Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras, e assinado
pelos representantes oficiais dos demais países, foi o “primeiro passo para
um novo modo de gestão política - internacional, convergente, multilateral e
comunitária” (RIZZO, 2019, p. 302), uma vez que manter normas diferentes
para uma mesma língua
vai se tornando mais e mais disfuncional na medida em que as
línguas vão se tornando mais e mais centrais no processo econômico
internacionalizado e à medida que a competição entre as grandes
línguas pela veicularidade e pela entropia vai aumentando, consequência
13 “tradicional vínculo de dominación portuguesa del (ex)colonizador hacia el (ex)
colonizado” (tradução nossa)
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esperável do estatuto que as línguas passam a gozar no capitalismo justin-time (OLIVEIRA, 2013, p. 423)
Assim, a despeito de serem interesses diversos, os Estados que
integram a CPLP devem fornecer-lhe autoridade, autorização e gestão para
que essa entidade possa implementar o AOLP. Ao fim, tal ação seria benéfica
a todos os Estados, como apontou Oliveira (2013). É claro que, neste ponto,
haveria muito mais a ser dito, o que não podemos fazer pela brevidade do
espaço para esta análise.
Nossas observações vão no sentido de compreender a Lusofonia,
uma política linguística, como sendo um espaço de disputas e tensões
sociopolíticas em torno do papel da língua, dos países que a falam e das
representações e posições que são possíveis a partir dela. Os três exemplos
aqui listados serviram para sustentar nossa posição e para exemplificar aos
leitores o cenário que descrevemos.
Considerações finais
Nossa exposição buscou discutir o conceito de Lusofonia e
compreender como ele é importante para organizar a gestão nacional e
internacional da língua portuguesa. Uma gestão que só pode ser considerada
quando vista como uma política linguística.
Buscamos mostrar como a Lusofonia e a representação supranacional
da língua portuguesa pela CPLP/IILP atuam efetivamente como instâncias de
planejamento e organização da promoção desta língua, e como isso é feito em
um cenário de conflitos, impasses e embates. Como acontece não raramente
com as políticas linguísticas, sua assunção é permeada por esses embates.
Nossa proposta, breve e concisa, buscou trazer mais um elemento
para essa discussão, na certeza de não haver esgotado o assunto. Esperamos
que os leitores possam obter pontos de inflexão para, de nossa pesquisa,
empreenderem outras discussões acerca do tema.
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