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EM-Ação — Ensino Médio em Ação; 3 ano

Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira PROGRAMA ENSINO MÉDIO EM AÇÃO (EM-Ação) GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA Jaques Wagner Organização Geral Irene Maurício Cazorla Rodrigo Camargo Aragão Nildon Carlos Santos Pitombo Coordenação Geral Ana Lúcia Purificação da Paixão Coordenação Pedagógica Dimitri Sarmento Leonardo Dias Chaves Equipe de Designer Educacional e Projeto Gráfico Adelaide Maria de Oliveira Santana Ana Lúcia Purificação da Paixão Gervaine de Souza Ferreira Kátia Souza de Lima Ramos Lourival da Silva Andrade Júnior Simone de Souza Montes Vanessa Costa Reis SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO DA BAHIA Osvaldo Barreto Filho DIRETORA DO INSTITUTO ANÍSIO TEIXEIRA Irene Maurício Cazorla ASSESSORA TÉCNICA Kátia Souza de Lima Ramos DIRETORIA DE FORMAÇÃO E EXPERIMENTAÇÃO EDUCACIONAL - DIRFE Jeudy Machado de Aragão Assessoria pedagógica Adriana Lage, História, EMITEC Linguagens, códigos e suas tecnologias Carlos Neves, Biologia, EMITEC Elidete O. da S.Barros, Geografia, EMICarla Patrícia Santana, Doutora em Letras, UNEB TEC Gildeci de Oliveira Leite, Mestre em Letras, UNEB Luciana Santos de Oliveira, Mestra em Literatura e Diversidade Cultural, UFBA Lucinalva Borges, Física, EMITEC Mônica Moreau Lima, Biologia, EMITEC Luciano Amaral Oliveira, Doutor em Letras e Linguística, UFBA Silvana Andrade, Matemática, EMITEC Ciências Humanas e suas tecnologias Autores, titulação máxima e IES de atuação Revisão ortográfica e gramatical Acácia Melo Magalhães Celbo Antônio R. F. Rosa, Doutor em Geografia, UESC Cristiane Batista, Mestra em História, UNEB Rodrigo Freitas Lopes, Mestre em História, UNEB Virginia Queiroz Barreto, Mestra em História, UNEB Ciências da Natureza e suas tecnologias Dielson Pereira Hohenfeld, Mestre em Ensino de Ciências, IFBA Jancarlos Menezes Lapa, Mestre em Ensino de Ciências, IFBA Marcelo Franco, Doutor em Química, UESC Marcia Rodrigues Pereira, Mestra em Química Biológica, UERJ/CPII Marcos André Vannier dos Santos, PHD em Ciências, FIOCRUZ Ricardo Santos Nascimento, Mestre em Mecatrônica, UEFS Ródnei Almeida Souza, Mestre em Filosofia e História das Ciências, UNEB Sandra Lúcia Pita, Química, EMITEC Sergio Coelho de Souza, Doutor em Ecologia, UNISA Matemática e suas tecnologias Humberto José Bortolossi, Doutor em Matemática, UFF Consultoras Liliane Queiroz Antônio Marli Geralda Teixeira Renata Monteiro Cinthia Seibert Web Designers Bianca Chagas Camila Penna Cristiane Aragão Editoração eletrônica Via Litterarum editora Arte final Marcel Santos Arnold Coelho Diagramação Marcel Santos Arnold Coelho Distribuição SEC - Secretaria de Educação do Estado da Bahia 6ª Avenida Nº 600, Centro Administrativo da Bahia – CAB, Salvador CEP: 41.745-000, Bahia, Brasil 2 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Copyright©2012 by Instituto Anísio Teixeira Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) B151e Bahia. Secretaria da Educação. Instituto Anísio Teixeira. EM-Ação: Ensino Médio em Ação; 3º Ano / Irene Maurício Cazorla; Rodrigo Camargo Aragão; Nildon Carlos Santos Pitombo (Organizadores). / Secretaria da Educação. Instituto Anísio Teixeira Salvador: SEC/IAT, 2012 1v.,182 p.: il. Projeto: EM-Ação — Ensino Médio em Ação ISBN: 978-85-60834-09-9 1. Ensino Médio 2. Educação e tecnologia I. Instituto Anísio Teixeira. II. Cazorla, Irene Maurício. III. Aragão, Rodrigo Camargo. IV. Pitombo, Nildon Carlos Santos. V. Título. CDU: 37.046.14 Ficha Catalográfica: Biblioteca do Instituto Anísio Teixeira Instituto Anísio Teixeira – IAT Estrada das Muriçocas, s/n – Paralela Salvador – BA CEP – 41.250-420 www.iat.educacao.ba.gov.br 2 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Secretaria da Educação do Estado da Bahia Prezado estudante, A Secretaria da Educação do Estado da Bahia apresenta os Cadernos EM-Ação, preparados especialmente para você, cujo objetivo é o de cooperar nos seus estudos para o acesso ao sistema acadêmico do ensino superior. Afirmo, também, que os Cadernos contribuem para que seu final de escolarização básica possa ser revigorado, a partir desse esforço de articular conteúdos escolares com temáticas interessantes, em que a ciência é matriz importante para a compreensão das mesmas. Destaco o empenho das Instituições Públicas do Ensino Superior – UNEB, UEFS, UESC, UFBA, UESB, IFBA, IFBaiano e UFRB que, em parceria com o Instituto Anísio Teixeira, conceberam e realizaram a produção desse material pedagógico. Espero que estes Cadernos cumpram sua finalidade e, ao mesmo tempo, materializem a esperança de colocar exemplos de atos interdisciplinares ao seu alcance, tendo o contexto temático como foco dos nexos entre diferentes disciplinas escolares. Para tanto, discuta a proposição dessa obra com seus colegas e professores, com a meta de ampliar o alcance que os conteúdos escolares sempre têm na compreensão do mundo que nos cerca e nas transformações que a humanidade sempre realiza em benefício da vida e da convivência entre todos. Osvaldo Barreto Filho Secretário da Educação 3 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 4 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira MAPA COM IDENTIFICAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE ENSINO SUPERIOR 5 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira TABELA COM IDENTIFICAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE ENSINO SUPERIOR 6 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira LISTA DE ÍCONES Conhecimento em ação São atividades a serem realizadas pelos alunos sobre os conteúdos do caderno. Reflexão para ação Traz reflexões sobre o conteúdo proposto. Ex: Vou aprender esse assunto para quê? De olho no ENEM Apresenta questões do ENEM referentes ao tema proposto no caderno, com respectivos comentários feitos pelos autores. Curiosidade Pequeno texto informativo que traz uma curiosidade sobre assuntos referentes ao tema. Zoom na informação Traz informação mais detalhada sobre a temática abordada no caderno. Siga antenado - Música São dicas de clipes ou letras de música para análises, reflexões, comentários, que complementam os conteúdos ou tema dos cadernos. Siga antenado – Link da Web São sites de livros, artigos etc., que contemplam e enriquecem os conteúdos abordados nos cadernos. Siga antenado – Filme ou vídeo São indicações de filmes ou vídeos sobre os conteúdos ou temas dos cadernos. Siga antenado - Livro São indicações de livros para o aprofundamento dos conteúdos abordados nos cadernos. 7 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 8 SUMÁRIO Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira MEIO AMBIENTE 13 Linguagens Códigos e suas tecnologias 15 Língua Portuguesa........................................................................................................ 17 Apresentação.................................................................................................................. 17 Texto 1. Sobre a preservação da natureza..................................................................... 18 Texto 2. Coordenação e Subordinação: organizando ideias.......................................... 21 Texto 3. Leitura de textos não verbais............................................................................ 23 Texto 4. Função da linguagem........................................................................................ 25 De olho no ENEM............................................................................................................ 26 Referências..................................................................................................................... 27 Literatura Brasileira....................................................................................................... 29 Apresentação.................................................................................................................. 29 O Pré-modernismo e temáticas da natureza................................................................... 29 Texto 1. Costumes Avoengos......................................................................................... 32 Texto 2. Oswaldo de Andrade: a poesia Pau Brasil e a relação com a natureza........... 35 De olho no ENEM............................................................................................................ 37 Referências..................................................................................................................... 38 Ciências Humanas e suas tecnologias 41 História........................................................................................................................... 43 Apresentação.................................................................................................................. 43 Texto 1. A sociedade industrial e os impactos ambientais nos séculos XIX e XX.......... 43 Texto 2. Água e trabalho no período monárquico e no pós-abolição.............................. 46 Texto 3. Questões de saúde pública e higiene urbana no Brasil durante a Primeira República........................................................................................................................ Texto 4. Anos de guerra na Europa: a contaminação das águas e o crescimento das epidemias........................................................................................................................ 50 53 De olho no ENEM............................................................................................................ 56 Referências..................................................................................................................... 57 Geografia....................................................................................................................... 59 Apresentação.................................................................................................................. 59 Texto 1. Disponibilidade hídrica no mundo..................................................................... 59 Texto 2. Disponibilidade hídrica no Brasil....................................................................... 67 Texto 3. Transposição do Rio São Francisco................................................................. 70 Texto 4. Disponibilidade hídrica na Bahia....................................................................... 73 Texto 5. Problemas socioambientais urbanos e a água................................................. 74 De olho no ENEM............................................................................................................ 80 9 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Referências..................................................................................................................... Ciências da Natureza e suas tecnologias 81 Biologia........................................................................................................................... 83 Apresentação.................................................................................................................. 83 Texto 1. Meio Ambiente: Universo água - Caminhando juntos....................................... 83 Texto 2. A saúde reprodutiva, o saber tradicional e o mercado de trabalho................... 88 Texto 3. O petróleo e os problemas ambientais............................................................... 94 De olho no ENEM............................................................................................................. 97 Referências...................................................................................................................... 99 Química........................................................................................................................... 101 Apresentação................................................................................................................... 101 Texto 1. Petróleo.............................................................................................................. 101 Texto 2. Colas.................................................................................................................. 109 De olho no ENEM............................................................................................................. 113 Referências...................................................................................................................... 115 Física............................................................................................................................... 117 Apresentação................................................................................................................... 117 Texto 1. Descrição do aproveitamento de Sobradinho.................................................... 118 Texto 2. Raios e Para-raios.............................................................................................. 120 Texto 3. pontes de hidrogênios........................................................................................ 123 De olho no ENEM............................................................................................................. 125 Referências...................................................................................................................... 125 127 Matemática e suas tecnologias Matemática...................................................................................................................... 129 Apresentação: ................................................................................................................. 129 Texto1. Condução da água e suas classificações........................................................... 130 Texto 2. Elementos geométricos e hidráulicos de um canal............................................ 132 Texto 3. Canais parabólicos um prelúdio ao cálculo diferencial e integral....................... 137 Texto 4. Velocidade média e vazão: a fórmula de Menning............................................. 140 De olho no ENEM............................................................................................................. 145 Referências...................................................................................................................... 146 Respostas e Comentários das questões do ENEM..................................................... 147 Língua Portuguesa........................................................................................................... 147 Literatura Brasileira.......................................................................................................... 147 História............................................................................................................................. 148 Geografia.......................................................................................................................... 148 10 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Biologia............................................................................................................................. 149 Química............................................................................................................................ 150 Física................................................................................................................................ 151 Matemática....................................................................................................................... 151 LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL 155 Leitura e Produção Textual I 159 Apresentação................................................................................................................... 159 Texto 1.............................................................................................................................. 159 Texto2............................................................................................................................... 164 De Olho no ENEM............................................................................................................ 168 Referências...................................................................................................................... 169 Resposta e comentários das questões do ENEM ......................................................... 170 Leitura e Produção Textual II 171 Apresentação................................................................................................................... 171 De olho no ENEM............................................................................................................. 178 Referências...................................................................................................................... 180 Resposta e comentários das questões do ENEM ......................................................... 11 181 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 12 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 13 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 14 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 15 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 16 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Língua Portuguesa Luciana Santos de Oliveira e Luciano Amaral Oliveira Apresentação Olá! Estamos iniciando o último ano antes do ENEM. Por isso, vamos nos concentrar para fazermos um excelente exame. Neste Caderno, abordaremos um tema recorrente nessas provas: o meio ambiente. Esse assunto, geralmente, ocorre em várias áreas de conhecimento distintas, demonstrando a importância de se pensar em novas maneiras de sobrevivência e de um melhor aproveitamento dos recursos naturais. Portanto, você verá diferentes pontos de vista sobre o assunto exposto em diferentes gêneros. Também poderá apresentar suas ideias através de um texto de opinião que será construído e postado no blog da escola. Aproveitaremos para falar a respeito das funções da linguagem. Bom estudo! Conhecimento em ação O quadro a seguir tem três colunas. Marque com um X as características dos seres humanos e as características dos outros animais. CARACTERÍSTICAS são mortais não destroem o seu habitat só matam para sobreviver são racionais SERES HUMANOS OUTROS ANIMAIS dade Curiosi A viúva-negra é uma aranha com fama de má. Algumas pessoas pensam que a viúva-negra fêmea mata o macho sem nenhuma razão. Contudo, o que acontece, muitas vezes, é um acidente na hora da cópula. De acordo com uma matéria veiculada na revista Superinteressante (2012), a “cópula das aranhas tem uma característica peculiar. O macho, depois de ‘fazer a corte’ dedilhando a teia onde está a fêmea (ela reconhece o macho pela vibração dos fios), expele seu esperma em um emaranhado de teias. Então, ele mergulha as patas dianteiras, que parecem pequeninas luvas de boxe, no esperma e as introduz na abertura genital da fêmea”. O problema é que as patas do macho podem ficar presas e, quando ele tenta retirá-las, elas se partem e ele morre de hemorragia. Ainda segundo a revista, “algumas vezes, ao encontrar o macho morto, a fêmea devora -o, porque o considera uma presa como outra qualquer. A fêmea leva a fama errônea de devorar o macho”. 17 Figura 1. Viúva Negra em sua Teia Disponível em: <http:// www.wpclipart.com/animals/bugs/ s pi der/ bl ac k _ wi do w/ black_widow_spider.png.html> ção Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Língua Portuguesa EM Texto 1 Sobre a preservação da natureza Luciana Santos de Oliveira Toda vez que me deparo com um artigo jornalístico ou uma reportagem que denuncia a devastação de florestas ou a matança de animais, uma dúvida filosófica me ocorre: destruímos por que nos sentimos superiores à natureza ou por um impulso raivoso e inconformado de nos sabermos inferiores a ela? Em qualquer hipótese, a resposta vai sempre se encaminhar para o lado irracional do homem que, nesse sentido, tem agido como a mais besta de todas as bestas. Em relação aos bichos que preservam seu habitat, que só tiram dele o que lhes é extremamente necessário e que, raramente, matam um igual, ser gente não significa lá grande coisa. E se, continuando a poluir o ar e morrendo lentamente, entrarmos em extinção, penso que nenhuma outra espécie moveria uma só pata para nos salvar. O “bicho” pegaFigura 2. Peixes mortos pela poluição das águas ria para o nosso lado. Disponível: <http://www.public-domain-image.com/faunaanimals-public-domain-images-pictures/fishes-public-domainimages-pictures/dead-fish-on-coast.jpg.html> Conhecimento em ação 1. Você sabe quais são as principais características de uma crônica, esse gênero textual que acabou de ler? Observe algumas dessas características e marque quais delas encontrou no texto Sobre a preservação da natureza: (a) é, geralmente, publicada em jornais e revistas; (b) trata, em geral, de um assunto que está em evidência em nosso cotidiano; (c) tem, muitas vezes, o objetivo de divertir o leitor; (d) apresenta uma reflexão crítica sobre a vida e os comportamentos humanos; (e) pode apresentar elementos básicos de uma narrativa: fatos, personagens, tempo e lugar; (f) pode ou não apresentar a visão pessoal do autor, isto é, a crônica pode estar apenas expondo uma possibilidade ou várias possibilidades a respeito de um determinado assunto; (g) pode ser narrada em 1ª pessoa com um narrador-personagem ou em 3ª pessoa com um narrador-observador; (h) faz uso da linguagem literária, isto é, possui liberdade de criação; pode, por exemplo, ressignificar palavras ou frases já existentes, desarticular conceitos ou ironizar o senso comum; pode apresentar figuras de linguagem. 18 _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 3. No texto, a autora propõe uma “dúvida filosófica”. Por que você acha que ela usou o adjetivo filosófica para classificar a sua dúvida? O texto apresenta resposta para essa dúvida? _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 4. A autora brinca com várias construções informais da linguagem falada para dar um efeito semântico diferenciado ao que está sendo dito. Indique um exemplo dessas construções informais. _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 5. A respeito dos argumentos utilizados pela autora, pode-se afirmar que o ponto de vista defendido no texto é: (a) que, afinal de contas, o homem não tem culpa do atual estado da natureza; (b) que o homem é superior à natureza e que é sua obrigação protegê-la; (c) que os bichos são inferiores ao homem e, por isso, são classificados de irracionais; (d) que o homem age irracionalmente em relação à natureza e, nesse sentido, é inferior aos bichos; (e) que uma das consequências do efeito estufa é o aumento do número de bichos, que é inversamente proporcional ao número de homens. Zoom na informação Muitas pessoas estão preocupadas com o efeito estufa. Contudo, conforme a WWF -Brasil (2012), o efeito estufa é um fenômeno natural que mantém o planeta aquecido, possibilitando a vida por aqui. Esse aquecimento é causado “por gases de efeito estufa, sobretudo o dióxido de carbono (CO2), na atmosfera. Esses gases formam uma espécie de cobertor cada dia mais espesso, que torna o planeta cada vez mais quente e não permite a saída de radiação solar”. O problema, na verdade, é o chamado aquecimento global, provocado pela emissão excessiva de gases do efeito estufa na atmosfera, o qual pode causar a extinção da vida na Terra. 19 ção EM 2. A crônica usa linguagem literária, pois, apesar de nascer do texto jornalístico, tem liberdade de argumentos, de opiniões e de linguagem. Como exemplo disso, temos o trecho “tem agido como a mais besta de todas as bestas”, em que a autora se refere ao homem. Ela faz um trocadilho, um jogo de palavras e de sentidos. Explique com que objetivo ela utilizou a palavra besta. Língua Portuguesa Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Reflexão para ação ção Língua Portuguesa EM Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Figura 3. Gases do efeito estufa produzidos por fábricas movidas a carvão. Disponível em: <http://digitalmedia.fws.gov/cdm4/ item_viewer.php?CISOROOT=/ natdiglib&CISOPTR=1380&CISOBOX=1&REC=4> Os principais responsáveis pela produção de CO2 são o carvão e os derivados do petróleo, como a gasolina e o óleo diesel. Isso significa que, quanto mais veículos movidos a gasolina rodarem nas ruas de nossas cidades, mais gases de efeito estufa serão lançados na atmosfera. Reúna-se com mais dois colegas e procurem, na Internet, imagens que evidenciam a degradação do meio ambiente causada pela produção de CO2, como mostra a Figura 3. Se vocês não tiverem acesso à Internet, procurem por fotos em livros e enciclopédias e façam uma cópia. Em seguida, pensem em duas ações que podemos realizar para diminuir a quantidade desses gases. Faça a postagem dessas imagens juntamente com suas sugestões de ações no blog da escola ou prepare um cartaz com esse material e afixe-o na parede da sua sala. Conhecimento em ação Texto de opinião Alguns gêneros textuais se confundem com a crônica, como, por exemplo, o texto de opinião. No entanto, enquanto a crônica é considerada um gênero literário por poder narrar fatos fictícios, com personagens fictícias, o texto de opinião expõe o ponto de vista do seu autor a respeito de um assunto que está sendo discutido na sociedade. Você vai agora construir um texto breve expondo sua opinião a respeito dos danos ambientais causados pelo uso de gasolina e de óleo diesel, que produzem gases do efeito estufa e que são derivados do petróleo, recurso natural não renovável, que pode não mais existir num futuro próximo. Sugira energias alternativas ou meios alternativos de transporte que podem contribuir para diminuir a emissão desses gases. No texto, escreva o título centralizado no alto da página e, abaixo dele, alinhado à direita, seu nome. Redija três ou quatro parágrafos: no primeiro, contextualize o assunto do seu texto; no segundo (e no terceiro, se você optar por quatro parágrafos), apresente sua sugestão de alternativas; no último, exponha argumentos para defender sua sugestão. O objetivo é convencer as pessoas que lerem seu texto de que seu ponto de vista procede. Imagine que esse leitor faz parte da banca de examinadores do ENEM. Depois, junto com seu professor (ou sua professora), organize um debate sobre o tema. Se você precisar de informações para a construção de seus argumentos, veja a seção “Siga antenado”. Finalmente, a partir dos comentários do professor sobre seu texto, faça uma autoavaliação: você acha que está conseguindo construir um texto argumentativo eficiente? 20 Você sabe o que é o Protocolo de Quioto? Segundo o Portal Brasil (2012), é um tratado internacional criado de acordo com a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança de Clima e assinado na cidade japonesa de Quioto em 1997. O primeiro período de cumprimento do tratado começou em 2005 e terminou em 2012, quando já havia sido ratificado por 184 países. Seu objetivo é “estabilizar a emissão de gases do efeito estufa na atmosfera a fim de conter o aquecimento global e seus possíveis impactos”. Siga antenado Um site no qual podemos conseguir informações importantes sobre o meio ambiente é o da organização WWF-Brasil: <www.wwf.org.br>. Ao acessá-lo, nós vemos, no canto superior direito, uma caixa de entrada na qual digitamos o assunto que nos interessa. Por exemplo, se digitar “petróleo e poluição”, você obterá como resultados não apenas os títulos de textos sobre esse assunto, mas também frases que contêm as palavras-chave petróleo e poluição. Texto 2 Coordenação e subordinação: organizando ideias Quando falamos ou escrevemos, procuramos organizar o nosso discurso de maneira que haja uma sequência lógica de ideias que serão unidas pelo sentido produzido pelo todo do texto. Na escrita, podemos organizar e estruturar os períodos por meio de sinais de pontuação e de conjunções, formando períodos compostos por coordenação ou subordinação. O uso adequado da pontuação e das conjunções é importante para que seu texto seja considerado coerente por quem o ler. Vale lembrar que um período é composto por coordenação quando ele é formado por orações sintaticamente independentes umas das outras, pois cada uma delas apresenta os termos necessários (sujeito, verbo, objeto) para ter sentido. Observe: 1ª oração 2ª oração Os homens são racionais, mas destroem o meio ambiente. As orações destacadas são unidas apenas pela sequência de sentido e pela conjunção mas, que, no caso, passa a ideia de contradição ou adversidade. As conjunções que unem as orações coordenadas chamamos de conjunções coordenativas. As orações também podem ser coordenadas por vírgulas, como as duas primeiras do período a seguir: 1ª oração 2ª oração 3ª oração Acordei tarde, peguei um ônibus e cheguei atrasada. 21 ção EM ade sid Curio Língua Portuguesa Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira ção Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira EM Conhecimento em ação Língua Portuguesa 1. Agora observe este período e responda à pergunta que o segue: “Quando o homem tomar consciência, pode ser tarde demais para mudar as coisas e a vida vai estar irremediavelmente ameaçada.” Quantas orações existem nele? ______________________________________________________________________ 2. No trecho “Em relação aos bichos que preservam seu habitat, que só tiram dele o que lhes é extremamente necessário e que raramente mata um igual, [...]”, a conjunção e tem sentido de: a) adição; b) oposição; c) exclusão; d) conclusão; e) explicação. 3. Preencha cada lacuna dos trechos abaixo com uma conjunção adequada: (a) _______________ Revolução Industrial só tenha começado na segunda metade do século XVIII, a Inglaterra já era um país rico por causa do comércio. (b) A invenção da máquina a vapor e a invenção do tear mecânico resultaram do investimento de capitais e de experimentos científicos. ______________, esses inventos não surgiram do acaso. (c) A França, que estivera mergulhada na Revolução Francesa desde 1789, teve, _______________, o seu desenvolvimento industrial retardado. Reflexão para ação Conjunções adversativas podem revelar o preconceito de quem as usa. Tomemos o enunciado “Ela é pobre, mas é limpinha” para analisarmos isso. Note que não há contraste entre as duas orações (diferentemente do que ocorre com este enunciado: “Este livro está muito caro, mas eu vou comprá-lo”). O contraste ocorre nas entrelinhas do enunciado, revelando um discurso fortemente preconceituoso, segundo o qual ser pobre implica ser sujo. Logo, seguindo-se essa lógica preconceituosa, se uma pessoa é pobre e não é suja, haveria aí um contraste. Ouvimos construções com conjunções adversativas nas falas das pessoas, revelando racismo, homofobia, sexismo, indigenofobia e preconceito de origem geográfica e social. Pense em alguns exemplos que evidenciam o uso da adversativa que expressa preconceito. Fique alerta para não aceitar esse tipo de construção, que fere a autoestima das pessoas, e para não construir esse tipo de sentença. Afinal, é importante respeitarmos as pessoas, respeitarmos as diferenças. 22 ção Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Leitura de textos não verbais Contrariamente ao que alguns estudantes pensam, um texto não precisa ser formado apenas por palavras. Ou seja, os textos não precisam ser exclusivamente verbais: eles podem ter elementos não verbais como números, imagens, gráficos e tabelas. Podem até nem ter palavras. Por exemplo, os símbolos que você vê a seguir, encontrados, frequentemente, em prédios públicos, são textos sem palavras. O primeiro, obviamente, significa “Proibido fumar”. O segundo, que está ficando cada vez mais conhecido das pessoas, significa “Reciclável”. Figura 4. Proibido fumar¹ Figura 5. Reciclável² Um elemento que ajuda na construção de sentido de alguns textos é a tabela, que é um conjunto de informações traduzidas em número e organizadas em colunas (verticais) e linhas (horizontais). As tabelas são muito úteis, mas tenha cuidado com a maneira como você interpreta os dados: números podem nos enganar. A Tabela 1, a seguir, foi adaptada a partir do artigo intitulado A água na terra está se esgotando? É verdade que no futuro próximo teremos uma guerra pela água?, de autoria de Pedro Jacobi (2011). Observe-a atentamente e responda às perguntas a seguir. E considere esta informação importante: o volume de água da cada local está indicado em quilômetros cúbicos (km3); um quilômetro cúbico equivale a um trilhão de litros. Tabela 1. Distribuição de água no mundo. LOCAL Oceanos VOLUME (km3) 1.370.000 Calotas polares e geleiras PERCENTUAL DO TOTAL 97,61 29.000 2,08 4.000 0,29 Lagos de água doce 125 0,009 Lagos de água salgada 104 0,008 Rios 1,2 0,00009 Atmosfera (vapor d’água) 1,4 0,0009 Subsolo Fonte: Wetzel (1983 apud JACOBI, 2011) (adaptado). ¹Disponível em: <http://www.wpclipart.com/phps.php?q=no+smoking>. Acesso em: 03 mar. 2012. ²Disponível em: <http://www.wpclipart.com/phps.php?q=recycle>. Acesso em: 3 mar. 2012. 23 Língua Portuguesa EM Texto 3 ção EM Língua Portuguesa Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Conhecimento em ação 1. Em que local do planeta existe mais água? ______________________________________________________________________ 2. Embora haja muita água na Terra, apenas uma parte dela é doce e, mesmo assim, nem toda ela está disponível para o ser humano. Onde se encontra a água doce disponível para o uso das pessoas? ______________________________________________________________________ 3. Você acha que existe pouca água disponível para o uso humano no mundo? Com base em que você afirma isso? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Zoom na informação Muitas pessoas acreditam que a água do planeta Terra está acabando. Essa crença se deve ao fato do número de seres humanos aumentar muito a cada década e o percentual dessas pessoas sem acesso à água tornar-se maior também. Contudo, o que acontece, na verdade, é que há muita água potável no planeta, mas ela está mal distribuída, ficando concentrada, principalmente, em quatro países: Brasil, Rússia, China e Canadá. Veja a que conclusão chega o autor da tabela 1 (JACOBI, 2011): Conclusão final: A água da Terra não está acabando. Na realidade, a água da superfície terrestre pode estar aumentando pela adição de água vulcânica. O valor da água deverá aumentar consideravelmente, pois existem países carentes que terão que utilizar tecnologias caras ou importar água de países ricos. O Brasil não deverá ter problema de falta de água se os governantes investirem adequadamente no gerenciamento, armazenagem, tratamento e distribuição das águas. Evitar a poluição das águas deve ser considerado a prioridade número um dos governantes. ade Curiosid Você sabe o que é eclusa? Se não sabe, então acrescente essa palavra ao seu vocabulário. Segundo Caroline Faria (2012), eclusa é o nome que se dá a cada uma das comportas de uma barragem que “funcionam como se fossem elevadores de água que fazem os navios subirem e descerem”. De acordo com José Paulo Borges (2012), a eclusa da Barragem de Sobradinho, que é uma atração turística no Rio São Francisco, tem 120 metros de comprimento e 17 metros de largura, e “permite às embarcações vencer o desnível de 32 metros criado pela barragem construída pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), no período de 1973 a 1979”. 24 ção Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Leia o miniconto de Mayrant Gallo (2010, p. 36), a seguir, e compare a ironia da mãe do menino com a conclusão de Jacobi apresentada no “Zoom na Informação”. Compartilhe sua conclusão, oralmente, com a turma. Anedota da água Mayrant Gallo Diante da pia, fechando a torneira, o filho disse à mãe que a água do mundo estava no fim. E ela, do alto de sua calma de quatro vintenas, faceira, brincou: – Sei... E é pra quando isso? Texto 4 Funções da linguagem A linguagem desempenha seis funções básicas na comunicação. Vejamos cada uma delas. 1.A função referencial ou denotativa, que é aquela de transmitir informações, típica de textos jornalísticos, científicos e didáticos. 2. A função emotiva ou expressiva é aquela que expressa emoções, julgamentos e opiniões. Ela é muito comum em textos dramáticos e poéticos. 3. A função conativa ou apelativa, isto é, a função de influenciar, persuadir, convencer, levar o receptor do texto a adotar um determinado comportamento. Ela é muito comum em anúncios publicitários e discursos políticos. 4. A função fática, ou seja, a função de estabelecer contato com o receptor para se certificar de que ele está entendendo a mensagem ou para prolongar a conversa. Isso é muito comum em nossas conversas diárias. Muitas vezes, dizemos algo assim: “Você está me entendendo?” 5. A função metalinguística é a função de falar sobre a própria linguagem, como estamos fazendo agora, explicando suas funções. Nas aulas de português, quando a professora fala sobre verbo, sujeito e conjugação, por exemplo, ela está colocando em ação a função metalinguística. 6. A função poética, ou seja, a função de expressar sentimentos ao receptor da mensagem, provocando-lhe uma sensação de prazer estético, como acontece com poemas e canções. 25 Língua Portuguesa EM Conhecimento em ação ção EM Língua Portuguesa Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Conhecimento em ação Com base nessas funções, responda a estas perguntas sobre o texto de Jacobi e sobre o miniconto de Gallo: 1.Que função predomina na conclusão do artigo de Jacobi? Por quê? _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 2. Que função predomina no miniconto de Gallo? Por quê? _________________________________________________________________________ Glossário apud: expressão latina que significa “junto a” e que, numa referência bibliográfica, é usada para indicar a origem de uma citação indireta; habitat: conjunto de elementos físicos e geográficos que oferece condições favoráveis à vida e ao desenvolvimento de determinadas espécies animais ou vegetais; potável: que pode ser bebido; reciclável: que pode ser reciclado ou reutilizado após uma série de processos de mudança ou tratamento. De olho no ENEM Questão 01 (ENEM – 2010) (A) emotiva, porque o autor expressa seu A biosfera, que reúne todos os ambientes onde se desenvolvem os seres vivos, se divide em unidades menores chamadas ecossistemas, que podem ser uma floresta, um deserto e até um lago. Um ecossistema tem múltiplos mecanismos que regulam o número de organismos dentro dele, controlando sua reprodução, crescimento e migrações. DUARTE, M. O guia dos curiosos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. sentimento em relação à ecologia; (B) fática, porque o texto testa o funcionamento do canal de comunicação; (C) poética, porque o texto chama a atenção para os recursos de linguagem; (D) conativa, porque o texto procura orientar comportamentos do leitor; (E) referencial, porque o texto trata de noções e informações conceituais. Predomina no texto a função da linguagem: 26 Questão 02 (ENEM – 2011) ção Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Dados preliminares divulgados por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) apontaram o Aquífero Alter do Chão como o maior depósito de água potável do planeta. Com volume estimado em 86.000 quilômetros cúbicos de água doce, a reserva subterrânea está localizada sob os Estados do Amazonas, Pará e Amapá. “Essa quantidade de água seria suficiente para abastecer a população mundial durante 500 anos”, diz Milton Matta, geólogo da UFPA. Em termos comparativos, Alter do Chão tem quase o dobro do volume de água do Aquífero Guarani (com 45.000 quilômetros cúbicos). Até então, Guarani era a maior reserva subterrânea do mundo, distribuída por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Essa notícia, publicada em uma revista de grande circulação, apresenta resultados de uma pesquisa científica realizada por uma universidade brasileira. Nessa situação específica de comunicação, a função referencial da linguagem predomina, porque o autor do texto prioriza: (A) as sua opiniões, baseadas em fatos; (B) os aspectos objetivos e precisos; (C) os elementos de persuasão do leitor; (D) os elementos estéticos na construção do texto; (E) os aspectos subjetivos da mencionada pesquisa. Época, no 623, 26 abr. 2010 Referências BORGES, José Paulo. Onde o Chico virou mar. Disponível em: <http://www.redebrasilatual.com.br/ revistas/66/viagem>. Acesso em: 03 mar. 2012. PORTAL BRASIL. Protocolo de Quioto. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cop17/panorama/oprotocolo-de-quioto>. Acesso em: 17 mar. 2012. FARIA, Caroline. Eclusa. Disponível em: <http://www.infoescola.com/engenharia/eclusa/>. Acesso em: 03 mar. 2012. GALLO, Mayrant. Nem mesmo os passarinhos tristes. Rio de Janeiro: Multifoco, 2010. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Grande dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. JACOBI, Pedro. A água na Terra está se esgotando? É verdade que no futuro próximo teremos uma guerra pela água? Disponível em: <http://www.geologo.com.br/aguahisteria.asp>. Acesso em: 20 dez. 2011. SUPERINTERESSANTE. Viúva-negra não mata o macho: só prende. Disponível em: <http:// super.abril.com.br/mundo-animal/viuva-negra-nao-mata-macho-so-prende-488471.shtml>. Acesso em: 03 mar. 2012. WWF-BRASIL. Saiba mais sobre mudanças climáticas. Disponível em: <http://www.wwf.org.br/ natureza_brasileira/reducao_de_impactos2/clima/mudancas_climaticas/>. Acesso em: 03 mar. 2012. 27 Língua Portuguesa É água que não acaba mais EM . Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 28 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Literatura Brasileira Carla Patrícia Santana e Gildeci de Oliveira Leite Apresentação O Pré-modernismo e temáticas da Natureza Uma das grandes obras do modernismo brasileiro, ou do chamado pré-modernismo, é intitulada “Os Sertões”, de Euclides da Cunha. O seu título evidencia o porquê de aparecer aqui, neste Caderno, cuja temática central é a importância da água e dos elementos da natureza. Logo de início podemos retomar uma afirmação de Alfredo Bosi encontrada em sua obra História Concisa da Literatura Brasileira (1978): “Os sertões são obra de um escritor comprometido com a natureza, com o homem e com a sociedade” (p.348). Obra que nos traz os acontecimentos da guerra de Canudos, no contexto dos primeiros anos da República no Brasil, ainda de acordo com Bosi, que pode ser melhor compreendida se aproximada do romance da seca e do cangaço dos anos de 30 (ibidem). O homem do sertão – do sertão abandonado – e o seu enfrentamento diário aos problemas decorrentes da falta de água, são descritos a partir de um olhar preocupado com as questões sociais do País: O vaqueiro [o sertanejo do norte], porém, criou-se em condições opostas [ao do sertanejo do sul], em uma intermitência, raro perturbada, de horas felizes e horas cruéis, de abastança e misérias – tendo sobre a cabeça, como ameaça perene, o Sol, arrastando de envolta no volver das estações, períodos sucessivos de devastações e desgraças. Atravessou a mocidade numa intercadência de catástrofes. Fez-se homem, quase sem ter sido criança. Salteou-o, logo, intercalando-lhe agruras nas horas festivas da infância, o espantalho das secas no sertão. Cedo encarou a existência pela sua face tormentosa. E um condenado à vida. Compreendeu-se envolvido em combate sem tréguas, exigindo-lhe imperiosamente a convergência de todas as energias. Fez-se forte, esperto, resignado e prático. Aprestou-se, cedo, para a luta. (Euclides da Cunha, Os Sertões). O texto acima descreve o sertanejo, tipo humano singular configurado pela paisagem do Sertão, bem como a luta pela sobrevivência em ambiente tão árduo. Para fomentar uma problematização sobre esse lugar intitulado Sertão, recorremos a um trecho da obra de Nelson Werneck Sodré (História da literatura brasileira, 1988): Ora, o sertão não se caracteriza pelo pitoresco; os seus traços pitorescos são apenas a moldura do quadro e, consequentemente, o secundário nele. E o pitoresco ligado à gente do sertão – cangaço, fanatismo – irmana-se ao pitoresco da paisagem, a seca, em larga faixa territorial, aliás, economicamente secundária e demograficamente rarefeita. O sertão, aceitando-o como sinônimo do interior brasileiro, define-se pelo latifúndio. A seca, quando ocorre, denuncia com violência, mais do que uma calamidade climática, a calamidade social. (p. 605) 29 ção EM Literatura Brasileira Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Ainda neste caderno, veremos como o Sertão e o massacre de Canudos foram representados na música brasileira. Também discutiremos como os poetas da primeira geração modernista abordaram elementos da natureza, em especial, como, a partir de Oswald de Andrade, o Pau-Brasil apareceu em nossa literatura em um momento no qual se aguçou um olhar mais contestador sobre a realidade nacional. Algumas referências a essa árvore, símbolo do Brasil, nas letras de músicas e na linguagem visual também foram retomadas aqui. Ao longo dos textos foram disponibilizados glossários com o objetivo de facilitar a compreensão dos mesmos. Fiquem atentos a todas as atividades elaboradas e apresentadas neste caderno. Os conteúdos aqui tratados vão contribuir para o seu aprendizado. Vamos mergulhar nesses assuntos? Figura 1. O homem e a seca. Fonte: Afoba, Mario Sérgio; 2012. Glossário agruras: amargura, desgosto, dissabor. aguçou: avivou, tornou perspicaz, espertou, estimulou. Animou, excitou. fomentar: estimular, incitar; promover o desenvolvimento ou o progresso de. Desenvolver, excitar. intercadência: alternativa, variação; intercorrência. intercalando: que se intercala, ou se intercalou. Que está ou se coloca entre. intermitência: descontinuação; interrupção momentânea. Interrupção numa série. Intervalo em fenômenos periódicos. pitoresco: relativo à pintura; pictórico. Picante, imaginoso, pinturesco, original. volver: mover para um e para outro lado; virar, voltar. Siga antenado Para leitura, acesse: Os Sertões, Euclides da Cunha. http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do? select_action=&co_obra=2163 Adaptação do livro para quadrinhos: HQ Os Sertões – A luta, Carlos Ferreira e Rodrigo Rosa, 2010. Assista: A Guerra de Canudos, 1997. Direção: Sérgio Rezende. 30 Após a leitura dos trechos abaixo, identifique uma das práticas para pedir chuva desenvolvida pelos sertanejos e descrita no romance Os Sertões. Você deverá fazer anotações em seu caderno para utilizá-las nas atividades que serão apresentadas pelo seu professor. Trecho 1: “Fora longo traçar-lhes a evolução do caráter. Caldeadas a índole aventureira do colono e a impulsividade do indígena, tiveram, ulteriormente, o cultivo do próprio meio que lhes propiciou, pelo insulamento, a conservação dos atributos e hábitos avoengos, ligeiramente modificados apenas consoante às novas exigências da vida. E ali estão com as suas vestes características, os seus hábitos antigos, o seu estranho aferro às tradições mais remotas, o seu sentimento religioso levado até o fanatismo, e o seu exagerado ponto de honra, e o seu folclore belíssimo de rimas de três séculos...” (Os Sertões, p.45). Figura 2 : Faianos. Fonte: Afoba, Mario Sérgio; 2012. Trecho 2: “Precautela-se: revista, apreensivo, as malhadas. Percorre os logradouros longos. Procura entre as chapadas que se esterilizam várzeas mais benignas para onde tange os rebanhos. E espera, resignado, o dia 13 daquele mês porque, em tal data, usança avoenga lhe faculta sondar o futuro, interrogando a Providência. E a experiência tradicional de Santa Luzia. No dia 12 ao anoitecer expõe ao relento, em linha, seis pedrinhas de sal, que representam, em ordem sucessiva da esquerda para a direita, os seis meses vindouros, de janeiro a junho. Ao alvorecer de 13 observa-as: se estão intactas, pressagiam a seca; se a primeira apenas se deliu, transmudada em aljôfar límpido, é certa a chuva em janeiro; se a segunda, em fevereiro; se a maioria ou todas, é inevitável o inverno benfazejo. Esta experiência é belíssima. Em que pese ao estigma supersticioso, tem base positiva, e é aceitável desde que se considera que dela se colhe a maior ou menor dosagem de vapor d'água nos ares, e, dedutivamente, maiores ou menores probabilidades de depressões barométricas, capazes de atrair o afluxo das chuvas. Entretanto, embora tradicional, esta prova deixa ainda vacilante o sertanejo. Nem sempre desanima, ante os seus piores vaticínios. Aguarda, paciente, o equinócio da primavera, para definitiva consulta aos elementos. Atravessa três longos meses de expectativa ansiosa e no dia de S. José, 19 de março, procura novo augúrio, o último. Aquele dia é para ele o índice dos meses subsequentes. Retrata-lhe, abreviadas em doze horas, todas as alternativas climáticas vindouras. Se durante ele chove, será chuvoso o inverno: se, ao contrário, o Sol atravessa abrasadoramente o firmamento claro, estão por terra todas as suas esperanças. A seca é inevitável.” (Os Sertões, p.59) 31 ção EM Conhecimento em ação Literatura Brasileira Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira ção EM Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Texto 1 Costumes Avoengos Literatura Brasileira Por Gildeci Leite Em Serra Preta, conseguimos a confirmação da atualidade dessas e outras práticas descritas por Euclides da Cunha, com algumas variações. A busca da previsão do tempo é feita no dia 31 de dezembro com doze montes de sal e o dia 19 de março, além de servir como previsão meteorológica, é indicado para plantar, principalmente o milho, garantindo assim, uma boa colheita em junho. Em outras localidades, a exemplo da Ilha de Itaparica e em Salvador, recomenda-se que o plantador não seja “banguelo”, que possua todos os dentes, evitando a germinação de espigas de milho falhadas. Correlato aos poderes de São Campeiro na busca de objetos desaparecidos, mesmo na capital baiana, apela-se para São Longuinho com os seguintes versos: “São Longuinho, São Longuinho, se eu achar (diz o que se pretende achar) dou três pulinhos.” A promessa deve ser imediatamente paga para evitar novas perdas como castigo. Tal qual o depoimento centenário de Euclides, o final do dia é indicado com o sinal da cruz e a oração Ave Maria, há algumas décadas, já com a ajuda radiofônica. Também, em Salvador, alguns lares ainda conservam a imposição do silêncio e a concentração ao ouvirem a oração da Mãe de Cristo pelo rádio. Fora do campo bélico, merecem destaque as orações destinadas a atrair chuvas, culminando com a troca dos santos de suas capelas originais até chover. Novamente Serra Preta é chamada para analogia e comprova o depoimento euclidiano. Após o dia de São José - 19 de março - esperam-se as chuvas por algumas semanas. Caso a seca continue, são acionadas N.S.ª do Perpétuo Socorro, N.S.ª do Bom Conselho e, também os santos São José e São Benedito. De acordo com os depoimentos, “os santos são trocados de lugar e as imagens permanecem em vigília, de castigo, até os primeiros pingos de chuva.” Glossário aferro: ato de aferrar. Obstinação, teimosia. Apego, inclinação; afeição, afeto, dedicação. afluxo: ato de afluir, afluência. Correr. aljôfar: orvalho da manhã. analogia: semelhança de propriedades. Semelhança em algumas particularidades, de funções etc., sem que haja igualdade atual ou completa. augúrio: prognóstico feito pelos áugures, pela interpretação do voo e canto das aves, inspeção das entranhas dos animais sacrificados ou de qualquer sinal natural. Adivinhação, agouro, predição do futuro, presságio, prognóstico, vaticínio. avoengos: que procedem ou são herdados dos avós. Muito antigo. barométricas: concernente ao barômetro. Que se afere por meio do barômetro (instrumento para determinar a pressão atmosférica, altitudes e indicar de antemão as variações prováveis do tempo). bélico: concernente à guerra. Próprio da guerra. 32 penúria: privação do necessário. Miséria extrema; pobreza. prédicas: ação de pregar; práticas, pregações, sermões. radiofônica: pertencente ou relativa à radiofonia. Que diz respeito à atividade artística, educativa e informativa através da radiodifusão. tirante: que tira ou puxa. Excetuado. ulteriormente: situado além, mais longe; que vem depois, no espaço e no tempo; seguinte, posterior. usança: uso, costume velho; costumeira. Hábito antigo e tradicional. vaticínios: predição, profecia, prognóstico. ade sid Curio Até agora, você já descobriu duas práticas de fé para pedir chuva. Rainha dos anjos E do céu resplendor (bis) Vejamos um exemplo localizado na região da Chapada Diamantina. Conta-se que se costumava ir ao Cruzeiro (um morro onde há uma cruz, aonde a população se dirige para fazer penitência), levando jarros de água com flores, uma oferenda, rezando e pedindo chuva. Vejamos uma das preces para pedir chuva: Viva São Francisco Com muita grandeza Retrato de Cristo Ele é pai da pobreza (bis) Prece para pedir chuva (recolhida por D. Diva Araújo, professora da Várzea do Caldas, Seabra) Senhora Santana De nós tem piedade Mandai-nos a chuva Por vossa bondade (bis) Senhor São Francisco De bom coração Livrai-nos da fome Tem de nos compaixão (bis) (todos andando rumo ao Cruzeiro, com garrafas de água e ramos verdes na cabeça, para despejar ao seu pé). Senhor Santana Livrai-nos da fome Da peste e da guerra E nos dê chuva na terra (bis) Senhora Santana De grande valor 33 ção EM caldeadas: levadas ao rubro por meio do fogo. Ligadas pelo aquecimento até quase ao ponto de fusão. culminando: atingindo seu ponto culminante, mais elevado. deliu: desfez ou dissolveu; destruiu; apagou; desvaneceu. erigido: construído, levantado; criado, fundado, instituído. Erguido. estigma: marca indelével. Cicatriz de uma ferida ou chaga. insulamento: ato ou efeito de insular. Segregação de grupos, em consequência de fatores socioculturais como preconceitos de raça, de cor, de classe, de nacionalidade etc. malhadas: lugar onde o gado costuma dormir, em lotes. Lugar onde comumente reúne-se o gado, para ser trabalhado. Literatura Brasileira Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira ção EM Literatura Brasileira Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Conhecimento em ação E na sua região? Há ou existiu alguma prática de fé para pedir chuva? Quais as rezas utilizadas nesses momentos? Pergunte aos seus avós, tios ou vizinhos sobre o assunto. Se não conseguir obter informações a partir dessas fontes, pesquise na Internet e certamente descobrirá mais. Elaborem uma proposta de um cartaz informativo sobre o assunto, a ser apresentado em sala de aula. No dia em que o cartaz estiver pronto, realizem uma roda de bate-papo, na qual cada um contará uma prática de fé e informará o lugar onde ela era ou ainda é realizada. ade osid Curi Há no sertão brasileiro uma figura muito conhecida e de uma função social tão importante que já foi tema de peças de teatro, desenhos e livros. São os chamados Profetas da chuva. Figura 3. O olhar sobre a seca. Fonte: Afoba, Mario Sérgio. Conhecimento em ação Agora que você já ouviu falar em Profeta da chuva, amplie seus conhecimentos fazendo uma pesquisa na Internet sobre essa figura do sertão brasileiro (há livros, peças e vídeos sobre o assunto). Em sala de aula, confronte sua pesquisa com seus colegas: reunidos em grupos, cada um apresenta o que fez. Cada grupo deverá elaborar uma síntese a ser exposta em cartaz no mural da escola. Poderão usar desenhos, fotografias, trechos de depoimentos, das rezas e resumos escritos. dade Curiosi Chuva artificial Além das práticas de fé para pedir chuva, é possível também, atualmente, recorrer às novas técnicas que utilizam recursos tecnológicos para fazer chuva artificial. A Física, a Química e a Biologia têm discutido o assunto e desenvolvido técnicas para solucionar o problema da seca no Nordeste. Você pode pesquisar sobre o assunto na Internet. 34  Assista: Canudos e Contestado: guerra de Deus e do Diabo. (Brasil 500 anos: o BrasilRepública na TV) – animação/Grupo Mão Molenga – teatro de bonecos. Autoria: Ministério da Educação/Fundação Joaquim Nabuco/Ministério da Cultura. Apoio: TV Cultura.  Você assistiu ao filme Os Narradores de Javé? Ali são discutidas as consequências de uma inundação, como exemplo da inundação do Arraial de Canudos (assunto que você pode pesquisar), e a importância dos conhecimentos passados pela oralidade, como as práticas de fé para pedir chuva. Figura 4. A Guerra de Canudos. Fonte: Afoba, Mario Sérgio.  Alguns compositores abordaram a Guerra de Canudos e as particularidades do Sertão em seus trabalhos. Um exemplo é a música Salve Canudos, de Fábio Paes e Pe. Enoque Oliveira. Você pode pesquisar e descobrir a letra dessa composição. Texto 2 Oswald de Andrade: a poesia Pau Brasil e a relação com a natureza Você já deve ter lido o manifesto da poesia Pau-Brasil no seu livro didático ou em outras fontes, por isso, não o reproduziremos aqui. Retomamos uma afirmação de um estudioso da literatura: “postula o espírito Pau-Brasil, isto é, a valorização do nosso substrato indígena” (MASSAUD MOISES, p.405), a fim de destacar como o tema da nacionalidade continua a ser discutido pela literatura. No entanto, como já deve ser do seu conhecimento, em outra perspectiva: o de um olhar crítico sobre realidade nacional. Apresentamos algumas referências que abordam o Pau-Brasil como árvore símbolo do Brasil, inserindo-o na música brasileira e em poesias contemporâneas. Glossário substrato: camada linguística que se dissolve na língua de um povo conquistador ou colonizador, deixando-lhe, porém, traços do primitivo modo de falar. São substratos, por exemplo, as línguas (gaulês, ibero etc.) que se falavam no Império Romano antes da vitória do latim. 35 ção EM Siga antenado Literatura Brasileira Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira ção EM Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Literatura Brasileira Zoom na informação Nessa discussão sobre a natureza, nos chama a atenção o próprio nome do emblemático manifesto modernista, Pau-Brasil. Oswald de Andrade escolhe o nome da árvore, que também serviu para designar o País no primeiro momento. O nome científico atribuído ao Pau-Brasil, pelos biólogos, foi Caesalpinia echinata Lam. É também conhecido por Ibirapitanga e Muirapitanga. Segue uma dica: O dia 3 de maio é o dia do Pau-Brasil Árvore símbolo do Brasil. Conhecimento em ação Para mobilizar a comunidade da escola e/ou de seu bairro, escreva, em conjunto com seus colegas, um folheto sobre a importância da preservação das árvores para a sobrevivência do planeta. Solicite ajuda do(a) docente de Língua Portuguesa e Biologia para produzir o folheto. de sida Curio Você sabia que a madeira do Pau-Brasil é utilizada para confeccionar instrumentos musicais? Muitos textos e vídeos abordam esse assunto – o Pau-Brasil como a árvore da música. Pesquise na Internet e encontrará mais informações. Figura 5. O tatu e o Pau-Brasil. Fonte: Afoba, Mario Sérgio. Conhecimento em ação Alguns compositores inseriram referências do Pau-Brasil em suas letras. Você conhece alguma delas? Aqui vai uma dica: A música PAU-BRASIL, de Francis Hime e Geraldino Carneiro, no disco: Pau-Brasil, 1982. Componha uma letra de música, ou faça uma paródia, que conjugue os elementos expostos neste módulo: a importância da preservação da natureza, a árvore do Pau-Brasil e sua relação com a música, a importância da água para a nossa sobrevivência, entre outros elementos. A socialização acontecerá na atividade proposta a seguir. 36 Você chegou ao final deste caderno com muitas informações, além de ter desenvolvido algumas atividades: paródia, ter feito uma pesquisa sobre O Profeta da Chuva, descoberto práticas de fé para pedir chuvas, cartazes, ter lido trechos do livro Os Sertões, letras de músicas sobre A Guerra de Canudos. Agora, que tal promovermos um dia de mobilização artística semelhante ao que foi A Semana de Arte Moderna de 1922 e expormos um pouco de tudo o que você aprendeu e fez até agora? Lembrando que o evento contou com apresentação de conferências, leitura de poemas, dança, pintura e música. Passo-a-passo: 1. Dividir a turma em equipes: A) equipe responsável para fazer um resumo do que foi a Semana de 22 e escrever qual a proposta do trabalho, a serem lidos na abertura da apresentação; B) equipe para selecionar as músicas a serem tocadas no dia: músicas sobre a guerra de Canudos (Salve Canudos, de Fabio Paes e Pe. Enoque Oliveira), sobre água, o Pau-Brasil e outras que dialoguem com o tema da unidade; C) equipe do recital poético (3 poesias); D) equipe de decoração: cartaz elaborado para a pesquisa sobre O Profeta da Chuva; um cartaz sobre o Pau-Brasil; E) equipe de contação de práticas para pedir chuva: deve-se escolher uma das prática apresentadas neste módulo para ser narrada e representada/encenada. 2. Definir qual o prazo para a organização e melhor dia para a apresentação. Deve-se levar em conta que todo o conhecimento já foi adquirido ao longo da unidade e o trabalho é uma sistematização do aprendizado. 3. Deve-se preparar um cartaz a ser preenchido durante o evento, com a seguinte questão: Como foi o meu envolvimento e o que aprendi com essa atividade? Cada aluno deverá escrever seu depoimento (a equipe de decoração/cartazes se responsabilizará por preparar esse cartaz e disponibilizar pilotos de cores diferentes para os/as colegas). De olho no ENEM Textos para as questões 01 e 02 Texto I É praticamente impossível imaginarmos nossas vidas sem o plástico. Ele está presente em embalagens de alimentos, bebidas e remédios, além de eletrodomésticos, automóveis etc. Esse uso ocorre devido à sua atoxicidade e à inércia, isto é: quando em contato com outras substâncias, o plástico não as contamina; ao contrário, protege o produto embalado. Outras duas grandes vantagens garantem o uso dos plásticos em larga escala: são leves, quase não alteram o peso do material embalado, e são 100% recicláveis, fato que, infelizmente, não é aproveitado, visto que, em todo o mundo, a percentagem de plástico reciclado, quando comparado ao total produzido, ainda é irrelevante. Revista Mãe Terra. Minuano, ano I, n. 6 (adaptado). 37 ção EM Conhecimento em ação Literatura Brasileira Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira ção EM Literatura Brasileira Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Texto II Sacolas plásticas são leves e voam ao vento. Por isso, elas entopem esgotos e bueiros, causando enchentes. São encontradas até no estômago de tartarugas marinhas, baleias, focas e golfinhos, mortos por sufocamento. Sacolas plásticas descartáveis são gratuitas para os consumidores, mas têm um custo incalculável para o meio ambiente. Veja, 8 jul. 2009. Fragmentos de texto publicitário do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente. Questão 01 Na comparação dos textos, observa-se que: A) o texto I apresenta um alerta a respeito do efeito da reciclagem de materiais plásticos; o texto II justifica o uso desse material reciclado. B) o texto I tem como objetivo precípuo apresentar a versatilidade e as vantagens do uso do plástico na contemporaneidade; o texto II objetiva alertar os consumidores sobre os problemas ambientais decorrentes de embalagens plásticas não recicladas. C) o texto I expõe vantagens, sem qualquer ressalva, do uso do plástico; o texto II busca convencer o leitor a evitar o uso de embalagens plásticas. D) o texto I ilustra o posicionamento de fabricantes de embalagens plásticas, mostrando por que elas devem ser usadas; o texto II ilustra o posicionamento de consumidores comuns, que buscam praticidade e conforto. E) o texto I apresenta um alerta a respeito da possibilidade de contaminação de produtos orgânicos e industrializados decorrente do uso de plástico em suas embalagens; o texto II apresenta vantagens do consumo de sacolas plásticas: leves, descartáveis e gratuitas. Questão 02 Em contraste com o texto I, no texto II são empregadas, predominantemente, estratégias argumentativas que: A) atraem o leitor por meio de previsões para o futuro. B) apelam à emoção do leitor, mencionando a morte de animais. C) orientam o leitor a respeito dos modos de usar conscientemente as sacolas plásticas. D) intimidam o leitor com as nocivas consequências do uso indiscriminado de sacolas plásticas. E) recorrem à informação, por meio de constatações, para convencer o leitor a evitar o uso de sacolas plásticas. Referências ABDALA Junior, Benjamin; CAMPEDELLI, Samira Youssef. Tempos da Literatura Brasileira. 5. ed. São Paulo: Ática.1997. AGUIAR, Flávio (Org.). Com palmos medida – terra, trabalho e conflito na literatura brasileira. São Paulo: Boitempo editorial/ Editora Fundação Perseu Abramo, 1999. A HISTÓRIA DO USO DA ÁGUA NO BRASIL – do descobrimento ao século XX. 2007. ANA – Agência Nacional de Águas. BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1978. DICIONÁRIO Michaelis. Disponível em:<http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/ index.php>. SODRÉ, Nelson Werneck. História da literatura brasileira. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988. 38 Os Sertões, Euclides da Cunha: Disponível em:http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2163 Canudos e Contestado: guerra de Deus e do Diabo. (Brasil 500 anos: o Brasil-República na TV) – EM ção Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira quim Nabuco/Ministério da Cultura. Apoio: TV Cultura. Disponível em: http:// www.dominiopublico.gov.br/download/video/me000841.mp4. Acesso: 10 de nov. 2011. Todas as imagens utilizadas aqui foram produzidas por Mario Sérgio Afoba especialmente para o caderno de Literatura Brasileira. 39 Literatura Brasileira animação/Grupo Mão Molenga – teatro de bonecos. Autoria: Ministério da Educação/Fundação Joa- Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 40 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 41 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 42 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira História Rodrigo Lopes; Cristiane Batista e Virgínia Queiroz Apresentação No Caderno do 3º ano, analisaremos informações a respeito de como o desenvolvimento da sociedade industrial na Inglaterra, provocou mudanças no meio social e ambiental, traçando paralelos com permanências dessas situações nos dias atuais, através da poluição das águas dos rios. Mergulharemos na História do Brasil, no período anterior e posterior à abolição da escravatura, através das mulheres aguadeiras, e de outras atividades econômicas ligadas ao uso da água na sociedade da época. Ainda percorreremos as práticas de saúde e higiene públicas nos espaços urbanos brasileiros e o contexto das epidemias provocadas pela sujeira e poluição das fontes de água na Europa no período da Primeira Guerra Mundial. Texto 1 A sociedade industrial e os impactos ambientais nos séculos XIX e XX Você já ouviu falar sobre a grande Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra a partir da segunda metade do século XVIII, que promoveu importantes transformações econômicas, políticas e sociais na Europa e no mundo? Não foi por acaso que essa revolução aconteceu primeiramente na Inglaterra. A monarquia inglesa organizou as condições para sua industrialização, através de algumas decisões administrativas ao longo do século XVIII. Entre elas, podemos citar a política agrária conhecida como “Lei dos cercamentos de terras”, que foi a apropriação de terras camponesas pelo governo, para transformá-las em áreas de produção de gêneros que interessavam à indústria nascente, como por exemplo, pastagens para a criação de ovelhas e produção de lã, que seria usada pela indústria têxtil. Os cercamentos acabaram expulsando os camponeses do campo, forçando-os a migrarem para as cidades, pois não tinham mais como viver na zona rural. Ao chegarem às cidades, tornaram-se presas fáceis dos exploradores capitalistas, cujas fábricas ofereciam as únicas oportunidades de trabalho a serem alcançadas. A não ser isso havia a hipótese da mendicância e da “vadiagem” punidas severamente pelo Estado. A grande quantidade de mão de obra disponível durante o nascimento da industrialização favoreceu o achatamento dos salários, o surgimento de jornadas de trabalho absurdas, que chegaram a 16 horas diárias, promovendo um estado de miséria inimaginável das classes trabalhadoras. 43 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira História EM ção As condições de vida desses sujeitos eram as mais precárias possíveis. Os operários e suas famílias moravam em cubículos extremamente insalubres, frios e sem qualquer conforto. Essa realidade acabou por produzir outras situações extremas, como a falta de cuidados com a higiene e asseio pessoal, trazendo, em consequência, muitas doenças. Essas condições foram muito bem descritas por Edward Palmer Thompson, historiador inglês, em sua abordagem sobre as moradias da classe operária inglesa. Vejamos a seguir um trecho do autor: Nas vilas, a água de um poço próximo ao cemitério podia ser impura, mas, pelo menos, seus habitantes não tinham de se levantar à noite para entrar numa fila diante da única bica que servia a várias ruas, nem tinham de pagar por ela. Os habitantes das cidades industriais tinham frequentemente de suportar o mau cheiro do lixo industrial e dos esgotos a céu aberto, enquanto seus filhos brincavam entre detritos e montes de esterco (THOMPSON, 1987, p.185). Em poucos anos de industrialização, viver nas grandes cidades inglesas, como Londres, tornava-se cada vez mais difícil para a classe trabalhadora emergente. As fábricas e os bairros operários iam surgindo nas proximidades dos rios, contaminando suas águas através dos esgotos. Tal situação favoreceu o surgimento de várias doenças que assolaram as famílias dos trabalhadores, que consumiam diariamente a água daqueles rios. Alegando a precariedade da vida dos operários e a falsa intenção de melhorar a qualidade de vida desses trabalhadores, os proprietários das fábricas criaram vilas operárias, cujo verdadeiro objetivo era aperfeiçoar o sistema de vigilância sobre eles, de modo a não permitir festas, embriaguez, ausência no trabalho e, principalmente, organização sindical e greves. Além disso, as indústrias implantadas na Grã-Bretanha usavam o carvão mineral como combustível para o funcionamento de suas máquinas a vapor. A extração desse minério, nas minas espalhadas por todo o território inglês consumiu milhares de vidas humanas, pois a forma precária como eram feitas as escavações e os túneis sem escoras, facilitavam a ocorrência de acidentes em grande quantidade. Além disso, provocava ainda o desmatamento das florestas que sustenta os rios e o desgaste dos solos. Ademais, a falta de circulação e renovação de oxigênio, a inalação do pó produzido pela quebra das rochas provocava, em curto prazo, doenças respiratórias que até os dias de hoje matam milhares de trabalhadores mineiros, a exemplo da silicose. Sem dúvida, a Revolução Industrial proporcionou a conquista de um grande poderio econômico para a Inglaterra e, posteriormente, para outros países do mundo. Entretanto, esse poder teve seu preço, tanto do ponto de vista das relações humanas entre trabalhadores e proprietários das fábricas quanto em relação às questões ambientais, com a poluição das fontes de água pelos dejetos fabris e humanos, diante do crescimento rápido das cidades industriais. Podemos dizer que, ao lado dos benefícios, a Revolução Industrial trouxe sérios problemas ambientais dos quais somos herdeiros até hoje. 44 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Conhecimento em ação A exploração do trabalho infantil, assim como as questões ambientais, são problemas enfrentados pelas sociedades em vários países do mundo. Em sua sala de aula ou comunidade/município, existe alguma criança que trabalha ou algum adulto que tenha deixado de estudar pela necessidade de trabalhar quando criança? Existem rios, nascentes, lagoas, poluídas pelo uso de produtos químicos ou pelo desmatamento? Vamos fazer a seguinte atividade:  Façam uma listagem de todos os rios, ou lotes de terra de sua região que estejam deteriorados devido à má utilização dos recursos e da poluição;  Ao final dessa etapa, todos os alunos da classe devem socializar suas listas (algumas irão se repetir), e pedir ao professor para anotar as informações no quadro;  Anotem todos os dados que foram recolhidos pelo professor em seus cadernos;  Com a ajuda do monitor de informática, elaborem um gráfico dividido em: FONTES DE ÁGUA POLUÍDAS e TERRAS POBRES DEVIDO AOS MAUS-TRATOS CULTURAIS;  Peçam ao professor de História ou de Geografia para discutir o assunto durante a aula. 45 EM História A deterioração do meio ambiente, iniciada com a grande Revolução Industrial, pode ser percebida ainda hoje, em relação às indústrias, ao crescimento urbano e ao meio ambiente, em diversos países do mundo. Em pleno século XXI, podemos observar seus efeitos aqui mesmo no Brasil. Podemos citar o Rio Tietê, em São Paulo, como um dos muitos exemplos de poluição gerada por esgotos urbanos e industriais em nosso país, que resulta na destruição daquele ecossistema, além de torná-lo impróprio para qualquer tipo de uso pelo ser humano. Infelizmente, a morte dos rios e cursos d´água pode ser vista em outras regiões brasileiras, como em Minas Gerais e também na Bahia, onde os Rios São Francisco e Paraguaçu têm sofrido com os efeitos do assoreamento e poluição das águas por agrotóxicos utilizados na agricultura de grande escala, causando grandes danos às populações ribeirinhas que dependem desses rios para sobreviver. Por conta disso, diversos países iniciaram debates sobre os temas ambientais, a exemplo da Conferência de Estocolmo promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), na Suécia, em 1972, primeiro grande debate mundial sobre essa temática. Em consequência, o dia 5 de junho, dia em que se iniciaram os trabalhos da conferência, foi oficializado como o “Dia Mundial do Meio Ambiente”. Depois da 1ª Conferência Internacional para o Meio Ambiente Humano, outros encontros mundiais ocorreram gerando documentos como o Protocolo de Kyoto, que tem como objetivo firmar acordos e discussões internacionais para a redução da emissão de gases poluentes que provocam o efeito estufa, causador do aquecimento global. çã o Reflexão para ação Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira História EM ção Glossário assoreamento: obstrução por detritos, areia ou sedimentos nos leitos dos rios, lagoas ou canais de água, causada por desmatamento, enchentes ou construções. cercamentos: prática inglesa de colocar cercas em terras antes destinadas à agricultura, isolando-as e destinando-as para a criação de ovelhas que forneceriam lã às indústrias de tecidos. dejetos: restos orgânicos de proveniência humana ou industrial. Lixo. detritos: resíduos de substâncias diversas, podendo ser compreendido como lixo, se for um subproduto da atividade humana sem aproveitamento. Considerando o ponto de vista da Geografia pode denominar um pedaço de rocha desprendido e da Biologia, pode ser o resultado de material orgânico em processo de decomposição. insalubres: ausência de condições sanitárias, como limpeza e ventilação. pauperização: empobrecimento. silicose: doença que se desenvolve em consequência da aspiração por longo tempo de pó de sílica, elemento que constitui a areia e está presente nas rochas em escavações. Siga antenado Tempos modernos. (EUA, 1936) Direção: Charles Chaplin. Sinopse: O filme é uma crítica à alienação do trabalho nas fábricas, onde o operário é quem deve lidar com as máquinas e a intensa cobrança dos empresários capitalistas. História contemporânea através de textos. Coleção, Textos e Documentos. Autores: Adhemar Martins Marques; Ricardo de Moura Faria, et al. Ed. Contexto, 1996. Texto 2 Água e trabalho no período monárquico e no pós-abolição Durante o período monárquico na História do Brasil, quando vigorava ainda a utilização do trabalho escravo, e mesmo no período republicano, já abolida a escravatura, os escravos, ex-escravos e seus descendentes continuaram em sua grande maioria a levar uma vida difícil, marcada por lutas e estratégias de sobrevivência, embora sob outras formas e em outros espaços. Um dos trabalhos mais comuns nos meios urbanos foi a ocupação como aguadeiros, lavadeiras e outros serviços ligados aos cuidados com a higiene. No período monárquico, os escravos iam às fontes e chafarizes, ainda na madrugada, buscar água limpa e entregá-las nas casas dos seus senhores ou de outras pessoas que, em troca, lhes pagavam uma miséria por isso. Ao longo do dia, as mulheres dedicavam-se à lavagem das roupas dessas casas. Ao entardecer, novamente os homens, os chamados “tigres”, recolhiam os dejetos das casas e despejavam nas praias ou nos rios das cidades. 46 Os “aguadeiros” e os “botadores de água” costumavam comprar água nos chafarizes espalhados pela cidade a partir do ano de 1850 pela Companhia do Queimado, a primeira distribuidora de água de Salvador, que abastecia a população de água potável através de chafarizes, casas de venda d’água e pena d’água (a pena d’água era uma peça móvel que controlava a quantidade de água liberada pelos chafarizes). Enchiam dois ou quatro barris de madeira, de até 80 litros, prendiam-os ao lombo de um burro e saíam a vender.[...] Saíam todos pelas ruas da Cidade, oferecendo o precioso líquido nas casas de família e especialmente no comércio e nos mercados, onde a carência [de água] era total. (SAMPAIO, 2005, p. 108). Figura 1. Aguadeiros em fila para encher seus barris no chafariz do Largo Dois de Julho Fonte: SAMPAIO, Consuelo Novais. 2005. 47 EM História Imagine só o mau cheiro! Era tanto, que alguns padres franciscanos procuraram o poder público local para reclamar dos péssimos odores provenientes daqueles locais de despejo, forçando aos administradores de algumas cidades, planejarem as primeiras obras de saneamento urbano. Um exemplo disso é o Aqueduto do Carioca, no Rio de Janeiro, construído em 1723, e a canalização e cobertura de alguns rios em Salvador, a partir do ano de 1860. Os ex-escravos, no final do século XIX e início do século XX, encontraram na água um dos principais meios de ganhar a vida, de levar comida para casa ao final do dia. Naquele contexto, a água dos rios era mais limpa e era comum encontrar fontes e chafarizes como a Fonte Nova em Salvador ou a Fonte Grande de Morro de São Paulo; nesta última, até o imperador D. Pedro II e a população em geral tomaram banho e era especialmente frequentada por escravos. É bom salientar que, no período monárquico, os chamados “escravos e escravas de ganho” também vendiam água em barril, conhecidos por “aguadeiros”, e abasteciam as casas de muitos soteropolitanos, porque água encanada ainda estava apenas nos projetos de saneamento naquela época. A historiadora Consuelo Novais Sampaio nos traz informações preciosas sobre a capital baiana e o trabalho em chafarizes e casas de vender água, como podemos perceber na Figura 1. A autora nos informa que até a década de 1930 “não havia água encanada. Os banhos eram tomados de cuia ou de bacia. A água potável era vendida de porta em porta, por aguadeiros, no lombo de burros e jumentos”. A seguir, uma interessante narrativa sobre esse assunto: çã o Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira No período republicano, a partir de 1889, com a intensificação das obras de esgotamento e saneamento urbano, o serviço ligado à higiene doméstica mais utilizado, continuou sendo o das lavadeiras, uma atividade essencialmente feminina, herança dos tempos da Colônia e Império. Veja no trecho a seguir: História EM ção Era assim antes das máquinas de lavar, quando toda família tinha sua lavadeira. Na segunda-feira, alguém esvaziava a cesta de roupa suja, despejando-a no chão, inspecionando meticulosamente, peça por peça, depois de especular o interior dos bolsos e catar agulhas e alfinetes esquecidos nas golas dos vestidos. Ia formando pequenos montes de lençóis, toalhas, cobertas, fronhas, guardanapos, toalhas de banho e assim por diante (...) (VIANA, Hildegardes; 1979) Você consegue reconhecer a situação descrita? Em vários locais da Bahia e de outros estados brasileiros, como no Ceará e em Minas Gerais, por exemplo, ainda podemos encontrar cenas como essa, ocorrendo também a relação entre a sociedade local e as mulheres lavadeiras, em sua grande maioria, negras ou afrodescendentes. As mulheres lavavam as roupas nas fontes, chafarizes, cisternas e transitavam pelas ruas com grandes trouxas que eram entregues passadas ou, melhor dizendo, “engomadas” e alvejadas nas pedras das margens dos rios e das fontes públicas. Essa atividade era acompanhada pelos cantos de trabalho, músicas e ladainhas cantadas por elas quando exerciam seu ofício. Trechos de canções bem conhecidas, como "Mandei caiá meu sobrado, caiei, caiei...". Geralmente, os cantos falavam sobre as dificuldades cotidianas ou sobre sonhos a serem alcançados. Nesse trecho, por exemplo, percebemos o sonho de possuir uma casa caiada, ou seja, pintada. Elas cantavam assim: Mandei caiá meu sobrado... mandei, mandei, mandei - Mandei caiá meu sobrado... caiá de amarelo Mas cadê meu lenço branco... ô lavadeira Que eu lhe dei para lavar... ô lavadeira Madrugada madrugou ... ô lavadeira E o sereno serenou ... ô lavadeira Não tenho culpa do que se passou Deu uma chuva muito forte E o lenço carregou (FARIAS, Carlos) No caso das famílias cuja liderança era de viúvas ou de mulheres que não tinham uma boa condição financeira, elas tinham vergonha do trabalho, por isso iam carregar água durante a noite. Analisando a Bahia, no início do período republicano, a memorialista Hildegardes Viana descreveu um cenário na capital baiana que, em muitos aspectos, pode ser comparado ao de algumas comunidades no interior do Estado. Era fácil identificar uma lavadeira. A visão de uma mulher descalça com uma trouxa de roupa à cabeça, nos dias de segunda-feira, era trivial. Andava pelas ruas, saias meio arregaçadas, seguidas a curta distância por um filho ou filha de pouca idade, carregando galhos secos miúdos ou pontas de madeiras de desmancho, reunidos num feixe. Esta era a mulher que levava roupa para a fonte, tipo que está gradativamente desaparecendo. Era a lavadeira, profissional de um dos mais duros e penosos trabalhos que se possa imaginar.(VIANA, Hildegardes; 1979) 48 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira “Perseguidas pela chuva e pelos unheiros, vivendo uma vida de trabalheira e mau-passadio, mesmo assim elas aturavam e ficavam velhas. Asmáticas, reumáticas, cardíacas, mas sempre dispostas a lavar uma roupinha leve. As lavadeiras cumpriam seu fardo sem grandes apaixonamentos. Nada de queixas, nada de lamúrias. Que é que elas iriam fazer? Se se nascia lavadeira, lavadeira se tinha de morrer.” ( VIANA, Hildegardes; 1979) Será que hoje em dia essa realidade ainda é assim? E quanto aos rios de sua localidade, lá ainda se encontram mulheres que lavam roupas? Pessoas que dependem do rio para viver? Como a sua comunidade trata o rio local? Isso quem vai responder é você! Como? Leia o roteiro a seguir. Glossário aqueduto: canal subterrâneo ou fora do solo, para conduzir água de um lugar para outro. insalubre: que não é salubre; doentio, prejudicial à saúde. Conhecimento em ação Elabore junto ao seu professor de Língua Portuguesa uma série de questões que possam ser utilizadas em entrevistas com lavadeiras de roupa de sua cidade. Procure inserir na entrevista questões sobre a história de vida e de família dessas pessoas, seu nível de escolaridade, as dificuldades de sua profissão. Procure na cidade as mulheres que lavam ou já lavaram roupa de ganho, ouça suas histórias, pergunte quais canções entoavam, como era/é seu cotidiano. De posse dessas informações, elabore um mural intitulado Valorizando as mulheres da nossa cidade (pode ser localidade/distrito/fazenda etc.) com essas informações, homenageando-as. Exponha o mural em sua sala de aula ou no pátio da escola, socializando os resultados de sua pesquisa com a comunidade escolar! 49 EM Essa história continua. As mulheres afrodescendentes espalhadas pela capital e interior baiano sofriam inclusive por questões de saúde devido às condições insalubres de seu trabalho. Veja: História Reflexão para ação çã o Mesmo nos séculos XX e XXI essa atividade permaneceria em comunidades e distritos do interior da Bahia e de outros estados do Brasil que não possuíam água encanada. Estudando uma comunidade do sul da Bahia, chamada Camamuzinho, encontramos a história de vida de Dona Maria do Cheiro. Na memória da comunidade, ela aparece como a mais famosa lavadeira de Camamuzinho. Também pegou água de ganho, vestiu a elite cacaueira com as roupas alvas e engomadas no lajedão (pedras encontradas às margens do Rio de Contas), em um tempo que não havia água, nem luz. Afinal, para sustentar os 19 filhos, “entre os vivos e mortos” no dizer local, com a ausência do marido que a abandonou, seria mesmo necessária muita força. O nome dessa mulher é Maria do Cheiro, mas quantas Marias com uma história parecida você conhece? Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Zoom na informação Johann Moritz Rugendas foi um pintor alemão que viajou por todo o Brasil durante o período de 1822 a 1825, pintando os povos e costumes. CD-Livro “BATUKIM BRASILEIRO - O Canto das lavadeiras”. Coral das Lavadeiras e Carlos Farias . Produção: Carlos Farias. País de origem: Brasil. Gênero: MPB. Ano de produção: 2002. Distribuição: Epovale Discos. EM ção Siga antenado História Texto 3 Questões de saúde pública e higiene urbana no Brasil durante a Primeira República Leia o texto a seguir: “Pisar com o pé esquerdo dá saúde, com o pé direito dá dinheiro.” Assim me disse meu cunhado, que é francês, numa de suas primeiras vindas ao Brasil, quando escapou por pouco de pisar em uma titica de cachorro [...] O povo brasileiro, de um modo geral, parece ser o mais preocupado com a própria higiene pessoal e um dos menos preocupados com a limpeza do ambiente. Quantas vezes, em dez minutos de caminhada, não se vê pessoas bem nascidas e diplomadas jogando bitucas de cigarro no chão ou lixo das janelas de seus carros? Mas, segundo percebo, até que as pessoas estão se conscientizando mais rapidamente quanto à retirada da única flor indesejável que é o jasmim-do-campo canino (sim, o nome do belo jasmim-do-campo é também apelido dado no interior de São Paulo e Minas para as fezes de cão, que com o tempo ficam brancas e até bonitinhas de se ver ao longe), e parecem estar percebendo o óbvio - que, justamente por ser óbvio, é bom lembrar: além da sujeira não muito agradável (especialmente para quem tem pouca prática de desvios e acaba pisando em cima), a caca canina é um grande depósito de bactérias que podem atacar os seres humanos e transmitir doenças como verminoses e infecções gastrointestinais [...] (MUGNAINI JR, Ayrton; 2011) O texto refere-se indiretamente a um problema muito comum e antigo na história do Brasil - a saúde pública - através da necessidade de limpeza dos espaços urbanos. Os cuidados com a higiene pessoal e urbana foram bastante disseminados no Brasil, a partir da segunda metade do século XIX. Nas cidades brasileiras, organizavam-se as chamadas Juntas de Higiene Pública, formada por médicos e funcionários públicos para fiscalizar a limpeza das ruas e praças e, inclusive, denunciar as pessoas que colaboravam para a sujeira do espaço urbano. 50 51 EM História A preocupação com a higiene era justificável; na Bahia, por exemplo, milhares de pessoas morreram com a epidemia de cólera nos anos 1850, fato que também atingiu outras províncias brasileiras e isso causava imensos transtornos, pois os cidadãos, com medo de se contaminarem, evitavam sair de casa, comer carne e ficar em locais em que havia aglomeração de pessoas. Assim como o texto refere-se aos riscos que a sujeira das ruas provocada pelos cachorros causa à saúde pública nos dias atuais, no século XIX e no início do século XX, a falta de limpeza urbana estava associada às epidemias e doenças. No Rio de Janeiro, capital da república no início do século XX, aconteceram, inclusive, episódios violentos, como a Revolta da Vacina, em 1904, envolvendo a população e as medidas sanitárias sancionadas pelo presidente Rodrigues Alves e colocadas em prática pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz para acabar com a epidemia de varíola que assolava a capital carioca. Em Salvador, os cuidados com a higiene pública eram observados desde o século XIX, através da dessecação dos pântanos e charcos, onde restos de animais mortos e lixo orgânico apodreciam, e contaminavam os principais rios que abasteciam a cidade, como o Rio Camurujipe, que hoje se transformou em um esgoto a céu aberto. Em uma conversa com seu professor (a) de Biologia, pergunte-lhe de que maneira a decomposição de matéria orgânica pode contaminar os rios? Outro exemplo de cuidados com a higiene urbana soteropolitana foi a canalização do antigo Rio das Tripas, que recebeu este nome porque era o destino dos restos da matança de gado no Matadouro Público de Salvador, no século XIX. A construção de canais para escoamento de água é uma solução utilizada desde o Antigo Egito, mas na época contemporânea, a engenharia e a matemática juntaram-se para construir esses canais de forma a serem eficazes e não destoarem do espaço urbano. Você já pensou nas dificuldades de se construir canais? Ou mesmo as cisternas que muitas comunidades utilizam nas cidades do interior? Tudo isso envolve cálculos de geometria, de vazão; é a ciência Matemática junto à História nas questões de saneamento brasileiro. Ficou curioso? Pergunte ao seu professor de Matemática sobre isso, você vai perceber que as diversas ciências comunicam-se constantemente! O abastecimento de água para os soteropolitanos também inspirava cuidados. Desde 1853, esse serviço era responsabilidade da Companhia do Queimado, que providenciava a manutenção e troca de encanamentos enferrujados e asseio das fontes públicas municipais, na tentativa de oferecer à população uma água que não fosse suspeita de contaminação. Junto a isso, ordens do governador do estado e do prefeito da capital (conhecido na Primeira República como intendente), organizavam as formas como deveriam ser aplicadas as leis, para que se evitasse a sujeira das ruas e praças. Isso não seria uma bela ideia para os donos dos cachorrinhos que sujam as calçadas hoje em dia? A água das fontes sempre foi considerada a origem mais óbvia das epidemias, por ser um elemento consumido por todos os cidadãos, mesmo que nem sempre isso tenha sido verdade. Com a especialização cada vez maior da medicina no século XX e a elitização dos médicos (que, de tão prestigiados, chegam até a ocupar muitos cargos públicos), foram estabelecidas normas de higiene que deveriam ser seguidas por toda a sociedade, como banho diário e lavagem das mãos e dos alimentos com água de proveniência confiável ou, pelo menos fervida, para matar os germes causadores de doenças. çã o Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira História EM ção Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Situação mais difícil acontecia nas zonas afastadas dos grandes centros urbanos, onde esses cuidados médicos não chegavam, deixando grande parte da população do Brasil sem acesso às informações sobre os cuidados com a higiene e o meio ambiente. Nas regiões do interior, a água sem tratamento, a sujeira das ruas, a proliferação de ratos e insetos e a falta de higiene ambiental dificultaram bastante a erradicação das doenças ligadas à falta de limpeza e ao consumo de água e alimentos contaminados. Segundo dados levantados pela UNESCO, atualmente, do total de água existente no mundo, apenas 2,53% são doces, sendo que dois terços dessa água encontram-se congeladas nos glaciares do planeta. Estima-se que, nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, 50% das pessoas consumam água poluída e, desse percentual, imagine a quantidade de pessoas que morrem por doenças decorrentes da contaminação da água. Portanto, muitos dos problemas de saúde que ainda hoje persistem no mundo, estão diretamente ligados ao consumo de água contaminada pela falta de práticas de higiene e saúde pública. Fonte: Água para todos, água para la vida: informe de las naciones unidas sobre el desarrollo de los recursos hídricos em el mundo. Resumo. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001295/129556s.pdf.> Acesso em 20 nov. 2008. Reflexão para ação Pense bem no que você acabou de ler. Identifica alguma situação que lhe pareça familiar? Na região onde você mora, todos têm acesso aos serviços essenciais de saúde? Vejamos uma reportagem veiculada pelo Jornal Hoje, em 20 de maio de 2011. Faltam médicos em hospitais e postos de saúde no interior do Brasil No norte do país oferecem salários de mais de 35 mil reais, mas mesmo assim os candidatos não aparecem. Nos hospitais e postos de saúde do interior dos estados, os pacientes se frustram todos os dias. A procura por um especialista obriga os pacientes a longas viagens. O motorista Dejocir mora em Itaituba, no Pará, e para chegar a Santarém são, pelo menos, seis horas de estrada. “O médico passou, disse que era para eu ir para Santarém, porque aqui não tinha como, disse que é caso de cirurgia”, conta Dejocir Pereira, motorista. Um levantamento do Ministério da Saúde mostra que faltam, principalmente, anestesistas, neurologistas, neurocirurgiões, psiquiatras e pediatras. Segundo o Ministério, a distribuição é desigual. A região sudeste concentra mais especialistas do que as outras quatro regiões juntas [...]. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-hoje/> Assim como na região do interior do Pará mostrada nesse trecho da reportagem, esta é uma realidade em todo o território brasileiro. É comum vermos, todos os dias, ambulâncias das cidades do interior da Bahia trazendo pessoas que buscam tratamento ou atendimento médico em Salvador. Glossário territoriais, adotado em vários países do mundo. No Brasil, serviu de denominação para os atuais estados brasileiros durante o século XIX, época do Império Brasileiro. Com a República no Brasil, passaram a ser denominadas estados. aglomeração: reunião de pessoas em um mesmo local. charcos: brejo, pântano. dessecação: secagem, drenagem de lagos, brejos ou pântanos. províncias: é o nome dado a divisões 52 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Conhecimento em ação 1.Como você observa a higiene nos espaços públicos em sua sala de aula, escola, comunidade? Anote em seu caderno suas observações e depois as compare com as de seus colegas. As observações se parecem? Em caso positivo, divulgue para o grupo. ERIN BROKOVICH: Uma mulher de Talento. (EUA, 2000) Direção: Steve Soderbergh. Sinopse: O filme conta a história de uma advogada envolvida na investigação de processos que dizem respeito a pessoas acometidas por estranhos problemas de saúde. As suspeitas dirigem-se à contaminação de fontes de água por produtos tóxicos usados por indústrias da região. A República velha e a revolução de 30. Coleção Retrospectiva do século XX. Autor: Cláudio Bertolli Filho. Ed. Ática, 1999. 64 p. Água: origem, uso e preservação. Coleção Polêmica. Autor: Samuel Branco. Ed. Moderna, 2003. 96 p. Texto 4 Anos de guerra na Europa: a contaminação das águas e o crescimento das epidemias Você certamente já esteve doente em algum momento de sua vida, e não deve ter gostado da situação, correto? Nem poderia, pois os agentes causadores de doenças atacam seu organismo e põem todas as suas defesas de prontidão para vencer uma guerra. Nesse caso, o campo de batalhas é o seu corpo e os efeitos disso são as dores, a febre, a falta de ânimo. Porém, saiba que todas as pessoas que ainda não passaram por essa situação estão apenas na “fila de espera”. As doenças e epidemias sempre existiram. Podemos dizer que existe uma História das doenças, e os melhores historiadores desse ramo da História, na verdade, são os biólogos. Os vírus e bactérias são organismos mais antigos que o próprio homem e, de certa forma, o organismo humano aprendeu a conviver com grande parte desses milenares seres. Quando não conseguiu conviver, foi morto por eles. Em determinadas momentos, épocas e níveis de desenvolvimento da sociedade humana, vírus e bactérias atacaram algumas populações e provocaram verdadeiros morticínios. 53 EM Siga antenado História 3. Procure saber no posto médico ou hospital local, quais as doenças mais frequentes na localidade, e quais os seus agentes causadores. Procure saber também, quais delas podem estar relacionadas ao consumo ou uso de água contaminada. çã o 2. Que medidas podem ser tomadas por você e seus colegas de classe para diminuir a sujeira nesses locais? História EM ção Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Vamos pensar, por exemplo, na Antiguidade, quando a sociedade humana cresceu e se urbanizou, transformando o espaço natural e a maneira como seus organismos interagem com o meio. Um dos aspectos mais interessantes desse processo é a grande aglomeração de pessoas em espaços pequenos (como as cidades clássicas e, tempos mais tarde, medievais) e a falta de cuidados com a higiene em torno da sua alimentação, mesmo porque, naqueles tempos, nem a ciência havia ainda prestado atenção na importância do asseio pessoal e urbano. A falta de higiene observava-se por todos os cantos, dentro e fora das moradias. Coisas que hoje são banais, como o hábito de lavar as mãos antes das refeições, cozinhar ou assar bem os alimentos, lavar frutas e verduras ou até mesmo ferver ou filtrar a água para consumo, cuidados com o armazenamento dos alimentos, não eram preocupações das pessoas na Idade Média. Qual o resultado disso? A proliferação de doenças transmitidas por agentes variados, a maioria vírus e bactérias, hospedados em alimentos, insetos ou em animais, como as pulgas e os ratos. A água, nesse contexto, era, ao mesmo tempo, origem e solução dos problemas de saúde. Entendeu a última afirmação? Vamos à explicação. 1. Em situação de falta de higiene, a não utilização da água para limpeza possibilitava a proliferação das bactérias e seus agentes, como insetos e ratos. Nesse sentido, a água está entre os elementos de origem das epidemias. 2. Quando há higiene ambiental e pessoal, sendo a água o agente de limpeza mais comum, ela é a solução para se evitar epidemias. Todas as vezes que uma doença se alastrava, era comum um grande número de mortos, interpretado pelas pessoas e pela igreja como castigo divino por algum pecado cometido pelos homens. Essas epidemias eram chamadas de pestes, como a famosa peste negra, que matou 2/3 da população europeia no século XIV. Porém, séculos de desenvolvimento científico provaram que castigos divinos ou pecados nada têm a ver com esses episódios. Mas, mesmo com todo o progresso científico, as epidemias continuaram a acontecer e, muitas vezes, ainda ligadas a situações de ausência de higiene pessoal e alimentar. No século XX, em pleno processo da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), novamente o mundo se viu assustado por epidemias, sobretudo o continente europeu, destruído pelos anos de combate. Em um território onde os corpos dos combatentes entravam em decomposição antes de serem enterrados, em meio a chuvas, lama e sangue dos feridos, os agentes causadores de doenças multiplicavam-se rapidamente. Nas trincheiras, soldados conviviam ao lado de ratos e companheiros mortos. A água dos córregos e fontes contaminava-se com os restos mortais humanos misturados à terra e, diante da brutalidade dos homens em batalha, era consumida cotidianamente, espalhando o cólera, a difteria, as infecções. Para reabastecer os cantis, os soldados recorriam frequentemente a poças de água formadas pelas chuvas, encontradas no meio do lamaçal de sujeira. Esse comportamento trazia riscos de contaminação por outros agentes, causando outros males como a difteria, que matou milhares de pessoas na Europa durante a Primeira Guerra e, para esse problema, só se desenvolveu uma vacina após o conflito. O uso coletivo dos cantis de água também foi um fator importante na transmissão homem a homem da doença. 54 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Após quatro anos de guerra, em 1918, uma nova epidemia vitimou de 50 a 100 milhões de pessoas: a gripe espanhola. Tem este nome porque a Espanha foi o país que apresentou maior mortandade, 8 milhões de pessoas. Com o retorno dos soldados para seus países de origem, ao fim da guerra, a gripe espanhola espalhou-se rapidamente pelo mundo. No Brasil, os primeiros casos da gripe, aconteceram no final do ano de 1918, provavelmente através de marinheiros que voltavam de uma viagem à África, segundo informações da Fundação Oswaldo Cruz. Somente no Rio de Janeiro, capital do Brasil na época, morreram 14.348 pessoas. mortandade: a quantidade de seres que morrem em determinado espaço de tempo por efeito de uma epidemia ou por outra causa qualquer; mortalidade. trincheiras: fosso que permite, durante o combate, a movimentação da tropa e o tiro a coberto do inimigo. morticínios: morte de muitas pessoas numa mesma ocasião ou lugar, vitimadas pela matança, vibrião: bacilo de corpo em forma bastonete encurvado: o vibrião da cólera. Reflexão para ação Agora que você sabe um pouco mais sobre a relação entre a higiene e as doenças, que tal pensar um pouco sobre sua responsabilidade em evitar os meios de contágio? Em dezembro de 1998, o Jornal do Brasil publicou uma matéria falando sobre quatro mortes provocadas por um surto de cólera na região de Brumado, no interior da Bahia. Dizia-se que 50 pessoas eram suspeitas de estarem infectadas. A cólera é uma doença que se expandiu na Europa na época medieval, e o seu agente causador, o Cholera morbus, desenvolve-se em regiões onde não há saneamento, contaminando as fontes de água e os alimentos. Uma medida muito simples poderia resolver o problema: higiene. Tal como a peste negra na Europa Medieval, no caso de Brumado, a doença pode ter voltado a crescer por conta do consumo de água contaminada de poços artesianos abertos próximos à área de esgotos, em uma época de grande seca na região. Para resolver o problema, recorreu-se também a uma medida bem simples, que foi adicionar cloro à água para matar o vibrião colérico. Compreendeu como você pode contribuir para evitar que essa história se repita? Curiosamente, o cloro foi utilizado durante a Primeira Guerra Mundial como arma química, pois o gás produzido pela substância é tóxico e provoca severas irritações em contato com as mucosas. Ao mesmo tempo, serviu para evitar muitas mortes no mesmo conflito, pois dois cirurgiões, Henry Dakin e Alexis Carrel, ganhadores do Prêmio Nobel em 1912, desenvolveram uma solução à base de cloro para desinfecção de lesões profundas, evitando as gangrenas que foram responsáveis pela amputação de muitos soldados feridos. Portanto, cuidado ao manusear o cloro! Se por acaso, em sua residência ou comunidade existirem poços artesianos e cisternas de onde se use a água para consumo, utilize o cloro para purificar a água desses locais. Em sua casa, pode ser também adicionada água sanitária à água que vai ser consumida ou usada para lavar os alimentos. 55 de EM mesma causa; mortandade, carnificina, massacre. História aglomeração: multidão de coisas ou pessoas; agrupamento, ajuntamento. çã o Glossário Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Conhecimento em ação História EM ção Não é porque você já sabe dos benefícios do cloro e da água sanitária para a purificação da água, que vai despejar baldes de cloro na cisterna de casa. Calma! Tudo tem medida! É exatamente essa medida que você terá que descobrir. Procure o posto de saúde mais próximo e informe-se sobre a medida exata de cloro ou água sanitária que deve ser adicionada por litro de água, para purificá-la. Se preferir, peça o auxílio ao seu professor de Biologia. Ainda com auxílio do professor de Biologia, divida a classe em três equipes e realize uma demonstração prática, durante a aula de História ou de Biologia (isso pode ser acertado entre vocês e os professores das duas disciplinas), sobre os seguintes assuntos:  a forma correta de utilização do cloro para a purificação da água;  a maneira correta de lavar os alimentos antes de serem consumidos;  a forma correta de fazer a higienização das mãos antes de manusear os alimentos. Siga antenado Os 12 macacos. (EUA, 1995) Direção: Terry Gilliam. Sinopse: Em 2035, homem é enviado de volta no tempo para encontrar informação sobre um vírus mortal que veio a matar cinco bilhões de pessoas em 1996-1997. Ensaio sobre a cegueira. (Brasil/Canadá/Japão, 2008) Direção: Fernando Meirelles. Sinopse: O filme conta a história de uma epidemia de cegueira que se abate sobre uma cidade não identificada e como a ausência de visão transforma os instintos humanos. O amor nos tempos do cólera. Tradução Antônio Callado. Autor: Gabriel Garcia Márquez. Ed. Record, 2009. 429 p. De olho no ENEM Questão 01 (ENEM 2008) Calcula-se que 78% do desmatamento na Amazônia tenha sido motivado pela pecuária — cerca de 35% do rebanho nacional está na região — e que pelo menos 50 milhões de hectares de pastos são pouco produtivos. Enquanto o custo médio para aumentar a produtividade de 1 hectare de pastagem é de 2 mil reais, o custo para derrubar igual área de floresta é estimado em 800 reais, o que estimula novos desmatamentos. Adicionalmente, madeireiras retiram as árvores de valor comercial que foram abatidas para a criação de pastagens. Os pecuaristas sabem que problemas ambientais como esses podem provocar restrições à pecuária nessas áreas, a exemplo do que ocorreu em 2006 com o plantio da soja, o qual, posteriormente, foi proibido em áreas de floresta. (Época, 03/03/2008 e 09/06/2008, com adaptações). 56 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira A falta de água doce no Planeta será, possivelmente, um dos mais graves problemas deste século. Prevê-se que, nos próximos vinte anos, a quantidade de água doce disponível para cada habitante será drasticamente reduzida. Por meio de seus diferentes usos e consumos, as atividades humanas interferem no ciclo da água, alterando: Referências ALENCASTRO, Luiz Felipe de. Vida privada e ordem privada no Império In: História da vida privada no Brasil II: Império: a corte e a modernidade nacional, São Paulo: Cia das Letras, 1997. COOPER, Frederick (org.) Além da escravidão: investigações sobre raça, trabalho e cidadania em sociedades pós-emancipação. Tradução Maria Beatriz de Medina, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. DAVID, Onildo Reis. O inimigo invisível: epidemia na Bahia no século XIX. Salvador: EDUFBA/ Sarah Letras, 1996. FERRO, Marc. A grande guerra - 1914-1918. 2. ed. São Paulo: Edições 70, 1990. HOBSBAWN, Eric. A era dos impérios: 1875-1914. 8. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003. MUGNAINI JR, Ayrton. Especial para o Yahoo! Brasil. 22 de set. de 2011, às 03:09:38. Disponível em: <http://br.especiais.yahoo.com/vida-de-cao/como-limpar-a-sujeira-do-cao-na-rua-222>. Acesso em: 23 out. 2010. PRIORE, Mary del. Ritos da vida privada In: História da vida privada no Brasil I: cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Cia das Letras, 1997. SAMPAIO, Consuelo Novais. 50 anos de urbanização: Salvador da Bahia no século XIX. Rio de Janeiro: Versal, 2005. p. 107. Disponível em: <http://braparencias.ceart.udesc.br/?p=3320> Acesso em: 23 out. de 2011. SANTOS, Cristiane Batista da Silva. Nas terras do cacau: religiosidade, mulher negra e comunidade, Revista África e Africanidades. Ano 2 - n. 6 - agosto. 2009 - ISSN 1983-2354. 57 EM (A) a quantidade total, mas não a qualidade da água disponível no Planeta. (B) a qualidade da água e sua quantidade disponível para o consumo das populações. (C) apenas a disponibilidade de água superficial existente nos rios e lagos. (D) a qualidade da água disponível, apenas no subsolo terrestre. (E) o regime de chuvas, mas não a quantidade de água disponível no Planeta. História (A) o desmatamento na Amazônia decorre principalmente da exploração ilegal de árvores de valor comercial. (B) um dos problemas que os pecuaristas vêm enfrentando na Amazônia é a proibição do plantio de soja. (C) a mobilização de máquinas e de força humana torna o desmatamento mais caro que o aumento da produtividade de pastagens. (D) o superávit comercial decorrente da exportação de carne produzida na Amazônia compensa a possível degradação ambiental. (E) a recuperação de áreas desmatadas e o aumento de produtividade das pastagens podem contribuir para a redução do desmatamento na Amazônia. Questão 02 (ENEM 2003) çã o A partir da situação-problema descrita, conclui-se que: Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira THOMPSON, Edward. A formação da classe operária inglesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. 3 v. UNESCO. Água para todos, água para la vida: informe de las naciones unidas sobre el desarrollo de los recursos hídricos em el mundo. Resumo. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/ images/0012/001295/129556s.pdf> Acesso em: 20 nov. 2008. História EM ção VIANA, Hildegardes. A Bahia já foi assim: crônicas de costumes. 2. ed. Brasília, Ed. GRD, 1979. Disponível em: <www.jangadabrasil.com.br/novembro/of31100a.htm>. Acesso em: 22 nov. 2011. 58 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Geografia Celbo Antonio R F Rosas; Oriana Araújo e Sônia MariseTomasoni Apresentação Prezado(a) aluno(a): Este Caderno de Geografia tem como premissa a temática “Meio Ambiente/Água”, com ênfase na questão da utilização da água em suas diversas perspectivas, estabelecendo, através da paisagem (tudo aquilo que vemos, sentimos, ouvimos, percebemos) a relação entre o homem e a natureza, e entre os próprios homens, pois estes só existem em detrimento da natureza. A água é um dos principais e essenciais elementos de manutenção da vida, de mobilidade humana nos diferentes espaços, nos diversos tipos de produção e ciclos econômicos, além de estabelecer fronteiras e servir de recursos para a sociedade (através do consumo, de alimentos, do transporte e do uso em atividades turísticas e econômicas). É necessário compreender a temática proposta no contexto apresentado, numa visão holística de produção do espaço numa sociedade capitalista. Texto 1 Disponibilidade hídrica no mundo Devido à atual escassez de água em diversas partes do planeta, em decorrência de problemas ocasionados pelo uso irregular e irracional, além da degradação ambiental nas bacias hidrográficas, a água passou a se configurar como um recurso de extremo valor econômico no modo de produção capitalista, principalmente em regiões áridas ou desérticas. Tal uso irregular foi intensificando-se ao longo dos anos, uma vez que o crescimento populacional e o consequente aumento na utilização das diversas fontes de água fez diminuir a disponibilidade hídrica no mundo e a qualidade desse recurso. Figura 1. Distribuição das águas no Planeta Terra. A disponibilidade hídriDisponível em: http://revistadasaguas.pgr.mpf.gov.br/edicoes-da-revista/ edicao- atual/materias/Osmose_Inversa.pdf. Acesso em: 18 nov. 2011. ca no mundo pode ser observada na Figura 1. 59 A quantidade de água doce (2,8%) do total passa pelo processo natural do ciclo hidrológico e tem nas precipitações o seu grande distribuidor na superfície terrestre, uma vez que alimenta diversos rios e aquíferos em lugares distintos daqueles onde houve a evaporação. Esse fato é explicado pela circulação geral da atmosfera, determinada pelos ventos e pelo movimento de rotação do planeta, que altera latitudinalmente zonas de alta e baixa pressão. De acordo com a Figura 2, sobre a disponibilidade hídrica no mundo, nota-se a estimativa da diferenciação da quantidade de recursos hídricos no globo no decorrer dos anos: comparando o ano de 1995, com a projeção para 2025, verifica-se a quantidade de regiões e países que sofrerão pela falta da água em pouquíssimo tempo. Merecem destaque o Oriente Médio e o norte da África. Geografia EM ção Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Figura 2: Disponibilidade hídrica no mundo - Mapa: planeta seco Disponível em: http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.aspid_projeto=27&ID_OBJETO=103918&tipo=ob&cp=&cb= Acesso em: 18 nov. 2011 Conhecimento em ação Divididos em grupos, façam uma análise comparativa do mapa (Figura 2) entre os anos de 1995 e a projeção para 2025, verificando as principais causas das mudanças apresentadas, destacando a região do Mercosul; - Após a análise, relacionem-a com o mapa dos conflitos pelo uso da água, comparando as regiões, suas causas e efeitos, verificando também a importância do Aquífero Guarani para o Mercosul; - Apresente para a sala os resultados dessa análise, demonstrando os principais resultados averiguados, instigando a discussão. 60 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira EM Figura 3. Aumento do nível do mar Disponível em: <http://www.ecodebate.com.br/2009/03/13/ cientistas-avaliam-que-o-aumento-do-nivel-do-mar-deve-ser-acima -do-previsto/>. Acesso em: 18 nov. 2011. Figura 4. Seca e desmatamento na Amazônia Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/818541-seca-naamazonia-pode-se-tornar-a-mais-grave-das-ultimas-decadas.shtml> Acesso em: nov. 2011. Como exemplo, verifica-se a falta de água em diversas regiões do Oriente Médio, do norte da África e norte da China, assim como seu acesso diferenciado regionalmente e economicamente em diversos países. É preciso que se reveja essa situação, com garantia de segurança hídrica, para que as diferentes sociedades possam ter acesso a esse recurso, evitando conflitos pela água. 61 Geografia Apesar de a água ser o líquido mais abundante da Terra, o seu mau uso pelo homem, como está ocorrendo desde o século XX, devido ao crescimento populacional e industrial, traz consequências catastróficas à humanidade. Diante dessa situação, vivemos na iminência de duas calamidades antagônicas: ano após ano o nível dos mares está subindo, em decorrência do derretimento das geleiras polares, causadas pelo processo de aquecimento global, como se observa na Figura 3; em contrapartida, diversas cidades e regiões do mundo possuem pouca ou nenhuma água doce para consumo, devido ao esgotamento de reservas de água potável, como demonstra a Figura 4. çã o Texto 1.1 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Geografia EM ção Podemos encontrar um mapa dos conflitos mundiais pela água em diferentes perspectivas na Figura 5. De acordo com o mapa, foram registrados 225 conflitos pela água no mundo, de 3000 a. C. até o ano de 2010, sendo que a maioria ocorreu no século XX, e vem se acentuando no século XXI, principalmente na Europa, África e Ásia, com alguns casos na América do Norte, Central e Sul, além da Oceania. Figura 5. Conflitos pela água no mundo Disponível em: <http://www.worldwater.org/conflict/map> Acesso em: 18 nov. 2011 Conhecimento em ação Conforme visto no texto e nas Figuras 3 e 4, faça uma redação verificando o antagonismo dessa relação, entre aumento do nível dos oceanos e das secas continentais, demonstrando como e onde o homem interage nessas circunstâncias. Siga antenado Acesse os sites indicados e analise a relação entre a escassez de água e os potenciais conflitos que tal fato pode gerar. <http://www.terrazul.m2014.net/spip.php?article311> <http://www.wilsoncenter.org/sites/default/files ECSP_NavigatingPeaceIssue3_Portuguese.pdf> <http://www.paraiba.com.br/2012/03/19/97968-escassez-de-agua-pode-gerar-conflitos-na-terrano-futuro-dizem-especialistas> <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/03/120316_agua_escassez_df.shtml> 62 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Fonte: Tomazoni, 02/08/2011. Arquivo Pessoal. 63 EM Geografia Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 200 bacias hidrográficas são palco de disputas ou compartilhamento entre 145 países. No Oriente Médio, israelenses e palestinos disputam os lençóis da Cisjordânia, ocupada pelos israelenses em 1967, assim como as Colinas de Golã, na Síria, onde nasce o Rio Jordão, como se observa na Figura 6. Com a escassez de água nessa região, possivelmente diversos países e povos declararão guerra para reconquistar as fontes de água, conforme pronunciado pelo Egito e Jordânia, além dos palestinos. Isso demonstra que a água é um bem supraterritorial, ou seja, que não deve possuir fronteiras políticas, já que é um bem necessário à vida de todos os seres vivos. De acordo com a ONU, existem 286 tratados internacionais sobre o uso da água, sendo que 61 referem-se a bacias hidrográficas localizadas em mais de um país. Ainda para a ONU, aproximadamente 1 bilhão de pessoas não têm acesso a água potável, e se o atual ritmo de consumo não mudar, em 2025 estima-se que dois terços da população mundial (5,5 bilhões de pessoas) não terão acesso a água potável de qualidade. Figura 6. Bacia do Rio Jordão Os problemas com a água provocam Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/ outras consequências como doenças oriundas ciencias/pratica-pedagogica/gestao-aguas-brasil-mundo -500982.shtml?page=all>. Acesso em: 18 nov. 2011 da falta ou precariedade do saneamento básico, a exemplo de doenças como a malária e a diarreia, além da transmissão de vermes, da esquistossomose e da cegueira como sequela do tracoma. Para entender tais doenças e suas transmissões, verificar seus aspectos biológicos com o professor de Biologia. De acordo com a ONU, 1,7 bilhão de pessoas não têm acesso ao saneamento básico, o que resulta na morte de 2,2 milhões por ano em decorrência do consumo de água não tratada e doenças ocasionadas pela exposição e contato com os resíduos humanos na água. No caso da Figura 7, podemos observar um esgoto a céu aberto na cidade de Itabuna, demonsFigura 7. Esgoto a céu aberto no Canal da Avenida Amétrando o despejo de resíduos sem tratamento. lia Amado em Itabuna - BA çã o Texto 1.2 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Conhecimento em ação Geografia EM ção Atividade prática necessária para o conhecimento teórico: práxis. Verifique através de fotos, se na sua cidade ou região há presença de esgoto a céu aberto e sua consequência para a saúde humana. Orientações/etapas do trabalho: - formar grupos de alunos para identificar os rios e córregos que cortam a sua cidade, através de mapas ou cartas hidrológicas, encontradas nos principais órgãos oficiais da cidade, como a companhia de abastecimento, casa da agricultura, prefeitura, agrimensores, entre outros); - verificar a localização de possíveis fontes poluidoras, como indústrias e esgotos, através do mapa e da confirmação no local; - observar e fotografar tais fontes hídricas para verificar se há esgoto e lixo nas águas superficiais; - apresentar os resultados na sala de aula, debatendo o papel do poder público, das empresas e da população, demonstrando alternativas ao cenário apresentado. Texto 1.3 Uma das principais dificuldades no uso da água está em sua irregular distribuição. Tal irregularidade pode estar relacionada aos aspectos naturais, que proporcionaram uma inadequada ocupação dos territórios, ou às questões econômicas e políticas de determinados países. Um canadense, por exemplo, tem disponível, aproximadamente, 600 litros de água por dia, enquanto que um africano não passa de 30 litros para satisfazer todas as suas necessidades, de acordo com informações da ONU. Mesmo com todo o estresse hídrico, a África Subsaariana possui diversos rios que são pouco explorados devido a questões econômicas e políticas (Figura 8), aproveitando menos de 5% de sua capacidade de vazão. Isso faz com que a maioria dos países africanos encontrem-se em situação precária de abastecimento e saneamento, como demonstra a Figura 9. Figura 9. Reservas hídricas e cobertura sanitária na África Fonte: WHO e UNICEF, 2000. P. 173. Figura 8. Maiores rios africanos Disponível em: http://nonoanon2010.blogspot.com/ Acesso em: 18 nov. 2011 64 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Conhecimento em ação - Fazer uma análise do aproveitamento das águas dos maiores rios do continente africano; - Pesquisar os rios de importância regional, relevando sua utilidade para as sociedades locais; - Apresentar os resultados na sala de aula. Com outra característica, um cenário de desequilíbrio hídrico pode atingir a China nas próximas décadas, em decorrência do elevado consumo de 20% da população mundial que vive nesse país. Aproximadamente, metade das 660 cidades chinesas sofre com problemas de abastecimento, sendo que, em várias delas, o problema já é intenso, como na porção semiárida do norte do território, onde há necessidade de extração de água subterrânea, levando à escassez desse recurso. Por outro lado, nas porções sul e leste, a degradação é decorrente da poluição industrial e doméstica despejada nos rios e lagos. Certamente, a tendência de abastecimento e consumo de água poderão tornar-se catastróficas em pouco tempo. Em termos mundiais, o desperdício e técnicas ineficientes do uso da água são evidentes. Um dos maiores exemplos de ineficiência técnica, que ocasionou um imenso desastre ambiental ocorreu no Mar de Aral, localizado entre o Cazaquistão e o Uzbequistão, na Ásia Central. A água dos rios (Amu Dária e Sir Dária) que o abasteciam foi desviada para irrigar plantações de algodão. Atualmente, o mar já perdeu aproximadamente 70% de seu volume, ocasionando a extinção de diversas espécies de peixes e animais, além de degradar as florestas que o margeavam, inutilizando-o totalmente. Podemos observar tal desastre na imagem de satélite da Figura 10, que demonstra a evolução da degradação entre os anos de 1998 e 2009. Observa-se que a cor azul esverdeada escura representa o Mar de Aral, e que o seu tamanho vai diminuindo gradativamente até o ano de 2009, o que representa o seu gradativo, mas rápido, desa- Figura 10: Evolução do retrato do mar de Aral - 1998 a 2009 Disponível em: www.infoescola.com parecimento. Acesso em: 18 nov. 2011. 65 Geografia Texto 1.5 EM çã o Sugestão de sites para a pesquisa: http://www.voyagesphotosmanu.com/rios_da_africa.html http://www.opais.co.mz/index.php/analise/92-adelson-rafael/9475-mocambique-de-que-vale -tanta-agua.html Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira A água usada no espaço rural, principalmente para a irrigação de lavouras em complexos agroindustriais, corresponde a aproximadamente 69% de toda a sua utilização no planeta. Os conflitos pela água são questões geopolíticas, territoriais, econômicas e, principalmente, sociais, que devem ser tratadas por estados e empresas distribuidoras como uma “mercadoria” primária e essencial à vida. Geografia EM ção Texto 2 Disponibilidade hídrica no Brasil Apesar de o Brasil possuir grande quantidade de água doce superficial, existe uma distribuição irregular dos rios perenes que escoam no país, devido às condições naturais da geomorfologia brasileira e das precipitações. Só na Amazônia existem 74% de toda a água do país, para uma população nacional de 5% nessa parte do território. Com o objetivo de gerenciar os recursos hídricos do país, a Agência Nacional das Águas (ANA) divide o país em 12 regiões hidrográficas, como se pode observar na Figura 11. Figura 11. Regiões hidrográficas de acordo com a ANA. Disponível em: www.revistadasaguas.pgr.mfp.gov.br. Acesso em: 18 nov. 2011. 66 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Texto 2.1 A gestão dos recursos hídricos é feita pelo governo federal e tenta integrar a relação entre oferta e demanda, além de controlar o acesso ao uso da água no país. Apesar de números favoráveis, apenas uma pequena parcela dos rios brasileiros são aproveitados efetivamente. Mesmo assim, existem algumas discussões acerca da privatização da água no Brasil, assim como ocorreu em países europeus. A água é um direito humano absoluto, e não uma mercadoria, e seu acesso deve ser garantido pelo Estado a todas as pessoas, com segurança hídrica de acesso à vida. Porém, deve-se ressaltar que tal direito tem, em contrapartida, a necessidade dos deveres nem sempre cumpridos pela sociedade de cuidar e utilizar esse bem sustentavelmente, garantido seu uso para futuras gerações. Conhecimento em ação - Realizar uma pesquisa sobre os pontos positivos e negativos da questão da privatização da água no Brasil; - Destacar as regiões que poderiam ser mais afetadas com a privatização; - Diante disso, relacionar a questão da privatização com a política neoliberal, mostrando a “tendência” indicativa dessa política no país; - Apresentar os resultados para a sala, debatendo a temática. Texto 2.2 Apesar de aproveitarmos o nosso potencial hídrico, a gestão e a preservação dos leitos dos rios não é satisfatória. Como exemplo, citamos as bacias do Tocantins-Araguaia e do Paraguai: com uma oferta generosa de água, o avanço das fronteiras agrícolas e a produção monocultora provocam imensos desmatamentos na floresta Amazônica, no Pantanal e no Cerrado, alterando o ciclo natural das águas, da fauna e da flora, assim como das comunidades que vivem nas áreas alteradas. 67 Geografia EM Forme grupos para: - solicitar indicações de pesquisa com os professores de Geografia e História sobre os principais planos do governo federal em ocupar a porção oeste do Brasil (marcha para o oeste); - em quais momentos isso ocorreu, e os principais motivos, juntamente com a disponibilidade hídrica nessa porção do território nacional, uma vez que a maior parte da população brasileira encontra-se em zonas litorâneas ou próximas a ela; - apresentar os resultados para a sala, e verificar se algum grupo apresentou um plano diferente. Cabe ao professor mediar e fazer um fechamento do assunto. çã o Conhecimento em ação Geografia EM ção Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira A região hidrográfica do Paraná, que se localiza em grande parte no estado de São Paulo, é a que mais consome água, correspondendo a 23% do total do país, devido à maior quantidade de habitantes, dinâmica industrial e agropecuária, com fortes investimentos no setor hídrico. No Brasil, segundo a ANA, 89% dos domicílios têm acesso à água, mas somente 54% possuem coleta de esgoto. Isso não significa que não jogamos esgotos em nossos rios, pois em áreas densamente urbanizadas, o esgoto raramente é tratado antes de chegar aos leitos. O maior exemplo de descaso proveniente do esgoto doméstico e industrial está no Rio Tietê, na cidade de São Paulo, como se observa na Figura 12. Por outro lado, algumas ações pontuais de despoluição realizadas pelo Poder Público foram bem sucedidas, como ocorreu no Rio Tâmisa, em Londres. A maior concentração de usinas hidrelétricas do país encontra-se na Bacia do Rio Paraná. O argumento mais forte para a construção de usinas é a geração de energia limpa, oriunda da força das quedas d’água nas barragens. A abundância de rios de planalto, propícia para tal prática, e a extrema necessidade do uso de energia configuram a construção de barragens no país. Na Figura 13, encontra-se a Barragem de Itaipu, maior do mundo em geração de potência, localizada na divisa das fronteiras do Brasil, Figura 12. Rio Tietê em São Paulo – 2009 Disponível em: <http://eco4planet.uol.com.br/blog/2009/02/a-poluicaoArgentina e Paraguai. ameaca-nossos-oceanos/>. Acesso em: 18 nov.2011. Figura 13. Usina de Itaipu. Disponível em: www.brasilescola.com. Acesso em: 18 nov. 2011. 68 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Geografia EM çã o Porém, não se consideram as áreas desmatadas para a construção, nem a mudança no ciclo natural da vazão dos rios, o assoreamento, a dinâmica da fauna e da flora, além de desalojar diversas comunidades ribeirinhas. A Figura 14 mostra a distribuição das usinas hidrelétricas no Brasil. Atualmente, há uma tendência na utilização de energias limpas, provenientes da ação do sol e do vento, sendo que a Região Nordeste, principalmente o Estado do Rio Grande do Norte, abriga um dos principais centros de geração de energia eólica do Brasil. Figura 14: Distribuição das usinas hidrelétricas e hidrométricas. Disponível em: www.aneel.gov.br Acesso em: 18 nov. 2011. 69 Geografia EM ção Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Além das águas superficiais, o Brasil possui 27 aquíferos, sendo um dos principais o Guarani, com implicações geopolíticas presentes e futuras, 1,2 milhão de quilômetros quadrados de área total, sendo que 70% ficam no subsolo do território brasileiro, sob os estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e o restante localiza-se no Uruguai, Paraguai e Argentina, como se observa na Figura 15. Infelizmente até o momento, as explorações desse recurso são desordenadas e exploratórias, com a perfuração de poços paFigura 15. Área do Aquífero Guarani Disponível em: www.demae.com.br ra uso urbano e a contaminação por resíduos Acesso em: 18 nov. 2011. químicos provenientes da prática da agricultura nas regiões onde ele se encontra. Em cidades do interior de São Paulo, como São José do Rio Preto e Ribeirão Preto, dentre outras, há diversos poços artesianos abandonados e abertos, aumentando os riscos e proporção da contaminação no subsolo. Conhecimento em ação Atualmente, os países onde se encontra o Aquífero traçam metas de exploração e consumo sustentáveis, objetivando a compatibilidade com a reposição natural em áreas de recarga através do ciclo natural hidrológico. - Pontue a importância geopolítica do Aquífero Guarani, relacionando a disponibilidade hídrica dos países do Mercosul, realizado anteriormente; - Debata na sala de aula os resultados e a importância do aquífero. Texto 3 Transposição do Rio São Francisco Com o objetivo de levar água a regiões semiáridas do Nordeste brasileiro, o governo federal consolidou o projeto polêmico de transposição do Rio São Francisco. Polêmico, pois existem diversas críticas de vários setores sobre a obra, que já está em andamento: políticos, ambientalistas, engenheiros, advogados, professores, religiosos, dentre outros, temem que o ocorrido no Mar de Aral repita-se no Rio São Francisco. O projeto foi aprovado, apesar de diversas manifestações populares, partidárias e de organizações não governamentais. A resolução 47/2005, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), divide a obra nos Eixos Norte e Leste, conforme se visualiza na Figura 16. O início das obras ocorreu em agosto de 2007, e seu término total está previsto para 2017. 70 Figura 17. Obra de transposição do Rio São Francisco Disponível em: <http://futurodaagua.atarde.com.br> Acesso em: 18 nov. 2011. 71 EM Geografia Porém, a primeira proposta de transposição advém do ano de 1847, por Dom Pedro II, verificando as necessidades da região e do abastecimento para o cultivo da cana-deaçúcar. Dentre os principais pontos de discordância estão: a transposição que afetará apenas 5% da região do semiárido e, em contrapartida, poderá afetar negativamente as regiões a jusante da transposição, diminuindo a vazão e o abastecimento dessas áreas; na visão de diversos críticos, para que a região se desenvolva, não é Figura 16. Obras de transposição do Rio São Francisco Disponível em: <http://democraciapolitica.blogspot.com> necessária a transposição, mas a Acesso em: 18 nov. 2011. criação de políticas que realmente contemplem as necessidades das pessoas afetadas, pois os açudes são suficientes para o consumo e pequenas irrigações; o problema da transposição está no fato de que aqueles que mais se utilizarão da água não são os mais necessitados, que vivem em pequenas comunidades pobres, mas os grandes fazendeiros e empresários, que utilizarão a água para agroindústrias, irrigação e a carcinicultura, beneficiando seus anseios. As obras de transposição já avançam em diversas áreas e, em 2012, já se prevê algum projeto piloto de implantação em algumas cidades do Nordeste. A ligação do rio com o seu canal artificial, já está prestes a ocorrer, como se observa na Figura 17. çã o Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira A defesa do governo está baseada no volume de água que será transposta (apenas 1%) e no fato de que apenas o excedente do uso da água será destinado à irrigação e a agroindústrias, atendendo a 9 milhões de pessoas que vivem nessa região, assim como transformando os rios intermitentes em perenes. Geografia EM ção Conhecimento em ação Realize um debate/mesa redonda onde um grupo defenda os pontos positivos da transposição e outro, os negativos, de acordo com as perspectivas sociais, econômicas e ambientais dos locais, considerando sua abrangência, importância, investimento e retorno. Orientações: - formar 2 grupos na sala e indicar um intermediador do debate (aluno ou professor). Fazer perguntas como se fosse um programa de auditório, buscando estimular o debate ou sanar dúvidas. Caso existam muitos alunos, os restantes podem ser os expectadores; - cada grupo irá estudar e defender uma ideia sobre a transposição do Rio São Francisco, através de livros, revistas, entrevistas, opiniões, estudos e relatórios de impactos ambientais (EIA/RIMA). Uma sugestão é consultar o site: <http://www.integracao.gov.br/saofrancisco/integracao/rima.asp>; - deve-se apresentar os motivos das escolhas de cada ideia, levando em consideração os aspectos sociais, ambientais e econômicos, além de exemplos de outras transposições que ocorreram no mundo, demonstrando em sala de aula. Siga antenado De acordo com o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) da obra, 70% das águas atenderão a irrigação, 26% as indústrias e 4% as residências. Ainda nesse relatório, foram elencados 44 impactos ambientais (positivos e negativos), que se encontram no link para pesquisa: http:// www.integracao.gov.br/saofrancisco/integracao/rima.asp. Para análise do RIMA, solicitar auxílio do professor de Língua Portuguesa e/ou redação, juntamente com o de Geografia. Pesquise, também, no site: http://www.integracao.gov.br/ saofrancisco/integracao/rima.asp; Sobre a construção dos canais artificiais, verificar no caderno de Matemática os itens 2 (Canais pelo mundo) e 3 (Condução da água e suas classificações), compreendendo a relação direta entre Geografia e Matemática. 72 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Texto 4 Siga antenado Sobre as algarobas: <http://www.cpatsa.embrapa.br/imprensa/noticias/projeto-da-embrapa-vai-definirmanejo-para-evitar-invasao-da-algaroba-no-ambiente-semi-arido/> <http://www.ct.ufpb.br/laboratorios/lpfd/index.php? option=com_content&view=article&id=50&Itemid=68> 73 EM Geografia A Bahia possui importantes bacias hidrográficas (Figura 18) e, embora quase 70% de sua área seja considerada semiárida, a disponibilidade média de água é suficiente para os seus atuais 13 milhões de habitantes. Isso ocorre porque as áreas de nascente dos principais rios da Bahia são áreas de altitude elevadas, a exemplo do Rio São Francisco, que se situa na Serra da Canastra, em Minas Gerais; dos Rios Paraguaçu, Contas, Itapicuru e Jacuípe, em diferentes setores da Chapada Diamantina, na área central do Estado da Bahia; dos Rios Pardo, Corrente, Formosa, Grande e de Ondas, no Espigão Mestre ou Chapadão Ocidental do São Francisco, no Oeste do Estado, já na divisa com os Estados de Tocantins e Goiás. Esse fato faz com que a maioria desses rios sejam perenes, mesmo atravessando imensas áreas semiáridas, onde o comum seria a ocorrência de rios intermitentes. Entretanto, é preciso destacar que a retirada das matas ciliares, o assoreamento dos leitos dos rios, o uso da água para irrigação, o lançamento de lixo e dejetos nas águas e áreas próximas aos rios são impactos que ameaçam diversas atividades como a navegação, o uso das águas por diversas famílias que ainda não possuem sistema de abastecimento com água encanada pela Empresa Baiana de Saneamento (EMBASA). Há ainda a questão da manutenção da flora e fauna locais, que possuem inestimável valor, seja para pesquisas futuras, seja como bem público. Algumas pesquisas têm demonstrado que, em algumas áreas da Bahia as matas ciliares vêm sendo substituídas por plantações de algarobas (Prosopis juliflora), o que significa grande perda ambiental de espécies e ecossistemas Figura 18. Rede hidrográfica da Bahia Fonte: Silva (2008, p. 63). locais (ARAÚJO, 2010). çã o Disponibilidade hídrica na Bahia Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Texto 5 Geografia EM ção Problemas socioambientais urbanos e a água A água é elemento fundamental à vida no planeta e tem um papel de destaque para o bem-estar das diferentes sociedades no mundo, entretanto, diversos países têm enfrentado problemas com a disponibilidade da água, que não deve ser menor que mil metros cúbicos por habitante ao ano. Contudo, estima-se que haverá sérios problemas com relação à disponibilidade de água em 56 países em 2025, que atingirá 817 milhões de pessoas (SHIVA, 2006). O declínio da água disponível à Figura 19. Distribuição do uso da água no Brasil Disponível em: http://aguaeseusbeneficios.blogspot.com/ humanidade não é resultado apenas do p/graficos-e-estatisticas-do-consumo-de.html aumento da população, mas sim, do uso excessivo por atividades agrícolas e industriais e não apenas pelo desperdício doméstico (SHIVA, 2006) como defendem os que possuem uma visão simplista da questão. Observe o gráfico que demonstra a distribuição percentual dos usos da água no Brasil e note que apenas 11% da água é destinado ao uso urbano. (Figura 19). Embora o uso doméstico das águas nas cidades não represente a maior parte do tipo de uso que se faz da água no Brasil, é preciso pensar seriamente sobre a forma como cada pessoa utiliza a água potável que lhe é destinada, independentemente da relação de consumo que possa ser estabelecida: a água é um bem público e não é porque alguém pode pagar mais pela sua conta de água que está autorizado por essa sociedade a desperdiçá-la. É preciso que tenhamos cada vez mais consciência sobre o nosso papel na construção de uma sociedade mais justa e não apenas na força do dinheiro (SANTOS, 2000). Nas cidades, um dos grandes problemas relacionados à água é a poluição dos rios e do lençol freático (água subterrânea), devido ao lançamento de diversos tipos de contaminantes e lixo. Sempre que pesquisadores procuram conhecer a história das cidades brasileiras e investigam como era a antiga paisagem do sítio urbano, é comum constatarem e ouvirem relatos: “aqui tinha um rio, agora é um canal de esgoto que corre por baixo ou ao lado do asfalto”; “ali tinha uma mata fechada...”, “aqui tinha uma lagoa, agora é uma área de habitações construídas em condições precárias de habitação.” O crescimento da urbanização e da industrialização demandará mais água para o consumo. O preço do desenvolvimento econômico passa pela construção de mais usinas hidrelétricas, alterando o fluxo, a vazão, os ecossistemas e as sociedades ribeirinhas. Será que o preço cobrado pelo desenvolvimento é justo com o ambiente? 74 sendo debatidas (Figura 21). Figura 20. Ilhas verdes em Guarulhos – SP Disponível em: <http://www2.imovelweb.com.br/noticias/ r7/mercado-imobiliario/Em-Guarulhos,-avanca-o-combateas-ilhas-de-calor.aspx.> Figura 21. Telhado Ecológico Disponível em: <http://www.infoescola.com/wp-content/ uploads/2010/06/telhado-ecologico1.jpg> 75 EM Geografia Muitas vezes, em nome do “progresso”, os Poderes Públicos fazem grandes projetos urbanos sem grandes preocupações com as questões ambientais; contudo, os mandatos de prefeitos passam a cada quatro anos, mas as consequências de suas ações serão sentidas pela população durante muito tempo. Normalmente, não se faz projetos para a cidade, mas para o prefeito, apenas durante o seu mandato, e quando há troca política, os projetos não são mantidos. Decorrente de uma série de ações equivocadas, hoje, muitas cidades brasileiras enfrentam o problema da ilha de calor no ambiente urbano, devido à verticalização das construções e mudança na direção dos ventos, à pavimentação asfáltica - de cor preta, que absorve mais calor -, à retirada das árvores para dar lugar às ruas e avenidas, ao calor resultante da descarga dos automóveis e da aglomeração humana, formando-se áreas que possuem temperaturas muito superiores às de áreas próximas onde esses fatores não foram adicionados, a exemplo de bairros periféricos não verticalizados, de ruas largas, com calçamento e arborizadas. É importante atentar para o fato de que na Bahia, cidades que vêm crescendo muito rápido nas últimas décadas e sem um planejamento urbano adequado, já enfrentam problemas com a ilha de calor e, mesmo cidades pequenas, especialmente as do semiárido baiano (que correspondem a quase 70% da área total do estado), devem investir na arborização urbana para diminuir o calor forte. Na cidade de Guarulhos, em São Paulo, há uma projeto chamado ‘Ilha Verde’ (Figura 20), em que se tem buscado o plantio de milhares de mudas de árvores, cujos efeitos serão sentidos em longo prazo, especialmente nas áreas onde já existe a incidência das ilhas de calor. A consulta a especialistas ou a observação no local sobre espécies que deram certo são fundamentais para que se comece um projeto desse tipo porque é preciso que as mudas plantadas sejam indicadas para cada tipo de clima e área, para que no futuro não tenham que ser cortadas, porque as raízes expandem-se para áreas indesejadas ou ainda porque não possuem tamanhos adequados. Alternativas, como o telhado ecológico, vêm çã o Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira As chuvas ácidas são um problema que resulta da emissão de gases tóxicos na atmosfera e que, ao misturar-se com o vapor de água presente nas nuvens, acidificam a água da chuva, cujas consequências são as corrosões de superfícies e a inapropriação da água para consumo e para reservatórios. Não é incomum nas cidades brasileiras que as áreas industriais sejam alocadas sem que seja feito um estudo de impacto ambiental rigoroso, localizando os centros industriais em áreas onde a circulação geral da atmosfera leve o ar poluído para áreas desabitadas. Pelo contrário, há centros industriais que, mesmo distantes das cidades, têm seus poluentes atmosféricos transportados paras as áreas habitacionais, causando transtornos à população. A Figura 22 demonstra como as mudanças impostas ao sistema natural têm produzido sérios problemas ambientais, a exemplo das chuvas ácidas e a contaminação das águas superficiais e subterrâneas. Geografia EM ção Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Figura 22. Mudanças no ciclo hidrológico Disponível em: http://saa-ambiente.agrinov.wikispaces.net/file/view/Figura16.jpg/87180447/Figura16.jpg 76 77 EM verificar na Figura 23. O assoreamento, com a deposição de lixo em rios e córregos, além de suas margens, a canalização, com a ocupação e transformação do solo, impermeabilizando-o, ocasionarão inundações muito comuns em períodos chuvosos em cidades onde essas práticas ocorrem, como é o caso da ocupação das margens do Rio Tietê, em São Paulo, causando diversos transtornos à população. Mas vale lembrar que tais ocorrências manifestam-se devido à Figura 23. Leito seco do Rio Jacuípe - Bahia. Fonte: Araújo, 2010, p.55 implantação irregular da habitação e indústrias em áreas de várzea, além dos resíduos sólidos e líquidos lançados nos rios. O lixo passa a ser um problema ambiental e social, uma vez que a sociedade consumista intensifica cada vez mais sua destinação, sem nenhum constrangimento, em rios e nas cidades. Isso reflete a cultura de um povo. As empresas também atuam diretamente nesse ponto, pois incentivam o consumo de alimentos e produtos em grande quantidade e embalagens não recicláveis, não degradáveis e sem possibilidade de reuso. É necessário remodelar uma sociedade com características consumistas e a prática de empresas em aumentar a concentração de lixo nas cidades. O Poder Público tenta oferecer um destino a esse lixo, mas ainda é incipiente e problemática a questão da sua deposição final no Brasil. Em aterros controlados ou não, depois de inutilizados tornam-se áreas de instabilidade, devido ao assentamento de camadas do lixo e à emissão do gás metano, principalmente, levando pessoas a buscarem sua sobrevivência nesses lixões a céu aberto. Outro problema com a água em áreas urbanas e também rurais é a eutrofização das águas, que corresponde a um processo antrópico de aumento na quantidade de nutrientes, Geografia O descuido em relação aos rios urbanos, em muitas cidades do mundo, provocou sérias consequências: a retirada da mata ciliar expõe as margens dos rios à erosão e consequente deposição dos sedimentos no leito, fazendo com que o canal fluvial torne-se mais largo, processo denominado assoreamento; isso faz com que a área inundável pelo rio seja cada vez maior, o que aumenta o risco de enchentes nas cidades. De forma semelhante, as obras de canalização dos rios provocam um fluxo de água muito veloz e, em caso de chuvas abundantes, pode haver transbordamento do canal. Portanto, as inundações que têm provocado verdadeiras catástrofes no Brasil, não resultam de problemas com o excesso de chuva, não são culpa da natureza... São, em verdade, o resultado do processo de ocupação das bacias de inundação de rios e riachos, sem nenhum planejamento urbano ou regulamentação dos órgãos públicos, que deveriam cuidar do ordenamento territorial evitando esses problemas. Em alguns rios, o assoreamento é total, como pode se çã o Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Geografia EM ção Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira principalmente de nitratos e fosfatos. A eutrofização é ocasionada pelo despejo de adubos, fertilizantes, detergentes e esgotos domésticos sem tratamento, formando uma camada microscópica de minerais na superfície, estimulando o aparecimento de algas, impedindo a entrada de raios solares e impossibilitando a fotossíntese de espécies vegetais presentes no fundo dos rios. Isso ocasiona a morte de diversos tipos de algas e o aumento do consumo de oxigênio por esses organismos, levando a uma perda de oxigenação dos rios, impossibilitando a vida de animais aquáticos, como pode se observar na Figura 24, exemplificado no Rio Cachoeira em Itabuna. É importante ainda pensarmos sobre a paisagem urbana a que temos acesso diariamente. Afinal é muito melhor transitar por uma cidade em que os Figura 24: Eutrofização das águas no Rio Cachoeira, em rios possuem orlas bonitas, margens Itabuna - BA. Fonte: Tomazoni, 02/07/2011. Arquivo Pessoal. conservadas, agradáveis, do que por vias em que ele foi transformado num esgoto a céu aberto. Além disso, a legislação brasileira prevê que as matas ciliares devem ser mantidas. Observe que, se a lei fosse respeitada, na cidade e no campo, nossos rios não estariam na situação em que estão. As cidades podem ser mais bem planejadas (SOUZA, 2006), mas, para que isso aconteça é preciso que tenhamos governantes mais empenhados em promover o bem-estar da população e esta aprender a reivindicar o seu direito à cidade, à cidadania (SILVA, 2003); é necessário entender o espaço urbano como promotor de vida e felicidade de milhares de pessoas, independentemente de sua condição social. A cidade precisa ser agradável para todos e não apenas para os que podem se autossegregar em condomínios. Na Bahia, é imprescindível que todos queiram participar dos processos de tomada de decisão; a sociedade tem que ser convocada a opinar sobre as questões que influenciam a vida de todos. Conhecimento em ação Fazer uma pesquisa sobre as leis ambientais, sobre a largura da mata ciliar de rios, lagos, morros e observar se tais leis são aplicadas em sua cidade ou região. Orientação: Formar grupos para pesquisar as leis ambientais sobre: - largura da mata ciliar em diferentes locais (rios, lagos, topos de montanhas, entre outros); - verificar se tais leis são cumpridas em seu município, através de fotos tiradas nos locais; - apresentar o resultado em sala de aula, verificando quais ações poderiam ser tomadas para evitar ou corrigir os problemas apresentados. 78 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Glossário antrópico: pertencente ou relativo ao homem ou ao período de existência do homem na Terra. assoreamento: amontoação de areias ou de terras, causada por enchentes ou por construções. aquíferos: uma formação ou grupos de formação que podem armazenar água subterrânea. São rochas porosas e permeáveis, capazes de reter água e de cedêla. 79 eutrofização: fenômeno causado pelo excesso de nutrientes (compostos químicos ricos em fósforo ou nitrogênio) numa massa de água, provocando um aumento excessivo de algas. lençol freático: (do grego phréar + atos, significa "reservatório de água", "cisterna") nome dado à superfície que delimita a zona de saturação da zona de aeração, abaixo da qual a água subterrânea preenche todos os espaços porosos e permeáveis das rochas ou dos solos ou ainda de ambos ao mesmo tempo . EM Geografia Investigue a história de sua cidade ou povoado: reúna fotografias antigas e atuais, relatos de moradores antigos, recortes de jornal e vários materiais que lhe ajudem a identificar as mudanças que foram impostas à paisagem original da área em que hoje está a cidade. Faça uma análise crítica do processo de evolução urbana: a qualidade ambiental na sua cidade é boa? Orientação: Formar grupos para: - Pesquisar a história de sua cidade, através de livros, textos, fotos; - Verificar quais foram as principais áreas desmatadas em sua cidade no decorrer do processo de ocupação e urbanização; - Se você fosse um geógrafo especialista em planejamento urbano, que sugestões daria para tornar a sua cidade um espaço com melhor qualidade de vida? Fazer isso pontuando os principais problemas encontrados ao longo dos anos em sua cidade e as possíveis soluções, considerando o Poder Público, as leis e a sociedade; - Apresentar os resultados finais de sua pesquisa para a sala de aula, juntamente com o convite a um morador antigo ou pesquisador para falar sobre a história e as mudanças nas paisagens da cidade em sua sala de aula. çã o Conhecimento em ação Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira De olho no ENEM ção Questão 01 A falta de água doce no planeta será, possivelmente, um dos mais graves problemas deste século. Prevê-se que, nos próximos vinte anos, a quantidade de água doce disponível para cada habitante será drasticamente reduzida. Por meio de seus diferentes usos e consumos, as atividades humanas interferem no ciclo da água, alterando: (A) a quantidade total, mas não a qualidade da água disponível no planeta. (B) a qualidade da água e sua quantidade disponível para o consumo das populações. (C) a qualidade da água disponível, apenas no subsolo terrestre. (D) apenas a disponibilidade de água superficial existente nos rios e lagos. (E) o regime de chuvas, mas não a quantidade de água disponível no planeta. Geografia EM Questão 02 Considerando a riqueza dos recursos hídricos brasileiros, uma grave crise de água em nosso país poderia ser motivada por: (A) reduzida área de solos agricultáveis. (B) ausência de reservas de águas subterrâneas. (C) escassez de rios e de grandes bacias hidrográficas. (D) falta de tecnologia para retirar o sal da água do mar. (E) degradação dos mananciais e desperdício no consumo. Referências ARAUJO, Oriana. Médio curso da bacia do Rio Jacuípe, Bahia: proposta metodológica para estimativa de susceptibilidade à degradação ambiental. Feira de Santana: PPGM/UEFS, 2010. (Dissertação de mestrado). SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record. 2000. SHIVA, Vandana. Guerras por água. Privatização, poluição e lucro. São Paulo: Radical Livros, 2006. SILVA, Onildo Araujo da. Recursos hídricos, ação do estado e reordenação territorial: o processo de implantação da barragem e do distrito de irrigação de ponto novo no estado da Bahia Brasil. Tese de Doutorado. Santiago de Compostela: Universidade de Santiago de Compostela, 2008. SILVA, José Borzacchiello da. Estatuto da cidade versus estatuto de cidade: eis a questão. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri e LEMOS Amália Inês Geraiges. Dilemas urbanos: novas abordagens sobre a cidade. São Paulo: Contexto, 2003. SOUZA, Marcelo Lopes de. A prisão e a ágora: reflexões em torno da democratização do planejamento e da gestão das cidades. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. SOUZA, Marcelo Lopes de. ABC do desenvolvimento urbano. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. 80 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 81 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 82 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Biologia Sérgio Augusto Coelho de Souza, Marcos André Vannier dos Santos e Marcia Rodrigues Pereira Apresentação Hoje em dia sabemos que a água que consumimos é a mesma que está presente na Terra há milhares de anos. Isso se deve ao ciclo da água e aos estados físicos em que ela pode ser encontrada no ambiente de nosso planeta. Logo, a água é um recurso, não vivo, ou fator abiótico, fundamental para a existência e sobrevivência dos seres vivos, ou fator biótico, no nosso planeta. Essa interação entre fatores abióticos e bióticos é estudada pela ciência da Ecologia, palavra que significa [Gr. οἶ ος Oikos – casa + ογία logos - estudo] estudo da casa. E que casa é essa? É o nosso mundo, não apenas o universo e o planeta Terra, mas, principalmente, a nossa cidade, bairro, escola e casa. E como podemos preservar o nosso mundo? Um bom começo será cuidar da água presente em nosso entorno, evitando sua contaminação e desperdício, já que ela é fundamental para a nossa vida e para a manutenção da biodiversidade. Mas será que essa biodiversidade é mesmo importante? Esse é um debate muito atual entre ecólogos de todo mundo e tentaremos aprofundar essa discussão neste Caderno abordando o funcionamento dos ecossistemas! Texto 1 Meio Ambiente: Universo água - Caminhando juntos O uso sustentável da água é um desafio do mundo atual que precisa ser rapidamente incorporado por nossa sociedade. Isso porque já sabemos que a forma como a utilizamos interfere, direta e indiretamente, no seu ciclo. Alguns exemplos dessa interferência não necessariamente refletem-se sobre o ambiente em que vivemos, como, por exemplo, o fenômeno da chuva ácida, mais comum em áreas muito industrializadas. Também é comum vermos noticiários sobre o derretimento das calotas polares. Entretanto, outros fenômenos como as secas, as enchentes e a perda de biodiversidade devido à contaminação dos recursos hídricos são facilmente observáveis no local onde vivemos. Assim, quando estudamos a água no nosso ambiente próximo, podemos ver que a qualidade do seu ciclo está associada à manutenção da qualidade ambiental e da biodiversidade. A criação de um dia internacional da água já demonstra a preocupação de órgãos governamentais e sociedade civil na preservação desse recurso natural essencial. Exatamente nesta data, i.e, 22 de março, foi divulgada uma pesquisa sobre a qualidade da água. 83 Biologia EM ção Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira em dezenas de rios de diferentes estados brasileiros. A maioria deles tem suas águas caracterizadas como “regulares” ou “ruins”. A pior colocação coube a um rio da Bahia, o rio Itapicuru Mirim, em Jacobina, chamada a “princesinha do sertão” que não apenas sofre com o assoreamento, mas apresenta as águas com a pior qualidade, e consequentemente, maior poluição e lixo. Alguns fatores que podem afetar o ciclo da água são: i) a irradiação solar; ii) os tipos e os usos do solo e, iii) as práticas humanas de alteração da paisagem em geral como o desmatamento, as edificações, o lançamento de esgotos e de lixo, a drenagem de áreas alagadas ou a irrigação de áreas secas. Tais práticas podem inclusive afetar a nossa saúde, através dos componentes bióticos e abióticos que estão presentes na água que bebemos. Portanto, em um contexto ecossistêmico, a qualidade da água também pode afetar a biodiversidade local e, assim, o funcionamento desse mesmo ecossistema. Na Figura 1a, temos uma imagem indicando, entre outras, as áreas semiáridas no Nordeste do Brasil. Na Figura 1b, a imagem de terreno desertificado foi utilizada em um cartaz sobre o estudo da desertificação no Estado da Bahia. Observe a extensão desse tipo de área no Estado da Bahia e reflita sobre a influência que tem a escassez de água sobre a biodiversidade de um ecossistema e como pode afetar o desenvolvimento socioeconômico regional. Isso pode ser abordado com os professores de Biologia, Geografia, História e Sociologia. O uso de cisternas para a captação de água tem sido bastante incentivado no Brasil, especialmente em regiões mais áridas, como as existentes no Nordeste brasileiro, sendo uma iniciativa particularmente importante na Bahia (Figuras 1a e 1b). 84 Figura 1a. Mapa destacando as áreas áridas e secas do Nordeste brasileiro. Disponível em: www.fapepi.pi.gov.br Acesso em: 15 mar.2012 Figura 1b. Cartaz do I Seminário sobre mudanças climáticas e desertificação na Bahia. Disponível em: www.mp.ba.gov.br Acesso em: 15 mar.2012 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 85 EM Biologia Afinal, como é o funcionamento de um ecossistema? Sabemos que determinados organismos têm funções próprias em um ambiente. Por exemplo, as plantas fazem fotossíntese, os herbívoros ingerem essas plantas e os carnívoros ingerem os herbívoros. Sem falar nos onívoros que ingerem plantas e animais! As fezes dos herbívoros e carnívoros, assim como os restos de todos os seres vivos são processados por decompositores, bactérias e fungos, que retornam o gás carbônico e o vapor d’água para a atmosfera e a água líquida e os nutrientes minerais ao solo. O gás carbônico e esses nutrientes minerais retornarão às plantas: o primeiro através das folhas, a água e os minerais presentes no solo através das raízes, contribuindo para a síntese de biomassa e para o trânsito de energia iniciado através do processo fotossintético. Entretanto, cada planta terá maior ou menor facilidade em absorver nutrientes e água em função do tipo de solo, clima, ou mesmo devido à pressão de consumo feita pelos herbívoros da área. Da mesma forma, herbívoros consumirão determinados tipos de plantas e cada predador carnívoro terá um determinado número de espécies como presas. Isso mostra que cada espécie que faz parte de um dado ecossistema contribui com suas diferentes formas de sobrevivência para compor o quadro geral da sua comunidade, havendo ou não aspectos coincidentes nas características de sobrevivência de cada espécie em relação às outras. Isso mostra a importância da discussão sobre o papel da biodiversidade na manutenção da riqueza de processos em um determinado ecossistema. Assim, a alteração dos fatores que regem a composição das espécies poderá influenciar os processos que ocorrem em um dado ecossistema. Um exemplo é a qualidade da água: ao mudar suas características físico-químicas pode-se alterar a composição biológica do sistema, extinguindo ou aumentando a população de uma determinada espécie. Isso alterará a comunidade do local e, possivelmente, as características desse ecossistema. A contaminação da água do mar por fertilizantes, dejetos industriais e esgotos domésticos pode promover a proliferação exacerbada de micro-organismos como algas pirrófitas, que podem produzir toxinas, como vem ocorrendo, com frequência, na China, país que reúne algumas das cidades mais poluídas do planeta. Essas toxinas provocam a mortandade de toneladas de peixe e intoxicam pessoas no litoral, comprometendo significativamente, atividades pesqueiras e turísticas. Dessa forma, o uso não planejado de recursos naturais pode prejudicar a geração de renda, mesmo em atividades com sustentabilidade. Na região litorânea da Bahia, por exemplo (Costa do Coco), eventualmente são verificadas florações ou marés vermelhas, nas quais esses micro-organismos produzem toxinas, que são disseminadas via aerossóis (spray) pelo vento, ameaçando a saúde de residentes e turistas. Você acha que isso ocorre naturalmente ou por razões antrópicas? Em função disso, curiosamente, existem ao menos seis rios denominados “Rio Vermelho” (além do Mar Vermelho e da Lagoa Vermelha), bem como um município em Minas Gerais e um bairro (em Salvador - BA), mencionado no livro “A Casa do Rio Vermelho” de Jorge Amado (que residia no bairro). A principal razão para tais denominações parece ser o crescimento de microalgas. Essa questão pode ser discutida reunindo professores de Biologia, História e Geografia. Será que poderemos observar alguma dessas possíveis mudanças no meio ambiente? Tentaremos através das práticas propostas neste Caderno! Primeiramente, vamos procurar observar o ciclo da água em um sistema fechado e, ao mesmo tempo, como a presença de luz pode influenciar, entre outros fatores, nessa ciclagem da água. ção Zoom na informação Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Conhecimento em ação A presença de água é fundamental para a constituição e para o funcionamento dos seres vivos; e a luz é essencial ao funcionamento do conjunto de organismos produtores de matéria orgânica que realizam o processo da fotossíntese. Ciclo e reciclagem da água Para visualizarmos a importância da água em um ecossistema, podemos observar um sistema que nós mesmos possamos criar. Para isso, basta inventarmos um sistema fechado e, a partir dele, refletirmos sobre a importância da água no sistema aberto em que vivemos. Pergunta: Como variam as características das plantas em um sistema fechado na presença e na ausência de luz? Materiais: Seis potes de vidro transparentes, incolores, grandes, iguais ou seis garrafas plásticas transparentes incolores de dois litros ou mais, com tampa, iguais; pedrinhas pequenas; terra para plantar; plantas pequenas e uma medida padrão de água. Observação: Depois da atividade concluída, os potes/garrafas poderiam integrar outra atividade. Por exemplo, um terrário e servir de experimento para outras disciplinas. Biologia EM ção Metodologia Abra o vidro ou faça um corte parcial com extensão de aproximadamente 80% da circunferência da garrafa, a oito ou dez centímetros abaixo da tampa (muito cuidado para não se cortar). A parte não cortada funcionará como uma dobradiça. Ponha as pedras no fundo do recipiente. Adicione terra para plantar e, se possível, composto orgânico (pode ser pó de café usado). Coloque algumas pequenas plantas que se encontrem dentro ou no entorno da sua escola e adicione uma medida padrão de água, compatível com o tamanho do recipiente em uso. Seu professor(a) poderá auxiliar na decisão sobre a quantidade conveniente de água a ser adicionada. Faça seis potes iguais. Feche os potes ou as garrafas e coloque três deles em locais com incidência de luz e três na sombra, ou seja, sem nenhuma incidência de luz em qualquer hora do dia. Observe seus potes durante duas semanas e anote: I) se houve presença de água nas paredes do recipiente; II) quais plantas desenvolveram-se mais e suas cores; III) meça as plantas e dê categorias de cor a elas. Refletindo... a)De posse de suas observações, como você apresentaria seus resultados? Podem ser apresentados em gráficos ou tabelas? Havendo dificuldades, peça o auxílio aos seus professores de Matemática ou Física. b) Quais pontos você, sua turma e seu professor (a) destacariam na discussão sobre os seus achados? 86 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira c) Lembrando que você simulou um sistema fechado, aponte, com relação ao ciclo da água, quais fatores devem ser considerados nesse ciclo na natureza (Figura 2). Figura 2. Ciclo da água na natureza Disponível em: http:// www.sigam.ambiente.sp.gov.br Acesso em: 15 mar. 2012 A Figura acima mostra a captação (percolação) e acúmulo de água subterrânea, que pode ser obtida com a construção de poços. Também podemos observar uma importante contribuição dada pela água da chuva (precipitação). Você poderia imaginar alguma forma de coletar essa água da chuva para aproveitamento na sua casa, escola ou cidade? Zoom na informação 87 EM Biologia A questão do uso da água é amplamente debatida em muitos locais. Uma alternativa que se tem encontrado é justamente aproveitar a sua ciclagem natural. Para isso, sistemas de captação de água da chuva têm sido construídos em distintos locais. Esse sistema é, na realidade, tão simples, que os nativos da América Latina já o utilizavam antes da chegada dos europeus em nosso continente. Além de maias e incas, esses sistemas foram desenvolvidos na Antiguidade, na Mesopotâmia, China, Grécia, Roma, Palestina etc. Ruínas romanas demonstram que eles já tinham saunas (a vapor d’água), chafarizes, piscinas etc. Algumas ideias que parecem inovadoras, ao serem redescobertas, tornam-se releituras de práticas há muito desenvolvidas. Além da captação da água da chuva, havia a construção de aquedutos, que são canais, subterrâneos ou expostos na superfície, que visam o transporte de água a partir de fontes, como nascentes e rios distantes até as cidades. Nenhuma civilização compara-se à romana no que se refere às obras hidráulicas e saneamento. No século IV a.C. Roma já contava com 856 banhos públicos e 14 termas que consumiam aproximadamente 750 milhões de litros de água por dia, distribuídos por uma rede com mais de 400 km de extensão, conforme Liebmann (1979). Em 312 a.C., Appius Crassus construiu o primeiro aqueduto romano, o Via Appia com 16,5 km de extensão; a partir daí, os aquedutos foram disseminados por todo Império e construídos também na Alemanha, Itália, França, Espanha, Grécia, Ásia Menor e África do Norte. Os Arcos da Lapa no Rio de Janeiro são, na realidade, um aqueduto, como os que foram construídos em Roma. Que tal localizar os locais citados, nos mapas antigos, e compará-los com os atuais, tentando identificar a fonte e o destino da água? Os professores de História e Geografia poderão ser de grande valia nessa empreitada! A partir disso, você já pode imaginar como o conhecimento de técnicas para transporte e utilização da água pode ter propiciado o desenvolvimento das cidades na Antiguidade e em épocas posteriores. Essa questão pode ser discutida com os professores supracitados. ção Sistemas de captação de água Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Texto 2 A saúde reprodutiva, o saber tradicional e o mercado de trabalho As Figuras 3 e 4 mostram dois exemplos de cisternas construídas ao lado das casas, fundamentais ao fornecimento de água para as famílias moradoras desses locais, onde a disponibilidade de água ao longo do ano é bastante pequena. Biologia EM ção Figura 3. Cisterna para coleta de água da chuva junto à casa. Disponível em: http:\\www.piaui2008.pi.gov.br Acesso em: 15 mar. 2012 Figura 4. Cisterna para coleta de água da chuva. Observe os canos ligados à calha junto ao telhado. Disponível em: http:\\www.fomezero.gov.br Acesso em: 15 mar. 2012 Por outro lado, sabemos que a quantidade de chuva varia ao longo do ano e isso pode alterar o volume de água armazenada no nosso reservatório. É o que chamamos de pluviosidade e podemos construir um pluviômetro simplesmente utilizando um reservatório marcado a cada centímetro, conforme sugerido por professores de outras disciplinas das ciências exatas nos cadernos anteriores. Quando chove, vemos quantos centímetros há de água no reservatório, o que nos permite calcular o nível de chuva e o volume precipitado. Essas medidas podem ser diárias, semanais, mensais ou mesmo anuais. 88 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira e sidad Curio EM ção Para construir um sistema de captação de água da chuva, como mostra a Figura 5, a seguir, basta escolher um telhado da sua escola ou da sua casa e inserir um cano de PVC cortado. Coloque outro cano conectado ao anterior, ligando-o com o reservatório a ser utilizado (por exemplo, uma caixa d’água). Biologia Figura 5. Sistema de captação da água da chuva. Esquema de Patrícia Latuf Marba, uso autorizado. Figura 6. Cisterna construída no lago do Puruzinho (Humaitá-AM), Amazônia brasileira, a partir do esquema mostrado na Figura 5. Foto: Marcos André Vannier-Santos, uso autorizado. 89 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Siga antenado Hoje em dia, o uso de sistemas de captação da água da chuva é tão estimulado e estudado que se encontram até trabalhos científicos na área. Um exemplo pode ser encontrado na página da Internet (CAPTAÇÃO DA ÁGUA DA CHUVA NO LABORATÓRIO DE ENGENHARIA AMBIENTAL; RAINWATER COLLECTION AT THE ENVIRONMENTAL ENGINEERING LABORATORY; Camila Ferreira Tamiosso, Alan Lambert Jobim, Anderson Veras Maciel e Pedro Daniel da Cunha Kemerich). Entretanto, muito outros podem ser encontrados através das suas pesquisas na web e em livros. Acesse: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ea000727.pdf>. Conhecimento em ação Mas será que a quantidade de chuva em um período de tempo influencia os seres vivos e a interação entre eles? Convidamos, então, você para fazer uma pesquisa com seus colegas de turma! Será que os novos achados ajudarão a desvendar o funcionamento do ecossistema no entorno escolar? A partir desses achados, discuta com a turma sobre a importância do ciclo da água nos processos ecológicos observados. Essa atividade ajudará a compreender que os fatores bióticos e abióticos que determinam a vida e as interações envolvendo os seres vivos fazem parte do cotidiano e que certos conceitos em Ecologia são facilmente observáveis. Biologia EM ção Sabemos que existem diferenças climáticas entre o verão e o outono, estações que se sucedem no primeiro bimestre do ano. Essas diferenças podem ser na quantidade de chuva, na umidade do ar, ou mesmo, na intensidade do sol, fazendo a temperatura ambiente variar. Conhecimento em ação Interações ecológicas e água Pergunta: Qual a diferença no número de flores de uma determinada planta e de seus animais visitantes, semanalmente, ao longo do bimestre? Para completar sua observação, considere a relação entre as diferenças observadas, a pluviosidade semanal e a umidade do solo. Materiais: Seus sentidos, caderno de anotações e lápis. 90 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Metodologia: Escolha uma planta que dê flores durante o período de verão/outono e que seja abundante no pátio ou no entorno da sua escola. Uma vez por semana, quantifique o número de flores e conte quantos e quais bichos as visitam durante 10 minutos antes da sua aula de Biologia. Construa um pluviômetro com garrafa plástica transparente, incolor e anote os centímetros correspondentes ao nível da água dentro do recipiente ao longo da semana. Meça a umidade do solo utilizando um pedaço de papel absorvente ou de papel higiênico com tamanho padronizado. Para isso, deixe o papel no solo por um minuto e depois quantifique a área do papel que ficou úmida. Você pode dar os valores por proporção ou mesmo por peso, pesando o papel antes e depois de colocá-lo no solo. Resultados: Construa suas tabelas e gráficos de linha e apresente na aula sobre polinização. Reflexão... Reflexão para ação a) E se você alterasse sua forma de medir os aspectos avaliados em relação à época do ano, horário do dia e tipo de planta, o que poderia mudar? b) Você tem alguma outra sugestão de como se medir a pluviosidade e a umidade do solo? c) Qual a relação entre o número de flores e a quantidade e tipo de visitante? d) Como a disponibilidade de água no ambiente pode interferir nessa interação? e) A partir dos experimentos realizados, você acha que a contaminação da água está afetando a saúde da população da sua cidade? E o crescimento econômico? f) E as interações ecológicas? Alguma comunidade, população ou espécie no seu estado está sob ameaça em função de problemas em relação à água? 91 EM Biologia a) Qual a época que teve mais flores? b) E visitantes? c) Qual foi o visitante mais presente em frequência e número? d) O visitante mais comum foi o mesmo ao longo do bimestre? e) Houve relação entre o número de flores e a pluviosidade? f) Se houve, qual foi ela? g) E em relação à umidade do solo? h) No caso dos visitantes, estes estiveram mais associados à pluviosidade ou à umidade do solo? i) Por que você acha que obteve esses resultados? ção Pontos de partida: Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira dade Até agora destacamos a importância da água não apenas para os humanos, mas também para os outros seres vivos e suas interações ecológicas. Vimos também que temos algumas alternativas de coleta de água, que pode ser da chuva e de origem subterrânea, através de poços ou aquedutos. Mas a água correspondente à umidade do ar também pode ser coletada, por exemplo, ao se depositar sobre sacos plásticos, como se faz no Peru. O saco plástico também é utilizado para a coletar água que se precipita à noite, sob baixas temperaturas, sobre a areia, nos desertos pelo mundo, escaldantes durante o dia e gelados durante a noite. Assim, o saco plástico, que muitas vezes representa um problema ambiental, pode ser reutilizado para suprir uma carência local (a água). Por outro lado, pergunte ao seu professor (a) de Química, qual é o processo de elaboração de um saco plástico, quanto se gasta de água nesse processo e qual é e deveria ser o destino dessa água industrial. Caso nenhuma dessas formas de coleta seja viável na região em que você mora, pesquise sobre possíveis alternativas de coleta de água ou use a criatividade de acordo com essa realidade. Consideradas as ideias de coleta de água apresentadas, podemos considerar que alguém teve que usar a imaginação para descobrir tais estratégias simples, você concorda? A água que coletamos pode servir para o banho, regar as plantas ou mesmo, após as análises da sua qualidade ou seu tratamento, para beber. E é a manutenção dessa qualidade que fará com que esse recurso mantenha-se potável e renovável para todos. Entretanto, o que vem acontecendo ao longo dos anos é que a qualidade da água está cada vez pior e sua disponibilidade para consumo começa a ficar preocupante. Isso porque o ciclo da água está estritamente associado aos demais ciclos de materiais, como os ciclos dos elementos oxigênio e carbono, de forma recíproca. E esses ciclos estão estritamente relacionados ao fluxo de energia nos ecossistemas. Assim, quando a natural limitação de recursos não compromete a manutenção dos seres pertencentes a um dado ecossistema, os materiais e a energia fluem entre os seres vivos, através do Ciclo Alimentar ou Cadeia Alimentar. Biologia EM ção i Curios 92 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira ade Figura 8. Esquema representando o ciclo do carbono, com destaque para a queima do carbono fóssil. Disponível em: <http:\\www.forum.outerspace.terra.com.br> Acesso: em 13 mar 2012. 93 EM Biologia Havendo contaminação dos seres da cadeia por materiais tóxicos, que se acumulam nos corpos dos seres vivos, a quantidade desses materiais retida no corpo dos seres de cada nível da cadeia determinará o índice de sua sobrevivência. Ao longo da cadeia alimentar, com a redução da energia disponível para os níveis tróficos mais altos, os seres desses níveis tendem a consumir um máximo de presas, tornando o acúmulo de toxinas nos consumidores cada vez maiores, levando a uma intoxicação Figura 7. Ciclo de matéria e fluxo de energia na natureza, através da Cadeia Alimentar. que pode ser letal. Esse processo recebe o Fonte: Cientific.com nome de Magnificação Trófica. Assim, a energia e o carbono fluem de um nível trófico a outro e, como a água, o carbono vai sendo ciclado no sistema, desde os produtores primários até os decompositores, retornando aos produtores primários. Tal como o fluxo de matéria, o de energia faz parte da evolução da vida na Terra. Durante a longa história da vida em nosso planeta, houve alguns momentos de grande mortandade dos seres vivos de então, conhecido como as grandes extinções. Você sabe quando isso aconteceu? Qual a teoria aceita atualmente para explicar esses fenômenos? Essa mortandade em massa dos seres vivos permitiu grande acúmulo de matéria, que fossilizou, dando origem, entre outros, a um produto que hoje em dia é muito utilizado por nós, humanos, o petróleo. E será que esse petróleo tem a ver com o saco plástico citado acima? Esse fenômeno de mortandade em massa também deu origem ao que chamamos de carbono fóssil (Figura 8). Esse tema é muito estudado não apenas por biólogos, mas também por químicos, geólogos, geógrafos e muitos outros cientistas. Se você tiver acesso à Internet, recomendamos a vídeo-aula indicada a seguir, além de buscar mais informações sobre a origem desses materiais. Mas, caso não tenha, nada impede que você consulte os livros e os profissionais da área. Afinal de contas, seus pais e avós não precisaram desse recurso para adquirir o conhecimento que acumularam ao longo da vida. O próprio Bill Gates disse que seus filhos teriam computadores, mas antes teriam livros. ção sid Curio Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Siga antenado Vídeo sobre ciclos de materiais Acesse: http://ambiente.educacao.ba.gov.br/conteudos-digitais/conteudo/exibir/id/94. Texto 3 Biologia EM ção O petróleo e os problemas ambientais Assim como no caso da água, o uso do petróleo também não tem sido feito de uma forma cuidadosa. A queima desses combustíveis fósseis tem resultado, inclusive, em mais um problema ambiental, com a contaminação dos ambientes, tanto terrestres quanto aquáticos. Outro aspecto de importância é o de que a distribuição da riqueza também está associada ao uso do petróleo. Por que será? Como o petróleo está associado ao valor de uma mercadoria? E da mão de obra? Refletindo mais profundamente, será que todos os que trabalham na indústria do petróleo recebem a mesma “fatia do bolo”? Ou tem alguém recebendo mais que outro? A que se deve isso? Você acha que os problemas ambientais que vivemos hoje em dia estão associados com os problemas sociais? Desafiamos você a juntar o que aprendeu nas aulas de Português, Sociologia, História e Geografia para fazer uma crônica associando o meio ambiente, os modos de produção do petróleo e a exploração do homem pelo homem. Você acha que a descoberta do petróleo na camada pré-sal vai afetar a utilização desse recurso natural e o meio ambiente? Debata a sua crônica e enriqueça o seu trabalho com a opinião dos colegas da sua turma e com a dos professores de Biologia, Português, Química e Sociologia. Outra questão de grande importância, relativa ao modo como lidamos com o meio ambiente, é a da extinção de espécies em função das modificações e usos impostos pela humanidade sobre os ecossistemas. As espécies que correm maiores riscos de extinção são, em muitos casos, aquelas que ocorrem em áreas específicas de uma dada região, chamadas de espécies endêmicas. Por sinal, existe alguma espécie que só existe na sua cidade, região, no Estado da Bahia, ou no Brasil? Se sim, por que essa espécie só vive nesse ecossistema? E qual a importância dela para o seu funcionamento? Leia o texto a seguir para auxiliar na sua reflexão. Acreditamos que esse exemplo permitirá a sua melhor compreensão sobre a importância do endemismo no planeta Terra. Depois debata sobre a função das espécies endêmicas no funcionamento dos ecossistemas em que são encontradas. 94 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Zoom na informação (Não se detenha diante das palavras mais difíceis, tenha sempre seu dicionário ao lado!) PROJETO FLORA DA BAHIA Apresentação O Estado da Bahia possui uma área de 567.295,3 km², representando cerca de 6,6% do território brasileiro e aproximadamente 36,3% da região Nordestina. A Bahia possui uma boa representatividade de quase todos os ecossistemas existentes no Brasil, sendo na porção mais ao Leste principalmente, Mata Atlântica, Restingas, Mangues, Várzeas e Matas Mesófilas. Para o Oeste, o Semi-Árido ocupa mais de 50% do Estado e, aqui, ocorre incluindo uma grande diversidade de tipos de Caatingas, as Lagoas Temporárias nas partes mais baixas, os Cerrados, diferentes tipos de Florestas (montanas, ciliares e mesófilas) e os Campos Rupestres. Os três últimos tipos vegetacionais geralmente ocorrem como enclaves no Bioma das Caatingas e geralmente associados à Chapada Diamantina. Bem a Oeste, há maior continuidade do Cerrado que se liga com o Brasil Central, mas ocorre a permanência das Caatingas inclusive com as Dunas do São Francisco. Dos tipos de vegetação mencionados podem ser destacados a Mata Atlântica, Campos Rupestres e Caatingas. A Mata Atlântica do Leste da Bahia é considerada como importante centro de endemismo e alguns exemplos são os gêneros Harleyodendron, Arapatiella e Brodriguesia (Leguminosae) (Lewis 1987), Anomochloa, Alvimia, Criciuma, Eremocaulon, Sucrea, Diandrolyra e Eremitis (Gramineae) (Calderón & Soderstrom,1980; Renvoize, 1984; Clark, 1990; Judziewicz et al., 1999; Oliveira, 2001) Andreadoxa (Rutaceae) (Pirani, 1999). Alguns gêneros endêmicos da Bahia, tem predominância na mata atlântica como Zomicarpa (Araceae) e Hornschuchia (Annonaceae). Com tal diversidade de ecossistemas e uma flora espetacular, a Bahia tem hoje apenas 1,64% da área do Estado conservada com proteção total, o que está muito abaixo da média do país. A estrutura de conservação do Estado apesar de relacionar cerca de 5% como área protegida, tal proteção é formada principalmente por APAs (37) as quais se associam 2 reservas biológicas, 3 estações ecológicas, 28 parques (nacionais, estaduais e municipais), 5 reservas ecológicas, 2 áreas de relevante interesse ecológico, 1 floresta nacional, 1 monumento natural, 1 refúgio da vida silvestre, 2 reservas extrativistas e 49 reservas particulares do patrimônio natural (www.sei.ba.gov.br). Apesar do grande número de áreas de proteção, grande parte delas foram criadas apenas por decreto, faltando regularização da situação fundiária, plano de manejo, pessoal especializado e fiscalização adequada. A diversidade de espécies vegetais na Bahia é extremamente alta, tendo sido estimada por Harley e Mayo (1980) cerca de 10.000 espécies de Angiospermas. Tal estimativa atualmente parece subestimada e um bom exemplo é a Flora do Pico das Almas (Stannard, 1995) com 1123 táxons de plantas vasculares, dos quais 105 táxons (9,3%) descritos como novos táxons. Assim uma estimativa atualizada sinalizaria para 12.000 espécies de Angiospermas para a Bahia. Esta rica flora despertou o interesse de muitos visitantes desde o século XIX com plantas coletadas por Karl von Martius, Maximilian von Wied Neuwied, Blanchet, F. Sellow e G. Gardner entre outros e 95 EM Biologia As Caatingas geralmente eram referidas como possuindo poucas espécies endêmicas. Porém Giulietti et al. (2002) apresentaram mais de 300 espécies endêmicas do bioma e os gêneros Mcvaughia (Malpighiaceae), Glischrothamnus (Molluginaceae), Rayleya (Sterculiaceae), Anamaria (Scrophulariaceae) e Stephanocereus (Cactaceae) são gêneros restritos às caatingas. O gênero monoespecífico Holoregmia (Martyniaceae) foi coletado e descrito em 1820 nos arredores de Jequié e só foi recoletado em 2001 (Harley et al., 2003), mostrando o desconhecimento da flora do Estado. ção Os Campos Rupestres que ocorrem nas partes mais altas da Chapada Diamantina destacam-se pelo grande número de novas espécies e endemismos, detectados em levantamentos florísticos mais amplos da região de Mucugê (Harley & Simmons, 1986), Pico das Almas (Stannard, 1995) e Catolés (Zappi et al. 2003). Entre os gêneros endêmicos da Bahia e restritos a essa região, destacam-se vários da família Asteraceae: Blanchetia, Bishopiella, Litothamnus e Santosia; além de vários gêneros que têm aí seu centro de diversidade, como Marcetia (Melastomataceae), Eriope (Lamiaceae), Agrianthus (Asteraceae), Chamaecrista e Calliandra (Leguminosae) (Souza 1999, Conceição et al., 2002; Giulietti & Pirani 1988). Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira usadas para a Flora Brasiliensis. Posteriormente, o interesse pela flora da Bahia foi demonstrado pelos estudos de Ule e Luetzelburg no início de 1900, mas só a partir de 1971, através da viagem exploratória realizada por Irwin e Colaboradores do New York Botanical Garden (NYBG) (Estados Unidos) e que contou com a participação de Raymond Harley do Royal Botanic Gardens de Kew (Inglaterra) foi reforçado o potencial da diversidade das plantas da Bahia. Visando uma futura Flora da Bahia, foram iniciados, através da parceria entre o Herbário do Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC), sob a coordenação de André Maurício de Carvalho e o Royal Botanic Gardens de Kew (RBGKew) (Inglaterra) coordenado por Raymond Harley, expedições para várias regiões do Estado em 1974, 1978 e 1980, tendo o material coletado servido de base para a lista preliminar para uma Flora da Bahia (Harley & Mayo 1980). Entre 1980 e 1982 trabalhou no CEPEC o botânico americano Scott Mori, que deu uma grande contribuição aos trabalhos desenvolvidos no herbário e realizou importantes coletas. A associação do herbário CEPEC com o New York Botanical Garden permanece até hoje, principalmente relacionado aos estudos da Mata Atlântica. Atualmente, o convênio é coordenado por André Amorim pelo lado brasileiro e por Wait Thomas pelo lado americano. Desde 1972 o Departamento de Botânica da Universidade de São Paulo (IB-Botânica USP) realiza estudos de levantamento da Flora da Serra do Cipó, na Serra do Espinhaço em Minas Gerais, onde se destacam os campos rupestres em altitudes acima de 1.000m. Muitas famílias da flora já foram publicadas no Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo. A partir de 1980 esses estudos foram ampliados para incluir outras áreas de campos rupestres de Minas Gerais, principalmente, Diamantina, Serra do Ambrósio, Serra do Cabral e Grão Mogol (Pirani (ed.) 2003, 2004). Biologia EM ção Devido ao interesse das Instituições em ampliar os estudos para cobrir os campos rupestre da Cadeia do Espinhaço em Minas Gerais (Serra do Espinhaço) e Bahia (Chapada Diamantina), houve a associação do CEPEC, RBGKew, IB-Botânica USP, uma parceria que propiciou um grande número de coletas e o estudo das montanhas de Minas Gerais e as mais altas da Bahia, através dos Projetos Pico das Almas (Stannard, 1995), Catolés/Pico do Barbado (Zappi et al. 2003) e de Grão Mogol (Pirani et al., 2003). Esta ação evoluiu em 1994, para o projeto Chapada Diamantina (PCD) que agregou ao CEPEC, RBKew e USP as principais instituições de ensino e pesquisa do Estado da Bahia: Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísitca (IBGE), e a ONG Fundação Chapada Diamantina, sob a coordenação de Maria Lenise Guedes (UFBA). Além da formação de uma rede visando estudos da flora da Bahia, a parceria resultou na publicação da lista preliminar do Morro do Pai Inácio e da Chapadinha (Guedes & Orge 1998) e as Plantas Úteis da Chapada Diamantina (Funch et al., 2004). A continuação do PCD foi a elaboração do projeto Flora da Bahia e o seu desenvolvimento entre 1999 e 2001, com financiamento do CNPq/CAPES através do Programa Nordeste de Pesquisa e Pós-Graduação. A nova rede incluiu além dos integrantes do PCD, a Universidade Estadual da Bahia (UNEB), a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA),todas instituições da Bahia, a ONG Associação Plantas do Nordeste (APNE-Recife, Pe) e o New York Botanical Garden, sob a coordenação de Ana M. Giulietti (UEFS). O projeto tinha como objetivos principais a coleta em várias regiões do Estado visando um aumento no número de exsicatas depositadas nos herbários baianos, melhoria da capacidade instalada dos herbários e lista de espécies de algumas áreas de mata atlântica, restinga e campo rupestre. O desenvolvimento das pesquisas com a flora da Bahia foi um dos pontos mais importantes para a implantação do Programa de Pós-Graduação em Botânica da UEFS nos níveis de Mestrado (2000) e Doutorado (2002) com uma linha ligada à Flora da Bahia. Em continuidade ao projeto Flora da Bahia, foram aprovados os seguintes projetos associados: Flora da Bahia, como um subprojeto do Programa Plantas do Nordeste do CNPq/RBGKew/APNE (2001-2003); Estudos taxonômicos em grupos da flora da Bahia, através do Edital Universal (2001-2003), sob a coordenação de Ana M. Giulietti, que concentrou os seus esforços em coletas, e Flora da Bahia II (2003-2005), sob a coordenação de Tania R. Santos Silva, que tem como foco principal o início da publicação das monografias, por gêneros ou famílias, através da revista Sitientibus da UEFS. Pelo exposto convidamos os especialistas do país e do exterior a colaborarem na flora da Bahia. Ana Maria Giuliett (Professora titular da Universidade Estadual de Feira de Santana) Coordenadora do Projeto Flora da Bahia 96 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Reflexão para ação     Diante de tantas informações, o que se pode concluir a partir do texto apresentado? O estado da Bahia é importante para a manutenção da biodiversidade da região e do país? E quanto às espécies endêmicas, qual a situação do estado da Bahia? Qual a importância da conservação dos ecossistemas em geral, e, em especial, daqueles que possuem espécies endêmicas? De olho no ENEM Questão 01 Biologia EM ção Quando um reservatório de água é agredido ambientalmente por poluição de origem doméstica ou industrial, uma rápida providência é fundamental para diminuir os danos ecológicos. Como o monitoramento constante dessas águas demanda aparelhos caros e testes demorados, cientistas têm se utilizado de biodetectores, como peixes que são colocados em gaiolas dentro da água, podendo ser observados periodicamente. Para testar a resistência de três espécies de peixes, cientistas separam dois grupos de cada espécie, cada um com cem peixes, totalizando seis grupos. Foi, então, adicionada a mesma quantidade de poluentes de origem domestica e industrial, em separado. Durante o período de 24 horas, o número de indivíduos passou a ser contado de hora em hora. Os resultados são apresentados abaixo. Pelos resultados obtidos, a espécie de peixe mais indicada para ser utilizada como detectora de poluentes, a fim de que sejam tomadas providências imediatas, seria (A) a espécie I, pois sendo menos resistente à poluição, morreria mais rapidamente após a contaminação. (B) a espécie II, pois sendo o mais resistente , haveria mais tempo para testes. 97 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira (C) a espécie III, pois como apresenta resistência diferente à poluição doméstica e industrial, propicia estudos posteriores. (D) as espécies I e III juntas, pois tendo resistência semelhante em relação à poluição permitem comparar resultados. (E) as espécies II e III juntas, pois como são pouco tolerantes à poluição, propiciam um rápido alerta. Questão 02 Em uma área observa-se o seguinte regime pluviométrico: Os anfíbios são seres que podem ocupar tanto ambientes aquáticos quanto terrestres. Entretanto, há espécies de anfíbios que passam todo o tempo na terra ou então na água. Apesar disso, a maioria das espécies terrestres depende de água para se reproduzir e o faz quando essa existe em abundância. Os meses do ano em que, nessa área, esses anfíbios terrestres poderiam se reproduzir mais eficientemente são de (A) setembro a dezembro (B) novembro a fevereiro (C) Janeiro a abril (D) março a julho (E) maio a agosto Biologia EM ção Questão 03 As florestas tropicais estão entre os maiores, mais diversos e complexos biomas do planeta. Novos estudos sugerem que elas sejam potentes reguladores do clima, ao provocarem um fluxo de umidade para o interior dos continentes, fazendo com que essas áreas de florestas não sofram variações extremas de temperatura e tenham umidade suficiente para promover a vida. Um fluxo puramente físico de umidade do oceano para o continente, em locais onde não há florestas, alcança poucas centenas de quilômetros. Verifica-se, porém, que as chuvas sobre florestas nativas não dependem da proximidade do oceano. Esta evidência aponta para a existência de uma poderosa “bomba biótica de umidade” em lugares como, por exemplo, a bacia amazônica. Devido à grande e densa área de folhas, as quais são evaporadores otimizados, essa “bomba” consegue devolver rapidamente a água para o ar, mantendo ciclos de evaporação e condensação que fazem a umidade chegar a milhares de quilômetros no interior do continente. A. J. Nobre. Almanaque Brasil socioambiental. Instituto Socioambiental, 2008, p. 368-9(com adaptações). As florestas crescem onde chove, ou chove onde crescem as florestas? De acordo com o texto. (A) onde chove, há floresta. (B) onde a floresta cresce, chove. (C) onde há oceano, há floresta. (D) apesar da chuva, a floresta cresce. (E) no interior do continente, só chove onde há floresta. 98 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Referências Biodiversidade e água. Disponível em: <http://www.agua.bio.br/botao_e_I.htm>. Acesso em: 15 mar. 2012. Ciclo da água. Disponível em: <sigam.ambiente.sp.gov.br, fomezero.gov.br>. Acesso em: 07 mar.12. Cisterna de água. Disponível em: <piaui2008.pi.gov.br>. Acesso em: 07 mar.12 Cisterna de água. Disponível em: <fomezero.gov.br>. Acesso em: 07 mar.12. Enem. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/web/enem/edicoes-anteriores>. Acesso em: 15 mar.12. Fluxo de matéria e de energia. Disponível em: <http://www.educadores.diadia.pr.gov.br>. Acesso em: 15 mar. 2012. Projeto Flora da Bahia. Disponível em: <http://www.uefs.br/floradabahia/apresent.html>. Acesso em: 15 mar.12. Região árida. Disponível em: <www.fapepi.pi.gov.br>. Acesso em: 15 mar. 12. Biologia EM ção Região árida. Disponível em: <www.mp.ba.gov.br>. Acesso em: 15 mar.12. 99 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 100 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Química Marcelo Franco; Ricardo Nascimento e Sandra Pita Apresentação Querido(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) ao fantástico universo da Química. Neste Caderno, você será convidado(a) a desenvolver algumas atividades complementares ao assunto estudado no 3º ano, cujo objetivo é despertar a curiosidade e o aprendizado da Química no nosso cotidiano. Cada atividade proposta neste material o conduzirá a pensar em como a Química está envolvida no nosso meio e como o assunto já estudado pode explicar os fenômenos sugeridos em forma de aula prática. Este Caderno foi elaborado a partir da experiência vivida pelos autores ao lecionar a disciplina Química no nível médio e na formação de professores no curso presencial de Licenciatura em Química da UNEB, UESB, UESC e UEFS, porém, com um foco maior na interatividade e nos recursos disponíveis na Internet já citados. Entretanto, neste material, são apresentadas várias referências bibliográficas que também são fundamentais para a formação voltada para a cidadania. Texto 1 Petróleo O petróleo é composto, principalmente, de vários hidrocarbonetos (estruturas contendo átomos de carbono e hidrogênio) e, em porcentagens menores, também de nitrogênio, enxofre e oxigênio. Em média, o petróleo é formado pelos seguintes átomos: Átomo Percentagem Carbono 81 – 88% Hidrogênio 10 – 14% Oxigênio 0,01 – 1,20% Nitrogênio 0,002 – 1,70% Enxofre 0,01 – 5,00% Disponível em: <http://www.uenf.br/uenf/centros/cct/qambiental/pe_formacao.html> Através da deposição dos restos de animais e vegetais mortos há milhares de anos, ocorre a formação do petróleo. Tais restos foram cobertos por sedimentos, e estes, em função do tempo, se transformaram em rochas. O empilhamento deles provocou algumas reações devido à ação do calor e da alta pressão e esse processo é que forma o petróleo. Devido às circunstâncias em que foi formado, o petróleo é encontrado em cavidades existentes entre as camadas do subsolo. Quando o petróleo é extraído, geralmente, vem acompanhado de água salgada, devido ao antigo mar existente nesse local. O petróleo pode ser encontrado no continente (Figura 1) ou em alto-mar (Figura 2). . 101 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Figura 2. Extração do petróleo em alto-mar Disponível em: <http://www.guiametal.com.br/? noticia=1413/refinarias-de-petroleo--entenda-comofuncionam> No Brasil, a Petrobras descobriu uma grande reserva de petróleo localizada no fundo do mar, em uma camada chamada de pré-sal. Esse Siga antenado termo refere-se a um conjunto de rochas localizadas em grande parte do litoral brasileiro, com potencial para geração e acúmulo de petróleo. As rochas com petróleo se estendem por baixo de uma extensa camada de sal, que pode atingir espessuras de até 2.000m. A profundidade total dessas rochas, que é a distância entre a superfície do mar e Vídeo1. Extração do petróleo no pré-sal os reservatórios de petróleo abaixo da Disponível em: Brasil.gov.br Acesse: http://www.youtube.com/watch? camada de sal, pode chegar a mais de 7 v=6XaGYcV8TOM&feature=related mil metros. A extração do petróleo no pré-sal pode ser visualizada através do Vídeo 1 indicado no box siga antenado: Química EM ção Figura 1. Extração do petróleo em continentes Disponível em: <http://www.algosobre.com.br/ quimica/petroleo.html>. Um dos problemas para a exploração do petróleo em alto-mar – Figura 3 – é a possibilidade de acidentes. Os vazamentos no mar afetam plantas, peixes, mamíferos e toda a vida animal e vegetal. O petróleo mata, primeiramente, o plâncton, ou seja, os microrganismos vegetais e animais de que se alimentam os peixes. Dessa forma, ocorre uma reação em cadeia: Figura 3. Manchas de petróleo em alto-mar. Disponível em: <http://inapcache.boston.com/ universal/site_graphics/blogs/bigpicture/oil_06_21/ s01_23895093.jpg>. 102 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira  Os peixes do fundo do mar que se alimentam de resíduos acabam sendo envenenados e morrem;  A luz do sol é bloqueada, assim, as algas não realizam mais a fotossíntese (reação que retira o gás carbônico – CO2 – e libera oxigênio – O2 – para o ambiente). O resultado é que os peixes da superfície morrem por falta de oxigênio ou morrem intoxicados pelo óleo vazado;  Substâncias tóxicas se acumulam nos tecidos de mamíferos, tartarugas e peixes, causando distúrbios reprodutivos e cerebrais;  As penas das aves ficam impregnadas de óleo e elas acabam afundando e morrendo afogadas;  Mangues próximos têm as raízes de suas árvores impregnadas pelo petróleo e, assim, morrem. Peixes, crustáceos e outros animais, que vivem próximos ao mangue, também não resistem à falta dessa vegetação;  Animais como tartarugas, peixes, aves marinhas e mamíferos morrem envenenados pelo petróleo vazado no mar. O que mais preocupa é que os acidentes, causados por grandes petroleiros, poluem, sim, o meio ambiente, levando a catástrofes, entretanto, a maior parte da poluição é ocasionada por pequenos vazamentos de óleo, motores de barcos e carros, que são carregados pela chuva até os mares e oceanos. Assim, o impacto desses vazamentos sobre o ecossistema aquático é devastador e muito difícil de ser calculado. Zoom na informação Conhecimento em ação Em função disso, realize uma pesquisa sobre os acidentes de petróleo no mundo e apresente os resultados na sala de aula. Apesar das possibilidades de impactos ambientais negativos, a utilização do petróleo e de seus derivados, pela humanidade, é fundamental para o desenvolvimento da sociedade moderna. Além da gasolina, vários outros produtos são originados do petróleo, como o gás natural, o asfalto, o querosene, os óleos combustíveis, os lubrificantes, entre outros. A maioria desses produtos é obtida através da destilação fracionada do petróleo. O processo de fracionamento do petróleo ocorre em tanques apropriados e, através do aquecimento, obtêm-se diferentes subprodutos. Em função desse aumento de temperatura, os seguintes compostos são produzidos, resumidos no Quadro 1: 103 Química Figura 4. Vazamento de petróleo Disponível em: <http:// pt.wikipedia.org/wiki/Mar%C3% A9_negra> EM ção O primeiro vazamento de petróleo explorado no pré-sal, no Brasil, ocorreu em 2011, da empresa Chevron no Campo de Frade, na Bacia de Campos. Disponível em: <http://ips.org/ipsbrasil.net/nota.php?idnews=8102 >. Acesso em: 16 abr. 2012. Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Quadro 1 – Compostos produzidos do petróleo em função do ponto de ebulição Ponto de ebulição oC 20 120 170 270 340 500 Quantidade de carbonos 1a4 5 a 10 10 a 16 14 a 20 20 a 50 20 a 70 Produto Gás Gasolina Querosene Diesel Lubrificante Óleo 600 Acima de 70 Asfalto Disponível em: <http://mundoeducacao.uol.com.br/quimica/destilacao-petroleo.htm> Química EM ção Os hidrocarbonetos obtidos durante a destilação fracionada do petróleo bruto podem ser diferenciados em função de suas características estruturais. Na Figura 5, essas possibilidades são demonstradas de maneira resumida. Figura 5. Hidrocarbonetos formados durante a destilação do petróleo Fonte: Acervo pessoal ade sid Curio O petróleo está presente em centenas de produtos do nosso cotidiano. Em casa, na rua, em alimentos, na roupa, nos remédios, nas embalagens, nos cosméticos, computadores e até nos foguetes espaciais. Nos veículos, o petróleo também está nos pneus, tapetes, freios e em muitas peças, além disso, os derivados do petróleo são utilizados em chupetas, pneus, absorventes, fraldas, sapatos, material cirúrgico, tintas, plásticos, tecidos sintéticos, nylon, fibras têxteis, solventes, filmes, cosméticos, brinquedos, seringas descartáveis, tubos e conexões, adesivos, colas, batom, asfalto, velas, ceras, fósforos, chicletes, balas, pilhas, papéis, sabonete, pranchas de surf, cremes, laxantes, detergentes, fio dental, defensivos agrícolas e em muitos outros produtos. O Vídeo 3 apresenta as diversas aplicações do petróleo e seus derivados. 104 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Siga antenado Vídeo - Petróleo e o cotidiano Subprodutos obtidos através da destilação fracionada do petróleo Acesse: http://ambiente.educacao.ba.gov.br/ conteudos-digitais/conteudo/exibir/id/94 Vídeo2 (Petróleo e o cotidiano) Disponível em: <http://ambiente.educacao.ba.gov.br/ > Animação 1 - Subprodutos obtidos através da destilação fracionada do petróleo Fonte:<http://www.labvirtq.fe.usp.br/> Conhecimento em ação EXPERIMENTO 1 (Teor de álcool na gasolina) A quantidade de etanol presente na gasolina deve respeitar os limites estabelecidos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) – teor entre 22% e 26% em volume. A falta ou excesso de álcool em relação aos limites estabelecidos pela ANP compromete a qualidade do produto que chega aos consumidores brasileiros. Assim, avaliar a composição da gasolina, verificando se o teor de álcool está adequado, é uma atitude muito importante. Essa experiência tem como objetivo determinar o teor de álcool na gasolina; posteriormente, serão discutidos os princípios subjacentes ao método usado para essa determinação. 105 Química EM Apesar das diversas aplicações do petróleo e seus derivados, é a gasolina o subproduto do petróleo de grande destaque no cotidiano; sua presença na movimentação de veículos automotores se destaca. Infelizmente, no Brasil, existe a prática de adulteração desse tipo de combustível, feita através da adição de outros solventes à gasolina. A Animação “Subprodutos obtidos através da destilação fracionada do petróleo” apresenta o que é a adulteração da gasolina e o que esse processo causa nos veículos automotivos. Acesse: <http://www.labvirtq.fe.usp.br/simulacoes/ quimica/sim_qui_gasolinaadulterada.htm> ção Reflexão para ação Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Objetivos Determinar a quantidade de álcool na gasolina. Material utilizado 5 ml de água; 25 ml de gasolina; 1 proveta de 50 ml (caso não tenha, pode utilizar um tubo PET graduado); 1 rolha para tampar a proveta (ou uma tampa, no caso do tubo PET); 1 pipeta de 10 ml (ou seringa hipodérmica de 10 mL). EM Caso não tenha à disposição uma proveta, é possível construir uma com pouca precisão. adquira um tubo PET transparente de 13 cm, igual ao da Figura 9. Esse tubo é facilmente encontrado em farmácia, contendo mel, ou em mercados, contendo temperos ou doces. Em geral, ele vem acompanhado de uma tampa, contudo, pode ser usada qualquer tampa de garrafa PET de refrigerante. O próximo passo é criar a graduação do volume da proveta. Através de uma seringa, sem agulha, de 10 ml, será feita a marcação na proveta de 5 em 5 ml. Com a proveta limpa e seca, adicione 10 ml de água, medida na ampulheta da Figura 6. Tubo PET transparente seringa, marque o nível na proveta com uma caneta Fonte: Acervo pessoal marcador permanente (caneta de CD), mantendo a proveta reta ao nível dos olhos. Na primeira marcação, deve ser feito um traço horizontal acompanhado do número 10, em seguida, deve-se completar, com auxílio da seringa, mais 5 ml, marcando o nível com um traço menor e sem número, e assim sucessivamente, de 5 em 5 ml, marcando sempre com um traço maior e numerado, nas medidas múltiplas de 10 (10, 20, 30...) até 50 ml. Procedimento Química ção Observação Usando a pipeta (ou a seringa hipodérmica), coloque 25,0 ml de gasolina na proveta. A seguir, adicione 25,0 ml de água, tampe-a com a rolha e agite a mistura água-gasolina. Após deixar o sistema em repouso para que ocorra a separação das fases, determine o volume de cada uma. Então, calcule o teor percentual de álcool na amostra de gasolina. Cuidados A gasolina é um líquido tóxico, bastante volátil; durante a realização desta experiência, mantenha o laboratório arejado e evite a inalação dos vapores da gasolina. Por outro lado, ela é altamente inflamável. Logo, durante o procedimento, não deve haver qualquer chama acesa no laboratório. 106 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Coleta de dados V inicial água V inicial gasolina V final água V final gasolina V álcool: T% Questões 1. Por que o álcool foi extraído pela água? 2. É possível separar o querosene (mistura de hidrocarbonetos, que são substâncias apolares) de uma mistura querosene-gasolina, colocando-a em contato com água (substância polar)? Por quê? 3. Uma mistura de duas substâncias, A (polar) e B (apolar), pode ser separada com a utilização de uma substância C (apolar)? E com a utilização de uma substância D (polar)? Por quê? O teor percentual (volume a volume) de álcool na gasolina, T%, pode ser calculado utilizando-se a seguinte expressão: Química Reflexão para ação EM ção T% = (Válcool / Vinicial gasolina) * 100% onde: Válcool = Vinicial gasolina - Vfinal gasolina Após análise da charge ao lado, comente: qual aspecto pode ser observado na charge que não corresponde ao que ocorre na adulteração da gasolina na realidade? Figura 7. Charge: Gasolina adulterada Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/ 107 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Conhecimento em ação Forme grupos e solicite ao seu professor para agendar visita a um posto de combustível. Lá, peça ao funcionário do posto que realize o teste de determinação do álcool na gasolina, filmando todas as etapas para apresentar, posteriormente, em sala de aula. Química EM ção É obrigação do posto revendedor realizar análises dos produtos em comercialização sempre que solicitadas pelo consumidor, conforme Resolução ANP nº 9, de 07/03/2007, artigo 8º. Outro produto derivado do petróleo e de grande importância para o desenvolvimento da humanidade são os polímeros. Esses compostos são macromoléculas em que uma unidade se repete e esta é denominada de monômero. Os plásticos mais comuns são obtidos a partir de compostos extraídos do petróleo, como o etileno, originando, assim, os polímeros. A transformação do petróleo em plásticos ocorre na cadeia petroquímica, em que a refinaria transforma o petróleo bruto em diversas matérias-primas, dentre as quais, o etileno. No fim, indústrias de polimerização transformam o etileno em plástico, nesse caso, o polietileno. Em nosso cotidiano, os polímeros estão presentes em vários objetos como, por exemplo: sacolas plásticas, acessórios de automóveis, canos para água, panelas, televisão, computadores, roupas, colas, tintas, chicletes etc. Dentre os diversos polímeros sintetizados, o polietilenotereftalato (PET) se destaca, tudo porque se tornou o recipiente ideal para o armazenamento de alimentos e bebidas. O PET, assim como o vidro, é transparente e útil para guardar alimentos, possui vantagens em relação ao peso e praticidade em comparação com os recipientes de vidro. Uma garrafa PET, por exemplo, é bem mais leve que uma de vidro, sendo facilmente transportada. Infelizmente, a garrafa PET demora cerca de 400 anos para se degradar no meio ambiente. Ela é formada por diversos monômeros (Figura 8) do PET. Figura 8. Monômero que origina o PET Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Politereftalato_de_etileno> Esta figura provém do Wikimedia Commons, um acervo de conteúdo livre da Wikimedia Foundation. Após as aulas teóricas, assista ao vídeo “Polímeros naturais”, indicado no Siga antenado a seguir, que apresenta um resumo sobre os polímeros. Use o livro-texto. 108 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Siga antenado Texto para debate: Polímeros e fraldas qnesc.sbq.org.br/online/qnesc15/v15a09.pdf descartáveis: Acesse: http:// Vídeo-Polímeros naturais: Proteínas, celulose etc. Acesse: http://www.youtube.com/watch? =ycUN7i74Thw&feature=player_embedded Vídeo 3. Polímeros naturais: Proteínas, celulose etc. Disponível em: http://www.youtube.com/watch? =ycUN7i74Thw&feature=player_embedded Texto 2 109 EM Química As colas têm sido utilizadas, por milhares de anos, para uma grande diversidade de aplicações, sendo que, até o início deste século, as principais matérias-primas utilizadas eram de origem animal ou vegetal, como o sangue de alguns animais ou resinas naturais extraídas de folhas e troncos de algumas árvores. Atualmente, uma grande variedade de colas é produzida industrialmente a partir de substâncias sintéticas, com a finalidade de se obter propriedades adequadas aos novos materiais, como polímeros, cerâmicas especiais e novas ligas metálicas. Algumas das colas produzidas pela indústria moderna apresentam alto poder de adesão, combinado a uma apreciável resistência a temperaturas elevadas; outras mantêm uma considerável flexibilidade mesmo depois de curadas. Certas colas, como a de carpetes, por exemplo, embora eficientes, podem apresentar problemas para a saúde por eliminarem substâncias orgânicas voláteis por muito tempo depois de aplicadas. As colas naturais ainda são recomendadas para aplicações consideradas não especiais, como para colar papéis ou peças de madeira, na construção de pequenos objetos de uso doméstico. A cola de caseína, por exemplo, tem um grande poder de adesão e pode ser facilmente preparada. Na Primeira Guerra Mundial, essa cola era muito utilizada na construção de aviões, que tinham sua estrutura montada quase exclusivamente por peças de madeira. Uma desvantagem que ela apresentava, assim como outras colas “naturais”, era a possibilidade de absorver umidade e, assim, desenvolver fungos que se alimentavam dela. Algumas ocorrências deste tipo levaram os construtores de aviões a abandonar a cola de caseína, o que parece ter sido uma decisão bastante razoável. As proteínas são macromoléculas constituídas de unidades de aminoácidos. O termo “proteína” deriva da palavra grega proteios e foi sugerido, pela primeira vez, por Berzelius, em 1838, e quer dizer “mantendo o primeiro lugar”, devido à sua importância como alimento. ção Colas Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira A caseína é a principal proteína presente no leite (aproximadamente, 3% em massa) e é bastante solúvel em água por se apresentar na forma de um sal de cálcio. Sua solubilidade é fortemente afetada pela adição de ácidos que, pela redução do pH, diminui a presença de cargas na molécula, fazendo com que a sua estrutura terciária seja alterada e, consequentemente, levando-a à precipitação. Esta redução de pH provoca a perda do cálcio, na forma de fosfato de cálcio, que é eliminado no soro. A adição de bicarbonato de sódio leva à formação do caseinato de sódio, que tem propriedades adesivas, além de eliminar resíduos de ácido do limão. Industrialmente, a precipitação da caseína é feita pela adição de ácido clorídrico ou sulfúrico ou, ainda, pela adição de uma enzima presente no estômago de bovinos, a renina. Quando a precipitação da caseína tem por objetivo a produção de alimentos, como o queijo, por exemplo, são utilizados micro-organismos que produzem ácido lático, a partir da lactose. Conhecimento em ação Questão prática: É possível produzir cola a partir de leite? EXPERIMENTO 2 (Cola a partir do leite) Objetivo Produzir cola a partir do leite (material orgânico). Química EM ção Material utilizado  2 béqueres de 200 ml;  1 g de bicarbonato de sódio;  2 pedaços de pano de, aproximadamente, 30 cm x 30 cm (malha de algodão dá bons resultados);  1 limão. Obs. O béquer pode ser substituído por um copo de vidro e a pipeta, por seringa de injeção descartável.  1 proveta de 50 ml;  125 ml de leite desnatado; Procedimento Esprema o limão e coe o suco utilizando um pedaço de pano. Adicione 30 ml de suco de limão a 125 ml de leite desnatado e agite bem. Coloque o outro pedaço de pano sobre o segundo béquer e coe a mistura de caseína e soro obtida. Esse procedimento é lento, podendo ser acelerado se pequenas quantidades da mistura forem adicionadas sempre com a posterior retirada da caseína. As porções de caseína retiradas (quase secas) podem ser colocadas sobre um pedaço de jornal para que a umidade da massa obtida seja reduzida. Após a separação da caseína, que deverá ter consistência semelhante à de um queijo cremoso, adicione o bicarbonato de sódio até que a mistura se torne homogênea. Acrescente 15 ml de água e agite até que toda a massa seja dissolvida. A reação do ácido restante (do limão) com o bicarbonato de sódio deverá produzir uma pequena quantidade de espuma que, em pouco tempo, se desfaz. Utilize pequenos pedaços de madeira ou de papel para testar a sua cola. 110 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Conhecimento em ação EXPERIMENTO 3 (Acetona dissolvendo o isopor) Introdução O isopor é composto por mais de 90% de ar. Podemos constatar isso quando o mergulhamos em acetona concentrada e todo o ar aprisionado no interior do isopor é liberado. Objetivo Observar a reação química do isopor na acetona. Figura 9. Acetona dissolvendo o isopor. Disponível em: http://www.youtube.com/watch? v=F3rvzWRhF6Y Material utilizado Copo de vidro transparente; Isopor; Acetona. Atividade em Grupo Faça uma pesquisa sobre a diferença entre substâncias polares e apolares. Exponha sua pesquisa para os outros estudantes de sua escola. 111 EM Coleta de dados  O que acontece com o isopor?  O que aconteceria se a acetona fosse colocada dentro do copo descartável? Química Cuidados A acetona é um líquido bastante volátil. Durante o procedimento, não deve haver qualquer chama acesa no laboratório. A realização desta experiência requer um local arejado e muito cuidado na manipulação. Evite a inalação dos vapores da acetona. ção Procedimento Em um copo contendo acetona deposite tiras de isopor. Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Conhecimento em ação Química EM ção DINÂMICA DE GRUPO 1 Observe que essa dinâmica de grupo, proposta pelo seu professor, correlaciona diversos assuntos da Química. Assim, ela possibilita revisar todos os assuntos abordados anteriormente no Caderno. Forme um grupo com seus colegas e respondam ao jogo de palavra cruzada seguinte (Figura 10). Figura 10. Palavra cruzada Disponível em: <http://www.quimica.net/emiliano/pc.html> Horizontal Vertical 2. Nome usual do ácido produzido pela oxidação do etanol no vinho. 7. Tóxico quando ingerido, é o álcool mais simples da classe funcional. 8. Recurso natural extraído da natureza e fonte de hidrocarbonetos. 11. Nome dado a uma das posições do anel aromático. 12. Responsável pela simetria do anel aromático, mesmo este sendo composto, supostamente, por ligações duplas e simples de diferentes tamanhos. 13. Nome usual de um anel aromático com um grupo metil substituindo um hidrogênio. 14. Cadeia sem ramificação. 15. Método utilizado para separar as frações do petróleo. 1. Solução 40 % de metanal. 3. Método para aumentar a fração de petróleo. 4. Nome do grupo funcional constituído por um carbono ligado por uma dupla com um oxigênio. 5. Nome dado ao carbono que se liga a outros dois átomos de carbono em uma cadeia. 6. Sigla da fração do petróleo constituída por hidrocarbonetos com três a quatro carbonos. 10. Reação de oxidação envolvendo oxigênio que ocorre na queima de combustíveis como a gasolina. 112 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Conhecimento em ação JOGOS Observe a Figura 11 a seguir. Se já assimilou o assunto “funções orgânicas”, inicie este jogo. Se tiver dúvidas, peça ao seu professor para correlacionar o nome da estrutura que aparece na grade de pontuação, com a estrutura orgânica que deverá aparecer ao lado do produto na prateleira. É uma ótima oportunidade para pôr em prática as noções de hibridização dos átomos de carbono e cadeias carbônicas. Bom jogo! (Funções Orgânicas e Nomenclaturas) Figura 11. Jogo Disponível em: <http://www.pucrs.br/quimica/ professores/arigony/super_jogo3.html> De olho no ENEM Questão 01 (ENEM 2010) Os pesticidas modernos são divididos em várias classes, entre as quais se destacam os organofosforados, materiais que apresentam efeito tóxico agudo para os seres humanos. Esses pesticidas contêm um átomo central de fósforo ao qual estão ligados outros átomos ou grupo de átomos como oxigênio, enxofre, grupos metoxi ou etoxi, ou um radical orgânico de cadeia longa. Os organofosforados são divididos em três subclasses: Tipo A, na qual o enxofre não se incorpora na molécula; Tipo B, na qual o oxigênio, que faz dupla ligação com fósforo, é substituído pelo enxofre; e Tipo C, no qual dois oxigênios são substituídos por enxofre. Fonte: BAIRD, C. Química Ambiental, Bookmam, 2005. 113 EM Vídeo 4. Química - Petróleo Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=YquU85f7aW4> Química Acesse ao vídeo com o resumo sobre o assunto “Petróleo”: <http://www.youtube.com/ watch?v=YquU85f7aW4> ção Siga antenado Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Um exemplo de pesticida organofosforado Tipo B, que apresenta grupo etoxi em sua fórmula estrutural, está representado em: A. B. C. D. E. Química EM ção Questão 02 (ENEM 2009) O uso de protetores solares em situações de grande exposição aos raios solares como, por exemplo, nas praias, é de grande importância para a saúde. As moléculas ativas de um protetor apresentam, usualmente, anéis aromáticos conjugados com grupos carbonila, pois esses sistemas são capazes de absorver a radiação ultravioleta mais nociva aos seres humanos. A conjugação é definida como a ocorrência de alternância entre ligações simples e duplas em uma molécula. Outra propriedade das moléculas em questão é apresentar, em uma de suas extremidades, uma parte apolar responsável por reduzir a solubilidade do composto em água, o que impede sua rápida remoção quando em contato com a água. De acordo com as considerações do texto, qual das moléculas apresentadas a seguir é a mais adequada para funcionar como molécula ativa de protetores solares? A. B. C. D. E. 114 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Referências BRYN et al. Aí tem química ! - Combustíveis Não Renováveis – Petróleo. Disponível em: <http:// ambiente.educacao.ba.gov.br/conteudos-digitais/conteudo/exibir/id/94> Acesso em: 12 dez. 2011. CDCC. Cola de caseína. Disponível em: <http://www.cdcc.sc.usp.br/quimica/experimentos/ cola.html> Acesso em: 18 out. 2011. CDCC. Teor de álcool na gasolina. Disponível em: <http://www.cdcc.sc.usp.br/quimica/ experimentos/teor.html> Acesso em: 12 dez. 2011. CHEMELLO, E. Determinação do percentual de álcool na gasolina: teoria Disponível em: <http:// portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=19498> Acesso em: 12 dez. 2011. CÚNEO, R.G. Petróleo. Disponível em: <http://www.algosobre.com.br/quimica/petroleo.html> Acesso em: 12 dez. 2011. DAZZANI, M. Et al. Explorando a Química na Determinação do Teor de Álcool na Gasolina. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc17/a11.pdf> Acesso em: 12 dez. 2011. GUIAMETAL, Refinarias de Petróleo: Entenda como Funcionam. Disponível em: <http:// www.guiametal.com.br/?noticia=1413/refinarias-de-petroleo--entenda-como-funcionam> Acesso em: 12 dez. 2011. LABORATÓRIO DIDÁTICO VIRTUAL. Gasolina Adulterada. Disponível em: <http:// www.labvirtq.fe.usp.br/simulacoes/quimica/sim_qui_gasolinaadulterada.htm> Acesso em: 12 dez. 2011. MARCONATO. J.C., FRANCHETTI, S.M.M. Polímeros superabsorventes e as fraldas descartáveis. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc15/v15a09.pdf> Acesso em: 12 dez. 2011. SOUZA, L.A. Destilação do petróleo. Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com.br/quimica/ destilacao-petroleo.htm> Acesso em: 12 dez. 2011. UENF. Como o Petróleo é formado? Disponível em: <http://www.uenf.br/uenf/centros/cct/qambiental/ pe_formacao.html> Acesso em: 12 dez. 2011. Website: <http://www.quimica.net/emiliano/pc.html> Acesso em: 12 dez. 2011. WIKIPÉDIA. Politereftalato de etileno. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ Politereftalato_de_etileno> Acesso em: 12 dez. 2011. YOUTUBE. Acetona e esferovite. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch? v=F3rvzWRhF6Y> Acesso em: 16 jan. 2012. YOUTUBE. Aula 05 - Química – Petróleo. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch? v=YquU85f7aW4> Acesso em: 12 dez. 2011. YOUTUBE. Aula 06 - Química – Polímeros. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch? v=ycUN7i74Thw&feature=player_embedded> Acesso em: 12 dez. 2011. YOUTUBE. Pré-sal - Uma nova etapa na exploração do petróleo. Disponível em: <http:// www.youtube.com/watch?v=6XaGYcV8TOM&feature=related> Acesso em: 12 dez. 2011. 115 EM PUCRS. Comprando compostos orgânicos no supermercado. Disponível em: <http://www.pucrs.br/ quimica/professores/arigony/super_jogo3.html> Acesso em: 12 dez. 2011. Química PORTALSAOFRANCISCO. Polímeros. Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/ polimeros/polimeros-2.php> Acesso em: 12 dez. 2011. ção NADER, F. Et al. Cola a partir de leite. Disponível em: <http://www.pontociencia.org.br/experimentos -interna.php?experimento=142#top> Acesso em: 12 dez. 2011. Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 116 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Física Jancarlos Menezes Lapa e Dielson Pereira Hohenfeld Apresentação Segundo o dicionário, o verbo “agir”, no sentido mais geral do termo, significa tomar iniciativa, iniciar, nessa perspectiva, este material foi escrito com o intuito de ajudar a dar significado ao conhecimento adquirido durante as aulas e, portanto, de subsidiar a reflexão e a ação perante o espaço à sua volta. Com ele, como apoio didático, seu professor e você farão muito mais do que discutir conteúdos. Serão convidados a interagir com o conhecimento, na perspectiva do questionar para compreender o que é estudado em classe. Neste material, há a preocupação em propor textos e atividades que valorizem o conhecimento científico, filosófico e artístico, bem como a dimensão sócio-histórica das disciplinas, de maneira contextualizada, ou seja, numa linguagem que aproxime esses saberes da sua realidade. Longe de esgotar conteúdos, propomos discutir a realidade em diferentes perspectivas de análise. Em cada página, será possível construir, reconstruir e atualizar conhecimentos em consonância com outras disciplinas. Em nosso estudo, utilizaremos a água como tema gerador das abordagens aqui propostas. Faremos leituras, reflexões e atividades que fomentem os conteúdos trabalhados. A utilização da eletricidade em nossa sociedade está tão difundida que seria difícil imaginar nossas atividades cotidianas sem geladeira, televisão, computadores, cinema, luz durante a noite, aparelhos de som, equipamentos de raios X, entre outros utensílios elétricos. O “apagão” observado no Brasil e no Paraguai, em novembro de 2009, foi motivo de grande desconforto para essas duas nações. Visto assim, a produção e a distribuição de energia elétrica representam uma preocupação constante dos governos de vários países, que investem grandes quantias em pesquisas e desenvolvimento nessas áreas. Os primeiros fenômenos elétricos de que se tem notícia foram observados pelos gregos antes de Cristo, quando o filósofo Thales de Mileto atritou um pedaço de âmbar (espécie de resina natural) na pele de um animal, verificando que a resina adquiria a propriedade de atrair corpos leves, como pedaços de palha e sementes de grama. Somente dois mil anos depois, observações cuidadosas e sistemáticas, feitas por cientistas como Gilbert, Coulomb, Ampére, Faraday e outros, possibilitaram as descobertas dos princípios fundamentais da eletricidade. Neste Caderno, iremos discutir um dos conceitos fundamentais da eletricidade: a carga elétrica. Como já dito no início, utilizaremos a água como elemento articulador de nossas abordagens. 117 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Texto 1 Física EM ção Descrição do aproveitamento de Sobradinho O aproveitamento hidrelétrico de Sobradinho está instalado no São Francisco, principal rio da região nordestina, com área de drenagem de 498.968 km2, bacia hidrográfica da ordem de 630.000 km2, com extensão de 3.200 km, desde sua nascente, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, até sua foz, em Piaçabuçu/AL e Brejo Grande/SE. A usina está posicionada no Rio São Francisco, a 748 km de sua foz, possuindo, além da função de gerar energia elétrica, a de principal fonte de regularização dos recursos hídricos da região. O reservatório de Sobradinho tem cerca de 320 km de extensão, com uma superfície de espelho d'água de 4.214 km2 e capacidade de armazenamento de 34,1 bilhões de metros cúbicos em sua cota nominal de 392,50 m, constituindo-se no maior lago artificial do mundo. Garante, assim, através de uma depleção de até 12 m, juntamente com o reservatório de Três Marias/CEMIG, uma vazão regularizada de 2.060 m 3/s nos períodos de estiagem, permitindo a operação de todas as usinas da CHESF situadas ao longo do Rio São Francisco. Incorpora-se a esse aproveitamento de grande porte uma eclusa, de propriedade da Companhia Docas do Estado da Bahia – CODEBA, cuja câmara, com 120 m de comprimento por 17 m de largura, permite às embarcações vencerem o desnível de 32,5 metros criados pela barragem, garantindo a continuidade da tradicional navegação entre o trecho do Rio São Francisco compreendido entre as cidades de Pirapora/MG e Juazeiro/BA - Petrolina/PE. Compreendem o represamento de Sobradinho as seguintes estruturas: barragem de terra zoneada, com 12.000.000 de m3 de maciço, altura máxima de 41 m e comprimento total de 12,5 km; casa de força com 06 unidades geradoras, acionadas por turbinas Kaplan, com potência unitária de 175.050 kW, totalizando 1.050.300 kW; vertedouro de superfície e descarregador de fundo dimensionados para extravasar a cheia de teste de segurança da obra e tomada d'água com capacidade de até 25 m 3/s para alimentação de projetos de irrigação da região. A energia gerada é transmitida por uma subestação elevadora com 09 transformadores monofásicos de 133,3 MVA cada um, que elevam a tensão de 13,8 kV para 500 kV. Figura 1. Sobradinho Foto: Ministério das Minas e Energia, 2004 118 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Reflexão para ação Física EM ção Energia elétrica no Brasil Ao longo do século XX, o Brasil experimentou intenso desenvolvimento econômico, que se refletiu numa crescente demanda de energia primária. Entre os fatores que determinaram tal crescimento, alinham-se um expressivo processo de industrialização e uma notável expansão demográfica, acompanhada de rápido aumento da taxa de urbanização. Considerando-se apenas o período a partir de 1970, a série histórica da evolução do consumo de energia e do crescimento populacional indica que, naquele ano, a demanda de energia primária era inferior a 70 milhões de tep (toneladas equivalentes de petróleo), enquanto a população atingia 93 milhões de habitantes. Em 2000, a demanda de energia quase triplicou, alcançando 190 milhões de tep, e a população ultrapassava 170 milhões de habitantes. Note-se que o crescimento econômico não foi uniforme durante o período. A taxa média anual, de 3,5%, oscilou de 5,5% em 1970-80 a 2,2% e 3% nas décadas seguintes, quando o crescimento apresentou volatilidade em razão de crises macroeconômicas. No entanto, mesmo nos períodos de taxas menores — como aqueles que se seguiram aos planos Cruzado e Real — sempre se verificou significativa expansão do consumo de energia nos intervalos em que houve uma expansão mais vigorosa da economia. Isso indica que, em um ambiente de maior crescimento econômico, deve-se esperar maior crescimento da demanda de energia. Em conformidade com a prospectiva que se pode formular para a economia brasileira, os estudos de longo prazo, conduzidos pela Empresa de Pesquisa Energética - EPE, apontam forte crescimento da demanda de energia nos próximos 25 anos. Estima-se que a oferta interna de energia crescerá a 5% ao ano no período 2005-10 e que, nos anos subsequentes, haverá um crescimento menor — de 3,6% e 3,4% ao ano nos períodos 2010-20 e 2020-30, respectivamente —, devido, sobretudo, a uma maior eficiência energética tanto do lado da demanda como da oferta. Figura 2. Evolução da estrutura de oferta de energia Fonte: Empresa de Pesquisa Energética – EPE, 2007. Texto adaptado de:TOLMASQUIM, Maurício T.; GUERREIRO, Amilcar; GORINI, Ricardo. Matriz energética brasileira: uma prospectiva. Novos estudos - CEBRAP [online]. 2007, n.79, pp. 47-69. ISSN 0101-3300. Disponível em:< http:// dx.doi.org/10.1590/S0101-33002007000300003>. 119 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Conhecimento em ação Pesquise e responda: Dentre as fontes de energia no Brasil, a matriz hidráulica e a matriz elétrica respondem a uma média de 14% da oferta de energia nacional. Pesquise quais as principais usinas hidrelétricas em nosso País, observando suas características energéticas e seu perfil de oferta por região brasileira. Relacione essa informação com o racionamento de energia elétrica que ocorreu em 2001, no Brasil. Texto 2 Física EM ção Raios e Para-raios Algumas das características mais marcantes de uma tempestade são, sem dúvida, os raios (relâmpagos) e os trovões (o barulho). As nuvens que causam fortes tempestades são as cumulus-nimbus, que têm as bases mais escuras devido ao grande acúmulo de água e cristais de gelo. Essas nuvens ficam a cerca de 3 km de altura, onde a temperatura pode chegar a – 30°C, o que propicia a formação de cristais de gelo e granizo no seu interior. Aí existem correntes, convecção e ventos muito fortes, subindo pelo centro e descendo pelas extremidades, podendo chegar a velocidades de mais de 200 km/h. As colisões entre o granizo e os cristais de gelo, dentro da nuvem, eletrizam os cristais com carga positiva e o granizo, com carga negativa. O granizo, que é mais pesado que os cristais, se concentra, preferencialmente, nas regiões mais baixas da nuvem e os cristais, na parte mais alta. Por indução, o solo, na região abaixo da nuvem, fica positivamente carregado, estabelecendo-se uma grande diferença de potencial entre eles. Essa diferença de potencial pode chegar a 100.000.000 de volts e ioniza o ar, formando um caminho condutor entre a nuvem e o solo. Quando esse caminho é estabelecido, ocorre uma descarga elétrica nesse trajeto. O raio ocorre, preferencialmente, entre um ponto mais baixo da nuvem e um ponto mais alto do solo, pois a diferença de caminho é a menor possível. A energia do raio é suficiente para aumentar a temperatura do ar entre 8.000 até 30.000°C (mais de dez vezes a temperatura da superfície do Sol). O ar é aquecido em uma fração de segundos, provocando aumento muito grande da pressão. O resultado é a produção de uma onda de choque, que é percebida por nós como estrondo. Normalmente, as árvores ou construções mais altas são as mais fáceis de serem atingidas pelos raios. Por essa razão, não é boa ideia proteger-se embaixo de uma árvore ou num descampado enquanto durar uma tempestade. Os edifícios são equipados com para-raios, que são hastes metálicas terminadas em pontas, conectadas à terra por meio de um grosso fio metálico. Com isso, se propicia um caminho mais fácil para que a descarga elétrica do raio chegue ao solo sem passar por dentro do edifício, evitando danos. Estima-se que, no território brasileiro, ocorram cerca de 100 milhões de raios a cada ano, e que centenas de pessoas são mortas direta ou indiretamente por eles. 120 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Conhecimento em ação Bexiga eletrizada desviando o filete d’água Encha um balão de festa com ar e depois amarre para não sair o ar. Esfregue o balão numa toalha felpuda, no cabelo seco ou em ambos para que ocorra a eletrização. Aproxime o balão eletrizado de um fino filete de água, que pode ser obtido da torneira ou a partir de um pequeno furo numa garrafa PET com água e veja o que acontece. Use balões de diferentes fabricantes e varie também o volume. Figura 3. Balão de ar Foto: Acervo do autor dade Curiosi Água para bateria Alguns tipos de baterias automotivas consistem, basicamente, em um conjunto de placas de chumbo banhadas em uma solução aquosa de ácido clorídrico. Com o tempo, a água vai evaporando lentamente. Nesse caso, é preciso que a água seja reposta para que a bateria não seque e as placas não entrem em curto. Entretanto, é preciso ter cuidado na reposição, pois a água vinda da torneira é ligeiramente básica e, portanto, reagiria com o ácido. Além disso, há outras impurezas dentro da água da torneira que contaminariam a bateria. Para que isso não ocorra, o ideal é fazer a reposição com água destilada, para o que tempo de vida da bateria perdure. 121 Física EM 1)Qual o tipo de eletrização que acontece quando esfregamos o balão no cabelo ou na toalha? 2) Explique como ocorre a eletrização. 3)Por que o filete de água sofre o desvio? 4)O volume do balão influencia na eletrização? 5)Os balões de diferentes fabricantes produzem efeitos iguais? 6)Relacione esse fenômeno com situações de seu cotidiano. ção Para pensar, pesquisar e responder: Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Conhecimento em ação Quebrando a água salgada Você sabe que a água é formada de oxigênio e hidrogênio. Mas será que é possível separar esse dois elementos, ou seja, “quebrar a água” ? Há um processo de separação dos elementos da água chamado de eletrólise. Iremos fazer uma eletrólise aquosa do cloreto de sódio. Para isso, são necessários os seguintes materiais:  01 garrafa PET de 600 ml;  02 pedaços de lápis;  02 pedaços de fios condutores de 20 cm cada;  02 pilhas grandes de 1,5 volts;  500 ml de água com sal dissolvido;  Cola instantânea;  Funil;  Faca;  Apontador de lápis;  Balão de festas. Física EM ção Procedimentos: Faça a ponta dos lápis, de forma a deixar as duas extremidades com a grafite aparecendo. Faça dois furos na garrafa PET com cerca de 3 cm de distância na vertical. Coloque os lápis com uma extremidade na garrafa e a outra, livre; use a cola instantânea para fixar e vedar os lápis. Conecte os fios condutores na extremidade dos lápis com as baterias colocadas em série. Coloque 500 ml de água com sal na garrafa e feche-a com o balão de festas. Aguarde cerca de 30 min. E veja o que mudou no balão e nas pontas dos lápis que estão em contato com a água. Questões: a) Por que é necessário colocar sal na água? b) Por que o balão fica cheio? E de quê? c) Podemos chamar esse experimento de eletrólise da água? d) Onde você visualiza fenômenos como este no seu dia a dia? Figura 4. Processo de eletrólise Fonte: Jucimar Almeida, 2012 122 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Texto 3 EM A molécula de água é formada por um átomo de oxigênio e dois de hidrogênio, onde os mesmos compartilham os elétrons de suas respectivas camadas de valência. O fato de o oxigênio ser mais eletronegativo que o hidrogênio faz com que atraia para si os pares de elétrons que deveria compartilhar por igual com os hidrogênios, ocorrendo, então, a distribuição não uniforme da nuvem eletrônica. Isso cria na molécula de água um dipolo, onde os elétrons compartilhados ficam de um lado e os não compartilhados ficam do outro. Por conta da presença das pontes de hidrogênio na água, acontece um fenômeno bastante interessante chamado tensão superficial. As moléculas no interior do líquido se atraem mutuamente. Já as moléculas da superfície só são Figura 5. Pontes de hidrogênio atraídas pelas moléculas de baixo e dos lados. Fonte: Jucimar Almeida, 2012 Consequentemente, essas moléculas se atraem mais fortemente e criam uma película parecida com uma película elástica na superfície da água. É importante salientar que esse fenômeno ocorre com a maioria dos líquidos, mas com a água acontece mais intensamente. A tensão superficial explica alguns fenômenos, por exemplo, o fato de alguns insetos caminharem sobre a água e a forma esférica das gotas de água. No experimento a seguir, é possível verificar o poder e a tensão superficiais. ção Pontes de Hidrogênio Física Conhecimento em ação Experimento da tensão Superficial Materiais: Pequeno copo de vidro Água Pequenos grampos para prender papéis. Detergente de pia Figura 6. Tensão superficial Fonte: Acervo do autor Procedimentos: 1. Coloque uma porção de água no copo (Obs.: O copo dever estar o mais limpo possível, sem resíduos de sabão ou outras substâncias; a água também deve estar bem limpa). 123 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 2. Coloque os grampos na superfície da água com cuidado até que eles passem a flutuar (caso não ocorra, troque a água e limpe o copo). 3. Uma vez os grampos flutuando, goteje com cuidado o detergente na água, aos poucos. Responda: a) O que acontece com os grampos? b) Explique o ocorrido. c) Debata seu experimento e suas explicações com seus colegas. d) Exponha a realização do experimento no mural da escola. Siga antenado Título no Brasil: “Energia Pura” Título original: “Powder” Física EM ção Sinopse: Ao investigar a morte de um velho em uma propriedade rural, Barnum (Lance Henriksen), o xerife local, descobre Powder (Sean Patrick Flanery) - seu verdadeiro nome é Jeremy Reed -, um adolescente que era neto do falecido e que tinha passado toda a sua vida conhecendo o mundo através dos livros, sem nunca ter deixado a fazenda da família, tudo isto por ter uma aparência estranha (é totalmente branco). Powder é levado para um orfanato, mas é hostilizado pelos outros internos em virtude do seu aspecto. Ele demonstra ter dons particulares, além de ter o intelecto mais elevado que qualquer ser humano jamais teve, passando a alterar a vida de todos que estão ao seu redor. Glossário camada de valência: camada mais externa dos átomos onde ficam os elétrons participantes das ligações químicas. eletrólise: processo de separação dos elementos químicos de um composto, através da passagem de corrente elétrica. eletronegatividade: capacidade que os átomos têm de atrair elétrons. 124 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira De olho no ENEM Questão 01 (ENEM 2002) Em usinas hidrelétricas, a queda d’água move turbinas que acionam geradores. Em usinas eólicas, os geradores são acionados por hélices movidas pelo vento. Na conversão direta solar-elétrica, são células fotovoltaicas que produzem tensão elétrica. Além de todos produzirem eletricidade, esses processos têm em comum o fato de (A) não provocarem impacto ambiental. (B) independerem de condições climáticas. (C) a energia gerada poder ser armazenada. (D) utilizarem fontes de energia renováveis. (E) dependerem das reservas de combustíveis fósseis. Questão 02 (ENEM 2003) “Águas de março definem se falta luz este ano”. Esse foi o título de uma reportagem em jornal de circulação nacional, pouco antes do início do racionamento do consumo de energia elétrica, em 2001. Referências BRASIL. Sistema de Geração. CHESF - Ministério da Integração Nacional. Brasília, setembro, 2008. Disponível em: <http://www.chesf.gov.br/portal/page/portal/chesf_portal/paginas/sistema_chesf/ sistema_chesf_geracao/conteiner_geracao>. Acesso em: 31 jan. 2012. ______. Exame Nacional do Ensino Médio. Ministério da Educação. Disponível em: <http://inep.gov.br/web/enem>. Acesso em: 09 abr. 2012. TOLMASQUIM, Maurício T.; GUERREIRO, Amilcar; GORINI, Ricardo. Matriz energética brasileira: uma prospectiva. Novos estud. - CEBRAP [online]. 2007, n.79, pp. 47-69. ISSN 0101-3300. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0101-33002007000300003>. 125 EM Física (A) a geração de eletricidade nas usinas hidrelétricas exige a manutenção de um dado fluxo de água nas barragens. (B) o sistema de tratamento da água e sua distribuição consomem grande quantidade de energia elétrica. (C) a geração de eletricidade nas usinas termelétricas utiliza grande volume de água para refrigeração. (D) o consumo da água e da energia elétrica utilizadas na indústria compete com o da agricultura. (E) é grande o uso de chuveiros elétricos, cuja operação implica abundante consumo de água. ção No Brasil, a relação entre a produção de eletricidade e a utilização de recursos hídricos, estabelecida nessa manchete, se justifica, porque Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 126 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 127 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 128 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Matemática Humberto José Bortolossi Apresentação Canais: Caminhos das águas Neste Caderno, vamos explorar alguns dos aspectos que compõem a construção de canais, dando atenção especial ao papel da Matemática nesse processo. Veremos que a velocidade com a qual a água se desloca em um canal depende, entre outros fatores, da sua geometria: da declividade do fundo do canal e da área e do perímetro de sua seção transversal em contato com a água (Figura 1). Descrever e compreender essa dependência exige conhecimentos de geometria (ângulos, trigonometria, perímetros e áreas), de funções reais (aproximações de funções, funções definidas por partes) e de soluções de equações. Figura 1. Canal trapezoidal tridimensional e elementos geométricos de sua seção transversal. Assim, ao estudar o texto do Caderno e realizar as atividades propostas, você terá a oportunidade de apreciar, de forma contextualizada, o uso da Matemática em um problema prático e de importância tecnológica: o livro (CARLISLE, 2004), por exemplo, coloca aquedutos e canais entre as 400 maiores invenções da humanidade em todos os tempos. Reflexão para ação Qual é a importância dos canais para nossas vidas? Durante o Período Neolítico, com a organização da espécie humana em aldeias e centros urbanos, as necessidades agrícolas impulsionaram os primeiros esforços no sentido de controlar o fluxo de água para fins de irrigação. Desde então, saber captar, transportar e armazenar água se tornou vital para o desenvolvimento da humanidade e de sua crescente demanda por água. Vestígios de tecnologia hidráulica podem ser encontrados já em diversas civilizações antigas: Mesopotâmia, Egito, Índia, Grécia, Itália, Peru, Mesoamérica e Camboja. No Brasil, temos vários exemplos da ação do homem no processo de condução das águas: o Aqueduto da Carioca (os Arcos da Lapa), o Canal Campos-Macaé, o Canal de Pereira Barreto, o Canal da Piracema, o Canal do Trabalhador e, mais recentemente, a transposição do Rio São Francisco. 129 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Conhecimento em ação Canais pelo mundo. Para que você possa perceber um pouco mais a presença e importância dos canais em nossa sociedade, sugerimos a seguinte atividade de exploração: monte um pequeno dossiê para alguns canais que foram criados pelas mãos do homem. Como ponto de partida, indicamos os seguintes canais: o Canal do Panamá, o Canal de Suez, o Grande Canal da China (o Grande Canal Beijing-Hangzhou), o Canal Reno-Meno-Danúbio, o Canal de Corinto, o Canal do Meio-Dia, o Canal de Genil-Cabra, o Canal Campos-Macaé, o Canal de Pereira Barreto, o Canal da Piracema e o Canal do Trabalhador. Você também pode incluir um canal mais próximo de onde você reside (de sua cidade ou de seu Estado). Para montar o seu documento, sugerimos o seguinte roteiro: (1) Visite cada um desses canais usando o Google Earth (<http://www.google.com.br/intl/pt-BR/earth/>). Inclua, então, no seu documento uma cópia da imagem apresentada pelo Google Earth e os países pelo quais o canal passa. (2) Use o Google Images (<http://images.google.com.br/>) e o Google Panoramio (<http://www.panoramio.com/>) para procurar por outras fotos do canal e, então, inclua-as no seu documento (citando a fonte da imagem). (3) Usando mecanismos de buscas na Internet, tente responder às seguintes perguntas: (a) Com qual propósito o canal foi construído? (b) Qual é a extensão do canal? (c) Qual é a largura média do canal? (d) Qual é a profundidade média do canal? (e) O quanto foi gasto na construção do canal? Texto 1 Matemática EM ção Condução da água e suas classificações Os sistemas de condução da água são classificados de acordo com suas várias características. Uma primeira classificação que pode ser feita é segundo o mecanismo que promove o deslocamento do fluido: se o movimento ocorre unicamente pela ação da gravidade (isto é, pelo peso do fluido) e se sempre existe uma superfície livre do fluido sob o efeito da pressão atmosférica dentro do conduto, dizemos que o escoamento se dá em um conduto livre. Por outro lado, se o conduto está completamente preenchido com o fluido que está sendo transportado e o movimento ocorre por conta da gravidade ou por conta de uma diferença de pressão nas seções do conduto, dizemos, então, que o escoamento se dá em um conduto forçado (Figura 2). Figura 2. Condutos livres e forçados 130 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Exemplos de condutos forçados incluem o deslocamento de água em canos, por bombeamento, e o movimento do sangue em nossos vasos sanguíneos. Exemplos de condutos livres incluem rios, calhas e galerias de esgoto que não estão completamente preenchidos com líquido. Em Engenharia Hidráulica, condutos livres também são denominados de canais, tema de nosso estudo aqui. Canais, por sua vez, podem ser classificados de diversas maneiras. Um canal é artificial se ele foi criado pela ação direta do homem (como o Canal do Panamá) e natural se foi criado pela ação da natureza (como o Rio São Francisco). Com relação ao seu formato geométrico, um canal é dito ser prismático se suas seções transversais são congruentes e se suas seções longitudinais são segmentos de reta de mesma inclinação (alguns autores exigem ainda que a rugosidade da superfície do canal seja constante), caso contrário, ele é denominado não prismático. As seções transversais e longitudinais são consideradas com relação a um eixo em uma superfície de referência (denominada datum altimétrico em Geografia). A Figura 3, a seguir, ilustra um exemplo de canal prismático e três exemplos de canais não prismáticos. Um canal prismático não precisa, necessariamente, ter faces planas: um cano cilíndrico, por exemplo, também é classificado como um canal prismático. Figura 3. Canais prismáticos e não prismáticos Por que classificar coisas é tão importante? O processo de classificação é importante, pois ele nos permite organizar o conhecimento, intervindo na construção dos vários conceitos que constituem nossa estrutura intelectual. Com isso, podemos ter acesso rápido a todo o conhecimento que se tem sobre um determinado assunto em estudo, permitindo-nos entender mais facilmente novas informações a partir desse conhecimento prévio organizado. Observe como classificações estão sendo usadas não somente aqui neste Caderno de Matemática, mas, também, em todos os outros cadernos das demais disciplinas. 131 Matemática EM Reflexão para ação ção Também podemos usar o tempo e o espaço para classificar canais. Usando o tempo como critério de classificação: um canal é denominado estável se a profundidade do fluido em cada seção transversal não muda com o tempo (mas podendo, em princípio, ser diferente de seção transversal para seção transversal); se esta condição não for satisfeita, o canal é denominado instável. Usando o espaço como critério de classificação: um canal é denominado uniforme se a profundidade do fluido não varia ao longo do comprimento do canal (mas podendo, em princípio, ser diferente em tempos diferentes); se esta condição não for satisfeita, o canal é denominado não uniforme. Em nosso estudo, vamos nos concentrar nos canais prismáticos. Eles constituem o modelo básico para muitos canais artificiais. Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Reflexão para ação Modelos: simplificando a realidade para poder entendê-la. O estatístico inglês George E. P. Box escreveu a seguinte frase em seu livro “Empirical ModelBuilding and Response Surfaces” (publicado em 1987, em coautoria com o também estatístico Normam R. Draper): “Essentially, all models are wrong, but some are useful.” (“Essencialmente, todos os modelos estão errados, mas alguns são úteis.”). Stricto sensu, não existem canais (perfeitamente) prismáticos, nem (perfeitamente) estáveis e nem (perfeitamente) uniformes. Essas definições dão origem a versões simplificadas e idealizadas dos canais reais: os modelos de canais. Apesar dos modelos não capturarem todos os aspectos de suas contrapartes reais, suas simplificações permitem que ele seja estudado com o conhecimento e a tecnologia atuais, possibilitando, assim, a busca e o entendimento da essência do fenômeno em estudo. Naturalmente, à medida que o conhecimento e a tecnologia evoluem, novos e melhores modelos substituem os antigos. Modelos constituem uma ponte entre a realidade e a teoria. Texto 2 Elementos geométricos e hidráulicos de um canal Matemática EM ção Nesta seção, vamos estudar os elementos geométricos e hidráulicos que compõem um canal prismático. Como veremos mais adiante, eles serão fundamentais para o cálculo da vazão do fluido no canal (um dos problemas centrais em Engenharia Hidráulica). Apesar de um canal ser um objeto tridimensional, ele pode ser estudado a partir de duas de suas representações bidimensionais: a seção longitudinal, passando pelo ponto mais baixo do canal e uma de suas seções transversais (lembre-se que, em um canal prismático, todas as seções transversais têm o mesmo formato). A Figura 4, a seguir, ilustra um canal prismático e essas duas seções especiais. Figura 4. Seções longitudinal e transversal de um canal prismático 132 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Vamos às definições! 1. A inclinação S do canal é a tangente do ângulo  entre o fundo do canal e uma superfície de referência (denominada datum altimétrico em Geografia): S = tg(). É pelo fato de o canal estar inclinado que o líquido aí flui pela ação da gravidade. 2. A variável y representa a profundidade do canal: a altura do líquido acima do fundo do canal. 3. A variável d representa a altura de escoamento: a menor distância entre a superfície do líquido e o fundo do canal (assim, um segmento que realiza esta medida deve ser perpendicular ao fundo do canal). 4. A variável A representa a área molhada: a área da seção transversal ocupada pelo líquido (na seção transversal da Figura 4, a área molhada é a área da região desenhada em azul). 5. A variável P representa o perímetro molhado: o comprimento da linha de interseção entre a seção transversal ocupada pelo líquido e a superfície (leito) do canal (na seção transversal da Figura 4, o perímetro molhado é o comprimento da curva desenhada em azul). 6. Importante: No cálculo do perímetro molhado, não se inclui o comprimento B do segmento de reta que representa o contato entre a seção transversal ocupada pelo líquido e a atmosfera. Esse comprimento B é denominado largura superficial do canal. Com essas definições geométricas, podemos considerar dois elementos hidráulicos importantes: a profundidade hidráulica (yh) e o raio hidráulico do canal (Rh), definidos, respectivamente, pelas seguintes expressões: yh  área molhada A  largura superficial B Rh  e área molhada A  . perímetro molhado P Figura 5. Os diferentes formatos para as seções transversais de um canal artificial 133 Matemática EM ção As seções transversais de um canal artificial podem ter diferentes formatos: retangulares, trapezoidais, triangulares, circulares e parabólicos (Figura 5). Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira A escolha do tipo de canal depende de vários fatores: do tamanho do canal, do tipo de líquido e sedimentos que serão transportados, dos recursos financeiros disponíveis etc. No livro “Fundamentos da Engenharia Hidráulica”, os professores Márcio Baptista e Márcia Laura (2006) apontam alguns usos dos diversos tipos de canais: Em termos de utilização prática, as seções trapezoidais são bastante empregadas em canais de todos os portes, com ou sem revestimento. Da mesma forma, as seções retangulares têm também emprego bastante amplo, sendo, no entanto, construídas em estruturas rígidas, de forma a garantir a estabilidade das seções. Para a condução de vazões mais reduzidas, empregam-se as seções circulares, de uso comum em redes de esgoto, redes de águas pluviais e em bueiros. Da mesma forma, as seções triangulares são utilizadas em canais de pequenas dimensões, tais como as sarjetas rodoviárias e urbanas. O engenheiro Adrian Laycock (2007) defende, em seu livro “Irrigation Systems”, o uso de canais parabólicos, principalmente devido à excelente resistência estrutural que este tipo de canal oferece. Aqui vale mencionar que os canais escavados usando seções trapezoidais e triangulares tendem a se tornar parabólicos com o tempo. Zoom na informação Que tal ver algumas fotos de canais construídos usando esses tipos de seções transversais? Começamos com os canais retangulares. A foto da esquerda, na Figura 6, nos mostra o aqueduto retangular do reservatório de Malaprabha, na Índia; a foto da direita é do Canal Superior de Pehur, no Paquistão (note a transição da seção retangular para uma seção parabólica). Matemática EM ção Figura 6. Canais retangulares Fonte: Adrian Laycock Um exemplo de canal no formato trapezoidal é dado pelo canal adutor na cidade de Delmiro Gouveia, em Alagoas (Figura 7). Figura 7. Canal trapezoidal Fonte: Agência Nacional de Águas 134 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira O canal de Zújar, na Espanha, tem o formato circular. A foto na Figura 8, à esquerda, mostra um equipamento pavimentando esse canal durante sua construção, em 1971. Também tem formato circular uma tubulação de esgoto que desemboca no Rio Belém, em Curitiba (foto à direita na Figura 8). Figura 8. Canais circulares Fonte: Adrian Laycock e Agência Nacional de Águas As fotos na Figura 9 são da construção de um trecho parabólico do Canal Superior de Pehur, no Paquistão. As fotos B e C ilustram duas técnicas que foram empregadas para garantir o formato parabólico do canal. Foto A Foto B Foto C Figura 9. Canais parabólicos Fonte: Adrian Laycock Siga antenado Quer ver outras fotos de canais artificiais? A página web do engenheiro Adrian Laycock reúne uma excelente coleção de fotos desse tipo: <http:// www.adrianlaycock.com/pictures/>. Nesta seção, você é convidado(a) a usar seus conhecimentos de geometria e trigonometria para calcular os vários elementos geométricos e hidráulicos dos canais retangulares, trapezoidais, triangulares e circulares. Faça os cálculos e anote os resultados na tabela a seguir! Assuma que o ângulo  é sempre medido em radianos. 135 Matemática EM Cálculos dos elementos geométricos e hidráulicos ção Conhecimento em ação Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Sugestão: para se familiarizar com o problema, antes de proceder aos cálculos, acesse a atividade interativa disponível no endereço <http://www.uff.br/cdme/iat/cda/>. Nessa atividade, você poderá modificar o formato do canal e observar como os elementos geométricos e hidráulicos variam, incluindo um modelo 3D do canal e os gráficos de B, A, P, yh e Rh em função de y. Você também poderá testar se sua resposta está correta, comparando-a com os valores numéricos dados pela atividade interativa. Tabela 1: Cálculos dos elementos geométricos e hidráulicos dos canais retangulares, trapezoidais, triangulares e circulares Tipo do Canal Largura Superficial (B) Área Molhada (A) canal retangular canal trapezoidal Matemática EM ção canal triangular canal circular 136 Perímetro Molhado (P) Profundidade Hidráulica (yh=A/B) Raio Hidráulico (Rh=A/P) Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Conhecimento em ação Em textos de engenharia, para canais trapezoidais e triangulares, não é usual empregar ângulos para especificar a inclinação das paredes (os taludes) dos canais. O que se faz é considerar um triângulo retângulo, onde um dos ângulos internos é o ângulo , que determina a inclinação da parede do canal e cujo cateto oposto a este ângulo tem sempre medida igual a 1 (Figura 10). Ao invés do ângulo , usa-se, então, a medida z do cateto adjacente a esse ângulo. Note, portanto, que a inclinação da parede do canal é igual à tg() = 1/z, de modo que z = 1/tg() = cotg (). De posse dessa informação, use a variável z, ao invés da variável , para reescrever as expressões que você obteve para a largura superficial, a área molhada, o perímetro molhado, a profundidade hidráulica e o raio hidráulico, na tabela anterior, para o canal trapezoidal e para o canal triangular. Figura 10. Relação entre z e  : z = 1/ tg() = cotg() Texto 3 Canais parabólicos um prelúdio ao cálculo diferencial e integral Talvez você esteja se perguntando o porquê do canal parabólico não ter sido considerado no estudo feito na seção anterior. A dificuldade aqui é obter o comprimento de um arco de parábola (para calcular o perímetro molhado do canal parabólico) e a área de uma região limitada por uma parábola e um segmento de reta (para calcular a área molhada do canal parabólico). Será que existem fórmulas para essas medidas? A resposta é sim! Para o canal parabólico indicado na Figura 11, os valores do perímetro molhado P e da área molhada A são dados, respectivamente, pelas expressões    16 y  e A 2B y . 3 Figura 11. Elementos geométricos do canal parabólico 137 Matemática EM ção P 8 B 2  16 y 2 y  B 2 ln 4 y  B 2  16 y 2  B 2 ln 4 y  B 2  16 y 2 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Matemática EM ção Mas como essas fórmulas foram obtidas? Resposta: com recursos do Cálculo Diferencial e Integral, uma teoria que você, certamente, estudará na universidade caso opte por um curso das áreas de ciências exatas e tecnológicas (Matemática, Física, Química, Estatística, Informática, Ciências da Computação, Engenharias, Geofísica, Geologia, Oceanografia, Metereologia, Tecnologia em Navegação Fluvial, Astronomia). Mesmo cursos como Administração, Contabilidade, Economia, Ciências Atuariais, Arquitetura, Farmácia, Biologia, Biomedicina, Ciência e Tecnologia de Alimentos, Agronomia e Zootecnia estudam o Cálculo Diferencial e Integral. Uma das ideias centrais do Cálculo Diferencial e Integral é a de tentar obter a resposta de um problema mais complicado, resolvendo-se problemas mais simples, cujas soluções dão aproximações cada vez melhores do problema complicado inicial. Vamos acompanhar um exemplo: a seção transversal do leito de um canal parabólico Figura 12. Gráfico de u = f(x) = a x2 (com a = 4y/B2), para pode ser modelada como o gráfico de uma x no intervalo [–B/2, B/2] função quadrática u = f(x) = a x2 (com a = 4y/ B2) para valores de x no intervalo [–B/2, B/2], como mostra a Figura 12. Calcular o comprimento desse arco de parábola é um problema complicado! A ideia é, então, pensar em uma situação mais simples e, para isto, vamos aproximar a função quadrática por uma função poligonal, cujo gráfico é constituído por dois segmentos de reta, como mostra a Figura 13. Figura 13. Aproximação do perímetro molhado usando-se Observe que calcular a soma dos dois subintervalos comprimentos dos segmentos de reta que constituem o gráfico da função poligonal é um problema muito mais simples! Mais ainda: essa soma dá uma aproximação para o comprimento de arco de parábola e, quanto mais subdividirmos o intervalo [–B/2, B/2] em subintervalos de mesmo tamanho, mais a soma dos comprimentos dos segmentos de reta do gráfico da função poligonal correspondente irá se aproximar do comprimento do arco de parábola (Figura 14)! Figura 14. Aproximações do perímetro molhado usando-se quatro e oito subintervalos 138 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Uma ideia análoga pode ser usada para aproximar o valor da área molhada do canal parabólico! De fato, observe nas figuras a seguir, como a área molhada pode ser aproximada por triângulos e trapézios cujas áreas são bem mais fáceis de se calcular. Quanto mais subdividirmos o intervalo [–B/2, B/2] em subintervalos de mesmo tamanho, mais a soma das áreas dos triângulos e trapézios irá se aproximar do valor exato da área molhada (Figura 15)! Figura 15. Aproximações da área molhada usando-se dois, quatro, oito e dezesseis subintervalos 139 Matemática EM Para perceber o poder dessas ideias, sugerimos que você realize experimentos numéricos com as atividades interativas disponíveis no endereço eletrônico <http://www.uff.br/cdme/iat/cda/>. Nessas atividades, você poderá configurar o formato do canal parabólico e comparar as aproximações construídas anteriormente com os valores exatos obtidos via Cálculo Diferencial e Integral! Enquanto nossa discussão aqui se concentrou em aspectos numéricos, o desenvolvimento teórico dessas ideias de aproximações permite obter fórmulas exatas para o cálculo do comprimento de curvas e para o cálculo de áreas de regiões mais gerais. Mas isso é outra história, que você verá se cursar a disciplina de Cálculo Diferencial e Integral na universidade. ção Conhecimento em ação Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Conhecimento em ação Agora que você conhece as expressões para o perímetro molhado e para a área molhada de um canal parabólico, que tal preencher os dados da Tabela 2? Tabela 2: Cálculos dos elementos geométricos e hidráulicos dos canais parabólicos Largura Superficial (B) Tipo do Canal Área Molhada (A) Perímetro Molhado (P) Profundidade Hidráulica Raio Hidráulico (Rh=A/P) Texto 4 Velocidade média e vazão: A fórmula de Manning Matemática EM ção Devido à presença da superfície livre em contato com o ar e ao atrito com as paredes do canal, a velocidade do fluido não se distribui uniformemente sobre sua seção transversal. A Figura 16 ilustra distribuições típicas para os canais circulares. Na figura, as curvas indicam pontos da seção transversal com mesma velocidade. Elas são denominadas isotáquias (do Grego, ísos = igual e táchos = velocidade). Note que a velocidade máxima ocorre no interior da área molhada e que, quanto mais próximo das paredes do canal, menor é a velocidade do fluido. Dada a essa não uniformidade, é usual, então, considerar a velocidade média v do fluido, definida por v Figura 16. Distribuição das velocidades do fluido em um canal circular Q , A onde Q é a vazão do fluido (a taxa de variação em relação ao tempo do volume do fluido que passa pela seção transversal do canal) e A é a área molhada do canal. 140 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Ao construir um canal, engenheiros procuram dimensioná-lo corretamente para garantir que a velocidade média de escoamento esteja dentro de um determinado intervalo. Esse controle é importante, por exemplo, para garantir que um volume mínimo de água seja escoado em um determinado intervalo de tempo e para se evitar erosões e acúmulo de depósitos no fundo do canal. Nesse aspecto, uma das fórmulas mais usadas em Engenharia Hidráulica é a fórmula de Manning, que relaciona a velocidade média v do fluido com a geometria da seção transversal do canal: v k 2/3 1/ 2 Rh S , n onde k é uma constante de conversão, n é o coeficiente de rugosidade de Manning (que depende da rugosidade das paredes do canal), Rh é o raio hidráulico do canal e S é a declividade (a tangente do ângulo f entre o fundo do canal e um datum altimétrico). No Sistema Internacional de Unidades, k = 1, n é dado em s/m1/3, Rh em m e S é adimensional (isto é, desprovido de unidade). Não é difícil de verificar, com base nessas informações, que v é, então, expressa em m/s. Essa fórmula empírica foi proposta pelo engenheiro irlandês Robert Manning, em 1889, para a Instituição de Engenheiros Civis, na Irlanda. Em 1891, Manning publicou sua fórmula no artigo “On The Flow of Water in Open Channels and Pipes” da revista “Transactions of The Institution of Civil Engineers”. O coeficiente de rugosidade n na fórmula de Manning é determinado empiricamente. Na Tabela 1, encontramos valores típicos para n de acordo com o tipo de canal (CHOW, 1959). Como esperado, quanto mais rugosa a superfície do fundo do canal, maior o val or do coeficiente de rugosidade. Por exemplo, a rugosidade das planícies inundadas aumenta de pasto para cerrado e de cerrado para floresta. Tabela 3 — Valores do coeficiente de rugosidade de acordo com o tipo de canal Tipo do Canal n A. Condutos naturais Limpo e reto Escoamento vagaroso com poças Rio típico B. Planícies inundadas Pasto Cerrado leve Cerrado pesado Floresta C. Condutos escavados na terra Limpo Cascalho Vegetação rasteira Pedregoso D. Condutos revestidos artificialmente Vidro Latão Aço liso Aço pintado Aço rebitado Ferro fundido Concreto com acabamento Concreto sem acabamento Madeira aplainada Tijolo de barro Alvenaria Asfalto Metal corrugado Alvenaria grosseira 0,035 0,050 0,075 0,150 0,010 0,011 0,012 0,014 0,015 0,013 0,012 0,014 0,012 0,014 0,015 0,016 0,022 0,025 141 ção 0,022 0,025 0,030 0,035 Matemática EM Fonte: CHOW, 1959 0,030 0,040 0,035 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira A fórmula de Manning também pode ser expressa em termos da vazão Q do canal: Q k ARh2/3 S 1/ 2 , n onde A é a área molhada da seção transversal do canal. No Sistema Internacional de Unidades, Q é medida em m3/s e A em m2. Vamos ver agora um exemplo típico do uso da fórmula de Manning em Engenharia Hidráulica. Considere o canal trapezoidal cujas dimensões da seção transversal estão indicadas na Figura 18. Figura 18. Exemplo de canal trapezoidal Sabe-se que o fundo do canal cai 1,4 m para cada 1000 m de comprimento e que ele é revestido de concreto com acabamento. Qual é a vazão do canal? A resposta é dada pela fórmula de Manning! Note, primeiramente, que k = 1, n = 0,012 (conforme a tabela com os coeficientes de rugosidade de Manning), S = 1,4/1000 = 0,0014, b = 4, y = 2,  2 B  b  2 y cotg   9 P b   2   4  4 cotg    9 2y 4  4  2   2  sen  sen     9   9  e  ,  A ( B  b) y  2  8  4cotg  2  9  2   2   2  cos  8  4 cotg  2sen    A  9   9   9 Rh   4 2  P   4 sen   1  2  9   sen    9  ção Dessa maneira, Matemática EM  ,  Portanto, a velocidade média v do canal é dada por v = Q/A ≈ 3,62 m/s. 142   . Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Um problema mais interessante (e também um pouco mais complicado) é o de se determinar a profundidade y do canal que realiza uma vazão Q com valor preestabelecido. Por exemplo, qual deve ser a profundidade y do canal do exemplo que acabamos de estudar para que sua vazão seja igual a Q = 100 m3/s? Repetindo os cálculos feitos anteriormente, aproximando os valores das funções trigonométricas, mas não substituindo o valor de y por 2, concluímos que y deve ser solução da equação Enquanto existem técnicas que permitem resolver numericamente e de forma eficiente equações desse tipo, você pode tentar algo não tão eficiente, mas bem mais simples, com sua calculadora ou planilha eletrônica: tentativa e erro. Mais precisamente, você pode calcular a função   8  2,38 y  y  f ( y )  0,98 8  2,38 y  y    4  3,11 y  2/3 para valores de y iguais a 0, 0,1, 0,2 etc., e, então, parar quando f(y) estiver próximo de 100. Uma vez que f(2,9) = 94,24... e f(3,0) = 101,79..., podemos considerar y = 3.0 como uma aproximação da solução da equação. Podemos procurar por uma aproximação melhor no intervalo [2,9; 3.0]: uma vez que f(2,98) = 99,46... e f(2,99) = 100,12..., concluímos que y = 2,98 é uma outra (e melhor) aproximação para a solução da equação. Dessa maneira, podemos inferir que a representação decimal da solução da equação é da forma y = 2.98.... 143 Matemática EM É importante ressaltar a natureza empírica da fórmula de Manning: ela foi formulada a partir de muitas observações e medições em canais existentes. Assim, cuidado é necessário! À medida que técnicas de medição e de análise estatística mais sofisticadas são desenvolvidas, todo o processo pode ser revisto. Não obstante, é sempre bom ter em mente que certas leis físicas que hoje nos são bem familiares, como a Lei da Queda Livre dos Corpos, de Galileu Galilei (1564-1642), e a Lei da Gravitação Universal, de Isaac Newton (1643-1727), tiveram uma componente empírica em suas formulações: Galileu Galilei fez experimentos com planos inclinados no processo de estabelecer a lei que governa a queda livre dos corpos e Isaac Newton, em sua obra “Principia”, diz: “Nessa filosofia [experimental], as proposições particulares são inferidas dos fenômenos e, depois, tornadas gerais por indução”. ção Reflexão para ação Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Zoom na informação A ideia de se representar graficamente pontos onde uma determinada quantidade é constante (como o caso das isotáquias) é muito usada em outros ramos da ciência. Por exemplo, em cartografia, topografia e agricultura, uma curva de nível é um conjunto de pontos de um mapa que representa pontos com mesma altitude (Figura 17). Temos também as isotérmicas (curvas onde a temperatura é constante), as isoietas (curvas onde a precipitação pluvial é constante), as isobáricas (curvas onde a pressão atmosférica é constante), etc. Figura 17. Curvas de nível e sidad Curio Após analisar os custos de construção de 33 canais na Espanha, Montañés (2006) obteve os seguintes percentuais com relação ao custo total de construção: Nivelamento do canal Escavação do canal Corte do canal Revestimento do canal com concreto 31,0% 10,5% 5,3% 53,0% Matemática EM ção Observe que mais da metade do custo total da construção é gasta com o revestimento do canal. Apesar disso, o revestimento do canal permite diminuir a perda de água por infiltração em torno de 30% a 40%, apenas (SWAMEE; MISHRA; CHADAR, 2002). Além da infiltração, um canal pode perder água por transbordamento e evaporação. Estima-se, por exemplo, que um terço da água dos canais de irrigação em todo o mundo se perde durante o processo de transporte. Outro terço é perdido no terreno ou na fazenda, de modo que apenas um terço da água é efetivamente consumido (MONTAÑÉS, 2006). Glossário Uma seção longitudinal de um objeto tridimensional com relação a um determinado eixo é a interseção do objeto com um plano paralelo ao eixo. 144 Uma seção transversal de um objeto tridimensional com relação a um determinado eixo é a interseção do objeto com um plano perpendicular ao eixo. Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira De olho no ENEM Questão 01 – ENEM 2009 A vazão do Rio Tietê, em São Paulo, constitui preocupação constante nos períodos chuvosos. Em alguns trechos, são construídas canaletas para controlar o fluxo de água. Uma dessas canaletas, cujo corte vertical determina a forma de um trapézio isósceles, tem as medidas especificadas na Figura I. Neste caso, a vazão da água é de 1.050 m 3/s. O cálculo da vazão, Q em m3/s, envolve o produto da área A do setor transversal (por onde passa a água), em m2, pela velocidade da água no local, v, em m/s, ou seja, Q = Av. Planeja-se uma reforma na canaleta, com as dimensões especificadas na Figura II, para evitar a ocorrência de enchentes. Na suposição de que a velocidade da água não se alterará, qual a vazão esperada para depois da reforma da canaleta? (A) 90 m3/s (B) 750 m3/s (C) 1.050 m3/s (D) 1.512 m3/s (E) 2.009 m3/s Questão 02 – ENEM 2009 (A) (D) 12  m 2 300  m 2 (B) (E) 108  m 2 (24  2 3) 2  m 2 145 C) (12  2 3) 2  m 2 Matemática EM Considere que a base do reservatório tenha raio r  2 3 m e que sua lateral faça um ângulo de 60°com o solo. Se a altura do reservatório é 12 m, a tampa a ser comprada deverá cobrir uma área de ção Uma empresa precisa comprar uma tampa para o seu reservatório, que tem a forma de um tronco de cone circular reto, conforme mostrado na figura. Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Referências BAPTISTA, Márcio; LARA, Márcia. Fundamentos da Engenharia Hidráulica. Belo Horizonte: UFMG, 2010. CARLISLE, Rodney P. Scientific American Inventions and Discoveries: All The Milestones in Ingenuity ─ From The discovery of Fire to The Invention of The Microwave Oven. Hoboken: John Willey & Sons, Inc., 2004. CHOW, Ven Te. Open Channel Hydraulics. New York: McGraw-Hill, 1959. LAYCOCK, Adrian. Irrigation Systems: Design, Planning and Construction. Oxfordshire: CABI, 2007. MONTAÑÉS, José Liria. Hydraulic Canals: Design, Construction, Regulation and Maintenance. New York: Taylor & Francis, 2006. Matemática EM ção SWAMEE, Prabhata K.; MISHRA, Govinda C.; CHADAR, Bhagu R. Design of Minimum Water-Loss Canal Sections. Journal of Hydraulic Research, v. 40, n. 2, p. 215-220, 2002. 146 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Respostas e Comentários das Questões do ENEM LÍNGUA PORTUGUESA Questão 01 Comentários: O texto de Duarte apresenta ao leitor informações sobre a biosfera e sobre o ecossistema, explicitando o que cada noção significa. Por isso, fica claro que a função linguagem, usada pelo autor do texto, não é emotiva, nem fática, nem poética e nem conativa, mas, isto sim, referencial. Resposta correta: E Questão 02 Comentários: O texto apresenta informações sobre uma pesquisa científica e a previsão que um pesquisador faz com base em dados objetivos e precisos oriundos dessa pesquisa. Por isso, as alternativas (A) e (E) estão erradas e a alternativa (B) está correta. As alternativas (C) e (D) não procedem, porque o texto é simplesmente informativo: ele nem é argumentativo – seu autor não tenta convencer o leitor acerca de nada – nem é estético, pois a linguagem predominante é denotativa. Observe que o conteúdo do texto dessa questão está estreitamente relacionado com a Geografia e a Física. Por isso, lembre-se que todas as disciplinas contribuem para você fazer uma ótima prova de Língua Portuguesa no ENEM. Resposta correta: B LITERATURA BRASILEIRA Questão 01 Comentários: Os textos apresentam o lado positivo e o negativo do uso do plástico. Mas cada um deles vai destacar aquilo que interessa ao seu autor. Assim, é preciso prestar atenção para o emissor da mensagem: no texto 1, é a Minuano (um fabricante). Resposta correta: B Questão 02 Comentários: No texto 2, é de um instituto defensor da conscientização do consumo. Resposta correta: E Observação: Sempre que estiver em dúvida, procure saber quem diz o que, e por qual motivação. Assim ficará mais fácil descobrir o que está por trás do texto, qual sua intenção. 147 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira HISTÓRIA Questão 01 Comentário: Resolução: A recuperação de áreas degradadas e a utilização de insumos para elevação da produtividade das pastagens impedem que haja uma expansão das fronteiras agropecuárias, resultando automaticamente na diminuição dos níveis de desmatamento. Resposta correta: E Questão 02 Comentário: Resolução: O desperdício e o uso inadequado podem esgotar ou degradar esse recurso. Problemas desse tipo já ocorrem em certas áreas ou regiões. E acredita-se que em médio prazo, mantidas as atuais formas de uso da água, poderão abranger todo o planeta, gerando uma crise global da água. Resposta correta: B FONTE: BARBOSA, Marcos. Atualidades para concursos públicos, ENEM e Vestibulares. São Paulo: Saraiva, 2011. P. 249. GEOGRAFIA Questão 01 Comentário: A água doce representa apenas um pequeno percentual da água disponível no planeta Terra, sendo que boa parte encontra-se nas geleiras. Sua qualidade vem caindo com a degradação causada pela atividade humana (desmatamento, urbanização, industrialização etc.). Resposta correta: B Questão 02 Comentário: Recentemente o Brasil sofreu racionamento de energia em virtude de ausência de chuvas significativas, principalmente no Sudeste e Centro-Oeste brasileiros. Mas também a degradação dos mananciais e desperdício no consumo são fatores que influem decisivamente no problema. Precisamos mudar nossa postura em relação ao uso da água doce urgentemente. Resposta correta: E 148 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira BIOLOGIA Questão 01 Comentário: A questão destaca a importância da conservação ambiental frente à poluição, no caso, de ecossistemas aquáticos. No monitoramento com biodetectores, a eficiência dos seres utilizados será tanto maior quanto maior for sua sensibilidade à poluição, permitindo alerta e providências imediatas para resolver o problema o mais rapidamente possível. Assim, a espécie I seria mais sensível à poluição e quem melhor indicaria os riscos associados a essa mudança no ecossistema. Resposta correta: A Questão 02 Comentário: A importância da presença de água é destacada aqui para a sobrevivência dos anfíbios, na medida em que sua reprodução depende da abundância de água, sendo, portanto, os meses de maior pluviosidade mais favoráveis à realização do seu processo reprodutivo, em função da maior possibilidade de acúmulo de água. Resposta correta: B Questão 03 Comentário: A presença da floresta aumenta a dinâmica do ciclo da água, garantindo maior índice de pluviosidade. Isso disponibiliza maior quantidade de água em uma área maior, favorecendo a presença desse componente essencial à sobrevivência dos seres vivos. Resposta correta: B 149 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira QUÍMICA Questão 01 Comentário: O pesticida organofosforado Tipo B é representado, em sua fórmula estrutural, na alternativa de letra E, cujo enxofre faz uma dupla ligação com o fósforo (Tipo B) e apresenta o grupo etoxi ligado ao átomo central do fósforo. Resposta correta: E Enxofre faz uma dupla ligação com o fósforo Grupo etoxi Questão 02 Comentário: Das moléculas apresentadas, a alternativa de letra E demonstra ser a mais adequada para funcionar como molécula ativa de protetores solares, que pode ser identificada pela baixa solubilidade do composto em água, garantida pela extremidade apolar à direita da molécula (composta por hidrocarbonetos H-C). Além disso, a estrutura possui um anel aromático conjugado com o grupo carbonila (C=O) em ocorrência de ligações simples e duplas (conforme o enunciado). Resposta correta: E Grupo carbonila (C=O) Extremidade apolar hidrocarbonetos) Anel aromático 150 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira FÍSICA Questão 01 Comentário Em todos os processos descritos, a energia elétrica pode ser armazenada em dispositivos como as baterias. A hidrelétrica tem impacto ambiental devido ao alagamento de grandes áreas secas, causando conflitos sociais e ambientais. A água não é uma energia renovável. Todos os processos citados no texto dependem das condições climáticas (vento, chuvas, irradiação solar). E, por fim, nenhum dos processos de obtenção de energia elétrica citados no texto resulta de combustíveis fósseis, pois não dependem da transformação de energia de calor proveniente da queima de um combustível. Resposta correta: C Questão 02 Comentário A resposta correta é a alternativa (A), pois a produção de energia de uma hidrelétrica está justamente na sua capacidade de armazenamento do volume de água em suas barragens e a posterior queda, a partir da qual irá acontecer a transformação de energia potencial em cinética. Para isso, além da altura de queda, é importante a massa d´água envolvida, que depende do período de chuva. As demais alternativas são erradas, pois não existe relação do fluxo de água das hidrelétricas com mais nenhuma atividade, a não ser para a produção da energia elétrica nas hidrelétricas e nelas o abastecimento de água é exclusivamente pelo volume represado, não tendo relação com as outras atividades. Resposta correta: A MATEMÁTICA Questão 01 Comentário Vamos usar as seguintes notações: v1, Q1 e A1 representam, respectivamente, a vazão, a velocidade da água e a área do corte vertical (no caso, um trapézio) do canal da Figura I. Por sua vez, v2, Q2 e A2 representam, respectivamente, a vazão, a velocidade da água e a área do corte vertical (no caso, outro trapézio) do canal da Figura II. Para responder à questão, devemos calcular o valor da vazão Q2. Como Q1 = A1 v1, Q2 = A2 v2 e, por hipótese, v2 = v1, segue-se que: v2  v1  Q2 Q1 QA   Q2  1 2 . A2 A1 A1 151 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Mas Q1 = 1.050 m3/s, A1  Logo, Q2  (30  20) 2,5  62,5 m2 2 A2  e (41  49) 2, 0  90 m 2 . 2 Q1 A2 (1.050) (90)   1.512 m3 s. 62,5 A1 Note que o enunciado da questão está assumindo, implicitamente, que os dois canais estão operando com água até o topo. Como foi visto na parte deste Caderno dedicada à matemática, a vazão não depende da área do corte transversal do canal, mas, sim, da área da parte do corte transversal que está sendo preenchida com água (a área molhada do canal). Os valores errados nos demais itens podem ter as seguintes explicações: o valor dado no item (A) coincide numericamente com o valor de A2; o valor dado no item (B) coincide com o valor de Q1/2; o valor dado no item (C) coincide com o valor de Q1; o valor dado no item (E) coincide numericamente com o ano de aplicação da prova. Resposta correta: D Questão 02 Comentário Considere os pontos coplanares O, P, Q, U e V indicados na figura a seguir. Na figura, os pontos O e U são centros das duas bases circulares do tronco de cone circular reto, o ponto P é tal que UV  R OP  r = raio da base circular de centro em O, o ponto V é tal que = raio da base circular de centro em U e o ponto Q é a projeção ortogonal do ponto V sobre o solo. Para responder à questão, devemos calcular a área da base circular de centro em U e, para isso, precisaremos calcular primeiro a medida R de seu raio. 152 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira OU  QV  h Note que = altura do reservatório. Observe também que, no triângulo retângulo PQV, tg(60)  Como tg(60)  tg(60)  3, h = 12 m e QV h  . PQ R  r r  2 3 m, segue-se que 12 18 QV h   3  3R  6  12  R   6 3 m. PQ R  r 3 R2 3 Assim, a área S da base circular de centro em U do tronco de cone circular reto é igual a  S   R2   6 3  2  108 m 2 . Observação: Houve um erro de impressão na prova original fornecida pelo MEC e o símbolo π não apareceu nos itens de resposta dessa questão. Os valores errados nos demais itens podem ter as seguintes explicações: o valor dado no item (A) coincide com o valor da área da base circular de centro no ponto O; o valor dado no item (C) coincide com o valor da área de um círculo cujo raio é igual à soma h + r; o valor dado no item (D) é obtido se, no desenvolvimento acima, o valor de tg (60°) for substituído erroneamente por 3 2, o valor dado no item (E) é obtido se, no desenvolvimento acima, o valor de tg (60°) for substituído erroneamente por ½. Resposta correta: B 153 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 154 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 155 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 156 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL Prezado(a) Estudante, Com o objetivo de aprofundar seus conhecimentos em Língua Portuguesa, o presente material visa potencializar seus estudos e instrumentalizá-lo melhor na prática da escrita e da oralidade. Além disso, permite articular teoria e prática, vinculando o trabalho intelectual com as atividades práticas experimentais, através da utilização de novas mídias e tecnologias educacionais, que facilitarão a sua aprendizagem. Nesse afã, programamos uma série de leituras e de atividades de produção textual baseadas em duas temáticas atuais, importantes para o Ensino Médio: Saúde e Sociedade; Ciência e Tecnologia. Essas atividades foram elaboradas de forma que você possa associar os conteúdos curriculares às atividades complementares aqui propostas. Tais materiais são de grande valia e podem ser discutidos em sala de aula com o seu professor, nas aulas de monitoria, num círculo de estudo com os colegas ou até mesmo individualmente. A prática da leitura, da escrita e da oralidade são bem sucedidas desde que você desperte dentro de si a motivação, a vontade e o dinamismo em vencer novos obstáculos. Desejamos bons estudos! 157 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 158 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Leitura e Produção Textual - I Luciana Santos de Oliveira e Luciano Amaral Oliveira Apresentação Olá! Nesta seção, discutiremos o tema “Saúde e Sociedade”. Daremos foco à maneira como a saúde é vista e praticada na atualidade, e às novas perspectivas que surgem e integram as questões da medicina a outras ciências. O tema será introduzido a partir de um relato que um médico fez para registrar importante mudança em sua rotina profissional. Refletiremos um pouco sobre regência verbal, orações relativas cortadoras e o uso de pronomes oblíquos com o objetivo de contribuir para que você escreva da forma adequada exigida pelo ENEM. Afinal, precisamos garantir que você tenha consciência de que sua redação deve sempre estar coesa e adequada à norma culta. E, por falar em ENEM, apresentamos duas questões desse exame para você resolver. Reflexão para ação Forme um grupo com mais dois colegas. Discutam o provérbio latino “Mente sã em corpo são”. O que significa esse provérbio? Vocês concordam com ele? Ele se aplica a vocês? Por que (não)? Texto 1 Você vai ler agora um relato muito interessante que um médico faz de algo que aconteceu num dia de trabalho no hospital em que atende. O médico se chama José Ricardo de Carvalho Mesquita Ayres (2011) e o relato é parte de um artigo científico que ele publicou em uma revista especializada. Leia o relato e responda às perguntas que seguem. "Saí do consultório e caminhei pelo corredor lateral até a sala de espera, cartão de identificação à mão, para chamar a próxima paciente. Já era final de uma exaustiva manhã de atendimento. Ao longo do percurso, fiquei imaginando como estaria o humor da paciente naquele dia – o meu, àquela hora, já estava péssimo. Assim que a chamei, D. Violeta veio, uma vez mais, reclamando da longa espera, do desconforto, do atraso de vida que era Figura 1: Médico conversando com paciente. Fonte: http://visualsonline.cancer.gov/details.cfm? imageid=2528 159 ção EM Leitura e Produção Textual Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira esperar tanto tempo. Eu que, usualmente, nesse momento sempre repetido, buscava compreender a situação da paciente, acolher sua impaciência e responder com uma planejada serenidade, por alguma razão, nesse dia, meu sentimento foi outro. Num lapso de segundo, tive vontade de revidar o tom rude e agressivo de que sempre era alvo. Quase no mesmo lapso, senti-me surpreso e decepcionado com esse impulso, que me pareceu a antítese do que sempre acreditei ser a atitude de um verdadeiro terapeuta. Essa vertigem produziu em mim muitos efeitos. Um deles, porém, foi o que marcou a cena. Ao invés da calculada e técnica paciência habitual, fui invadido por uma produtiva inquietude, um inconformismo cheio de uma energia construtora. Após entrar no consultório com D. Violeta, me sentar e esperar que ela também se acomodasse, fechei o prontuário sobre a mesa, que pouco antes estivera consultando, e pensei: 'Isto não vai ser muito útil. Hoje farei com D. Violeta um contato inteiramente diferente'. Sim, porque me espantava como podíamos ter repetido tantas vezes aquela mesma cena de encontro (encontro?), sem nunca conseguir dar um passo além. Inclusive do ponto de vista terapêutico, pois era sempre a mesma hipertensa descompensada, aquela que, não importa quais drogas, dietas ou exercícios prescrevesse, surgia diante de mim a intervalos regulares. Sempre a mesma hipertensão, o mesmo risco cardiovascular, sempre o mesmo mau humor, sempre a mesma queixa sobre a falta de sentido daquela longa espera. A diferença hoje era a súbita perda do meu habitual autocontrole; lamentável por um lado, mas, por outro lado, condição para que uma relação inédita se estabelecesse. Para espanto da minha aborrecida paciente não comecei com o tradicional 'Como passou desde a última consulta?' Ao invés disso, prontuário fechado, caneta de volta ao bolso, olhei bem em seus olhos e disse: 'Hoje eu quero que a senhora fale um pouco de si mesma, da sua vida, das coisas de que gosta, ou de que não gosta... enfim, do que estiver com vontade de falar'. Minha aturdida interlocutora me olhou de um modo como jamais me havia olhado. Foi vencendo, aos poucos, o espanto, tateando o terreno, talvez para se certificar de que não entendera mal, talvez para, também ela, encontrar outra possibilidade de ser diante de mim. Dentro de pouco tempo, aquela mulher já idosa, de ar cansado – que o característico humor acentuava, iluminou-se e pôs-se a me contar sua saga de imigrante. Falou-me de toda ordem de dificuldades que encontrara na vida no novo continente, ao lado do seu companheiro, também imigrante. Como ligação de cada parte com o todo de sua história, destacava-se uma casa, sua casa – o grande sonho, seu e do marido – construída com o labor de ambos: engenheiros e arquitetos autodidatas. Depois de muitos anos, a casa ficou finalmente pronta e, então, quando poderiam usufruir juntos do sonho realizado, seu marido faleceu. A vida de D. Violeta tornara-se subitamente vazia, inútil – a casa, o esforço, a migração. Impressionado com a história e com o modo muito "literário" como a havia narrado para mim, perguntei, em tom de sugestão, se ela nunca havia pensado em escrever sua história, ainda que fosse apenas para si mesma. Ela entendeu perfeitamente a sugestão, à qual aderiu pronta e decididamente. Não me recordo mais se ela ainda voltou a reclamar alguma vez de demoras, atrasos etc. Sei que uma consulta nunca mais foi igual à outra, e eram, de fato, 'encontros' o que acontecia a cada vinda sua ao serviço. Juntos, durante o curto tempo em que, por qualquer razão, continuamos em contato, uma delicada e bem-sucedida relação de cuidado aconteceu. Receitas, dietas e exercícios continuaram presentes; eu e ela é que éramos a novidade ali." 160 1. O texto que você leu é o relato de um médico que decidiu registrar um acontecimento diferente em sua rotina profissional. O que motivou o relato? _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 2. O acontecimento relatado teve uma consequência positiva. Mas pode-se afirmar que esse fato positivo faz parte da rotina da maioria dos médicos? Explique por quê. _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 3. O que fez o humor de D. Violeta mudar? _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 4. Ayres finaliza o relato afirmando que “Receitas, dietas e exercícios continuaram presentes; eu e ela é que éramos a novidade ali.” O que ele quis dizer com isso? _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 5. O ritmo de vida contemporâneo tem afetado a saúde física das pessoas? Justifique. _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 6. A fim de tratar o paciente como um todo, pesquisadores da área de saúde, há algum tempo, têm falado em “humanizar a medicina”. O que você entende por “humanizar a medicina”? _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 161 ção EM Conhecimento em ação Leitura e Produção Textual Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira ção EM Leitura e Produção Textual Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira ade Curiosid Psicossomatização é o processo de adoecimento do corpo físico por causa de um estado emocional negativo. Uma pessoa submetida a muito estresse e a forte tristeza pode ter problemas físicos que vão desde dores musculares na região da nuca até úlcera estomacal. Por isso, estar bem emocionalmente é essencial para que nosso corpo fique sadio, como aparentam estar as crianças cujas silhuetas aparecem na imagem . Figura 2: Silhuetas no pôr do sol em Fuvahmulah, nas Ilhas Maldivas. Fonte: http://www.flickr.com/photos/nattu/895220635/ lightbox/ Zoom na informação Ler bem é muito mais do que saber interpretar as informações que aparecem de forma clara ou explícita em um texto. É necessário também saber ler nas entrelinhas, ou seja, ler as informações que estão implícitas ou não ditas. A isso se chama inferenciação. Veja esta frase, retirada da manchete de um jornal: O lado bom do salitre. Infere-se, dessa oração, por meio da expressão “o lado bom”, que o salitre é, geralmente, visto como algo ruim. Ou seja, a informação que está implícita na oração é a de que o salitre é ruim, pois isso não está dito na superfície da oração. (Quem mora perto da praia sabe disso, pois já se acostumou a ver como o salitre intensifica a ação da ferrugem nos eletrodomésticos). Conhecimento em ação Agora, analise as frases a seguir e descubra que informação pode-se inferir de cada uma delas. a) Os consumidores estão mais cautelosos. _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 162 c) Até a diretora foi à nossa apresentação no auditório da escola. _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ d) Estudar já foi mais difícil. _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ ade Curiosid Você já notou que há pessoas das Regiões Sudeste e Sul do País que costumam falar da seca, da pobreza e do analfabetismo quando se referem ao Nordeste? Dessa forma, elas criam, nas entrelinhas, uma imagem negativa dessa região, como sendo um lugar onde só há problemas ambientais e sociais, e onde não há nada positivo. Em 2010, no dia em que a vitória da presidenta Dilma Rousseff foi confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral, uma jovem paulista entendeu (equivocadamente) que o Nordeste foi o responsável por essa vitória e, irritada com isso, divulgou mensagens preconceituosas, por meio do twitter, contra os nordestinos. Uma dessas mensagens foi a seguinte: “Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado!”. Reflexão para ação Será que o Nordeste só tem pontos negativos? Será que a imagem negativa que pessoas do Sul e Sudeste do Brasil fazem do Nordeste é justa? Pense a respeito do que há de positivo no Nordeste, em termos de universidades, de empresas e de movimentos sociais, por exemplo, e faça uma lista dos pontos positivos que você encontrar. Leve a lista para a sala e discuta com seus colegas para responder às duas perguntas que iniciam este box. Conhecimento em ação Seguindo a redação exigida pelo ENEM em 2011, propomos que você elabore um texto dissertativo-argumentativo de acordo com a norma culta da língua portuguesa sobre o tema EDUCAÇÃO E SAÚDE, defendendo a ideia de que as pessoas terão menos problemas de saúde se tiverem acesso à educação. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para a defesa de seu ponto de vista. E aqui vão algumas dicas importantes: 163 ção EM b) A professora de matemática passou um novo trabalho para nota. _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ Leitura e Produção Textual Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira ção EM Leitura e Produção Textual Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 1. Pare um pouco antes de colocar a caneta no papel e planeje o que você vai escrever. Decida o que vai colocar no seu texto, ou seja, selecione os argumentos e fatos que usará ao escrevê-lo. 2. Depois de selecionar os argumentos e fatos que vão fazer parte do seu texto, organize a sequência deles de forma lógica. 3. Lembre-se de não colocar no texto orações sobre assuntos que fogem do tema solicitado. 4. Não se esqueça de usar adequadamente elementos de coesão, como conjunções, por exemplo, para conectar ideias e pronomes para evitar repetir palavras. Siga antenado É importante que você fique atento às discussões e reportagens sobre a redação do ENEM. A seguir, encontram-se links para sites que trazem dicas e informações sobre o assunto. Alguns são sobre exames passados, mas isso é irrelevante. Acesse-os, leia as dicas de maneira crítica (ou seja, veja se elas fazem sentido e se você concorda com as mesmas) e siga antenado. (a) (b) (c) (d) O texto Nove temas da atualidade que podem cair no Enem e nos vestibulares de 2012/2013 está disponível em <http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/nove-temas-daatualidade-que-podem-cair-no-enem-e-nos-vestibulares-de-2012>. O texto Prepare-se para vários temas na redação do Enem 2012 está disponível no em <http://www.enem.vestibulandoweb.com.br/temas-redacao-enem-2012.html>. O texto Confira dicas para não fazer feio na redação do Enem está disponível em <http://www.jb.com.br/pais/noticias/2011/10/21/confira-dicas-para-nao-fazer-feio-naredacao-do-enem/> O texto Especialistas dão dicas para a prova de redação no Enem está disponível em <http://gazetaweb.globo.com/noticia.php?c=7575&e=9>. Texto 2 Você já sabe que uma das funções da redação do ENEM e dos vestibulares é testar o conhecimento que o estudante tem da norma culta escrita. Por essa razão, é importante ficar atento a algumas regras. Uma dessas regras diz respeito ao uso dos pronomes pessoais retos e oblíquos, que são importantes elementos de coesão textual. Ao falarmos em situações informais, é comum que nós usemos os pronomes pessoais retos como complementos dos verbos, conforme esta oração: Eu vi ele cedo. Na oração, o pronome reto ele está completando o sentido do verbo vi, exercendo, portanto, a função de objeto direto. No entanto, ao escrever, é bom lembrar que, seguindo 164 Sujeito Predicado Sujeito Predicado Eu estudei muito hoje. / Nós conseguimos a aprovação. Já os pronomes oblíquos podem exercer a função de objetos diretos e indiretos. Veja os exemplos: Eu emprestei-lhe o livro / Eu o vi cedo. Observe que o pronome lhe está exercendo a função de objeto do verbo emprestei, enquanto, na segunda oração, o pronome o é objeto do verbo vi. Existem três regras relacionadas ao uso dos pronomes retos e oblíquos que podem ajudar você na hora de escrever. Segundo essas regras: REGRA 1: Os pronomes o, a, os e as sempre exercem a função de objeto direto. REGRA 2: Os pronomes lhe e lhes sempre exercem a função de objeto indireto. REGRA 3: Já os pronomes me, te, nos e vos podem exercer a função de objeto direto ou de objeto indireto, dependendo da regência do verbo que os pronomes acompanham Conhecimento em ação Para praticar um pouco usando pronomes, leia o parágrafo a seguir e responda às perguntas. Hoje, eu saí de casa apressado e me esbarrei em um senhor. Como era mais idoso, ele caiu e eu o ajudei. Ele sujou as mãos. Peguei meu lenço e entreguei-o ao senhor para se limpar. Disse-lhe que sentia muito e desejei-lhe um ótimo dia. 1. De acordo com a regra gramatical, analise os pronomes das orações a seguir e classifique-os como objeto direto ou indireto. Justifique sua resposta. (a) “Disse-lhe que sentia muito e desejei-lhe um ótimo dia.” _________________________________________________________________________ (b) “Peguei meu lenço e entreguei-o ao senhor.” _________________________________________________________________________ 2. O pronome me pode ser objeto direto ou indireto, dependendo da regência do verbo que ele acompanha. Classifique-o na oração “Eu me esbarrei nele” e justifique sua resposta. _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 165 ção EM a norma culta, devemos utilizar os pronomes pessoais retos apenas como o sujeito de uma oração. Assim, seguindo a norma culta, escrevemos “Eu o vi cedo”, em vez de “Eu vi ele cedo.” Veja isso nestas duas orações: Leitura e Produção Textual Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira ção EM Leitura e Produção Textual Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Zoom na informação A regência verbal é a relação que o verbo estabelece com seu objeto e é um elemento muito importante para a produção de textos. Há verbos que não precisam de objeto, pois têm um sentido completo: são chamados de verbos intransitivos. É o caso de dormir e desaparecer, por exemplo, na seguinte oração: “Meu cachorro desapareceu e minha esposa não consegue dormir porque está preocupada”. Há, contudo, outros verbos que precisam de um objeto para completar seus sentidos: são chamados de verbos transitivos e podem ser diretos ou indiretos. Os verbos transitivos diretos se ligam ao seu objeto sem a ajuda de uma preposição. O verbo construir é um exemplo disso: “Nossa empresa vai construir uma nova sede”. Os verbos transitivos indiretos se ligam ao seu objeto por meio de uma preposição, como, por exemplo, o verbo gostar: “Gosto muito de ler e de ir ao cinema”. Conhecimento em ação Um elemento importante para a construção das orações é a preposição. Por isso, você precisa ficar atento aos verbos que são regidos por preposição e usá-la adequadamente com cada verbo. 1. Eu gosto _______ picolé. 2. Zé está conversando _______ uma vendedora. 3. Maria trabalha _______ um escritório muito luxuoso. 4. Eu mandei a encomenda _______ o Canadá. 5. Eu concordo _______ a ideia de Maria, não _______ a de Zé. 6. Zé não conseguiu se adaptar _______ esta nova situação: a mudança de diretoria. 7. A empresa precisa evitar chegar _______ uma situação de endividamento. 8. Os soldados devem obedecer _______ quem estiver em um cargo de oficial. Zoom na informação Orações relativas são orações subordinadas que possuem pronomes relativos – por exemplo, que e quem – em sua estrutura, como vemos em “O cachorro que tem pelos longos atrai muitas pulgas”. A parte sublinhada é uma oração relativa. Eis outro exemplo: “O homem com quem você discutiu no shopping é o pai da sua nova namorada”. Uma característica comum da língua falada, contudo, é a omissão de preposições que fazem parte de orações relativas. Por exemplo, costumamos fazer construções sintáticas como “Duas comidas que a gente nunca enjoa é arroz e feijão”. Contudo, a construção, de acordo com a gramática normativa, é “Duas comidas das quais a gente nunca enjoa é arroz e feijão”, pois quem enjoa, enjoa de alguma coisa. A preposição de é necessária. Note que a omissão da preposição é comum na língua falada e, por isso, é uma característica dela, não é um erro. Mas, na língua escrita escolar, acadêmica e científica, você não deve omitir a preposição. 166 Analise cada uma das sentenças abaixo e, se houver uma oração relativa cortadora, reescreva a sentença colocando a preposição no seu lugar apropriado. 1. O picolé que eu mais gosto é Capelinha. _________________________________________________________________________ 2. A vendedora que Zé conversou ontem está aqui hoje. _________________________________________________________________________ 3. O escritório que Maria trabalha é muito luxuoso. _________________________________________________________________________ 4. O lugar que eu enviei a encomenda é muito longe daqui. _________________________________________________________________________ 5. A ideia que eu concordo é a de Maria. _________________________________________________________________________ 6. A situação que Zé não conseguiu se adaptar foi a mudança da diretoria. _________________________________________________________________________ 7. A situação que a empresa chegou provocou a sua falência. _________________________________________________________________________ 8. As pessoas que os soldados devem obedecer são os oficiais. _________________________________________________________________________ Glossário compulsivo: motivado por uma imposição interna irresistível síndrome: conjunto de sinais e sintomas observáveis em vários processos patológicos diferentes e sem causa específica As definições das palavras desse glossário são adaptações baseadas no Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (HOUAISS; VILLAR, 2001). 167 ção EM Conhecimento em ação Leitura e Produção Textual Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira ção EM Leitura e Produção Textual Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira De olho no ENEM O tema “Saúde e Sociedade” é tão importante que os exames do ENEM de 2010 e de 2011 trouxeram questões a ele relacionadas. Selecionamos duas questões exatamente sobre os cuidados com saúde em nossa sociedade. Resolva-as e, em seguida, leia nossos comentários. Questão 01 (ENEM –2010) Transtorno do comer compulsivo O transtorno do comer compulsivo vem sendo reconhecido, nos últimos anos, como uma síndrome caracterizada por episódios de ingestão exagerada e compulsiva de alimentos, porém, diferentemente da bulimia nervosa, essas pessoas não tentam evitar ganho de peso com os métodos compensatórios. Os episódios vêm acompanhados de uma sensação de falta de controle sobre o ato de comer, sentimentos de culpa e de vergonha. Muitas pessoas com essa síndrome são obesas, apresentando uma história de variação de peso, pois a comida é usada para lidar com problemas psicológicos. O transtorno do comer compulsivo é encontrado em cerca de 2% da população em geral, mais frequentemente acometendo mulheres entre 20 e 30 anos de idade. Pesquisas demonstram que 30% das pessoas que procuram tratamento para obesidade ou para perda de peso são portadoras de transtorno do comer compulsivo. Disponível em: <http//:www.abcdasaude.com.br>. Acesso em: 1 maio 2009 (adaptado). Considerando-se as ideias desenvolvidas pelo autor, conclui-se que o texto tem a finalidade de (A) descrever e fornecer orientações sobre a síndrome da compulsão alimentícia. (B) narrar a vida das pessoas que têm o transtorno do comer compulsivo. (C) aconselhar as pessoas obesas a perder peso com métodos simples. (D) expor, de forma geral, o transtorno compulsivo por alimentação. (E) encaminhar pessoas para a mudança de hábitos alimentícios. Questão 124 (ENEM – 2011) O texto é uma propaganda de um adoçante que tem o seguinte mote: “Mude sua embalagem”. A estratégia que o autor utiliza para o convencimento do leitor baseia-se no emprego de recursos expressivos, verbais e não verbais, com vistas a (A) ridicularizar a forma física do possível cliente do produto anunciado, aconselhando-o a uma busca de mudanças estéticas. (B) enfatizar a tendência da sociedade contemporânea de buscar hábitos alimentares saudáveis, reforçando tal postura. (C) criticar o consumo excessivo de produtos industria- Figura 2 lizados por parte da população, propondo a redução Fonte: http://www.ccsp.com.br (adaptado). desse consumo. (D) associar o vocábulo “açúcar” à imagem do corpo fora de forma, sugerindo a substituição desse produto pelo adoçante. (E) relacionar a imagem do saco de açúcar a um corpo humano que não desenvolve atividades físicas, incentivando a prática esportiva. 168 ção Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Referências AQUINO, Ruth de. O preconceito das Mayaras. Época. São Paulo, 8 nov. 2010, p. 138. AYRES, José Ricardo de Carvalho Mesquita. O cuidado, os modos de ser (do) humano e as práticas de saúde. Saúde e sociedade, v. 13, n. 3, São Paulo, set./dez. 2004. Disponível em: <http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104 12902004000300003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 30 dez. 2011. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. 169 Leitura e Produção Textual Uma coisa que ajuda muito na hora de fazer o ENEM é estar bem informado, ter conhecimentos gerais. Por isso, tente sempre assistir a telejornais e ler jornais e revistas semanais, como a Carta Capital, a IstoÉ, a Época e a Veja. Revistas mensais, como a Superinteressante e a Galileu, são uma ótima fonte de informações também. Fique ligado! EM Siga antenado Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Respostas e Comentários das Questões do ENEM Questão 01 Comentários: O texto claramente apresenta informações gerais sobre o transtorno compulsivo por alimentação. E ele faz apenas isso. Logo, a alternativa correta é a D. A alternativa A não procede, porque o texto não fornece orientações sobre a síndrome da compulsão alimentícia. Além disso, o texto nem aconselha as pessoas obesas a perder peso com métodos simples nem encaminha pessoas a mudança de hábitos alimentícios, logo, as alternativas C e E são inconsistentes. A alternativa B está incorreta, porque o texto não faz nenhuma narração: ele apenas descreve e expõe um fenômeno. Observe que essa questão evidencia a importância de você sempre prestar atenção aos objetivos dos textos que lê. Eles narram, descrevem ou expõem algo? Eles apresentam argumentos a favor de alguma coisa ou tentam levar as pessoas a realizar uma ação? Fique sempre atento a isso. Resposta Correta: D Questão 02 Comentários: A função de um anúncio de um produto comercial é vendê-lo. Ora, nenhum anúncio vai ridicularizar um cliente em potencial ou criticar o consumo excessivo de produtos industrializados. E esse anúncio não é exceção. Logo, as alternativas A e C não procedem. A letra B também não procede, porque o anúncio não fala nada sobre a busca de alimentos saudáveis. A letra E também não tem lógica, porque o anúncio não fala nada sobre prática esportiva. O que o anúncio faz, por meio das palavras e da imagem, é incentivar o não consumo do açúcar, deixando implícito que se deve consumir adoçante. Resposta Correta: D 170 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Leitura e Produção Textual - II Luciana Santos de Oliveira e Luciano Amaral Oliveira Apresentação Olá! O tema desta seção é “Ciência e Tecnologia”, em que propomos atividades de leitura e de escrita para ajudar-lhe a se preparar para o ENEM e outros exames. Discutiremos aqui os estrangeirismos para ampliar seus conhecimentos sobre vocabulário e para você refletir sobre as relações de poder que envolvem a língua portuguesa. Refletiremos também sobre pontos essenciais que devem ser observados na elaboração de uma redação, afim de que aprenda a se autoavaliar em termos de escrita a partir da proposta de redação do ENEM de 2010. E finalmente, comentaremos duas questões do ENEM, uma do exame de 2010 e uma do exame de 2011. Conhecimento em ação Existem palavras que são características de determinadas áreas técnicas. Observe as palavras a seguir e as separe em dois grupos: um de palavras usadas na informática e outro de palavras usadas na gastronomia. back-up / flambar / download / grelhar / deletar / sanduíche / mouse / hambúrguer / hacker / chop-suey / Facebook / sushi / efó / munguzá / e-mail / lasanha / site / acarajé INFORMÁTICA GASTRONOMIA —————————————————— —————————————————— —————————————————— —————————————————— ———————————————————— ———————————————————— ————————————————–——— ———————————————————- Imagem disponível em: <http:// www.allfreeclipart.com/electronics-technology/ computers/Computer3/>. Acesso em: 26 de maio de 2012. Imagem disponível em: <http://www.allfreeclipart.com/ food/burger/>. Acesso em: 26 de maio de 2012. 171 ção EM Leitura e Produção Textual Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Zoom na informação Muito se fala em globalização. Ainda mais agora com o grande avanço das tecnologias da informação. Com elas, em tempo real, sabemos o que acontece no outro lado do planeta e podemos enviar documentos para qualquer lugar do mundo. Podemos ver e falar com as pessoas através de um aparelho de telefonia celular ou um computador. Pagamos um preço maior pela gasolina por causa da briga diplomática entre países produtores do petróleo, como o Irã, por exemplo, e os Estados Unidos. Enfim, o globo está conectado. E isso, acredite, tem consequências para a língua portuguesa. Uma delas é a entrada de palavras de outras línguas em nosso vocabulário. Não há como evitar essa entrada – a não ser que impeçamos que a cultura de um país interaja com a cultura de outro. Conhecimento em ação 1. O texto a seguir aborda a relação entre a globalização, tecnologias e a Língua Portuguesa. Algumas palavras foram retiradas do texto e listadas logo após ele. Leia - o e complete as lacunas com uma palavra adequada da lista. Globalização, tecnologias e Língua Portuguesa Luciano Amaral Oliveira O _______________ Milton Santos nos ensina que a história se desenvolve concomitantemente ao desenvolvimento das técnicas. Após a invenção da _______________, há cerca de 6000 anos, as técnicas humanas impulsionaram a nossa história de maneira irreversível: Gutenberg criou a prensa de tipos móveis por volta de 1450, abrindo o caminho para a produção em _______________ de livros, jornais e revistas; a máquina a vapor, inventada por Thomas Newcomen em 1705, e o tear mecânico, criado por Edward Cartwright em 1785, possibilitaram o advento da revolução _______________, transformando definitivamente a economia do mundo; o avião a jato e o computador contribuíram para que o contato entre diversas culturas se intensificasse de maneira extraordinária. Não é por acaso que Santos (2001, p. 25) afirma que, em nossa _______________, “o que é representativo do sistema de técnicas atuais é a chegada da técnica da informação, por meio da cibernética, da informática, da eletrônica”. 172 Símbolo do cidadão internacional. Imagem disponível em: <http:// commons .wikimedia.org/wiki/ File:World_Citizen_symbol.png>. Acesso em: 22 de jan. de 2012. Há algo estreitamente vinculado às tecnologias da informação: a _______________. E um aspecto da linguagem profundamente afetado pela globalização é o vocabulário. Quanto mais as culturas de países diferentes interagem, mais as línguas desses países interagem, fazendo com que, às vezes, palavras de uma língua sejam apropriadas por outra língua. O _______________ é uma palavra, expressão ou construção sintática tomada de empréstimo de uma língua estrangeira. Ele é um fenômeno linguístico normal a qualquer língua falada por um povo que se relaciona com outros povos que falam línguas diferentes. Contudo, há pessoas que acreditam que os estrangeirismos podem corroer a língua portuguesa, levando-a ao _______________. Ora, esse alarmismo não procede, não faz sentido. Os estrangeirismos não representam nenhuma ameaça a um _______________ nacional. A língua que toma a palavra emprestada se apropria dessa palavra, impondo-lhe mudanças na pronúncia e até na grafia. Ou seja, os estrangeirismos são submetidos às regras do português. Por exemplo, a palavra estresse tem origem na palavra inglesa stress, mas é pronunciada e escrita de acordo com as regras do português. Muitos brasileiros, inclusive, não sabem que a origem dela é estrangeira. Vale lembrar que o português brasileiro é resultado da interação do português europeu com línguas indígenas e africanas. Para essa interação, contribuíram palavras de origem árabe, espanhola, francesa, italiana e inglesa que surgiram de áreas de conhecimento distintas, como a culinária, a música e a informática. Se o português brasileiro tivesse de desaparecer por conta da presença de palavras oriundas de outras línguas, ele não existiria mais. Portanto, não precisamos nos _______________ por causa de palavras de origem estrangeira. Vamos continuar navegando na Internet, fazendo downloads, deletando coisas chatas das nossas vidas e dançando axé music nos shows do Bahia Café Hall. (a) estressar (b) idioma (c) desaparecimento (d) estrangeirismo (e) linguagem (f) efeitos (g) tecnologias (h) época 173 (i) industrial (j) massa (k) roda (l) geógrafo ção EM Milton Santos está certo. As informações circulam a uma velocidade muito alta graças às novas _______________ disseminadas pela globalização. É por essa razão que se fala hoje da globalização como se a ela se atribuísse uma onipresença quase mítica. Se há um problema na economia norte-americana, _______________ são imediatamente sentidos nas bolsas de valores na Europa e na América Latina. Se um terremoto ou um ciclone ocorre em um país da Oceania, isso é divulgado em tempo real para a África e para a Ásia. Leitura e Produção Textual Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira ção EM Leitura e Produção Textual Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 2. Qual a definição de estrangeirismo fornecida no texto? _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 3. O autor afirma que os estrangeirismos não representam nenhuma ameaça para a existência da língua portuguesa. Que razões ele dá para sustentar essa afirmação? _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 4. Qual a sua posição a respeito dos estrangeirismos após ler esse texto? _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ Siga antenado A redação é uma parte muito importante no ENEM. Por isso, acesse os vídeos disponíveis no youtube.com, nos links que seguem, e veja dicas importantes sobre a redação. O primeiro link dá acesso a uma entrevista com um professor de português e o segundo e o terceiro links dão acesso a aulas específicas sobre a redação. Fique antenado. (1) http://www.youtube.com/watch?v=1NpytBjVEPs (2) http://www.youtube.com/watch?v=HNRZEPc9z9M&feature=related (3) http://www.youtube.com/watch?v=Ht2xXsfk1R4&feature=related 174 Para se fazer a redação do ENEM, é essencial ter o que dizer. Por isso, assistir a telejornais e ler jornais e revistas semanais é de suma importância para a construção dos nossos conhecimentos gerais. Agora, pare e pense um pouco: você tem assistido a telejornais e tem lido jornais e revistas (impressos ou on-line)? Se não tem, comece logo a fazer isso. Se tem, continue assim. Conhecimento em ação Você agora irá fazer a redação do ENEM-2011. Para isso, siga os passos: (1) (2) (3) (4) (5) Leia, com muito cuidado e atenção, a proposta de redação. Se você não entendê-la, poderá fugir do tema, portanto, caso seja necessário, faça uma releitura. Não gaste muito tempo lendo os textos motivadores. Não use os dados e sentenças dos textos motivadores na sua redação. Faça o rascunho. Escreva o texto definitivo. Redação – ENEM 2011 PROPOSTA DE REDAÇÃO Com base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema VIVER EM REDE NO SÉCULO XXI: OS LIMITES ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO, apresentando proposta de conscientização social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. TEXTOS MOTIVADORES Liberdade sem fio A ONU acaba de declarar o acesso à rede um direito fundamental do ser humano – assim como saúde, moradia e educação. No mundo todo, pessoas começam a abrir seus sinais privados de wi-fi, organizações e governos se mobilizam para expandir a rede para espaços públicos e regiões onde ela ainda não chega, com acesso livre e gratuito. ROSA, G.; SANTOS, P. Galileu. Nº 240, jul. 2011 (fragmento). 175 ção EM Reflexão para ação Leitura e Produção Textual Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira ção Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Leitura e Produção Textual EM A Internet tem ouvidos e memória Uma pesquisa da consultoria Forrester Research revela que, nos Estados Unidos, a população já passou mais tempo conectada à Internet do que em frente à televisão. Os hábitos estão mudando. No Brasil, as pessoas já gastam cerca de 20% de seu tempo on-line em redes sociais. A grande maioria dos internautas (72%, de acordo com o Ibope Mídia) pretende criar, acessar e manter um perfil em rede. “Faz parte da própria socialização do indivíduo do século XXI estar numa rede social. Não estar equivale a não ter uma identidade ou um número de telefone no passado”, acredita Alessandro Barbosa Lima, CEO da e.Life, empresa de monitoração e análise de mídias. As redes sociais são ótimas para disseminar ideias, tornar alguém popular e também arruinar reputações. Um dos maiores desafios dos usuários de Internet é saber ponderar o que se publica nela. Especialistas recomendam que não se deve publicar o que não se fala em público, pois a Internet é um ambiente social e, ao contrário do que se pensa, a rede não acoberta anonimato, uma vez que mesmo quem se esconde atrás de um pseudônimo pode ser rastreado e identificado. Aqueles que, por impulso, se exaltam e cometem gafes podem pagar caro. Disponível em: http://www.terra.com.br. Acesso em: 30 jun. 2011 (adaptado). INSTRUÇÕES - O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado. - O texto definitivo deve ser escrito à tinta, na folha própria, em até 30 linhas. - A redação com até 7 (sete) linhas será considerada “insuficiente” e receberá nota zero. - A redação que fugir do tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo receberá nota zero. - A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de Questões terá o número de linhas copiadas desconsiderado para efeito de correção. 176 É importante que você saiba avaliar seu próprio texto. Por isso, siga o guia de autoavaliação sugerido a seguir para avaliar a redação que você escreveu na atividade anterior, Conhecimento em ação. O guia é composto de perguntas e sugestão de ação. (1) O texto aborda o tema proposto? SUGESTÃO: Em caso negativo, fazer um novo texto. (2) Há fugas pontuais do tema? SUGESTÃO: Em caso afirmativo, retirar os trechos que fogem do tema e refazer os parágrafos onde eles se encontravam. (3) A linguagem usada é adequada para o gênero textual em questão? SUGESTÃO: Em caso negativo, substituir as palavras e expressões inadequadas por outras adequadas. (4) Todos os pronomes usados no texto fazem referência clara a elementos do texto ou a elementos fora dele que são facilmente identificados? SUGESTÃO: Em caso negativo, substituir o pronome que não estabelece uma referência clara por substantivos ou locuções substantivas. (5) Todas as sentenças estão completas ou há fragmentos oracionais? (Lembre-se de que fragmento oracional é um pedaço de oração, ou seja, não possui sujeito nem verbo principal.) SUGESTÃO: Se houver fragmentos oracionais, complete-os com os termos que estiverem faltando ou torne-os parte da sentença anterior ou da sentença subsequente. (6) As concordâncias entre substantivos e adjetivos e entre sujeito e verbo estão adequadas? SUGESTÃO: Em caso negativo, fazer as devidas correções. (7) A pontuação, a acentuação das palavras e a grafia das palavras estão corretas? SUGESTÃO: Em caso negativo, fazer as devidas correções. Ao final, da autoavaliação, converse com seu professor sobre seu desempenho. E se você achar que precisa melhorar algum aspecto da sua escrita, peça sugestões a ele. Glossário flambar: aspergir alimentos com bebida alcoólica, como conhaque ou rum, que, em seguida, se queima sushi: bolinho de arroz, típico da culinária japonesa, feito com vinagre, envolvido em folha de alga e ornado com finas fatias de peixe cru. (As definições das palavras desse glossário são adaptações baseadas no Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (HOUAISS; VILLAR, 2001)). 177 ção EM Reflexão para ação Leitura e Produção Textual Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira De olho no ENEM Leitura e Produção Textual EM ção Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Questão 01 (ENEM – 2010) A Internet que você faz Uma pequena invenção, a Wikipédia, mudou o jeito de lidarmos com informações na rede. Trata-se de uma enciclopédia virtual colaborativa, que é feita e atualizada por qualquer internauta que tenha algo a contribuir. Em resumo: é como se você imprimisse uma nova página para a publicação desatualizada que encontrou na biblioteca. Antigamente, quando precisávamos de alguma informação confiável, tínhamos a enciclopédia como fonte segura de pesquisa para trabalhos, estudos e pesquisa em geral. Contudo, a novidade trazida pela Wikipédia nos coloca em uma nova circunstância, em que não podemos contar integralmente no que lemos. Por ter como lema principal a escritura coletiva, seus textos trazem informações que podem ser editadas e reeditadas por pessoas do mundo inteiro. Ou seja, a relevância da informação não é determinada pela tradição cultural, como nas antigas enciclopédias, mas pela dinâmica da mídia. Assim, questiona-se a possibilidade de serem encontradas informações corretas entre sabotagens deliberadas e contribuições erradas. NÉO, A. et al. A Internet que você faz. In: Revista PENSE! Secretaria de Educação do Estado do Ceará. Ano 2, no. 3., mar-abr. 2010 (adaptado). As novas Tecnologias de Informação e Comunicação, como a Wikipédia, têm trazido inovações que impactaram significativamente a sociedade. A respeito desse assunto, o texto apresentado mostra que a falta de confiança na veracidade dos conteúdos registrados na Wikipédia (A) acontece pelo fato de sua construção coletiva possibilitar a edição e reedição das informações por qualquer pessoa no mundo inteiro. (B) limita a disseminação do saber, apesar do crescente número de acessos ao site que a abriga, por falta de legitimidade. (C) ocorre pela facilidade de acesso à página, o que torna a informação vulnerável, ou seja, pela dinâmica da mídia. (D) ressalta a crescente busca das enciclopédias impressas para as pesquisas escolares. (E) revela o desconhecimento do usuário, impedindo-o de formar um juízo de valor sobre as informações. 178 ção Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira A história da tribo Sapucaí, que traduziu para o idioma guarani os artefatos da era da computação que ganharam importância em sua vida, como mouse (que eles chamam de angojhá) e windows (oventã): Quando a Internet chegou àquela comunidade, que abriga em torno de 400 guaranis, há quatro anos, por meio de um projeto do Comitê para Democratização da Informática (CDI), em parceria com a ONG Rede Povos da Floresta e com antena cedida pela Star One (da Embratel), Potty e sua aldeia logo vislumbraram as possibilidades de comunicação que a web traz. Ele conta que usam a rede, por enquanto, somente para preparação e envio de documentos, mas perceberam que ela pode ajudar na preservação da cultura indígena. A apropriação da rede se deu de forma gradual, mas os guaranis já incorporaram a novidade tecnológica ao seu estilo de vida. A importância da internet e da computação para eles está expressa num caso de rara incorporação: a do vocabulário. – Um dia, o cacique da aldeia Sapucaí me ligou. “A gente não está querendo chamar computador de ‘computador’”. Sugeri a eles que criassem uma palavra em guarani. E criaram aiú irú rive, “caixa pra acumular a língua”. Nós, brancos, usamos mouse, windows e outros termos, que eles começaram a adaptar para o idioma deles, como angojhá (rato) e oventã (janela) — conta Rodrigo Baggio, diretor do CDI. Disponível em: http://www.revistalingua.uol.com.br. Acesso em: 22 jul. 2010. O uso de novas tecnologias de informação e comunicação fez surgir uma série de novos termos que foram acolhidos na sociedade brasileira em sua forma original, como: mouse, windows, download, site, homepage, entre outros. O texto trata da adaptação de termos da informática à língua indígena como uma reação da tribo Sapucaí, o que revela (A) a possibilidade que o índio Potty vislumbrou em relação à comunicação que a web pode trazer a seu povo e à facilidade no envio de documentos e na conversação em tempo real. (B) o uso da Internet para a preparação e envio de documentos, bem como a contribuição para as atividades relacionadas aos trabalhos da cultura indígena. (C) a preservação da identidade, demonstrada pela conservação do idioma, mesmo com a utilização de novas tecnologias características da cultura de outros grupos sociais. (D) adesão ao projeto do Comitê para a Democratização da Informática (CDI), que, em parceria com a ONG Rede Povos da Floresta, possibilitou o acesso à web, mesmo em ambiente inóspito. (E) a apropriação da nova tecnologia de forma gradual, evidente quando os guaranis incorporaram a novidade tecnológica ao seu estilo de vida com a possibilidade de acesso à Internet. 179 Leitura e Produção Textual Palavra indígena EM Questão 02 (ENEM –2011) ção EM Leitura e Produção Textual Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Referências HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. SANTOS, Milton. Por uma nova globalização: do pensamento único à consciência universal. 6. ed. Rio de Janeiro: Record, 2011. 180 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Respostas e Comentários das Questões do ENEM Questão 01 Comentários: O texto nos informa sobre a enciclopédia virtual Wikipédia e o ponto mais relevante para a resolução da questão é o fato de qualquer pessoa no mundo poder inserir informações na Wikipédia. Isso faz com que sua credibilidade seja questionada, que não haja muita confiança na veracidade das informações que oferece aos usuários. A alternativa B não procede, porque não há nenhuma menção, no texto, sobre limitação da disseminação do saber. A alternativa C também não procede, porque a facilidade de acesso à página não tem nada a ver com a veracidade das informações. A alternativa D não tem sentido pelo fato de o texto não dizer nada a respeito de uma crescente busca das enciclopédias impressas para pesquisas escolares. Pelo contrário, exatamente por dar foco à Wikipédia, o texto deixa transparecer uma provável diminuição nessa busca. Finalmente, a alternativa E não procede, porque o texto não fala absolutamente nada a respeito de um suposto desconhecimento do usuário. Resposta Correta: A Questão 02 Comentários: Apesar de informar sobre a introdução de novas tecnologias de comunicação e informação em uma comunidade indígena e sobre todas as facilidades que a Internet pode proporcionar aos seus usuários, o texto procura evidenciar a preocupação manifestada pelos índios guaranis em preservar sua cultura através de seu idioma. Aliás, o título do texto já anuncia seu assunto principal. Dessa forma, está correta a alternativa C ao afirmar que o texto revela a preocupação da referida comunidade indígena em preservar sua identidade cultural através da conservação de seu idioma. As demais alternativas são julgadas improcedentes, uma vez que tratam dos usos que os indígenas fazem da Internet ou da forma como aderiram a essa tecnologia. Resposta Correta: C 181 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 182 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira Impressão e acabamento egba Empresa Gráfica da Bahia Rua Mello Moraes Filho, nº 189, Fazenda Grande do Retiro CEP: 40.352.000—Tels.: (71) 3116-2837 / 2838 / 2820 Fax (71) 3116-2902 Salvador—Bahia 183 Secretaria de Educação do Estado da Bahia / Instituto Anísio Teixeira 184