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DEFINIÇÃO DE PSICOLOGIA COGNITIVA

Introdução à Psicologia Cognitiva 1 E X P L O R A N D O A P S I C O L O G I A C O G N I T I VA 1. O que é psicologia cognitiva? 2. De que forma a psicologia desenvolveu-se como ciência? 3. Como a psicologia cognitiva desenvolveu-se a partir da psicologia? 4. Como outras disciplinas contribuíram para o desenvolvimento da teoria e da pesquisa em psicologia cognitiva? DEFINIÇÃO DE PSICOLOGIA COGNITIVA O que será estudado em um livro-texto sobre psicologia cognitiva? 1. Cognição: As pessoas pensam. 2. Psicologia cognitiva: Os cientistas pensam sobre como as pessoas pensam. 3. Estudantes de psicologia cognitiva: As pessoas pensam sobre o que cientistas pensam em relação a como as pessoas pensam. 5. Quais métodos os psicólogos cognitivos usam para estudar o modo como as pessoas pensam? 6. Quais são as questões atuais e os vários campos de estudo da psicologia cognitiva? bem várias formas, por que elas se lembram de alguns fatos, mas se esquecem de outros, ou como aprendem a linguagem. Consideremos alguns exemplos: • Por que, em dias com névoa, os objetos parecem estar mais distantes do que realmente estão? Essa discrepância pode ser perigosa, inclusive enganando motoristas e envolvendo-os em acidentes. 4. Professores que lecionam para estudantes de psicologia cognitiva: Basta rever os itens anteriores. • Por que muitas pessoas lembram-se de uma determinada experiência (por exemplo, um momento muito feliz ou um constrangimento na infância), mas esquecem os nomes de pessoas a quem elas conhecem há muitos anos? Para sermos mais específicos, a psicologia cognitiva é o estudo de como as pessoas percebem, aprendem, lembram-se de algo e pensam sobre as informações. Um psicólogo cognitivo pode estudar o modo como as pessoas perce- • Por que muitas pessoas têm mais medo de viajar de avião do que de carro? Afinal de contas, as chances de lesão ou morte são muito mais altas em um carro do que em um avião. 20 ROBERT J. STERNBERG Estas são algumas perguntas que podemos responder por meio do estudo da psicologia cognitiva. Este capítulo introduz o campo da psicologia cognitiva, descrevendo um pouco do histórico intelectual do estudo do pensamento humano. Enfatizam-se especialmente algumas das questões e das preocupações que surgem quando pensamos sobre como as pessoas pensam. A seguir, teremos um breve panorama dos principais métodos, das questões e das áreas de conteúdo da psicologia cognitiva. As idéias apresentadas neste capítulo proporcionarão um alicerce sobre o qual construir uma visão dos tópicos da psicologia cognitiva. Por que estudar a história deste campo ou mesmo de qualquer outro? Para início de conversa, se soubermos de onde viemos, poderemos ter uma compreensão melhor de para onde estamos indo. Além disso, pode-se aprender com erros do passado. Dessa forma, quando cometermos erros, eles serão erros novos, e não os mesmos de antes. Nossas formas de tratar questões fundamentais mudaram, mas algumas dessas questões permanecem praticamente as mesmas. Em última análise, pode-se aprender algo sobre o modo como as pessoas pensam estudando como as pessoas já pensaram sobre o pensar. O avanço das idéias, muitas vezes, envolve uma dialética. Uma dialética é um processo de desenvolvimento em que as idéias evoluem com o passar do tempo por meio de um padrão de transformações. Qual é esse padrão? Em uma dialética: • Propõe-se uma tese. Uma tese é um enunciado de opinião. Por exemplo, algumas pessoas são da opinião de que a natureza humana governa muitos aspectos do comportamento humano (por exemplo, a inteligência ou a personalidade; Sternberg, 1999). Contudo, depois de algum tempo, alguns indivíduos observam alguns problemas na tese. • Mais cedo ou mais tarde ou talvez logo em seguida, surge uma antítese. Uma antítese é um enunciado que se contrapõe à opinião enunciada anteriormente. Por exemplo, uma visão alternativa é que o que adquirimos em nossa criação (o contexto ambiental em que somos criados) determina quase que por completo muitos aspectos do comportamento humano. • Mais cedo ou mais tarde, o debate entre a tese e a antítese leva a uma síntese. Uma síntese integra os aspectos mais críveis de cada uma de duas (ou mais) visões. Por exemplo, no debate sobre a relação entre inato e adquirido, a integração entre nossa natureza inata e o que adquirimos no ambiente pode governar a natureza humana. Na verdade, a visão mais aceita atualmente é que tanto a visão sobre “inato” quanto a que se baseia no “adquirido” são incompletas. Ambos os fatores trabalham juntos em nosso desenvolvimento. Se uma síntese parece fazer avançar nosso conhecimento acerca de um assunto, ela servirá como uma nova tese. Posteriormente, uma nova antítese se seguirá, depois uma nova síntese, e assim por diante. Georg Hegel (1770-1831) observou essa progressão dialética de idéias. Ele foi um filósofo alemão que chegou a suas idéias por meio de sua própria dialética, sintetizando algumas das visões de seus predecessores e contemporâneos intelectuais. ANTECEDENTES FILOSÓFICOS DA PSICOLOGIA: RACIONALISMO VERSUS EMPIRISMO Onde e quando começou o estudo da psicologia cognitiva? Os historiadores da psicologia, de modo geral, identificam suas primeiras raízes em duas abordagens à compreensão da mente humana: A filosofia procura entender a natureza geral de muitos aspectos do mundo, basicamente por meio da introspecção – o exame das idéias e das experiências internas (introspecção: “olhar para dentro”). A fisiologia busca um estudo científico de funções vitais na matéria viva, fundamentalmente por meio de métodos empíricos (baseados em observação). Dois filósofos gregos, Platão (428-348 a.C.) e seu aluno Aristóteles (384-322 a.C.), influenciaram profundamente o pensamento moderno na PSICOLOGIA COGNITIVA psicologia e em muitos outros campos. Platão e Aristóteles discordavam com relação à forma de investigar idéias. O primeiro era um racionalista, ou seja, acreditava que o caminho para o conhecimento se dá pela análise lógica. Por sua vez, Aristóteles (que era naturalista e biólogo, além de filósofo) era um empirista, alguém que acredita que adquirimos conhecimento por meio das evidências empíricas – ou seja, obtemos evidências por meio da experiência e da observação (Figura 1.1). Portanto a visão de Aristóteles leva diretamente a investigações empíricas da psicologia. Em contrapartida, a visão de Platão prenuncia os vários usos do raciocínio no desenvolvimento da teoria. As teorias racionalistas sem qualquer conexão com observações podem não ser válidas, mas grandes quantidades de dados decorrentes de observação sem uma estrutura teórica que as organize podem não ter relevância. Podemos considerar a visão de mundo racionalista de Platão como uma tese e a visão empírica de Aristóteles, como uma antítese. A maioria dos psicólogos de hoje busca uma síntese de ambas. Eles baseiam as observações empíricas na teoria e usam-nas para revisar suas teorias. Durante a Idade Média, grande parte da psicologia cognitiva conforme existia na época era uma tentativa de fazer formulações a par- (a) FIGURA 1.1 21 tir das idéias de Aristóteles (Kemp, 1996, 2000). Também foram feitas tentativas iniciais de localizar os processos cognitivos no cérebro. No século XVII, as idéias conflitantes do racionalismo e do empirismo ressurgiram com o racionalista francês René Descartes (1596-1650) e com o empirista inglês John Locke (1632-1704). Descartes concordava com Platão, considerando o método introspectivo e reflexivo superior aos métodos empíricos de encontrar a verdade. Locke, por sua vez, compartilhava o entusiasmo de Aristóteles em relação à observação empírica (Leahey, 2000; Manent, 1998; Smith, 1997). Locke acreditava que os seres humanos nascem sem conhecimento e, por tal razão, devem buscá-lo por meio da observação empírica. Seu termo para isso era tabula rasa (que significa “tábua vazia” em latim). A idéia é que a vida e a experiência “escrevem” o conhecimento em nós. Sendo assim, para Locke o estudo da aprendizagem era fundamental para entender a mente humana. Ele acreditava que não existem idéias inatas. No século XVIII, o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) sintetizou dialeticamente a visão de Descartes e Locke, ao afirmar que tanto o racionalismo quanto o empirismo têm seu lugar, devendo trabalhar juntos na busca da verdade. Atualmente a maioria dos psicólogos aceita a síntese de Kant. (b) (a) Segundo o racionalista, o único caminho para a verdade é a reflexão contemplativa; (b) Segundo o empirista, o único caminho para a verdade é a observação meticulosa. A psicologia cognitiva, assim como outras ciências, depende do trabalho de racionalistas e empiristas. 22 ROBERT J. STERNBERG As primeiras dialéticas na psicologia da cognição O estruturalismo Uma das primeiras dialéticas na história da psicologia ocorre entre o estruturalismo e o funcionalismo (Leahey, 1997; Morawski, 2000). O estruturalismo foi a primeira grande escola de pensamento na psicologia, a qual buscava entender a estrutura (a configuração de elementos) da mente e suas percepções, analisando-as em seus componentes constitutivos. Consideremos, por exemplo, a percepção de uma flor. Os estruturalistas analisariam essa percepção em termos de cores, formas geométricas, relações de tamanho que a constituem, e assim por diante. Um filósofo alemão cujas idéias mais tarde contribuiriam para o desenvolvimento do estruturalismo foi Wilhelm Wundt (1832-1920). Wundt defendia o estudo das experiências sensoriais por meio da introspecção. A introspecção é um olhar interior para informações que passam pela consciência (Lyons, 2003). Um exemplo disso são as sensações experimentadas quando se olha para uma flor. Com efeito, analisamos nossas próprias percepções. Wundt teve muitos seguidores, e um deles foi o estudante americano Edward Titchener (1867-1927). Titchener (1910) ajudou a trazer o estruturalismo para os Estados Unidos. Outros entre os primeiros psicólogos criticaram tanto o método (introspecção) quanto o foco (estruturas elementares de sensação) do estruturalismo. Funcionalismo: uma alternativa ao estruturalismo Uma alternativa ao estruturalismo sugeri a que os psicólogos deveriam concentrarse nos processos de pensamento em lugar de concentrar-se em seus conteúdos. O funcionalismo busca entender o que as pessoas fazem e por que o fazem. Essa pergunta principal estava em contraste com a do estruturalismo, que havia perguntado quais eram os conteúdos (as estruturas) elementares da mente humana. Os funcionalistas sustentavam que a chave para o entendimento da mente humana e dos com- Arquivos de The History of American Psychology, University of Akron ANTECEDENTES PSICOLÓGICOS DA PSICOLOGIA COGNITIVA Wilhelm Wundt não foi muito bem-sucedido na escola, sendo reprovado muitas vezes e ridicularizado pelos outros. Entretanto, Wundt mostrou posteriormente que o desempenho escolar nem sempre indica futuro sucesso profissional, pois ele é considerado um dos mais influentes psicólogos de todos os tempos. portamentos era estudar os processos de como e por que a mente funciona da maneira que funciona, em lugar de estudar seus conteúdos e os elementos estruturais. Os funcionalistas estavam unificados pelos tipos de perguntas que faziam, mas não necessariamente pelas respostas que encontravam ou pelos métodos que usavam para encontrá-las. Como os funcionalistas acreditavam no uso de quaisquer métodos que melhor respondessem às perguntas de um dado pesquisador, parece natural que o funcionalismo tenha levado ao pragmatismo. Os pragmatistas acreditam que o conhecimento é validado por sua utilidade: o que se pode fazer com isso? Estão interessados não apenas em saber o que as pessoas fazem, como também querem saber o que podemos fazer com nosso conhecimento sobre o que as pessoas fazem. Por exemplo, eles acreditam na importância da psicologia da aprendizagem e da memória. Por quê? Porque pode nos ajudar a melhorar o desempenho das crianças na escola. Um líder na condução do funcionalismo em direção ao pragmatismo foi William James (1842-1910). Sua principal contribuição funcio- PSICOLOGIA COGNITIVA 23 Archives of The History of American Psychology, Universidade de Akron râneo na psicologia cognitiva. Dewey é lembrado basicamente por sua abordagem pragmática do pensamento e da escola. Muitos psicólogos cognitivos consideram William James, médico, filósofo, psicólogo e irmão do autor Henry James, como um dos maiores psicólogos que jamais houve, embora ele próprio pareça ter rejeitado a psicologia mais tarde. nal ao campo da psicologia foi um único livro: Princípios de Psicologia (1890/1970). Ainda hoje, os psicólogos cognitivos apontam, muitas vezes, os escritos de James em discussões de tópicos fundamentais no campo, como atenção, consciência e percepção. John Dewey (1859-1952) foi mais um dos primeiros pragmaticistas que influenciaram bastante o pensamento contempo- APLICAÇÕES PRÁTICAS DA PSICOLOGIA COGNITIVA Associacionismo: uma síntese integradora O associacionismo, assim como o funcionalismo, foi menos uma escola rígida de psicologia e mais uma forma influente de pensar. O associacionismo examina a forma como os eventos e as idéias podem tornar-se associados uns com os outros na mente, a fim de resultar em uma forma de aprendizagem. Por exemplo, as associações podem resultar da contigüidade (associar informações que tendem a ocorrer juntas mais ou menos ao mesmo tempo), da semelhança (associar informações com características ou propriedades semelhantes) ou do contraste (associar informações que parecem apresentar polaridades, como quente/frio, claro/escuro, dia/noite). No final do século XIX, o associacionista Hermann Ebbinghaus (1850-1909) foi o primeiro pesquisador a aplicar os princípios associacionistas de forma sistemática. Especificamente, Ebbinghaus estudou e observou seus próprios processos mentais. Contou seus erros e registrou seus tempos de resposta. Por meio de auto-observações, estudou como as pessoas aprendem e lembram-se de conteúdos por meio da repetição consciente do conteúdo a ser aprendido. Entre outras conclusões, ele fez uma descoberta experimental revolucionária: a de que a repetição freqüente pode fixar associações mentais de Agora, imagine-se colocando a idéia do pragmatismo em uso. Pense sobre as formas de tornar as informações que está aprendendo nesta disciplina mais úteis para você. Parte do trabalho já foi feito – observe que o capítulo começa com perguntas que tornam as informações mais coerentes e úteis, e o resumo retorna a essas perguntas. O texto responde de maneira satisfatória às perguntas apresentadas no início do capítulo? Formule suas próprias perguntas e organize suas anotações na forma de respostas. Além disso, estabelecça uma relação desse material com outras disciplinas e atividades das quais você participa. Por exemplo, você pode ser chamado a explicar a um amigo como funciona um programa de computador. Uma boa maneira de começar seria perguntar a essa pessoa se ela tem alguma pergunta. Assim, as informações que você oferece serão mais úteis a seu amigo, em lugar de forçá-lo a buscar a informação de que necessita em uma exposição longa e unilateral. 24 ROBERT J. STERNBERG forma mais consistente na memória, ajudando a aprendizagem (ver Capítulo 6). Outro associacionista influente, Edward Lee Thorndike (1874-1949), sustentava que o papel da “satisfação” é a chave para a formação de associações. Thorndike chamou esse princípio de lei do efeito (1905): um estímulo tenderá a produzir uma determinada resposta se um organismo for recompensado por essa resposta. Thorndike acreditava que um organismo aprendia a responder de uma determinada maneira (o efeito) em uma dada situação se fosse recompensado repetidas vezes por isso (a satisfação, que serve como estímulo para futuras ações). Assim, uma criança que recebe agrados por resolver corretamente problemas de aritmética aprende a fazêlo porque estabelece associações entre soluções válidas e agrados. Do associacionismo ao behaviorismo Outros pesquisadores que foram contemporâneos de Thorndike usaram experimentos animais para investigar relações de estímulo e resposta de formas diferentes das de Thorndike e seus colegas associacionistas. Os pesquisadores percorreram a linha entre o associacionismo e o campo emergente do behaviorismo. O behaviorismo é uma perspectiva teórica segundo a qual a psicologia deveria concentrar-se apenas na relação entre comportamento observável, por um lado, e eventos ou estímulos ambientais, por outro. A idéia era tornar físico o que quer que outros tivessem chamado de “mental” (Lycan, 2003). Alguns desses pesquisadores, como Thorndike e outros associacionistas, estudaram respostas voluntárias (embora, talvez, carecessem de qualquer pensamento consciente, como no trabalho de Thorndike). Outros estudaram respostas que foram desencadeadas involuntariamente, em reação ao que parece ser eventos externos não-relacionados. Na Rússia, o fisiologista ganhador do Prêmio Nobel, Ivan Pavlov (1849-1936), estudou esse tipo de comportamento de aprendizagem involuntário, começando com a observação de que os cachorros salivavam em resposta à visão do técnico de laboratório que os alimentava. Essa resposta ocorria antes que os cachorros vissem se o técnico trazia comida. Para Pavlov, essa resposta indicava uma forma de aprendi- zagem – aprendizagem classicamente condicionada – sobre a qual os cachorros não tinham qualquer controle consciente. Na mente deles, algum tipo de aprendizagem involuntária ligava o técnico à comida (Pavlov, 1955). O trabalho fundamental de Pavlov abriu caminho para o desenvolvimento do behaviorismo. O condicionamento clássico envolve mais do que uma associação baseada na contigüidade temporal (por exemplo, a comida e o estímulo condicionado ocorriam mais ou menos ao mesmo tempo; Rescorla, 1967). O condicionamento eficaz exige contingência (por exemplo, a apresentação de comida sendo contingente com a apresentação do estímulo condicionado; Rescorla e Wagner, 1972; Wagner e Rescorla, 1972). O behaviorismo pode ser considerado uma versão extrema do associacionismo, que se concentra completamente na associação entre o ambiente e um comportamento observável. Segundo behavioristas rígidos e extremos (“radicais”), quaisquer hipóteses sobre pensamentos e formas de pensar internos não passam de especulação. Os proponentes do behaviorismo O “pai” do behaviorismo radical é John Watson (1878-1958). Watson não via utilidade em conteúdos ou mecanismos mentais internos e acreditava que os psicólogos deveriam concentrar-se apenas no estudo do comportamento observável (Doyle, 2000). Ele considerava o pensamento apenas como fala subvocalizada. O behaviorismo também diferia de movimentos anteriores à psicologia por redirecionar a ênfase da pesquisa experimental, de participantes humanos a animais. Historicamente, grande parte do trabalho behaviorista foi conduzida (e ainda o é) com animais de laboratório, como os ratos, porque possibilitam muito mais controle comportamental de relações entre o ambiente e o comportamento em relação a ele. Todavia, um problema do uso de animais é determinar se a pesquisa pode ser generalizada para seres humanos (ou seja, aplicada de forma mais geral a seres humanos em lugar de apenas aos tipos de animais que foram estudados). B. F. Skinner (1904-1990), um behaviorista radical, acreditava que quase todas as formas de comportamento humano, e não apenas a aprendizagem, podiam ser explicadas por com- PSICOLOGIA COGNITIVA portamentos em resposta ao ambiente. Skinner desenvolveu pesquisas basicamente com animais não-humanos. Ele rejeitava os mecanismos mentais, acreditando que o condicionamento operante – envolvendo fortalecimento ou enfraquecimento do comportamento, contingente à presença ou ausência de reforço (recompensas) ou punição – podia explicar todas as formas de comportamento humano. Skinner aplicou sua análise experimental de comportamento a muitos fenômenos psicológicos, como a aprendizagem, a aquisição da linguagem e a solução de problemas. Em grande parte, em função da presença muito intensa de Skinner, o behaviorismo dominou a disciplina da psicologia por muitas décadas. Os behavioristas ousando espiar dentro da caixa preta Alguns psicólogos rejeitaram o behaviorismo radical. Eles tinham curiosidade com relação aos conteúdos da caixa misteriosa. Por exemplo, Edward Tolman (1886-1959) achava que, para entender o comportamento, era necessário levar em conta seu propósito e seu plano. Tolman (1932) acreditava que todo o comportamento era dirigido a algum objetivo. Por exemplo, o objetivo de um rato em um labirinto de laboratório pode ser encontrar a comida que está ali. Tolman é considerado, por vezes, um precursor da psicologia cognitiva moderna. Outra crítica ao behaviorismo (Bandura, 1977b) é que a aprendizagem pode ser conseqüência não apenas de recompensas diretas para o comportamento, como também pode ser social, resultando de observações das recompensas ou das punições dadas a outros. Essa visão enfatiza a forma como observamos e modelamos nosso comportamento com relação ao de outros. Aprendemos pelo exemplo. Essa análise da aprendizagem social abre caminho para examinar o que está acontecendo na mente do indivíduo. Psicologia da Gestalt Entre os muitos críticos do behaviorismo, os psicólogos da Gestalt talvez tenham estado entre os mais ávidos. A psicologia da Gestalt diz que entendemos melhor os fenômenos psicológicos quando os vimos como todos organi- 25 zados e estruturados. Segundo essa visão, não se pode entender totalmente o comportamento quando desmembramos os fenômenos em partes menores. A máxima “o todo é diferente da soma das partes” resume bem a perspectiva da Gestalt. Para entender a percepção de uma flor, por exemplo, teríamos que levar em conta o todo da experiência. Não se poderia entender essa percepção em termos de uma descrição de formas, cores, tamanhos, e assim por diante. Do mesmo modo, não se poderia entender a solução de problemas simplesmente examinando elementos isolados do comportamento observável (Köhler, 1927, 1940; Wertheimer, 1945, 1959). O SURGIMENTO DA PSICOLOGIA COGNITIVA Um enfoque mais recente é o do cognitivismo, a idéia de que grande parte do comportamento humano pode ser entendida em termos de como as pessoas pensam. O iniciar da psicobiologia Ironicamente, um dos ex-alunos de Watson, Karl Spencer Lashley (1890-1958), questionou de modo contundente a visão behaviorista de que o cérebro humano é um órgão passivo, o qual apenas responde às contingências ambientais fora do indivíduo (Gardner, 1985). Em lugar disso, considerava que o cérebro era um organizador ativo e dinâmico do comportamento. Lashley procurou entender de que maneira a macroorganização do cérebro humano tornava possíveis as atividades complexas e planejadas, como apresentações musicais, jogos e uso da linguagem. Nenhuma delas era, em sua visão, explicável em termos de simples condicionamento. Na mesma linha, mas em um nível de análise diferente, Donald Hebb (1949) propôs o conceito de conjuntos de células como base para a aprendizagem no cérebro. Esses conjuntos são estruturas neurais coordenadas que se desenvolvem por meio de estimulação freqüente. Elas se desenvolvem com o passar do tempo, à medida que aumenta a capacidade de um neurônio (célula nervosa) de estimular um neurô- ROBERT J. STERNBERG nio conectado a disparar. Os behavioristas não aproveitaram a oportunidade rara de concordar com Lashley e Hebb. Na verdade, o behaviorista B. F. Skinner (1957) escreveu um livro inteiro descrevendo de que forma a aquisição e o uso da linguagem poderiam ser explicados unicamente em termos de contingências ambientais. Esse trabalho levou a estrutura teórica de Skinner longe demais, deixando-a susceptível a ataques. E um ataque estava por vir. O lingüista Noam Chomsky (1959) fez uma análise rigorosa das idéias de Skinner. Em seu artigo, Chomsky enfatizava tanto a base biológica quanto o potencial criativo da linguagem, apontando a infinita quantidade de sentenças que podemos produzir com facilidade. Sendo assim, questionava as noções behavioristas de que aprendemos línguas por meio de reforço. Mesmo as crianças pequenas estão permanentemente produzindo novas sentenças para as quais não podem ter sido reforçadas no passado. Chomsky afirmou que nosso entendimento da língua não é condicionado tanto pelo que ouvimos, mas sim por um dispositivo de aquisição da linguagem (language acquisition device – LAD) inato, o qual todos os seres humanos possuem. Esse dispositivo possibilita ao bebê utilizar o que escuta para inferir a gramática de seu ambiente lingüístico. Em termos objetivos, o LAD limita ativamente o número de construções gramaticais possíveis. Dessa forma, é a estrutura da mente, e não a estrutura das contingências ambientais, que guia nossa aquisição da linguagem. Relações com a tecnologia: engenharia e computação No final da década de 1950, alguns psicólogos estavam intrigados pela noção incômoda de que as máquinas poderiam ser programadas para demonstrar o processamento inteligente da informação (Rychlak e Struckman, 2000). Turing (1950) sugeriu que em pouco tempo seria difícil distinguir a comunicação das máquinas da dos seres humanos. Ele sugeriu um teste, atualmente chamado de “Teste de Turing”, pelo qual um programa de computador seria considerado bem-sucedido na medida em que seu resultado fosse indistinguível, por seres humanos, do resultado de testes com seres humanos (Cummins e Cummins, 2000). Em Cortesia de Ulric Neisser 26 Ulric Neisser é professor de psicologia na Cornell University. Seu livro, Psicologia Cognitiva, foi importante no lançamento da revolução cognitiva da psicologia. Neisser também foi um dos grandes defensores de uma abordagem ecológica da cognição e demonstrou a importância de estudar o processamento cognitivo em contextos ecológicos válidos. outras palavras, suponha que você se comunicasse com um computador e não soubesse que era um computador: ele teria passado no Teste de Turing (Schonbein e Bechtel, 2003). Em 1956, uma nova expressão havia entrado em nosso vocabulário. A inteligência artificial (IA) é uma tentativa dos seres humanos de construir sistemas que demonstrem inteligência e em particular o processamento inteligente de informação. (Merriam-Webster’s Collegiate Dictionary, 1993). Programas que jogam xadrez e que conseguem ganhar da maioria dos seres humanos são exemplos de inteligência artificial hoje. No início da década de 1960, os avanços na psicologia, na lingüística, na antropologia e na inteligência artificial, bem como as reações ao behaviorismo por parte de importantes psicólogos, convergiram a fim de criar uma atmosfera madura para a revolução. Os primeiros cognitivistas afirmavam (como Miller, Galanter e Pribram, 1960; Newell, Shaw e Simon, 1957b) que as visões behavioristas tradicionais do comportamento eram inadequadas precisamente porque nada diziam sobre como as pessoas pensam. O livro de Ulric Neisser, Psicologia Cognitiva (Neisser, 1967), foi bastante importante por destacar o cognitivismo, ao informar estudantes de graduação, de pós-graduação e acadêmicos sobre o campo que estava em desenvolvimento. Neisser definiu a psicologia cognitiva como o estudo de como as pessoas aprendem, PSICOLOGIA COGNITIVA MÉTODOS DE PESQUISA EM PSICOLOGIA COGNITIVA Objetivos de pesquisa Para melhor entender os métodos específicos usados por psicólogos cognitivos, deve-se, em primeiro lugar, compreender os objetivos da pesquisa em psicologia cognitiva, alguns dos quais destacamos aqui. De modo sucinto, esses objetivos são a coleta de dados, o desenvolvimento de teoria, a formulação de hipóteses, a testagem de hipóteses e, talvez, a aplicação a ambientes fora da pesquisa. Os pesquisadores, muitas vezes, buscam apenas coletar a maior quantidade possível de informações sobre um determinado fenômeno, podendo ter ou não noções preconcebidas com relação ao que podem encontrar ao coletar os dados. Sua pesquisa concentra-se na descrição de fenômenos determinados; por exemplo, a forma como as pessoas reconhecem rostos e como elas desenvolvem a especialização. A coleta de dados reflete um aspecto empírico do empreendimento científico. Uma vez que haja dados suficientes sobre o fenômeno cognitivo de interesse, os psicólogos cognitivos usam vários métodos para fazer inferências a partir deles. Em termos ideais, usam diversos tipos de evidências convergentes para dar sustentação a suas hipóteses. Às vezes, uma rápida observação dos dados leva a inferências intuitivas com relação dos padrões que surgem a partir deles. Contudo, é mais usual os pesquisadores usarem vários meios estatísticos para analisar os dados. A coleta de dados e a análise estatística auxiliam os pesquisadores na descrição de fenômenos cognitivos. Nenhum empreendimento científico iria muito longe sem essas descrições. Entretanto, a maioria dos psicólogos cognitivos quer entender mais do que o que da cognição, sendo que a maior parte deles também busca entender o como e o porquê do pensamento. Ou seja, os pesquisadores buscam formas de explicar a cognição, bem como de descrevê-la. Para ir além das descrições, os psicólogos cognitivos devem dar um salto, passando daquilo que se observa diretamente ao que pode ser inferido com relação às observações. Suponhamos que se queira estudar um determinado aspecto da cognição. Um exemplo seria a forma como as pessoas compreendem informações em livros-texto. Em geral, começamos com uma teoria. Uma teoria é um corpo organizado de princípios explicativos gerais com relação a um fenômeno. Ela gera hipóteses, propostas experimentais acerca de conseqüências empíricas esperadas da teoria, tais como os resultados de pesquisa. A seguir, tenta-se testar a teoria e, assim, ver se ela tem o poder de predizer certos aspectos do fenômeno em questão. Em outras palavras, nosso processo de pensamento é: “se nossa teoria estiver correta, sempre que x ocorrer, o resultado deverá ser y”. A seguir, testamos nossas hipóteses por meio da experimentação. Mesmo se certas conclusões parecerem confirmar uma dada hipótese, elas devem ser submetidas à análise estatística a fim de determinar sua significância Cortesia de Herbert A. Simon estruturam, armazenam e usam o conhecimento. Tempos depois, Allen Newell e Herbert Simon (1972) propuseram modelos detalhados de pensamento humano e solução de problemas, dos níveis mais básicos aos mais complexos. Na década de 1970, a psicologia cognitiva já era amplamente reconhecida como um importante campo de estudos psicológicos, com um conjunto específico de métodos de pesquisa. 27 Herbert A. Simon foi professor de ciência da computação e psicologia na Carnegie-Mellon University. É conhecido por seu trabalho pioneiro com Allen Newell e outros na construção e na testagem de modelos de computador que simulavam o pensamento humano e por seus testes experimentais desses modelos. Também foi um importante defensor dos protocolos “de pensar em voz alta” para o estudo do processamento cognitivo. Simon faleceu em 2001. 28 ROBERT J. STERNBERG NO LABORATÓRIO DE LUDY T. BENJAMIN, JR. Cortesia de Ludy T. Benjamin Jr. Psicologia Pop – está por toda parte! O público adora; os psicólogos detestam. É o material da televisão, dos filmes, dos livros, das peças de teatro e das revistas. Penetrou fundo na vida dos Estados Unidos, e assim tem sido desde o século XIX, quando os frenologistas mediam as saliências nas cabeças das pessoas para orientálas com relação a suas escolhas profissionais, os fisionomistas analisavam as características faciais (por exemplo, formato do queixo ou do nariz) para ajudar os executivos de empresas a decidir quem deveria ser contratado ou promovido, ou os grafólogos estudavam amostras de escrita à mão para ajudar os indivíduos a encontrar parceiros compatíveis para o casamento. Quando a psicologia científica chegou às universidades norte-americanas no final do século XIX, esses novos psicólogos procuraram desalojar a velha psicologia, tentando convencer o público da validade de sua abordagem e do caráter absurdo do que rotulavam de pseudopsicologia. Em nosso programa de pesquisa, estamos examinando as diferenças entre essas duas psicologias, em uma tentativa de entender por que o público continuou a aceitar as afirmações da psicologia não-científica. Nosso programa é histórico, parte de uma atividade acadêmica crescente em história social e história da ciência, a qual inclui a história da psicologia. Como pesquisa histórica, nosso trabalho é empírico, mas não experimental. Já estudamos a psicologia popular de várias maneiras, incluindo a análise de artigos de enciclopédia do século XIX e do início estatística. A significância estatística indica a probabilidade de que um determinado conjunto de resultados venha a ser obtido se houver apenas fatores aleatórios em operação. Uma vez que nossas predições hipotéticas tenham sido testadas experimentalmente e analisadas estatisticamente, as conclusões desses experimentos podem levar a outros trabalhos. Por exemplo, o psicólogo pode realizar mais do século XX (Benjamin et al., 1997) e o exame de muitos levantamentos sobre a imagem que o público tem da psicologia (Wood, Jones e Benjamin, 1986). Hoje em dia, estamos nos dedicando às revistas norte-americanas de psicologia popular (mais de 50 títulos diferentes) que foram publicadas entre 1900 e 1960. Essas revistas promoveram a crença de que seus conteúdos ajudariam os leitores a adquirir saúde, felicidade e sucesso (Benjamin e Bryant, 1997). Até o momento, examinamos mais de mil dessas revistas, estudando seus artigos e suas propagandas. Estamos tentando identificar temas, como casamento, criação de filhos, sexo e satisfação no emprego, que sejam constantes entre as publicações do mesmo período, mas que possam mudar com o passar do tempo, e estamos comparando esses temas com o que estava sendo publicado ao mesmo tempo na psicologia científica e com o que eram os temas que permeavam a cultura dos Estados Unidos naquela época. Por exemplo, a década de 1920 marcou uma virada na história norte-americana com relação às oportunidades para as mulheres. Descobrimos que as revistas de psicologia popular falavam aos interesses dessas mulheres; poucos psicólogos ou poucas publicações de psicologia demonstravam qualquer interesse desse tipo. Essas diferenças, com certeza, poderiam ser parcialmente responsáveis pelo fato de o público aceitar as afirmações da psicologia popular e rejeitar as contraposições da psicologia científica. O tópico é interessante por si só, mas descobrir as razões para o apelo da psicologia popular tem mais importância. Esse entendimento é fundamental para que a ciência e a prática modernas da psicologia cheguem com eficácia ao público. coleta de dados, análise de dados, desenvolvimento de teoria, formulação e testagem de hipóteses. Além disso, muitos psicólogos cognitivos têm esperanças de usar os conhecimentos obtidos a partir da pesquisa para ajudar as pessoas a usar a cognição em situações reais. Algumas pesquisas em psicologia cognitiva são aplicadas desde o seu início, buscando ajudar as pessoas a melhorar suas vidas e as condições PSICOLOGIA COGNITIVA sob as quais vivem. Sendo assim, a pesquisa básica pode levar a aplicações cotidianas. Para cada um desses propósitos, diferentes métodos de pesquisa oferecem vantagens e desvantagens diferenciadas. Diversos métodos de pesquisa Os psicólogos cognitivos usam vários métodos para explorar como os seres humanos pensam. Entre eles, estão (a) experimentos de laboratório e outros experimentos controlados, (b) pesquisa psicológica, (c) auto-avaliações, (d) estudos de caso, (e) observação naturalista e (f) simulações por computador e inteligência artificial (ver Tabela 1.1 para descrições e exemplos de cada método). Como mostra a Tabela 1.1, cada método oferece vantagens e desvantagens que o diferenciam dos outros. Experimentos com o comportamento humano Nos desenhos experimentais controlados, o pesquisador realiza pesquisa geralmente em um ambiente de laboratório. Ele controla o maior número possível de aspectos da situação experimental. A seguir, manipula as variáveis independentes. Controla os efeitos das variáveis irrelevantes e observa os efeitos das variáveis dependentes (resultados). Ao implementar o método experimental, o pesquisador deve usar uma amostra representativa da população de interesse, exercer controle rigoroso sobre as condições experimentais e, além disso, atribuir aleatoriamente participantes às condições de tratamento e controle. Se esses requisitos para o método experimental forem cumpridos, o pesquisador pode ser capaz de inferir causalidade provável. Essa inferência se dá com relação aos efeitos da variável ou variáveis independentes (o tratamento) sobre a variável dependente (o resultado). Suponhamos que os resultados na condição de tratamento mostrem uma diferença estatisticamente significativa em relação aos resultados na condição de controle. O pesquisador pode, então, inferir a probabilidade de um vínculo causal entre a(s) variável(is) independente(s) e a variável dependente. Como o pesquisador pode estabelecer um vínculo causal provável entre as variáveis independentes dadas e as variáveis dependentes, os experimentos de laboratório 29 controlados oferecem um meio excelente de testar hipóteses. Por exemplo, suponhamos que quiséssemos verificar se ruídos altos e distrativos influenciam a capacidade de desempenhar bem uma determinada tarefa cognitiva (por exemplo, ler uma passagem de um livro-texto e responder a questões de compreensão). Em termos ideais, a princípio, selecionaríamos uma amostra aleatória de participantes entre o total de nossa população de interesse. A seguir, atribuiríamos aleatoriamente cada participante a uma condição de tratamento ou a uma condição de controle. Apresentaríamos algum ruído distrativo aos participantes de nossa condição de tratamento, e os participantes de nossa condição de controle não receberiam esse tratamento. Apresentaríamos a tarefa cognitiva aos participantes das duas condições. A seguir, mediríamos seu desempenho de algumas maneiras (por exemplo, velocidade e precisão de respostas a questões de compreensão). Por fim, analisaríamos nossos resultados estatisticamente. Logo após, examinaríamos se a diferença entre os dois grupos alcança significância estatística. Suponhamos que os participantes da condição de tratamento demonstrassem desempenho mais baixo do que os da condição de controle em um nível estatisticamente significativo. Nesse caso, poderíamos inferir que ruídos altos distrativos de fato influenciaram a capacidade de ter bom desempenho nessa tarefa cognitiva específica. Na pesquisa em psicologia cognitiva, as variáveis dependentes podem ser muito diversificadas, mas envolvem, com freqüência, várias medidas de resultados em termos de precisão (como a freqüência de erros), de tempo de resposta ou de ambos. Entre as muitas possibilidades de variáveis independentes estão as características da situação, da tarefa ou dos participantes. Por exemplo, as características da situação podem envolver a presença versus a ausência de determinados estímulos ou de certas pistas durante uma tarefa de solução de problemas. As características da tarefa podem envolver leitura versus escuta de uma série de palavras e depois a resposta a perguntas de compreensão. As características dos participantes podem incluir diferenças etárias, diferenças na situação educacional ou diferenças baseadas em escores em testes. 30 ROBERT J. STERNBERG TABELA 1.1 Métodos de pesquisa Os psicólogos cognitivos usam experimentos controlados, pesquisa psicobiológica, autoavaliações, observação naturalista e simulações por computador e inteligência artificial para estudar fenômenos cognitivos. MÉTODO Descrição do método EXPERIMENTOS DE LABORATÓRIO CONTROLADOS Obter amostras de desempenho em tempo e lugar determinados PESQUISA PSICOBIOLÓGICA AUTO-AVALIAÇÕES, COMO PROTOCOLOS VERBAIS, AUTOCLASSIFICAÇÕES, DIÁRIOS Estudar os cérebros humanos e animais, usando estudos post-mortem e várias medidas psicobiológicas ou técnicas de imagem (ver Capítulo 2) Obter relatórios dos participantes sobre sua própria cognição em andamento ou como lembrança Validade de inferências Geralmente causais: atribuição aleatória de sujeitos Geralmente não Não se aplica Validade de inferências causais: controle experimental de variáveis independentes Varia muito, dependendo da técnica específica Provavelmente não Geralmente Amostras: tamanho Podem ser de qualquer tamanho Muitas vezes, são pequenas Provavelmente pequenas Amostras: representatividade Podem ser representativas Muitas vezes, não são representativas Podem ser representativas Validade ecológica Não é improvável; depende da tarefa e do contexto a que está sendo aplicada Improvável sob certas circunstâncias Talvez; ver pontos fortes e fracos Informação sobre diferen- Geralmente pouco enfatizadas ças individuais Sim Sim Pontos fortes Proporciona evidências “brutas” das funções cognitivas ao relacioná-las à atividade fisiológica; oferece uma visão alternativa do processo que não está disponível por outros meios; pode levar a possibilidades para o tratamento de pessoas com déficits cognitivos sérios Acesso aos insights introspectivos a partir do ponto de vista dos participantes, não podendo ser acessada por outros meios Facilidade de administração, de contagem e de análise estatística torna relativamente fácil aplicar a amostras representativas de uma população; probabilidade relativamente alta de fazer inferências causais válidas Pontos fracos Exemplos Incapacidade de relatar sobre processo que ocorrem fora da consciência Protocolos verbais e autoclassificações: A coleta de dados pode influenciar os processos cognitivos sendo relatados. Lembranças: Possíveis discrepâncias entre cognição real e processos e produtos cognitivos lembrados David Meyer e Roger Schvaneveldt (1971) desenvolveram uma tarefa de laboratório na qual apresentavam muito brevemente duas seqüências de letras (palavras ou pseudopalavras) aos sujeitos e pediam-lhes que tomassem uma decisão sobre cada seqüência de letras, tal como decidir se as letras formavam uma palavra legítima ou se uma palavra pertencia a uma categoria indicada Elizabeth Warrington e Tim Shallice (1972; Shallice e Warrington, 1970) observaram que as lesões no lobo parietal esquerdo do cérebro são associadas a déficits sérios em memória de curto prazo (breve, ativa), mas a nenhum prejuízo da memória de longo prazo. No entanto, as pessoas com lesões nas regiões temporais (mediais) do cérebro apresentam memória de curto prazo relativamente normal, mas graves déficits na memória de longo prazo (Shallice, 1979; Warrington, 1982) PSICOLOGIA COGNITIVA ESTUDOS DE OBSERVAÇÕES NATURALISTAS CASO 31 SIMULAÇÕES POR COMPUTADOR E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (IA) Desenvolver estudos intensivos de indivíduos, tirando conclusões gerais sobre comportamento Observar situações reais, como em Simulações: tentativas de fazer com que compusalas de aula, ambientes de traba- tadores simulem o desempenho cognitivo humano em diversas tarefas lho ou casas IA: tentativa de fazer com que computadores demonstrem desempenho cognitivo inteligente, independentemente de o processo se assemelhar ao processamento cognitivo humano. Altamente improvável Não se aplica Não se aplica Altamente improvável Não Controle total de variáveis de interesse Quase certamente pequeno Provavelmente pequeno Não se aplica Não é provável que seja representativo Pode ser representativo Não se aplica Sim Alta validade ecológica para casos individuais; capacidade de generalização mais baixa a outros Não se aplica Sim; informações ricamente detalhadas com relação a indivíduos Não se aplica É possível, mas a ênfase está nas distinções ambientais e não nas diferenças individuais Acesso a informações ricamente detalhadas Acesso a ricas informações contexcom relação a indivíduos, incluindo infortuais, que podem não estar dispomações sobre contextos históricos e atuais, níveis por outros meios. que podem não estar disponíveis por outros meios; pode levar a aplicações especializadas para grupos de indivíduos excepcionais (como prodígios, pessoas com lesões cerebrais) Possibilita explorar uma ampla gama de possibilidades para modelar processos cognitivos; possibilita testar claramente se as hipóteses predizem com precisão os resultados; pode levar a uma ampla gama de aplicações práticas (por exemplo, robóticas, para realizar tarefas perigosas ou em ambientes de risco) Aplicabilidade a outras pessoas; o tamanho pequeno e a não-representatividade da amostra geralmente limita a capacidade de generalização à população Falta de controle experimental; possível influência no comportamento naturalista devido à presença do observador Limitações impostas pelos limites do hardware (por exemplo, hardware do computador) e do software (os programas escritos pelos pesquisadores); distinções entre inteligência humana e inteligência de máquinas – mesmo em simulações envolvendo técnicas sofisticadas de modelagem, as simulações podem modelar com imperfeição a forma como o cérebro humano pensa Howard Gruber (1974/1981) conduziu um estudo de caso sobre Charles Darwin, explorando em profundidade o contexto psicológico da criatividade intelectual Michael Cole (Cole, Gay, Glik & Sharp, 1971) investigaram membros da tribo Kpelle na África, comparando suas definições de inteligência com as ocidentais, examinando o modo como as definições culturais de inteligência influenciam o comportamento inteligente Simulações: Por meio de computações detalhadas, David Marr (1982) tentou simular a perecepção visual humana e propôs uma teoria da percepção visual baseada em seus modelos de computadores. IA: Vários programas de IA fora criados que podem demonstrar perícia (por exemplo, jogar xadrez), mas esses programas provavelmente resolvem problemas utilizando-se de processos distintos daqueles empregados por peritos humanos 32 ROBERT J. STERNBERG Por um lado, as características da situação ou tarefa podem ser manipuladas por meio de atribuição aleatória dos participantes ao grupo de tratamento ou de controle; por outro, essas características não são facilmente manipuladas de forma experimental. Por exemplo, suponha que o investigador queira estudar os efeitos do envelhecimento sobre a velocidade e sobre a precisão da solução de problemas. O pesquisador não pode atribuir aleatoriamente os participantes a vários grupos porque as idades das pessoas não podem ser manipuladas (embora participantes de vários grupos etários possam ser atribuídos de maneira aleatória a várias condições experimentais). Nessas situações, os pesquisadores, muitas vezes, usam outros tipos de estudos, como os que envolvem correlação (uma relação estatística entre dois ou mais atributos, como características dos participantes ou da situação). As correlações são expressas como números em uma escala que começa em –1,00 (uma correlação negativa), passa por 0 (sem correlação) e chega a 1,00 (correlação positiva). Por exemplo, pode-se esperar uma correlação negativa entre fadiga e vigilância. Provavelmente não haveria qualquer correlação entre inteligência e comprimento do lobo da orelha, e seria provável uma correlação entre tamanho do vocabulário e compreensão de leitura. As conclusões das relações estatísticas são altamente informativas. Seu valor não deveria ser subestimado. Além disso, como os estudos correlacionais não exigem a atribuição aleatória de participantes a condições de tratamento e controle, esses métodos podem ser aplicados com flexibilidade. Entretanto, tais estudos geralmente não permitem inferências inequívocas com relação à causalidade. Como resultado, muitos psicólogos cognitivos preferem fortemente os dados experimentais aos dados correlacionais. Pesquisa psicobiológica Por meio da pesquisa psicobiológica, os investigadores estudam a relação entre desempenho cognitivo e eventos e estruturas cerebrais. O Capítulo 2 descreve várias técnicas específicas usadas na pesquisa psicobiológica, as quais geralmente caem em três categorias. A primeira delas é a das técnicas para estudar o cérebro de um indivíduo post-mortem (depois de sua mor- te), estabelecendo relações entre seu funcionamento cognitivo antes da morte e características observáveis no cérebro. A segunda categoria é a das técnicas para estudar imagens mostrando estruturas ou atividades no cérebro de um indivíduo que se sabe ter um determinado déficit cognitivo. A terceira é a das técnicas para se obter informações sobre processos cerebrais durante o desempenho normal de uma atividade cognitiva. Os estudos post-mortem ofereceram algumas das primeiras visões acerca de como lesões específicas (em determinadas localizações cerebrais) podem ser associadas com déficits cognitivos específicos. Esses estudos continuam fornecendo visões úteis de como o cérebro influencia o funcionamento cognitivo. Avanços tecnológicos recentes também têm possibilitado cada vez mais que os pesquisadores estudem indivíduos com déficits cognitivos conhecidos in vivo (enquanto o indivíduo ainda está vivo). O estudo de indivíduos com funções cognitivas anormais vinculadas a lesões cerebrais, muitas vezes, melhora nosso entendimento das funções cognitivas normais. Além disso, os pesquisadores da psicologia estudam alguns aspectos do funcionamento cognitivo normal estudando a atividade cerebral em participantes animais. Os pesquisadores, em geral, usam animais para experimentos envolvendo procedimentos neurocirúrgicos que não podem ser realizados em seres humanos, pois seriam difíceis, antiéticos ou impraticáveis. Por exemplo, estudos que mapeiem a atividade neural no córtex foram realizados em gatos ou macacos (como a pesquisa psicobiológica sobre como o cérebro responde a estímulos visuais; ver Capítulo 4). O funcionamento cognitivo e cerebral de animais e de seres humanos anormais pode ser generalizado e aplicado ao funcionamento cognitivo de seres humanos normais? Os psicólogos responderam a essas perguntas de várias formas. A maioria delas ultrapassa os limites deste capítulo (ver Capítulo 2). Apenas como exemplo, para alguns tipos de atividade cognitiva, a tecnologia disponível permite que os pesquisadores estudem a atividade cerebral dinâmica de participantes humanos normais durante o processamento cognitivo (ver Técnicas de Imagem Cerebral descritas no Capítulo 2). PSICOLOGIA COGNITIVA Auto-avaliações, estudos de caso e observação naturalista Experimentos individuais e estudos psicobiológicos, na maior parte das vezes, se concentram na especificação precisa de determinados aspectos da cognição nos indivíduos. Para se obter informações ricamente detalhadas sobre como determinados indivíduos pensam em uma ampla gama de contextos, os pesquisadores podem usar outros métodos, os quais incluem auto-avaliações ou auto-relatos(a descrição de processos cognitivos pelo próprio indivíduo), estudos de caso (estudos em profundidade de indivíduos) e observação naturalista (estudos detalhados do desempenho cognitivo em situações cotidianas e contextos fora de laboratório). Por um lado, a pesquisa experimental é mais útil para testar hipóteses. Por outro, a pesquisa baseada em auto-avaliações, estudos de caso e observação naturalista costuma ser bastante útil para formular hipóteses. A confiabilidade de dados baseados em vários tipos de auto-avaliações depende da sinceridade dos participantes que fornecem essas avaliações. Eles podem ser completamente verdadeiros, mas as avaliações que envolvem informações da memória (como diários, descrições em retrospectiva, questionários e levantamentos) são, na verdade, menos confiáveis do que as fornecidas durante o processamento cognitivo sob investigação. A razão é que os participantes, às vezes, se esquecem do que fizeram. Ao estudar processos cognitivos complexos, como solução de problemas ou tomada de decisões, os pesquisadores muitas vezes usam um protocolo verbal. INVESTIGANDO A PSICOLOGIA COGNITIVA 33 Em um protocolo verbal, os participantes descrevem em voz alta todos os seus pensamentos e as suas idéias durante a realização de uma determinada tarefa cognitiva (por exemplo, “gosto mais do apartamento com a piscina, mas não posso pagar, então tenho que escolher...”). Uma alternativa a um protocolo verbal é os participantes relatarem informações específicas com relação a um determinado aspecto de seu processamento cognitivo. Consideremos, por exemplo, um estudo de solução de problemas por meio de insight (ver Capítulo 11). Pediu-se que os participantes relatassem, em intervalos de 15 segundos, classificações numéricas indicando o quanto pensavam estar próximos de chegar a uma solução para um dado problema. Infelizmente, até mesmo esses métodos de auto-avaliação têm suas limitações. Como exemplo, os processos cognitivos podem ser alterados pelo ato de apresentar o relatório (como processos envolvendo formas breves de memória; ver Capítulo 5). Outro exemplo: os processos cognitivos podem ocorrer fora da consciência (como os que não exigem atenção consciente ou que acontecem de forma tão rápida, que não conseguimos notálos; ver Capítulo 3). Para entender algumas das dificuldades das auto-avaliações, faça as seguintes tarefas propostas na seção “Investigando a Psicologia Cognitiva”. Reflita sobre suas experiências com auto-avaliações. Individualmente, faça uma das seguintes séries de perguntas à metade de seus amigos, e à outra metade, a outra série. Peça-lhes que respondam o mais rápido que puderem: 1. Sem olhar para seus sapatos, tente relatar em voz alta os vários passos envolvidos no ato de amarrá-los. 2. Recorde em voz alta o que você fez em seu último aniversário. 3. Agora, amarre seus sapatos de verdade (ou outra coisa, como um barbante em torno da perna de uma mesa), relatando em voz alta os passos que realiza. Você observa alguma diferença entre a Tarefa 1 e a Tarefa 3? 4. Relate em voz alta como você trouxe para a consciência os passos envolvidos em amarrar seus sapatos ou as memórias que tem de seu último aniversário. Você pode relatar com exatidão como trouxe as informações para a consciência? Consegue relatar qual parte de seu cérebro estava mais ativa durante cada uma dessas tarefas? 34 ROBERT J. STERNBERG Conjunto 1: 1. O que o bicho-da-seda tece? 2. Qual é um material conhecido para fazer roupas que vem do bicho-da-seda? 3. O que as vacas bebem? Conjunto 2: 1. O que as abelhas fazem? 2. O que cresce nos campos que é posteriormente transformado em material para roupas? 3. O que as vacas bebem? Muitos de seus amigos, quando chegarem à pergunta 3, no Conjunto 1, dirão “leite”, quando todos sabemos que as vacas bebem água. A maioria dos seus amigos que responderem ao Conjunto 2 dirá “água”, e não leite. Você acaba de realizar um experimento. O método do experimento divide as pessoas em dois grupos iguais, muda um aspecto entre os dois grupos (em seu caso, você fez uma série de perguntas antes de fazer uma pergunta importante) e mede a diferença entre os dois grupos. O número de erros é o que você está medindo, e é provável que seus amigos do grupo 1 cometam mais erros do que os do grupo 2. Os estudos de caso (por exemplo, o estudo de indivíduos excepcionalmente dotados) e as observações naturalistas (como a observação de indivíduos operando em usinas nucleares) podem ser usados para complementar conclusões de experimentos de laboratório. Os primeiros dois métodos de pesquisa cognitiva oferecem alta validade ecológica – o grau no qual conclusões específicas em um contexto ambiental podem ser consideradas relevantes fora daquele contexto. Como você talvez saiba, a ecologia é o estudo do relacionamento interativo entre um organismo (ou organismos) e seu ambiente. Muitos psicólogos cognitivos buscam entender o relacionamento interativo entre processos de pensamento humano e os ambientes nos quais os seres humanos estão pensando. Às vezes, os processos cognitivos que são comumente observados em um ambiente (por exemplo, em um laboratório) não são idênticos àqueles observados em outro (como em uma torre de controle de tráfego aéreo ou em uma sala de aula). Simulações por computador e inteligência artificial Os computadores digitais cumpriram um papel fundamental no surgimento do estudo da psicologia cognitiva. Um tipo de influência é a direta – por meio de modelos de cognição humana baseados na forma como os computadores processam a informação. Outro tipo é direto – por meio de simulações por computador e inteligência artificial. Nas simulações, os pesquisadores programam os computadores para imitar uma determinada função ou um processo humano. Entre os exemplos, estão o desempenho em tarefas cognitivas específicas (como a manipulação de objetos no espaço tridimensional) e o desempenho de determinados processos cognitivos (como o reconhecimento de padrões). Alguns pesquisadores até já tentaram criar modelos de computador de toda a arquitetura cognitiva da mente humana. Seus modelos estimularam discussões acaloradas sobre como pode ser o funcionamento da mente como um todo (ver Capítulo 8). Por vezes, a distinção entre simulação e inteligência artificial não é clara. Um exemplo seria o de certos programas projetados para simular o desempenho humano e maximizar o funcionamento ao mesmo tempo. Juntando tudo Os psicólogos cognitivos, muitas vezes, ampliam e aprofundam seu entendimento da cognição por meio da pesquisa na ciência cognitiva. A ciência cognitiva é um campo transdisciplinar que usa idéias e métodos da psicologia cognitiva, psicobiologia, inteligência artificial, filosofia, lingüística e antropologia (Nickerson, 2003; Von Eckardt, 2003). Os cientistas da cognição usam essas idéias e esses métodos a fim de tratar do estudo de como os seres humanos adquirem e usam o conhecimento. Os psicólogos cognitivos também fazem uso do trabalho conjunto com outros tipos de psicólogos. Entre os exemplos estão os psicólogos sociais (como no campo transdisciplinar da cognição social), os psicólogos que estudam a motivação e a emoção, e os profissionais da chamada psicologia da engenharia (engineering psychologists, ou seja, os psicólogos que estudam a interação entre seres humanos e máquinas). PSICOLOGIA COGNITIVA QUESTÕES FUNDAMENTAIS E CAMPOS DA PSICOLOGIA COGNITIVA No decorrer deste capítulo, fizemos alusões a alguns dos temas fundamentais que surgem no estudo da psicologia cognitiva. Como esses sistemas aparecem repetidas vezes nos vários capítulos deste livro, segue-se um sumário. Algumas dessas questões vão ao próprio âmago da natureza da mente humana. Temas subjacentes ao estudo da psicologia cognitiva Se revisarmos as principais idéias deste capítulo, descobriremos alguns dos temas centrais que são subjacentes a toda a psicologia cognitiva. Eis sete deles: 1. Inato versus adquirido: Qual é mais influente na cognição humana: aquilo que nos é inato ou o que adquirimos? Se acreditarmos que as características inatas da cognição humana são mais importantes, poderemos concentrar nossa pesquisa no estudo dessas características. Se acreditarmos que o ambiente cumpre um papel importante na cognição, poderemos realizar uma pesquisa explorando de que forma as características distintivas do ambiente parecem influenciar a cognição. Hoje em dia, a maioria dos estudiosos acredita que os fatores inatos e os adquiridos interagem em quase tudo o que fazemos. 2. Racionalismo versus empirismo: Como podemos descobrir a verdade sobre nós mesmos e sobre o mundo em que vivemos? Devemos fazê-lo tentando raciocinar logicamente, com base no que já sabemos? Ou devemos fazê-lo observando e testando nossas observações sobre o que percebemos por meio de nossos sentidos? 3. Estruturas versus processos: devemos estudar as estruturas (conteúdos, atributos e produtos) da mente humana? Ou devemos nos concentrar nos processos de pensamento humano? 4. Generalidade de domínio versus especificidade de domínio: Os processos que observamos são limitados a domínios únicos 35 ou são gerais para uma série de domínios? As observações em um domínio se aplicam a todos ou apenas aos domínios específicos observados? 5. Validade das inferências causais versus validade ecológica: Devemos estudar a cognição usando experimentos altamente controlados que aumentam a probabilidade de inferências válidas com relação à causalidade? Ou devemos usar técnicas mais naturalistas, que aumentam a probabilidade de se chegar a conclusões ecologicamente válidas, mas possivelmente à custa de controle experimental? 6. Pesquisa aplicada versus pesquisa básica: Devemos realizar pesquisa sobre processos cognitivos fundamentais? Ou devemos estudar formas de ajudar as pessoas a usar a cognição de modo eficaz em situações práticas? Os dois tipos de pesquisa podem ser combinados dialeticamente, de forma que a pesquisa básica leve à pesquisa aplicada, que leva a mais pesquisa básica, e assim por diante? 7. Métodos biológicos versus métodos comportamentais: devemos estudar o cérebro e seu funcionamento diretamente, talvez, até mesmo, fazendo escaneamentos no cérebro enquanto as pessoas realizam tarefas cognitivas? Ou devemos estudar o comportamento das pessoas em tarefas cognitivas, observando medidas como porcentagem de acertos e tempo de reação? Embora muitas dessas perguntas sejam apresentadas na forma excludente “ou...ou”, lembrese de que, muitas vezes, uma síntese de visões ou métodos se mostra mais útil do que uma ou outra posição extrema. Por exemplo, nossas características inatas podem proporcionar uma estrutura herdada para nossas características e para nossos padrões distintivos de pensamento e ação, mas o que adquirimos pode moldar as maneiras específicas nas quais nós desenvolvemos essa estrutura. Podemos usar métodos empíricos para coletar dados e testar hipóteses, mas podemos usar métodos racionalistas para interpretar os dados, construir teorias e formular hipóteses baseadas em teorias. Nosso entendimento da cognição se aprofunda quando consideramos a pesquisa básica sobre os processos cognitivos 36 ROBERT J. STERNBERG fundamentais e a pesquisa aplicada com relação aos usos efetivos da cognição em ambientes da vida real. As sínteses estão evoluindo de modo permanente. Aquilo que hoje pode ser visto como síntese, amanhã pode ser considerado como uma posição extrema, e vice-versa. IDÉIAS FUNDAMENTAIS NA PSICOLOGIA COGNITIVA Algumas idéias fundamentais parecem surgir com freqüência na psicologia cognitiva, independentemente dos fenômenos específicos estudados. A seguir, são apresentadas o que se pode considerar como cinco idéias fundamentais. 1. Os dados na psicologia cognitiva só podem ser entendidos completamente no contexto de uma teoria explicativa, mas as teorias são vazias sem dados empíricos. A ciência não é apenas um conjunto de fatos coletados de forma empírica. Em lugar disso, comporta fatos que são explicados e organizados por teorias científicas. As teorias dão sentido aos dados. Por exemplo, suponhamos que se saiba que a capacidade das pessoas de reconhecer informações que já tenham visto é melhor que sua capacidade de recordar essas informações. Como exemplo, elas são melhores em reconhecer se ouviram uma palavra dita em uma lista do que em se lembrar da palavra sem que ela seja apresentada. Essa é uma generalização empírica interessante; no entanto, a ciência exige que sejamos capazes não só de fazer a generalização, como também de entender por que a memória funciona assim. Um objetivo importante da ciência é a explicação. Na ausência de uma teoria, uma generalização empírica não oferece uma explicação. Outro aspecto importante é que a teoria nos ajuda a entender as limitações das generalizações empíricas, além de quando e por que elas ocorrem. Por exemplo, uma teoria proposta por Tulving e Thomson (1973) sugeria que, na verdade, o reconhecimento nem sempre deveria ser melhor do que a recordação. Um objetivo im- portante da ciência também é a predição. A teoria de Tulving e Thomson levou-os a predizer as circunstâncias sob as quais a recordação deveria ser melhor do que o reconhecimento. Uma coleta de dados posterior provou que eles estavam certos. Em determinadas circunstâncias, a recordação é até melhor do que o reconhecimento. A teoria, assim, sugeriu em que circunstâncias, entre as muitas que se examinam, deve haver limitações à generalização. Sendo assim, a teoria nos ajuda na explicação e na predição. Ao mesmo tempo, a teoria sem dados é vazia. Praticamente qualquer um pode sentar-se em uma poltrona e propor uma teoria – até mesmo uma que pareça plausível – mas a ciência requer a testagem empírica dessas teorias. Sem essa testagem, as teorias permanecem meramente especulativas, de forma que teorias e dados dependem entre si. As teorias geram coleta de dados, os quais ajudam a corrigir as teorias, o que, então, leva a mais coletas de dados, e assim por diante. É por meio dessa interação entre teoria e dados que aumentamos o conhecimento científico. 2. A cognição geralmente é adaptativa, mas não em todas as circunstâncias específicas. Ao pensarmos em todas as formas nas quais se podem cometer erros, é impressionante o quanto nossos sistemas cognitivos operam bem. A evolução nos serviu muito bem na moldagem do desenvolvimento de um aparato cognitivo que é capaz de decodificar com precisão os estímulos ambientais, além de entender os estímulos internos que compõem a maior parte das informações disponíveis a nós. Podemos perceber, aprender, lembrar, raciocinar e resolver problemas com grande precisão. E o fazemos ainda que isso nos seja dificultado constantemente por uma grande quantidade de estímulos. Qualquer estímulo poderia com facilidade nos distrair do processamento adequado das informações, mas os mesmos processos que nos levam a perceber, lembrar e raciocinar com precisão, na maioria das situações, também PSICOLOGIA COGNITIVA podem nos desviar. Nossas memórias e nossos processos de raciocínio, por exemplo, são suscetíveis a certos erros sistemáticos, bem identificados. Por exemplo, tendemos a supervalorizar a informação que está disponível a nós, e o fazemos mesmo quando essa informação não é totalmente relevante ao problema que temos em mãos. Em geral, todos os sistemas – naturais ou artificiais – são baseados em compensações. As mesmas características que os tornam bastante eficientes em uma ampla variedade de circunstâncias podem torná-los ineficientes em circunstâncias específicas. Um sistema que seria extremamente eficiente em cada circunstância específica seria ineficiente em uma ampla variedade de circunstâncias, apenas porque se tornaria complicado e complexo demais. Portanto, os seres humanos representam uma adaptação eficiente, mas imperfeita, dos ambientes que enfrentam. 3. Os processos cognitivos interagem uns com os outros e com processos não-cognitivos. Embora tentem estudar e, muitas vezes, isolar o funcionamento de processos cognitivos específicos, os psicólogos cognitivos sabem como esses processos podem trabalhar juntos. Por exemplo, os processos de memória dependem de processos de percepção. O que lembramos depende em parte do que percebemos. Da mesma forma, os processos de pensamento dependem em parte dos processos de memória: não se pode refletir sobre aquilo que não é lembrado. Entretanto os processos não-cognitivos também interagem com os cognitivos. Por exemplo, aprendemos melhor quando estamos motivados para aprender. Em contrapartida, nossa aprendizagem talvez seja reduzida se estivermos chateados com alguma coisa e não conseguirmos nos concentrar na tarefa de aprendizagem em questão. Sendo assim, psicólogos cognitivos procuram estudar os processos cognitivos não apenas de forma isolada, como também em suas interações uns com os outros e com os processos não-cognitivos. 37 Uma das áreas mais interessantes da psicologia cognitiva hoje em dia é a interface entre os níveis cognitivo e biológico de análise. Nos últimos anos, por exemplo, tornou-se possível localizar a atividade no cérebro associada a vários tipos de processos cognitivos; porém, é preciso ter cuidado com a conclusão de que a atividade biológica é causal em relação à atividade cognitiva. A pesquisa demonstra que a aprendizagem que causa mudanças no cérebro – em outras palavras, os processos cognitivos – pode afetar as estruturas biológicas da mesma maneira que elas podem afetar os processos cognitivos. Dessa forma, as interações entre cognição e outros processos podem acontecer em muitos níveis. O sistema cognitivo não opera de maneira isolada; ele funciona em interação com outros sistemas. 4. A cognição deve ser estudada por meio de uma série de métodos científicos. Não há uma forma certa de estudar a cognição. Pesquisadores ingênuos, às vezes, buscam o “melhor” método com o qual fazer esse estudo. Sua busca inevitavelmente será em vão, pois todos os processos cognitivos precisam ser estudados por meio de diversas operações convergentes, ou seja, de métodos variados de estudo que buscam um entendimento comum. Quanto mais diferentes tipos de técnicas levarem à mesma conclusão, maior a confiança que se pode ter nessa conclusão. Por exemplo, suponhamos que estudos de tempos de reação, taxas de erro e padrões de diferenças individuais levem, todos, à mesma conclusão. Assim, pode-se ter muito mais confiança na conclusão do que se apenas um método levasse a essa conclusão. Os psicólogos cognitivos precisam aprender uma série de diferentes tipos de técnicas para fazer bem seu trabalho. Contudo, todos esses métodos devem ser científicos. Os métodos científicos diferem de outros no sentido de que oferecem a base para a natureza autocorretiva da ciência. Com o passar do tempo, corrigimos nossos erros. A razão para isso é que os métodos científicos nos permi- 38 ROBERT J. STERNBERG tem refutar nossas expectativas quando elas estão equivocadas. Os métodos não-científicos não apresentam essa característica. Por exemplo, os métodos de investigação que dependem apenas da fé ou da autoridade para determinar a verdade podem ter valor em nossas vidas, mas não são científicos e por isso não são autocorretivos. Na verdade, as palavras de uma autoridade podem ser substituídas pelas de outra amanhã, sem que se saiba qualquer coisa nova sobre o fenômeno a que as palavras se aplicam. Como o mundo aprendeu há muito tempo, o fato de que importantes dignitários digam que a Terra está no centro do universo não faz com que isso seja verdade. 5. Toda a pesquisa básica em psicologia cognitiva pode levar a aplicações e toda a pesquisa aplicada pode levar a conhecimentos básicos. Os políticos e, às vezes, até mesmo os cientistas, gostam de fazer distinções claras entre a pesquisa básica e a aplicada, mas a verdade é que a distinção, em geral, não é nem um pouco clara. Pesquisas que pareciam ser básicas acabam levando a aplicações imediatas. Da mesma forma, pesquisas que parecem que serão aplicadas, por vezes, levam rapidamente a conhecimentos básicos, haja ou não aplicações imediatas. Por exemplo, uma conclusão básica da pesquisa sobre aprendizagem e memória é que a aprendizagem é melhor quando distribuída no tempo do que quando é amontoada em um intervalo curto. Essa conclusão básica tem uma aplicação imediata a estratégias de estudo. Ao mesmo tempo, as pesquisas sobre testemunhos oculares, que parecem, à primeira vista, ser bastante aplicadas, melhoraram nosso entendimento dos sistemas de memória e de até onde os seres humanos constroem suas próprias memórias. Ela não reproduz apenas o que acontece no ambiente. Antes de encerrar este capítulo, pense sobre alguns dos campos da psicologia cognitiva, descritos nos capítulos restantes, aos quais esses temas e essas questões fundamentais possam ser aplicados. Panorama dos capítulos Os psicólogos cognitivos têm se envolvido no estudo de uma ampla gama de fenômenos psicológicos, o qual inclui não apenas a percepção, a aprendizagem, a memória e o pensamento, como também fenômenos que aparentemente são de orientação menos cognitiva, como emoção e motivação. Na verdade, quase qualquer tópico de interesse psicológico pode ser estudado de uma perspectiva cognitiva. Não obstante, há algumas áreas principais de interesse dos psicólogos cognitivos. Neste livro, tentamos descrever algumas das respostas preliminares para as perguntas feitas pelos pesquisadores nas principais áreas de interesse. Capítulo 2 Neurociência cognitiva – Quais são as estruturas e os processos do cérebro humano que estão por trás das estruturas e dos processos da cognição humana? Capítulo 3 Atenção e consciência – Quais são os processos mentais básicos que regem a forma como a informação entra em nossa mente, em nossa consciência e em nossos processos de alto nível para tratar a informação? Capítulo 4 Percepção – Como a mente humana percebe o que os sentidos recebem? Como a mente humana adquire distintivamente a percepção de formas e padrões? Capítulo 5 Memória: modelos e métodos de pesquisa – De que forma tipos diferentes de informação (por exemplo, nossas experiências relacionadas a um evento traumático, os nomes dos presidentes dos Estados Unidos ou o procedimento para se andar de bicicleta) são representados na memória? Capítulo 6 Processos de memória – Como levamos a informação para a memória, como a mantemos lá e como a recuperamos da memória quando é necessário? Capítulo 7 Representação do conhecimento na memória: imagens e proposições – Como representamos mentalmente as informações em nossas mentes? Fazemos isso com palavras, imagens ou com alguma outra forma para representar sentido? Ou temos múltiplas formas de representação? PSICOLOGIA COGNITIVA Capítulo 8 Representação e organização de conhecimento na memória: conceitos, categorias, redes e esquemas – Como organizamos mentalmente o que sabemos? Como manipulamos e operamos com relação ao conhecimento – fazemos isso por processo em série, por meio de processamento paralelo ou por meio de alguma combinação de processos? Capítulo 9 Linguagem: natureza e aquisição – Como deduzimos e produzimos sentido por meio da linguagem? De que forma adquirimos a linguagem, tanto nossa primeira língua como outras? Capítulo 10 Língua em contexto – De que forma o uso da linguagem interage com nossas formas de pensamento? Como nosso mundo social interage com nosso uso da linguagem? Capítulo 11 Solução de problemas e criatividade – Como solucionamos problemas? Quais processos nos ajudam e quais nos impedem de atingir soluções para problemas? Por que alguns de nós são mais criativos do que outros? Como nos tornamos e permanecemos criativos? Capítulo 12 Tomada de decisões e raciocínio – De que forma chegamos a decisões 39 importantes? Como tiramos conclusões razoáveis das informações que nos estão disponíveis? Por que e como, com tanta freqüência, tomamos decisões inadequadas e chegamos a conclusões incorretas? Capítulo 13 Inteligência artificial e humana – Por que consideramos algumas pessoas mais inteligentes do que outras? Por que algumas pessoas parecem mais capazes de atingir o que querem nos campos que escolhem? Neste livro, procuro enfatizar as idéias comuns e os temas organizadores de vários aspectos da psicologia cognitiva, em lugar de simplesmente apresentar os fatos. Segui esse caminho para ajudar o leitor a perceber padrões consideraveis e significativos no domínio da psicologia cognitiva. Também tentei lhe oferecer alguma idéia de como os psicólogos cognitivos pensam e como estruturam seu campo em seu trabalho cotidiano. Espero que essa abordagem venha a lhe ajudar a examinar os problemas da psicologia cognitiva em um nível mais profundo do que seria possível sem ela. No final, o objetivo dos psicólogos cognitivos é entender não apenas como as pessoas podem pensar em seus laboratórios, mas, também como elas pensam em suas vidas cotidianas. RESUMO 1. O que é psicologia cognitiva? A psicologia cognitiva é o estudo de como as pessoas percebem, aprendem, lembram e pensam a informação. 2. De que forma a psicologia desenvolveuse como ciência? Começando com Platão e Aristóteles, as pessoas refletiram sobre como adquirir conhecimento da verdade. Platão sustentava que o racionalismo oferece um caminho claro à verdade, ao passo que Aristóteles defendia o empirismo como caminho ao conhecimento. Séculos mais tarde, Descartes ampliou o racionalismo de Platão, enquanto Locke elaborava sua teoria a partir do empirismo de Aristóteles. Kant ofereceu uma síntese desses opostos aparentes. Décadas depois de Kant propor sua síntese, Hegel observou como a histó- ria das idéias parecia avançar por meio de um processo dialético. 3. Como a psicologia cognitiva desenvolveuse a partir da psicologia? No século XX, a psicologia havia surgido como um campo distinto de estudos. Wundt concentrouse nas estruturas da mente (levando ao estruturalismo), enquanto James e Dewey trataram dos processos da mente (funcionalismo). A partir dessa dialética, surgiu o associacionismo, defendido por Ebbinghaus e Thorndike, que abriu o caminho para o behaviorismo ao sublinhar a importância das associações mentais. Outro passo rumo ao behaviorismo foi a descoberta de Pavlov dos princípios do condicionamento clássico. Watson e, mais tarde, Skinner foram os principais proponentes do behaviorismo, 40 ROBERT J. STERNBERG que se concentrava totalmente nas ligações observáveis entre o comportamento de um organismo e as contingências ambientais particulares que fortaleciam ou enfraqueciam a probabilidade de que determinados comportamentos se repetissem. A maioria dos behavioristas descartava por completo a noção de que há mérito na tentativa dos psicólogos de entender o que está acontecendo na mente do indivíduo que desenvolve o comportamento. Entretanto, Tolman e pesquisadores behavioristas posteriores observaram a influência dos processos cognitivos sobre o comportamento. Uma convergência de avanços em muitos campos levou ao surgimento da psicologia cognitiva como uma disciplina específica, sendo Neisser um dos notáveis expoentes. 4. Como outras disciplinas contribuíram para o desenvolvimento da teoria e da pesquisa em psicologia cognitiva? A psicologia cognitiva tem raízes na filosofia e na fisiologia, que se fundiram para formar o núcleo da psicologia. Como campo distinto de estudo psicológico, a psicologia cognitiva também se serviu das investigações transdisciplinares. Entre os campos relevantes estão a lingüística (por exemplo, como a linguagem e o pensamento interagem?), a psicologia biológica (quais são as bases fisiológicas da cognição), a antropologia (por exemplo, qual é a importância do contexto cultural para a cognição) e os avanços tecnológicos, como a inteligência artificial (como os computadores processam a informação?). 5. Quais métodos os psicólogos cognitivos usam para estudar o modo como as pessoas pensam? Os psicólogos cognitivos usam uma ampla gama de métodos, incluindo experimentos, técnicas psicobiológicas, auto-avaliações, estudos de caso, observação naturalista, além de simulações por computador e inteligência artificial. 6. Quais são as questões atuais e os vários campos de estudo da psicologia cognitiva? Algumas das principais questões no campo concentraram-se em como buscar o conhecimento. O trabalho psicológico pode ser feito: • usando o racionalismo (que é a base para o desenvolvimento de teorias) e o empirismo (que é a base para a coleta de dados); destacando a importância das estruturas cognitivas e dos processos cognitivos; • enfatizando o estudo do processamento que é geral ou específico em relação ao domínio; • esforçando-se na busca de um alto grau de controle experimental (que favorece as inferências causais) e de um alto grau de validade ecológica (que permite melhor generalização de conclusões para ambientes fora do laboratório); • realizando pesquisa básica a fim de obter conhecimentos fundamentais sobre cognição e pesquisa aplicada em busca de usos eficazes para a cognição em ambientes reais. Embora as posições sobre essas questões possam parecer diametralmente opostas, muitas vezes, visões que parecem antitéticas podem ser sintetizadas de forma que ofereça o melhor de cada um dos pontos de vista opostos. Os psicólogos cognitivos estudam as bases biológicas da cognição, bem como a atenção, a consciência, a percepção, a memória, o imaginário, a linguagem, a solução de problemas, a criatividade, a tomada de decisões, o raciocínio, as mudanças na cognição em termos de desenvolvimento que ocorrem durante a vida, a inteligência humana, a inteligência artificial e vários outros aspectos do pensamento humano. Pensando sobre o pensamento: questões factuais, analíticas, criativas e práticas 1. Descreva as principais escolas históricas de pensamento psicológico que levaram ao desenvolvimento da psicologia cognitiva. 2. Descreva algumas das formas com que a psicologia, a lingüística e a inteligência artificial contribuíram para o desenvolvimento da psicologia cognitiva. PSICOLOGIA COGNITIVA 3. Compare as influências de Platão e Aristóteles sobre a psicologia. 4. Analise como vários métodos de pesquisa na psicologia cognitiva refletem das abordagens empirista e racionalista à aquisição de conhecimento. 5. Faça um primeiro esboço de uma investigação cognitivo-psicológica envolvendo um dos métodos de pesquisa descritos neste capítulo. Aponte as vantagens e as desvantagens de usar esse método específico para sua investigação. 41 6. Este capítulo descreve a situação atual do campo da psicologia cognitiva. Como se pode especular que ele mudará nos próximos 50 anos? 7. Como um conhecimento obtido a partir da pesquisa básica pode levar a usos práticos em um ambiente cotidiano? 8. Como um conhecimento obtido a partir da pesquisa aplicada pode levar a um entendimento aprofundado das características fundamentais da cognição? Termos fundamentais associacionismo funcionalismo psicologia da Gestalt behaviorismo hipóteses racionalismo ciência cognitiva Inteligência artificial (IA) significância estatística cognitivismo introspecção teoria empirismo pragmatismo validade ecológica estruturalismo psicologia cognitiva Sugestões de leitura comentadas Nadel, L. (Ed.) (2003). Encyclopedia of cognitive science (4 vols.). London, England: Nature Publishing Group. Uma análise detalhada de tópicos em toda a gama das ciências cognitivas. Os verbetes são classificados por dificuldade. Wilson, R. A., e Keil, F. C. (Eds.) (1999). The MIT encyclopedia of cognitive sciences. Cambridge, MA: MIT Press. Verbetes sobre toda a gama de tópicos que constituem o estudo da ciência cognitiva.