UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E
ENGENHARIA DE MATERIAIS
MICROESTRUTURA E PROPRIEDADES MECÂNICAS DE LIGAS Al-Si
HIPOEUTÉTICAS CONFORMADAS POR SPRAY
Cleyton Fernandes Ferrarini
São Carlos
2005
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E
ENGENHARIA DE MATERIAIS
MICROESTRUTURA E PROPRIEDADES MECÂNICAS DE LIGAS Al-Si
HIPOEUTÉTICAS CONFORMADAS POR SPRAY
Cleyton Fernandes Ferrarini
Tese apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Ciência e Engenharia
de Materiais como requisito parcial à
obtenção
do título de DOUTOR
EM
CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS
Orientador: Dr. Claudemiro Bolfarini
São Carlos
2005
Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária/UFSCar
F375mp
Ferrarini, Cleyton Fernandes.
Microestrutura e propriedades mecânicas de ligas Al-Si
hipoeutéticas conformadas por spray / Cleyton Fernandes
Ferrarini. -- São Carlos : UFSCar, 2006.
109 p.
Tese (Doutorado) -- Universidade Federal de São Carlos,
2005.
1. Alumínio. 2. Conformação por spray. 3. Ligas de
alumínio. 4. Microestrutura. 5. Propriedades mecânicas I.
Título.
CDD: 669.722 (20a)
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à Patrícia e Maria.
VITAE DO CANDIDATO
Mestre em Ciência e Engenharia de Materiais pela EESC-USP (1998),
Engenheiro Mecânico pela EESC-USP (1992).
i
MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA DA TESE DE DOUTORADO DE
CLEYTON FERNANDES FERRARINI
APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E
ENGENHARIA DE MATERIAIS, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO
CARLOS, EM 29 DE JUNHO DE 2005.
BANCA EXAMINADORA:
Dr. CLAUDEMIRO BOLFARINI
Orientador – PPG/CEM/DEMa/UFSCar
Dr. THOMAZ TOSHIMI ISHIKAWA
PPG/CEM/DEMa/UFSCar
Dr. WALTER JOSÉ BOTTA FILHO
PPG/CEM/DEMa/UFSCar
Dr. JOÃO BATISTA FOGAGNOLO
PPGECM/ Universidade São Francisco - USF
Dr. RUBENS CARAN JUNIOR
FEM/UNICAMP
ii
iii
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Claudemiro Bolfarini, pela orientação, compreensão e amizade;
Ao Prof. D. Cláudio Shyinti Kiminami, pelo apoio e incentivo;
Aos amigos Bereta e Kasama pelo apoio e, principalmente, pelo exemplo de
companheirismo;
Aos antigos alunos de IC e atuais amigos, Marquinho, Paçoca, Lais, Cássia e
Kaká pelo auxílio na etapa experimental;
Ao amigo Zuba pelo incentivo e apoio técnico;
Aos amigos, Arthur, Régis, Tânia, Estéfano, Maurício, Conrado, Rodrigo,
Carlos e Aroldo pelo convívio;
Aos técnicos Heitor, Beto e Tico (EESC) pelo auxílio na etapa experimental;
Ao CNPQ pela concessão da bolsa;
Aos professores e funcionários do PPGCEM;
À minha família pelo incentivo e apoio.
iv
v
RESUMO
O
presente
trabalho
teve
por
objetivo
a
caracterização
microestrutural e a determinação das propriedades mecânicas das ligas de AlSi 319 e 380 conformadas por spray. O processamento foi realizado através da
fusão das ligas em forno de indução, da atomização com nitrogênio e da
deposição do spray sobre um substrato de cobre. Foi utilizada, para
comparação microestrutural e de propriedades mecânicas, a liga de alumínio
380 processada por fundição em areia. A conformação por spray resultou em
depósitos com uma microestrutura mais refinada e homogênea sendo
composta basicamente por grãos equiaxiais de Al-α, partículas de silício, Al2Cu
e agulhas da fase β-AlFeSi. Foi investigada a influência dos parâmetros de
processo de conformação por spray da liga 380, constatando-se um aumento
da porosidade e uma redução do rendimento com a elevação da temperatura
de superaquecimento e da vazão mássica de metal. A porosidade dos
depósitos foi minimizada através de processo de extrusão, o qual, também,
proporcionou o refinamento de grão através recristalização da matriz. Ensaios
de tração a temperatura ambiente, em amostras da liga 380 conformada por
spray, apresentaram um aumento relativo nos valores de limite de escoamento
e de resistência e um aumento muito significativo no alongamento, quando
comparados aos valores obtidos para a liga fundida em areia. Estes resultados
foram atribuídos ao refinamento do tamanho de grão, à forma particulada do
silício e à redução da razão de aspecto das agulhas da fase β-AlFeSi presentes
no material conformado por spray. Quando conformada por spray e extrudada,
a liga 319 apresenta valores de limite de resistência e de dutilidade superiores
aos apresentados pela liga 380 depositada sob as mesmas condições de
processamento, devido às menores porcentagens de silício e de porosidade.
vi
vii
MICROSTRUCTURE AND MECHANICAL PROPERTIES OF SPRAY
FORMED HYPOEUTECTIC AL-SI ALLOYS
ABSTRACT
The aims of this work were the microstructural and tensile properties
characterization of the hypoeutectic spray formed Al-Si 319 and 380 alloys. The
alloys were melted by induction furnace, gas atomized with nitrogen and
deposited onto a copper substrate. The results were compared with
conventionally sand cast Al-Si 380 alloy samples.
Spray formed material showed fine and homogeneous microstructure,
composed by equiaxial α-Al matrix, silicon particles, Al2Cu and β-AlFeSi
intermetallics phases. Higher porosity and lower yield process were obtained
increasing the superheating temperature and liquid metal mass flow rate. The
extrusion promoted grain refinement by a partial recrystallization process and
strong decrease of the porosity.
Room temperature tensile tests of the spray formed Al-Si 380 alloy
showed both increased strength and elongation when compared with the values
observed for conventionally cast counterparts. These results can be ascribed to
the refined grain size, silicon particles morphology and smaller β-AlFeSi phases
presented in spray formed deposits. Due to the lower silicon content as well as
lower porosity in spray formed and extruded Al-Si 319 alloy, this material
showed higher values for the ultimate tensile strength and ductility when
compared to Al-Si 380 alloy deposits processed by same parameters.
viii
ix
PUBLICAÇÕES
FERRARINI, C. F.; BERETA, L. A ; KIMINAMI, C. S. ; BOLFARINI, C. ;; BOTTA
FILHO, W. J. . Microstructural Characterization of Rapidly Solidified Al-6.5%Si4%Cu Alloy Powders Produced by Gas Atomization. Journal of metastable
and nanocrystalline materials, v. 24-25, p. 519-522, 2005.
FERRARINI, C. F.; BOLFARINI, C.; KIMINAMI, C. S.. Microstructure and
mechanical properties of spray deposited hypoeutectic Al-Si alloy.
Materials
Science
and
Engineering
A-Structural
Materials
Properties
Microstructure and Processing, v. 375, p. 577-580, 2004.
FERRARINI, C. F., RIOS, C.T., BOTTA, W. J., KIMINAMI, C. S., BOLFARINI,
C.. Microstructures of rapidly solidified Al-9Si-3Cu alloy. Journal Of
Metastable and Nanocrystalline Materials, v.15-16, p.421 - 426, 2003.
x
xi
SUMÁRIO
Pág.
BANCA EXAMINADORA ............................................................................
i
AGRADECIMENTOS ..................................................................................
iii
RESUMO .....................................................................................................
v
ABSTRACT .................................................................................................
vii
PUBLICAÇÕES ...........................................................................................
ix
ÍNDICE DE ASSUNTOS..............................................................................
xi
ÍNDICE DE TABELAS .................................................................................
xiii
ÍNDICE DE FIGURAS .................................................................................
xv
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................
1
1.1 Considerações Gerais ...........................................................................
1
1.2 Objetivo..................................................................................................
3
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .....................................................................
5
2.1 Alumínio e suas ligas.............................................................................
5
2.1.1 Considerações gerais.........................................................................
5
2.1.2 Classificação das ligas de alumínio ...................................................
6
2.1.3 Elementos de liga................................................................................
8
2.1.4 Sistemas mais importantes de ligas de alumínio ...............................
12
2.1.5 O sistema Al-Si....................................................................................
13
2.1.6 Solidificação das ligas binárias Al-Si em processos de fundição........
15
2.1.7 Tratamentos usuais em ligas Al-Si......................................................
16
2.1.8 Influência do cobre nas ligas Al-Si fundidas........................................
18
2.1.9 Influência do Fe nas ligas Al-Si ..........................................................
20
2.2 Conformação por spray..........................................................................
23
2.2.1 O processo de conformação por spray...............................................
23
2.2.2 Desenvolvimento da microestrutura durante a conformação por
spray ................................................................................................
25
2.2.3 Principais parâmetros de processo que influenciam na
microestrutura do depósito................................................................
29
2.2.4 Vantagens da conformação por spray................................................
30
xii
2.3 Ligas de alumínio conformadas por spray.............................................
31
3 MATERIAIS E MÉTODOS........................................................................
35
3.1 Materiais.................................................................................................
35
3.2 Metodologia............................................................................................
36
3.3 Processamento......................................................................................
38
3.4 Extrusão.................................................................................................
42
3.5 Caracterização microestrutural..............................................................
42
3.6. Ensaios de Tração................................................................................
45
4. RESULTADOS .......................................................................................
47
4.1 Caracterização microestrutural da liga 380 ...........................................
47
4.1.1 Microestrutura da liga 380 fundida......................................................
47
4.1.2 Microestrutura da liga 380 conformada por spray...............................
50
4.2 Influência dos parâmetros de processo na microestrutura da liga 380
conformada por spray.............................................................................
62
4.2.1 Influência da pressão de atomização .................................................
62
4.2.2 Influência da distância entre o bocal atomizador e o substrato..........
65
4.2.3 Influência da temperatura de superaquecimento e da vazão
mássica de metal.................................................................................
68
4.3 Influência do processo de extrusão na microestrutura dos depósitos
da liga 380..............................................................................................
75
4.4 Propriedades mecânicas da liga 380 fundida, conformada por spray e
extrudada ............................................................................................
81
4.5 Microestrutura e propriedades mecânicas da liga 319 conformada por
spray e extrudada ................................................................................
89
5 CONCLUSÕES.........................................................................................
97
6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS.......................................
99
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................... 101
xiii
LISTA DE TABELAS
Pág.
Tabela 2.1 Grupos de ligas fundidas em alumínio.....................................
7
Tabela 3.1 Composição química das ligas utilizadas................................
35
Tabela 3.2 Parâmetros de processo utilizados e designações das
conformações por spray...........................................................
41
Tabela 4.1 Resultados de rendimento de deposição e de porosidade
média obtidos com as conformações P0,5, P0,8 e P1,0.........
62
Tabela 4.2 Resultados de rendimento de deposição e de porosidade
média obtidos com as conformações T645V6, D365 e D410..
66
Tabela 4.3 Resultados de rendimento de deposição, de porosidade
média e de tamanho de grão obtidos com as conformações
T715V6, T645V6, T715V4 e T645V4.......................................
69
Tabela 4.4 Porosidade média dos depósitos antes e após a extrusão......
75
Tabela 4.5 Propriedades mecânicas da liga 380 fundida, depositada por
spray e extrudada....................................................................
82
Tabela 4.6 Resultados de rendimento de deposição, de porosidade
média e de tamanho de grão obtidos com as conformações
T715V6 da liga 380 e 319........................................................
90
Tabela 4.7 Parâmetros de processo das conformações T715V6 da liga
380 e 319.................................................................................
Tabela 4.8 Propriedades
mecânicas
e
porosidade
dos
90
depósitos
T715V6 / 380 e T715V6 / 319..................................................
92
xiv
xv
LISTA DE FIGURAS
Pág.
Figura 2.1
Diagrama de equilíbrio de fases Al-Si................................... 14
Figura 2.2
Influência do teor de Si nas propriedades das ligas de
alumínio................................................................................. 15
Figura 2.3
Morfologia do silício pertencente a uma liga hipoeutética de
Al-Si: a)
sem tratamento de modificação, b) com
tratamento de modificação.................................................... 17
Figura 2.4
Corte do diagrama de equilíbrio de fases ternário Al-Cu-Si.. 19
Figura 2.5
Corte do diagrama de equilíbrio de fases Al-Si-Fe................ 21
Figura 2.6
Ilustração esquemática do processo de conformação por
spray...................................................................................... 24
Figura 2.7
Tipos de substrato e depósitos.............................................. 25
Figura 2.8
Esquema da deposição na conformação por spray.............. 26
Figura 3.1
Fluxograma do procedimento experimental.......................... 36
Figura 3.2
Equipamento de conformação por spray : a) vista geral, b)
interior da câmara de atomização, c) detalhe do bocal
atomizador............................................................................. 39
Figura 3.3
Esquema da seção transversal do depósito e de seu
volume útil............................................................................. 42
Figura 3.4
Localizações
das
amostras
para
caracterização
microestrutural....................................................................... 43
Figura 4.1
Micrografias da liga 380 fundida em areia, obtidas por: a)
microscopia ótica e b) microscopia eletrônica de varredura. 47
Figura 4.2
Micrografia da liga 380 fundida destacando o silício
eutético e as fases intermetálicas......................................... 48
Figura 4.3
Micrografias da liga 380 fundida destacando a fase
intermetálica Al2Cu : a) morfologia eutética e b) morfologia
irregular................................................................................
Figura 4.4
Micrografias da liga 380 fundida destacando as fases
49
xvi
intermetálicas Al2Cu e β-AlFeSi............................................ 49
Figura 4.5
Micrografias da liga 380 fundida destacando as fases
intermetálicas: a) α-AlFeSi e b) Al15(Fe, Mn)3Si2................... 50
Figura 4.6
Localização das amostras no depósito ................................ 51
Figura 4.7
Micrografias do depósito da liga 380 .................................... 52
Figura 4.8
Microestrutura do "overspray" da liga 380 com tamanho: a)
maior que 100µm e b) menor que 45. .................................. 54
Figura 4.9
a) micrografia do depósito da liga 380 obtida por MEV e b)
mapeamento por EDS do silício............................................ 55
Figura 4.10 Micrografias do depósito da liga 380: a) obtida por MEV e
b) obtida por MO.................................................................... 55
Figura 4.11 Micrografia do depósito da liga de Al-Si eutética.................. 56
Figura 4.12 Micrografia do depósito da liga 380 destacando diferentes
morfologias do silício............................................................. 57
Figura 4.13 a) Micrografias do depósito da liga 380 destacando βAlFeSi e Al2Cu, b) espectro de análise por EDS da fase β-
AlFeSi, c) micrografias do depósito da liga 380 destacando
Al2Cu e d) espectro de análise por EDS da fase Al2Cu........ 58
Figura 4.14 Micrografias da liga 380: a) obtida por conformação por
spray e b) processada por fundição..................................... 59
Figura 4.15 a) micrografia de partícula de "overspray" da liga 380 b)
ampliaçãp da micrografia (a) destacando as partículas de
Si e fase β-AlFeSi ..............................................................
60
Figura 4.16 a) esquema indicando valores de porosidade média em
diferentes regiões do depósito da liga 380, b) micrografia
referente ao centro do depósito , c) micrografia referente à
localização próxima ao substrato.......................................... 61
Figura 4.17 Esquema ilustrando a forma do de spray para: a) menor
pressão de atomização e b) maior pressão de atomização.. 63
Figura 4.18 a) e c) micrografias do depósito P0,5 e b) e d) micrografias
do depósito P1,0................................................................... 65
Figura 4.19 Esquema ilustrando a forma do de spray para: a) menor
xvii
"distância
bocal/substrato"
e
b)
maior
"distância
bocal/substrato"..................................................................... 67
Figura 4.20 a)
micrografia
do
depósito
referente
à
"distância
bocal/substrato" de: a) 325mm, b) 365mm, c) e d) 410mm.. 68
Figura 4.21 Micrografias
do
depósito
T715V6
apresentando:
a)
diferentes tamanhos de poros e b) coalescimento de poros. 71
Figura 4.22 Micrografias dos depósitos: a) T645V6 e b) T715V6............ 72
Figura 4.23 Micrografias
do
depósito:
a)
T715V6
referente
à
localização A, b) T645V6 referente à localização A, c)
T715V6 referente à localização B, d) T645V6 referente à
localização B, e) T715V6 referente à localização C, e)
T645V6 referente à localização C. ....................................... 73
Figura 4.24 Micrografias de amostras depósito T645V6: a) e c) sem
extrusão, b) e d) após a extrusão.......................................... 76
Figura 4.25 a) e c) micrografias de depósito da liga 380 obtidas por
microscopia eletrônica de transmissão, b) e d) espectros
das microaanálises por EDS................................................. 79
Figura 4.26 Micrografias do depósito apresentando recristalização
parcial.................................................................................... 80
Figura 4.27 Gráfico “tensão versus deformação” de corpos-de-prova da
liga
380
fundida,
conformada
por
spray
e
extrudada............................................................................... 81
Figura 4.28 Micrografias obtidas por MEV exibindo a superfície de
fratura da liga 380: a) e c) fundida em areia, b) e d)
conformadas por spray........................................................
84
Figura 4.29 Micrografias obtidas por MEV exibindo a superfície de
fratura da liga 380 conformadas por spray: a) silício
fraturado e b) fase rica em cobre fraturada........................... 85
Figura 4.30 Micrografias obtidas por MEV exibindo superfícies de
fratura de corpos-de-prova de tração do depósito da liga
380 sem extrusão (a e c) e extrudado (b e d)......................
Figura 4.31 Micrografias das ligas conformadas por spray: a) liga 380 e
87
xviii
b) liga 319.............................................................................. 89
Figura 4.32 a) e c) microestruturas do depósito T715V6 da liga 380, b)
e d) microestruturas do depósito T715V6 da liga 319........... 91
Figura 4.33 Microestrutura da liga 319 extrudada.................................... 92
Figura 4.34 Difratogramas de amostras dos depósitos T715V6/380 e
T715V6/319........................................................................... 93
Figura 4.35 Micrografias obtidas por MEV exibindo superfícies de
fratura
de
corpos-de-prova
de
tração
do
depósito
extrudado da liga 319............................................................ 94
1 INTRODUÇÃO
1.1 Considerações gerais
Apesar das ligas Al-Si formarem o sistema de ligas de alumínio mais
utilizado em fundição, suas estruturas brutas de fusão são constituídas por
grãos grosseiros, altos níveis de segregação, silício eutético em forma de
grandes
placas
e
compostos
intermetálicos
fragilizantes
[1].
Estas
características microestruturais limitam severamente o campo de aplicação
destas ligas, restringindo, por exemplo, suas utilizações em componentes
estruturais, devido às propriedades mecânicas inadequadas [2].
Para alterar as propriedades destas ligas existem alguns tratamentos
tradicionais que são utilizados em rotas de fundição. O refinamento de grão é
obtido com a adição de inoculantes a base de titânio ao banho, o que provoca
a nucleação heterogênea da fase alumínio-α. O nível de segregação é
amenizado com tratamentos térmicos de homogeneização e quanto à forma do
silício, é comumente utilizado o tratamento de modificação que, através da
adição de elementos como sódio e estrôncio, promove a transformação das
placas de silício em formas fibrosas e, conseqüentemente, o aumento de
ductilidade.
Por outro lado, quanto às fases intermetálicas indesejáveis nas ligas Al-Si
comerciais, estudos sobre a influência da taxa de resfriamento e da adição de
elementos de liga na formação das mesmas, não apresentam um consenso
quanto aos procedimentos adequados para amenizar seus efeitos deletérios.
Dentre estas fases, a fase Al5FeSi, conhecida como β-AlFeSi, é a mais
preocupante devido à sua forma de agulha que age como concentrador de
tensão, reduzindo drasticamente a ductilidade destas ligas [3].
Alternativamente à fundição e seus tratamentos complementares, os
processos que envolvem solidificação rápida são capazes de produzir um
considerável refinamento e homogeneidade microestrutural em um grande
número de ligas, melhorando, significativamente, suas propriedades [4]. Além
2
disso, propiciam o aumento da solubilidade sólida de impurezas na matriz e a
formação de fases intermetálicas metaestáveis.
Entre estes processos alternativos, a conformação por spray se destaca por
produzir, em uma única etapa de processamento, a partir de uma carga líquida,
produtos semi-acabados caracterizados por matrizes homogêneas de finos
grãos equiaxiais com distribuição uniforme de segundas fases e livres de
macrosegregação [5, 6]. Este processo consiste, basicamente, na atomização
por gás inerte de um fluxo de metal líquido em gotas de vários tamanhos, as
quais são impulsionados pelo gás em direção a um substrato onde se
consolidam e solidificam formando um depósito coerente.
Apesar de existirem várias pesquisas sobre conformação por spray de
ligas de alumínio, as composições investigadas até o momento, se limitam às
ligas para trabalho mecânico e às ligas de Al-Si hipereutéticas, como o caso da
liga A390 utilizada na produção de camisas de cilindros [7].
O refinamento microestrutural resultante da conformação por spray pode
ser uma rota alternativa para amenizar o efeito prejudicial das impurezas
encontradas em ligas secundárias. A modificação morfológica do silício eutético
e a redução de tamanho das fases intermetálicas, certamente, aumentariam a
dutilidade destas ligas, possibilitando a conformação mecânica e a produção de
componentes estruturais, cujas especificações de projeto, geralmente, exigem
uma combinação de resistência mecânica e dutilidade.
Assim, o possível aumento do campo de aplicação das ligas de Al-Si
secundárias ocasionaria reflexos importantes quanto à economia de energia e
à preservação do meio ambiente, uma vez que estas substituiriam ligas que
são elaboradas a partir do alumínio primário, o qual é produzido através da
extração da bauxita e do processo de eletrólise.
Portanto, o estudo sobre a conformação por spray de ligas de alumíniosilício hipoeutéticas secundárias pode contribuir para preencher uma lacuna
importante no conhecimento científico da influência deste processamento não
convencional nas propriedades de ligas de alumínio. Além disso, o domínio do
processo da conformação por spray de ligas de alumínio gera novas
3
possibilidades de pesquisas e avanços científicos aos pesquisadores do
laboratório de fundição do DEMa/UFSCar.
1.2 Objetivo
Este trabalho teve por objetivo:
- Investigar a microestrutura e as propriedades mecânicas das ligas de
alumínio-silício 319 e 380 conformadas por spray e determinar parâmetros de
processo que viabilizassem a combinação entre baixa porosidade do depósito e
alto rendimento de deposição;
- Investigar a influência do processo de extrusão na microestrutura e nas
propriedades mecânicas das ligas de alumínio-silício 319 e 380 conformadas
por spray.
4
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
5
2.1 Alumínio e suas ligas
2.1.1 Considerações gerais
As combinações singulares de propriedades providas pelas ligas de
alumínio tornam esses materiais metálicos muito versáteis, econômicos e
atrativos, permitindo sua aplicação em uma ampla gama de produtos, desde
folhas maleáveis e altamente dúcteis até produtos sob os mais rígidos
controles de qualidade como, por exemplo, os da indústria aeroespacial.
As
baixas
densidades
e
altas
resistências
específicas
(razão
resistência/peso) das ligas de alumínio são as características mais notáveis e
permitem às mesmas, aplicações em estruturas resistentes e leves, as quais
são particularmente vantajosas para qualquer equipamento de transporte,
como automóveis e aeronaves.
As ligas de alumínio apresentam alta resistência à corrosão e
características atóxicas o que possibilita o emprego em utensílios de cozinha e
embalagens para indústria alimentícia e de bebidas. A excelente condutividade
elétrica propicia às ligas de alumínio fundidas a aplicação em acessórios de
linhas de transmissão de energia elétrica, tendo também, largo emprego em
produtos mais simples como em trabalhos arquitetônicos e ornamentais devido
à sua estética [8,9].
A maioria das ligas de alumínio pode ser trabalhada mecanicamente até
a forma desejada e também pode ser fundida por todas as técnicas existentes,
podendo o rendimento destes processos, variar conforme a composição das
ligas.
Atualmente, outra notável característica das ligas de alumínio sendo
muito explorada é sua reciclabilidade. O aumento do interesse com o
suprimento de energia e as suas implicações econômicas vem atraindo, nos
últimos anos, cada vez mais atenção para a reciclagem do alumínio devido às
enormes quantidades de energia requeridas para a redução do minério bauxita,
principal fonte do metal. A energia requerida para a refusão do alumínio
6
preparando-o para um novo processo de transformação é aproximadamente
5% daquela requerida para a produção de alumínio a partir do minério.
Consequentemente a reciclagem de ligas de alumínio é uma atividade em
franca expansão.
Dentre os setores que utilizam o alumínio e suas ligas, o de transporte
vem se destacando devido ao significativo aumento de consumo, o qual atingiu
20,3 % do consumo total brasileiro em 2002 [10].
Este fato é decorrente, principalmente, da alta demanda do setor
automobilístico que vem substituindo ferros fundidos e aços com o intuito de
otimizar o desempenho dos veículos através da diminuição de seus pesos e,
conseqüentemente, da economia no consumo de combustível e da redução de
emissão de poluentes.
Outro fator seria aumento do consumo pela indústria aeronáutica que
tem sido responsável por grande parte das pesquisas nesta área [10].
Quanto à variedade das ligas de alumínio, a tecnologia mundial
desenvolveu, até hoje, quase um milhar de ligas de alumínio, muitas das quais
permanecem em uso por suas características excepcionais. Outras, com
pequenas alterações na composição ou pela adição de novos elementos,
cresceram de importância, enquanto que muitas se tornaram obsoletas ante as
modernas ligas desenvolvidas.
2.1.2 Classificação das ligas de alumínio
Dentre as várias tentativas de ordenar as centenas de ligas de alumínio,
as classificações feitas pela ASTM (American Society for Testing Materials) e
pela “Aluminium Association”, são as que alcançaram uma racionalidade
satisfatória [11].
Convencionalmente as ligas foram divididas em duas categorias, as
composições para fundição e aquelas trabalhadas mecanicamente, devido à
diferenciação que cada categoria oferece em relação à composição química e
ao mecanismo que leva às propriedades desenvolvidas [8].
7
As ligas de alumínio para fundição são classificadas segundo seus
elementos de liga majoritários, através de um sistema numérico de quatro
dígitos que pode ser visto na tabela 2.1 abaixo.
Tabela 2.1 - Grupos de ligas fundidas em alumínio [11].
Ligas
Elementos Majoritários
1XX.X
Mínimo de 99% de Alumínio (em peso)
2XX.X
Cobre (Cu)
3XX.X
Silício (Si), com adições de Cu e/ou Mg
4XX.X
Silício (Si)
5XX.X
Magnésio (Mg)
7XX.X
Zinco (Zn)
8XX.X
Estanho (Sn)
9XX.X
Outros elementos majoritários
Neste sistema numérico, o primeiro dígito diz respeito ao elemento de
liga majoritário, o segundo e terceiro dígito são atribuídos para a identificação
de uma liga em particular, ou seja, representam a família à qual pertence a liga.
O quarto dígito indica a natureza da liga, com XXX.0 representando os limites
de composição para os fundidos.
Muitas vezes se usam letras maiúsculas antes desses quatro dígitos
para distinguir as ligas com uma composição genérica, normalmente
restringindo a tolerância de alguma(s) impureza(s). As letras mais utilizadas
são A e B, por exemplo, as ligas 380, A380 e B380, que diferem entre si pela
tolerância dos elementos ferro e zinco.
As ligas de Alumínio para a fundição possuem propriedades importantes
como ótima fluidez, baixo ponto de fusão, baixa solubilidade para gases (com
exceção do hidrogênio), são quimicamente estáveis e possuem uma ótima
aparência [12].
Dentro da categoria das ligas de alumínio para fundição, as ligas de
alumínio-silício são as mais importantes, devido às suas excelentes
características de fundição resultante da ação do silício que melhora a fluidez,
8
diminui a retração térmica e aumenta a resistência à abrasão. Outro fato a ser
considerado é que o silício é um dos poucos elementos que podem ser
adicionados ao alumínio sem provocar aumentos na densidade da liga pois sua
densidade é um pouco menor que a do alumínio, 2,3 g/cm3 e 2,7 g/cm3,
respectivamente [12].
2.1.3 Elementos de liga
Os elementos de liga podem melhorar a resistência mecânica do
alumínio de duas maneiras diferentes: formando soluções sólidas ou segundas
fases. Para os elementos que formam soluções sólidas, a efetividade no
aumento da resistência mecânica tende a aumentar com o aumento na
diferença entre os raios atômicos do solvente (AI) e do soluto (elementos de
liga). No caso de elementos formadores de segundas fases, o aumento da
resistência e da dureza se dá pelo aumento da fração volumétrica de fases
constituídas por precipitados formados pelos elementos de liga.
Os elementos mais comumente encontrados nas ligas comerciais de
alumínio são silício, cobre, magnésio e zinco. Todos esses elementos, com
exceção do Si apresentam valores significativos de solubilidade sólida no
alumínio, e em todos os casos a solubilidade aumenta com o aumento da
temperatura [13].
As adições de elementos de liga são importantes nas ligas de fundição
devido à melhoria das características de fundição, tais como aumento da
fluidez e redução da fragilidade à quente e, também, devido à melhoria da
resistência
à
corrosão,
usinabilidade
e
soldabilidade.
A
busca
por
aprimoramentos de propriedades culminou no desenvolvimento de inúmeras
ligas com as mais diversas combinações de elementos, sendo que as
principais adições e seus efeitos serão a seguir considerados [8, 12, 14]:
a) Silício - utilizado em até 13%, é o elemento mais usado comercialmente nas
ligas para fundição. Aumenta a fluidez do alumínio líquido permitindo que ele
9
flua através de delgadas paredes na cavidade do molde reproduzindo detalhes
mais delicados. Diminui a porosidade e o coeficiente de expansão térmica e em
teores altos, torna difícil a usinagem. Quando combinado com o magnésio pode
melhorar muito a resistência mecânica, por tornar a liga tratável termicamente.
As ligas de alumínio com silício apresentam um eutético com cristais de silício
em forma de placas finas que contribuem fortemente para o decréscimo da
dutilidade da liga. Por esse motivo o silício eutético deve ser modificado, como
será visto adiante.
b) Cobre - foi um dos primeiros elementos de liga utilizados e tem ainda grande
utilização. Utilizado na faixa de 4% a 10% aumenta consideravelmente a
resistência mecânica e a dureza do fundido, tanto antes como depois do
tratamento térmico. É bastante solúvel no alumínio em altas temperaturas (5%
a 524° C) e, apenas ligeiramente solúvel à temperatura ambiente. O cobre
ainda torna a liga termicamente tratável permitindo um grande aumento da
resistência mecânica. Diminui a contração interna de solidificação e melhora a
usinabilidade. Todavia, em comparação com a fundibilidade obtida com o
silício, o cobre é inferior por proporcionar fragilidade à quente e redução da
fluidez.
c) Magnésio - com as mesmas características de solubilidade do cobre, o
magnésio é a base para o aumento de resistência mecânica e dureza após
tratamento térmico das ligas AI-Si, devido à formação de precipitados
endurecedores como o Mg2Si. Esses precipitados têm efeito contrário na
dutilidade da liga. A presença do magnésio torna difícil a fundição devido à
tendência a oxidação e conseqüente formação de escória, o que também faz
cair os teores de silício, cobre e outros elementos. Para melhores resultados
são recomendados cuidados especiais na manipulação dessas ligas, como a
utilização de atmosfera inerte ou mesmo o tratamento da liga líquida com cloro
gasoso para remover gases e os óxidos dissolvidos.
10
d) Zinco - tanto pode ser um elemento de liga como uma impureza
dependendo da liga. Aumenta a resistência mecânica mas com decréscimo da
dutilidade. Quando adicionado em quantidades superiores a 10%, torna a liga
susceptível ao trincamento durante à solidificação e produz elevada contração
na solidificação. Em combinação com o magnésio produz boa resistência ao
impacto e excelente dutilidade.
e) Níquel - melhora a estabilidade dimensional e a resistência em temperaturas
elevadas. Tem particular emprego em ligas para cabeçote de cilindros de
motores de aeronaves com refrigeração a ar e em pistões de motores de
combustão interna de automóveis. As ligas comuns empregam o níquel na
faixa de 0,5 a 3,0%.
f) Cromo - é primariamente, um refinador de grão, utilizado em conjunto às
adições de titânio. Em algumas ligas é utilizado para melhorar a resistência em
temperaturas elevadas de uso .
g) Manganês - atua também como refinador de grão e é capaz de reduzir a
contração durante a solidificação. Deve, no entanto ser controlado quando em
combinação com o ferro, pois juntos dão origem a grandes partículas
intermetálicas que reduzem a resistência da liga. Em teores de até 0,5 %
diminui o efeito fragilizante do ferro através da formação de precipitados
globulares de Fe-Mn. Em ligas contendo cobre a sua maior contribuição é a
formação de compostos que ancoram os contornos de grão.
h) Ferro - algumas vezes é adicionado para reduzir a contração. Age também
como refinador de grão, com exceção nas ligas à base de silício fundidas em
areia. Nas fundidas sob pressão diminui o agarramento ao molde. O teor de
ferro, nestes casos, deve estar sempre entre 0,15 e 1,2%. Nas ligas de alta
resistência à base de cobre ou lítio, esse elemento diminui sensivelmente a
dutilidade e deve permanecer abaixo de 0,3%.
11
i) Titânio - é usualmente adicionado em teores de 0,05 a 0,2% corno refinador
de grão para todas as ligas de fundição em areia e molde permanente, e
dispensável na fundição sob pressão pois a microestrutura já é fina devido ao
resfriamento rápido.
j) Boro - empregado em teores de no máximo 0,01% juntamente com o titânio,
tornando mais duradouro o efeito deste em refusões.
k) Fósforo - a estrutura acicular do eutético de silício é normal em ligas
hipoeutéticas, devido à presença de fósforo entre 2 e 10 ppm, que favorece a
nucleação de silício primário em sítios de fosfatos de alumínio. A ausência da
impureza nucleante de AIP previne a formação desses cristais de silício
primário e proporciona o aparecimento de um eutético finamente dividido. O
fósforo até 1,5 ppm dá origem a um eutético com estrutura lamelar com
propriedades mecânicas intermediárias entre as duas
estruturas anteriores.
l) Sódio e estrôncio - a adição de sódio e estrôncio em traços de 0,002 a 0,2%
modificam a estrutura do eutético da liga hipoeutética de silício através da
presença de compostos como NaSi2 e AI-Si-Sr que incorporam o fósforo em
sua estrutura via solução sólida, tornado-o inativo como impureza nucleante
dos cristais de silício em forma lamelar.
2.1.4 Sistemas mais importantes de ligas de alumínio
Dentre a diversidade de ligas de alumínio, os sistemas mais comuns são
apresentados a seguir [13]:
Al-Si – por se tratar do sistema de maior interesse neste trabalho, ele será
descrito com maiores detalhes no próximo item.
12
AI-Cu - possuem ótima resistência mecânica final por serem passíveis de
tratamento térmico em teores de cobre de até 5,5%. Podem ser trabalhadas
mecanicamente para incremento de suas propriedades.
AI-Mg
-
apresentam
ótima
combinação
de
propriedades
mecânicas,
usinabilidade e resistência à corrosão. Convencionalmente são as mais leves e
podem atingir boa resistência a tração na condição bruta de fusão quando
associado ao cobre porém, apresentam péssima fundibilidade.
Al-Li – oferecem interessantes combinações de baixa densidade e elevado
módulo de elasticidade. O lítio tem solubilidade significativa no alumínio e
provoca apreciável endurecimento por precipitação.
AI-Cu-Si - são ligas essencialmente para fundição, possuindo excelente
moldabilidade, fluidez e melhores propriedades mecânicas após tratamento
térmico que as ligas binárias. Apresentam boa estanqueidade (baixo nível de
porosidade) e boa resistência à corrosão.
Al-Si-Mg – apresentam excelente características de fundibilidade, soldabilidade
e resistência à corrosão. Elas são tratáveis termicamente, o que lhes confere
excelentes propriedades mecânicas, tornando-as atrativas para muitas
aplicações que incluem peças automotivas e aeroespaciais.
AI-Cu-Sn-Ni - são ligas antifricção, onde o estanho fica livre na matriz,
melhorando as propriedades antifricção, enquanto o níquel e o cobre formam
precipitados endurecedores.
2.1.5 O sistema Al-Si
Atualmente a Aluminium Association têm em seus registros cerca de 238
composições diferentes de ligas de alumínio para fundição (HATCH, 1984).
13
Dentro desse universo, as ligas de alumínio-silício respondem por 50% das
ligas de alumínio utilizadas na indústria de fundição [14].
Estas
apresentam
características
excelentes
de
fundição,
principalmente, a alta fluidez e a baixa contração. Como a densidade do silício
é de apenas 2,3g/cm3, ele é um dos poucos elementos que quando adicionado
ao alumínio diminui a densidade da liga [8].
Este sistema binário, cujo diagrama de equilíbrio de fases pode ser visto
na figura 2.1, apresenta um eutético simples que ocorre a 577°C em uma
composição correspondente a 12,6% Si. Nesta temperatura eutética, o
alumínio e o silício formam soluções sólidas com 1,65% de Si e 0,5% de
Alumínio, respectivamente [13].
Assim, as ligas Al-Si são divididas em três grupos segundo o teor de Si
presente: ligas hipoeutéticas com 5-10% em peso de silício, ligas eutéticas com
11-13% em peso de silício e ligas hipereutéticas com 14-20% de silício. As
microestruturas obtidas por fundição destes três grupos de liga podem ser
vistas na 2.1.
Ligas binárias Al-Si combinam alta resistência à corrosão, boa
soldabilidade e baixa densidade [13] além de apresentarem uma grande gama
de propriedades físicas e mecânicas que dependem da microestrutura e do
teor de silício. A figura 2.2 apresenta a influência do teor de silício em algumas
propriedades destas ligas.
14
Figura 2.1– a) Diagrama de equilíbrio de fases do sistema Al-Si; b)
microestrutura bruta de fusão de uma liga Al-Si hipoeutética; c) microestrutura
bruta de fusão de uma liga Al-Si eutética; d) microestrutura bruta de fusão de
uma liga Al-Si hipereutética.
15
Figura 2.2 – Influência do teor de Si nas propriedades das ligas de alumínio
[15].
2.1.6 Solidificação das ligas binárias Al-Si em processos de fundição
O processo de solidificação das ligas metálicas envolve essencialmente
fenômenos de nucleação e crescimento, redistribuição de soluto, fluxo de
material e transferência de calor. A microestrutura decorrente é muito
dependente da composição da liga e das condições de solidificação.
Em ligas Al-Si hipoeutéticas, solidificadas por processos convencionais
de fundição, a estrutura formada é predominantemente dendrítica. A sua
formação é atribuída ao fenômeno de superesfriamento constitucional, em que
variações locais na composição do líquido, associadas à rejeição de soluto pelo
sólido formado, proporcionam uma situação onde regiões líquidas à frente da
16
interface sólido/líquido possuam temperaturas abaixo da temperatura “liquidus”,
criando
instabilidades
morfológicas
na
interface
de
solidificação
e,
conseqüentemente, o crescimento de protuberâncias que formarão as
dendritas. Dependendo das condições de solidificação as dendritas podem ser
colunares ou equiaxiais. O crescimento dendrítico é fortemente cristalográfico e
no caso do alumínio, as ramificações primárias são paralelas à direção
cristalográfica <001>.
Assim,
as
ligas
Al-Si
hipoeutéticas
terão
como
seqüência
de
solidificação: surgimento da fase primária alumínio-α que crescerá sob a forma
dendrítica até que o líquido, contido em
regiões interdendríticas, atinja a
composição eutética e se transforme no eutético Al-Si. Por outro lado, as
hipereutéticas terão as partículas de Si como fase primária as quais cresceram
e ficaram envoltas pelo eutético Al-Si e, nas ligas eutéticas, o líquido ao atingir
a temperatura eutética se transformará no eutético Al-Si .
2.1.7 Tratamentos usuais em ligas Al-Si
Segundo MOHANTY [16], as ligas de alumínio fundidas geralmente
apresentam dois tipos de grãos: colunares e equiaxiais. Ambos são
relativamente grosseiros e por isso são responsáveis por limitações quanto às
propriedades mecânicas resultantes das ligas. Por este motivo, o tratamento de
refino de grão é comum às ligas de alumínio-silício fundidas e é efetuado
através da introdução, no banho metálico, de germes ativos, finamente
divididos, que provoquem uma nucleação heterogênea e eficiente da fase
alumínio-α. Geralmente, o inoculante utilizado é uma liga-mãe de Al-Ti ou AlTi-B que além de ser eficiente no refinamento, torna a microestrutura mais
homogênea.
O efeito de refinamento de grão também pode ser provocado
aumentando-se a taxa de solidificação da liga ou o gradiente de temperatura no
banho, contudo a prática mais comum é a adição de elementos que provoquem
a nucleação necessária.
17
As ligas de alumínio-silício hipoeutéticas e eutéticas têm uma larga faixa
de utilização e suas propriedades dependem da microestrutura resultante do
processamento, especialmente, da morfologia do silício eutético que,
geralmente, se apresenta na forma de grandes placas paralelas.
O eutético modificado é caracterizado por uma estrutura fibrosa fina do
silício eutético e é exigido em muitas aplicações devido às melhores
propriedades mecânicas da liga fundida, especialmente a dutilidade. A figura
2.3 apresenta micrografias da liga de alumínio 356 antes e depois do
tratamento de modificação do silício eutético.
a)
b)
Figura 2.3 – Morfologia do silício pertencente a uma liga hipoeutética de Al-Si:
a) sem tratamento de modificação, b) com tratamento de modificação [17].
A formação do silício eutético pode ser ajustada com a adição de uma
pequena quantidade de sódio ou estrôncio, o que pode causar a transição da
estrutura granular não-modificada para uma estrutura fina modificada.
Dentre as explicações existentes na literatura, uma com boa aceitação
seria a que relata que os átomos dos elementos modificadores são adsorvidos
nas superfícies de crescimento dos cristais de silício, impedindo este
crescimento e restringindo a intensificação da germinação, de modo a originar
cristais de silício com estrutura fina e múltiplas ramificações. Outra
argumentação diz respeito à alteração na tensão superficial entre o alumínio e
o silício causada pela adição de agentes modificadores.
18
As ligas Al-Si hipereutéticas, apesar de apresentarem excelente
resistência ao desgaste, baixos coeficientes de expansão térmica e ótimas
características de fundição, são menos utilizadas que as hipoeutéticas devido à
exigência de maior controle da microestrutura e da sanidade das peças
fundidas e a menor usinabilidade devido a grande quantidade de partículas de
Si primário [13].
O controle do número e tamanho das partículas de Si primário de ligas
Al-Si hipereutéticas é realizado através de tratamento de refinamento, que
consiste na adição ao banho de partículas que facilitem a nucleação do Si
como as do composto AlP, considerado um dos mais eficientes substratos pois
basta apenas a adição de poucos ppm para se obter ótimos resultados de
refino do Si. As partículas de Si resultantes do tratamento, geralmente
apresentam de 8 a 10% do tamanho das partículas não refinadas [13]. A
remoção do sódio, antes do tratamento com fósforo é necessária, pois este
forma fosfeto de sódio no banho, consumindo o fósforo necessário ao
tratamento.
Quando as hipereutéticas são utilizadas em fundição sob pressão, o
tratamento de refinamento não se faz necessário devido a algumas
características do processo como a turbulência gerada durante a alimentação
do molde e a maior taxa de resfriamento.
2.1.8 Influência do cobre nas ligas Al-Si fundidas
O cobre é adicionado às ligas de alumínio-silício em quantidades entre 2
a 4,5% com a finalidade de aumentar a resistência mecânica da liga e a
resistência à fadiga, sem a perda das boas características de fundibilidade. O
cobre é adicionado em quantidades acima de 4,5% (6-10%) quando a
resistência mecânica é, sobretudo, o principal aspecto tecnológico da liga, no
entanto, estas perdem muito em fundibilidade por aumentarem o seu intervalo
de solidificação. Fora de solução sólida o cobre pode formar blocos de Al2Cu
que são prejudiciais para as propriedades mecânicas.
19
Em ligas Al-Si hipoeutéticas, a presença de cobre está relacionada a um
aumento no intervalo de solidificação e a formação do eutético ternário Al-SiAl2Cu . A figura 2.4 mostra uma corte no diagrama de equilíbrio ternário Al-CuSi, para uma liga com 6% em peso de Si. A seta vertical mostra a seqüência de
solidificação segundo um teor de 3,5% em peso de cobre. Para essa
composição (6%Si e 3,5%Cu) a linha atinge a TLíquidus em 590oC formando a
fase de alumínio α e, em 522oC ocorre a formação da fase Al2Cu no eutético
ternário (Al2Cu-Si-Al).
Al-3,5%Cu-6%Si
Al2 Cu + Si+ Al
Figura 2.4 - Corte do diagrama de equilíbrio de fases ternário Al-Cu-Si
(Mondolfo,1976).
Nas ligas onde o cobre não é permitido acima de 0,3% em peso, como
na liga 356, o intervalo de solidificação é de aproximadamente 60oC, já na liga
319, onde o teor de cobre pode chegar a 4,0% o intervalo de solidificação
aumenta para 100oC [18]. Como conseqüência, as ligas com alto teor de cobre
são mais susceptíveis à formação de porosidade.
Segundo SAMUEL & SAMUEL [3], além da forma eutética de Al-Si-Al2Cu
e da forma de blocos de Al2Cu, o cobre na presença de Mg em teores acima de
0,1%, forma plaquetas de Al5Mg8Cu2Si6 e reduz ainda mais a temperatura
“solidus” da liga.
20
2.1.9 Influência do Fe nas ligas Al-Si
Uma grande preocupação quanto ao emprego de ligas de alumínio em
componentes estruturais é a presença dos compostos intermetálicos que
podem ter uma morfologia prejudicial às propriedades mecânicas da peça
fundida [19]. Estes compostos intermetálicos são fases estáveis e, portanto não
se dissolvem com os tratamentos térmicos de homogeneização e de
solubilização.
O Fe, presente na maioria das ligas comerciais de alumínio, é
considerado a principal impureza destas ligas pois, sozinho ou em conjunto
com o silício, em teores acima de 0,05% que corresponde à sua solubilidade
máxima no alumínio, forma intermetálicos que podem fragilizar severamente o
material [16, 20].
Em alguns casos, o ferro em pequenas quantidades aumenta a
resistência e a dureza da liga, além de reduzir a tendência ao trincamento à
quente. Nas ligas fundidas sob pressão o teor de ferro pode chegar a 1,2%
para evitar a soldagem das peças na matriz metálica.
Segundo Hatch [13], no sistema Al-Fe-Si existem duas fases ternárias
que podem estar em equilíbrio com o alumínio, são elas: Fe2SiAl8, conhecida
como fase α-FeAlSi e FeSiAl5, conhecida como fase β-FeSiAl. Outras duas
fases também podem se formar em condições adversas de alto teor de silício
(>14%) ou alto teor de ferro (>2%), são elas: FeSi2Al4 e AlFeSi3,
respectivamente. A partir do corte do diagrama de equilíbrio ternário Al-Fe-Si
em 0,7% Fe, mostrado na figura 2.5, é possível traçar um paralelo entre a
formação dos intermetálicos de ferro em uma liga Al-6%Si e a seqüência de
solidificação de um sistema Al-Fe-Si .
21
Figura 2.5 - Corte do Diagrama de Equilíbrio Al-Si-Fe (MONDOLFO,1976).
Do diagrama exibido pela figura 2.5, uma composição inicial de 6% em
peso de silício, começa a solidificação em 650o C com a formação da fase α de
alumínio e termina em 576o C com a formação do eutético ternário Al-SiFeSiAl5.
Entre estas duas reações estão a formação dos intermetálicos
Fe2SiAl8 a 616oC e FeSiAl5 a 611oC. Na prática, dificilmente se alcançam as
condições de equilíbrio impostas pelo diagrama e por isso é muito comum que
nas ligas comerciais apareçam as fases FeAl6, FeAl3, Fe2SiAl8, FeSi2Al4 e
FeSiAl5 coexistindo entre si.
Na presença de magnésio (0,2-0,5%) ou de cobre, o ferro deve formar
as fases FeMg3Si6Al8 ou Cu2FeAl7, mas estas fases não estabelecem equilíbrio
com a fase Al5Mg8Cu2Si6, citada anteriormente, cuja presença tem sido
freqüentemente observada nas ligas de alumínio-silício que contenham cobre e
magnésio.
O conhecido efeito prejudicial da fase β-Al5FeSi nas propriedades
mecânicas das ligas está associado a sua morfologia, pois se apresenta em
forma de agulhas, o que resulta em um eficiente concentrador de tensões.
Segundo SAMUEL [3], o comprimento médio das agulhas de β-Al5FeSi está
diretamente ligado à depreciação das propriedades mecânicas da liga.
22
A morfologia e o tamanho das fases ricas em Fe nas ligas de alumínio
dependem da composição da liga e das condições de solidificação.
Quanto à influência da composição química, o exemplo mais clássico é
efeito da adição de Mn à liga Al-Si-Fe. A adição de Mn em teores que somados
ao teor do Fe não excedam 0,8%, pode evitar a fase β-Al5FeSi em forma de
agulhas,
promovendo
a
formação
da
fase
Al15(Fe,Mn)3Si2
e,
consequentemente, evitando a fragilização do material [21].
Allen et al. [22] descrevem os fatores que governam a seleção de fases
em ligas de alumínio da série 1XXX durante o processamento de chapas por
fundição semicontínua. Neste trabalho, é relatada a existência de uma taxa de
resfriamento crítica que determina qual fase se manterá estável após um
crescimento competitivo. Na solidificação de uma liga do sistema Al-Si-Fe, a
uma taxa de resfriamento superior àquela critica, a fase metaestável Fe2SiAl8
necessita de um superesfiamento térmico menor que fase estável FeSiAl5
devido à diferença entre os mecanismos de crescimento dos intermetálicos que
compõe os eutéticos, ou seja, o crescimento da fase Fe2SiAl8 que possui uma
interface difusa é muito mais fácil que o crescimento da interface facetada da
fase FeSiAl5.
Backerud et al. [17] relatam que na liga Al-Si 380, a fase α-AlFeSi
(Fe2SiAl8) em forma de escrita chinesa pode solidificar a frente das dendritas
de alumínio-α como grandes partículas primárias quando as taxas de
resfriamento forem inferiores a 0,2 K/s, ou precipitar junto com as partículas de
silício eutético em regiões interdendríticas quando as taxas forem superiores a
6 K/s. Esta fase α-Fe2SiAl8 em forma de escrita chinesa não é prejudicial às
propriedades mecânicas da liga devido, principalmente, à complexidade de sua
morfologia que dificulta a propagação de trincas.
Outro benefício, descrito na literatura, a respeito do aumento da taxa de
resfriamento é que este, quando não ocasionar a formação de fases
metaestáveis ao invés da fase β-FeSiAl5, ainda poderá resultar em uma
diminuição do tamanho desta última fase [21].
Assim, com os processamentos que envolvam taxas de resfriamento
mais rápidas que os processos convencionais de fundição e lingotamento,
23
como por exemplo, a conformação por spray, há chances de se amenizar, ou
mesmo, evitar os efeitos prejudiciais da fase β- FeSiAl5 em ligas Al-Si com altos
teores de Fe.
2.2 CONFORMAÇÃO POR SPRAY
2.2.1 O processo de conformação por spray
No processo de conformação por spray, ilustrado pela figura 2.6, uma
carga metálica é fundida por indução em um cadinho localizado no topo da
câmara de deposição, ao ar ou à atmosfera inerte, e elevada a uma
temperatura acima da temperatura “liquidus” da liga [23]. Um tampão com
haste atravessa o banho metálico e localiza-se na extremidade superior do
tubo de vazamento localizado na base do cadinho, funcionando como uma
válvula. Um termopar posicionado no centro da haste do tampão permite
medida contínua da temperatura do banho metálico. Quando uma temperatura
predeterminada é alcançada, tipicamente 50 a 200°C acima da temperatura
“liquidus”, é iniciado o fluxo de gás inerte a alta pressão através do atomizador
e neste momento o tampão é elevado e o metal fundido flui através do bocal de
vazamento. Alternativamente um cadinho basculante é usado para vazar o
metal fundido dentro de um "tundish" localizado no topo da câmara de
deposição. Usualmente o tubo de vazamento de metal fundido é de cerâmica
(por exemplo grafite, sílica, alumina e zircônio) ou de metal refratário, como o
tungstênio [5]. O fluxo de metal líquido entra na câmara de deposição e ao
chegar à zona de atomização é desintegrado em um spray de pequenas
gotículas3 pelo gás de atomização em uma pressão na faixa de 0,7 a 1,0 MPa
[24].
24
Figura 2.6 - Ilustração esquemática do processo de conformação por spray.
As gotas atomizadas são resfriadas e aceleradas pelo gás de
atomização para o substrato, o qual é posicionado abaixo da zona de
atomização. As gotas colidem e consolidam no substrato para formar um
depósito, cuja configuração geométrica depende do movimento relativo entre o
substrato e o cone de atomização [25]. O substrato é usualmente movimentado
por rotação ou por retirada lateral abrangendo toda a região do cone de
atomização, para evitar variação na quantidade de massa ao longo da
superfície do produto. A figura 2.7 ilustra as três morfologias de depósitos
documentadas pela literatura especializada: tubo, tarugo e chapa.
25
Figura 2.7 – Ilustração dos diferentes tipos de substrato e as possíveis
formas de depósitos: a) tubo; b) tarugo e c) chapa.
2.2.2 Desenvolvimento da microestrutura durante a conformação por
spray
O “spray” obtido com a atomização tem formato cônico e é composto por
gotas, cujas velocidades aumentam radialmente. Geralmente, os ângulos
formados entre os eixos longitudinais do cone e do substrato estão entre 10 e
25° enquanto os raios dos depósitos atingem de 100 a 300 mm [26].
Durante a atomização, uma violenta extração de calor causada pelo gás de
atomização, proporciona às gotas que solidificam em vôo, uma microestrutura
altamente refinada e típica de processos de solidificação rápida. Por outro lado,
as condições de solidificação na superfície do depósito após a chegada das
gotas, são governadas por taxas de resfriamentos muito mais lentas [1].
O spray apresenta uma ampla distribuição de tamanhos de gota, o que
fará com que elas atinjam à superfície do depósito em diferentes estágios de
solidificação pois, o resfriamento durante o vôo depende de seus tamanhos, de
suas velocidades e trajetórias. Pequenas gotas resfriam e solidificam mais
rapidamente devido à maior razão área superficial/volume enquanto que gotas
grandes resfriam mais lentamente, ocorrendo no depósito uma mistura de
gotas pequenas e completamente solidificadas, gotas semi-sólidas com
tamanhos intermediários e grandes gotas líquidas [26]. Uma ilustração destas
diferentes gotas atingindo o depósito pode ser vista na figura 2.8.
26
Figura 2.8 – Esquema da deposição na conformação por spray
Determinações do histórico térmico do depósito mostram que há
diferenças significativas de temperatura no depósito durante a conformação por
spray.
O balanço térmico ocorre entre o calor fornecido ao depósito pela
massa de gotas que chegam e pelo calor extraído por convecção, através do
fluxo de gás atomizador que entra em contato com o depósito, e por condução
da superfície em direção ao substrato. Um estado constante de temperaturas
ocorre quando o aquecimento causado pela deposição se iguala ao calor
removido pela convecção do gás atomizador sobre a superfície do depósito e
pela condução que ocorre na interface depósito/substrato.
De acordo com este balanço térmico, é de se esperar um aumento da
temperatura da superfície do depósito com a elevação da temperatura do spray
e a diminuição da velocidade de afastamento do substrato em relação ao bocal
atomizador.
Metalurgicamente os depósitos, ou melhor, os produtos resultantes da
conformação por spray são caracterizados por uma distribuição uniforme de
grãos equiaxiais, livres de macrosegregação, com distribuição uniforme de
segunda fase e baixo conteúdo de óxido.
Entretanto, independentemente da liga, uma das características
inerentes aos depósitos produzidos por conformação por spray é a porosidade.
Vários trabalhos sobre conformação por spray de ligas de alumínio
27
apresentam, como médias volumétricas, valores que variam entre 1 e 10% [27].
Os níveis de porosidade, muitas vezes, tornam necessária a efetuação
de processos secundários de conformação mecânica como laminação,
extrusão ou forjamento para minimização da porosidade e aproveitamento do
material conformado por spray [7, 27].
Conseqüentemente, várias pesquisas foram realizadas visando um
maior esclarecimento quanto os mecanismos de formação e a influência de
parâmetros de processo na porosidade nos depósitos [5, 24, 28, 29]. Entre
estes trabalhos, pode-se dizer que existam considerações comuns quanto à
existência de três mecanismos para a formação de porosidade: insuficiência de
líquido para preencher cavidades entre partículas solidificadas; contração
devido à solidificação e aprisionamento de gás. O primeiro mecanismo ocorre
devido ao número excessivo de gotas sólidas no spray que ao atingirem a
superfície do depósito se soldam formando um volume de poros irregulares e
interconectados maior que o volume de líquido disponível para seu
preenchimento. Outro mecanismo relacionado à carência de fração líquida é a
deficiência na alimentação de fase líquida para suprir a contração durante a
solidificação das sucessivas camadas que formam o depósito. Este mecanismo
é caracterizado pela formação de poros pequenos e não esféricos distribuídos
em linha entre as camadas depositadas. Já a excessiva fração líquida na
superfície do depósito e sua agitação devido à colisão das gotas do spray
podem levar a um aprisionamento de gás no depósito e, conseqüentemente, a
presença de porosidade caracterizada por poros grandes e esféricos. Assim,
de acordo com as pesquisas referenciadas, a quantidade de porosidade e as
características dos poros dependem da fração líquida presente nas gotas
atomizadas e na superfície do depósito, ou seja, o controle da taxa de extração
de calor das gotas do spray durante o vôo e da superfície do depósito durante
a deposição é essencial para a minimização da porosidade na conformação por
spray.
O tamanho de grão que será obtido no depósito também é fortemente
influenciado pela temperatura da superfície do mesmo durante a deposição,
pois aumentando-se esta temperatura aumenta-se a fração de fase líquida na
28
superfície e conseqüentemente, o tempo de solidificação. Tamanhos típicos de
grãos equiaxiais de ligas de alumínio e de níquel conformadas por spray estão
entre 20 e 30 µm [30-32].
Os tamanhos de grãos dos depósitos são, geralmente, pequenos devido
ao efeito nucleante de gotas sólidas que atingem a superfície do substrato. A
taxa de crescimento dos grãos diminui com o abaixamento da temperatura da
superfície do depósito e, é mínima para uma fração sólida de 0,7 na superfície
[33].
O efeito nucleante é seguido por uma complexa cinética de crescimento
durante o resfriamento do depósito, onde a taxa de crescimento dependerá,
principalmente, da composição da liga, do coeficiente de difusão do soluto, da
tensão superficial entre o sólido e o líquido e da temperatura do depósito. O
crescimento dos grãos também pode ser afetado ou interrompido devido à
presença de fases secundárias [32].
Devido ao movimento relativo entre o substrato e o cone de atomização,
a deposição pode ser considerada como oriunda da sobreposição de várias
camadas de gotas que atingem o depósito.
Sempre, a camada que está
superposta por outra, resfria e solidifica previamente à camada sobreposta, ou
seja, há um gradiente térmico positivo do substrato para a superfície do
depósito. Quando uma camada de gotas atinge a superfície do depósito que se
encontra no estado semi-sólido, ocorre a formação de uma microestrutura
homogênea de grãos finos e equiaixias. Porém, quando a superfície do
depósito se encontra completamente solidificada, a conformação resulta em
uma microestrutura com bandas de grãos achatados facilmente identificável
[26].
Durante a deposição, pode ocorrer uma transição entre esta estrutura
homogênea e a bandeada, existindo para tanto, um intervalo crítico de
sobreposições de gotas. Quando o tempo entre uma sobreposição e outra é
menor que um valor crítico, ocorre a estrutura homogênea e se for maior,
ocorrerá uma estrutura bandeada. Este tempo crítico de sobreposições
aumenta linearmente com a taxa de deposição e inversamente, com a
velocidade de afastamento do substrato.
29
Nos estágios iniciais da deposição sobre o substrato frio, o gradiente
térmico é alto e o tempo crítico de sobreposição é muito baixo o que leva a
estrutura bandeada. Com o decorrer da deposição, ocorre a diminuição do
gradiente térmico devido ao aquecimento do substrato e do depósito formado,
e, conseqüentemente, um aumento do tempo crítico de sobreposição o que
ocasiona a transição para a microsestrutura homogênea de grãos equiaixiais.
2.2.3
Principais
parâmetros
de
processo
que
influenciam
na
microestrutura do depósito
O estudo detalhado dos mecanismos de solidificação que governam a
microestrutura
do
depósito
é
demasiadamente
complexo
devido
à
sobreposição de efeitos causados pelas diferentes interações térmicas que
ocorrem durante a atomização e a deposição.
Portanto, a atenção deve ser dada às características do spray no
momento da deposição e às características da superfície de deposição neste
mesmo momento. Como características do spray pode-se considerar a fração
de gotas no estado líquido, distribuição de tamanho, velocidade e trajetória das
gotas. E com referência à superfície do depósito tem-se a fração líquida
presente, a espessura da camada semi-sólida, os saltos das gotas e o
movimento do substrato.
Dentre os parâmetros de processo que influenciam na evolução
microestrutural do depósito destacam-se a temperatura de superaquecimento
do banho, a vazão mássica de gás e de metal e a distância entre o bocal
atomizador e o substrato. Outra variável muito utilizada para em discussões
sobre solidificação de depósitos é a razão gás/metal, conhecida por “RGM",
que corresponde a razão entre a vazão mássica de gás e a vazão mássica de
metal ocorrida durante a deposição.
Segundo LAWLEY et al. [34], a distribuição de tamanho das gotas é,
principalmente, influenciada pela RGM e, para maiores RGM tem-se gotas com
menores diâmetros no spray e, conseqüentemente, maior fração sólida na
30
superfície do depósito. Em pesquisa com conformação por spray da liga Cu-Ti,
os autores obtiveram uma diminuição do diâmetro médio das gotas de 189 µm
para 134 µm com o aumento da RGM de 1,1 para 2,2.
A RGM, por sua vez, pode ser alterada por diferentes combinações de
pressão do gás atomizador, diâmetro do tubo cerâmico que liga o “tundish” à
câmara de atomização, pressão metalostática devido à carga no “tundish” e/ou
diâmetro dos orifícios do bocal atomizador.
O superaquecimento do banho afeta a quantidade de calor que terá que
ser removido das gotas líquidas resultantes da desintegração do filete de metal
líquido e assim, quanto maior o superaquecimento, maior será a fração de
gotas líquidas que chegam ao depósito.
A distância entre o bocal atomizador e o substrato traduz a distância a
ser percorridas pelas gotas do spray e portanto, menores distâncias
correspondem a intervalos de tempo menores para as gotas solidificarem, o
que significa que uma maior fração de gotas no estado líquido chegam à
superfície do substrato. Por outro lado, o impacto destas gotas sobre a
superfície do depósito será mais significativo, causando uma maior agitação da
fração semi-sólida.
2.2.4 Vantagens da conformação por spray
A importância do processo de conformação por spray reside na sua
habilidade e flexibilidade em processar, em uma única etapa a partir do metal
líquido,
depósitos
com
microestruturas
refinadas
e
diferentes
formas
geométricas para uma ampla gama de composições [22, 26, 35].
Os materiais produzidos por conformação por spray apresentam uma
distribuição uniforme de finos grãos equiaxiais e de fases secundárias,
nenhuma segregação macroscópica de elementos de liga e baixos teores de
óxidos.
Estas
características
microestruturais
são
responsáveis
por
propriedades isotrópicas que, geralmente, são superiores às dos materiais
31
produzidos por processos convencionais como fundição e Metalurgia do Pó
[22, 26, 35].
2.3 Ligas de alumínio conformadas por spray
SRIVASTAVA et al. [36] caracterizaram a microestrutura de duas ligas
binárias, Al-6,5Si e Al-18Si conformadas por spray. A microestrutura da liga
hipoeutética é descrita como sendo formada por grãos esféricos de Al-α
circundados pelo silício eutético na forma globular. Já para a liga hipereutética,
é destacado o tamanho reduzido das partículas de Si primário (3 a 7 µm)
dispersos na matriz de Al-α. Esta última descrição microestrutural coincide
com a realizada por HA et al. [37] em referência à liga Al-25Si conformada por
spray.
O estudo realizado por BAIQING et al. [38] sobre a formação do Si
primário na liga Al-20Si-5Fe conformada por spray mostra que a redução do
tamanho das partículas de Si pode ocorrer através do aumento da razão
gás/metal (RGM) durante o processamento e também após, através do
processo secundário de extrusão.
Segundo Leathan [7], o refinamento das partículas de Si obtidos com a
conformação por spray das ligas de Al-Si hipereutéticas proporciona uma maior
usinabilidade e um aumento da resistência ao desgaste destas ligas quando
comparadas às mesmas fundidas de forma convencional. Um exemplo de
aplicação industrial destas ligas é o caso da Al-Si 390 empregada nas camisas
de cilindros de motores de combustão de veículos da Mercedes Benz.
Em um estudo sobre a conformação por spray da liga Al-20%Si-5%Fe,
OGILVY [39] relata que a solidificação tem início com a formação de
intermetálicos de Al(Si,Fe) durante o vôo das gotas atomizadas e que estes, ao
se chocarem com a superfície do depósito, se espalham criando um grande
número de núcleos para o crescimento de fases intermetálicas. A
microestrutura final do depósito é descrita como uma matriz de alumínio
contendo uma dispersão homogênea de Si particulado e de intermetálicos
32
Al(Si,Fe) em forma de agulhas. A homogeneidade da microestrutura
apresentada foi relacionada à alta taxa de crescimento das fases intermetálicas
e das partículas de Si durante a deposição. Para ilustrar uma microstrutura
heterogênea, o mesmo autor apresentou a microestrutura de uma liga Al-V-SiFe conformada por spray, onde é possível identificar gotas que solidificaram
durante a atomização e que se destacam por apresentarem uma microestrutura
mais refinada que o material que as circundam.
O refinamento e a uniformidade microestrutural obtidos com a
conformação por spray também são descritos por HARIPRASAD et al. [40].
Estes autores afirmam que estas características são fortemente influenciadas
por parâmetros como a temperatura de superaquecimento, a distância entre o
bocal atomizador e a razão gás/metal (RGM) e que seriam responsáveis pela
ótima combinação de resistência e dutilidade alcançada com a conformação
por spray da liga Al-8,5Fe-1,3V-1,7Si.
LEATHAN [7] afirma que problemas de macrossegragação oriundos da
solidificação de ligas de alumínio de alta resistência (Al-Zn-Mg-Cu) são
eliminados com o processamento por conformação por spray ampliando o
campo de aplicações das mesmas na indústria automobilística e aeroespacial
Anand et al. [1] desenvolveram um estudo sobre a evolução
microestrutural da liga hipereutética Al-17Si-4,5Cu-0,6Mg conformada por
spray. Neste trabalho, os autores apresentam a hipótese de que a
microestrutura apresenta finas partículas de Si primário uniformemente
distribuídas devido ao forte efeito nucleante de fragmentos de partículas de Si
resultantes da colisão das gotas atomizadas. A agitação na superfície semisólida do depósito é dada como causa da formação de grãos equiaxiais a partir
de fragmentos de braços dendríticos.
As alterações microestruturais obtidas com a conformação por spray
das ligas LM25 e 6061 propiciaram, segundo SATYANARAYANA et al. [41],
uma diminiuição do tempo de tratamento térmico destas ligas, tanto para o
tratamento de solubilização quanto para o de envelhecimento.
Um exemplo de estudo que vai além da caracterização microestrutural, é
o realizado por SHEN et al. [42] com as ligas de alumínio 2024 e 7075. Como
33
resultados de ensaios de tração, os autores destacam o aumento entre 15% e
23% do limite de resistência observado para as ligas conformadas por spray
quando comparadas às mesmas fundidas de forma convencional.
WANG et al. [43] relatam que a liga Al-20Si-5Fe-3Cu-1Mg conformada
por spray apresenta maior resistência mecânica a alta temperatura que a
mesma obtida por metalurgia do pó.
Segundo a generalização realizada por Leatham [7], as ligas de alumínio
conformadas por spray são produzidas a um custo inferior ao das mesmas
ligas obtidas por metalurgia do pó, e podem alcançar o custo das ligas fundidas
em processos semicontínuos quando o processamento por spray for em
grande escala. Além disso, propriedades críticas como vida em fadiga e
tenacidade à fratura são sempre superiores quando comparadas à metalurgia
do pó, principalmente devido à ausência de contaminação por óxidos. Quando
comparadas à fundição convencional, as ligas conformadas por spray
apresentam maiores resistências e dutilidades devido ao refinamento
microestrural resultante da conformação por spray.
34
35
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Materiais
Foram utilizadas duas ligas do sistema Al-Si-Cu cujas composições
químicas se enquadram nos limites determinados pela “Aluminium AssociationAA” (EUA) para as séries 380 e 319 das ligas comerciais de alumínio para
fundição. Assim, no decorrer do texto, serão utilizadas as nomenclaturas 380 e
319 como referências a estas duas ligas.
As composições das mesmas, determinadas por espectroscopia de
absorção atômica, podem ser observadas na tabela 3.1.
Tabela 3.1 - Composição química das ligas utilizadas.
Liga
(Porcentagem em massa)
Al
Si
Fe
Cu
Mn
Mg
Ni
Ti
Outros
380
Bal.
8,94
0,93
3,84
0,18
0,03
0,12
0,04
0,50
319
Bal.
6,76
0,95
3,97
0,29
0,03
0,16
0,13
0,50
0,06
0,12
0,007
-
Al
>99,7
≤0,005 ≤0,005 ≤0,005 ≤0,005
A liga 380, fornecida pela empresa Metallur Ltda. na forma de lingotes
de 7,5 Kg, foi utilizada para o estudo do processamento de conformação por
spray e para comparação de microestruturas, propriedades mecânicas e
resistência ao desgaste com a mesma liga fundida. O alumínio de pureza
comercial foi empregado na elaboração de uma liga Al-Si eutética para ser
conformada por spray e aumentar os subsídios para a discussão sobre a
formação da microestrutura dos depósitos. Já a liga 319, adquirida na forma de
caixas de sistema de transmissão automotivo, foi utilizada para investigar a
influência do silício na microestrutura e propriedades mecânicas das ligas Al-SiCu conformadas por spray.
Dentre os motivos que levaram a adoção das ligas 380 e 319 como objeto
de estudo pode-se destacar: i) a grande aplicação das duas ligas na fabricação
36
de componentes automotivos como cabeçotes de motores de combustão e
caixas de transmissão; ii) o fato de estarem relacionadas à economia de
energia e à preservação ambiental uma vez que se trata de ligas secundárias
oriundas de processos de fabricação que não utilizam alumínio primário; iii) a
inexistência de publicações sobre conformação por spray de ligas do sistema
Al-Si-Cu.
3.2 Metodologia
A etapa experimental deste trabalho foi realizada segundo o fluxograma
de atividades representado na figura 3.1.
EFETIVAÇÃO DO
PROCESSO
CARACTERIZAÇÃO
MICROESTRUTURAL
OTIMIZAÇÃO DO
PROCESSO
PROCESSAMENTO
SECUNDÁRIO
CARACTERIZAÇÃO E
ENSAIOS
Figura 3.1 – Fluxograma do procedimento experimental.
A etapa denominada “efetivação do processo” buscou a determinação
de procedimentos e de parâmetros de processo que viabilizassem a
conformação por spray de uma liga Al-Si 380 uma vez que, até aquele
momento, não havia trabalhos de referência sobre conformações por spray de
37
ligas de alumínio com o equipamento pertencente ao laboratório de fundição do
Depto.
de
Engenharia
de
Materiais
(DEMa-UFSCar).
Quanto
aos
procedimentos determinados pode-se citar a montagem do tubo de vazamento
no “tundish”, o acompanhamento e controle da temperatura do metal líquido no
“tundish” e liberação do mesmo para início da atomização. Já quanto aos
parâmetros, testou-se combinações entre a temperatura de superaquecimento,
a pressão de atomização, a vazão mássica de metal e a distância entre o bocal
atomizador e o substrato. Para definição de uma combinação satisfatória,
realizaram-se comparações entre as características geométricas e porosidade
dos depósitos.
Concretizada a etapa de processamento, passou-se à fase de
caracterização metalográfica dos depósitos da liga 380 e de ensaios de tração
com intuito de se efetuar uma análise comparativa com as características
microestruturais e propriedades da mesma liga processada por fundição.
A terceira etapa experimental do trabalho correspondeu ao estudo da
influência dos parâmetros de processo na conformação por spray com intuito
de otimizar o processo. Por haver um grande número de combinações de
parâmetros de processo, esta etapa foi divida em duas fases distintas quanto à
aos critérios de comparação para análise das influências dos parâmetros. Em
uma primeira fase, procurou-se definir dois parâmetros, pressão de atomização
e distância entre o bocal atomizador e o substrato, que proporcionassem um
alto rendimento de deposição e uma baixa porosidade dos depósitos. O
rendimento de deposição, calculado através do produto entre a massa do
depósito e a massa total atomizada (massa do depósito somada à massa do
ovespray), foi escolhido como critério comparativo por estar relacionado à
eficiência do processo e ao custo de produção, enquanto que a porosidade, por
influenciar nas propriedades e ser um indicativo de qualidade do material
depositado. Assim, selecionada a pressão de atomização e a distância entre o
bocal atomizador e o substrato ("distância bocal/substrato"), avaliou-se a
influência da temperatura de superaquecimento e da vazão mássica de metal
nas características microestruturais dos depósitos (porosidade, tamanho de
38
grão e de fases intermetálicas), na formação do overspray e no rendimento das
deposições.
Posteriormente, foram realizados processos de extrusão a quente das
amostras dos depósitos da liga 380 buscando a minimização da porosidade. O
material extrudado foi caracterizado microestruturalmente e teve suas
propriedades medidas através de ensaio de tração.
Para finalizar o trabalho, analisou-se a influência do teor de silício nas
características microestruturais e nas propriedades dos depósitos extrudados
através da conformação por spray da liga 319.
3.3 Processamento
A fusão das cargas, tanto para o vazamento em molde de areia quanto
para a conformação por spray, foi realizada por aquecimento indutivo em um
cadinho de grafite com capacidade de 3,5 Kg, disposto em um forno
Inductotherm, modelo VIP Power-Trach com fonte de potência de 50 KVA e de
freqüência de 3,2Khz. Para todas atomizações, procurou-se utilizar carga de
aproximadamente 3kg e desgaseificar os banhos metálicos através da adição
de pastilhas de hexacloretano.
Os moldes para fundição foram produzidos utilizando areia quartzosa
com granulometria na faixa AFS 50-70 misturada à resina fenol-uretânica “pepset” e catalizador do tipo amina. O modelo utilizado foi confeccionado em
madeira de tal forma que a cada vazamento se obtivesse a fundição de 6
barras de 25 mm de diâmetro e 100mm de comprimento.
O equipamento de conformação por spray utilizado neste trabalho
pertence ao Laboratório de Fundição do Departamento de Engenharia de
Materiais e é, basicamente, constituído por câmara de atomização, bocal
atomizador, dispositivo de fixação e movimentação do substrato, ciclone coletor
de pós e equipamento pneumático para suprimento e controle de gás (figura
3.2).
39
Figura 3.2 - Equipamento de conformação por spray : a) vista geral, b) interior
da câmara de atomização, c) detalhe do bocal atomizador.
Após a fusão, o líquido era superaquecido até a temperatura desejada e
vertido no “tundish” pré-aquecido. A temperatura do banho pode ser
acompanhada através da utilização de um pirômetro de imersão e o início da
atomização se dava com o acionamento da válvula pneumática para liberação
do gás de atomização e o levantamento manual da haste cilíndrica que
obstruía o orifício do fundo do “tundish”.
Antecedendo o início de cada atomização, foram realizadas purgas na
câmara de atomização com nitrogênio para se eliminar o ar presente em seu
interior e evitar a oxidação das gotas pertencentes ao spray.
O bocal atomizador utilizado possui duas entradas para o gás de
atomização e 10 tubos de 2mm de diâmetro interno para a saída do mesmo.
Estes tubos possuem direções que convergem para o eixo longitudinal do
40
bocal, o que possibilita a incidência do gás no filete de metal líquido e,
conseqüentemente, a formação do spray em forma de cone.
O gás de atomização utilizado foi o nitrogênio, cuja pressão de entrada
no bocal foi controlada por uma válvula redutora pertencente a um painel de
controle pneumático, abastecido por quatro cilindros de alta pressão. As
vazões mássicas do nitrogênio utilizadas nas conformações por spray foram
0,035 kg/s e 0,080 kg/s correspondentes, de acordo com o trabalho de LEAL
[28], às pressões de atomização 0,5 a 1,0 MPa.
A passagem do metal líquido contido no “tundish” para o bocal de
atomização
foi
realizada
através
do
tubo
cilíndrico
de
vazamento,
confeccionado em quartzo, cujo diâmetro interno utilizado em algumas
atomizações foi de 6 mm e em outras de 4 mm.
Já a vazão mássica de metal líquido foi calculada através da razão entre
a massa atomizada (massa do depósito somada à do “overspray”) e tempo de
atomização cronometrado durante cada corrida de conformação por spray.
Utilizou-se um cilindro de cobre com 15 mm de altura e 250 mm de
diâmetro como substrato para as deposições e a distâncias entre o mesmo e o
bocal atomizador foi variada de 260 mm a 500 mm.
Para determinar o histórico térmico de alguns depósitos, termopares
“tipo K”, devidamente calibrados e associados a um sistema de aquisição de
dados, “AqDados”, foram transpassados por furos do substrato de modo a
possibilitar a obtenção de curvas de resfriamento para diferentes pontos do
depósito durante a deposição.
Após várias deposições, as partículas de “overspray” contidas na
câmara de deposição foram coletadas e submetidas a uma separação
granulométrica através do peneiramento em equipamento vibratório. A massa
de cada faixa granulométrica (425, 250, 180, 150, 106, 75 e 45 µm) foi medida,
obtendo assim, a distribuição granulométrica do “overspray” formado.
Os parâmetros utilizados para as conformações por spray investigadas
neste trabalho podem ser vistos na tabela 3.
41
Tabela 3.2 - Parâmetros de processo utilizados e designações das
conformações por spray.
Designação
Temperatura de
da deposição/ superaquecimento
depósito
(°C)
Pressão de
Diâm. do tubo
Distância
atomização
de vazamento
bocal/
(MPa)
de metal (mm)
substrato
(mm)
P0,5
680
0,5
6
365
P0,8
680
0,8
6
365
P1,0
680
1,0
6
365
D365
645
0,5
6
365
D410
645
0,5
6
410
T645V4
645
0,5
4
325
T645V6
645
0,5
6
325
T715V4
715
0,5
4
325
T715V6
715
0,5
6
325
Os depósitos foram seccionados, de acordo com a simetria em relação
ao eixo longitudinal, utilizando-se equipamento do tipo “serra de fita” com
sistema de refrigeração. As primeiras operações de corte tiveram por objetivo
separar o volume útil de cada depósito, ou seja, o volume do depósito com
homogeneidade microestrutural e que tem sua seção transversal representada
pela figura 3.3. Assim, o depósito era reduzido a um paralelepípedo que então,
era seccionado longitudinalmente em quatro volumes iguais, sendo um
destinado à caracterização metalográfica e três à preparação de amostras para
extrusão.
42
seção transversal do volume útil
~ 80 mm
5 mm
a)
b)
Figura 3.3 - Esquema da seção transversal do depósito e de seu volume útil.
3.4 Extrusão
Para o processamento secundário através de extrusão, as amostras do
material conformado por spray foram torneadas nas dimensões limitadas pela
matriz de extrusão, ou seja, em cilindros de 25 mm de diâmetro e 55 mm de
altura. O equipamento empregado foi uma prensa EMIC com interface para
aquisição de dados, controlador do forno Fly-Ever FE-50RP e limite de carga
de 60 toneladas. Utilizou-se temperatura de extrusão de 350 ºC e 400ºC,
velocidade do travessão de 14 mm/min e uma matriz com redução de 5:1 em
área.
3.5 Caracterização microestrutural
Para a caracterização microestrutural dos depósitos, amostras foram
retiradas de diferentes regiões de acordo com as posições representadas na
figura 3.4.
43
[mm]
45 _ A
30 _
D
F
10
_
E
_
B
15 _ C
5_
[mm]
30
Figura 3.4 – Localizações das amostras para caracterização microestrutural
Amostras dos depósitos extrudados e dos “oversprays” também fora
caracterizadas microestruturalmente.
A
preparação
metalográfica
das
amostras
ocorreu
segundo
procedimento tradicional, ou seja, as amostras, tanto de depósitos como de
“overspray”, foram embutidas em resina de poliéster, lixamento com lixas de
SiC (180#, 240#, 320#, 400#, 600#, 1200#, 2000#), polimento com pasta de
diamante de 3, 1 e 0,25µm, e finalmente, atacadas quimicamente com HF e/ou
reagente Keller.
As amostras metalográficas foram observadas e documentadas em um
microscópio ótico Olympus modelo BX60M, associado a uma câmera de vídeo
Sony modelo Hyper Had, acoplada a um microcomputador PC 486 de 66Mhz, e
dotado de um sistema de aquisição de imagens Image-Pro Plus, versão 1.3,
com o objetivo de se analisar qualitativamente a microestrutura do depósito.
O tamanho de grão das amostras foi determinado através da técnica de
microscopia ótica usando o método de interceptos lineares descrito na norma
ASTM E 112-84.
Análises por microscopia eletrônica de varredura em equipamento Zeiss
DSM 940-A foram realizadas para exame e documentação das fases
microestruturais enquanto que suas características químicas foram feitas por
microanálises qualitativas através de espectometria de dispersão de energia de
raios-X-EDS no mesmo equipamento. A técnica de EDS também foi utilizada
para identificação de possíveis segregações através da análise em forma de
mapeamento ao longo das amostras.
44
A microscopia eletrônica de varredura também foi empregada para a
caracterização das superfícies de fratura das amostras tracionadas.
O método utilizado para determinação da porcentagem de porosidade
nos depósitos foi o de Arquimedes que se baseia no princípio de empuxo para
o cálculo da densidade real da amostra.
As amostras foram primeiramente pesadas a seco e depois submersas
em água destilada. Para a pesagem, utilizou-se uma balança analítica Mettler
Toledo AB 204, classe I com precisão de 0,0001g. A densidade real de cada
amostra foi determinada pela relação abaixo [44]:
ρ s = ma .
ma - mL
Onde ρs e ρL são as densidades reais do sólido (amostra) e do líquido
(água destilada) e ma e mL são as massas do sólido no ar e no líquido,
respectivamente.
Para o cálculo da porosidade, considerou-se a densidade nominal da
liga Al-Si-Cu 380, 2,76 g/cm3 [13], como a densidade teórica, ρt , e o valor da
densidade do gás de atomização, ρg , foi desconsiderado devido sua
inferioridade em relação a densidade da liga [45]. A porosidade foi calculada
através da seguinte equação [44]:
P = ρt - ρs
ρt - ρg
X100
Amostras dos depósitos com área superficial de 1cm2 e de diferentes
faixas granulométricas de “overspray” foram analisadas por difração de raios-X
(DRX). Para tanto, utilizou-se, em um difratômetro da marca Siemens D5000, a
radiação Kα do Cu e uma variação do ângulo “2θ” de 20 a 70° sob uma
velocidade de 2°/min. Os difratogramas foram analisados através da
comparação dos ângulos dos picos de difração com a base de dados do “Joint
Committee on Powder Diffraction Standards” (JCPDS), utilizando o software do
difratômetro.
45
3.6. Ensaios de Tração
Ensaios de tração foram realizados em corpos-de-prova torneados a
partir de amostras fundidas, conformadas por spray e extrudadas. Os ensaios a
temperatura ambiente foram efetuados segundo a norma ASTM E8M-91 em
um equipamento da marca INSTRON, modelo 5500 R utilizando-se a
velocidade do travessão de 2mm/min. Realizou-se o número mínimo de sete
ensaios para representar cada amostragem.
46
47
4 RESULTADOS
4.1 Caracterização microestrutural da liga 380
4.1.1 Microestrutura da liga 380 fundida
A figura 4.1 mostra a microestrutura da liga fundida em molde de areia,
apresentando as características típicas de ligas Al-Si fundidas: dendritas de Alα e silício eutético em forma de placas.
a)
b)
Figura 4.1 - Micrografias da liga 380 fundida em areia obtidas por: a)
microscopia ótica e b) microscopia eletrônica de varredura.
A baixa taxa de resfriamento associada ao processo de fundição em
molde de areia, proporcionou uma estrutura dendrítica e a formação
predominante de duas fases intermetálicas, Al2Cu e β-AlFeSi, nas regiões
interdendríticas. Estas duas fases estão bem caracterizadas na microgarfia
obtida por MEV exibida pela figura 4.2.
48
Figura 4.2 – Micrografia da liga 380 fundida destacando o silício
eutético e as fases intermetálicas.
A fase Al2Cu foi identificada em duas formas distintas, como se pode
observar na figura 4.3. Uma delas semelhante à forma encontrada em ligas do
sistema Al-Si-Cu fundidas e descrita por SAMUEL et al. [3] e Backerud et al
[17] como sendo a fase pós-eutética pertencente ao complexo ternário Al-Si-
Al2Cu (figura 4.3a). Esta fase sempre foi observada em contato com a fase βAlFeSi, o que indica que a última pode ter agido como sítio de nucleação, uma
vez que a formação da fase β-AlFeSi antecede à da fase Al2Cu. E a outra
morfologia apresentada pela fase Al2Cu (figura 4.3b) foi em forma de blocos
que também foi descrita por outros autores em caracterizações de ligas da
série 380 [17].
A fase β-AlFeSi apresentou-se na forma de agulhas, com comprimento
médio de 48µm e, em alguns casos como o ilustrado na figura 4.4, com
comprimento alcançando a medida de 100µm.
Outra característica importante observada da fase β-AlFeSi foi a grande
razão
de
aspecto
apresentada.
Esta
característica
morfológica,
que
correspondente à razão entre o comprimento e a largura da fase, é um
indicador do potencial de concentração de tensão causado pela fase ao
material sob tensão e que atribui à fase β-AlFeSi, a qualidade de ser
fragilizante em ligas de alumínio-silício contendo algum teor de ferro.
49
a)
b)
Figura 4.3 - Micrografias da liga 380 fundida destacando a fase intermetálica
Al2Cu : a) morfologia eutética e b) morfologia irregular.
a)
b)
Figura 4.4 - Liga 380 fundida destacando as fases intermetálicas Al2Cu e βAlFeSi: a) micrografia obtida por MEV; b) micrografia obtida por MO.
As outras fases intermetálicas ricas em ferro, α-AlFeSi e Al15(Fe, Mn)3Si2,
comumente encontradas em ligas AlSiCu comerciais [3, 17], foram observadas
em uma quantidade insignificante quando comparadas a presença da fase β-
AlFeSi. Este resultado está de acordo com o trabalho de Gowri et al. [46], onde
é relatado que apenas as composições que possuem proporções, em peso,
entre Fe e Mn de aproximadamente 2/1, favorecem a formação de outras fases
intermetálicas ao invés de β-AlFeSi, o que não é o caso da liga investigada,
50
que possui uma proporção de 5/1. A figura 4.5a apresenta a fase α-AlFeSi na
forma conhecida como “escrita chinesa” e a fase β-AlFeSi na sua morfologia
tradicional de agulhas.
a)
b)
Figura 4.5 - Micrografias da liga 380 fundida destacando as fases
intermetálicas: a) α-AlFeSi e b) Al15(Fe, Mn)3Si2.
O cálculo da porosidade média das amostras liga 380 processada por
fundição, através das medidas de densidade do princípio de Arquimedes,
resultou em um valor de 1,16 % .
4.1.2 Microestrutura da liga 380 conformada por spray
As micrografias da liga 380 depositada, que serão apresentadas neste
item, correspondem a conformação por spray designada por “P1,0”, porém
para a discussão sobre a formação da microestrutura durante a deposição será
muito
representativa,
pois,
de
uma
forma
geral,
as
características
microestruturais foram muito semelhantes entre todos os depósitos, com
exceção das pequenas variações, que serão descritas no item sobre influência
dos parâmetros de processo.
A figura 4.6 exibe um esquema que representa as regiões do depósito
cujas microestruturas foram caracterizadas e estão exibidas pela figura 4.7.
51
[mm]
B
_
15 _ C
_
5
G
10
D
E
F
H
_
45 _ A
30 _
30
[mm]
Figura 4.6 – Localização das amostras no depósito.
Apesar das diferenças significativas em relação à microestrutura da
mesma liga fundida, é possível reconhecer nas microestruturas apresentadas
pela figura 4.7, características que na literatura científica são generalizadas
para os materiais conformados por spray: uma matriz composta por grãos
equiaxiais e uma distribuição uniforme de partículas entre os mesmos. É
evidente também, a diferença entre o tamanho de grão e de porosidade das
amostras localizadas próximas ao substrato, “G” e “H”, e o restante do
depósito.
Para compreensão da distribuição de tamanho de grão através da seção
transversal do depósito é necessária uma descrição do comportamento térmico
do depósito durante a deposição.
Alguns trabalhos sobre conformação por spray [26, 47] descrevem a
formação microestrutural do depósito em três etapas com taxas de
resfriamento distintas. Na primeira, correspondente ao início da deposição,
ocorreria uma alta taxa de resfriamento devido ao contato das gotas do spray
com o substrato frio. Esta extração de calor por condução seria capaz de
formar uma camada de grãos equiaxiais muito finos como aqueles observados
nas figuras 4.7 g e 4.7 f.
52
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
h)
Figura 4.7 – Micrografias do depósito da liga 380 correspondentes às
localizações indicadas na figura 4.6.
53
Prosseguindo
a
deposição,
tem-se
uma
elevação
constante
da
temperatura da superfície do depósito com o aumento da espessura do
mesmo, devido à diminuição da extração de calor pelo substrato. Então, ao se
exceder a temperatura “solidus” da liga, ocorreria a chamada “camada de
refusão” onde parte das gotas incidentes no depósito se solidificaria
parcialmente até a chegada de novas gotas do spray.
A última camada, correspondente ao restante do depósito, seria composta
por grão equiaxiais oriundos da solidificação sob uma taxa de resfriamento
baixa. Este estágio da deposição estaria muito próximo a um equilíbrio térmico
entre o calor fornecido pelas gotas do spray e o calor extraído por convecção
entre a superfície do depósito e o gás atomizador. Como referência a esta
etapa de deposição, tem-se a homogeneidade de tamanho de grão
apresentada pelas amostras A, B, C, D, E e F na figura 4.7.
Quanto à morfologia equiaxial apresentada pelos grãos de Al-α dos
depósitos pode se dizer que é resultado do crescimento de fragmentos de
fases sólidas durante a deposição. Sabe-se que durante este estágio da
conformação por spray, gotas sólidas, semi-sólidas e líquidas atingem a
superfície do depósito, deformando e fraturando fases solidificadas durante a
atomização ou presentes na superfície do depósito, o que origina uma grande
quantidade de fragmentos na camada superficial do mesmo [26].
Para se ter uma referência das fases solidificadas durante a atomização,
pode-se analisar a microestrutura do “overspray” mas com a ressalva de que
este foi coletado na câmara de atomização e foi originado de gotas que tiveram
uma distância de vôo muito superior à daquelas que foram depositadas. A
figura 4.8 apresenta micrografias obtidas por MEV da
microestrutura do
“overspray” com diferentes tamanhos.
Pode-se observar que, apesar da taxa de resfriamento ter sido alta
durante a atomização, as partículas de "overspray" apresentam estruturas
dendríticas de alumínio. Assim, os fragmentos destas dendritas certamente
serviram como sítios efetivos para a nucleação heterogênea da matriz,
reduzindo substancialmente a barreira energética para a nucleação da mesma
[47].
54
a)
b)
Figura 4.8 – Micrografias obtidas por MEV de partículas de "overspray" da
liga 380 com diferentes tamanhos: a) maior que 100 µm e b) menor que 45 µm.
Concomitantemente à etapa de crescimento dos núcleos, houve a
agitação mecânica na superfície do depósito, o que ocasionou a formação de
grãos
equiaxiais
de
alumínio-α
com
tamanho
médio
de
grão
de
aproximadamente 35µm.
Com relação às fases presentes nas regiões intergranulares dos
depósitos, identificou-se que as partículas com maior dimensão e em maior
quantidade se tratavam de partículas de silício. A figura 4.9 apresenta uma
micrografia do depósito da liga 380 e o mapeamento de elemento químico
realizado através de EDS.
Diferentemente da morfologia de placas encontrada nas ligas Al-Si
hipoeutéticas fundidas (figura 4.2), o silício obtido com a conformação por
spray, apresenta-se em forma de partículas isoladas distribuídas de forma
homogênea, como pode ser melhor observado nas figuras 4.10a e b.
55
a)
b)
Figura 4.9 – a) micrografia do depósito da liga 380 obtida por MEV e b)
mapeamento de silício através de EDS da amostra da fig 4.9a.
a)
b)
Figura 4.10 – Micrografias do depósito da liga 380: a) obtida por MEV e b)
obtida por MO.
Uma outra característica a ser realçada é estas partículas de silício não
apresentam interconexões como, por exemplo, as que ocorrem nas ligas de AlSi hipoeutéticas que sofrem tratamento de modificação (figura 2.3).
A alteração morfológica do silício vem a confirmar o caráter complexo do
processo de solidificação que ocorre na conformação por spray, o que dificulta
sua interpretação por teorias clássicas da solidificação, uma vez que envolve
56
solidificação rápida na etapa de atomização e solidificação a partir do estado
semi-sólido na deposição.
Em alguns trabalhos [23, 48] é feita a correlação entre a conformação por
spray e a reofundição, pois em ambos os processos, ocorre agitação do
material no estado semi-sólido. Porém, esta correlação não é completamente
satisfatória porque, se por um lado, as ligas de alumínio hipoeutéticas
produzidas por estes dois processos apresentam grãos equiaxiais de alumínio
devido ao crescimento e à agitação no estado semi-sólido, por outro, apenas a
liga reofundida apresenta estrutura eutética similar àquela do material fundido
convencionalmente.
Com intuito de elucidar a discussão sobre a morfologia do silício nos
depósitos da liga 380, foi obtido um depósito de uma liga binária com
composição eutética. A microestrutura deste depósito pode ser observada na
micrografia apresentada pela figura 4.11.
Figura 4.11 – Micrografia do depósito da liga de Al-Si eutética.
A morfologia apresentada pelo silício da liga eutética conformada por
spray foi praticamente a mesma da liga hipoeutética, o que significa que apesar
de haver líquido com composição eutética na superfície do depósito durante a
deposição, não é possível obter a estrutura do eutético solidificado de forma
convencional.
Com base neste fato pode-se elaborar uma hipótese para a formação
microestrutural da liga 380 depositada. Durante a deposição, as fases sólidas
57
oriundas de gotas do spray e da fragmentação na superfície do depósito têm
suas estabilidades determinadas por suas composições e pelas condições
térmicas a que são submetidas, ou seja, partículas sólidas menores que um
dado tamanho crítico são refundidas e partículas maiores se tornaram núcleos
estáveis e crescem progressivamente.
A maior parte da fase sólida sobrevivente é composta por fragmentos da
fase alumínio-α, uma vez que esta é a fase primária da liga hipoeutética.
Portanto, durante o crescimento desta fase, o líquido na superfície do depósito
se enriquece de soluto e atinge uma composição próxima a eutética. Porém,
simultaneamente ao crescimento do silício eutético ocorre a intensa agitação
mecânica na superfície do depósito, o que causa sua fragmentação e impede o
crescimento em forma de placa. O resultado final é a presença de partículas de
silício com morfologia irregular, exibindo coalescimento e tendência ao
arredondamento (figura 4.12). Estas duas características são decorrentes da
constante movimentação dos fragmentos de silício durante o crescimento, o
que é muito distinto ao crescimento do eutético lamelar onde o silício cresce
junto à fase alumínio-α.
Figura 4.12 – Micrografia do depósito da liga 380 destacando diferentes
morfologias do silício.
58
Quanto às fases intermetálicas da liga conformada por spray, suas
identificações foram muito mais dificultosas que as realizadas nas amostras da
liga fundida devido ao grande refinamento microestrutural ocorrido.
Foi possível identificar, como indicado na figura 4.13, as fases β-AlFeSi e
Al2Cu através de MEV com o auxílio de análise por EDS. Diferentemente das
amostras da liga 380 fundida, nos depósitos não foi encontrada a fase α-AlFeSi
e nenhuma outra fase rica em ferro além da fase β-AlFeSi.
a)
b)
c)
d)
Figura 4.13 – (a) Micrografias do depósito da liga 380 destacando β-
AlFeSi e Al2Cu, b) espectro de análise por EDS da fase β-AlFeSi, c)
micrografias do depósito da liga 380 destacando Al2Cu e d) espectro de análise
por EDS da fase Al2Cu.
59
A redução nas dimensões e na razão de aspecto das agulhas da fase βAlFeSi resultantes da conformação por spray foram significativas quando
comparadas àquelas observadas nas amostra da liga processada por fundição.
Nas amostras do depósito, o comprimento médio das agulhas ficou em torno
de 7,2 µm, ou seja, cerca de sete vezes menor que o determinado para a liga
380 fundida (figura 4.14).
a)
b)
Figura 4.14 – Micrografias da liga 380: a) obtida por conformação por spray e
b) processada por fundição.
Assim, os comprimentos reduzidos da fase β-AlFeSi encontrados nos
depósitos da liga 380 são resultado da alta taxa de resfriamento imposta pela
atomização uma vez que esta fase estava contida em gotas sólidas do
"overspray, como visto na figura 4.15.
Este resultado sobre a redução do
tamanho da fase β-AlFeSi devido ao aumento da taxa de esfriamento está de
acordo com o trabalho de Samuel &Samuel onde foi investigada a solidificação
de cunhas da liga de alumínio 319.
Outra observação a ser feita com relação à fase β-AlFeSi, é que se trata
de uma fase muito frágil [3] e as agulhas podem ter tido seus comprimentos
reduzidos durante a deposição a partir de fraturas ocasionadas pelos impactos
de gotas na superfície do depósito durante a deposição, como no caso das
partículas de silício.
60
a)
b)
Figura 4.15 – a) micrografia de partícula de "overspray" da liga 380 b)
ampliaçãp da micrografia (a) destacando as partículas de Si e fase β-AlFeSi .
Quanto à fase Al2Cu, apresentou uma distribuição homogênea e
dimensão muito reduzida quando comparada à liga fundida. Porém, não foi
observada aquela descrita como eutética e sim, a forma irregular cuja
localização, mais uma vez, esteve vinculada à da fase β-AlFeSi (figura 4.13).
Assim, resumindo a caracterização quanto às fases que compõem a
microestrutura da liga 380 conformada por spray, pode-se dizer que a matriz é
composta por grãos equiaxiais e as fases possuem dimensões muito inferiores
às presentes na liga processada por fundição e que este resultado se deve,
principalmente, à influência de dois fatores: a nucleação heterogênea devido à
deposição de fases solidificadas com alta taxa de resfriamento e a agitação
mecânica produzida pelo impacto de gotas superfície semi-sólida do depósito a
durante a deposição.
Além das fases, a porosidade e a morfologia dos poros encontrados nos
depósitos também estão relacionados ao balanço térmico na superfície do
depósito durante a deposição. A figura 4.16 apresenta os valores de
porosidade média para diferentes regiões do depósito e micrografias de
amostras exibindo morfologias distintas de poros.
61
[mm]
45 _ 4,63 4,22
30 _ 4,29 4,51
10
a)
12,67
_
_
15 _ 4,18 4,39
_
5
6,41
30
[mm]
b)
c)
Figura 4.16– (a) esquema indicando valores de porosidade média em
diferentes regiões do depósito da liga 380, b) micrografia referente ao centro do
depósito c) micrografia referente à localização próxima ao substrato.
Com exceção das posições próximas ao substrato, a porosidade
apresentada pelos depósitos foi distribuída uniformemente e composta por
poros esféricos. O depósito caracterizado na figura 4.7 apresentou uma
porosidade média de 4,34% no volume considerado útil.
A morfologia esférica do poro está associada, de acordo com a literatura
[26, 32], ao mecanismo de aprisionamento do gás de atomização durante a
deposição. Vários pesquisadores [7, 29] correlacionam este tipo de porosidade
a uma fração de líquido excessiva na superfície do depósito. No entanto, os
poros esféricos foram encontrados em todos depósitos da liga 380 investigados
neste trabalho independentemente dos parâmetros de processo utilizados. As
amostras localizadas nas proximidades do substrato, como a correspondente a
posição G e H, apresentaram poros irregulares devido a alta taxa de
62
resfriamento ocorrida no início da deposição. A grande extração de calor por
condução através do substrato frio faz com que a fração líquida na superfície
do depósito seja insuficiente para alimentar os vazios entre as gotas sólidas
que se sobrepõem constantemente no início da deposição.
A porosidade foi uma característica inerente a todos os depósitos
analisados e, apesar dos valores médios encontrados estarem entre 3,15 a
7,29 %, que corresponde a uma faixa de valores que está de acordo com a
porosidade registrada em outros trabalhos de conformação por spray de ligas
de alumínio [27], procurou-se minimizar a porosidade das amostras dos
depósitos através de processo de extrusão, como será visto posteriormente.
4.2 Influência dos parâmetros de processo na microestrutura da liga 380
conformada por spray
4.2.1 Influência da pressão de atomização
O emprego de três pressões de atomização, 0,5, 0,8 e 1,0 MPa e a
manutenção
da
temperatura
de
superaquecimento
e
da
"distância
bocal/substrato" em, respectivamente, 680°C e 365 mm, resultaram nos
valores de rendimento de deposição e de porosidade média do depósito
apresentados na tabela 4.1.
Tabela 4.1 – Resultados de rendimento de deposição e de porosidade média
obtidos com as conformações P0,5, P0,8 e P1,0.
Designação da
deposição/
depósito
P0,5
P0,8
P1,0
Pressão de
atomização
(MPa)
0,5
0,8
1,0
Rendimento da
deposição
(%)
87,65
80,23
78,13
Porosidade média
do depósito
(%)
5,11
5,42
6,38
63
De acordo com os resultados apresentados, o aumento de pressão de
atomização de 0,5 MPa para 1,0 MPa ocasionou uma redução de
aproximadamente 10% no rendimento das deposições realizadas. Este
resultado está associado à mudança ocorrida nas dimensões geométricas do
spray com a alteração de pressão. Segundo BEWLAY & CANTOR [49], quanto
maior for a pressão de atomização maior será a velocidade imposta às gotas
do spray e maior será o ângulo formado entre a trajetória de cada gota e o eixo
longitudinal do cone de spray. Assim, as maiores pressões do gás atomizador
foram capazes de aumentar o diâmetro da base do cone, como representado
na figura 4.17, e gerar uma quantidade maior de “overspray”, reduzindo o
rendimento da deposição.
bocal
atomizador
spray
substrato
a) Menor pressão de atomização
b) Maior pressão de atomização
Figura 4.17 – Esquema ilustrando a forma do de spray para: a) menor pressão
de atomização e b) maior pressão de atomização
Outra observação que evidencia a alteração no cone de spray, foi o
aumento da quantidade formada de “splats” com a elevação da pressão de
atomização. Este tipo de material resultante da atomização corresponde a
grandes gotas líquidas que são deformadas e solidificadas rapidamente ao
entrar em contato com superfícies frias como as paredes internas da câmara
de atomização.
64
Segundo LEAL [28], o aumento da pressão de atomização ocasiona um
aumento da fração sólida na superfície do depósito durante a deposição devido
à maior quantidade de material sólido que incide sobre o mesmo, uma vez que
as
gotas
do
spray
são
submetidas
a
maiores
velocidades
e,
consequentemente, são resfriadas mais rapidamente durante o vôo em direção
ao depósito. Outro fato relativo à utilização de uma maior pressão de
atomização seria a capacidade do gás, sob maior vazão mássica, em resfriar
mais rapidamente a superfície do depósito por convecção [50].
Diante destes fatos relatados, era de se esperar que houvessem
alterações microestruturais signifativas nos depósitos investigados. Porém, não
foram observadas diferenças significativas quanto a tamanho de grão e de
partículas de silício nos depósitos que pudessem estar relacionadas a
diferentes frações sólidas durante as deposições.
As únicas diferenças
microestruturais observadas foram quanto à porosidade, havendo um pequeno
aumento da mesma como resultado do aumento de pressão. A influência da
pressão de atomização na microestrutura, decorrente do aumento de 0,5 para
1,0 MPa, pode ser vista na figura 4.18 que exibe as micrografias de amostras
retiradas do volume central dos depósitos, mais precisamente, das localidades
indicadas pela letra “B” no item referente à metodologia.
Nas figuras 4.18 a e b, pode-se observar que os dois depósitos
apresentaram poros esféricos os quais estão relacionados ao aprisionamento
de gás durante a deposição devido à incidência do mesmo sobre a superfície
líquida do depósito [5, 24, 25, 29]. Quanto ao aumento da porosidade, pode
estar relacionado a maiores agitações mecânicas obtidas na superfície semisólida do depósito com o impacto de gotas do spray com maiores velocidades.
65
a)
b)
c)
d)
Figura 4.18 –Micrografias dos depósitos: a) e c) P0,5 e b) e d) P1,0.
A redução de rendimento e o aumento de porosidade resultantes do
aumento da pressão de atomização indicaram que a configuração do bocal
atomizador utilizado é mais adequado para conformações por spray de ligas de
alumínio sob baixas pressões. Por este motivo, a influência de outros
parâmetros de processo foi investigada posteriormente com a utilização de 0,5
MPa como pressão de atomização.
4.2.2 Influência da distância entre o bocal atomizador e o substrato
A tabela 4.2 apresenta os valores de rendimento e de porosidades dos
depósitos resultantes de três deposições nas quais foi utilizado tubo para
66
vazamento de metal com diâmetro de 6mm, temperatura de superaquecimento
de 645°C, pressão de atomização de 0,5 MPa e diferentes distâncias entre o
bocal atomizador e o substrato (“distâncias bocal/substrato”).
Tabela 4.2 - Resultados de rendimento de deposição e de porosidade média
obtidos com as conformações T645V6, D365 e D410.
Designação da
deposição/
Distância
bocal/substrato
Rendimento da
deposição
depósito
(mm)
(%)
Porosidade
média do
depósito
(%)
T645V6
325
92,12
4,72
D365
365
87,65
5,11
D410
410
75,92
6,27
Pode-se observar que houve uma redução considerável do rendimento
da deposição com o aumento da "distância bocal/substrato".
compreensão
deste
resultado
deve-se
lembrar
que
a
Para
"distância
bocal/substrato" não interfere na formação do spray, ou seja, nas três
deposições realizadas não houve alteração na forma cônica do spray e na
distribuição de tamanho das gotas que o constituem. Assim, a diminuição da
distância entre o bocal e o substrato ocasionou uma menor quantidade de
“overspray”, pois possibilitou que o substrato interceptasse uma maior
quantidade de gotas do spray. A interceptação das gotas do spray para
diferentes distâncias entre o bocal e o substrato está representada pela figura
4.19.
Apesar de não interferir na formação do spray, a variação da "distância
bocal/substrato" é capaz de interferir nas características microestruturais dos
depósitos, pois altera a fração líquida na superfície dos mesmos durante a
deposição. Pôde-se constatar esta influência através das diferenças de
morfologia dos poros formados nos depósitos.
67
distância
bocal/substrato
bocal
atomizador
spray
substrato
a) menor distância entre o substrato
e o bocal atomizador
b) maior distância entre o substrato
e o bocal atomizador
Figura 4.19 – Esquema ilustrando a forma do de spray para: a) menor
"distância bocal/substrato" e b) maior "distância bocal/substrato".
A figura 4.20 apresenta micrografias de amostras retiradas das regiões
centrais dos depósitos conformados a diferentes distâncias entre o bocal e
substrato. É possível notar que as deposições cujas distâncias utilizadas foram
de 325 e 365 mm resultaram em poros esféricos (fig. 4.20a e b) enquanto que
para o depósito correspondente à distância de 410 mm (fig. 4.20c e d) houve a
formação de poros com formas irregulares.
A existência de fração líquida responsável pelos poros esféricos nos
casos das deposições com "distâncias bocal/substrato" menores se deve à
chegada de uma quantidade maior de gotas com maiores frações líquidas à
superfície dos depósitos uma vez que a distância de vôo imposta pelo
substrato não possibilitou o tempo suficiente para solidificá-las. Por outro lado,
a distância de 410mm permitiu que uma grande quantidade de gotas
atomizadas se solidificasse antes que atingissem a superfície do depósito,
ocasionando uma fração líquida insuficiente para preencher lacunas entre
partículas sólidas sobrepostas durante a deposição. Além da forma irregular
dos poros gerados nesta deposição, observou-se também, a interconexão
entre os mesmos (fig.4.20c e d).
68
Figura
4.20
–
a)
b)
c)
d)
a)
micrografia
do
depósito
referente
à
"distância
bocal/substrato"de: a) 325mm, b) 365mm, c) e d) 410mm.
Quanto à quantidade da porosidade, pode-se notar na tabela 4.2, que o
aumento da "distância bocal/substrato" de 325 para 365 mm resultou em um
aumento de aproximadamente 8% na porosidade média, entretanto a variação
de 365 para 410 mm ocasionou uma variação de mais de 23% Resultados
semelhantes quanto à variação da porosidade com a diminuição da "distância
bocal/substrato" foram obtidos por outros pesquisadores [51, 52].
4.2.3 Influência da temperatura de superaquecimento e da vazão mássica
de metal
Os resultados sobre a influência da temperatura de superaquecimento
do metal líquido no rendimento de deposição e em algumas características
69
microestruturais dos depósitos podem ser vistos na tabela 4.3. Cabe lembrar
que a pressão de atomização e a "distância bocal/substrato" foram mantidas,
respectivamente, em 0,5 MPa e 325 mm para todas as corridas, enquanto que
os efeitos das temperaturas de 645°C e 715°C foram investigados utilizando-se
tubo de vazamento de metal líquido com diâmetro de 6 e 4 mm.
Tabela 4.3 - Resultados de rendimento de deposição, de porosidade média e
de tamanho de grão obtidos com as conformações T715V6, T645V6, T715V4 e
T645V4.
Parâmetros de processo e resultados
Designação da
T715V6 T645V6 T715V4 T645V4
deposição/depósito
Diâm. do tubo de vazamento
6
6
4
4
715
645
715
645
0,063
0,058
0,034
0,029
RAZÃO GÁS/METAL (RGM)
0,56
0,59
1,02
1,22
Porosidade média [%]
7,29
4,72
3,72
3,15
Tamanho médio de grão [µm]
38
34
33
31
Rendimento de deposição [%]
91,88
92,12
94,09
97,77
[mm]
Temperatura de
superaquecimento [°C]
Vazão mássica de metal
[kg/s]
Na tabela 4.3, pode-se observar que a utilização da temperatura de
superaquecimento maior, 715°C, em conformações com tubo de vazamento de
6mm de diâmetro, resultou em valores superiores de porosidade média e de
tamanho médio de grão.
Por outro lado, as diferenças obtidas quando se
utilizou o tubo de 4mm, não foram tão acentuadas, indicando que a taxa de
vazão de metal líquido também influi nestas características e por isso, estas
diferenças, também serão discutidas no próximo item.
Como em todo processamento que envolve transformação líquido/sólido,
as características microestruturais do depósito estão relacionadas às condições
70
de solidificação a que este é submetido. Estas por sua vez, dependem
diretamente da fração líquida que será formada na superfície do depósito
durante a deposição.
A fração líquida na superfície do depósito é resultado do balanço térmico
entre o calor fornecido pelas gotas do spray que chegam durante a deposição e
o calor extraído por convecção, através do contato entre o fluxo de gás
atomizador e o depósito, e por condução da superfície em direção ao substrato
[26, 47, 53]. Assim, considerando que a "distância bocal/substrato" e a pressão
de atomização foram iguais, pode-se dizer que as condições de extração de
calor foram a mesma quando se utilizou o mesmo tubo de vazamento, porém a
quantidade de calor fornecida foi distinta uma vez que a temperatura de
superaquecimento variou. Conseqüentemente, a temperatura de 715°C
proporcionou gotas mais quentes e com maior fração líquida e, portanto, uma
maior fração líquida no depósito que foi capaz de aprisionar um maior volume
de gás de atomização, resultando em uma maior porosidade média.
Resultado semelhante, ou seja, aumento da porosidade devido a
elevação da temperatura de superaquecimento, foi encontrado por ZHANG et
al. [45] em trabalho de caracterização da liga de alumínio 6061 conformada por
spray.
Ainda quanto aos poros, foi possível observar que depósitos
conformados a temperaturas mais elevadas apresentam uma maior ocorrência
de coalescimento dos poros, o que possivelmente contribuiu para um aumento
do tamanho médio dos poros. A figura 4.21 ilustra este fato apresentando a
microestrutura do depósito conformado a 715°C utilizando-se tubo de 6 mm.
71
a)
b)
Figura 4.21 – Micrografias do depósito T715V6 apresentando: a)
diferentes tamanhos de poros e b) coalescimento de poros.
A ocorrência de uma maior fração de fase líquida na superfície do
depósito quando se utiliza uma maior temperatura de superaquecimento
também foi relatada por outros autores. Srivastava et al. [54], por exemplo,
modelaram matematicamente o comportamento térmico de gotas atomizadas
de uma liga Al-Fe-V-Si e verificaram que a fração sólida oriunda do spray
diminui com o aumento da temperatura de superaquecimento do metal líquido,
para uma "distância bocal/substrato" fixa.
Quanto à análise da influência da temperatura de superaquecimento no
tamanho de grão e das fases do depósito, deve ser considerado, além da maior
fração líquida formada na superfície, outros dois fatores. Primeiro, a utilização
de uma temperatura maior implica na diminuição da taxa de resfriamento do
depósito e, conseqüentemente, no prolongamento do tempo de solidificação.
Assim, fases intermetálicas e partículas de silício podem crescer epitaxialmente
e/ou coalescer durante a solidificação da superfície do depósito. Nos depósitos
investigados, não foram observadas alterações quanto ao comprimento da fase
β-AlFeSi
apenas, alterações quanto à forma e tamanho das partículas de
silício. A figura 4.22 exibe microestruturas dos depósitos conformados a 645°C
e 715°C utilizando o tubo de vazamento de 6mm. Pode ser observado na figura
4.22b, o coalescimento de partículas de silício.
72
a)
b)
Figura 4.22 – Micrografias dos depósitos: a) T645V6 e b) T715V6.
Outro fator a ser considerado é o número de núcleos estáveis oriundos
do spray, ou seja, quanto maior a temperatura de superaquecimento, menor
será o número de gotas solidificadas que chegará ao depósito, diminuindo-se
assim a quantidade de fases sólidas disponíveis para a nucleação heterogênea
na superfície do depósito. Portanto, considerando que cada grão é resultado do
crescimento de um núcleo estável, pode-se dizer a taxa de nucleação no
depósito é reduzida com o aumento da temperatura de superaquecimento do
metal líquido e, conseqüentemente, se obtém uma microestrutura com grãos
maiores.
A figura 4.23 exibe micrografias dos depósitos T715V6 e T645V6
referentes às diferentes regiões dos depósitos descritas na figura 3.4. Nesta
figura é possível observar que o depósito conformado a 715°C apresenta grãos
e partículas de silício maiores que os obtidos no depósito conformado a 645°C.
Outra observação importante a ser feita quanto ao depósito conformado a
715°C é a existência de um gradiente de tamanho de grão crescente no sentido
da base para o topo do depósito.
73
a)
b)
c)
d)
e)
f)
Figura 4.23 – Micrografias de amostras de depósitos conformados a
temperaturas diferentes: a) amostra A do depósito T715V6; b) amostra A do
depósito T645V6; c) amostra B do depósito T715V6; d) amostra B do depósito
T645V6, e) amostra C do depósito; e) amostra C do depósito T645V6.
74
Tal resultado prova que não houve uma extração de calor constante
durante a deposição, ou seja, a taxa de resfriamento foi reduzida
gradativamente com o aumento da espessura do depósito. Com isso,
proporcionalmente ao aumento crescente de temperatura na superfície do
depósito, houve a redução do número de núcleos aptos ao crescimento, uma
vez que o raio crítico para estabilidade dos mesmos depende da temperatura
[55], o que resultou em um aumento gradativo do tamanho de grão.
Além das características microestruturais, o rendimento das deposições
também foi influenciado pela variação da temperatura de superaquecimento.
Conforme os resultados apresentados na tabela 4.3, pode-se dizer que o
aumento da temperatura de superaquecimento, independentemente do
diâmetro do tubo de vazamento de metal, ocasionou uma redução do
rendimento. Este resultado, possivelmente, está relacionado à viscosidade e a
tensão superficial do metal líquido, ou seja, sob maior temperatura o metal
líquido é mais facilmente atomizado pelo fluxo de gás e por conseqüência se
tem um cone de spray maior que resulta na maior produção de "overspray” A
diferença entre a quantidade de "overspray" formado nas duas deposições está
associada ao fato da temperatura de superaquecimento influenciar na
viscosidade e na tensão superficial do metal líquido [27].
Além de ser a fonte de calor, o spray representa a fonte de massa para a
formação do depósito durante a conformação por spray.
A forma mais
adequada para se controlar este fornecimento de massa é através da seleção
do diâmetro do tubo de vazamento de metal líquido.
Os parâmetros e os resultados das deposições que servirão para a
análise da vazão mássica de metal estão contidos na tabela 4.3.
Como descrito anteriormente no item 4.3, o desenvolvimento da
microestrutura de solidificação do depósito depende da espessura do material
depositado ou, em outras palavras, o balanço térmico no depósito depende da
massa depositada. Assim, para uma mesma temperatura de superaquecimento
e num mesmo intervalo de tempo, a conformação por spray com maior vazão
mássica de metal proporciona uma superfície mais quente e com maior fração
de fase líquida que outra com menor vazão mássica de metal. Como
75
conseqüência da maior fração de fase líquida se tem uma maior porosidade
devido ao aprisionamento de gás atomizador e resultante da menor taxa de
resfriamento se tem maiores tamanhos de grão da matriz de alumínio-α e das
fases constituintes do material. De acordo com os resultados da tabela 4.3, a
utilização de um tubo de vazamento de metal com diâmetro de 6 mm ao invés
de um de 4mm, ocasionou um aumento aproximado de 10% no tamanho médio
de grão e de 50% na porosidade quando a temperatura de superaquecimento
foi de 645°C. Já para a temperatura de 715°C, a utilização de um maior
diâmetro de tubo de vazamento de metal resultou em um aumento de 15% no
tamanho médio de grão e 96% na porosidade. Este aumento pronunciado de
porosidade
se
deve
à
sobreposição
do
efeito
da
temperatura
de
superaquecimento, como descrito no item anterior.
4.3 Influência do processo de extrusão na microestrutura dos depósitos
da liga 380
O processo de extrusão, realizado em amostras dos depósitos da liga
380, reduziu significativamente a porosidade das mesmas. Esta redução dos
valores médios de porosidade de depósitos obtida com o processamento
secundário pode ser vista na tabela 4.4.
Tabela 4.4 – Porosidade média dos depósitos antes e após a extrusão
Designação da
deposição/depósito
Porosidade média (%)
Depósito
Depósito extrudado
T645V4
3,25
0,32
T645V6
4,72
0,44
T715V4
3,72
0,41
T715V6
7,29
0,56
Além de ter proporcionado a redução da porosidade dos depósitos como
desejado, a extrusão resultou em modificações microestruturais muito
76
significativas. A figura 4.24 apresenta micrografias de um mesmo depósito da
liga 380 na condição anterior e posterior à extrusão.
a)
b)
c)
d)
Figura 4.24 – Micrografias de amostras depósito T645V6: a) e c) sem extrusão,
b) e d) após a extrusão.
Como pode ser observado, a extrusão proporcionou uma redução
grande no tamanho de grão, ocorrendo recristalização da matriz de alumínio-α.
Apesar do alumínio possuir alta energia de falha de empilhamento e por isso
ser esperado uma recuperação dinâmica durante o processo de extrusão [56],
acredita-se que a recristalização ocorrida esteja relacionada à influência dos
elementos de liga e das partículas presentes na matriz de alumínio-α .
Trabalhos
sobre
os
efeitos
de
partículas
micrométricas
e
submicrométricas na recristalização são comumente realizados visando o
77
entendimento do controle de tamanho de grão de ligas de alumínio para
trabalho mecânico.
As ligas destinadas à fundição, como a liga 319 e 380, apresentam
porcentagens de elementos de liga muito superiores às ligas para trabalho
mecânico e, conseqüentemente, uma quantidade e uma diversidade muito
maior de partículas de fases secundárias que as impossibilitam de serem
conformadas mecanicamente e, por isso, raramente são encontradas
referências sobre este assunto para tais ligas.
Estudos sobre a recristalização de ligas para trabalho mecânico
resultaram em modelos que buscam explicar qualitativamente este fenômeno.
Os modelos de NES & WERT [57] se baseiam na influência de partículas
dividas em duas categorias, de acordo com seus tamanhos. Partículas
micrométricas seriam necessárias à nucleação da recristalização enquanto que
partículas submicrométricas se prestariam a inibir e controlar o crescimento dos
novos grãos. Este tipo de combinação de partículas, conhecido como
distribuição bimodal de tamanho de partícula [58], é empregado em ligas de
alumínio para controle de tamanho de grão através de processamento
termomecânico.
A nucleação da recristalização é associada a heterogeneidades da
estrutura do material causadas por deformação como bandas de cisalhamento
e zonas de deformação ao redor de partículas. Quando ligas de alumínio que
apresentam grandes partículas de segunda fase são altamente deformadas, o
principal mecanismo de nucleação da recristalização é conhecido como
nucleação estimulada por partícula (PSN, “particle-stimulated nucleation”) [59].
Neste mecanismo, regiões com alta densidade de discordâncias,
chamadas de zonas de deformação, são criadas ao redor das partículas devido
à incompatibilidade plástica entre elas e a matriz, ou seja, as partículas não
apresentam sistemas de planos de escorregamento ativos como a matriz de
alumínio.
Entretanto, para se criar, ao redor de uma partícula, uma zona de
deformação capaz de se tornar um núcleo de recristalização efetivo, o tamanho
desta partícula deve exceder um diâmetro crítico que é função da energia de
78
contorno de grão, módulo de cisalhamento, densidade de discordância,
pressão de ancoramento de Zener e do vetor dr Burger [58].
Segundo WERT & AUSTIN [60], o tamanho crítico para algumas ligas de
alumínio é de aproximadamente 1µm. Este valor também foi o tamanho crítico
encontrado por ESCHBACH et al. [58] para partículas de Al2Cu causarem a
nucleação da recristalização de ligas do sistema Al-Cu-Mg-Ag.
CHAN & HUMPHREYS [61] estudaram o mecanismo de recristalização
oriundo da laminação e tratamento térmico de ligas Al-Si com distribuição
bimodal de tamanho de partícula. Para tanto elaboram ligas contendo uma
matriz de alumínio com uma dispersão de partículas com aproximadamente
6µm e dispersóides de silício com tamanhos inferiores a 0,3 µm. Os resultados
deste estudo permitiram aos autores concluírem que as maiores partículas
foram responsáveis pela nucleação enquanto que a cinética da recristalização
foi retardada pelos dispersóides.
Portanto, com base nas referências citadas acima e na identificação de
dispersóides no depósito da liga 380 realizada através de microscopia
eletrônica de transmissão (MET) e microanálise por EDS, vide figura 4.25, foi
proposta uma hipótese para a recristalização da liga 380.
Durante a extrusão, são criadas regiões com alta densidade de
discordâncias ao redor de partículas de silício e de fases intermetálicas com
dimensões micrométricas, como as presentes nas microestruturas dos
depósitos. Embora possa ter havido alguma recuperação dinâmica esta não foi
suficiente para eliminar completamente a energia armazenada ao redor das
partículas, o que proporcionou o potencial termodinâmico necessário à
nucleação da recristalização.
79
~Al12(Fe,Mn,Cu)3.2Si
~Al2.7Cu (Fe,Mn)
a)
b)
β-Al5.2Fe0.98Si
precipitados
c)
d)
Figura 4.25 – a) e c) micrografias de depósito da liga 380 obtidas por
microscopia eletrônica de transmissão, b) e d) espectros das microanálises por
EDS [62].
Assim, evidenciou-se que, em algumas regiões, a soma dos efeitos de
recuperação e de forças de restrição referentes à presença de dispersóides
80
(figura 4.25) foram superiores à ao efeito causado pelo acúmulo de
discordâncias.
A recristalização parcial dos depósitos extrudados apenas pôde ser
caracterizada por microscopia ótica após ataques químicos severos o que, por
outro lado, ocasionou o escurecimento excessivo das partículas de silício,
como pode ser observado na figura 4.26.
a)
b)
Figura 4.26 – Micrografias do depósito apresentando recristalização parcial.
A redução do tamanho de grão dos depósitos extrudados não pode ser
apropriadamente quantificada por não ter ocorrido de forma completa, porém,
foi realizada uma estimativa durante as observações e documentações por
microscopia eletrônica de varredura (MEV) obtendo-se medidas inferiores a 10
µm para os novos grãos, ou seja, aproximadamente 1/3 do tamanho médio de
grão pertencente aos depósitos anteriormente à extrusão.
Esta redução teve um efeito significativo nas propriedades das ligas
conformadas por spray quando determinadas pelos ensaios de tração, como
será visto no próximo item.
4.4 Propriedades mecânicas da liga 380 fundida, conformada por spray e
extrudada
81
A figura 4.27 apresenta o gráfico “tensão x deformação” obtido através de
ensaio de tração para três corpos-de-prova da liga 380 submetida a diferentes
processamentos, ou seja, um deles confeccionado da amostra fundida, outro
da amostra conformada por spray e o último da amostra conformada por spray
e extrudada.
Figura 4.27 - Gráfico tensão versus deformação de três amostras da liga 380:
fundida; depositada por spray e depositada por spray / extrudada.
A tabela 4.5 apresenta os valores médios de limite de resistência, limite
de escoamento e alongamento para cada condição de processamento da liga
380.
Tabela 4.5 - Propriedades mecânicas da liga 380 fundida, depositada por spray
e extrudada
Processamento
Limite de
Limite de
Alongamento
82
Escoamento
Resistência
(%)
(MPa)
(MPa)
380 fundida
114,23
134,93
1,52
380 depositada
121,19
178,64
3,74
T715V6 + EXTR
130,68
212,87
9,44
T715V4 + EXTR
134,57
227,91
10,35
T645V6 + EXTR
136,12
226,52
9,81
T645V4 + EXTR
141,28
233,73
10,47
Observa-se que a liga 380 conformada por spray apresentou valores
maiores de limites de escoamento, de resistência e de alongamento
comparados aos da liga fundida em areia. Considerando que ambos os
materiais possuem a mesma composição química, pode-se atribuir as melhores
propriedades mecânicas da liga conformada por spray às diferenças
microestruturais que ocorreram entre ela e a liga processada por fundição.
Sabe-se que as propriedades mecânicas de materiais polifásicos, como a
liga 380, dependem da quantidade e das propriedades individuais das fases
constituintes assim como do tamanho e da morfologia das mesmas.
Assim, uma das mudanças mais notáveis que ocorreu com a
conformação por spray da liga 380 e que, certamente está relacionada às
diferenças nas propriedades, foi a alteração da morfologia do silício. Como
descrito no item 4.1, o silício da liga processada por conformação por spray
deixou de ter morfologia de placas, observada nas ligas fundidas sem
tratamento de modificação, e passou a ser particulado e homogeneamente
disperso nas regiões intergranulares.
O silício eutético em forma de grandes placas causa depreciações das
propriedades mecânicas das ligas de alumínio-silício eutéticas e hipoeutéicas e
por este motivo, o tratamento de modificação é comumente utilizado em
processos de fundição, através da adição de Sr ou Na.
A discussão sobre a influência do silício nas propriedades mecânicas de
ligas de alumínio hipoeutéticas pode ser auxiliada pela análise da fratura do
material. Geralmente, nestas ligas, o processo de fratura é iniciado pelo
83
trincamento de partículas de silício ou de fases intermetálicas que agem como
concentradoras de tensão devido à falta de sistemas de escorregamento ativos
em suas estruturas.
Nucleada a trinca, ela se propaga por regiões interdendríticas e por fim,
pela matriz [3]. A tensão crítica para a nucleação da trinca depende,
principalmente, do tamanho e/ou da razão de aspecto (comprimento/largura)
das partículas de silício e de intermetálicos. Um aumento do tamanho ou da
razão de aspecto é capaz de reduzir tanto a resistência quanto a dutilidade da
liga [63].
Em caso de ligas que não possuem estrutura de solidificação dendrítica,
como no caso da liga 319 processada por tixofundição, o sílicio também é o
principal responsável pela nucleação de trincas, as quais se propagam através
de regiões eutéticas entre os glóbulos de alumínio [64].
Dada a importância do mecanismo de fratura, apresenta-se a seguir, a
figura 4.28 onde são exibidas micrografias obtidas por MEV das superfícies de
fratura de corpos-de-prova da liga 380 processada por fundição e conformada
por spray.
Comparando-se as micrografias da figura 4.28, fica evidente que os
mecanismos de fratura foram distintos para os dois conjuntos de amostras.
Enquanto a superfície do corpo-de-prova da liga fundida apresentou o aspecto
microscópico de fratura frágil (clivagem), a da liga depositada exibiu
características de fratura dútil (“dimples”).
84
a)
b)
c)
d)
Figura 4.28 – Micrografias obtidas por MEV exibindo a superfície de fratura da
liga 380: a) e c) fundida em areia, b) e d) conformadas por spray.
A micrografia da figura 4.28c, relativa a liga 380 fundida, apresenta
planos de clivagem das placas de silício como aquelas apresentadas nas
micrografias da figura 2.3. Esta característica condiz com as comprovações
experimentais citadas anteriormente, ou seja, que a propagação das trincas
ocorreu através da região eutética.
Quanto à nucleação das trincas, não pôde ser evidenciada pela análise da
superfície de fratura se ocorreu a partir do silício eutético ou de alguma fase
intermetálica. Porém, baseado na natureza frágil da fratura, pode-se dizer que
a baixa dutilidade apresentada pela amostra fundida sofreu grande influência
da morfologia acicular do silício eutético. Por outro lado, as superfícies das
amostras fraturadas da liga 380, conformada por spray, exibem numerosas
depressões
em
forma
convexa,
conhecidas
como
“dimples”.
Estas
características indicam que microcavidades nuclearam em locais onde houve
descontinuidade de tensão e coalesceram através da deformação plástica da
matriz de alumínio-α com o progressivo aumento de tensão durante o ensaio.
A origem das trincas na fratura da liga conformada por spray,
possivelmente, está associada ao silício particulado uma vez que, como descito
85
no item sobre caracterização micoestrutural, a fase β-AlFeSi teve seu tamanho
muito reduzido e, conseqüentemente, seu poder de concentrar tensão.
Com auxílio de micro-análises por EDS realizadas nas regiões indicadas
nas micrografias, foi possível identificar partículas de silício fraturadas, figura
4.29a, e regiões fraturadas de fases ricas em cobre, figura 4.29b.
a)
b)
Figura 4.29 - Micrografias obtidas por MEV exibindo a superfície de fratura da
liga 380 conformadas por spray : a) silício fraturado e b) fase rica em cobre
fraturada
Já a coalescência destas microcavidades ocorreu através da deformação
da matriz de alumínio até o instante em que as espessuras das paredes entre
elas se tornaram tão finas a ponto de não suportar a tensão e levar a fratura do
corpo-de-prova.
Quanto
à
pequena
diferença
entre
os
limites
de
escoamento
apresentados pela liga 380 processada por fundição e conformação por spray
se deve ao fato de ambas apresentar, praticamente, a mesma matriz, ou seja,
a conformação por spray não causou nenhuma mudança na solução sólida
alumínio-α
e
nem
mesmo
de
precipitação
que
pudessem
alterar
significantemente o comportamento da matriz durante o aumento de tensão
aplicado no ensaio de tração.
86
Resumindo a comparação entre as microestruturas da liga 380 fundida e
da conformada por spray, pode–se dizer que este último processo reduziu
drasticamente o potencial de concentração de tensão através da modificação
morfológica do silício e da redução da razão de aspecto da fase β-AlFeSi, o
que resultou em aumento significativo do limite de resistência e do
alongamento da liga 380.
Com relação à influência do processo de extrusão nas propriedades dos
depósitos da liga 380, pode-se dizer que as alterações microestruturais
causadas pela extrusão resultaram no aumento moderado do limite de
escoamento e em aumentos mais significativos quanto ao limite de resistência
e ao alongamento.
Quanto à diferença entre os limites de escoamento do depósito e do
depósito extrudado, sabe-se que há relação com tamanho de grão, pois a
deformação plástica é baseada na influência dos contornos de grão sobre o
movimento das discordâncias. Assim, o depósito extrudado, composto
parcialmente por grãos mais refinados, possui um número maior de contornos
e, conseqüentemente, um número maior de obstáculos a ser vencido pelas
discordâncias. Portanto, a tensão necessária para provocar a deformação
plástica do depósito extrudado é maior, sendo este depósito mais resistente
mecanicamente.
Por outro lado, os aumentos do limite de resistência e do alongamento
alcançados pelo depósito da liga 380 extrudado se devem, principalmente, à
grande redução da porosidade obtida com a extrusão. A influência da
porosidade nas propriedades mecânicas é muito abordada em trabalhos de
fundição e sabe-se que o efeito deletério da mesma diz respeito à
concentração de tensão causada pelos poros quando o material é submetido a
solicitações mecânicas. A figura 4.30 apresenta as superfícies de fratura de
corpos-de-prova de tração do depósito sem extrusão e do depósito extrudado
da liga 380.
87
a)
b)
c)
d)
Figura 4.30 – Micrografias obtidas por MEV exibindo superfícies de fratura de
corpos-de-prova de tração do depósito da liga 380 sem extrusão (a e c) e
extrudado (b e d).
Apenas na micrografia (figura 4.30a) referente ao depósito sem ser
extrudado, pôde se observar a presença de poros e outra diferença encontrada
foi que os ”dimples” formados na superfície de fratura da amostra extrudada
foram mais profundos o que está de acordo com os maiores valores de
alongamento.
Diante dos resultados apresentados, evidencia-se que o processo de
extrusão é capaz de reduzir a porosidade e o tamanho de grão, e,
conseqüentemente,
proporcionar
à
liga
380
conformada
por
spray,
propriedades mecânicas que ampliam as possibilidades de aplicação desta
88
liga, dentre estas propriedades, destaca-se o alongamento obtido em torno de
10%, o que é muito superior ao valor de 2% que, raramente é alcançado
quando esta liga é processada por fundição [65].
Por fim, quanto à comparação entre as propriedades dos depósitos
extrudados que haviam sido conformados sob diferentes parâmetros de
processo, pode-se dizer que o processo de extrusão amenizou a influência das
diferenças microestruturais existentes entre os depósitos.
Para contextualizar tal fato, pode-se comparar as características e
propriedades dos depósitos T715V6 e T645V4. O primeiro apresentava um
tamanho médio de grão de 38µm e uma porosidade média de 7,29% enquanto
que o segundo depósito possuía tamanho médio de grão de 31µm e 3,15% de
porosidade. Apesar do depósito T715V6 apresentar, anteriormente à extrusão,
mais que o dobro da porosidade do outro depósito, após o processamento
secundário, os valores de suas propriedades mecânicas foram por volta de
10% inferiores aos valores apresentados pelo depósito T645V4.
Este fato tem uma importância fundamental quanto ao controle do
processo de conformação por spray, pois, indica que existe uma faixa de
variação de parâmetros tolerável para a obtenção de determinadas
propriedades mecânicas após a extrusão.
4.5 Microestrutura e propriedades mecânicas da liga 319 conformada por
spray e extrudada
A conformação por spray da liga 319 através da utilização dos mesmos
parâmetros de processo anteriormente empregados para a conformação da
liga
380,
designada
por
T715V6,
resultou
em
algumas
alterações
microestruturais que serão descritas a seguir.
A figura 4.31 apresenta micrografias que permitem a comparação entre
as microestruturas das ligas 380 e 319 conformadas por spray.
89
a)
b)
Figura 4.31 – Micrografias das ligas conformadas por spray: a) liga 380 e b) liga
319
Assim como na microestrutura da liga 380, pode-se observar que o
depósito da 319 apresentou uma matriz de alumínio-α composta por grãos
equiaxiais e a uma distribuição de partículas de silício em regiões
intergranulares. Apesar da semelhança morfológica da matriz, houve uma
diferença significativa quanto ao tamanho de grão apresentado pelas duas
ligas, como pode ser observado na tabela 4.6.
Tabela 4.6 - Resultados de rendimento de deposição, de porosidade média e
de tamanho de grão obtidos com as conformações T715V6 da liga 380 e 319
Resultados
380
319
38
29
Porosidade [%]
7,29
4,22
Rendimento de deposição [%]
91,88
95,21
Tamanho de grão [µm]
Adicionalmente ao menor tamanho de grão, a liga 319 também
apresentou menor porosidade quando comparado aos resultados da
conformação por spray da liga 380. Ambos resultados estão relacionados aos
90
comportamentos térmicos distintos desenvolvidos durante a deposição e que,
por sua vez, estão relacionados as diferença entre as vazões mássicas das
duas ligas. As vazões mássicas e outras variáveis de processo pertinentes à
discussão podem ser vistas na figura 4.7.
Tabela 4.7 – Parâmetros de processo das conformações T715V6 da liga 380 e
319
Parâmetros de processo
Liga 380
Liga 319
Temperatura de superaquecimento [°C]
715
715
Superaquecimento [°C]
125
110
Vazão mássica de metal [kg/s]
0,063
0,035
RAZÃO GÁS/METAL (RGM)
0,56
0,99
A liga 380, sob mesma temperatura de superaquecimento (715°C),
apresentou uma maior fluidez que a liga 319 devido ao seu maior teor de silício
e à sua menor temperatura “liquidus”, o que ocasionou a maior vazão mássica
e, conseqüente, a menor razão gás/metal (RGM). Assim, obteve-se, durante a
deposição da liga 380, uma superfície do depósito mais quente e com maior
fração líquida, resultando em um maior aprisionamento de gás e maiores
tamanhos de grão, como pode ser visto na figura 4.32.
91
a)
b)
c)
d)
Figura 4.32 – a) e c) microestruturas do depósito T715V6 da liga 380, b) e d)
microestruturas do depósito T715V6 da liga 319.
Outra diferença que pode ser observada na figura 4.3, diz respeito ao
tamanho das partículas de silício. A maior fração líquida na superfície do
depósito da liga 380 possibilitou um maior coalescimento e, conseqüente, um
aumento do tamanho destas partículas.
Quanto à influência do processo de extrusão na microestrutura da liga
319, verificou-se resultados semelhantes aos ocorridos com a liga 380, ou seja,
grande redução de porosidade e recristalização parcial, como pode ser
observado na figura 4.33.
Figura 4.33 – Microestrutura da liga 319 extrudada
92
Após a extrusão, corpos-de-prova das amostras da liga 319 foram
usinados e submetidos às mesmas condições de ensaio de tração que as
amostras da liga 380. Os resultados das propriedades mecânicas e da
porosidade após a extrusão podem ser vistos na tabela 4.8.
Tabela 4.8 – Propriedades mecânicas e porosidade dos depósitos T715V6/380
e T715V6/319.
Liga /
Processa/o
Porosidade
média (%)
Limite de
Escoamento
(MPa)
Limite de
Resistência
(MPa)
Alongamento
(%)
380 / T715V6
+ EXTR
0.56
130,68
212,87
9,44
319 / T715V6
+ EXTR
0,33
126,61
248,45
2,26
Apesar de conter uma menor quantidade de silício, o comportamento
mecânico apresentado pelas amostras da liga 319, durante o ensaio de tração,
foi semelhante ao da liga 380, apresentando curvas de “tensão/deformação”
semelhantes e modo de fratura dútil. A superfície do fratura de um corpo-deprova de ensaio de tração do depósito extrudado da liga 319 pode ser
observada na figura 4.34.
93
a)
b)
Figura 4.34 – a) Micrografia obtida por MEV exibindo superfícies de fratura de
corpos-de-prova de tração do depósito extrudado da liga 319; b) detalhe da
mesma amostra.
A superfície de fratura da liga 319 é caracterizada por “dimples” e,
também, apresentou partículas de silício fraturadas, como pode ser visto na
figura 4.34b.
Quanto às propriedades mecânicas, a influência do silício foi marcante.
Os maiores valores de limite de resistência e de alongamentos apresentados
pela liga 319 se devem ao fato desta apresentar, concomitantemente, menores
porcentagens de porosidade e menores tamanhos e quantidades de silício.
Quanto aos limites de escoamento das duas ligas, pode se dizer que não
houve uma diferença tão pronunciada, pois ambas apresentam matrizes de
alumínio-α praticamente sem distinções quanto a estrutura cristalina e ao
tamanho de grão após a extrusão, o que é comprovado pelos resultados de
difração de raio-X apresentados pela figura 4.35.
94
a)
b)
Figura 4.35 – Difratogramas de raio-X das amostras dos depósitos T715V6/380
e T715V6/319.
A comparação entre os resultados apresentados pela liga 319 e 380
conformadas por spray e extrudadas vêem a confirmar a importância do teor de
silício nas propriedades mecânicas das ligas huipoeutéticas, pois, mesmo não
95
se tratando de uma rota convencional de processamento, a liga conformada
por spray com menor teor de silício, 319, apresentou uma dutilidade superior à
da liga 380. Este fato enfatiza a possibilidade do processo de conformação por
spray ser uma rota alternativa para ampliação do campo de aplicação destas
ligas hipoeutéticas recicladas.
96
5. Conclusões
97
- As ligas de alumínio-silício 319 e 380 conformadas por spray
apresentaram matriz de alumínio composta por grãos equiaxiais, silício
particulado e fases intermetálicas, Al2Cu e β-AlFeSi.
- A conformação por spray ocasionou um refinamento microestrutural da
liga 380 quando comparada à mesma processada por fundição devido à forte
incidência de fases sólidas sobre a superfície semi-sólida do depósito durante a
deposição. Estas fases atuaram como sítios efetivos para nucleação e
causaram uma agitação mecânica capaz de alterar a morfologia e reduzir o
tamanho das fases;
- Tal refinamento microestrutural proporcionou maiores valores de limite
de resistência e de alongamento para a liga 380 conformada por spray quando
comparados aos apresentados por esta liga no estado bruto de fusão;
- As influências mais significativas dos parâmetros de processo
ocorreram na porcentagem de porosidade do depósito e no rendimento de
deposição, havendo um aumento da porosidade e uma redução do rendimento
com a elevação da temperatura de superaquecimento e da vazão mássica de
metal;
- O processo de extrusão é capaz de minimizar a porosidade e reduzir o
tamanho de grão dos depósitos das ligas 380 e 319, através de recristalização
dinâmica e, conseqüentemente, aumentar a resistência e a dutilidade destas
ligas;
- Quando conformada por spray, a liga 319 apresenta valores de limite
de resistência e alongamento superiores aos apresentados pela liga 380
depositada sob as mesmas condições de processamento, devido às menores
porcentagens de silício e de porosidade.
98
6. Sugestões para trabalhos futuros
- Estudo da influência de tratamentos térmicos nas propriedades das
ligas Al-Si hipoeutéticas conformadas por spray e extrudadas;
99
- Estudo da resistência ao desgaste das ligas Al-Si hipoeutéticas
conformadas por spray e extrudadas;
- Estudo da influência dos parâmetros de processo de extrusão na
recristalização dinâmica das ligas Al-Si hipoeutéticas conformadas por spray;
- Estudo da viabilidade em transformar a conformação por spray e a
extrus ão em processo contínuo.
101
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