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Artigo
Representações da Violência por Professores
Maria das Graças de Carvalho1 ; Gislene Farias de Oliveira2 ; Ana Cárita3
Resumo: A violência no espaço escolar tem sido motivo de preocupação em todo o mundo. O objetivo foi
analisar a violência no espaço escolar, à partir da percepção dos professores no município de Simões-PI. Fizeram
parte da amostra, 49 docentes, sendo 77,6% mulheres e 22,4% homens. Desses, 98,0% observaram episódios
de violência na escola, sendo o tipo mais comum, a patrimonial 28,5%, seguida da física 27,2%; da negligência
22,8% e da psicológica em 21,0% dos casos. Dentre as modalidades mais citadas estiveram presentes nas
respostas, a Intimidação (40,8%); a Difamação (16,3%); o Assédio moral (12,2%); a Injúria (4,1%) e, outras
(26,5%). Com relação ao local onde foram observadas as violências, Foram citados: Dentro da Escola 40
(81,6%); Na rua 3 (6,1%); Outro lugar 2 (4,1%); Não responderam a esta questão 4 (8,2%). Quanto às
Representações sociais de Violência, sobressaiu-se uma única categoria: Ação maléfica. O estudo concluiu que a
violência no ambiente escolar ainda necessita ser mais discutida, para que se possa conhecer aspectos associados
às diversas variáveis implicadas, não demonstradas no presente estudo. Nesse sentido evidencia-se a importância
que se deva dar para a identificação dos possíveis casos de problemas acadêmicos, visando prevenir-se a tempo,
as situações de risco.
Palavras-Chave: Violência, Espaço-escolar, Representações sociais
Violence Representations by Teachers
Abstract: The violence at school has been of concern worldwide. The aim was to analyze violence at school, to
from the perception of teachers in the municipality of Simões-IP. Composed the sample, 49 teachers, with 77.6%
women and 22.4% men. Of these, 98.0% observed episodes of school violence, the most common type, the
equity 28.5%, then 27.2% of physics; 22.8% of neglect and psychological in 21.0% of cases. Among the most
cited forms were present in the responses, the intimidation (40.8%); Defamation (16.3%); the moral harassment
(12.2%); to injury (4.1%) and others (26.5%). In relation to where the violence were observed, they were cited:
Inside the School 40 (81.6%); On the street 3 (6.1%); Another place 2 (4.1%); They did not answer this question
4 (8.2%). As for Social representations of violence, stood out a single category: evil action. The study found that
violence in the school environment needs to be further discussed, so that we can meet the various aspects
associated variables involved, not demonstrated in this study. In this sense evidences the importance that we
should give to identify possible cases of academic problems to prevent themselves on time, the risk situations.
Keywords: Violence. Sspace-school. Social representations
__________________
Mestre em Ciências da Educação pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias – Portugal. ;
Psicóloga. Doutora em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Professora da Universidade Federal do Cariri –
UFCA e da Universidade Regional do Cariri – URCA.
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Programa de Pós Graduação em Ciências da Educação da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias – Portugal.
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Introdução
A violência no espaço escolar vem sendo objetivo de incansáveis pesquisas e trabalhos
científico. Trata-se de um problema de caráter paradoxal e interpretação ambivalente. A ―violência na
Escola‖ reflete uma realidade do ambiente escolar, e do mundo onde está inserida, a escola, a clientela,
e a comunidade. Encaminha para um repensar de novas formas de administração, melhoria na
estrutura física, do aparato didático e democratização do ambiente escolar. Trata, portanto de uma
questão complexa a ser pesquisada em toda sua origem e dimensão.
A percepção da violência no espaço escolar tende a mudar de acordo o olhar pelo qual esse
termo é abordado. Isso nos leva às seguintes indagações: Diante do exposto, nos indagamos: Quais as
características da violência nas escolas públicas? Quais os tipos mais comuns de violência observados
nas escolas? Quais as Representações Sociais de violência que têm os professores?; Quais as
estratégias que os mesmos utilizam para lidarem com a violência no espaço escolar?
Violência Escolar: uma compreensão conceitual
A temática da violência Escolar tem sido foco de constante e evoluídas pesquisas, debates,
estudos minuciosos e aglomerações de informações de diferentes veiculações. Vários danos são os
causados à Escola, as famílias e a sociedade ou grupos sociais e ao próprio agente que, antes de
qualquer envolvimento é um ser humano, como tantos outros.
No entanto, vive assustado, esmagado, anulado, espremido e num caminho muitas vezes sem
volta, cujo futuro é formado de fatigantes pressões, obscuridade e profundas seqüelas. Mas cadê
aquele ser que por natureza nasce para ser livre, ter desejos, projetos e um mundo ao seu redor. Esse
ser esbarra na organização: segundo Maffesoli (1987), de um lado, temos a organização, do outro, os
indivíduos.
Os atos violentos, na maioria das vezes buscam em primeiro lugar responsabilizar alguém,
encontrar um ou mais sujeitos e de cara justificar as vitimas ou a vitima e suas famílias mediante o
acusado e nisso caracteriza outra realidade, a que promove os culpados com punições que justifiquem
o tamanho do ato. Assim os gestores das instituições escolares e suas equipes bem como as
autoridades assumem papel confortável mediante a sociedade sob dois ângulos: O de que encarou a
situação de frente, puniu os acusados e fez justiça e do outro lado o de levar conforto a vitima para que
não se sinta desprotegida, é a feliz frase: ―a justiça foi feita‖. E ainda existe outro ponto, o de que
tenha cumprido com o dever de escola e de autoridade e que tenha efeito de lição para que outros não
façam. Mas a violência não para porque diz e se pergunta o filosofo Frances Dadoun (1998):
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A ‗violência‘ é onipresente, a violência nos atinge, ‗nos desconcerta‘ e nos toca por
seus ‗estrondos‘, ‗nos ensurdece por gritos ininteligíveis‘ e ‗por suas pressões
cotidianas‘ [...] que nos ‗amassam e nos estressam‘, não seria conveniente admitir
que por isso esteja na própria raiz do humano?
O Filosofo continua se questionando e vai mais além ao buscar uma passagem bíblica para
reafirmar sua tese de que ―a violência é inerente do próprio homem‖. A Escola, sendo por excelência
o local dedicado a educação e a socialização da criança e do adolescente vem se transformando em
palco de agressão, desrespeito e autoritarismo. Segundo Miriam Abramovay (2009 – UNICEF), “o
fenômeno da violência no cenário é mais antigo do que se pensa, prova disso é o fato de ele ser tema
de estudo nos Estados Unidos desde a década de 1950”. Com o passar dos anos esse fenômeno foi
ganhando dimensão de caráter mais grave e mais corriqueiro, ou seja, fazendo parte do dia a dia das
escolas e acontecendo cada vez mais em grau elevado e complexo. O que parecia brincadeiras de
grupo passa a ser violência nas mais diversas classificações.
As Escolas procuram do jeito próprio de cada uma estabelecer políticas de combate a
violência, mas esquecem de que é preciso começar pela prevenção pra depois passar pelo combate,
controle e erradicação. No entanto tudo isso só pode ser pensado se visto a partir de contextos, se não
fica apenas na procura de responsabilidade e pronto.
Mas o que é violência escolar? Para Abramovay (2009, P.30):
O que caracteriza como violência escolar varia em função do estabelecimento, de
quem fala (professores, diretores, alunos e etc.), da idade e provavelmente do sexo.
Não existe consenso em torno do seu significado [...] os termos para indicar
violência também variam de um lugar para outro. Nos estados Unidos, diversas
pesquisam usam a ‗delinqüência juvenil‘. Na Inglaterra, alguns autores defendem
que o termo violência na escola só seja empregado no caso de conflitos entre
estudantes e professores ou em relação a atividades que causem suspensão, atos
indisciplinares e prisão.
Em toda a literatura que ao longo dos tempos vamos encontrando sobre essa temática, apesar
das diferenças conceituais entre países, há de fato um consenso sobre ao fenômeno violência escolar:
Não somente a violência física, todos os outros tipos de violência merecem e deve ter igual atenção,
por muitos motivos, mas, sobretudo por se tratar de situações que podem ser graves e traumáticas.
Mesmo assim, nas falas dos profissionais da educação ainda é comum ouvirmos a seguinte
descrição sobre violência: ―são as agressões físicas e verbais praticadas entre alunos e de alunos contra
professores e os danos causados ao patrimônio da escola.‖ Isso é o de comum entre o pensamento dos
docentes, gestores e coordenadores, enfim de todos que fazem parte do processo educacional
pesquisado.
Mas o que pode significar esse discurso? Em conversas informais a escola deixa claro que
cada dia vem buscando mais vinculo com a comunidade e com a família e ainda que todas as decisões,
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ações e acontecimentos são partilhados e votados com o conselho escolar. Mas as escolas não buscam
contextualizar a problemática da violência e desvinculam da comunidade agindo como se fosse apenas
mais um fato incorporado as atividades cotidianas do espaço urbano escolar. É nessa hora que a
Escola deixa de ser o porto seguro para crianças, adolescente e jovens estudantes.
O Problema
A problemática da violência na escola aponta espaços teóricos e empíricos para explicar quais
os motivos que levam a esse fenômeno, freqüentemente encontrado na dinâmica juvenil. Tal fato tem
sido observado também em outros espaços sociais em que vivem os jovens, demonstrando o quanto
eles têm investido em comportamentos violentos à procura de novas experiências. Na realidade, não
há, necessariamente, problemas quanto a manifestação desses comportamentos. Isso faz parte da
interação entre eles, diz respeito a uma condição do desenvolvimento social. A dificuldade surge
quando tais experiências acontecem indiscriminadamente, implicando em condutas tangenciadoras das
normas e desorganizadoras da ordem social. Não havendo um limite, tende-se ao risco pessoal e
social.
Dessa forma, novas experiências indiscriminadas podem vir a gerar algumas atitudes e
comportamentos, que passam a assumir etiquetas da delinqüência juvenil e, dessa forma, tornar-se,
mais salientes, a saber: as formas de organização de grupos sociais que os jovens adotam - as gangs, a
incitação a jogos de diversão violentos, as bagunças e vandalismo em festas, o alto e desenfreado
consumo de álcool, tabaco e drogas (FORMIGA e GOUVEIA, 2003). Sob essa perspectiva, é
possível, que à partir desses eventos, que ficam de fora do que se tem como norma social,
compreendê-los através de duas dimensões: as condutas anti-sociais e as delitivas.
Quando considera-se que um jovem apresenta condutas do tipo anti-social ou delitiva, faz-se
referência a um comportamento transgressor. Destaca-se aí, não somente os pobres, ou os negros, ou
ainda os de classe econômica mais baixa, mas qualquer jovem. Segundo Formiga e Gouveia (2003),
esses comportamentos não tem, atualmente, uma forma específica. São condutas de risco bastante
evidentes. A conduta anti-social, por exemplo, associa-se a não conscientização das normas que
deveriam ser respeitadas. Isso vai desde as normas de higiene dos ambientes que se frequenta, ao
respeito para com os colegas. Assim, tal conduta caracteriza-se pelo incômodo causado, sem, contudo,
implicar em danos físicos a outras pessoas. São mais travessuras de jovens ou, busca de romper com
algumas leis sociais.
No caso da conduta delitiva, essa diz respeito às ações do indivíduo que possam ser
concebidas como merecedoras de uma punição. Normalmente são aquelas capazes de causar danos
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mais graves, sejam eles morais ou físicos (Formiga e Gouveia, 2003). Assim, tais condutas devem ser
consideradas como mais graves que as anteriores, representando uma real ameaça à ordem social
vigente.
O que essas condutas têm em comum, parece ser a interferência no direito das pessoas,
ameaçando o seu bem-estar. Neste sentido, diferenciam-se em função da gravidade das conseqüências
por elas causadas. Possivelmente, os jovens praticam ou já praticaram algum tipo de conduta antisocial. Quando não inibidas, no momento adequado, através de uma prática parental responsiva ou
exigente, pode implicar em grande possibilidade de que tal desafio se converta numa conduta delitiva
(FORMIGA e GOUVEIA, 2003).
Explicações para muitas dessas condutas, têm eliciado variáveis que apontam, desde
problemas de valores humanos, culturais, da estrutura e funcionalidade da família, de desenvolvimento
moral, de hábitos de lazer e de estrutura e traços de personalidade, até a genética (COELHO JÚNIOR,
2001; FORMIGA, TEIXEIRA, CURADO, LÜDKE, e OLIVEIRA, 2003; FRIAS, SOTOMAYOR,
VARELA, ZARAGOZA, BANDA, e GARCÍA, 2000; SOBRAL, 1996). Apesar de demonstrarem um
poder explicativo e algum mérito quanto à direção para algumas soluções, principalmente no que se
refere aos fatores preditivos do fenômeno da violência, ainda tem se mostrado promissor o poder
explicativo da teoria personalística (BENET-MARTÍNEZ e JOHN,
1998; GAZZANIGA e
HEATHERTON, 2005).
O estudo da personalidade aponta também uma perspectiva um tanto socializante, quanto à
formação dos jovens e à estrutura da personalidade, na sua relação com as condutas humanas.
Na Psicologia, mesmo essa linha de pesquisa não sendo nova, frequentemente tem sido
retomada, acrescentando informações para a compreensão do comportamento humano, mais
especificamente para os comportamentos que conduzem à violência (também os anti-sociais e
delitivos, os comportamento agressivo, uso de drogas, etc.).
Em resumo, o processo de escolarização ainda desempenha papel fundamental no
desenvolvimento do indivíduo. Segundo Sawaya (2002), a escola detém funções variadas, como por
exemplo: função social, quando compartilha com a família a educação de crianças e jovens, uma
função política - quando contribui para a formação do cidadão e, uma pedagógica - na medida em
que se faz um local privilegiado para construção de reflexões e conhecimento.
Mas a escola tem um impacto, que precisa ser analisado num contexto sociocultural mais
amplo, pois os sujeitos ali se inserem, sobretudo com as suas diferentes práticas culturais e vivências
familiares. E, nessa rede de histórias, edificam os vínculos que pulsam no ambiente escolar, podendo é
claro, resultar em novas construções afetivas e também gerar adversidades intra e interpessoais. O
tema violência apresenta-se pois, como um importante fenômeno a ser compreendido e
contextualizado.
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A escola ainda parece um ambiente pouco explorado, enquanto um local perpetuador da
violência. Mas, a violência na escola, caracteriza-se como um problema grave e complexo, um tipo
muito visível de violência juvenil (LOPES NETO, 2005).
O objetivo do presente estudo é analisar as aspectos relacionados a violência nas escolas
Públicas Municipais de Simões, Piauí. Para isso será necessário também: a) identificar os tipos mais
comuns de violência observados nas escolas públicas municipais de Simões – PI; c) conhecer as
Representações Sociais dos professores sobre violência e; c) distinguir as estratégias adotadas pelos
professores nas escolas públicas de Simões, para lidarem com a violência no espaço escolar.
Metodologia do Estudo
Trata-se de um estudo quali-quantitativa, realizado no mês de agosto de 2014, com os
educadores que atuam no Ensino Fundamental II. Os dados foram advindos de fonte direta do
ambiente natural em duas escolas municipais do Ensino fundamental II, no município de Simões –
Piauí, Brasil. São elas: o Centro de Educação Municipal – CEM, localizada no perímetro Urbano,
bairro do Centro, com 542 alunos e 30 professores, de acordo com o censo escolar de 2015 e, a
Escola Eustáquio Carvalho, localizada no perímetro Rural, distante 18 km da sede, com 344 alunos
matriculados em 2015 e 25 professores, de acordo com o censo escolar de 2015. Os dados foram
coletados através de questionário, elaborado para o propósito deste estudo.
Perfil dos professores
Fizeram parte deste estudo 49 docentes, sendo 38 (77,6%), do sexo feminino e 11 do sexo
masculino (22,4%). Maioria casado (59,2%) ou solteiro (18,3%). Suas idades, por classe, tiveram a
seguinte distribuição: 3 professores com idades entre 20 e 29 anos (6,1%); 17 professores com idades
entre 30 a 39 anos (34,7%); 18 professores com idades entre 40 a 49 anos (36,8%) e, 11 professores
com idades acima de 49 anos (22,4%).
Com relação à escolaridade, a amostra se comportou da seguinte maneira: 4 dos professores
possuía o Ensino Superior incompleto (8,2%); 39 concluíram a Especialização (79,6%); 03 já possuía
o mestrado (6,1%) e 02 já havia concluído o curso de doutorado (4,1%). Apenas 01 professor não
respondeu a esta questão (2,0%).
Quanto ao tempo de docência, nota-se pois, um bom percentual de professores bem
experientes. Observe-se que apenas 21,3% tem até 10 anos de experiência docente. 23 professores
possui entre 11 e 20 anos de docência (48,9%); 10 professores possuem entre 21 e 30 anos de docência
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e, 4 professores afirmou ter entre 31 e 40 anos de docência. Dois professores não responderam a esta
questão.
Acreditamos ser importante para uma educação de valores, reflexões mais maduras em
relação às questões sobre a violência. A experiência docente profissional, certamente tende a
conseguir melhores resultados. Sobre essa questão, Arroyo (2000), nos informa que não são somente
os conhecimentos que são ensinados na escola. Mas também, as habilidades, as atitudes e os valores
humanos. Estes quando se colocam em prática, tendem a produzir uma mudança mais efetiva no
comportamento humano. Assim, a maturidade dos educadores em lidar com as temáticas voltadas
uma contenção da violência no espaço escolar, deve ser vista como uma boa estratégia de mobilização,
que nos inspire a reflexões políticas sobre a importante e urgente necessidade de capacitação
profissional, nesta dimensão.
Indagados que foram sobre sua Renda familiar, 33 (67,3%) responderam ganhar
aproximadamente entre um e três salários mínimos vigente; 10 (20,4%) ganham entre quatro a seis
salários mínimos vigentes; 2 (4,1% ) ganham entre sete e nove salários mínimos vigentes; 2 (4,1%)
ganham entre 10 ou mais salários mínimos vigentes. Outros 2 (4,1%) não responderam a esta questão.
Resultados e Discussões
Quanto a identificar os tipos mais comuns de violência no espaço escolar, os sujeitos
responderam inicialmente se já observaram ou não, episódios de Violência na escola. Observou-se que
98,0% dos professores responderam que já observaram episódios de violência na escola. Indagados
sobre quem estava envolvido, em 40 dos casos (81,6%) foram episódios de violência entre os próprios
alunos; Em cinco casos (10,2%), a violência aconteceu entre aluno e professor; Um caso foi entre
aluno e funcionário; em outro caso, professor e professor e, em um outro caso, a violência foi
percebida entre professor e funcionário (2,0%). Em um caso, o sujeito não respondeu (2,0%).
Com relação ao Tipo de Violência observada descrita pelos sujeitos da amostra, das 157
respostas fornecidas pelos sujeitos, 44 (28,5%) afirmaram já terem observado Violência Patrimonial.
43 (27,2%) Violência física; 36 (22,8%) Negligência; 33 (21,0) Violência psicológica e, 1 (0,5%)
observou Violência sexual.
Dentre as modalidades mais citadas estiveram presentes nas respostas, a Intimidação (40,8%);
a Difamação (16,3%); o Assédio moral (12,2%); a Injúria (4,1%) e, outras (26,5%).
Com relação ao local onde foram observadas as violências, Foram citados: Dentro da Escola
40 (81,6%); Na rua 3 (6,1%); Outro lugar 2 (4,1%); Não responderam a esta questão 4 (8,2%).
Indagados que foram sobre se os próprios sujeitos já haviam sofrido algum tipo de violência
no espaço escolar, as respostas estão dispostas no gráfico a seguir.
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Gráfico 2 – Distribuição dos Sujeitos sobre já haver sofrido algum
tipo de Violência no espaço escolar
Com relação ao tipo, 7 (14,3%) afirmaram terem sofrido violência física; 13 (26,5%) violência
psicológica; 5 (10,2%) negligência; 1 (2,0%) violência patrimonial; 2 (4,1) Outro tipo de violência e,
21 (42,9) não responderam a esta questão.
Embora o tipo de violência experienciada seja um importante indicador sobre a violência na
escola, interessante também é a observação de Nunes e Abramovay (2003) que enumeraram alguns
aspectos explicativos da violência escolar, a saber: 1. gênero - meninos se envolvem muito mais em
situações de violência, isso seja como vítimas ou autores; 2. idade – em geral, o comportamento
agressivo é associado ao ciclo etário; 3. etnia – há uma resistência dos alunos de minorias étnicas ao
tratamento discriminatório, seja por parte de colegas ou por parte dos professores; 4. família –
normalmente alvo de controvérsia, em especial pelas "características sociais das famílias que são
violentas"; 5. ambiente externo – as comunidades com sinais e sintomas de abandono ou de
decadência parecem mais vulneráveis à violência; 6. Insatisfação ou frustração com as instituições e
com a gestão pública - falta de equipamentos; de recursos didáticos; de recursos humanos; baixa
qualidade no ensino; 7. exclusão social – as restrições à incorporação de parcela da população à
política e recursos de apoio social; 8. exercício do poder - desestímulo e discriminações que
contribuem para o desrespeito aos direitos humanos das pessoas.
Embora esteja presente no debate público, Sposito (2002) nos orienta que a pesquisa sobre
violência associada a escola ainda é incipiente no Brasil. Dados do único levantamento nacional sobre
a violência escolar, que foi publicado em 1998, mostrou três tipos de situações mais freqüentes: as
depredações, os furtos ou roubos que atingem o patrimônio; as agressões físicas entre os aluno e as
agressões de alunos contra professores.
Encontram-se praticamente ausentes, os estudos que tratam questões individuais associadas à
violência escolar. As relações estabelecidas na própria escola, incluindo a vivência da violência, que
teria um papel também relevante, porém ainda é pouco conhecida na visão do aluno.
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Representações sociais de Violência
Quanto as Representações Sociais de violência relacionado aos sujeitos da amostra, os
resultados foram dispostos conforme tabela a seguir.
Tabela 10: Distribuição da Categoria e Subcategorias das Representações Sociais de Violência pelos
docentes da amostra. Simões – PI, 2014
CATEGORIA: AÇÃO MALÉFICA INTENCIONAL – Ato de ferir ou maltratar
Subcategorias
Física
Agressão/brutalidade (25)
Destruição (4)
Acusação verbal (2)
Ferir (2)
Briga (1)
Quebra do patrimônio (1)
Tapas (1)
Palavrões (1)
Empurrão (1)
Risco a vida (1)
Impingir dor com força (1)
Nº de Evocações = 40
Psicológica
Desrespeito (16)
Humilhação (4)
Medo/Pavor (4)
Intimidação (3)
Insegurança (2)
Impingir medo (2)
Maltratar (2)
Desvalorização (1)
Conflito (1)
Desconforto com algo (1)
Ofensa (1)
Desavença (1)
Abuso (1)
Violação (1)
Agitação (1)
Provocar raiva (1)
Nº de Evocações = 42
Social
Injustiça (10)
Preconceito (7)
Difamação (5)
Negligência (3)
Falta de Deus (3)
Racismo (3)
Má educação (2)
Calúnia (2)
Injúria (2)
Bulling/exclusão (2)
Impunidade (1)
Falta de religião (1)
Desestrutura familiar (1)
Falta de limites (1)
Falta de ocupação (1)
Tudo que fere a moral (1)
Nº de Evocações = 45
Fonte: Dados da Pesquisa (2014)
Com relação à questão as Representações Sociais de Violência, representadas pelas seguintes
perguntas do questionário: Quando eu falo a palavra Violência, quais as primeiras palavras que lhe
vêm a cabeça? e; O que significa Violência para você?. As respostas eliciadas foram distribuídas
numa única Categoria: AÇÃO MALÉFICA INTENCIONAL.
A inspiração para a categoria adveio da própria etimologia da palavra violência. Advinda do
latim violentia, a violência seria a qualidade do que é violento ou uma ação de maltratar outrem, a
prática de uma ação maléfica intencional. A violência é portanto um comportamento deliberado, que
pode vir a causar danos físicos, morais ou psíquicos ao próximo. Daí as subcategorias (Física,
Psicológica e Social).
É importante se ter em conta que, para além da própria agressão física, a violência emocional
através das ofensas ou de ameaças também pode vir a causar sequelas psicológicas e também sociais
(impedimentos de ir e vir, não ser bem visto socialmente).
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Através da violência, é possível a alguém procurar-se impor ou obter algo pela força. Existem
inúmeras formas de violência que são punidas por lei, tal como o assédio (moral, sexual). Em todo o
caso, é importante ter-se em conta que os conceitos de violência variam conforme a cultura, contexto e
época.
Neste sentido, esta categoria compreende a Violência como um ato de ferir ou de maltratar.
O estudo apresentou três subcategorias:
Subcategoria 1 – Física - Esta subcategoria compreende a violência física com o uso da força
com o objetivo de ferir, machucar.
Apresentou 40 eliciações associadas, representando 31,5% das falas.
Estudando a temática, Camacho (2000) nos aponta duas formas de violência vivenciadas na
escola: física (agressões físicas, brigas e depredações) e não física (ofensas verbais, segregações,
discriminações, desvalorizações e humilhações com palavras e atitudes de desmerecimento), neste
último caso, muitas vezes, disfarçado, quase imperceptível. Essas experiências aterradoras ocorrem
tanto com alunos como com professores e funcionários, nos mais diversos arranjos, quer os mesmos
como protagonistas quer como vítimas.
A existência de bullying no ambiente escolar tem sido tema bastante investigado nos últimos
anos. O termo em inglês é uma denominação específica para a violência nesse âmbito, evidenciando
uma certa negatividade da violência nas relações entre pares, dando destaque ao ambiente escolar. O
Bullying caracteriza-se por ações repetitivas de opressão, agressão e dominação de indivíduos ou
grupos, sobre qualquer pessoa ou grupo, que possam sentir-se, nestes casos subjugados pela atitude
dos primeiros. Trata-se de pessoas normalmente agressivas, valentes, usam jargões pejorativos com
colegas, os aterrorizam e fazem sofrer. Normalmente ignoram, normas da escola, ameaçam, furtam,
agridem, ofendem, intimidam ou depredam pertences dos colegas, dentre outras ações destrutivas
(LOPES, ARAMIS, SAAVEDRA, 2003).
As vítimas de comportamentos agressivos, geralmente são pessoas com dificuldades para
reagir. São retraídas, tornando forte o agressor e dificultando a visibilidade deste tipo de ação.
Outras formas de violência mais sutis, também fazem parte do dia-a-dia das instituições de
ensino. Podendo-se considerar ainda, a própria instituição de ensino e, os próprios educadores como
possíveis agentes de violência. Neste caso, quando há ações como a imposição de conteúdos sem o
interesse dos alunos, ou o mesmo quando desprovido de significado para a vida dos alunos. A pressão
do poder em conferir notas, a ignorância com relação a problemática dos alunos, o tratamento
pejorativo dispensado, incluindo agressões verbais ou exposição do aluno ao ridículo, quando em
casos de incompreensão sobre algum conteúdo de ensino (GUIMARÃES, 1992).
Reconhece-se que, em parte, tais formas de violência podem ser acontecimentos corriqueiros
na prática educacional. Mas requerem transformações profundas. Não se pode contribuir para a sua
banalização ou mesmo continuar a sua legitimação como mecanismo para resolver conflitos.
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De maneira geral, a violência física, manifesta uma afirmação de poder sobre o outro. Sua
ocorrência é conseqüência da prática cotidiana de discriminação, de preconceito, da crise de
autoridade do adulto e/ou da fraca capacidade profissional de criar mecanismos justos e democráticos
de direcionar a vida escolar.
Outra forma de violência, talvez menos utilizada hoje, é a restrição do aluno ao convívio em
sala de aula. Neste caso, o aluno é convidado a retirar-se para outro ambiente como a biblioteca ou
outro espaço, instalando-se certa apatia, ressentimento e quem sabe, alienação, podendo implicar até
em atitudes destrutivas e agressões físicas, por parte daqueles alunos que sofreram a frustração
(LEMBO, 1975).
Observe-se que, a violência escolar possui muitas dimensões, não sendo algo simples de se
pensar. Que tem implicações também extramuro escolar.
Subcategoria 2 – Psicológica - Nesta subcategoria concebe-se a violência como qualquer tipo
de agressão emocional. É caracterizada pela rejeição, depreciação, discriminação, humilhação,
desrespeito e por punições exageradas que impingem dor emocional.
Apresentou
42
eliciações
associadas, representando 33,1% das falas.
A violência psicológica implica em prejuízo emocional. No caso da baixa autoestima, o juízo
pessoal de valor, que é externado nas atitudes que o indivíduo possa ter consigo mesmo, fica
prejudicado. A autoestima é uma experiência subjetiva, onde as pessoas têm acesso mediante
comportamentos observáveis e relatos verbais (COOPERSMITH, 1967). A percepção que o indivíduo
faz acerca de seu próprio valor e sua avaliação de si mesmo em termos de competência, constituem os
pilares fundamentais da autoestima. Assim, caso a pessoa sofra atitudes violentas, é possível uma
maior probabilidade de serem associadas a um sentimento negativo de si. Dessa forma, a autoestima
sofrerá uma baixa, em associação ao contexto.
Subcategoria 3 – Social - Neste caso, a violência foi concebida como uma espécie de
construção social, transcendendo as questões puramente físicas e/ou emocionais.
Apresentou
45 eliciações associadas, representando 35,4% das falas.
Observa-se uma maior concentração das falas associadas a violência social (35,4% das falas),
seguida da violência psicológica (33,1%) e da violência física (31,5% das falas).
Ao que nos parece, o espaço escolar democrático, no qual as novas gerações são inseridas, tem
se envolvido numa espécie de crise de autoridade docente. Este fato, a nosso ver, poderia ser
testemunhado pelo aumento da violência no cenário escolar, no mundo inteiro, como se tem observado
na mídia.
A autoridade delegada aos docentes, determinada pela instituição, é um dos dispositivos
importantes de efetiva estruturação institucional. Nesse sentido, se a escola contemporânea apresentase cada vez mais como um espaço de embates que em muito ultrapassam os confrontos intelectual
e/ou cultural, é natural supor, que padeça de uma certa ambigüidade, ou ineficácia, por seus dirigentes.
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Neste caso, é possível intuir tratar-se de uma crise, no mínimo ética. Ao que associamos a própria
semente da violência social.
A crise da autoridade na educação, parece guardar uma estreita conexão com o que Arendt
(1992) reconhece como crise da tradição, ou seja, uma crise de nossa atitude perante as nossas atitudes
do passado. É, de certa forma, difícil para o educador lidar com essa ,maneira moderna, pois faz parte
do seu ofício ser um mediador entre o velho e o novo, isso é, sua própria profissão exige um certo
respeito extraordinário pelo passado. (ARENDT 1992)
Neste sentido, é importante salientar que, tradição não é sinônimo de anacronismo, bem como
autoridade não seria sinônimo de despotismo. Pelo contrário. O patrimônio cultural precisa ser
preservado, para que possa transformar as novas gerações. Assim, a questão da autoridade, para além
da qualificação acadêmica do professor, passa a se pautar numa ética docente, reguladora e primordial
do trabalho pedagógico. Mostrando-se como um importante antídoto contra a violência escolar.
Nesta direção, Arendt
nos orienta que, embora a qualificação docente seja desejável e
indispensável para a autoridade, por si só, não é o bastante. A qualificação, por maior que esta seja,
nunca capacitará sozinha para a autoridade. A qualificação do professor apenas consistirá em conhecer
o mundo, bem como ser capaz de instruir os outros sobre este. Sua autoridade porém, se assentará na
responsabilidade que possa vir a assumir socialmente. Tal como um representante de todos os adultos,
apontando à criança o que precisa ser visto. Sua responsabilidade, direitos e deveres perante o mundo.
Estratégias para lidar com a violência
Quanto as Estratégias utilizadas pelos professores para lidar com a violência no espaço
escolar, os resultados foram dispostos conforme tabela a seguir.
Tabela 11: Distribuição das estratégias adotadas pelos professores para lidarem com a violência no
espaço escolar. Simões – PI, 2014
Estratégias
Freqüência
Percentual (%)
Palestras relacionadas com o tema
Reuniões com a família
Maior divulgação da legislação da escola (Estatuto
e Regimento interno) e rigor no seu cumprimento
compreendendo: Advertência, Expulsão e/ou
Transferência
Conversar com os alunos envolvidos
Reuniões com Conselho Tutelar
Reuniões com Professores, Conselho Escolar e
Secretaria de Educação
Continua...
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28
19
27,0
17,6
17
16,7
10
8
9,3
7,4
6
5,6
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Projetos
Atividade recreativa para melhorar a socialização
Eventos coletivos relacionados ao tema
Manter os alunos mais tempo em atividades de sala
de aula
Nenhuma
Afixação de Cartazes
Dramatizações
Total
Simões - PI, 2014.
5
5
2
4,6
4,6
1,8
2
1,8
2
1
1
107
1,8
0,9
0,9
100,0
Quanto às estratégias utilizadas pelos professores da amostra, para trabalharem com as
questões relacionadas com a violência no espaço escolar, observou-se que a mais utilizada foram as
palestrar (27,0%), seguida de reuniões com a família (17,6%) e Maior divulgação da legislação da
escola (Estatuto e Regimento interno) e rigor no seu cumprimento compreendendo: Advertência,
Expulsão e/ou Transferência (16,7%).
Outras estratégias envolveram respectivamente: Conversar com os alunos envolvidos (9,3%);
Reuniões com Conselho Tutelar (7,4%); Reuniões com Professores, Conselho Escolar e Secretaria de
Educação (5,6%); Projetos (4,6%) e, Atividade recreativa para melhorar a socialização (4,6%).
Foram citadas com menor ênfase, as seguintes estratégias: Eventos coletivos relacionados ao
tema (1,8%); Manter os alunos mais tempo em atividades de sala de aula (1,8%); Nenhuma (1,8%);
Afixação de Cartazes (0,9%) e Dramatizações (0,9%).
Neste sentido, a contribuição psicanalítica seria por meio da palavra e do incentivo a projetos
que busquem a escuta dos sujeitos envolvidos em situações de conflito, possibilitando um trabalho
coletivo na instituição escolar. Essa perspectiva traria uma inspiração ética mais profunda, na medida
em que a retomada da palavra permitiria uma abertura de alternativas aos atos de violência. "Eis a
forma analítica de dispensar o aprisionamento ao discurso do mestre contemporâneo para dar lugar ao
saber fazer de cada um", apresenta Barros-Brisset: "convidando cada um a tomar a palavra para falar
mais sobre isso" (BARROS-BRISSET, 2013, p.6).
Como bem sugere Lacadée (2000), em vez de medidas apenas proibitivas, é preciso autorizar
as pessoas a respeitarem-se a si mesmos, para que dessa forma, eles possam se reconhecer como
sujeitos na sociedade. A escola se ocupa da formação, daqueles que precisam ser amparados em algum
momento de suas vidas. Educar é uma forma de ajudar a construir um sentido para a vida. É refletir, é
despertar, nos jovens, o desejo e a alegria de viver. Para além do repasse de conhecimentos universais,
a escola precisa acolher o novo que cada jovem traz em seu corpo e em seu discurso.
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Considerações Finais
As explicações para a violência na instituição educativa não são simples, em geral,
relacionam-se à forma de como acontece a organização da escola, como os métodos didáticos são
empregados, como os procedimentos institucionais são aplicados e, principalmente, qual o significado
que a escola assume para os alunos. Elas tendem a se relacionarem também ao processo de atribuição
de identidades, da mesma maneira como se relacionam à violência social. Que, como nos orienta
Dubet (2003), entra na escola pela pobreza, pela dificuldade, pela marginação, através da delinquência
e também pelo prolongamento da idade de escolarização obrigatória. Tal situação, às vezes, é agravada
pelo desemprego, pelo tráfico de drogas e /ou crime organizado, pela baixa renda e, em muitos casos
pela situação de miséria e pela desigualdade social presente na sociedade brasileira (TAVARES DOS
SANTOS, 2001; ZALUAR, 2004).
Nas escolas, parece haver um discurso sobre a importância do coletivo e sobre uma formação
para a cidadania. Todavia, como efetivar ações deste tipo em uma sociedade na qual o impera o
individualismo? Ou, como indaga Martuccelli e Barrere (2001), como querer uma moral e uma ética
como norteadores, em uma sociedade quando os significados ainda precisam ser construídos por cada
um? A violência de jovens no âmbito escolar e também fora dele, parece mais estar relacionada à
exclusão social e cultural. É tanto material como simbólica. Diz respeito a falta de trabalho e à uma
necessidade de consumo constantes, que a maioria de nós não dá conta.
Em resumo, cabe à escola reconhecer esse desencontro entre ela e as populações excluídas e,
procurar construir uma escola um pouco menos estigmatizante em relação aos alunos, de maneira a
preservar sua dignidade. Ainda que os alunos de escolas públicas, em geral, quase sempre só sejam
encaminhados a profissões menos qualificadas, essa trajetória não precisa ser acompanhada por um
processo de estigmatização e desvalorização deles enquanto pessoas. Agir para que se construa uma
relação baseada no respeito, parece-nos ser, uma condição mais que fundamental para que se possa
reduzir a violência no contexto escolar e também fora dela.
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Como citar este artigo (Formato ABNT):
CARVALHO, Maria das Graças de; OLIVERA, Gislene F. de, CARITA, Ana. Representações da Violência por
Professores. Id on Line Revista de Psicologia, Fevereiro de 2016, vol.10, n.29. p. 07- 22. ISSN 1981-1179.
Recebido: 10/02/2016
Aceito: 26/02/2016
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