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Aspectos que influenciam sua atuação profissional

2019, Editora UFFS eBooks

Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribição 4.0. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento 4.0.

Parte 2 11. Aspectos que influenciam sua atuação profissional Camila Gasparin SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros GASPARIN, C. Aspectos que influenciam sua atuação profissional. In: O tradutor-intérprete de Libras escolar, seu conhecimento de Física e a percepção de sua práxis [online]. Chapecó: Editora UFFS, 2022, pp. 84-92. ISBN: 978-65-5019-049-1. https://doi.org/10.7476/9786550190507.0012. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International license. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribição 4.0. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento 4.0. 11.ASPECTOS.QUE.INFLUENCIAM.SUA. ATUAÇÃO.PROFISSIONAL Refletir sobre sua práxis é processo importante para qualquer profissional que busque desempenhar sua função com qualidade e efetividade e neste exercício os intérpretes apontaram como aspectos influentes a sua práxis o conhecimento e o domínio da Libras pelos intérpretes; a falta de sinais; a participação do professor e a interação dele com o aluno surdo; a visão do intérprete sobre sua função; a estrutura e as condições para atuar adequadamente, incluindo, mas não se limitando ao ambiente, tanto quanto às suas condições, como em relação ao nível de ensino; a questão da concretude do raciocínio do surdo e sua dificuldade de abstração; o papel da família e sua atuação na educação dos surdos; a Libras como língua materna e seus efeitos na aprendizagem da Língua Portuguesa; as dificuldades em relação às disciplinas específicas, em especial às ciências; a Física e a evolução dos conhecimentos relacionados à ela e a falta de contexto ou sentido trabalhado pelo professor. Quanto ao domínio da Libras, os intérpretes relatam: […] eu acho que eu sou muito boa em Libras […] sabe quando tu tá emocionado interpretando porque o que tu tá passando é de emoção e tu percebe aquele surdo chorando […] eu consigo fazer esse papel (I1). e […] eu consigo me virar bem na Libras […] mas é por causa da disciplina, num ensino... tipo, ensino médio, é várias disciplinas, sinais diferente, que eu acho que, até então, eu... até o nono ano tava um pouco mais tranquilo (I3). Além disso, “[…] a falta de sinais, que às vezes a gente vai ter que construir sinais com o aluno” (I4). 85 Estes relatos mostram que eles percebem seu conhecimento da língua como suficiente para o desempenho de sua função ainda que, obviamente, existam dificuldades. Eles também abordaram seu papel e o do professor em sala de aula, […] quando você é intérprete dum professor, a voz do professor, os sinais que ele faz é a tua voz. […] talvez alguém que tivesse um conhecimento na área, formado na área, talvez, não poderia passar porque essa é a função do professor, né? (I3). e Então eu vejo, assim, que eu dou o meu máximo enquanto eu estou ali interpretando. […] Então o que que teria que ser feito junto com o professor, né? O conceito disso e a partir desse conceito, junto com o aluno surdo, cria-se um sinal, mas não é um sinal oficial, é um sinal apenas pra comunicação, pra que eu não precisasse de cada vez que a professora falar [...], se a professora falasse isso cinquenta vezes naquela manhã, eu não precisaria usar a datilologia, a gente combinaria um sinal pra isso (I4). Sempre vale lembrar que a responsabilidade quanto à aprendizagem do estudante é do professor, que deve se preocupar com ela, auxiliando o intérprete com qualquer dificuldade e lacuna de comunicação como a falta de sinais que pode acontecer. Porque também existe uma diferença pra você que quer ser intérprete e professor bilíngue. O intérprete, ele vai atuar como um celular, ele vai ser o elo entre duas pessoas. É só isso que o intérprete faz. O que ele está falando, eu vou interpretar ou eu vou traduzir para a língua de sinais. É esse o meu papel como intérprete. Segundo o professor bilíngue, não. Segundo o professor bilíngue, ele vai ter atuação, ele tem que ensinar. Ele vai ter que entender o que o professor está passando, ele vai ter que entender o conceito, ele vai ter que ensinar para o aluno. A responsabilidade é dele, né? Então são dois campos diferentes, mas que se misturam. Por exemplo, se eu for atuar numa palestra, eu vou ser um intérprete. Se eu vou atuar numa convenção, num discurso, então eu vou ser um intérprete, mas em sala de aula, todos os intérpretes, eles são meio que professores bilíngues porque eles acabam fazendo mais do que só interpretar. Eles acabam fazendo mais do que só traduzir. Porque a gente tem o lado humano, ele pensa assim, não, no ensino médio, eu vou ser só intérprete. Se o aluno soube adquirir o conhecimento ou não, não é minha responsabilidade, mas ainda assim, lá dentro, eu penso assim, se eu entendo, se eu sei, eu posso passar. Então por que não passar? Então eu tenho esse lado. Por isso que os alunos surdos que eu pego geralmente se dão bem, assim, porque eu costumo 86 fazer assim, ó, você entendeu? E o aluno, sim, eu entendi, então agora você me explica. O professor não pediu pra ele explicar, mas eu, como intérprete, pedi pra ele explicar porque isso é uma maneira de eu pensar assim, então a minha tradução ou a minha interpretação atingiu o ponto porque ele explicou o que eu interpretei ou o que eu traduzi, né? (I4). O intérprete de Libras também precisa, para desenvolver suas atividades em sala de aula, de um ambiente adequado. As condições disponíveis para sua práxis, quanto ao ambiente físico, têm influência em todos os níveis de ensino, bem como os conceitos abordados nas disciplinas. No entanto, o próprio nível de ensino tem influência, uma vez que estudantes mais velhos têm menor dependência intelectual do intérprete, o que os permite focar apenas na interpretação. Outros pontos citados foram a simultaneidade do discurso do professor e escrita no quadro, posicionamento físico disponível ao intérprete em relação ao aluno, liberdade para movimentar-se e até para utilização do quadro negro ou de um quadro próprio. Os intérpretes percebem, como é sabido, a função cognitiva do estudante surdo sendo mais concreta não apenas mas também pela Libras e sua estrutura viso-espacial, influenciando o raciocínio lógico-matemático, as vivências sociais com outros surdos e a experiência de vida, que cria bases para novas aprendizagens, conceitos empíricos sobre os quais construir os científicos, e as dificuldades que podem ser consideradas naturais do surdo ter o Português como segunda língua, o que dificulta a aprendizagem desta língua, diferente de sua materna, Libras, inclusive em canal de comunicação. A minha dificuldade principal, eu acho que ainda tá nas famílias porque a gente trabalha muito aqui, na escola, e as famílias não dão a ponta porque a família não consegue se comunicar com o surdo. […] O surdo não tem uma lógica... tu desenha o que que é uma multiplicação, gente, é três conjuntos, então é três vezes quanto, é quanto eu vou poder... não anda, [...] daí quando ele olha e diz, ah, era só isso? Sim, mas daí tu já se matou quinze aulas, vinte aulas, desenhou, pintou e não dá (I1). Seriam estas dificuldades presentes unicamente no trabalho com estudantes surdos? I1 expressa as dificuldades que aparecem quando não há comunicação entre a família e o surdo, que pode acontecer pelo desconhecimento da Libras 87 pela família, mas atualmente também falta diálogo entre pais e filhos falantes de Português, onde esta dificuldade linguística não existe, mas que resulta igualmente na falta de orientação do estudante, principalmente durante a adolescência. […] esse ano, a minha aluna não sabe muito, assim, eu tento mais ensinar a língua pra ela, o conceito das coisas pra ela, do que interpretar ou trocar uma ideia com ela. […] De Libras, de mundo, porque ela é só em casa […]. Então o surdo que vem da escola municipal, por exemplo, ele vem sem saber nada (I2). e Assim, no ensino regular até o ensino médio, português é muito difícil interpretar porque é a segunda língua do surdo e uma língua que é encarada por ouvintes como uma das línguas mais difícil, mais cheia de regras e classes e tudo, né? Então pro surdo é muito difícil interpretar regras do português (I4). Ambos os intérpretes relatam existir desconhecimento e dificuldade do surdo com sua própria língua materna, a Libras, e no Português, sendo ambos sinais de uma falha em sua educação formal, mas também na familiar, sinalizando a falta de trocas e diálogo, acontecendo com ouvintes, porém quanto à norma culta do Português. A dificuldade do surdo com o Português se dá pela sua gramática, modalidade, pois ele, falante de Libras, traz a relevância de todo aspecto e gramática espacial e temporal, diferentemente do Português, o que o faz menos cognitivamente acessível aos surdos. Esta dificuldade é expressa por I1 como existindo também na Matemática, que pode ser devido ao seu pensamento concreto e exigência matemática de abstração. Isso. O surdo não tem uma lógica... tu desenha o que que é uma multiplicação, gente, é três conjuntos, então é três vezes quanto, é quanto eu vou poder... não anda, meu Deus, daí quando ele olha e diz, ah, era só isso? Sim, mas daí tu já se matou quinze aulas, vinte aulas, desenhou, pintou e não dá (I1). Outra dificuldade apontada pelos entrevistados foi sua própria dificuldade com as Ciências Exatas, apenas um expressando facilidade conceitual e matemática na Física. Os motivos para isto variam, mas podem ser apontados como características individuais, tendo I1, por exemplo, dificuldade geral nestas 88 ciências, que pode remontar ao ensino-aprendizagem da lógica matemática no ensino infantil e fundamental. Bem difícil. Eu entrei muito jovem porque a minha irmã é surda, então ela entrou e eu fui indo junto com ela. Então eu tava sempre um ano antes da minha idade certa pro colégio porque, no meu tempo, a gente entrava antes do primeiro, da primeira série, então, daí eu adiantei um pouco, assim, então acho que a minha maturidade, a fase, meio que prejudicou bastante. Eu fui entender mais as exatas, assim, quando eu já tava maior, assim, né? (I2). e Com dificuldade […] eu não lembro mais de química e física. Química, não lembro dessa professora que me dava aula, sabe, mas matemática, sempre, desde pequena, sempre no vermelho (I3). O intérprete I1, que relata ter dificuldade nas Ciências Exatas, relata que cursou magistério no 2° e 3° ano do Ensino Médio, o que levou a ter estudado Física apenas no 1° ano desta formação, não tendo tido acesso formal aos conceitos de Física II e III, o que colabora para a dificuldade relatada juntamente ao desconhecimento dos sinais dos conceitos não aprendidos, naturalmente. Então, eu posso te dizer que eu tive muita dificuldade […] eu me deparei mesmo quando eu voltei pra escola, interpretar, e foi bem assustador pra mim porque eram tudo termos novos, eu não tinha nem a base da Libras nesse campo. […] Então assim, a gente sempre pesquisa, a gente corre atrás. Hoje eu tenho […] meu dicionário, na área da física e na área da química, que são duas disciplinas que eu tenho muita dúvida e que eu sempre tô buscando, mas nem sempre eu ter esse dicionário me ajuda com o aluno porque eu sei o sinal e o aluno tem que saber o conceito. E essa é a nossa maior dificuldade hoje (I1). Para I2, a dificuldade residia na matematização exigida nas avaliações, o que vem perdendo força na Física, com mudança de foco para a fenomenologia e capacidade de explicação. Não era difícil. A questão era que, assim, por exemplo, a gente não tinha acesso às provas, se tu não deduzisse a fórmula, tu não sabia. […] Não tinha formulário. […] Mas só que não sei o que que pensavam, né, a gente tinha bastante dificuldade porque tu saber todas as fórmulas não é fácil. Tem que deduzir uma 89 fórmula. Imagina, a gente não é física, a gente... sei lá, eu ia muito mal em física. […] Obviamente que física é mais difícil. Química é mais difícil. Mas é mais difícil no sentido que se tu for bem didática, eu consigo interpretar porque é muita coisa concreta. […] Hoje, a minha dificuldade é interpretar. […] alguma coisa sem contexto (I2). A necessidade que I2 coloca de compreender o que está interpretando, tendo dificuldade de fazê-lo quando não faz sentido ou não tem contexto em sua visão, tem origem no discurso e na didática do professor com quem trabalha, não nas disciplinas interpretadas. Isto poderia ser resolvido se houver um trabalho a longo prazo em parceria com este professor, o que não acontece pela formação de contratação dos intérpretes. Já I3 não tem interesse nas Ciências Exatas, sendo isso uma característica pessoal, por não ver sentido e considerar difícil assimilar os conceitos, o conhecimento, sendo influenciado também por não vislumbrar em sua adolescência uma formação superior, uma vez que é de origem muito humilde. Não sei, porque eu nunca pensei em ser... eu pensei, ah, o pai e a mãe não tinha dinheiro pra ajudar na faculdade, eu nunca... tipo assim, a gente se esforçava o tanto pra dizer, ai, isso eu vou precisar, eu preciso aprender pra isso, pra aquilo. Ia na aula completar o ensino médio. […] Eu nunca pensei assim, ah, vou estudar porque o pai e a mãe vão ter condições, vão me pagar uma faculdade, eu vou precisar isso. Também pela falta de clareza que... até o pai e a mãe, por ser analfabeto, incentivava, tem que estudar, tem que estudar, mas, depois que completou o ensino médio, acabou […] Daí pega o ensino médio, já são sinais mais profundos, mais conceito, mais... e daí o intérprete tem que tá... e tem horas que tem umas palavra que a gente quase não entende (I3). e No nível regular, os conceitos, eles são mais fáceis, por quê? Porque eu fui aluno do ensino regular. Então eu já passei por essa disciplina, eu já passei por essa matéria, eu já passei por esse conceito. […] o professor que se formou nessa disciplina, ele estudou por semestre. Só que eu não me formei em Cálculo I, Cálculo II, Cálculo III. Então quando a professora começava a dizer assim, então agora a integral não sei o que, não sei o que, tinha falado grego para o intérprete. […] O aluno, ele fazia engenharia da computação, né, talvez um dos cursos, assim, dum grau de dificuldade alto porque é muita coisa abstrata. Quando teve a disciplina de inteligência artificial. Então assim, como traduzir coisas pruma cultura que é muito literal as coisas (I4). 90 Somos gratos pela forma aberta com que os intérpretes expressaram suas dificuldades, sendo as disciplinas citadas majoritariamente as Ciências Exatas, Química, Física e Cálculo, relacionando esta dificuldade ao pouco ou nenhum conhecimento que têm delas, I3 e I4, ou à didática e capacidade do professor de contextualizar o conteúdo, I2. Especificamente quanto ao conhecimento de Física dos intérpretes, discutimos se eles perceberam influência de sua práxis, ao longo de suas carreiras, pelo contato repetido com os conceitos desta disciplina para a interpretação em sala de aula e influência das escolhas de sinais e até o conhecimento desses. Não para explicar o conceito ao aluno, mas para escolher adequadamente os sinais de forma a manter o expresso pelo professor. Cada intérprete tem uma visão diferente deste processo e suas razões. O intérprete I1 relatou que “Sim, muita. […] Hoje, eu não lembro porque tô parada, mas quando eu pego, aí vai embora” e os demais colocaram: Eu aprendi muita coisa. O conhecimento, assim, bastante coisa... […] todo dia, eu aprendo alguma coisa. […] Como a gente não aprende, não guarda tudo, é impossível, então a repetição faz tu aprender, claro, mas assim, eu aprendo todo dia (I2). Sim. Um pouco. Mas, ó, eu lembro o que eu interpretei porque, tipo, como você faz essa... o teu cérebro tá pegando duma língua, tá transformando pra outra, eu não consigo. Eu sei que eu interpretei, o conceito já... […] mas é que eu... é duas língua num momento só que você tá fazendo a conversão ali, dá um conhecimento maior, sim, você adquire, mas os conceito, assim, no momento que você tá interpretando, você não... eu, praticamente, não lembro (I3). [...] pra mim, é mais fácil a cada ano que passa porque a gente vai fixando. […] se eu fosse interpretar, esse ano, física já seria o quarto ano que eu vou interpretar a física. Então cada ano eu só vou aumentando mais […] Eu tenho facilidade quando o professor tá explicando, ah, isso eu... pronto, agora eu consigo interpretar. […] assim, em sala de aula, como eu falei antes que eu gosto de ver o livro, né, eu gosto e leio. Então eu começo a folhear o livro e eu tô sempre com o livro da disciplina. Então o professor deu lá a atividade pros alunos fazerem. O aluno tá fazendo a atividade, o que que eu tô fazendo? Folheando o livro. Tô lendo ali as imagens, o conceito que falou aqui […] E assim, eu acho que em sala de aula talvez o intérprete, ele consiga construir conceito, entender o conceito, né, o que que o professor tá passando, eu vou interpretar (I4). 91 Podemos perceber então que I2 e I4 dizem ter aprendido conceitos de Física durante sua atuação por diferentes razões. I2 considera isto devido à repetição da interpretação dos conceitos, o que fica claro nas suas respostas aos questionários de Física. I4 atribui a evolução do conhecimento por seu gosto pela leitura e dedicação ao estudo do que precisará interpretar, o que faz nos momentos que o aluno surdo realiza atividades orientadas pelo professor. I1 e I3 não mostram tanta segurança quanto aos conceitos de Física, sendo que I3 relata não se concentrar aos conceitos durante a interpretação, mantendo foco apenas nesta. Perguntamos, então, sobre suas atividades profissionais e a influência do conhecimento de Física deles, e o que expressaram foi: Eu acho que […] ele é importantíssimo. Eu acho que eu vejo […] que nós, intérpretes, temos que ter esse conhecimento básico. […] Então assim, a gente tem que se preparar. Eu vejo que eu tenho bastante conhecimento, mas às vezes me falta muito conhecimento (I1). […] eu entendo, tem que entender, né? Eu acho que aprendo bastante coisas. Se eu não sei, eu tenho que de alguma forma voltar a aprender. E eu levo esses conhecimentos não só pra interpretação, pra minha vida, [...] E assim, às vezes, a pessoa tá falando uma coisa, claro, eu não sei detalhadamente explicar, mas eu entendo o que a pessoa tá falando, sabe? Ah, o que que é isso? O que que é aquilo? Aquele outro. Eu tenho uma ideia do que é. Então eu não sou uma pessoa, não sei nada (I2). Eu não sei se chega a ser uma influência porque eu não tenho conhecimento na área, mas eu tento fazer com que ele seja entendido. […] o ponto é perguntar pro professor, de novo, pra explicar porque se eu tentar lembrar o que eu sei e passar pra ele, ele perde o que o professor tá explicando, né? Então é o momento de fazer o professor parar, perguntar de novo, pra gente ser... pro aluno ser compreendido porque é só linha de transmissão (I3). Assim, o que eu, assim, consigo entender o conceito, consigo entender, é mais fácil pra interpretar, né? Eu penso assim que, talvez, o que eu não consiga já mostra na expressão facial, não tô entendendo aquilo ali, mas eu tô interpretando mesmo assim, aí o surdo vai se concentrar mais no rosto do intérprete do que no que ele tá falando? Então eu acho, assim, que seria muito bom se os intérpretes, quando fosse atuar, por exemplo, principalmente em nível superior, eu acho assim, que aquela disciplina, ela vai ser até o final do semestre... saber, o intérprete tem que saber o conceito, ele tem que entender o que ele tá interpretando. […] Agora se eu fosse ter que interpretar cálculos, né? Quando entra na física a parte de velocidade, aceleração, as trocas, tá em segundos, você vai ter que trocar pra horas ou horas pra... isso, no surdo, dá um nó na cabeça dele 92 e dá um nó no intérprete também porque... eu acho, assim, a parte simples é fácil de interpretar, agora, quando vai pra parte mais profunda da física, aí que o intérprete também não conhece isso, é um pouquinho mais difícil de fazer uma boa interpretação (I4). Vemos que I2 e I4 atribuem maior influência de seu conhecimento de Física e evolução dos seus conceitos em sua práxis, exatamente os que responderam os questionários de forma mais completa e consistente, com conceitos mais bem elaborados e explicações fenomenológicas bem desenvolvidas. O intérprete I4 relaciona diretamente este conhecimento e a qualidade de sua interpretação. I3 não considera este conhecimento importante, pois para ele seu papel é focado na comunicação entre aluno e professor, esse responsável pela explicação e esclarecimento de dúvidas do estudante.