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Savana 05-08-2016
NO CENTRO DO FURACÃO
Savana 05-08-2016
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Por João M osca e António Francisco
ste texto analisa a recente revisão do Orçamento do Estado para 2016, do Governo
de Moçambique, vulgarmente designada por “Orçamento
do Estado Rectiicativo” (OER). Os
autores concluem que a referida revisão orçamental é, na verdade, mais
ratiicária do que rectiicativa. Estas
duas palavras (ratiicar e rectiicar)
são palavras parônimas (possuem
graia e pronúncia similares, mas
signiicados diferentes). Neste caso,
a diferença de signiicados aplica-se
bem à actual revisão orçamental. O
Governo fala de Orçamento Rectiicativo, no pressuposto de emenda
e correcção da versão do Orçamento
de Estado (OE) de 2016, aprovada
pela Assembleia da República em
Dezembro de 2015. Porém, como
mostra esta nota, a revisão orçamental apresentada é muito mais ratiicadora do que rectiicadora; isto é, conirmação, reairmação ou validação
dos principais elementos do OE, nos
seus pressupostos, critérios, prioridades (ocultas e declaradas), face às
receitas arrecadadas e despesas ixadas. Por outro lado, a própria rectiicação realizada deixa muito a desejar,
principalmente porque, em grande
parte, reforça ainda mais entidades
e opções de despesas que deveriam
corrigir e restringir seus gastos. Ainal de contas, o que foi rectiicado
e o que foi ratiicado no OER para
2016?
E
1 . Orçamento do Estado:
Discursos e Análises
O Orçamento do Estado (OE) é
dos instrumentos públicos mais importantes da política económica nas
sociedades modernas. É através dele
que se veiculam as expectativas e os
objectivos dos cidadãos, bem como
se implementam as actividades das
entidades administrativas ou estatais.
Como instrumento de política económica e inanceira, o OE emergiu
historicamente nos sistemas liberais
europeus orientados para a promoção
da liberdade económica e iniciativa
privada, preocupados em garantir
a protecção dos particulares contra
excessos, abusos e manipulações dos
poderes públicos. Porém, à medida
que as estruturas administrativas,
políticas e burocráticas do sector público se consolidam, em vez de incentivarem a iniciativa e liberdade dos
actores produtivos, procuram fortalecer o intervencionismo, centralismo e
dirigismo distribucionista.
Ao ser convertido em instrumento
legal, e, como tal, de cumprimento
obrigatório segundo a legislação vigente, a elaboração de um OE constitui um grande desaio. Como conciliar a previsão das receitas a arrecadar
e das despesas a realizar, para um determinado exercício económico, com
o objectivo e prioridadesde prossecução da política inanceira do Estado
(Art. 12 do SISTAFE)?
A resposta à questão anterior pode
ser encontrada no conteúdo e forma
de implementação do documento do
OE e sua fundamentação. Mas para
quem não se dá ao trabalho de ir ver
os componentes especíicos do OE,
como acontece com a generalidade
dos cidadãos, ica a conhecer o OR
através dos discursos oiciais e comentários dos analistas. E o que dizem tais discursos oiciais?
De forma resumida, os discursos
oiciais insistem em atribuir a crise
económico-inanceira em Moçambique a factores externos e para além
da responsabilidade directa dos governantes. Não reconhecem quais foram as políticas públicas erradas que
contribuíram para a crise económico-inanceira. Tão pouco admitem que
o modelo de crescimento económico
seguido, com ou sem dívidas escondidas e ilegais, contém em si suicientes
elementos e factores de instabilidade
e incerteza; que uma estratégia de
crescimento,
predominantemente
dependente da poupança externa (investimento directo estrangeiro, ajuda
externa e crédito comercial externo),
precisa de garantir suicientes exportações que compensem a secundarização dos agentes económicos
locais e do mercado doméstico; que
um tecido económico altamente intervencionado pelo Estado e sujeito
a acções predadoras e promíscuas
com a política, fomenta um ambiente
especulativo, não competitivo e ineiciente; que a priorização de oportunidades circunstanciais e especulativas, enquanto se perpetuam instituições públicas ineicientes, diiculta
a criação de um ambiente produtivo
saudável. Em suma, priorizando um
crescimento económico gerador de
riqueza extremamente concentrada,
em torno de um número muito restrito de actores económicos, agravam-se
as desigualdades sociais e espaciais,
bem como a perpetuação da pobreza,
numa população que regista elevadas
taxas de crescimento demográico.
Nestas circunstâncias, se o Governo
insiste em criar expectativas irrealistas e não se preocupa com as consequências de opções especulativas, das
distorções dos mercados e debilidades institucionais, só temos que icar
preocupados e apreensivos. Perspectiva-se uma economia cada vez mais
selvagem e degenerativa, onde a ética
capitalista é substituída pelo chamado cabritismo, o assalto aos bens públicos e o fortalecimento de uma economia rentista, predadora e agressiva
para com a sociedade e o ambiente.
Ora, é este o ambiente em que a presente revisão do OE 2016 surge, com
a agravante de a situação político-militar se ter deteriorado signiicativamente e não se vislumbrarem
saídas para uma efectiva estabilidade
política e social a curto prazo.
2 . Pressupostos
Os pressupostos económicos departida do OER são duvidosos e preocupantes. Primeiro, assume que a economia possa crescer 4,5% em 2016.
Apesar desta taxa alinhar-se com a
estimativa recente do Fundo Monetário Mundial (FMI, 24.06.2016), a
diferença é que este último admite
“riscos substanciais de baixa nesta projecção”. Outros organismos
(Standard Bank e he Economist)
apontam taxas mais baixas, sobre as
quais os autores deste texto também
duvidam. Os sinais disponíveis apontam para um crescimento nulo, ou
mesmo negativo. E a razão é simples.
Qual é o sector produtivo que realmente crescerá em 2016? Analisemos a formação do PIB do lado da
produção: (1) A agricultura enfrenta
seca e cheias, em partes importantes
do país. Mesmo se algumas das principais zonas de maior produção não
forem afectadas por seca e cheias,
será que não estão a ser afectadas
pelos conlitos militares? Ou continuaremos com as duvidosas estatísticas sobre a actividade agrícola?;(2) A
construção civil entrou em recessão,
traduzida num desemprego massivo;(3) O mesmo se passa com os
transportes, devido ao arrefecimento
da economia e ao conlito armado
que têm afectado importantes vias
rodoviárias do país; (4) A produção
dos recursos naturais (carvão, areias
pesadas, madeiras e gás) estão, ou vão
aumentar a produção? Nada indica
que sim; (5) O negócio na banca diicilmente irá manter-se, considerando
a redução drástica do investimento
interno e externo, do investimento
público, a subida da taxa de juros e
as fortes medidas restritivas do Banco
de Moçambique; (6) O comércio está
a crescer? E aquele que ainda cresce,
qual é e onde se concentra? (6) E o
turismo... promete?
Do lado do rendimento nacional,
tomando como base as suas componentes (consumo, poupança, gastos
públicos, exportações e importações)
pergunta-se: qual destas variáveis está
a crescer? Deixamos para que o leitor
responda. Em suma, as estimativas de
crescimento da economia levantam
mais dúvidas do que esperança. Por
isso, uma expectativa de crescimento
nulo ou mesmo negativo representa,
em vez de pessimismo, uma opção
prudente e sensata, perante uma realidade dominada por enormes incertezas. Surpreendentemente, os
pressupostos do OER prevêem crescimento em todos, repete-se, todos os
sectores da economia nacional!
O OER estima uma inlação de
16,7%, numa semana em que o mais
recente discurso do governador do
Banco de Moçambique admite que
já ronda os 20%. Mesmo a inlação
estimada pelo Instituto Nacional de
Estatística (INE), aquela que é calculada com base nas cidades de Maputo, Beira e Nampula (considerando
somente bens essenciais consumidos
pelos grupos sociais mais pobres
e, portanto, sem relectir a inlação
real), será certamente muito superior
à estimativa do Governo; superior,
sobretudo, à sua expectativa de agravamento dos preços dos produtos alimentares urbanos.
As s e mble ia da Re públic a viabilizo u s e mana pas s ada a re vis ão do Orç ame nto
Em nenhum momento o OER faz
referência à possível evolução da
taxa de câmbio, a qual é crucial no
comportamento económico e, logo,
no OE. Esta omissão é por esquecimento, ou erro? Não será, certamente, sabendo que nesta altura o Metical continua a depreciar em relação
ao dólar (aproxima-se de75 MZM/
USD) e em relação ao Rand (ronda
já os 5MZM/Rand). Pode entender-se este silêncio de várias formas: (1)
incapacidade ou impossibilidade de
previsão devido a factores imprevisíveis e fora do controlo do Banco de
Moçambique e do Governo; (2) não
criar expectativas negativas nos agentes económicos; ou, (3) terá o Mando
de Moçambique o receio de errar.
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OER 201 6 ?
No OER é possível detectar mudanças de valores em certas rubricas, de
elevados montantes, sobre as quais
nenhuma justiicação e fundamentação existe. Não se sabe se é para
acomodar a forte e determinante
condicionalidade do conlito armado,
omitida por razões de conveniência
extra-orçamental, entre os principais
pressupostos. O seu reconhecimento
implicaria a aceitação de um “orçamento de guerra” que só o é, devido
ao aumento das despesas com a defesa e segurança militar.
R55 §5,.)5+/5(/'5),é'(.)5,tiicativo não se pode esperar mudanças fundamentais na sua composição e estrutura, pois estas devem relectir alterações estruturais
da economia, das instituições, do
modelo de desenvolvimento e das
políticas económicas e públicas.
Porém, o OER não dá qualquer
sinal de possíveis reformas; nem
mesmo que tal esteja em perspectiva ou na agenda governamental.
Por exemplo: 1) O orçamento,
como sempre, não refere dois luxos com grande peso nas contas
do Estado: (a) as receitas e despesas “fora do orçamento” (“of-budget”) que, segundo vozes não
oiciais, podem representar 20%
do orçamento. É muito para ser
escondido!; e, (b) os saldos rolantes - saldos da execução orçamental que transitam de um ano para
o outro, mas que não são objecto
de monitoria das autoridades respectivas e carecem de justiicação
e transparência. Isto é, ainda há
muita coisa escondida no orçamento do Estado. Ironicamente,
presentemente escondidos já não
estão a EMATUM, ProIndicus,
MAM e a dívida do Ministério
do Interior (da qual se deixou de
falar); 2) O peso do Estado na
economia, que representou nos
últimos anos quase 50% do riqueza criada (PIB), mantém-se igual;
(3) nada é dito sobre as reformas
do Estado, não há questionamentos sobre o forte intervencionismo do Estado na economia e na
sociedade, sobre a duplicação de
instituições públicas, a existência
de organismos inoperantes, órgãos reguladores que nada fazem,
etc.; (4) a descentralização é um
tabu, ou coisa do diabo, no seio do
poder político.
No que consta à ratiicação, vejamos
os principais aspectos especíicos:
R55 5 *-)5 )'5 )-5 !-.)-5 '5 *-soal não é tocado. Moçambique
possui um dos piores indicadores
do mundo em que os gastos em
funcionários públicos represen-
R55
R55
R55
R55
ta cerca de 11% do PIB. Nada é
referido sobre contenção salarial,
novas admissões, reformas antecipadas, mordomias dos cargos
de cheia, continuação de pagamentos de salários a pessoas que
já não desempenham funções do
Estado, acomodação de chefes e
cheinhos, não-executivos ou sem
funções, etc.;
5 !,#/&./,5 )(.#(/5 -/(rizada, mesmo que tenha tido um
ligeiro aumento do orçamento,
cujo grau de execução é geralmente baixo. É fácil alocar recursos, sabendo que estes não serão
realizados por falta de capacidade executiva das instituições ou,
quando têm capacidade, reforçam
actividades e mecanismos não
produtivos;
-5)/'(.)-5*Ě&#)-5(ã)52plicitam os gastos com a defesa e
segurança, sabendo-se que existe
um reforço dos gastos com a Casa
Militar junto da Presidência da
República – uma habilidade contabilística, no lugar de colocar os
recursos nas rubricas explícitas de
defesa e segurança?;
,#ŀ7-5)5-.),5*,#0)5B'presas e famílias) para reforçar
um Estado despesista, descoordenado, ineiciente nas questões públicas importantes, mas eiciente
como plataforma de distribuição
de recursos, negócios e mordomias para as elites do poder. O
Governo parece não dar importância ao déice e à continuidade
do agravamento da dívida.
ã)5 ï5 #.5 +/&+/,5 , ,ð(#5
a medidas de reestruturação das
empresas públicas. Sabe-se que
elas contribuem, directa e indirectamente, para as componentes
R55
R55
R55
R55
R55
ocultas do orçamento (“fora do
orçamento”), com serviços prestados ao Estado não pagos ou pagos
tardiamente sem juros.
(.ï'7-5 )5 &0)5 !,/5 5
não transparência e falta de justiicação adequada de opções de
realocação das despesas.
)(.#(/7-5 5 #!(),,5 )5 *,-#-tente aumento da dívida pública
insustentável, enquanto se secundariza os sectores produtivos
constitucionalmente identiicados como prioritários.
#4,'7-5 &#!#,)-5 ),.-5 *&#tivos em quase todas as despesas
por sector (no total, as despesas
foram reduzidas em menos de
1%), incluindo sectores sociais,
como a educação, segurança social
sistema judicial e a acção social e
trabalho. Nos textos oiciais nada
é referido sobre as despesas com
a defesa e segurança, sabendo-se
da existência de aumentos signiicativos. As receitas apresentam
também uma redução similar
(menos de 1%) mantendo assim o
déice e o contributo do ano iscal
de 2016 para o agravamento da
dívida pública, agravando a sua
insustentabilidade.
§5#(,ù0&55*,0#-ã)5)5/'(.)5
das receitas iscais sobre o rendimento das empresas (pessoas colectivas) em momento de recessão
e abrandamento do crescimento
e, eventualmente, de crescimento
negativo.
5 ŀ((#'(.)5 )5 ),é'(.)5
conta agora, por redução do inanciamento externo, com um
grande contributo interno, através
de bilhetes do tesouro a taxas de
juro necessariamente mais altas
que agravam a dívida (através do
serviço da dívida) e retiram recursos ao crédito para as empresas e
a economia. O inanciamento
interno do orçamento passou de
7.619,7 para 21.767,7 milhões de
Meticais que serão suportados, na
sua quase totalidade, pelo sistema
bancário.
R55 -.á5*,0#-.)5/'50&),55o55gf5
milhões de meticais para emergências, incluindo a cobertura
da não entrada do inanciamento
externo e da cooperação. Isto é, o
Governo conta ainda, até ao im
de 2016, com o esclarecimento
das dívidas ocultas e seus processos de responsabilização e a
retirada da suspensão do apoio da
cooperação. Os valores da emergência são para cobrir a possível,
no entendimento do Governo,
perda dos recursos dos países
que inanciavam o OE. Mas estes valores podem também cobrir
outras “emergências” não explicitadas no orçamento, como, por
exemplo, os compromissos da dívida privada das empresas Ematum, Proindicus e MAM.
R55 5,ï#.)655-,5ŀ((#)5#(.,namente, mais as reservas para
“emergência” representam cerca
de 12% do total dos gastos públicos. Um valor muito elevado para
passar sem explicações claras e
transparentes.
Ao mesmo tempo que o Banco de
Moçambique anuncia o reforço
da política monetária restritiva (aumento das taxas de juros,
elevação dos depósitos da banca comercial junto do Banco de
Moçambique) e a depreciação
do Metical prossegue, o Governo
anuncia medidas iscais expansionistas para sectores unicamente
governamentais. No entanto, é
importante compreender alguns
elementos que estão por detrás
desta política monetária. Ressaltam-se os aspectos seguintes:
R55 5 ,ï#.)5 )5 ïŀ5 *Ě&#)5 *),5
recursos internos será coberto basicamente com créditos da banca
comercial, o que implica: (1) redução da oferta monetária sob a
forma de crédito à economia e às
famílias, diicultando, ainda mais,
o investimento e a criação de emprego; e, (2) maior aumento da
taxa de juros para refrear a procura de dinheiro disponibilizando-o
para reforço do inanciamento do
orçamento do Estado.
R55 5ŀ((#'(.)5)5-.)5*)5
ainda ser por emissão não tangível de dinheiro, através de um inanciamento nominal ao Estado
(sem base monetária real), o que
signiica não afectação da oferta
monetária à economia mas sempre com consequências sobre a
inlação e a taxa de juros.
O Banco de Moçambique, ao promover o inanciamento interno através do sistema bancário (no passado
existiram pressões para o efeito),
está fazendo um favor ao Governo,
correndo o risco de ser incoerente e
fracassar no combate à inlação; está
claramente a suportar o reforço de
um Estado absorvedor de recursos
para a economia em desfavor das empresas, das famílias e do crescimento
económico.
Em resumo, numa análise geral, o orçamento rectiicativo continua sendo
um mecanismo de transmissão de
recursos inanceiros para uma certa
elite e interesses inconfessáveis, directa ou indirectamente, envolvidos
na gestão dos recursos orçamentais
do Estado. Assim sendo, no presente
OER, para espanto de muitos observadores, o Governo aproveitou a revisão orçamental para reforçar ainda
mais as despesas de consumo de sectores como a Presidência e a Assembleia da República. Isto é, no mínimo
espantoso! Por outro lado, observa-se
uma clara tentativa de compensação
de perdas noutras áreas públicas,
através da realocação de recursos e
sustentação de actividades especulativas (sobretudo, o crédito interno e
outras despesas não especiicadas),
em prejuízo do sector privado e da
actividade produtiva.
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5HFWLÀFDWLYR5DWLÀFDWLYR"
governo continua a esconder componentes importantes do orçamento
(empresas públicas, despesas e receitas “fora do orçamento”
e saldos rolantes) e não evidencia
preocupações sobre o aumento da
dívida. A não transparência é acrescida, através da utilização de pressupostos mais que duvidosos para
o cálculo dos valores rectiicativos,
e não é realista no cálculo das receitas. O Governo cria expectativas
duvidosas nas quais nem os membros do Governo (pelo menos alguns) acreditam. As despesas com
a defesa e segurança não são explícitas nos documentos oiciais. Por
isso, os discursos mantêm-se pouco
transparentes e manipuladores. Esquece-se o Governo que a cooperação, as organizações internacionais
e a sociedade civil moçambicana
conhecem a situação da economia
e da sociedade tão bem, ou melhor,
que o próprio Governo. Isto torna
o discurso não verdadeiro, ineicaz,
perverso e manipulador.
O orçamento rectiicativo tem subjacente que Governo possui esperanças no retorno, a curto prazo, da
ajuda e do inanciamento, por parte
O
dos países cooperantes, do retorno
do investimento externo massivo e
dos recursos do FMI.
Os discursos e posicionamento do
Governo procuram escamotear a
realidade do país, evitar o apuramento das responsabilidades e criar
expectativas nas quais, pelo menos
uma parte dos seus membros, não
acreditam. Mantém-se a mentira
como instrumento de gestão político-económica.
O orçamento rectiicativo perde
uma oportunidade de ouro para
iniciar um processo de desintoxicação, após uma embriaguez especulativa que colocou os governantes
num verdadeiro delírio inanceiro.
Desperdiça, também, a oportunidade para dar sinais que reconhece
a necessidade de reformas profundas no Estado e na economia, para
que o ambiente produtivo, de negócios e da macroeconomia melhore.
Pelo contrário, com esta postura,
diicilmente se pode esperar que
as entidades de monitoria internacional (e.g. as agências de rating ou
notação de crédito) sobre as condições do crédito, interno e externo,
encontrem motivos para melhorarem suas avaliações. O grave, neste
caso, é que corremos o risco de o
Governo pretender que nos acostumemos já à situação de ambiente especulativo (ou “lixo”, como se
costuma chamar). Com um OER
destes, estamos a ser empurrados
para nos resignarmos à condição
de extremamente especulativo e incumprimento (default) selectivo ou
quase-falência.
Numa economia de mercado, com
um ambiente de investimento saudável, as empresas em situação de
falência são forçadas a reformar-se
ou reinventar-se, ou então, fecham
e desaparecem. Sabendo que o Estado, em situação de falência, por
razões óbvias, não pode encerrar
as portas e fechar, a sociedade moçambicana corre o risco de ser empurrada para uma degenerescência
social crescente e perigosa.
É preocupante que o Estado Moçambicano não consiga oferecer
melhor alternativa à má política
económico-inanceira que conduziu à deterioração dos níveis e
sobretudo do tipo de crescimento
económico prevalecente.
Os autores deste texto acreditam
que Moçambique merecia e deve
esforçar-se por melhor destino.