Temas em Psicologia da SBP-2000,Vol Bn' J,281-299
ISSNU13-lB9X
Psicologia social.
representações sociais e métodos
C lélia Maria Nascimenlo-Sehub:e e Rrigido Vi:r.eu Camargo
uョゥBL・イセG、。@
Federal de Santa Catarina
Resumo
Este artigo visa contribuir para o debate sobre alternativas metodológicas no estudo das representaçõcs
sociais situando a di,cussào num contexlO da pesquisa em psicologia social. Numa primeira parte,
」ッュ[ゥ、・イ。MAウセ\ォエャᅮァェLョオーZコ@
as abordagens
qualitath'as e quantitativas. A discussão que se estende aos métodos da psicologia social aborda qucstõc ..
como: objctividadc,conlrolc,intcrprc13çlio c cxplicação Nwua segunda parte • partieular atenção é dada à
milizaçi'lodomatcrialtcxrual(cscritoouprovcnientedafala)enquantoindicadorempiricodasrepresentaçõ<:s
sociais. Discute-se o estatuto do matcrialtcxtual no comexto da análise du discurw. Condui-se sobre a
metodológicas considL-radas atrelada, au nivd de 」ッョィBゥュセエ@
sohre a tcmática
pertinência das ッセQ|」ウ@
」ウゥオ、。L¬アエ ̄ッー¢{■ュャセNjイコ@
pゥャョウᄋ」「。ZイーエNッュ←、アオカ
L ュ←エッ、アオN。ャゥカLョZQセ・ク@
Socialpsychology,sDcialrepresentationandmethDds
Abslnct
The present anicle aims ai contributing to lhe debale on alternative ュ」エィッ、Nセ@
for the study of social
represcntation. Firstofall. diffcN:m options on Úlc study ofsocial イ」ーウセGtャエ。ゥッョ@
are de&<:ribed and the
セHIcゥ。ャ@
psychology
qu.alitati\'e and quamitativc methods are diffcremiated. Thc discussion, including 。ャセッ@
melh"ds, deals Wilh: ohjecti\'ity.cnmrol, imcfJlretation and cxplanation.lnthc se<:ond part, particular
aucntionisgivcntothcu.'l.agcofthclcxtualmatcrialasanempiricalindicatorofsocialrcpresentation,anda
distinction belwcen the contcnt analysis and discourse is presented. Th e appropriatcncss of cach
methodologicalchoicemustbesccnas rclatcdlothclcvclofknowledgethethemestudied.tolheresearch
goal and final1y, 10 lhe complc:<ity ofthc thcordical ヲュセキッイォ@
used
IITWOlds:socialrepresell1ation,quantitativemethod,qualitati\crnethod,iexiu.alanaly,is
Esta primeira parte ousca identificar os
diferentes enfoques metodológicos utilizados nas
pesquisasemrcpresentaçõcssociais assimeomona
pesquisa em psicologia social em geraL Há também
uma tentativa 、・」。イエゥキュャMョウ¢ッーセᆳ
cial situando a discussão dentro de um panorama da
」ゥB[ョ。オエ・ューッイセN@
Representações sociais e opções meladohigicas
Duas orientações se destacam quando buscamos
caracterizar as pcsquisas c os estudos cmrepresentaçõcssociais: uma voltada para as questões culturais e
histótieas,qucbuscaoompreenderosproceswsque
geram e mantém 81; representaçõcs vivas nas interações
Endcreçopam cOTTe!ipondência: Laboratóriodc Psicossociologia da Comunicaçii() e da Cognição Social- LACCOS - Centro
de Filosofia e Ciências Humanas, UFSC, Campus Universitãrio Trindadc. セXPTM_o@
Florianópoli,-SC. Tc!. (04R) 331 9()(j7
fax: (048) 3319751 , e-mails: brigidocamargo@hol .com.hr/cleli@matrix.com.br Homepage: www.dh.ufsc.hr/_laccos
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entre os individuos e grupos sociais, e OUIrn orientação
mais voltada para as questõcs estruturais dasrcprescntações sociais, compartilhadas tanto em nível cognitivo
quantolingüistico.
Estas duas onentalj'õcs sugerem abordagens
metodológicas que dêem conta seja das caracteristicas
mais processuais seja uas mais estruturais uoobjeto
em escmlinio. Assim, a orientação voltada para os
ーイッ」・セウ@
envolvidos na gênese das representaçõcs
sociais, recorre a rnclodologias que pennitam uma
descrição de como tais processos se iniciam e operam
num contexto especifico. Já a orientação estrutural,
como por exemplo a teoria do núcl eo central de Abric
(1994), se utiliza freqüentemente do método
experimental sempre que se faz necessário o detaIhamento de a\guma re1ação entre os conceitos tcóricosestudadns.
Alérn dessas oricntaçõcs, deve-se considerar o
níve1 decomph:xidade dos fenumenos investigados
pclateoria das representaçõcs sociais. Busca-se dar
atenção ao contexto do estudo, mas também à diversidade de olhares e vozes que caracterizam os grupos
sociais relevantes para o estudo de detenninadas
representações. Jodelet(1989a)defende a idéia de qu e
as escolhas metodológicas devam estar identifkadas
com as condiçõcs sob as quais as rcprcselllaçõcs
sociais emergem e funcionam. A escollia de uma
metodologia diversificada pode contribuir para cercar
a complexidade do fenômeno estudado.
Wagner (1998), define as representações
sociais como uma forma de enITentamento simbólico,
que visa domesticar fatos brotos da realidade com o
objetivo de dominar o desconhecido ou o não familiar.
Segundo ele, a representação social pode ser vista
como o ato de construÍr objetos sociais através da
interação social e, cnquanto conceito, envolve tanto a
atividade discursiva quanto a atividade abcrta e
cxprcssa. Para o autor, ação e fala sãopartc integral da
representação, embora ocorra freqüentemente que os
pesquisadores optem porestudar apenas elementos da
fala ou do texto ao desenvolverem seus planos
metodológicos. A investigação de Jodelet (l989b)
sobre a loucura, pode ser mencionada como um
exemplo de estudo em qu e tanto o significado
transmitido pela fala quanto a ação contextualizada
são considerados ao analisar o fenômeno estudado.
Em um artigo voltado para a teoria c método
das representaçõcs sociais (Wagner e cols., 1999),
são apresentados seis exemplos de pesquisa empírica
sobre representações sociais que consideram desde a
observação etnográfica até a experimentação de
laboratório:
I Duveen c Lloyd, se utilizam do método
etnográlko para descrever a ontogêncse de
gênero rom crianças da pré-cscola e em fase
escolar. Concluem que a perspectiva das
representações sociais lhes pennitiu capturar a
complexidade do processo de desenvolvimento
da identidade de gênero nas crianças, sendo que
tal abordagem também lhes pcmlitiu clarear
a<;pectos do processo de desenvolvimento das
propriasrcprc5CnlaçÕCsenquantoeoneeito.
2 Jovchelovitch, se uti\izou de entrevistas,
gruposfocaisematerialdamidia, paraacessar
as representações sociais sobrt' a esfera
publica em espaços públicos. Tal abordagem
lhe permitiu chegar a categorias de análise
produzidas pelos leigos e que contemplavam
estruturas culturais, sociais e históricas da
・ウヲョャー「ゥ」セ@
3. Rose analisou a contribuição da mídia, na
Inglaterra. na divulgação de temas como a
loucura ea doença mental. Através de uma
estrutura de codificação, observou em detalh e
programas deteJevisão, chegando à estrutura
e significado do objeto em questão. Discutiu o
papcl central qucos estudos de rcprcsentaçõcs
sociais ocupam enquanto guias para a
elaboração de policias públicas.
4. Lorenzi-Cillldi, descreveu um estudo sobre as
concepções de androginia no cotidiano,
utilizando-sedeummétododeassociaçi'iolivft:
de palavras. As respostas foram submetidas a
uma análise de correspondência lexical. Este
tipodcanáliscdcsvendouprincipioscstruturais
dasrcprcscmaçõcsdcandroginia
5. Markova, apresentou um estudo sobre as
representaçõcs sociais da democraeia, por
parte de cidadãos dc países que passamm pcl0
regimc comunista. O estudo se utilizou de
questionários mas também de entrevistas e
li!
grupos de discusslio na coleta de dados.
Utilizou-se de análises do ti(X'l quantitativo
envolvendo duas gerações de sujeitos dentre os
2.600 respondentes. Os resultados evideneiam
a contribuiçlio da teoria das representações
sociais no estudo de macro fenômenos,
demonstrando uma forte relaçllo entre as
representações sociaiseos valores tradicionais
jápresentesantcs do domínio soviético
6. Wagner, (X'Ir sua vez, relatou um estudo experimental em que testou o uso de metáforas,
com sujeitos austríacos, na apresentaçlio de
conteúdos científicos como o processo natural
da concepçllo e a intcraçllo entre o óvulo e o
espermatozóide. No delineamento experimental do tipo 2 X 2, as comparações metafóricas foram cruzadas com duasdimensõcs
l:Tll que variavam os atores envolvidos. Os
resultados acusaram uma relaçllo entre
atribuições de masculinidade ao espennatozóide e de feminilidade ao óvulo e o nível de
conservadorismo dos sujeitos. Concluiu·se
que o uso de metáforas num contexto experimentai evidenciou seu papel importante
enquanto facilitadora na apropriaçllo de
」ッョセ・、ウ@
científicos (X'Ir parte de leigos.
Os exemplos apresentados acima scrvem tanto
para ilustrara diversidade de métodos utilizados no
estudo das representações sociais, como para
introduzir a idéia de que as pesquisas na área
apresentam um caráter inovador no que tange a
escolha e o desenvolvimento de metodologias
apropriadas a cada objeto especifico. Os quatro
primeiros estudos seguem abordagens metodológicas
consideradas como qualitativas, sendo quc os tres
últimos podem ser vistos como tendo uma orientaçllo
que privilegia dados e tratamentos quantitativos.
Flick (2()()1), em um livro dedicado a Serge
Moscovici, discute a abordagem qualitativa no
estudo das representações sociais. Segundo ele,
$erge Moscovici inaugurou uma "psicologia social
interpretativa" ao longo de seu programa de estudos
sobre reprcscnlaçõcs sociais.
A teoria das representações sociais surge num
estágio da modernidade caracterizado por wna marca-
da individualização dos estilos de vida (Beck, I992 ).
Identifica-se que neste estágio, as ciências sociais
abandonam as grandes narrativas buscando narrativas
situacionalmentecircunscritas.Asrápidasmudanças
sociaiseadiversiticaçliodosestilosdevida(Giddens,
1991) confrontam os pesquisadores com novos
contextos e perspectivas de análise dos ft:nômenos
sociais. Flick (2001) argumenta que os programas de
estudos sobre representações sociais podem auxiliar
ospcsquisadoresaidentificardiferentesvisõcseinterpretações da realidade social em mudança, já que a
preocupação dos teóricos em representação com as
teoria;; do senso oomwn necessariamente voltam seus
olhares para os elementos da vida cotidiana compartilhada.
Flick reeonhcçe que os pesquisadores slio
frequentemente confrontados com tópicos que sllo
muito mais complexos do que os métodos disponíveis
para abordá-los. A abordagem qualitativa dcscnvoh'e
delineamentos metodológicos que buscam ser
suficientemente abertos para fazer justiça à
complexidade dos tema;; atuais. Nesta abordagem, os
fenômenos nlio sllo fragmentados em variáveis
simples ma;; são estudados na sua totalidade. Este
autor argumenta que tanto a subjetividade do
pesquisador quanto daqueles que slio eSlUdados,
fazem pane do processo de pesquisa e nesta óptica,
busca-se çompreender o fenômeno no seu interior.
Caberegisu-araqui que se estamos de acordo
com alguns pressu(X'lstos da teoria das reprcscntações
sociais como: a nlio ruptura entre mundo interno e
extemo; a ausência deseparaçlio entre os sujeitos que
representam e o objeto representado; a (X'Issibilidade
de incluslio da visão de mundo do pesquisador na
COlistruçlo do objeto de pesquisa e o fato de nllo
vennos um antagonismo entre a constatação dos
dados empíricos observáveis e a aeeitaçlio da
realidade como sendo simbolicamente construída pela
sociedade; também aceitamos o pressuposto de que os
dados das investigações sejam coletados e analisados
buscando-sc wna objetividade.
Pelo próprio objetivo de desvendar o senso
comum, os trabalhos inspirados pela teoria da;; representaçõcs sociais correm orisco de ter os pressupostos do investigador confundindo-se com a;; representações sociais dos grupos estudados. Assume-se que
'lO
C.M.lmilllt..Scblllll.Y,Clulll
aobjctividadepossasera1cançada através da discussâo aberta com os parcs qU3lldobuscam-se explica-
çõeseinterprctaçõcsallcmativas.
Wallcrstcin c cols. (1996),auxiliam aposição
aqui defendida quandoaf1ffi1am que:
"O fato de o conhecimento ser
socialmente construído significa também
que é socialmente possível haver um
conhecimento mais válido. O reconhecer-se
asbascssociaisdoconhccimcnto,emnada
contradiz o conceito de objetividade. Pelo
contrário,defendemosquea rcestruturnção
das ciências sociais de que aqui falamos é
capaz de aOOlcntar essa possibilidadc, dcsdc
que se tome em consideração as criticas
feitas à prática do passado e que erijam
estruturas mais autcnticamcntcpluralistas c
universais"(p.132)
Metodos epsicologia social
o
debate iniciado
chcgaraevidênciasqueestejamabertasparaainvestigação pílblica, possibilitando assim que os estudos
possam ser criticados eemalgunscasosaté replicados. Desta forma, o dcsenvolvimenlo das teorias psicossociaisesttacalcadonasevidênciasdedadosempiricos. Tradicionalmente, no processo do desenvolvimento destas micro teorias, o psicólogo social tem se
utilizado de evidências obtidas na experimentação. O
termo "micro" é utilizado no sentido de evidenciar o
escopo mais localizado de cada uma das teorias mencionadas. Dentre estas, a teoria das repn:sentações sociais(Moscovici,1976e1981)eatcoriadaidcntidade
social (fajfel e Tumer, 1986), destacam-se como
exemplos de teorias integradoras, que se aproximam
de um nível de análise mais sociológico.
Considerando que a experimenta'i'ão de
laboratório tem tradicionalmente sido o método
uti1i7..adopclos psicólogos sociais na construiYãodas
teorias acima mencionada, Tajfel, ao arrolar os
métodos mais usados na psicologia social da época,
organizou-os em tomo de uma 、ゥュ・ョウセッ@
de controle
c:xercidopelo pesquisador(1978,p. 41).
acima, no âmbito da
pesquisa em representações sociais, se estende à
grandeàrea da psicologia social e nesta seção do
trabalho, traremos eontribuições que nos auxiliariío
aaprofundã-lo
Uma das caracteristicas marcantes dapsieologiasocial tem sidoade fomecer micro-teorias que siío
instrumentais para a descrição e previsão do comporlamento social. Como exemplos podemos mencionar
as teorias de atitudes, de tomada de decisão, das minoriasativas, de rclaçõcsintcrgrupais, de representaçõessociais, da atribuição de causalidade, dafonnação de impressões, da comparação social, de autocategorização, entre outrns (Ver, Ilewstone, Stroebe,
Codol,eStephensonI989;MoscoviciI984; Scçordc
Backman, 1964; Vala e Monteiro, 1993). Os psicólogos sociais responslÍveis pelas teorias supra citadas
esforçaram-se em fonnulá-las o mais dara e explicitamente possível, evitando explicar eventos semelhantes através de princípios contraditórios, e buscando cobrir uma amplirude de fenômenos em vez de se
basear em diferentes explicações ad hoc. Busca-se
Alto controle
8aixoconlrole
E;o;perimelllo de laboratório
Expcrimclllo dc campo
Expcrimcntonatural
Survcy
Obser... açàocontrolada
Observação participante
qオセ、イッ@
I. Rcpresemação esqucmatlca dos mvcls dc
contro1cna cxperimemação.
t importante enfatizar aqui que todos os
métodos levantados por Tajfcl são métodos
empíricos, e assim, o experimento de laboratório
seria uma sub-classe da categoria "pesquisa
cmpírica" e não um sinônimo da mesma, e tanto a
observação como a s"rvey também podem ser
qualificadas como formas alternativas de pesquisa
empmca.
Tajfel (1978) considera que essa dimensão do
controle exercido pelo pesquisador, relativa aos
métodos acima mencionados, está diretamente
relacionada com o quão real a situação de estudo
parece ao sujeito. O que parece ocorrer é que quanto
maior é o controle exercido pelo investigador na
escolha de uma metodologia., tanto mais artificial
será a situação e menor será "o impacto de realidade"
da mesma. Por outro lado, quanto menor o controle
exercido pelo pesquisador sobre a situação, tanto
maior o "impacto de realidade" desta metodologia
sobre o ator em questão e conseqüentemente, mais
espontaneamente ele estará agindo.
No caso do experimento, poderia ser considerado o método indicado por excelência no
desenvolvimento de teorias que carecem do suporte
empírico, sendo adequado para o teste de hipóteses
mais refinadas, servindo como uma ferramenta que
auxilia no exame das relações entre conceitos
relevantes que podem refutar ou fortalecer ullla
detenninada teoria. Todavia, se aceitamos que o ator
social é consciente de sua participação numa
determinada situação experimental e que pode
escolher alternativas de ação, ele poderá omitir
aspectos vitais para a compreensão de um fenõmeno.
Ou então, o próprio experimentador poderá estar
exercendo demandas ou pressões que levam o ator a
buscar agradá-lo, e não a agir como nonnalmente O
faria.
A contribuição para uma reflex1lo sobre os
métodos corresponde a uma época especifica em que
o ideal cientifico enfatizava a explicação dos
fen6menossociaise o empreendimento central dos
pesquisadores era o de criar teonas com um alto
poder explicativo. Atualmente, muitos psicólogos
sociais têm privilegiado, em seus trabalhos de
pesquisa, uma oricntaçlio mais qualitativa, que busca
a compreensão em profundidade dos fenõmenos
estudados.
Bauer e Gaskell (2000) trazem uma importante
contribuição neste sentido, em um livro por eles
organizado, em que fazem urna revisão bastante
atualizada dos métodos utilizados na pesquisa social
abordando não apenas as novidades metodológicas
dentro do enfoque qualitativo, mas também o
quantitativoeasdiferençasentreosdois. Alérndos
estudos com questionários e entrevistas, consideram
diferentes modalidades de textos assim como som e
imagem, enquanto fontes de dados,
Estes autores reconhecem quatro dimensões
metodológicas na pesquisa social e assumem que o
processo de pesquisa pode combinar elementos ao
longo destas dimensões que seguem abaixo:
I. Os principios do delineamento da pesquisa,
onde incluem os estudos de caso, estudos
comparativos, levantamentos com
amostragem, experimentos, observação
participante e emografia,
2, A oblellção de dados, onde consideram a
entrevista individual, o questionário, os
grupos focais, filmes, vídeos, observação
sistemáticB,coletadedocumentosegravação
de sons.
3. A análise dedados, que se subdivide em análise
fonnal e informal. A formal envolve os
modclosestatísticoseasanálisesestruturais.A
informal envolve análise de conteúdo, a
indexação, a análise semiótica, a análise da
retórica ea análise do discurso,
4. O interesse do collhecimelllQ, que se refere às
tradições dos cientistas que podem ser
identificadas em três categorias: controle e
predição, construçi'lo de consenso e
emancipação e poder (empowermcllt) (Bauer e
Gaskell,2000).
Os autores admitem que muitas confusões
ocorrem quando se busca distinguir entre pesquisa
quantitativa e qualitativa. Isso ocorre porque as
dimensões de evocação e análise de dados, são
confundidas com o delineamento do estudo e o
interesse de pesquisa
Afirmam que é possível conceber um delineamento experimental que envolva urna entrevista
como forma de evocação dos dados, Ou cntão um
estudo de caso, pode incorporar um questionário usado em pesquisas do tiposurvey e ainda envolver técnicas de observação. Os autorcs sugerem que asquatTO dimensOes mencionadas sejam consideradas
como sendo escolhas relativamente independentes, e
que a decisão sobre o método ser considerado quanti-
m
tativoouqualitativosejarelativaaobtem;:ãodedados
e aos métodos de análise e somente secundariamente
relativa ao delineamento da pesquisa c aos interesses
da pesquisa.
Bauere g。Nセ
ォ ・ャ@
(2000) ainda argumentam que
não podemos pensar em quantifkar sem qualificar, e
que necessitamos ter uma noção prévia de distinções
qualitativas entre categorias sociais antes de nos
propormos a medi-Ias. Além disso, as análises
estatísticas carecem do processo da interpretação
uma vez que os dados não falam por si mesmos
Se examinannos cada um dos métodos considcrados acima (Tajfel, 1978, Baucr e Gaskell, 2(00)
lodos parecerão adequados em alguns aspectos e inadequados em outros. Não se trata de criticar um
determinado método em pal1icular, mas sim de se
considerar a sua pertinência e utilidade na busca de
explicações, respostas ou interpretações dadas a
partir de um problema de pesquisa. Desta perspc:cIÍva, nenhum método poderá isoladamente resolver
todos os problemas relacionados á pesquisa empesquisas empíricas partem de
pírica. dゥヲセ・ョエウ@
distintas posturas teóricas ou até mesmo da ausência
de um marco teórico mais definido, e esses aspectos
devem ser levados em conta quando se faz uma
opção metodológica. Observações são mais adequadas para se responder a queslões ingênuas e sem
suporte teórico. Num outro extremo, a experimentação parece ser a ferramenta mais adequada para se
testar afinnações e relações conceptuais que buscam
explicar certos fenômenos. Concluindo, a força c a
sofisticação metodológica da psicologia social
repousa não em um l.Ínico mélodo de pesquisa, mas
numa variedade de métodos disponiveis a serem
utilizados.
omaterialtutual como indicador de
represenlaçõeS SDciais
Na segunda parte deste trabalho vamos considerar aspectos metodológicos, relativos a utilização
da linguagem como indicador de representações
sociais, que envolvem sobretudo os métodos de
survey, observação controlada e delineamenlos
t, 1II.llSci...セウョャ「N@
r. セQッゥjYi@
quasi-experimentais de campo, onde a linguagem
natural passa a ser considerada demodosistematicoe
padronizado.
Apontaremos alguns problemas na uti1i7.ação do
material textual nos estudos de representações sociais e
consideraremos dois modos, complementares, de
análise destc tipo dc material quc têm sido difundidos
recentemente entre nós (análise de evocação e de
associação dc palavras, e análise hiedrquica
descendente de segmentos de texto). O lermo
"indicador", empregado no subtítulo para designar a
relação cmpirico-tcórica no esrudo das representações
sociais, foi explicitado por Lazarsfeld (1965)
A natureza do fenõmrno das RS e os recursos
teóricos que procuram apreendê-lo conferem limites
para a utilização de material textual como indicador
desta produção simbólica coletiva. A teoria das RS
sociais não ignorou os desenvolvimentos ICóricos no
campo da psicologia social da comunicação e das
interações sociais. O estudo fundador (Moscovici,
1961/ 1976) dedicou metade do seu volume a análise
do conteudo e dos sistemas de comunicação
envolvidos na disseminação da psicanálise na França
dos anos 50. No Brasil somente a outra metade deste
estudo foi traduzido (Moscovici, 1978),eaparteque
ficou sem tradução explica como as RS nascem, se
espalham e perecem, ou seja, detalha a teoria dos
sistemas de comunicação social (Camargo, 1997;
Rouquette, 1973)
Quando se trata de um estudo sobre RS, textos
provenientes das falas de individuos (em silllação de
entrevista sistemática ou não, bem como em situação
de exposiçãO oral), de cartas, diários, redações ou
outroseseritos(artigos,poesiaselc.),veiculadospela
mídia ou não; importam menos pelas suas qualidades
formais que pelo seu conteúdo, sobrellldo pela
possibilidade deste conteúdo indicar posições,
sentimentos, cognições e predisposições à adoção de
condutas diante do referente, do que é dito ou escrito.
Nilo podemos esquecer que a ヲセャ。@
ou o texto de cada
participante de uma dada pesquisa comunicam a
compreensão deles sobre aquilo que ela ou ele
re-apresenta (o seu objeto, o seu referente).
A comunicação, condição básica à interação
social, possibilita que os indivíduos compartilhem
seu conhecimento prático sobre os objetos, situações
e problemas mais importantes do cotidiano. No
entanto, sob o temlO "comunicação" agrupa-se um
maior número de situações que interferem nas
interações sociais do que o tenno "linguagem".
Confonne Sapir (192111985), a linguagem é
um método de comunicação dentre vários outros. Diz
respeito a atribuiçlio de sons convencionais,
voluntariamente articulados, ou um equivalente
desses sons, aos diversos elementos da nossa
experiência (p. 16).
Terwilliger (1974) preôsa o significado da
linguagem para a Psicologia. Ela é um comportamento
complexo (ordcna.yão de palavras e dc sons de caráter
seqüencial), um meio de eomunicannos idéias e
intenções, regula nosso comportamento (é um
comportamento mediador), e é um organizador da
cognição (detennina maneira dc pensar e as outras
fonnas de atividade mental).
Se é verdade, conforme coloca Jakobson
(1963), que todos os outros sistemas simbólicos
derivam da linguagem, no qlle diz respeito à comunicaçllo infonnativa, nllo é menos verdade que,
segundo Durand (19R 1), esta última é um dos sistemas de significaçllo considerados pela semiologia. O
desenvolvimento do estudo da comunicação humana
possibilitou o nascimento de semiologias da imagem, do vestuário, dos objetos, dos gestos, entre
Uma primeira conseqüência em considerar
somente omateriallingüístico como indicador de RS
é enfatizar os aspectos infonnacionais e cognitivos
das teorias do senso comum. Confonne Rouquette "a
representaçllo social sempre ultrapassa as amostras
particulares da sua manifesta.yão, sobretudo aquela
lingüistica" (p. 170, 1994). Jode\ct, ao tratar dos
estados e processos rcpresentaeiollais, observa que o
estudo dos conlelidos representativos envolve
diferentes suportes, tais como: linguagem falada,
documentos, prátíças, dispositivos materiais; e que
isto pode ser feito de um modo diretamente
observável, embora a organiza.yão latente deste
conteúdo seja reconstruída pelo pesquisador (p. 55,
1989a). Para uma articula.yão entre estes aspectos
cognitivos c outros aspectos, como o eonativo, é
necessária uma meta-análise, que nos permita a
articulação entre as teorias do senso eomwll que
analisamos e a implicação da adoção destas
representações para as atividades e relações sociais
、。アオ・ャセ@
que as adotam.
A comunicação implica em influência social,
deste modo nlio podemos esquecer que os dispositivos de coleta de material textual para o estudo das
RS envolvem, antes de tudo, uma interação social
interessada. Certamente esta interação vai incidir sohreomaterialrecolhidopelopesquisador,edevemos
considerar dispositivos para que haja diminui.yão e
certo controle desta influência, por isso a apresenta.yllo do pesquisador, o convite para a participa.yão
na pesquisa e as instruções tt:m uma importância
fundamental para compreendennos o material textual obtido. Em se tratando do uso de questionário ou
de entrevistas, as instruções fornecidas aos participantes da pesquisa deve sero ponto de partida para
a compreensão do sentido das suas respostas. Mesmo
quando fazemos análise de material lingüístico
produzido originalmente para outros fins, que nllo
para a pesquisa, como foi o caso do concurso de rotcirosdefilmespreventivoscontraaAIDS,realizadono
contexto de uma campanha nacional francesa em
1993 (ver Camargo, 1998), o documento que originou este tipo de manifestação lingüistica e gráfica
deve ser tomado como elemento desencadeador
destas respostas.
Textos, falas ou discurnos1
Outro problema, observado particularmente
no Brasil, é o uso generalizado do tenno "discurso"
para designar o material textual recolhido por algum
dispositivo de coleta de dados. "Discursu" é
diferente de "textu", esta segunda palavra latina
indica as próprias palavras que se lêem num autor,
num escrito (Séguicr, 1960). O termo "texto", na
pesquisa em Ciências Sociais, indica empiricameme
duas possibilidades: (a) ato da fala, que responde a
uma situaçllo dada, transfonnado em material escrito
e (b) material produzido originalmente na fonna
escrita e selecion3do para ser analisado pelo
pesquisador. "Discursu" refere-se a uma peça
oratória própria para persuadir, mas também a
exposição de idéias (faladas ou escritas). No pri-
meiro sentido, o termo discurso está associado à
retórica, refere-se à comunicação de um orador para
um público, neste caso temos uma forma da
linguagem enquanto tipo empírico verificável. No
segundo sentido "discursu" apresenta uma acepção
mais ampla do que aquela que se refere a um tipo de
linguagem, a oratória
Greimas entende discurso como um nível da
estruturação da significação; aquele onde se articulam
as unidades lexicais (p. 36, 1977). Embora o termo
discurso seja definido pela lingüística como um
conjunto de enunciados, de mensagens faladas ou
escritas em oposição ao sistema abstrato da língua, ele é
uma construção do pesquisador, que, oonformeOrlandi
(1983) correspondc no plano tcórico-mctodológico ao
texto, este sim uma realidade empirico-analítica.
Na década dt: 70 o termo "discurso", no
contexto das críticas às conseqüências do positivismo
paraasCiênciasSociais,passouaressaltaro"cursodo
dizer", a enunciação, no quadro de um paradigma
tcórico especifico do funcionamento social da
linguagem: o ュ。エ・イゥャセQNSMィウ」ッ@
(ver Vygotsky,
1979), Pêcheux (1969), por exemplo, entendeu o
lenno "discurso" como produção derivada de um
"sujeito", da sua posição num espaço social, entendida
enquanto relações de força, característica de uma
formação social historicamente dada (aquela da
exploração do trabalho pelo capital). Orlandi (1983)
observava que a significação do discurso transcendia
os limites das palavras e construções de linguagem,
residindo no lugar social dos interlocutores.
Chegou-se a entender discurso como espaço de tensão
e confronto entre o singular (individuo) e o conjunto
(sociedade) (Camargo, 1985).
Considerar discurso como sinônimo de fala,
embom tenha sido útil para estudos lingilisticos
reintegrarcm a panicipação dos locutores na dinâmica da língua, pode nao ser pertinente para uma
abordagem psicossocial do fcnômeno do conhecimento do senso comum. O termo discurso, além dc
remeter à oratória (quc não é o caso da maior parte
das comunicações subjacentes à produção de material linguistico das pesquisas sobre representações
sociais), implica em convivennos com pressupostos
controversos da sociolingüístiea crítica dos anos 70,
tais como: (a) a enunciação é um indicador mais
pertinente do quc o conteúdo da fala para o entendimcnto da significação, (b) nossas trocas lingüísticas
sempre St: dão num lerrenode disputa de interesseea
significação da realidade é ideológica, ou seja,justificadoradestesinteressese(c)agênesedasrepresentações sociais podem ser recuperadas ao nível do
planejamento verbal (do curso do dizer).
Primeiramente,osuportelingüísticodeumarepresentação social interessa ao psicólogo social,
sobretudo, pela sua qualidade de referência ao objeto
real da representação, c secundariamente pela espccificidadelingilísticadasignilicaçãodomundo,enlbora
esta última também seja um objeto real das sociedades
humanas. Representaré apresentaTuma coisa no lugar
de outra, masa coisa ausente continua essencial. O que
indica, em lermos de representação social, o material
lingüistico,senãoarelaçãocognitiva(umsabcr)eprática das pessoas e grupos com aspectos imIXlrtanles da
sua vida ootidianaedomundoqueasccrca?A natureza do fenômeno das representações sociais remete à
pr«edência do conteúdo na análise do material lingüístico, considerado indicador deste fenômeno. As
representaçõessociaissãoformasdcsahercomconteúdos, estrutura e geradas por processos particulares
(Jodelet. 1989a). Negligenciaro conteúdo do fenôrnt:no dasreprescntações sociais nos coloca no formalismo da crítica social, esvaziando assim o que é central
para uma teoria que se propôs explicá-lu, a saber: o
fato desta forma de conhecimento ser considerada
construção de mna sociedade pensantc no contexto da
dinâmica das mudanças do cotidiano contemporâneo
(Moscovici, 1981).
Segundo, nem toda representação social é
ideológica, sc entendermos ideulogia como um saber
que objetive legitimar lugares ou práticas sociais de
quem os dctém ou os utilize. Godelier (1984), ao
precisar as funções do pensamento social e das suas
representações, pontua a relação entre representações
e ideologia. A primeira função da representação é
apresentar uma dada realidade ao pensamento, a
segunda (indissociável da primeira) é interpretá-la, a
terceira função é permitir ao pensamento organizar as
relações dos homens entre si e com a natureza, e a
quarta se refere ao falO das representações
legitimarem ou não estas relações. As interpretações
podem ser ilusórias ou não, as primeiras remetem à
função ideológica das representações, e as segundas
são indicadas pelo conjunto de saberes cotidianos que
consÚtuem o que Lévi-Strauss chamou de "ciência do
concreto" (Godelier, 1984, p. 202)
Terceiro, as falas e os textos dos individuos
indicam R.S., porém estas últimas não pertencem aos
individuos, mas são adotadas ou compartilhadas por
eles com os seus grupos de referência ou de participação_ Daí a impeninéncia de indicadores fonnais dos
elementos lingüisticos ao nivel do planejamento verbal
deste tipo de troca. Conforme Bcrru;tein (1978), o planejamento verbal indica a dimensão psiC(}lógiea das
trocas através desta forma de comunicação. O fenómeno das representaÇÓC5 sociais se situa num nivel
psicossociológico e sociológico de análise, e não
psicológiC(}. Doise (1992), ao examinar o processo de
ancoragem, deixa claro que as representações sociais
não podem ser analisadas ao nivel psicológico, na
medida em que ao mencionar a ancoragem psicológica
refere-seaconstelaçõtsde atirudesresultantcsdeorganizaçõcs intra e intcrindividuais. Embord os elementos
da enunciação possam ter UIll interesse particular para
os estudos da dinâmica e dos processos de representaçõcs sociais, a condição de que eles sejam recorrentes
no grupo considerado, estes processos representadonais só podem ser compreendidos enquanto dinâmica
de conteúdos estruturados. E mesmo quando nosso
intcres.se é o estudo dos processos que gemm representaçõcs sociais (objetivação e ancoragem), jX)dcmos
também recuperá-los descrevendo e comparando os
elementos (conteúdo) de diferentes momentos-produto
deste conhedmento social companilhado(eomparação
evolutiva).
Os planos empírico-analítico e teórico-metodolligico
o fato que queremos salientar é que na análise
de materiais lingüísticos como indicadores de
representações sociais, muitas vezes produz-se uma
indefinição entre o plano empírico-analítico e o plano
tcórico-metodológico da pesquisa sobre este fenômeno. E isto prejudica a objetividade do conhecimento
produzido, na medida em que o material lingüístico
dos participantes das investigações tent Unt tratamento
hom610go ao material linguistico produzido pelo
pesquisador, sobretudo no momento da interpretação
dos dados. Embora estes textos sejam interpretaçõcs
dos participantes sobre um aspecto da realidade, estas
interpretações passam a ser objeto de análise e de
interpretação do pesquisador. No entanto o estatuto
destes dois tipos de inh:rpretação é diferente, na medida em que um opera no espaço do conhecimento consensual e o oulTO no espaço do conhecimento especializado ou reificado (Moscoviei, 1981)
Comojá colocamos, quando se utiliza material
lingüístico, ele pode ser recolhido de duas formas,
por escrito ou falado. O material falado, quando
sucinto é anotado c quando mais extenso é gravado
para posterior transcrição. A análise deste tipo de
material, na maior parte das vezes, incide sobre um
texto; independente deste texto ser resultado de
respostas orais a perguntas abertas ou respostas
escritas pelo participante da pesquisa.
O exame de uma representação social exige
comparação de textos e verificação de reeorrênda dos
elementos lingüísticos (palavras) e das suas イ・ャ。セ@
(estruturação das palavras). As palavras, no plano
empírico, correspondcm aos elementos de uma
representação, no plano teórico. Harré (1989) fala do
léxico enquanto vetor de representaçõcs sociais, para
ele o vocabulário, o repertório é um indicador
concreto de representações sociais. Como o conteúdo,
sobretudo o referente, tem uma importância central
para esta teoria, muitas palavras do texto bruto, como
por exemplo: "está" e '"lá", indicam a mesma coisa ao
nível representacional. E ainda, uma série de palavras
não tem importância alguma para este estudo,
enquanto que para uma análise psicológica ou
lingüística terianl, como: "não é", "né", "entendeu",
"veja", "olhe", "daí" etc_, indicadores fáticos que
funcionam para manter a troca verbal no comexto do
diálogo entre o pesquisador c o partidpante da
pesquisa. Na passagem do texto bruto para texto
relativo ao "corpus de análise" (entendido aqui como
o conjunto de textos seledonados, no quadro de uma
pesquisa documental, ou transcrito, quando se tratar
de entrevistas, dcpoimcntos c questionários) é
necessário um procedimento de depuração destas
palavras que nlio comribuem para a significação do
objeto focalizado pela pesquisa.
111
A construção do corpus da análise deve
garantir a extensão do material textual em função
dele representar os grupos considerados na análise.
Só podemos falar em representações sociais no caso
de saberes compartilhados, e uma indicação de quc
uma forma de compreensão tlt: um dado objeto é
efetivamente social envolve a recorrência de
elementos e da estruturação entre eles nos membros
identificados ou pertencentes a um grupo (seja ele
taxionômico ou real). Então, na maior parte das
vezes, a economia da quantidade de participantes nos
estudos de representações sociais pode prejudicar a
qualificação de "social" ao tipo de pensamento
estudado. Conforme Henry e Moscovici (1968)
temos dois planos interdependentes na análise de
conteúdo: o vertical (anál ise das condições de
ーイッ、セ ̄I@
e o horizontal (análise dos textos). O
procedimento de análise dos textos é determinado
pelo plano vertical (objetivos da análise, escolha do
material) e este último também é determinado pelos
textos, na medida em que o textual deve as condições
de produção consideradas.
Análise de evocações de palavras e anãlise contertual セ・@
conjuntos de segmentos deterto
No Brasil, a análise sistemática do conteudo
do material textual, enquanto indicador de representações sociais, é bastante recente. O primeiro
reflexo de uma parcela considerável de pesquisadores e estudantes brasileiros, que escreveram sobre
este fenômeno, foi o de fazê-lo no quadro de uma
epistemologia materialista histórica, e continuaram a
empregar o que se denomina "análise do discurso",
como recurso para organizar os seus dados, com
todas aquelas decorrências que já apontamos na
primeira parte deste trabalho (Ver Spink, 1995). Se a
noção chegou aqui em meados da década de 80, as
técnicas mais sistematizadas para a análise de dados
representacionais tiveram maior difusão 10 anos
mais tarde.
No sentido de ilustrar um esforço de aprimoramento metodológico no cstudo das representações
sociais, concluiremos este artigo com alguns
comentários sobre dois tipos de procedimentos, den-
cNmゥュiャエMs」ョセ。イ@
..
tre outros, atualmente muito empregados no estudo
das representações sociais
O primeiro tipo de procedimento refere-se às
técnicas de evocação e associação de palavras,
empregadas no estudo da estruturação dos elementos
da representação social. A análise de evocaçõcs
consiste em uma espécie de análise lexicográfica,
onde o índice empirico: "palavra" corresponde ao
"indicador" elemento de uma representação social.
Sã (1996) já descreveu em detalhe este tipo de
procedimento, especificando as suas diversas
técnicas. Ele mostra que as técnicas de evocação e a
de associação de palavras são uma etapa na análise da
estrutura de uma representação social. Elas levantam
seus possíveis elementos centrais, respectivamente,
com base em dois critérios: saliência e conexidade. A
saliência é estudada através de qucstionãrios de
evocação livre e da hierarquização dos itens
evocados. A conexidade é estudada através da
análise de similitude, o método mais empregado
consiste em solicitar que os sujeitos que façam uma
lista de pares com as palavras ou expressões que
parecem ter relação (anteriormente evocadas pela
técnica precedente)
As representaçõcs sociais, para cstc primeiro
tipo de procedimcnto, são concebidas como sistemas
socio-cognitivos veriticados pela estruturação de
elementos lingüísticos. Dois programas infonnáticos
nos auxiliam nas operações preliminares do material
textual, apresentado sob a forma de listas de palavras
ou expressões: o EVOC ("Ensemble de programmes
permeltant I'analyse des évocations") e o SIMI
("Analyse de similitude dcs qucstionnaires ct de
données numériques") (Ver Verges, 1999 e Verges,
Barbry, Scanoe Zeliger, 1997).
Glady (1986) indica alguns problemas decorrentes do emprego um questionário de associação de
palavras. Segundo ele, um questionário deste tipo
propõe uma tarefa cognitiva de associação, que
TCsulta cm ligação de conceitos, e esta ligação indica
uma representaçao social. Os grálícos resultantes da
manipulação de noçõcs referentes a um objeto, por
parte dos participantes da pesquisa, mostram espaços
cognitivos coletivos a respeito do mesmo. Conforme
Glady, onde pressupomos identificar representações
sociais, poderíamos estar constatando a competência
m
dos participantes em raciocinar abstratamente; assim
o questionário de associação poderia induzir uma
estruturação e conseqüentemente lima イセー・ウョエ。 ̄ッ@
social ou a não existência dela pela facilidade ou dificuldade dos participantes cm abstrair. Esta critica,
em certa medida é pertinente, mas não invalida este
tipo de procedimento, pois além da influência dos
tipos de tarefas solicitados (de evocação, de associação, de hierarquização e de 」ャ。ウゥヲセッIョ@
material
lextllal prodllLido; os pesquisadores levam cm conta
este tipo de influência na preparação das condições
de produção (planu vertkal) deste tipu conteúdo
além de algwnas vezes associarem este procedimento metodológico a outros.
O segundo tipo de procedimento, uti1i7.ll textos
produzidos de modo ''mais nalural" (material escrito da
midia, falas durante uma entrevista, depoimentos,
relatos etc.), mas nem por isso menos imunes a
influência do plano vertical sobre o material (o plano
horizontal). Existem várias técnicas de análise
quantitativa de material textual ellTSivo, t: li maior parte
delas está infonnatiyada (Ver Lehart c Salem, 19(4)
No iIúcio de 1998 introduzimos no Brasil o programa
infurmáticu ALCESTE HBaョャケhセ@
LexiclIle par
ContexJe d'un Ensem!Jle de Segmellts de Tale"). Esle
programa apresenta wn interesse particular, pois além
、セ@
permitir uma análise lexicognifica do material
textual, através de uma análise hierárquica descendente
oferece COlltcxtos textuais que sào caracterizados pelo
seu vocabulário, e também por segmentos de textos quc
compartilham este vocabulário (Reinert, 1998).
COIlfonne Reinert (I 990), o fenômeno lingüisticopode
ser descrito cm 3 níveis: o da palavra, o do enunciado c
aquele além do tcxtual (envolvendo os interlocUlorcs e
a situação de comunicação). O contexto cognitivo se
relere, a dois aspectos, um':o ambiente de uma palavra
dentro do texto, operacionalizado pela noção de
Ullidade de contexto; e outro em relação ao uso da
mesma no corpus, operacionalizada pela noção de
contex to-tipo (onde ocorre regularidades na
distribuição do カッ」セ「オャイゥ@
nestas unidades de
contexto). O primeiro aspecto remete a representação
individual e segundo a coletiva. O corpus indica wn
universo referencial (um objeto) q ue interessa o
°
pesquisador. O método de análise fornece uma div isão
em sub-rorPUI< ou classes (contexto-tipo),
do 」ッイーオセG@
que para Reinert indicam empiricamente quadros
perceptivo-cognitivos mais estáveis e coerentes,
wnstituindo um ''mundo'' unde ganha significação
cada objeto. Estas classes de palavras e de unidades de
contexto elementar, ao nível do p!"ograma informático,
são compostas composta de várias unidades de
contexto elementar (segmentos que constituem o
ambiente da palavra) em funçàO da classificação
mencionada. Ao nível teórico-metodo lógico,
considerando os limites das manifestações lingüísticas,
estas classes podem estar indicando representações
sociais ou ao menos campos 、セ@ imagens sobre um dado
ッ「ェ・エHvャPWセ@
Nascimento-Schul7.e e Camargo, 1999).
O que vai definir se elas indicam representações sociais
ou apenas uma イ」ーセウ・ョエ。 ̄ッ@
social são os scus
conteúdos e a relação deles, seja interna a cada classe
(sub-corpus), cntre as classes e com os fatores ligados
ao plano geral de cada pesquisa (gerahnenle expresso
na seleção diferenciada dos participantes segundo sua
identificação ou afiliação grupal, suas práticas sociais
anteriores etc. Este procedimento apresenta interesse
na medida enl que pennite considerarmos a palavra no
seu contexto natural de uso, o quc nos permite levar em
collla o aspecto poJissêmico desta unidade lingüística
da representação social
enquanto índice do セャ」ュ・ョエッ@
Concluindo, estes duis procedimentos fornecem critérios restritos, mas objetivos, para a análise
dc materiais texruais, enquanto indicadores de represão excludentes, podendo ser
sentaçõessoeiais, e ョセッ@
empregados de modo complementar ne,te tipo de
estudo.
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Aceilo em: 15/04/01