O MUSEU
E SEUS SABERES
ALBA TÂNIA ROSAURA MACEDO
MANUELINA DUARTE CÂNDIDO
TÂNIA MENDONÇA
YUSSEF DAIBERT SALOMÃO DE CAMPOS
ORGANIZAÇÃO: SHEILA ELIAS VILELA
O MUSEU
E SEUS SABERES
Goiânia
SEE Goiás
2018
Márcia Pires
Sheila Elias Vilela
Edição
Sheila Elias Vilela
Revisão, Coordenação do “Ciclo de estudos: O Museu e seus
Saberes” e Organização da publicação “O Museu e seus
Saberes”
Bruno César Ramos de Souza
Concepção de logo e projeto gráfico “Ciclo de estudos: O
Museu e seus Saberes”
Isabella Brito
Capa, projeto gráfico e diagramação do livro
O Museu e seus Saberes
Fotos: Equipe MAC/GO
Dados internacionais de catalogação-na-publicação (CIP)
(Henrique Araújo - Bibliotecário Documentalista - CRB Nº
3233)
M113m O Museu e seus saberes / Manuelina Duarte
Cândido... [et al.]; Organização de Sheila Elias Vilela;
Direção de Márcia Pires - Goiânia; Secretaria de Estado
de Educação, Cultura e Esporte de Goiás (SEDUCE), 2018.
72p.: p&b - 20x26cm
ISBN: 978-85-61298-01-2
Nota Explicativa: essa coleção de artigos é resultado do
ciclo de estudos “O Museu e seus saberes” idealizado pelo
Museu de Arte Contemporânea de Goiás (MAC)
1. Museologia. 2. Museus. 3. Educação. 4. Sociedade.
5. Museu de Arte Contemporânea de Goiás (MAC). I.
Macedo, Alba Tânia Rousaura. II. Mendonça, Tânia. III.
Campos, Yussef Daibert Salomão. IV. Vilela, Sheila Elias
(Org). V. Título.
CDU: 069.01 CDD: 069
Índice para catálogo sistemático:
Museus – Multidisciplinaridade – Ação Educativa;
Museus – Comunidade -Produção – Disseminação
– Conhecimento;
Museus – Saberes – Interdisciplinaridade;
Museus – Gestão – Sec. XXI;
Museus – Políticas Públicas – Patrimônio Cultural – Goiás;
Museus – Responsabilidade Social – Ecomuseus – Museus
Comunitários;
Museu de Arte Contemporânea de Goiás (MAC).
CENTRO CULTURAL OSCAR NIEMEYER
MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DE GOIÁS
GUARACIABA ROSA DE OLIVEIRA
Chefe do Gabinete de Gestão
MÁRCIA PIRES
Diretoria
JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA DE MORAIS
Superintendente de Atividades Culturais
WERYDIANNA MARQUES
Museologia
LUCIANE RODRIGUES DUTRA
Chefe de Núcleo Administrativo Operacional
SILVANA RINCON
MARI LÚCIA DE FREITAS LUCENA
Setor de Preservação do Acervo
MARCO AURÉLIO VIGÁRIO
Assessor de Imprensa
GILSON ANDRADE
SHEILA ELIAS VILELA
Setor Educativo
CLEANDRO ELIAS JORGE
ISABELLA BRITO
Montagem
MARIA ELÍZIA BORGES
PABLO FABIÃO LISBOA
SEBASTIÃO AYRES ABREU
VÂNIA SUELENE ABRÃO
FERNANDO COSTA FILHO
Conselho Consultivo
4
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
Apresentação
O cenário político-econômico brasileiro sempre trouxe desafios a cultura, e em especial ao
museu, instituição que demanda recursos financeiros e administrativos, equipe e espaço diferenciados para sua existência. O setor museal requer adaptação contínua para o enfrentamento das
adversidades e, necessita cada vez mais da formação e preparo de profissionais aptos a lidar com
a demanda dos setores multidisciplinares que compõem o corpo da museografia - as técnicas e
práticas de responsabilidade do museu. Ademais, algumas mentalidades do setor público brasileiro, resistem em assumir a missão primordial que é pertencer ao público sem discriminação,
configurando-se como um patrimônio público e democrático que viabiliza o acesso, a apropriação e a participação de todos que a ele têm direito. Diante de tantos avanços tecnológicos
que marcam nossa vivência, ainda são as relações humanas que transmitem sentido à existência
do museu e às suas práticas.
Em fevereiro de 2017, o MAC – Museu de Arte Contemporânea de Goiás e o Centro Cultural
Oscar Niemeyer (CCON) apresentaram à comunidade o Ciclo de Estudos “O Museu e Seus
Saberes”. O projeto teve como objetivo discutir, difundir e valorizar a atuação multidisciplinar da
instituição e sua aproximação com o público. No hiato da interdição de espaços expositivos e
outras dependências do CCON para reforma, o desejo da gestão e da ação educativa foi, sobretudo, manter contato com o público, ensejo esse para fortalecer o museu como espaço comunitário, fonte de produção e disseminação de pensamento formador.
Apresentação
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De fevereiro a junho de 2017, com a participação de professores do curso de Museologia
da Universidade Federal de Goiás, o MAC estabeleceu um fórum de discussão onde acadêmicos
e profissionais de museus de todo estado puderam trocar experiências, informações, dividir frustrações e, opinar sobre aspectos de práticas museológicas do MAC. As temáticas dos encontros
abordaram alguns dos saberes interdisciplinares exercidos cotidianamente no fazer museológico,
como gestão, conservação, políticas públicas, responsabilidade social, desafios e soluções no
cenário político-econômico brasileiro.
Aos palestrantes do Ciclo de Estudos “O Museu e Seus Saberes”, Prof. Dra. Manuelina
Cândido, Prof. Dr. Yussef Campos, Ms. Ana Cristina Santoro, Prof. Dra. Camila Moraes Wichers e à
Dra. Tânia Mendonça, nossos sinceros agradecimentos pela participação. Nossa gratidão também
à conservadora e restauradora Alba Tânia Rosaura Macedo pelo valioso apoio para esta publicação, uma compilação de pensamentos abordados no ciclo e além. Ofertamos à “todxs”, com
modéstia e alegria este registro de comunicação, informação e interação ponderada como ferramenta de educação, uma das funções centrais do museu.
Sheila Elias Vilela
Setor Educativo Museu de Arte Contemporânea de Goiás
Centro Cultural Oscar Niemeyer
Márcia Pires
Diretora do Museu de Arte Contemporânea de Goiás
Centro Cultural Oscar Niemeyer
Este QR code leva ao canal do Núcleo de Ação Educativa
do MAC no Youtube. Nele você encontra as palestras do
Ciclo de studos e mais Confira
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Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
Palestra de Manuelina Cândido “Gestão de Museus: O Museu do Século XXI”. Foto: Equipe MAC - GO.
Apresentação
Palestra de Yussef Campos: “Patrimônio e Políticas Públicas”. Foto: Equipe MAC - GO.
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4
10
Apresentação
Gestão de Museus: O Museu do Século XXI
Manuelina Maria Duarte Cândido
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Coleções Museológicas e sua Conservação
Alba Tânia Rosaura Macedo
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Museus - desafios e possibilidades:
Políticas públicas para a Musealização
do Patrimônio Cultural de Goiás
Tânia Mendonça
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Apontamentos sobre a responsabilidade
social dos museus: ecomuseus
e museus comunitários
Manuelina Maria Duarte Cândido
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Patrimônio e Políticas Públicas
Yussef Daibert Salomão de Campos
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Sobre a Gestão do MAC - GO
Márcia Pires
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Sobre os autores
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Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
Gestão de Museus: O Museu do Século XXI
Manuelina Maria Duarte Cândido1
“We need small and cheap Museums to create humanity”
Orhan Pamuk, Prêmio Nobel da Literatura
Os museus possuem uma longa trajetória em que já foram identificados com diferentes funções, passando de museu-templo
ou teatro da memória, museu-laboratório,
museu-fórum. Aspira-se hoje a um ideal que
combine estas várias facetas, com destaque
para a representação de um papel de fórum,
espaço de encontros, trocas e sociabilidade,
mas sem desprezar o encantamento, a fruição,
a sensibilidade e o deleite, ou o aprendizado,
a curiosidade saciada, o espanto e a re exão,
tudo isto envolvido pela marca de uma experiência singular.
Para falar de museus no século XXI
e daí acercar-me da temática da gestão
neste contexto, gostaria de abordar algumas
tendências, quatro revoluções, uma grande
constatação e alguns desafios.
Toda esta re exão está permeada
pelo reconhecimento de que os museus
sempre foram instituições conectadas com
o seu tempo e, portanto, é esperado que se
transformem e se atualizem pelas demandas
sociais. Neste momento, os principais fatores
que impulsionam a renovação são os fatores
demográficos (crescimento numérico, envelhecimento e trânsitos populacionais), as
demandas por participação, o desenvolvimento das tecnologias, os novos paradigmas
educacionais e a redução das subvenções
públicas.
Tendências e tensões
As tendências serão apresentadas a
partir de duas obras que pretenderam reuni-las sob diferentes miradas geopolíticas: o
canadense Yves Bergeron, que contribuiu com
um artigo para a obra Nouvelles tendences de
la muséologie, de François Mairesse (2016), e
os holandeses Peter van Mensch e Léontine
Meijer-van Mensch, que dividem a autoria do
livro New trends in museology (2011).
De acordo com Bergeron (2016), são
quatro as principais tendências do mundo dos
museus hoje, e que os obrigam a um grande
processo de transformação:
1- A fragmentação do “nós”, com a
passagem de um discurso coletivo ao discurso
individualista;
2- O “presenteísmo”, favorecendo uma
concepção contemporânea da cultura mas
colocando passado e futuro em segundo
plano, o que explica, nos museus, a obsessão
1 Licenciada em História (UECE, 1997), especialista em Museologia (USP, 2000), mestre em Arqueologia (USP, 2004),
doutora em Museologia (ULHT, 2012), Pós-doutora em Museologia (Sorbonne Nouvelle, 2015). Professora de Museologia
da FCS/UFG.
Manuelina Maria Duarte Cândido
pela arte contemporânea, cada vez mais
presente e integrada a museus de História, de
Arqueologia e de Ciências;
3- A cultura digital e a desmaterialização
da cultura;
4- A eventualidade, ou a cultura do
evento: o museu é espaço cada vez mais de
sociabilidade (museu-fórum) e isto ganha
espaço em relação ao seu papel no encontro
com a cultura.
O autor está, portanto, re etindo sobre
tendências mais amplas, que atingem a
cultura de uma maneira geral, e como afetam
os museus em particular.
Já Peter van Mensch e Léontine Meijer-van Mensch estruturam sua obra em capítulos
que indicam as seguintes tendências sob sua
análise:
1- Desenvolvimento de coleções e o
conceito de “coleções dinâmicas”;
2- Design da aprendizagem e da
experiência
3- Participação;
4- Avaliação de performance;
5- Perspectivas integradas de patrimônio;
6- Ética museal.
Neste caso, os autores estão apresentando tendências intrínsecas ao campo dos
museus e como elas se realizam em seus
fazeres. Ambos textos estão de acordo em
que os museus sempre viveram mutações e
adaptações às novas demandas sociais. Peter
van Mensch já se referia a duas revoluções no
mundo dos museus em sua tese de doutorado,
em 1992:
1) A primeira, ligada à profissionalização
do campo, ocorreu no final do século XIX, e
traz junto a criação das primeiras associações
de profissionais e o início das publicações de
periódicos especializados.
2) A segunda, ligada ao reconhecimento
Gestão de Museus: O Museu do Século XXI
11
do papel social e educativo dos museus,
marca a origem da chamada Nova Museologia
em torno dos anos 1960, cujo ponto de virada
o autor situa na Conferência Geral do ICOM de
1971 em Grenoble, e outros atribuem à Mesa-redonda de Santiago do Chile, de 1972.
A estas duas revoluções, Bergeron
acrescenta o reconhecimento de mais duas:
3) Uma revolução neoliberal situada
nos anos 1990, com a entrada dos museus na
engrenagem de mercantilização da cultura
e da indústria cultural, que redireciona seu
olhar dos cidadãos mais próximos para os
turistas, e ao associar sua manutenção ao
mecenato e outras formas de captação de
recursos privados, torna-os mais dependentes
da in uência dos investidores na definição de
sua programação e prioridades. Não é mais a
cultura, mas a economia da cultura que está na
base do projeto museal, e o perfil pretendido
dos gestores passa a ter consonância com
estas novas demandas, aproximando-se de
um contorno empresarial.
4) Segundo Bergeron (2016, p. 240),
estamos ainda mergulhados na quarta revolução, digital. Ela diz respeito não somente à
inserção de novas tecnologias nos museus,
mas à redefinição de patrimônio, com os novos
desafios decorrentes do reconhecimento do
patrimônio intangível, ao mesmo tempo em que
a mundialização gerou um re exo de proteção
da diversidade e cada vez mais são realçadas
as diferenças locais e outras referências patrimoniais como as línguas, as paisagens, etc. É
um momento de realce de patrimônios antes
negligenciados e os recursos tecnológicos
permitem então que sujeitos plurais possam
participar de diversas etapas do processo de
musealização.
Por outro lado, o presente momento
indica também uma opção de muitos governos
12
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
pelo reagrupamento de bibliotecas, arquivos
e museus nacionais, o que originou a sigla
em inglês LAM (Library, Archive and Museum
Collaboration), um modelo que rompe fronteiras entre as instituições tradicionais e que o
autor não deixa de sublinhar como retorno às
origens das coleções reais do século XVII, que
tinham entre suas características esta abordagem global das coleções, inspirada pelo
mito da biblioteca de Alexandria.
Do ponto de vista dos discursos, os
museus estão mais cientes de que não devem
evitar as controvérsias e de que são arenas
de poder que devem ser ocupadas por outras
parcelas da população que aquelas ligadas
à sua origem de instituição de elite. Não por
acaso, o tema do Dia Internacional dos Museus
de 2017, evidencia as disputas inerentes aos
discursos: “Museus e histórias controversas:
dizer o indizível em museus”. Mesmo sendo
uma escolha de uma instituição tradicional e
muitas vezes conservadora, como o Conselho
Internacional de Museus (ICOM), o tema se
abre para uma perspectiva mais próxima da
Museologia Crítica, corrente emergente de
origem espanhola.
Os discursos controversos e a expografia
crítica, entretanto, remontam a momentos
anteriores, ancorados em experiências como as
dos museus de sociedade, entre eles, o emblemático Museu de Etnografia de Neuchâtel, na
Suíça, que esteve sob direção do provocativo
Jacques Hainard entre 1980 e 2006, ou ainda o
Museu Dauphinois de Grenoble, na França, e o
Museu da Civilização em Québec, no Canadá.
Dois mundos cada vez mais distantes
A grande constatação, para além de
todas estas tendências e transformações, é
de uma profunda clivagem entre grandes e
pequenos museus. É nela que gostaria de me
deter mais, por ser uma preocupação que me
move há bastante tempo, e finalmente poder
compartilhar este pensamento agora com
a certeza de que mais e mais pensadores e
trabalhadores de museus estão se apercebendo do mesmo e querendo re etir sobre
isto.
Os grandes museus participam da
circulação das exposições bloc busters e têm
acesso a montantes financeiros excepcionais,
provenientes de toda uma rede de financiamento diversificada, combinando recursos
públicos e privados. Os museus pequenos e
comunitários possuem pouco apoio financeiro,
mas se baseiam largamente no engajamento
das comunidades e no trabalho voluntário.
Ao mesmo tempo que identificam um afastamento cada vez maior destas duas realidades,
diversos autores estão de acordo em afirmar
que os museus mais ameaçados são aqueles
que se situam entre estas duas categorias
(Bergeron, 2016, p. 234; Roigé, 2016, p. 88), os
de porte intermediário.
Desta forma, os autores se preocupam
em apresentar questões provocativas como:
precisamos de tantos museus? Como os
pequenos municípios podem sustentar todas
estas infraestruturas? Até que ponto todos
estes museus podem sobreviver? (Roigé, in
Mairesse, 2016, p. 83) Além disto, indicam
alguns caminhos explicativos para problemas
dos museus: criação sem participação da
comunidade; intervenções sem planejamento
adequado; falta de planejamento da manutenção, ausência de estratégia de atração do
público.
Laura Steen e Baptiste Marsal em artigo
de 16 de maio de 2015 publicado em diferentes
veículos a internet fizeram clara referência
à abissal distância que separa cada vez mais
Manuelina Maria Duarte Cândido
pequenos e grandes museus. Naquele dia
ocorria a 11a edição da Noite dos Museus na
Europa e, como é sabido, a aposta deste tipo
de programação especial envolvendo grandes
e pequenos museus é que embalados pelo
chamariz das instituições mais renomadas,
as menores, por estarem na mesma programação, ganhem mais visibilidade. Este é o princípio de ações realizadas também no Brasil,
sendo a mais famosa a Semana Nacional de
Museus, em que o IBRAM reúne e divulga em
um catálogo organizado por cidades e regiões
as programações de museus de todo o Brasil,
mas também do Passaporte de Museus, iniciativa de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Ocorre que também já está claro que
neste tipo de programação os museus que já
são muitíssimo visitados ficam cada vez mais
assoberbados pelas multidões, e nos menores
o impacto não é o mesmo, e nem duradouro. O
título do artigo de Steen e Marsal é emblemático: “Museus: a grande fratura entre grandes e
pequenos”. Trata da queda das dotações orçamentárias e das novas dificuldades enfrentadas pelos pequenos museus, que buscam se
associar para enfrentá-las, tentando caminhos
como o compartilhamento de projetos especialmente de comunicação, como exposições
e organização de eventos.
Com o intuito de aproximar novos pontos
de vista para esta discussão, aproximo o consagrado escritor turco Ohran Pamu , laureado
com o Prêmio Nobel da Literatura em 2006,
que escreveu dois anos depois o romance O
Museu da Inocência, lançado no mesmo dia
em que abriu o Museu ao público. O Museu foi
organizado com o mesmo número de partes
que os capítulos do livro, e com cada objeto
Gestão de Museus: O Museu do Século XXI
13
que os personagens da ficção tocam. ocalizado em Istambul, que não possui um museu
municipal, ele se tornou um dos mais visitados
da cidade e ganhou o prêmio de Melhor Museu
da Europa em 2014 (EMYA).
O autor vem re etindo sobre museus
a partir de sua própria experiência, inclusive
a partir do fato que atentados terroristas em
Istambul impactaram a visitação de todos os
museus da cidade, mas o seu museu não foi
tão atingido quanto os maiores e mais monumentais, ou seja, os mais visados.
Seguindo a tradição do Conselho Internacional de Museus (ICOM) de convidar pessoas
de outras áreas para re etirem e provocarem
novos olhares sobre museus, Ohran Pamu foi
um dos principais conferencistas da Conferência Geral do ICOM em Milão, 2016.
Sua fala incluiu a apresentação de um
Manifesto para Museus em que defende com
afinco os pequenos museus. Ele declara que
não subestima a importância dos grandes
museus do mundo, verdadeiros tesouros da
humanidade, mas é contra estes museus
monumentais serem tomados como modelos
especialmente pelos países emergentes não
ocidentais. Estas instituições sempre privilegiaram a narrativa da história da nação em
relação às histórias das pessoas, muito mais
ricas e plenas de humanidade e vivacidade.
Para Pamu , o grande desafio posto aos
museus é representar estas histórias com o
mesmo brilho, profundidade e força dedicadas
às histórias das nações. Assim, a medida do
sucesso do museu deveria ser sua capacidade
de revelar a humanidade dos indivíduos2 e,
para tal, é sugerida a menor escala: museus
menores e mais baratos.
2 O autor usa, em inglês, a palavra individuals. Mas claramente, rejeita as narrativas heroicas e épicas, está interessado
em pessoas comuns. Por isto, usarei preferencialmente pessoas ou anônimos, para evitar que o uso de indivíduos pareça
querer destacar trajetórias que se sobressaíram. É uma defesa do realce da singularidade presente em cada pessoa.
14
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
Os grandes museus nos fariam esquecer
a nossa humanidade, transformando-nos em
massas. As histórias precisam ser contadas em
escala humana. Enquanto isto os recursos (e
o autor se refere, especialmente, à explosão
de museus no mundo “oriental”) estão sendo
canalizados para museus monumentais mas
eles deveriam ser usados para encorajar as
pessoas comuns a preservarem e exibirem
suas histórias singulares, suas casas. Edifícios
monumentais que dominam cidades (e aqui
podemos pensar no Guggenheim de Bilbao, no
Museu do Amanhã no Rio de Janeiro, tão alheio
às histórias de escravidão do vizinho Cais do
Valongo) não revelam nossa humanidade, ao
contrário, tratam de anulá-la. Nós precisamos
de pequenos museus que se relacionem com o
entorno, com os moradores e com o comércio
local.
Em resumo, seus argumentos são
expressos nos seguintes pares:
WE HAD
WE NEED
EPICS
REPRESENTATION
MONUMENTS
HISTORIES
NATIONS
GROUPS AND TEAMS
LARGE AND EXPENSIVE
NOVELS
EXPRESSION
HOMES
STORIES
PERSONS
INDIVIDUALS
SMALL AND CHEAP
(Ohran Pamu , 201 )
Manuelina Maria Duarte Cândido
Apresentada como um desejo, esta
possibilidade de expansão dos pequenos
museus parece sinalizar que estamos mergulhados em uma realidade de grandes museus.
Entretanto, estes museus são excepcionais
não somente por seu perfil monumental, altas
cifras envolvidas, marca e renome dos arquitetos envolvidos, mas inclusive porque quantitativamente não são tão expressivos, embora
a mídia e o senso comum os tenha como referência. No Brasil, segundo dados do Instituto
Brasileiro de Museus, a vinculação administrativa mais frequente é de museus municipais,
que representam 41,1% do total (IBRAM, 2011).
Nos Estados Unidos a realidade não é diferente
e levou a American Association of Museums
(AAM) a criar um Comitê de Administradores
de Pequenos Museus (SMAC). Em uma classificação segundo o número de membros da
equipe do museu, 57% dos museus norte-americanos possuem entre 0 e 3 pessoas.
Figura 1: Museus membros da AAM segundo o número de
pessoas no sta (AAM, s.d.)
Gestão de Museus: O Museu do Século XXI
15
A American Association of Museums
organiza e divulga, por meio deste Comitê,
uma série de publicações com diretrizes e
orientações para boas práticas na gestão de
pequenos museus envolvendo diferentes
aspectos como planejamento institucional,
armazenamento de coleções, criação de
conexões com a comunidade, busca de financiamento e muitos outros.
Desafios incontornáveis
Em sua jornada os museus se deparam
com muitos desafios: um deles, implícito ao
que já foi aqui apresentado, é sensibilizar
os políticos ao modelo “pequeno e barato”.
Sabe-se que não é esta versão dos museus
que será capaz de “encher os olhos” da maior
parte dos dirigentes. Cada um de nós tem
histórias para contar que levam exatamente
para o lado oposto.
O segundo desafio é a falta de recursos
humanos, que provoca o chamado “hiato geracional”, dificultando a passagem dos saberes
de uma geração a outra de trabalhadores, em
uma área em que somente o conhecimento
acadêmico não completa a formação.
Mas eu gostaria de centrar a discussão
sobre desafios em dois pontos: o reencontro
com as coleções, fazendo os museus falarem
sobre o presente e resistir à sedução do imediatismo e do uso esvaziado das tecnologias.
Vamos ao que eu chamo de reencontro
com as coleções. Qual o seu espaço nos
museus do século XXI Refiro-me aqui tanto
a acervos institucionais, aqueles realmente
incorporados pelas instituições museológicas,
quanto a acervos operacionais. Noções, aliás,
usadas por Mathilde Bellaigue no Ecomuseu
du Creusot desde a década de 1970, e depois
muito secundarizadas, mas tão relevantes que
16
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
tivemos no ano de 2016 como tema do Dia
Internacional de Museus, Museus e Paisagens
Culturais.
Tudo o que se refere a acervos ou coleções tem ficado mais rarefeito nas últimas
décadas, e é positivo imaginar que com a
criação de um comitê do ICOM para coleções
(COMCOL) estas discussões possam ser atualizadas, inclusive sobre políticas de aquisição
de acervos, que são, ao meu ver, uma matéria
ainda bastante lacunar na produção do campo
da Museologia.
Esta ausência talvez re ita o fato de que
após o período de profissionalização da área,
em que ocorreu a criação das pioneiras associações profissionais e disseminação maior
do conhecimento produzido pelos primeiros
periódicos especializados (Van Mensch,
2004), mas ainda sem uma generalização
dos saberes museológicos para dentro das
práticas museais, veio aquela segunda revolução da Museologia que foi chamada, nos
anos 1960, de Nova Museologia. Nela, uma
das principais características foi a abertura
do museu para a sociedade e a integração
de diferentes vertentes patrimoniais, com o
museu tendendo a sair da especialização por
tipologias de outrora para uma abordagem
interdisciplinar, centrada não em coleções mas
em temas, ou mesmo em problemas. Houve
então o entendimento de que as coleções não
seriam somente de objetos materiais móveis
(acervos institucionais) e herdados, mas
objetos construídos e também perseguindo
uma noção de acervo operacional, conjunto de
referências patrimoniais formado igualmente
por elementos da paisagem, do entorno do
museu, dos saberes e fazeres da comunidade
em que está inserido3.
Ao meu ver, neste movimento de busca
de superação da centralidade das coleções,
ou pelo menos de sua concepção mais
conservadora, e com a chegada de muitas
novas discussões ao mundo dos museus, sua
profissionalização que ainda estava em curso,
não foi aprofundada em um aspecto crucial
que é a definição de parâmetros de aquisição e
descarte de acervos, inclusive porque durante
algum tempo re etir ou publicar sobre coleções era se associar a um pensamento muito
conservador diante dos novos desafios postos
para o mundo museal.
Enquanto isto, alguns muitos museus
afastados da discussão do campo continuavam adquirindo acervos indiscriminadamente, recebendo objetos especialmente
por doações que lhes pareciam não oferecer
nenhum elemento de controvérsia, tornando-se instituições absolutamente acumuladoras e passivas, afastadas da re exão sobre
finalidade dos bens adquiridos e capacidade de
gestão de coleções. Somente agora, diante de
pressões reguladoras do campo e ainda mais
da ampliação dos debates sobre a escassez
de recursos para a cultura, os museus foram
premidos a pensar em sistematização e racionalização, e verificou-se a quase total ausência
de orientações sobre parâmetros para aquisição e descarte de acervos, com equivalente
fragilidade da produção acadêmica em torno
da matéria.
Os museus em geral não possuem
recursos próprios e, especialmente, verbas
específicas para aquisição de acervos.
Adquirem, à exceção dos que são ligados
a campos científicos marcados pela coleta
de campo (Arqueologia e, Ciências Naturais,
por exemplo), por meio do recebimento de
3 Patrimônio natural, patrimônio imaterial ou melhor dizendo, um patrimônio integrado como preconizado na Mesa
Redonda de Santiago do Chile, 1972.
Manuelina Maria Duarte Cândido
doações. A coleta ativa, portanto, é práxis
mais dos colecionadores do que dos museus.
O colecionador desenvolve o “olho bom”
(Gomes, 2017). O museu desenvolve uma área
de conforto, não precisa lapidar este “olho”,
fazer escolhas, lidar com con itos, quase
como se conseguisse escapar das tensões
inerentes às escolhas, que envolvem disputas
de poder (Chagas, 2002). É necessário ter em
conta que o que foi colecionado e chegou aos
museus não decorre de coleta ativa e escolhas dos museus, mas de critérios de escolha
privados que foram posteriormente incorporados pelos acervos dos museus, instituições
que assumiram, portanto, uma atitude passiva
na constituição de suas coleções e inclusive
se afastaram, ao longo de muito tempo, da
responsabilidade de desenvolver critérios e
argumentar criticamente sobre acervos em
oferta. Se houvesse recursos para aquisição,
o museu teria desenvolvido massa crítica
para fazer as seleções necessárias? A prática
da aquisição de acervos ter sido afastada da
monetarização contribuiu para que se consolidasse como irre exiva e assistemática
Por outro lado, as práticas museais
mais preocupadas com renovação, atentas
aos debates e demandas contemporâneos,
correram para o extremo oposto, que é a elaboração de projetos participativos, envolvidos
com a experiência, os saberes e a memória dos
seus diferentes públicos, mas muitas vezes
desconectados dos acervos já existentes nas
instituições. Os projetos costumam até gerar
novos acervos para os museus e podem estar
preenchendo importantes lacunas, mas nem
sempre incluem uma reinterpretação do que já
existe, raramente lançam luz sobre a herança
patrimonial que já faz parte da instituição.
Para os dois últimos pontos, é muito
inspiradora uma entrevista recém-publicada
Gestão de Museus: O Museu do Século XXI
17
pelo Público, jornal de Portugal, de Chris
Whitehead, professor de Museologia em New
Castle, Reino Unido, a Lucinda Canelas: “É
preciso pôr os museus a falar do presente e
explicar por que não se pode caçar po émons
em Auschwitz”.
Trazendo para nosso contexto, lembro
que os museus falarem sobre o presente, não
fugirem tanto das controvérsias e abrirem
discussões mais densas vai ser cada vez mais
difícil com um público que não cultiva a leitura,
a re exão, e talvez, daqui a uns anos, não terá
sequer tido aula de História no ensino médio.
Whitehead, ao abordar a maneira como diferentes países lidam com as feridas do passado,
ressalta as grandes diferenças de postura
entre eles em relação à revisão histórica de
genocídios e opressão, e à necessidade de
reconciliação:
“E os museus podem ser esse lugar onde se
pede desculpa pelo passado, algo que os países
não fazem oficialmente com facilidade. O que os
políticos precisam de perceber é que os museus
podem servir para estabelecer um compromisso
com a representação do passado tal como ele é
e não como preferíamos que fosse.” (Whitehead,
2016)
Eles também têm grande potencial e
responsabilidade para contar as histórias a
partir de muitas perspectivas e reconhecer
que há muitas leituras possíveis sobre qualquer acontecimento.
Na mesma entrevista, o professor reconhece que os museus se tornaram pouco
desafiadores do ponto de vista crítico, meio
preguiçosos ou pensando somente na experiência de lazer que podem oferecer o visitante:
“Muitos acham que as pessoas não querem ir
a um museu para serem confrontadas com as
18
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
coisas terríveis que vêem nas notícias.”
Vamos lembrar que há uma profunda
distorção no senso comum do que seja um
museu interativo, que se confundia sempre
com um sucessivo apertar de botões, e agora
evoluiu para toques em telas e sensores de
movimentos corporais. Tudo isto, entretanto,
não ultrapassa um nível muito básico de
interatividade, o hands-on. Na interatividade
minds-on há engajamento intelectual suscitando questionamentos e dúvidas, e as ideias
e pensamentos do visitante podem se modificar durante ou depois da visita. Finalmente,
na hearts-on há estímulo emocional, já que
a ideia é atingir a sensibilidade do visitante
(Wagensberg, 1998).
O museu querer se tornar o espaço
privilegiado da selfie, da caça ao po emon,
etc, atrai um bom público, e eles sabem que
são avaliados por estes números também. Mas
como espaço de conhecimento, de formação,
o que ganham os museus quando se deixam
dominar pelo império do efêmero, do espetacular, do re exo, e não da re exão
Considerações finais
Este texto buscou apresentar re exões
sobre a gestão de museus no século XXI com
enfoque principal nas tendências e desafios
postos para estas instituições, especialmente
os museus de pequeno e médio porte. Com
ele, pretendo apresentar alguns pontos de
vista segundo os quais os museus de médio
porte são os mais ameaçados por se encontrarem em uma posição dificilmente sustentável e que tende, apesar de seus esforços
para se tornarem grandes museus, identificá-los com os mesmos problemas dos pequenos
museus, mas talvez sem tanta aderência com
os desejos das comunidades do entorno como
os pequenos podem ter. Assim, é recomendável que os museus de médio porte façam
o quanto antes uma opção pela atuação mais
próxima da comunidade, em que possam
buscar respaldo e defesa nos momentos de
crise que venha a atravessar.
Os pequenos museus têm sido abordados cada vez mais em suas especificidades
por instituições como a American Association
of Museums, entre outras, e pela bibliografia
especializada. Entre estas posso sugerir a
leitura não somente dos documentos todos
disponíveis no site da AAM na página do
Comitê de Administradores de Pequenos
Museus (http://www.aam-us.org/about-us/
what-we-do/small-museums) mas também
de publicações como a série organizada
pela American Associationfor State and Local
istory (AAS ): The Small Museum Tool it.
Trata-se de uma série de 6 livros voltados
especialmente para pequenos museus, em
torno de temas como Governança, Recursos
financeiros, Gestão, Públicos, Interpretação
(Educação e Exposições) e Coleções.
Como esta produção ainda não está
disponível em português, tem pouca ressonância nos pequenos museus brasileiros, e um
esforço de tradução, adaptação à nossa realidade e ampla difusão aqui se faz vivamente
necessário.
Manuelina Maria Duarte Cândido
Gestão de Museus: O Museu do Século XXI
19
Referências:
American Association of Museums [AAM]. Small museums. Disponível online em http://www.aam-us.org/about-us/what-we-do/small-museums acesso em 02 de julho de 2017.
BERGERON, Yves. “Musées et muséologie: entre cryogenisation, ruptures et transformations”. In: MAIRESSE,
François (Dir.). Nouvelles tendances de la Muséologie. Paris: La Documentation Française, 2016. p. 229-246.
CHAGAS, Mário de Souza. “Memória e poder: dois movimentos”. In: CHAGAS, Mário de Souza; SANTOS, Myrian
Sepúlveda dos. Museu e políticas de Memória. Lisboa: ULHT, 2002, p. 35-67. (Cadernos de Sociomuseologia, 19)
GOMES, Lilian Alves. A peregrinação das coisas: trajetórias de imagens de santos, ex-votos e outros objetos de
devoção. Rio de Janeiro: Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017. (Tese de Doutorado em
Antropologia)
Instituto Brasileiro de Museus [Ibram]. Museus em Números. Brasília: Instituto Brasileiro de Museus, 2011.
PAMUK, Ohran. ICOM Milano 2016: Orhan Pamuk’s video on museums, July 4, 2016 Disponível online em https://
www.youtube.com/watch?v=BCdwSBepnSU. Acesso em 12 de fevereiro de 2017.
PAMUK, Ohran. A modest manifesto for museums. Disponível online em http://en.masumiyetmuzesi.org/
page/a-modest-manifesto-for-museums Acesso em 12 de fevereiro de 2017.
ROIGÉ, Xavier. “Les musées face à la crise économique ou les musées en crise? Défis et stratégies dans l ecas
de l’Espagne.” In: MAIRESSE, François (Dir.). Nouvelles tendances de la Muséologie. Paris: La Documentation
Française, 2016. p. 81-94.
STEEN, Laura; MARSAL, Baptiste. “Musées : la grande fracture entre gros et petits” In: Le Progrèss.fr. Disponível
online em: http://www.leprogres.fr/france-monde/2015/05/16/musees-la-grande-fracture-entre-gros-et-petits Acesso em 09 de outubro de 2015.
VAN MENSCH, Peter; MEIJER-VAN MENSCH, Léontine. New trends in museology. Celje, Slovenia: Musej Novejse
Zgodovine (Museumms of Recent History), 2011.
VAN MENSCH, Peter. Towards a methodology of museology. Zagreb, Croacia: University of Zagreb,1992. (PhD
Thesis)
WAGENSBERG, Jorge. “A favor del conocimiento científico (Los nuevos museos)” In: Revista Valenciana D’ Estudis
Autonômics, n. 23, Segundo Trimestre, 1998, p. 295-309.
WHITEHEAD, Chris em entrevista a CANELAS, Lucinda. “É preciso pôr os museus a falar do presente e explicar
por que não se pode caçar pokémons em Auschwitz”. In: Público, 6 de dezembro de 2016. Disponível online em
https://www.publico.pt/2016/12/06/culturaipsilon/noticia/e-preciso-por-os-museus-a-falar-do-presente-e-explicar-por-que-nao-se-pode-cacar-pokemons-em-auschwitz-1753719 acesso em 16 de fevereiro de 2017.
20
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
Coleções Museológicas e sua Conservação
Alba Tânia Rosaura Macedo1
A primeira Instituição Museal surgiu no
Brasil, na cidade do Rio de Janeiro em 6 de
junho de 1818 por Decreto Real de D. João VI,
inicialmente instalado no Campo de Santana.
Somente em 1892 o Museu Nacional
foi acomodado no Paço de São Cristóvão
na Quinta da Boa Vista, foi concebido para
propagar os conhecimentos científicos das
riquezas do Brasil, a cerca da natureza e da
riqueza antropológica entre outros. Hoje o
Museu também dedica-se a preservação da
memória científica e social no que diz respeito
a sua atuação baseada na investigação científica. O Instituto Arqueológico istórico e
Geográfico Pernambucano (Pernambuco),
também foi organizado em 1892. As demais
instituições são datadas do século XX, com
destaque para o MASP em São Paulo, Capital,
no ano de 1947 por seu acervo.
O Brasil é jovem em relação à conservação de sua história e cultura. O início do
movimento de preservação deu-se pelo
Decreto-Lei nº 25, de novembro de 1937, organizando e protegendo o patrimônio histórico
e artístico nacional. Somente na Constituição
Federal de 1988 foi consolidada esta proteção
com a legislação Magna nesse sentido.
O conceito de museu, já vastamente
difundido pelo estudo museológico, e segundo
a definição dada pelo ICOM (Conselho Internacional de Museus):
“O museu é uma instituição permanente
sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e
do seu desenvolvimento, aberta ao p blico, que
adquire, conserva, investi a, comunica e e p e o
patrim nio material e imaterial da humanidade
e do seu meio envolvente com fins de educação,
estudo e deleite.”( O
isponível em http
icom portu al.or
museu , cesso
definicao
.
Para o nosso estudo é preciso enfatizar
conceitos essenciais, para o desenvolvimento
desse artigo, as coleções propriamente ditas e
as várias formas de proteção destas.
Faz-se necessário também, compreender o conceito de acervo, que é o conjunto
de obras que fazem parte de um patrimônio
e patrimônio cultural é o conjunto de todos
os bens - materiais ou imateriais, que, pelo
seu valor próprio, devam ser considerados de
interesse relevante para a permanência e a
identidade da cultura de um povo.
1 Especialização em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis – CECOR/EBA -UFMG- MG; Especialização
em Cultura Material e Museus - Museu Antropológico - UFG; Licenciatura em Desenho e Plástica - Universidade Federal
de Goiás /UFG.
Alba Tânia Rosaura Macedo
A denominação de acervo é sempre
utilizada para indicar coleções de obras e bens
materiais, que compõem um patrimônio, não
importando se é um patrimônio público ou
privado. Há uma variedade de bens que são
denominados patrimônios, como: arquivísticos, arqueológicos, bibliográficos, artísticos,
históricos, documentais entre outros. Existem
também Museus em que o acervo é composto
por várias coleções heterogêneas, sendo eles
denominados como um Museu eclético, o
que indica que os objetos são estruturados
em variedades de suportes, assim como: a
madeira, tela, tecidos, cobre, papéis, plumarias,
cerâmicas entre outros.
Entre os vários cuidados para a preservação das coleções de acervos museológicos,
estão a conservação preventiva2 e conservação
curativa (restauração).
A conservação preventiva, dá-se de
forma indireta, identificando os agentes de
degradação adequando o local onde o bem
cultural se encontra, para prolongar a vida
dessas obras, desacelerando o seu processo
natural de degradação. Para isso, busca-se o
controle da luminosidade, da umidade relativa do ar, e da temperatura para que o acervo
mantenha - se estabilizado.
A conservação preventiva é de responsabilidade do proprietário do acervo, sendo
ele institucional ou privado, requerendo tão
somente a orientação de especialistas. Um
bom exemplo a ser citado são os efeitos da
umidade relativa do ar, que em excesso faz
com que os materiais se movimentem, promovendo o empenamento da madeira, formação
de mofo, apodrecimento da madeira e tecidos,
Coleções Museológicas e sua Conservação
21
proliferação de bactérias, amolecimento das
colas de maneira geral. Quando a umidade é
abaixo dos índices ideais, ocorre o ressecamento dos materiais, ocasionando rachaduras,
substâncias adesivas tornam-se quebradiças,
acelerando o processo de degradação das
obras, exigindo intervenção profunda.
Quando se trata de iluminação excessiva, o dano provocado é cumulativo e irreversível, para a proteção desses objetos, alguns
cuidados devem ser obedecidos, como: a
redução da luminosidade da edificação, sem
interferir na aparência do prédio, utilizando-se,
de persianas ou películas protetoras chamada
de insufilm, que tem validade de proteção definida pelo fabricante; também utiliza-se placas
sustentáveis de policarbonato com espessura
de 3 a 6 mm que limitarão a incidência de
luz solar sobre as coleções; ainda sobre as
conservação preventiva são os cuidados com
a segurança das peças: controle de acesso
pessoal, câmeras de segurança para vigília
em tempo integral, restrição rigorosa à reserva
técnica, com identificação, acompanhamento
e responsabilização dos autorizados a acessar
esse acervo acondicionado em local de alta
segurança. A conservação do acervo, envolve a
limpeza das peças, que pode ser feita por meios
mecânicos e químicos dependendo do estado
de sujidade da obra, por pessoal designado,
treinado e supervisionado por um conservador,
observando sempre que cada peça representa
parte insubstituível da história da coleção.
A conservação de cada peça exige
procedimentos específicos e adequados para
que a obra não seja danificada.
A base do trabalho de conservação e
2 Conjunto de medidas que visam conter a deteriorações de um objeto ou resguardá-lo de danos, através de levantamento,
identificação, estudo, diagnostico e controle de ameaças. Identifica-se com os trabalhos de intervenções técnicas e científicas, periódicas ou permanentes, repetidos ou continuados, aplicados diretamente sobre uma obra ou seu entorno, com o
objetivo de prolongar sua vida útil e sua integridade. (C AGAS, Mário de Souza e NASCIMENTO UNIOR, osé do, 200 p. 0).
22
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
restauro de acervos inicia-se com a observação
da obra analisando o processo de degradação
do objeto, bem como a aplicação de metodologias adequadas a intervenção quando
necessário.
A peça analisada, contará com uma ficha
de conservação/restauro3, para o desenvolvimento de estudo com a finalidade de identificar
as características da obra, tais como o suporte,
a técnica artística, estado de conservação,
autoria, datação, elaborando um diagnóstico
para a proposta de tratamento do objeto,
as técnicas da época em que foi concebida,
evidenciando eventuais intervenções e possibilitando formalizar uma melhor proposta de
preservação.
Assim, quando todas as medidas e
procedimentos para deter ou evitar o processo
de deterioração não alcançaram êxito para
preservar o bem cultural vem a intervenção
restaurativa, necessária para o salvamento da
obra, defendendo o princípio geral da mínima
intervenção.
A restauração segundo Cesare randi, (...)
restauração constitui o momento meto
dol
ico do reconhecimento da obra de arte na
sua consist ncia física e na sua d plice polaridade
estética e hist rica, com vistas
para o futuro. (
(
,
sua transmissão
,p.
”
Defende randi, que:
restauração deve visar ao restabele
cimento da unidade potencial da obra de arte,
desde que isso se a possível sem cometer um falso
artístico ou um falso hist rico, e sem cancelar
nenhum traço da passa em da obra de arte no
tempo”.(
,
, p.
.
Desde que concebeu tais axiomas, a
teoria de Brandi, é atual, respeitada e utilizada
no mundo todo.
A intervenção de restauro está implícito
no exame e no reconhecimento da necessidade,
exige um campo específico de conhecimento
multidisciplinar, quando se trata de limpeza em
nível de restauro, os produtos químicos a serem
utilizados, devem ter proporções adequadas
e precisas, sob pena de danificar irreversivelmente a superfície da obra. Logo, somente o
especialista em conservação e restauro, com
conhecimento aprofundado em química, é
autorizado a aplicar o procedimento.
Coleções
ateria
tno ráfico
As coleções etnográficas são constituídas por uma variedade de objetos, resultantes
da cultura material e imaterial e de diferentes
manifestações de caráter local ou regional, do
ambiente, das atividades doméstica, artísticas
de grupos de indivíduos. É grande a variedade
de materiais que compõe os objetos, exigindo
um estudo aprofundado de cada peça de forma
a não apagar, nos tratamentos de conservação
ou restauro, a informação que estes contem.
Os materiais empregados na confecção
desses objetos são de origem animal (couro,
penas, ossos) origem vegetal (palha, madeira
bambu, sementes). Esses materiais se
degradam com facilidade necessitando de
atenção especial para serem preservados.
3 A restauração é uma intervenção física que altera a matéria do bem cultural. É feita nas ocasiões em que o bem está
em risco de perder sua integridade – sua unidade histórica ou estética – mas ainda mantém uma legibilidade suficiente
(pois quando não resta ao bem legibilidade suficiente, este já é considerado como uma ruína). (C AGAS, Mário de Souza e
NASCIMENTO UNIOR, osé do,200 . p.1 ).
Coleções Museológicas e sua Conservação
Alba Tânia Rosaura Macedo
A conservação de materiais etnográficos é
fundamental, são fontes de informação, investigação e estudo para antropologia e outras
áreas.
Plumária
No Brasil, parte importante da expressão
artística é a arte plumária, que se manifesta de
formas diferentes, de acordo com a região do
país onde ela é desenvolvida. Especialmente
os índios brasileiros usam essa arte com frequência, tanto para indumentária de ornamentação, quanto para fins ritualísticos.
rte lum ria desi na um tipo de arte
feita e clusivamente com penas e plumas de aves.
ssa arte e
tica, repleta de simbolismo, foi e
continua sendo uma das criaç es estéticas mais
desenvolvidas pelas culturas indí enas, sobretudo
no rasil.”( odamateria, rte lum ria.
https
cesso em
isponível
.todamateria.com.br arte plumaria .
de a osto de
.
A matéria prima da arte plumária é
orgânica, sendo assim destacadas:
Penas: são retiradas das asas e da cauda
do pássaro Plumas: se localiza na costa e
no peito da ave Plumagem: encontra-se no
pescoço, nas costas e no peito das aves.
As principais fontes de degradação
da arte plumária estão relacionadas à sua
condição orgânica, como ataques de roedores,
insetos, fungos, bactérias, poeira, fuligem,
manuseio inadequado.
Sua manutenção depende de meio apropriado (controle da luminosidade, temperatura,
umidade relativa do ar), além de acondicionamento adequado. Quando a obra estiver fora
da exposição, deve permanecer em reserva
técnica, acondicionada com material apro
23
priado, com inspeção regular para verificação
de eventuais degradações também se for
necessário, utiliza-se pincel para (porcelana)
destinado a este fim exclusivamente, com
extrema delicadeza e com a atenção e cuidado
que o trabalho exige, uma vez que trata-se de
material extremamente frágil.
Madeira
Grande parte da conservação de acervos,
ancora-se na higienização adequada das obras,
por exemplo, a madeira, observe-se que ao
manusear uma escultura em madeira, na realidade, não é somente uma obra em madeira.
Ela é uma escultura, policromada e dourada,
portanto, exige tratamento adequado de higienização, tanto mecânica (trinchas macias), em
movimentos leves, cuidadosos, com exclusiva
atenção para a obra, observando sempre se
há alguma perda da policromia ou fragmento,
quanto química, sempre que a obra exigir. Os
intervalos de limpeza devem ser adequados à
preservação da integridade da peça.
Já a madeira de mobiliário, como uma
escrivaninha de época, deve ser limpa com
anela e recomenda-se encerada com cera
micro - cristalina.
Couro
O couro é um material utilizado tanto
em mobiliário cadeiras, poltronas, lombada de
livros, partes de vestuário, como sapatos. Mas,
para a higienização segue-se uma premissa de
cuidados especiais, como limpeza mecânica,
utilizando trinchas largas, médias ou pequenas,
dependendo da estrutura, limpeza química
feita por conservador.
24
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
Têxtil
Os têxteis são constituídos de materiais
base, como, por exemplo, linho, algodão, seda
e os sintéticos entre outros. Cada um exige uma
proposta de tratamento, mas, todos devem
ser acondicionados em local adequado, com
proteção específica, controlando a luminosidade, umidade e temperatura.
A limpeza integral da estrutura têxtil,
vestuário, indumentária, deve ser precedida de
análise de estado de degradação; a remoção
da poeira e sujidades em geral pode ser realizada usando aspirador de pó portátil, quando
em bom estado; trincha macia, adequada em
tamanho à estrutura a ser limpa e intervenção
com química, quando necessário. Quanto
ao manuseio e acondicionamento, como em
qualquer outra fase do trabalho deve haver
prudência principalmente com as peças mais
frágeis. Embalar a peça em papel de seda
especial sem coloração e alcalino, guardar em
caixas e gaveta com folga ou mapoteca. Os
têxteis nunca devem ser guardados em sacos
plásticos é recomendado que sejam acondicionados na horizontal. Para as peças de
vestuário, utilizar suportes apropriados como
manequins com ombreiras e cabides acolchoados e forrados com tecido de algodão ou
TNT.
Cada peça têxtil é um caso específico
devendo ser estudado isoladamente.
Causas prováveis da degradação é a
luz, que afeta não só os corantes e pigmentos,
mas também desencadeia o processo de
degradação estrutural das fibras, umidade
relativa, temperatura, poluição atmosférica,
micro-organismos e manuseio.
Cer
ica e idro
Cerâmica e vidro sua fragilidade é uma
característica bem conhecida. As quebras
ou danos significativos geralmente são
manuseio inadequado, descuido, limpeza
ou transporte dos objetos sem o apoio
necessário. Normalmente os objetos devem
ser organizados em prateleiras sem amontoá-los. A primeira ação pela qual as obras
devem passar é a higienização mecânica, o
processo consiste na retirada da poeira e de
partículas sólidas, realizado com pincéis de
cerdas macias.
Muitos objetos de coleção, tem base
em vidro, mas, ao contrário do que parece, o
vidro é uma substância em movimento, que
mais se parece com líquido super frio.
Com o passar dos anos, ele acumula-se
na parte mais baixa da obra, deixando a parte
superior muito mais fina e sujeita a acidentes.
Basta observar, por exemplo, vasos, taças,
copos, espelhos, luminárias e arandelas. O
manuseio deve ser com luvas de algodão,
sempre com foco dobrado no trabalho realizado, seja de limpeza, seja conservação.
Normalmente a limpeza do vidro com
água não é necessária. A limpeza é feita
em pequenas áreas, com algodão hidrófilo,
removendo os resíduos eventualmente
impregnados. A higienização dessas peças
deve ocorrer em intervalos de 2 a 3 anos,
sempre seguindo os procedimentos de
transporte, manuseio e segurança. Notadamente, não se higieniza mais que uma obra
por vez.
Alba Tânia Rosaura Macedo
Prata
Objetos em prata envolvem cuidado em
sua movimentação, tanto para movê-la, quanto
para erguê-la, devendo ser suspensa, sempre
em seu perímetro de maior dimensão, evitando-se erguer pelas alças, ou partes frágeis, já
que tem liga mole e passível de avaria tanto
podendo ser amassada, quanto entortada.
Obras em prata não devem ser tocados
com a mão livre, uma vez que a pele tem sal
e oleosidade naturais, que, quando em contato
com a prata, aceleram a formação de corrosão
e oxidação na superfície acelerando, também,
a degradação da peça. Para manuseio usam-se
luvas de algodão como protocolo. Normalmente, analisando a peça, opta-se pelo material
mais adequado à sua higienização, levando-se
em consideração a sujidade e a fragilidade da
peça.
Pintura
A pintura de cavalete dado à magnitude de sua abrangência, e expressividade,
demanda desdobramento próprio, com um
trabalho aprofundado.
Em uma abordagem superficial, sobre a
composição estrutural de uma obra tela, qual
seja, o chassi, o tecido, a base de preparação
da tela, e a camada pictórica que é a expressão
artística do autor.
A vida útil da obra artística está atrelada
à sua conservação. Caso ela, embora antiga,
tenha sido preservada de vandalismo, agentes
externos de degradação, intervenção inadequada ela acaba chegando aos tempos atuais
em bom estado de conservação. Mas, se pelo
contrário, ela sofrer as ações de degradação,
além da temporal, ela alcança a atualidade em
condições diferentes das primeiras, deman-
Coleções Museológicas e sua Conservação
25
dando cuidados especiais para sua preservação e prolongar a sua vida. Caso não receba
esses cuidados especializados, ela pode vir a
se perder.
Dentre as várias formas de expressão
artística, existem diferentes técnicas de pintura,
entre elas, destacam-se aquarela, guache,
sintética, óleo entre outros. As tintas a óleo têm
sido usadas principalmente, na Europa desde
o século XVII, constituída de uma mistura de
pigmentos em suspensão em um óleo secante
e sua viscosidade é alterada pela adição de
solvente, como a Terebentina, largamente
adotada a partir do século XIV como meio de
expressão artística, sua secagem lenta permite
misturar as diversas cores, obtendo inúmeras
tonalidades diferentes. Os pigmentos mais
comuns incluem sais minerais como certos
óxidos brancos, de zinco e titânio, óxidos
vermelhos, ferro ou cádmio; outra classe de
pigmentos incluem os pigmentos de argilas
naturais como o ocre ou terra de siena. Muitas
experiências ao longo do tempo foram feitas
para melhorar a tinta a óleo. As mais modernas
são feitas de óleos vegetais das plantas:
Vernonia, Calêndula, Euphorbia cujos óleos
ou aumentam a resistência ou diminuem do
tempo de secagem. Nesse período surgem
alguns dos maiores artistas conhecidos da
pintura clássica. Citando alguns: otticelli,
Leonardo da Vinci, Rafael e Michelangelo.
No Século XIX, com as grandes transformações da indústria (Revolução Industrial) nos
laboratórios, foram desenvolvidas variedades
de resinas fenólicas, esses novos materiais
ofereciam, menor tempo de secagem, maior
resistência à água, maior durabilidade e maior
resistência à radiação ultravioleta, gerando
novas opções de tintas, momento em que
aparecem as tintas acrílicas no mercado.
26
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
A obra de arte em tela, assim como as
demais, sofre as ações do tempo, bem como as
ações humanas e ambientais, sua preservação
está intimamente ligada à sua conservação. A
limpeza de uma obra artística pode ser superficial ou profunda, a limpeza superficial utiliza-se
de meios mecânicos, geralmente se inicia com
pinceis ou trincha bem macios, secos e limpos,
todas as sujidades, tais como poeira, teias de
aranhas, material particulado, excrementos de
insetos, traças encontradas nas superfícies e no
verso da obra, tudo isso após exame de estabilidade da camada pictórica. Jamais deve-se
utilizar materiais abrasivos ou espanadores,
enquanto que a limpeza profunda trata-se
da remoção de materiais gordurosos, ceras
antigas, goma laca, vernizes oxidados entre
outros, exigindo conhecimentos e critérios para
esse procedimento que é de competência de
profissional qualificado.
amoreira, c nhamo, restos de roupas, e outros
produtos que contivesse fonte de fibras ve etais.
ateu a massa até formar uma pasta, peneirou a
e obteve uma fina camada que foi dei ada para
secar ao sol.
bastante lucrativo. omente
palavra papel vem do latim pap rus e
faz refer ncia ao papiro, uma planta que cresce
nas mar ens do rio
ilo no
ito, da qual se
e traia fibras para a fabricação de cordas, barcos
e as folhas feitas de papiro para a escrita. uando
a escrita sur iu, h mais de
mil anos atr s, as
palavras eram inscritas em tabuletas de pedras
ou ar ila.
forma mais primitiva de escrita era
a cuneiforme. or volta de
a. ., os e ípcios
inventaram o papiro. (...
inalmente, o papel seria inventado na
hina
anos depois de
risto (d. . , por
sai
un. le fez uma mistura umedecida de casca de
uar
anos depois de
o papel ter sido inventado, os aponeses conhe
ceram o papel raças aos mon es budistas core
anos que l estiveram. (...
fibra ve etal que nos referimos antes
é
celulose, um dos principais constituintes da
plantas e um polímero formado de pequenas
moléculas de carboidratos, e
licose.
celulose
pode também ser usada para a fabricação de
tecidos quando e traída do al odão, c nhamo,
chita ou do linho. otencialmente, qualquer planta
produtora de celulose é fonte de matéria prima
para a produção de papel.” (http
Ori ami
Outra forma marcante de expressão
humana, é o papel. Capítulo a parte do cenário
cultural, merece estudo aprofundado, mas, em
linhas gerais,
técnica, no entanto, foi
dada a sete chaves, pois o comércio de papel era
unesp.br
Papel
epois de seca, a folha de papel
estava pronta
useu
scola
nsino
.ibb.
undamental
ocumentos indice ori ami papel.htm
O papel é material extremamente frágil
e sensível, merecendo cuidado redobrado
quanto à sua guarda, exigindo reserva técnica.
Mais que outros suportes, o papel exige cuidado
especial dentro da conservação preventiva, já
explicada anteriormente, sob pena de desaparecimento. São exemplos de estágios de
degradação do papel: ressecamento, manchas,
pontos escuros (foxing), causados por fungos
que decompõem a celulose produzindo
pigmentos que mancham profundamente o
papel, ataques biológicos, amarelecimento e
ação humana, por manuseio inadequado.
Ao receber uma obra em papel, após os
protocolos de recebimento e registro, o museu,
através da área técnica em conservação, faz
uma análise do estado de conservação do
objeto e quando necessário, fazer a higienização superficial mecânica, como: retirada
Alba Tânia Rosaura Macedo
de partículas sólidas, poeira, com o auxílio
de trincha 1 ½” e pinceis de cerdas macias.
Qualquer outra intervenção, exige pessoal
qualificado.
A proteção da obra em papel é feita
acondicionando-as, em papéis especiais que
envolvem a obra de forma a protegê-la do meio
em que se encontra, sendo, depois, guardadas
em mapotecas, em caixas especiais ou em
pastas especiais. Alguns materiais utilizados
em obras de papel são: os papéis neutros ou
alcalinos de várias gramaturas; papel japonês,
apropriado para interfolhamento e restauração filme de poliéster transparente – papel
vegetal fino, (melinex) transparente, utilizado
para a proteção de fotos, gravuras, ilustrações
de originais que se deterioram pelo manuseio;
folhas de poliéster (Mylar) pastas de poliondas
(branca ou transparente) TNT branco fitas
adesivas neutras, adesivo: acetato de polivinila, carboximetilcelulose (CMC)
Fornecedores importantes para a área
de conservação e restauro de papel são, entre
outros, World Paper, e Casa do Restaurador.
Entre as formas de proteção das obras
de arte em papel, destaca-se o passepartout,
que é o apoio de papel cartão, que fica entre
uma gravura e a moldura, consistente em uma
“janela” que distância a obra de arte do vidro
de exposição em uma distância entre 3 a 5mm.
Ele vai dar a distância entre o vidro e a obra
de arte, já que o papel não se adere à obra
(gravura, fotografia etc), ainda que sob altas
temperaturas e em condições de umidade
inadequada, diferente do vidro que se cola à
obra removendo a camada pictórica à qual se
aderiu.
Coleções Museológicas e sua Conservação
27
Conservador / Restaurador
O Conservador Restaurador é o profissional que atua na preservação e salvaguarda
dos bens culturais, da sociedade respeitando os valores artístico, histórico, estético,
científico, espiritual, documental e religioso,
exigindo desses profissionais responsabilidade moral e legal em relação à sua profissão,
ao público e a posteridade. A sua atuação são
sempre norteadas, pelos princípios técnicos
e éticos da profissão. A sua formação é multidisciplinar nas áreas de pesquisa científica,
história, química, biologia, fotografia e técnicas
artísticas entre outros.
Assim, concluindo que cada obra é
única em sua representatividade, cabe aos
profissionais de conservação, tanto os museólogos, engenheiros, arquitetos, arqueólogos,
historiadores, pessoal de apoio, químicos,
biólogos, quanto os conservadores e restauradores assim como o poder público a responsabilidade de garantir a transcendentalidade
da expressão artística entre as gerações
passadas e futuras, tudo para garantir a
memória de um povo, de uma época, de uma
nação. Não se pode conhecer o futuro, se o
passado e o presente perderem-se no tempo,
deixando órfãos os futuros habitantes que
herdarão tão somente o pó da arte produzida
anteriormente.
28
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
Figura 1 - Papel com manchas denominadas “foxing” Imagem retirada da Internet.
Acesso: 2
0
201 .
Coleções Museológicas e sua Conservação
Alba Tânia Rosaura Macedo
29
Referências:
BURKE, Robert B. - Manual de Segurança básica em museus - Rio de Janeiro, Agir, 1996;
MARABILI, Antônio - A reserva técnica também é museu - Boletim Eletrônico ABRACOR, nº1, junho 2010, pág.
4 a 9;
MELLO, Vinícios - As formulações de tintas expressivas através da história (Revista virtual de química - 2012
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DORNELLES, Kelen Almeida - Absortância solar de superfícier opadas: Métodos de determinação e base de
dados para tintas látex acrílica e pva - 2008;
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Museums, Libraries and Archives Counsil. Tradução: Maurício O. Santos e Patrícia Souza - São Paulo - Ed. USP
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o Vitae,
volume
The Council for Museum, Archives And Libraries – Paramêtros para a conservação de acervos. Maurício O.
Santos e atrícia Sou a S o aulo Ed.
S
unda
o Vitae,
volume
CALABRESE, Omar - Arte e Percepção visual - São Paulo, Pioneira, 1994.
30
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
Conservadora e restauradora Alba Macedo ministrando a “Oficina
de Conservação em Acervos de Museus” no MUZA - Museu Goiano
Professor oroastro Artiaga. Foto: Equipe MAC - GO.
Tânia Mendonça
useus
esafios e ossibilidades políticas p blicas para
a
31
usealização do atrim nio ultural de oi s
Museus - desafios e possibilidades:
Políticas públicas para a Museali a ão
do Patrimônio Cultural de Goi s
Tânia Mendonça1
Resumo
Este artigo pretende contribuir para a
compreensão de que a (re)construção e (re)
implantação de políticas públicas para as
instituições museológicas, desde que fundamentadas nos princípios e técnicas da museologia, fortalecem os museus, os habilitam e
habilitam seus profissionais a romper desafios
financeiros e burocráticos e lhes fortalecem
para combater os males da vulnerabilidade,
da acomodação e do determinismo. A partir
da experiência profissional, da formação
acadêmica e do projeto Circuito Cultural Praça
Doutor Pedro Ludovico Teixeira (Praça Cívica),
a autora apresenta os caminhos percorridos
para a construção da proposta de uma política
pública para os museus estaduais goianos.
Palavras-chave: circuito cultural, gestão,
projetos museológicos.
Introdução
O Centro da questão: Circuito Cultural
Praça Cívica é adiado por falta de recursos.
Integrante de projeto de ocupação da região
central de Goiânia projeto ambicioso previa a
transformação de prédios históricos em museus e
unidades culturais.” (FERREIRA, Clenon. O Centro
da questão. O POPULAR. Goiânia Goiás, 24 jun.
2018. Magazine, p.M6-M7.)
A matéria de capa do Jornal o Popular
do dia 24 de junho de 2018 foi incisiva: não
só remetia para o passado o Circuito Cultural
Praça Cívica de Goiânia como arremessava
sobre o projeto um balde de água fria, como
diria o ditado popular.
No entanto, na mesma matéria, quatro
dos cinco candidatos às eleições de 2018 ao
governo do Estado ouvidos pelo jornalista sinalizaram a possibilidade de viabilizar o projeto.
1 Tânia Mendonça é doutora em Museologia pela Universidade Lúsofona de Humanidades e Tecnologias (2012). Possui
graduação em Jornalismo (1977) e Especialização em Museologia pela Universidade Federal de Goiás (2001).
32
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
E é aí, o ponto crucial: o projeto se ajusta
à conjuntura política, social e econômica que os
novos governantes terão à sua frente em 2019?
E, se for implantado o Circuito, o Estado terá
como realizar a manutenção sistemática dos
espaços Como se justifica a criação de novos
espaços museais na Praça Cívica, sendo que
os museus públicos já existentes apresentam
carências de toda a ordem, especialmente do
ponto de vista museológico?
Todas essas questões já haviam sido
formuladas em junho de 2017, na conferência
proferida durante o Ciclo de Estudos O Museu
e seus saberes, organizado pelo Museu de Arte
Contemporânea de Goiás. E naquele momento
já havíamos caminhado na re exão de que o
Circuito Cultural Praça Cívica não é um espetáculo que inebria com o abrir das cortinas e
que nostalgia com o fechar das mesmas. Nem
é somente um projeto arquitetônico de restauração e de requalificação de prédios históricos.
Embora reconheçamos a importância dos
espetáculos de arte e das obras de restauro
para o patrimônio edificado, o Circuito Cultural
é muito mais do que isso.
Entendemos o Circuito como um projeto
que abrange a musealização dos espaços
físicos e dos acervos materiais e imateriais existentes sob a guarda do Estado. É uma conjunção
de práticas, de forma que as instituições se
tornem espaços museais vivos, acessíveis e
compatíveis para o exercício compartilhado da
pesquisa, da preservação e da comunicação,
espaços participativos, de interação do público
com o museu, promovendo o diálogo entre a
edificação, os acervos e as novas exigências
museológicas.
Nesse contexto, a musealização do
patrimônio cultural constitui-se através de
processos que estimulam o conhecimento,
a emoção, os sentidos e a memória de quem
com ele é confrontado. O discurso do museu se
liberta das amarras das coleções em favor do
entendimento das pessoas que as envolvem e
dos espaços que as abrigam.
Os estudos de M. C. T. M. Santos (1993),
sobre os conceitos de patrimônio, museu e
museologia foram fundamentais no processo
Figuras 1 e 2 - Circuito Cultural Praça Cívica em debate no Ciclo de Estudos O Museu e seus saberes, organizado pelo
MAC|Goiás em 23 de junho de 2017. Foto: Divulgação MAC|Go.
Tânia Mendonça
useus
esafios e ossibilidades políticas p blicas para
a
construção do Circuito Cultural Praça
Cívica. Santos (1993) alerta sobre a importância
da nova compreensão e relação do museu com
a sociedade e destaca que de sujeito contemplativo e passivo diante das coleções intocáveis, o visitante do museu contemporâneo é
instigado a definir, junto com a instituição, o
que preservar e como preservar, num processo
dialógico permanente.
Para isso, é necessário que os responsáveis pelos museus estejam dispostos a serem
mais sensíveis, mais criativos e menos burocráticos; mais ousados, mais destemidos e menos
enquadrados e passivos. Alguns aspectos
levantados por Santos (1996b), a partir de
projetos desenvolvidos no Curso de Museologia da Universidade Federal da Bahia [UFBA]
contribuíram para o entendimento de como e
em que condições acontecem as aplicações
das ações museológicas:
usealização do atrim nio ultural de oi s
de que é necessária uma nova postura museológica, comprometida com a transformação e com
o desenvolvimento social; h) o incentivo para que
o cidadão, desde sua formação básica, possa: ver
a realidade; expressar a realidade, expressar-se e
transformar a realidade.” (M. C. T. M. Santos, 1996,
p. 113).
Santos (1996) ainda alerta sobre a grande
responsabilidade dos profissionais de museus
no sentido de promover ações de participação do indivíduo na preservação de seus
bens culturais aproveitando as oportunidades
oferecidas mesmo que venham da hegemonia
do Estado. Sugere ainda a revisão dos currículos dos cursos de Museologia de forma a
se voltarem para a formação de profissionais
comprometidos:
(...) não com a burocracia das instituições
e com a preservação de coleções para serem
a) o entendimento de que a cultura é um
simplesmente armazenadas, como se os museus
processo social de produção, ao invés de um “ato
fossem grandes “silos”, mas, formando o técnico
espiritual”, expressivo ou criativo; b) a utilização a
comprometido com os diversos segmentos da
memória coletiva como referencial básico para o
sociedade, principalmente os que até o presente
entendimento e transformação da realidade; c) o
momento foram alijados e não usam as produções
incentivo à apropriação e reapropriação do patri-
culturais.” (M. C. T. M. Santos, 1993, p. 60).
mônio e para que a identidade seja vivida, na pluralidade e na ruptura; d) a utilização da memória
preservada, testemunho da História, entendida
como forma de existência social, nos seus diversos
aspectos: social, político, econômico e cultural,
bem como o seu processo de transformação,
contribuindo para a formação do cidadão; e) o
desenvolvimento de ações museológicas, considerando como ponto de partida a prática social
e não as coleções. Estamos nos afastando dos
objetos e nos aproximando da vida; f) a execução
de atividades nas quais a relação homem-natureza se dá de forma integrada. Homem e natureza
se completam, reciprocamente; g) a consciência
33
Nesse raciocínio, entendemos que o
Circuito Cultural Praça Cívica é resultado da
junção de dois fatores: das oportunidades
para a formulação de políticas públicas para a
musealização do patrimônio que foram oferecidas pelo governo estadual na gestão 20152019 e das oportunidades aproveitadas pelos
gestores e profissionais dos setores da cultura
e do patrimônio do Estado.
O exercício para a musealização do
Circuito Cultural foi então construído a partir do
entendimento de que a preservação do patrimônio deve ser orientada a partir da construção
34
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
e da reconstrução de valores do passado, da
participação da comunidade nas decisões, da
interferência dela na realidade e no presente.
O Circuito pretende que a comunidade
não fique passiva, sem sequer entender o que
está acontecendo. Para que isso não aconteça, tomou-se o cuidado de chamá-la para
analisar, questionar e contribuir para o que
o Estado propõe. A equipe passou o primeiro
ano de trabalho apresentando a ideia, através
de publicações, participações em seminários, matérias na imprensa local, produção de
revista, exposição, vídeo, visitas a possíveis
instituições parceiras, etc.
Dessa forma, mesmo que este ou aquele
governo não o coloque em prática ou o coloque
no todo ou em partes, o Circuito Cultural é uma
proposta de política pública construída (e ainda
em construção) em bases museológicas estruturadas em diagnósticos, estudos, pesquisas e
projetos compartilhados. E por isso, consideramos que ele veio para ficar. Cabe à comunidade museológica dar prosseguimento às
análises e fundamentações, cabe ao Estado
fomentar os ajustes e buscar a melhor forma
de viabilização financeira e sustentável.
Experiência
bem-sucedida
nesse
processo de reunir diferentes instituições num
mesmo propósito cultural aconteceu em Belo
Horizonte: inaugurado em 2010, o Circuito
Cultural Praça da Liberdade conta com 14
instituições, entre museus, centros de cultura e
de formação, sendo que sete são geridas diretamente pelo Governo do Estado e as demais
funcionam por meio de parcerias público-privadas ou parcerias com instituições públicas
federais. Foi criado com o objetivo de explorar
a diversidade cultural em uma área de grande
valor simbólico, histórico e arquitetônico da
capital mineira.
Embora tenha enfrentado problemas de
gestão e de falta de recursos, o que impediu
que todos os edifícios e acervos fossem musealizados, o Circuito tem conseguido se firmar
como centro de referência cultural da cidade.
A questão que deve ser encaminhada
com cuidado é o envolvimento da comunidade.
No caso do Circuito Liberdade, três anos depois
de inaugurado, uma pesquisa revelou que a
cidade ainda desconhecia o espaço.
A pesquisa realizada pelo Instituto Vox
Populi ouviu mil pessoas. O objetivo foi avaliar
o conhecimento, as percepções e opiniões da
população sobre o projeto do Circuito Cultural
da Praça da Liberdade. Além disso, foram investigadas a importância da ação para Belo Horizonte,
o reconhecimento da marca e o que as pessoas
esperam de um circuito com aquelas características. Somente um terço dos entrevistados acertou
o nome do lugar e 67% dos pesquisados só o
estavam ouvindo no momento da entrevista. Não
é difícil encontrar, na própria Praça da Liberdade,
quem desconheça a proposta, tampouco quem
reclame da falta de divulgação e da sinalização
adequada das atividades dos museus e centros
culturais. (REIS, Sérgio R. Título: Pesquisa revela
que Circuito Cultural da Praça da Liberdade
ainda é pouco conhecido em BH. Apenas um
terço dos entrevistados acertou o nome do local.
Público cobra maior divulgação sobre as atividades desenvolvidas nos espaços. 27 fev.2013.
Disponível em https://www.uai.com.br/app/noticia/e-mais/2013/02/27/noticia-e-mais,140699/
pesquisa-revela-que-circuito-cultural-da-praca-da-liberdade-ainda-e-po.shtmlos. Acesso em: 14
agos.2018).
O desconhecimento por parte da comunidade re ete a ineficácia ou a inexistência
do diálogo no processo de comunicação. No
caso do Circuito Liberdade, houveram várias
Tânia Mendonça
useus
esafios e ossibilidades políticas p blicas para
a
ações de divulgação desde o início de sua
construção. Mas para além da divulgação, o
diálogo foi exercitado? Será que a comunidade foi ouvida quanto ao que gostaria de
ver instalado no Circuito? A pesquisa de 2013
re ete que os jovens, por exemplo, não foram
ouvidos. A ausência de ações musicais era a
maior reclamação deles. Ausência que as instituições trataram de suprir ao longo dos anos.
Atualmente, a programação musical abrange
semanalmente diversos edifícios da Praça ao
mesmo tempo.
35
usealização do atrim nio ultural de oi s
Além das experiências bem e mal sucedidas
do Circuito Liberdade de Belo Horizonte e de
outros processos museais pesquisados em
outras cidades brasileiras, como São Paulo, Rio
de Janeiro, Porto Alegre e Salvador, o Circuito
Cultural Praça Cívica re ete também o aprendizado adquirido nos quatro anos de doutoramento na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa e a experiência
da autora na área de gestão museal adquirida
ao longo de vinte anos à frente de dois museus
Figura 3 . Em busca de novas experiências: equipe do Circuito Praça Cívica realiza visitas técnicas aos museus e outras
instituições integrantes do Circuito Liberdade de Belo Horizonte e ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico
de Minas Gerais, o Iepha (mai. 2016). Foto: divulgação Circuito. Figuras 4 e 5 - visita técnica ao Circuito Cultural São Paulo
(fev.2016) e reunião com diretor do Museu do Amanhã do Rio de Janeiro, Ricardo Piquet . Foto: divulgação Circuito.
36
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
públicos goianos – o Museu da Imagem e do
Som e o Museu de Arte Contemporânea, de
1998 a 2014 – e da Superintendência de Patrimônio Histórico e Artístico do Estado, nos anos
de 2008 a 2010 e 2015 a 2017.
O propósito de apresentar aqui o processo
de construção de uma política pública para os
museus estaduais goianos é relevante diante
da constatação de que embora esses museus
tenham sob sua guarda coleções representativas sobre a história de Goiás, essas ainda
estão silenciadas nas reservas técnicas e/ou
integram de forma inadequada os espaços
expositivos. Outra constatação é que as novas
tecnologias propostas para o Circuito Cultural,
se utilizadas na medida certa, estimularão o
diálogo das coleções com o público.
Programas e Projetos Construídos
As re exões sobre o Circuito começaram em 2015, após o convite do secretário
de cultura Aguinaldo Caiado Aquino Coelho
e, posteriormente, reforçado pela secretária
Raquel Teixeira (quando da fusão das secretarias de Educação, Cultura e Esporte) para
que a autora assumisse a Superintendência de
Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria
de Educação Cultura e Esporte (SEDUCE). A
proposta trabalhada inicialmente era a formulação de um projeto de requalificação para os
museus estaduais goianos. Convidado para
integrar a equipe, o arquiteto Marcílio Lemos
ampliou a abrangência do projeto, sugerindo
e idealizando a criação de um Circuito. A
sugestão foi acatada transformando o projeto
em Circuito Cultural Praça Dr. Pedro Ludovico
Teixeira (Praça Cívica).
Fundamentada pelo doutorado, pelos
desafios trilhados nos museus estaduais,
pela parceria bem sucedida desde 2010 com
o arquiteto Marcílio Lemos2, nos projetos de
musealização e de revitalização dos museus
estaduais e de outros projetos realizados em
conjunto no Museu de Arte Contemporânea, a
autora, juntamente com Lemos e os arquitetos
Solange Santana e Renata Barros, os historiadores Keith Tito e Lucas Fonseca, o engenheiro
Carlos Eduardo Dantas e a jornalista Virgínia
Daumas (técnicos da Superintendência e do
Núcleo de Obras) iniciaram o processo de
estudos para formulação do Circuito. Em março
de 2016, a educadora e jornalista Cecy Aparecida Curado Moraes3 foi convidada e passou a
integrar a equipe.
Em maio de 2016 com o projeto delineado, era o momento de apresentá-lo ao
governador. Entusiasmado com a ideia de
transformar a Praça em espaço exclusivo de
preservação e comunicação do patrimônio
cultural, o governador aprovou a proposta
do Circuito e o integrou a dois programas do
2 Marcílio Lemos é arquiteto pela PUC-Goiás (1992). É Superintendente de Preservação do Patrimônio Cultural do Estado
de Goiás. Atua na área de projetos residenciais, comerciais, patrimoniais e expográficos. Foi responsável pelos projetos
arquitetônicos do Grupo de Revitalização de Museus do Estado de Goiás (2009-2010), pela readequação do espaço expositivo do Parthenon Center do MAC|Goiás, pela revitalização do Palácio das Esmeralda. Elaborou e coordenou os projetos
de restauro do Palácio Conde dos Arcos da Cidade de Goiás, do Museu Ferroviário de Pires do Rio na cidade de Pires do
Rio. Atuou no desenvolvimento e execução dos projetos do Centro Cultural Oscar Niemeyer desde sua criação. De 2011 a
201 , atuou como arquiteto responsável pelos projetos de expografia e museografia do Museu de Arte Contemporânea de
Goiás. De 2015-2017 foi chefe do Núcleo de Obras e Recuperação do Patrimônio.
Cecy Aparecida Curado Moraes é graduada em Filosofia da Educação (PUC Go), Comunicação Social – Publicidade e
Jornalismo (UFG|Go) e Arte Educação (EBA|Rio de Janeiro). É especialista em Psicologia da Educação do pre-adolescente
(UFG|Go), organizadora e primeira diretora da Escola de Arte Veiga Vale (ITEGO\Basileu França)
Tânia Mendonça
useus
esafios e ossibilidades políticas p blicas para
a
Plano Plurianual (PPA) do Governo do Estado
de Goiás: o Programa de Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico Material e Imaterial
e o Programa de Reformas, Restaurações,
Construções, adequações e aquisições de
mobiliário e equipamentos (identificados pelas
numerações 2189 e 2382 respectivamente)4.
O Circuito Cultural foi criado com o objetivo de promover e garantir a preservação, a
musealização e a fruição do patrimônio cultural
da Praça Cívica e despertar a comunidade para
o sentido de pertencimento daquele espaço,
que está na memória do goianiense e que foi,
no passado, palco de entretenimento, lazer e
sonhos dos que ali viveram e conviveram.
Os objetivos específicos são: a) promover
a preservação, a pesquisa e a comunicação
dos acervos e dos edifícios instalados na
Praça Cívica; b) promover a modernização
dos espaços expográficos com instrumentais
de tecnologia e interatividade; c) promover a
informatização do acervo, com a aquisição de
equipamentos e implantação de sistema de
gestão de acervo e de site para consulta; d)
promover a integração das outras instituições
culturais privadas, estaduais e municipais localizadas no entorno da Praça Cívica, tais como,
o Museu Pedro Ludovico, o Instituto Histórico
e Geográfico de Goiás, a Academia Feminina
de Letras e Artes de Goiás, o Instituto Bariani
Ortencio, a Academia Goiana de Letras, a Casa
Altamiro de Moura Pacheco, a União Brasileira
de Escritores; e) promover ações educativas
compartilhadas entre os espaços museológicos da Praça Cívica, as escolas públicas e
privadas, universidades, associações repre-
37
usealização do atrim nio ultural de oi s
sentativas da comunidade; f) promover ações
educativas e de comunicação, envolvendo a
comunidade acadêmica, técnica e o público
em geral, desde o restauro dos edifícios, até a
instalação dos espaços expositivos e a conservação dos acervos sob a guarda dos museus
localizados na Praça; g) implantar o projeto
Canteiro Cultural que prevê visitas mediadas
ao canteiro de obras dos edifícios durante todo
o processo de construção do Circuito Cultural.
Interrompido em junho de 2018 por falta
de recursos, o Circuito já se encontrava na fase
de licitação dos projetos de musealização e
de licitação das obras dos projetos arquitetônicos. Foram quase dois anos dedicados
aos estudos, re exões compartilhadas, aos
processos de diagnóstico, criação, contato
com empresas especializadas, orçamentos,
seleção de propostas e formulação dos termos
de referência.
Os recursos financeiros, autorizados
pelo governador em maio de 2016, também já
estavam definidos que viriam através do Fundo
de Arte e Cultura de Goiás, da Lei Goyazes de
Incentivo a Cultura, além de parcerias com a
iniciativa privada e com instituições públicas
nacionais como o Ministério da Cultura, através
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN), do Instituto Brasileiro de
Museus (IBRAM), dentre outras.
O Circuito prevê quatro linhas de ação:
a) a musealização (pesquisa, preservação e
comunicação) dos acervos e das edificações
localizados na Praça, b) o restauro e requalificação de seis edifícios, c) a constituição
de corpo técnico efetivo e qualificado e d) a
4 Os programas estão estabelecidos no Plano Plurianual (PPA) 2015-2019. O PPA previsto no artigo 165 da Constituição
Federal e regulamentado pelo Decreto 2.829, de 29 de outubro de 1998 é um plano de médio prazo, que estabelece as
diretrizes, objetivos e metas a serem seguidos pelo governos federal, estadual e municipal ao longo de um período de
quatro anos.
38
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
sustentabilidade/fonte de recursos.
Os seis edifícios compreendem a antiga
Chefatura de Polícia, previsto para ser ocupada
pelo Museu da Cidade; a Procuradoria Geral do
Estado, que abrigará o Museu Casa Goyaz; o
Palácio das Esmeraldas, que terá o piso térreo
musealizado; o Centro Cultural Marieta Telles
Machado que abrigará o Museu da Imagem e
do Som, o Cine Cultura, o Festival de Cinema
e Vídeo Ambiental, o FICA, auditório e sala de
espetáculos; o Tribunal de Contas do Estado,
que será ocupado pelo Arquivo Histórico Estadual e o Museu Estadual Professor Zoroastro
Artiaga que será revitalizado. Os espaços serão
interligados pela Alameda Cultural, uma via
para o percurso dos visitantes, que perpassará
por todos os edifícios.
Re etindo sobre a precariedade das
ações museológicas dos outros museus estaduais, a equipe do Circuito Cultural analisou
uma forma de envolver todos os museus
estaduais, mesmo os não localizados na Praça.
Dessa re exão, decidiu-se que os projetos
museológicos de pesquisa, de documentação,
de higienização, de desinfestação e de restauração dos acervos, de exposição, e de comunicação envolvam, não somente os museus,
arquivo e bibliotecas situados na Praça Cívica,
mas os museus estaduais localizados no
entorno da Praça (Museu Pedro Ludovico) e
fora dela (Museu de Arte Contemporânea), e
ainda os museus estaduais das cidades de
Pires do Rio (Museu Ferroviário) e de Goiás
(Museu Palácio Conde dos Arcos). A estratégia
garantirá que a aplicação de recursos beneficie
todas as instituições museológicas estaduais
de forma mais racional e mais articulada.
Ações de pesquisa, preservação e
comunicação
No processo de construção do projeto,
a equipe assumiu o comprometimento de
que os desafios que se depararia pela frente
seriam tratados com técnica e profissionalismo,
mas, acima de tudo, com sensibilidade para
perceber, ouvir, compartilhar e agir com equilíbrio para as tomadas de decisões necessárias.
E foi com esse comprometimento que,
em outubro de 2015, deu-se início às ações de
pesquisa e comunicação sobre a origem dos
edifícios e suas ocupações, e o uso da Praça
pelos moradores da cidade no decorrer das
décadas. O propósito era apresentar a ideia
à comunidade para instigá-la à re exão e ao
debate, de forma que contribuísse no processo
de transformação daquele espaço. Os levantamentos preliminares resultaram na produção
de diferentes processos de comunicação, tais
como, painéis, exposição, vídeo documentário
e uma revista.
Foram produzidos grandes painéis, cada
um apresentando um edifício e as propostas de
transformação, e colocados na Praça Cívica, de
frente ao Palácio das Esmeraldas, para sensibilizar e informar as pessoas que por ali circulam
sobre o projeto. Reforçando o conteúdo dos
painéis, foi também produzida uma revista
impressa e um vídeo documentário com os
resultados da pesquisa historiográfica.
O Museu da Imagem e do Som organizou
a exposição Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira
Através da Imagem com catálogo sobre o
tema. Foram mais de quarenta imagens da
Praça no período de 1930 a 1980 registradas
por fotógrafos pioneiros. Além da exposição,
o MIS|GO, através do Núcleo de Ação Educativa, programou uma série de atividades, entre
palestras, visitas mediadas à exposição e
oficinas para envolver o visitante com o diálogo
e a prática da fotografia.
Tânia Mendonça
useus
esafios e ossibilidades políticas p blicas para
a
39
usealização do atrim nio ultural de oi s
Fotos 6,7,8 e 9: painéis explicativos instalados na Praça Cívica e no hall do Museu Palácio Conde dos Arcos na cidade de
Goiás e capa da Revista Cultural Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira. Fotos: Marcílio Lemos.
40
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
A exposição foi tão bem recebida, que foi
transformada em exposição de longa duração
e permanece até hoje na sala de exposição do
museu.
Esse conjunto de ações de pesquisa e
de comunicação foi lançado durante um sarau
ao ar livre na Praça. Um momento de poesia,
música, lembranças e nostalgia que envolveu
a todos que ali estiveram. Os depoimentos dos
goianienses que viveram a Praça nas diferentes
décadas estimulou a equipe a promover novos
encontros como aquele.
O projeto foi debatido em reuniões na
Universidade Federal de Goiás, na Caixa Econômica Federal, na Secretaria de Meio Ambiente,
Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e
Assuntos Metropolitanos (SECIMA), no Ministério da Cultura, no Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN),
no Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)
e no Conselho Estadual de Cultura.
O Circuito foi apresentado também para
arquitetos e empresários do Fórum Empresarial de Goiás durante seminário promovido pela
SECIMA. A agenda previa até o final de 201
que fossem realizadas rodas de conversa com
os diferentes segmentos representativos da
comunidade. Com o adiamento do projeto, a
agenda foi interrompida.
Compreendendo as ações de comunicação como as diferentes formas de diálogo
com o público e o usuário dos espaços museológicos e compreendendo que de nada adianta
as instituições preservarem as riquezas e
preciosidades do patrimônio cultural mantendo-as distantes da comunidade, o Circuito
Cultural prevê outras formas de diálogo, a
saber: exposições Itinerantes nos bairros de
Figura 10 - exposição Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira Através da Imagem. Foto: divulgação Circuito.
Tânia Mendonça
useus
esafios e ossibilidades políticas p blicas para
a
Goiânia e entorno e diferentes regiões do
Estado; programas de ação educativa; publicações sistemáticas requalificação da exposição
de longa duração do Museu Goiano Professor
Zoroastro Artiaga; criação, produção e implantação de uma exposição de longa duração e
uma exposição temporária para os museus,
garantindo o acesso da comunidade às coleções e aos espaços públicos, de forma que
eles se transformem não somente em espaços
de guarda, mas, também, de educação, de
interação, de construção do conhecimento e
de cidadania.
Integrados às ações de pesquisa e
comunicação, foram desenvolvidos projetos
específicos para atender às necessidades de
gestão e de preservação dos acervos sob a
guarda dos museus – conservação, pesquisa,
documentação, informatização e gestão.
Nesse sentido, foram delineados os
projetos: a) Desinfestação dos acervos e dos
edifícios; b) Conservação dos acervos dos
museus- higienização, documentação informatizada e digitalização; c) Construção dos Planos
Museológicos dos museus; c) Digitalização e
informatização em banco de dados do acervo
do Arquivo Histórico Estadual; d) Aquisição
e instalação de arquivos deslizantes para as
reservas técnicas dos museus, das bibliotecas
Braille e Pio Vargas e do Arquivo Histórico Estadual. Esses projetos resultaram em termos de
referência que, até o início deste ano, encontravam-se em andamento na Superintendência
Financeira da Secretaria de Educação, Cultura
e Esporte.
O Circuito ainda prevê a elaboração
da proposta de realização de concurso
público para o setor de cultura e patrimônio,
41
usealização do atrim nio ultural de oi s
abrangendo as áreas da museologia, conservação e restauro, artes visuais, história, arte-educação, arquivologia, biblioteconomia,
arqueologia, antropologia, cargos administrativos, dentre outros; formação e capacitação
de profissionais que trabalham nos museus
estaduais.
uanto ao restauro e requalificação dos
edifícios (novo uso), os projetos se encontravam
em fase de licitação das obras quando o Circuito
foi adiado. Foram elaborados pelo Núcleo
de Obras e Recuperação do Patrimônio (hoje
Superintendência de Preservação do Patrimônio Cultural) atentando-se para o retorno
às características originais do estilo art déco;
a requalificação das áreas externas, incluindo
anexos e elevadores externos e acoplados ao
edifício original para atender à demanda de
salas mais amplas e à funcionalidade e modernidade dos espaços museológicos contemporâneos; introdução de elementos internos e
externos para atender a todos os parâmetros
de acessibilidade e segurança dos edifícios, tais
como, rampas de acesso, elevadores internos,
portas contra incêndios, dentre outros.
Desde o início de 2016, arquitetos e engenheiros do Núcleo de Obras e Recuperação
do Patrimônio trabalharam ouvindo os profissionais dos museus e da Superintendência de
Patrimônio de forma a atender às necessidades
específicas das instituições museológicas
cujos edifícios vão ser requalificados: a sede
da antiga Chefatura de Polícia, a Procuradoria Geral do Estado de Goiás, o Palácio das
Esmeraldas, o Centro Cultural Marieta Telles
Machado, o Tribunal de Contas do Estado e o
Museu Estadual Professor Zoroastro Artiaga.
42
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
Figura 11: Palácio das Esmeraldas terá o piso térreo musealizado. Foto: Mundim.
Figura 12: Museu Estadual Professor Zoroastro Artiaga: reserva técnica, laboratório, biblioteca e exposição de longa
duração serão revitalizados. Foto: Marcílio Lemos.
Tânia Mendonça
useus
esafios e ossibilidades políticas p blicas para
a
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usealização do atrim nio ultural de oi s
Figura 13: Centro Audiovisual Marieta Telles Machado: o espaço abrigará o Museu da Imagem e do Som, o Festival de
Cinema e Vídeo Ambiental e o Cine Cultura ampliados e revitalizados. Foto: Marcílio Lemos.
Figura 14: sede atual da Procuradoria Geral do Estado será transformada na futura sede do Museu Casa Goyaz e das
Bibliotecas Pio Vargas e Braille. Foto: Marcílio Lemos.
44
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
Figura 15: antiga sede do Tribunal de Contas do Estado será a futura sede do Centro de Documentação do Estado.
Foto: Marcílio Lemos.
Figura 16 antiga sede da Chefatura de Polícia abrigará o novo Museu da Cidade. Foto: Marcílio Lemos.
Tânia Mendonça
useus
esafios e ossibilidades políticas p blicas para
a
Considerações Finais
As novas práticas museológicas de
pesquisa, de preservação e de comunicação
nos levam a considerar que o Circuito Cultural
Praça Cívica poderá vir a ser um projeto desafiador para os novos governantes a partir de
2019. Isso porque o conjunto da Praça com
os seus edifícios e os acervos musealizados
atenderão a uma cidade carente de espaços
públicos culturais e ansiosa por ver a sua
memória estampada nos acervos musealizados nas salas de exposições, nos seminários, nas apresentações de qualidade e nos
jardins oridos da Praça Cívica, que ficaram
por décadas silenciados e ofuscados por um
caótico estacionamento.
E pedimos licença para reproduzir aqui
a mesma re exão sobre a musealização dos
espaços públicos, baseada nos estudos do
museólogo Mário Chagas com a qual concluímos a tese de doutorado. De acordo com
Chagas, precisamos entender os museus como
espaço de con ito, como campo de tradição
e contradição, enfim, como espaço de vida.
Chagas (1998), ainda vai mais longe: ele se
utiliza da frase há uma gota de sangue em
cada poema do escritor modernista Mário de
Andrade e traz o mesmo significado para
Figura 17 - Praça Cívica antes da retirada do estacionamento.
45
usealização do atrim nio ultural de oi s
o museu, parafraseando Andrade e afirmando
que há uma gota de sangue em cada museu,
pois entende que tanto no poema quanto no
museu há um sinal de sangue a lhes conferir
uma dimensão especificamente humana.
“Admitir a presença de sangue no museu
si nifica também aceit
lo como arena, como
espaço de con ito, como campo de tradição e
contradição. Toda a instituição museal apresenta
um determinado discurso sobre a realidade.
Este discurso, como é natural, não é natural e
compõe-se de som e de silêncio, de cheio e de
vazio, de presença e de ausência, de lembrança
e de esquecimento. A aceitação do museu como
arena e campo de luta está bastante distante da
ideia de espaço neutro e apolítico de celebração
da memória daqueles que prematura e temporariamente alardeiam os louros da vitória.“ (Chagas,
1998, p. 19).
Entender o museu como espaço de
luta, onde as veias pulsam e o sangue corre é
também entender que esse campo de atuação
e essa nova realidade contemporânea exige um
fazer museológico em constante processo de
transformação e centrado na relação homem-patrimônio integral como o referencial para o
46
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
exercício da cidadania e do desenvolvimento
social.
Se a relação homem-patrimônio integral
está em toda a parte, então, as veias pulsam e
o sangue corre não somente no restrito espaço
dos museus, mas também fora deles. As ações
museológicas de pesquisa, preservação e
comunicação acontecem hoje em locais os
mais variados e inusitados, seja nos bairros, nas
ruas, nas escolas e nas praças. E dessa forma,
a instituição museu está sendo permanentemente repensada, avaliada e reconstruída.
Nesse contexto, o papel do museólogo
precisa também ser repensado, pois o seu
campo de atuação não está restrito ao espaço
físico museu. Segundo M. C. T. M. Santos (1999a),
ele se faz necessário em qualquer contexto
social:
“Mais do que nunca, a presença desse
profissional se faz necess ria, em qualquer
contexto social, sobretudo se considerarmos a
necessidade urgente de buscar um desenvolvimento que não deve ser sustentado em um modelo
pautado na racionalização tecnológica, tomando
como um objetivo que se esgota nele mesmo e por
ele mesmo.” (M. C. T. M. Santos, 1999a, p. 13).
Durante os vinte anos de vivência profissional na área da museologia e, especialmente,
nos estudos de doutoramento em busca de
respostas para a construção/reconstrução de
museus na contemporaneidade, uma coisa
está clara: temos a certeza do museu que
não queremos e com quem não queremos
trabalhar. E temos a alegria de constatar, que
existem dezenas de profissionais em Goiás, no
Brasil e no mundo que querem fazer um museu
de acordo com as nossas - minha e dos outros
- aspirações. Um museu de questionamentos,
concebido sobre os princípios da sociomuseologia – crítico, interdisciplinar, com conotação
social, com princípios e compromissos de ação
e de transformação. Um museu como fator
de promoção à integração e à coesão social,
conforme destacado na Recomendação da
UNESCO referente à Proteção e Promoção
dos Museus e Coleções, sua Diversidade e seu
Papel na Sociedade nos parágrafos 16 e 17,
documento aprovado em 17 de novembro de
2015 pela Conferência Geral em sua 38ª sessão:
16. Os Estados-membros são encorajados
a apoiar a função social dos museus, conforme
destacado pela Declaração de Santiago do Chile
de 1972. Os museus são cada vez mais vistos, em
todos os países, como tendo um papel-chave na
sociedade e como fator de promoção à integração
e à coesão social. Nesse sentido, podem ajudar as
comunidades a enfrentar mudanças profundas
na sociedade, incluindo aquelas que levam ao
crescimento da desigualdade e à quebra de laços
sociais. 17. Museus são espaços públicos vitais
que devem abordar o conjunto da sociedade e
podem, portanto, desempenhar um importante
papel no desenvolvimento de laços sociais e de
coesão social, na construção da cidadania e na
re e ão sobre identidades coletivas. Os museus
devem ser lugares abertos a todos e comprometidos com o acesso físico e o acesso à cultura
para todos, incluindo os grupos vulneráveis. Eles
podem constituir espaços para a re e ão e o
debate sobre temas históricos, sociais, culturais e
científicos. Os museus também devem promover
o respeito aos direitos humanos e à igualdade de
gênero. Os Estados-membros devem encorajar os
museus a cumprir todos esses papéis.” (UNESCO,
17 nov.2015.)
Considerando o compromisso social e
político do museólogo no interior do museu e
fora dele, e considerando que as ações museológicas se processam na relação homem-patrimônio integral, encerramos nossa re exão
na expectativa de estimular os profissionais
goianos a suscitar o debate, a reorientar o
percurso, a (re)construir o Circuito Cultural e a
dar sentido à vida.
Tânia Mendonça
useus
esafios e ossibilidades políticas p blicas para
a
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usealização do atrim nio ultural de oi s
Referências
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48
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
Abertura do “Ciclo de Estudos: O Museu e seus Saberes” Foto: Equipe MAC - GO.
Manuelina Maria Duarte Cândido
Apontamentos sobre a responsabilidade social dos museus:
ecomuseus e museus comunitários
49
Apontamentos sobre a responsabilidade social dos
museus: ecomuseus e museus comunitários
Manuelina Maria Duarte Cândido1
Introdução
Os ecomuseus nascem na França em
paralelo ao surgimento da Nova Museologia, a
partir do final da 2a Guerra Mundial, sendo considerado marco fundamental o anúncio público
na Conferência do Conselho Internacional de
Museus (ICOM) de 1971, em Paris e Grenoble,
do termo cunhado por Hugues de Varine.
Esta proclamação pioneira, feita por Robert
Poujade, então Ministro do Meio Ambiente da
França, não denota, segundo Rosemarie Lucas
(in Duarte Cândido e Ruoso, 2015), o início da
experimentação. A autora propõe recuá-lo aos
encontros em Lurs-en-Provence, em 1966, que
marcaram o aparecimento dos parques naturais regionais, nos quais Georges Henri Rivière
impulsionou a preservação do patrimônio rural
por meio de museus ao ar livre, em conexão
com a existência dos parques naturais regionais: “Foi então que teve a visão de uma
museografia dinâmica, orientada para o futuro,
colocando uma comunidade em relação com
o seu território” (Lucas, idem, p. 23). Diversos
autores identificam na iniciativa de G R uma
referência às experiências escandinavas
que ele havia visitado (Gorgus, 2003; Davis,
1999; Lucas, 2015), especialmente o Skansen,
museu ao ar livre de Estocolmo, Suécia, que
tambémse preocupava com a reconstituição
dos modos de vida, especialmente do trabalho
rural e doméstico. Ecomuseus pioneiros como
o de Ouessant e o de Le Creusot-Monceau
in uenciaram o surgimento de outros, hoje
espraiados em todo o território francês, que
conta com cerca de seis dezenas deles, organizados em uma Federação dos Ecomuseus e
dos Museus de Sociedade.
Estes modelos e ideias tiveram grande
circulação nas décadas de 1960 e 1970,
ganhando maior acento social na América
Latina, a partir da Mesa Redonda de Santiago
do Chile, de 1972, sobre “O Papel do Museu
na América Latina”, de que Varine foi organizador. Além de ser cunhado neste momento
o conceito de museu integrado, toda a formatação do evento, o primeiro da UNESCO a
ser realizado na língua local, espanhol, em
detrimento das línguas oficiais do organismo,
teve também caráter inovador por colocar os
1 Licenciada em História (UECE, 1997), especialista em Museologia (USP, 2000), mestre em Arqueologia (USP, 2004),
doutora em Museologia (ULHT, 2012), Pós-doutora em Museologia (Sorbonne Nouvelle, 2015). Professora de Museologia
da FCS/UFG.
50
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
próprios latino-americanos como protagonistas e trazer para as conferências principais
profissionais de áreas externas aos museus,
como o urbanismo. Desta forma, a Mesa de
Santiago pode levar os profissionais de museus
ali reunidos a olharem para fora de suas instituições, pensando os museus em seus contextos
sociais, políticos, demográficos e econômicos
(Duarte Cândido, 2003), de tal forma que
ganhou notoriedade como o momento seminal
de discussão da função social dos museus.
Responsabilidades sociais e ambientais: novos embates para os museus
De acordo com Vial (2015, p. 88), o
primeiro encontro sobre museus e meio
ambiente foi realizado no mesmo ano da
Declaração sobre Ambiente Humano, mais
conhecida como Declaração de Estocolmo
(1972)2 e já no segundo encontro, no Zâmbia,
Peter van Mensch, conferencista da abertura,
problematizou o objeto museológico e seu
alcance, indicando a possibilidade de que ele
abrangesse não somente coleções mas toda a
extensão do patrimônio cultural e natural. Neste
caso, a relação entre paisagem e museu extrapola a possibilidade de tomá-la como tema
de um museu, chegando à própria paisagem
como museu. Esta abordagem demonstra
como a paisagem cultural é de alguma forma
uma categoria já com largo histórico no campo
da Museologia, mesmo que ainda não assim
denominada (vide Duarte Cândido, 2016).
Vial (2015, p 08) assinala que os ecomuseus “são um instrumento de gestão do patrimônio integrado que só se realiza de fato, ao
ser apropriado por movimentos sociais previa-
mente organizados que veem na identificação e
gestão do patrimônio um instrumento a mais de
ação política, de reforço de identidades e de luta.”
Neste sentido, assim como a autora, realçamos o
papel da América Latina e do Brasil, especialmente
após a Constituição Federal de 1988, que valorizou
a diversidade da cultura brasileira e a cidadania, e
à (mesmo que tardia) forte disseminação aqui dos
princípios da Mesa Redonda de Santiago do Chile,
no fortalecimento do modelo e da realização de
experimentações que ajudam ainda hoje e cada
vez mais a problematizar a transformar o modo de
pensar e fazer museus.
Mas já no começo da década de 1980 as
experiências da Nova Museologia realizaram
seus embates e demarcações de espaços. Uma
tentativa rechaçada foi a criação, na Conferência
Geral do ICOM em Londres, 1983, de um Comitê
para abrigar as novas tipologias de museus. Mas o
Conselho não reconheceu as tipologias propostas
como museus e uma dissidência só bem mais tarde
conciliada fez surgir o Movimento Internacional
para uma Nova Museologia (MINOM), incialmente
em um workshop em Quebéc (Canadá) em 1984,
com presença de 15 países, predominantemente
de franceses, canadenses e portugueses, e mais
tarde com a fundação formalizada em Lisboa, 1985.
Anos depois o ICOM acolheria o MINOM como uma
organização afiliada.
Momentos como os já mencionados (1972,
1984, 1985) e mesmo a Declaração de Caracas
(1992), que foi basicamente uma celebração dos 20
anos de Santiago e não trouxe grandes transformações além de uma qualificação do desenvolvimento
pretendido pelos museus como desenvolvimento
sustentável e a afirmação dos museus como canais
de comunicação, são reiteradamente lembrados
por diversos autores como Araújo e Bruno (1995).
2 A revista Museum dedicou ao tema Museums and environment seu volume XXV, de 1973, disponível online em http://
unesdoc.unesco.org/images/0012/001273/127361eo.pdf
Manuelina Maria Duarte Cândido
Apontamentos sobre a responsabilidade social dos museus:
ecomuseus e museus comunitários
Participantes do encontro do MINOM em Québéc, 1984. Fonte: http://www.minom-icom.net/about-us4
Divulgação do encontro do MINOM em Québéc, 1984. Fonte: http://www.minom-icom.net/about-us
51
52
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
Para o Brasil, particularmente, é necessário destacar a realização, durante a ECO-92,
no Rio de Janeiro, do I Encontro Internacional
de Ecomuseus em 1992, que inclusive vai
culminar, no que tange à então chamada
Nova Museologia, em uma intensificação do
“trânsito entre portugueses e brasileiros, com
intercâmbio de exposições, curadorias partilhadas, eventos comuns e outras iniciativas
bilaterais” (Duarte Cândido e Ruoso, 2012, p. 45)
Figura 3: Anais do 1o Encontro Internacional de Ecomuseus, realizado em 1992
que viriam a culminar na construção das bases
da Museologia Social e da Sociomuseologia
(ver sobre isto Moutinho e Primo, 2012; Chagas
e Gouveia, 2015; Tolentino, 2016, entre outros)
e no reconhecimento do primeiro ecomuseu
brasileiro originário de um processo de base
comunitária, hoje denominado Ecomuseu do
Quarteirão Cultural do Matadouro3.
Esta série de encontros chegou, em Juiz
de Fora, 2015, à quinta edição, tendo juntado
aos ecomuseus os museus comunitários
desde 20044, o que assinala uma reorientação
programática, com ênfase em um aspecto (as
pessoas), ou ainda, um desuso por interesse
político do termo ecomuseu, sempre muito
associado à origem francesa. Cabe lembrar que
apesar da confusão ocorrer muitas vezes entre
ecomuseu e um museu do meio ambiente,
em sua concepção ele nunca prescindiu de
uma população que viva naquele território e
produza seu patrimônio, inclusive entendendo
o elemento humano como parte desta ecologia.
Os ecomuseus, museus de território e
outros tipos de museus locais demonstram
grande potencial para aproveitamento dos
recursos de um território tais como estruturas,
pessoas, saberes, bens materiais e virtuais
(Varine, 2008) para seu desenvolvimento.
Sublinho o alerta de Vial (2015, p. 56) “O perigo
reside na tentação de transformar esses
museus em locais de compensações de determinadas perdas, simbolicamente ‘recuperando’
unidades ou se transformando em ‘espelhos’
nos quais são projetados autoimagens já atribuídas a si e re etidas de forma sedutora.”
3 Há uma controvérsia em relação à instituição criada pela Prefeitura do Rio de Janeiro no ano 2000 à revelia do grupo
comunitário à frente do Núcleo Orientação e Pesquisa Histórica (NOPH) e do ecomuseu comunitário desde os anos 1990.
Ver http://www.ecomuseusantacruz.com.br e http://www.quarteirao.com.br/oquee.html
4 Neste ano é realizado o III Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários juntamente com o X Atelier
Internacional do MINOM, em setembro de 2004, em Santa Cruz, no Rio de Janeiro, em que ocorre a fundação da ABREMC
– Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitário.
Manuelina Maria Duarte Cândido
Apontamentos sobre a responsabilidade social dos museus:
ecomuseus e museus comunitários
No caso do Ecomuseu do Creusot, Varine
afirma que a contrário do perfil dos ecomuseus
que o seguiriam, sua criação não ocorreu em
um momento de falência econômica, mas
quando ainda eram exportados produtos e
importada mão-de-obra. Mas o desejo de
percorrer um caminho não convencional para
a implantação do museu solicitada pelo gestor
local. As ideias e a decisão de não partir da
formação de uma coleção, levaram o grupo
inicial formado por ele mesmo, Marcel Evrard
e Joseph (Jo) Lyonnet a estabelecer novas
práticas e estratégias, como as “enquetes-expositions”5 e “exposições evolutivas” que
privilegiavam o diálogo com os detentores das
memórias locais e reuniam temporariamente
objetos representativos destas memórias que
eram documentados, expostos, e devolvidos
após a exposição (Varine, 2015, p. 30 e p. 34).
Na sequência, muitas iniciativas e experimentações foram constituindo os ecomuseus e
museus comunitários por todo o mundo, notadamente no México, Canadá, Portugal, Brasil e,
mais recentemente, Itália e Japão.
Panorama atual da matéria
Aos conceitos e práticas já presentes nas
primeiras experiências, tais como caminhadas
de descoberta, percursos de interpretação do
território, organização de bancos de dados
53
sobre referências patrimoniais, exposições
evolutivas, animação cultural, juntaram-se
outras temáticas como turismo comunitário,
mapa de comunidade6 e outras formas de
cartografias, inventário participativo, constituição de redes de colaboração, etc.
No caso brasileiro há ainda a inventiva
modalidade dos Pontos de Memória: constituídos a partir da experiência pioneira de 12
comunidades e identificados pelo Instituto
Brasileiro de Museus a partir de 2009, estes
pontos já chegaram a pelo menos três centenas
premiados e cerca de 600 mapeados, inclusive
alguns pontos de memórias de comunidades
brasileiras habitando no exterior.
Uma característica marcante dos
ecomuseus e especialmente dos museus
comunitários no Brasil, bem como dos Pontos
de Memória, é a inserção das ações pela via da
memória em um campo de lutas contra desigualdade social e intolerância que traz singularidades a estas práticas frente a algumas
experiências estrangeiras. Por outro lado, os
Pontos de Memória não necessariamente se
institucionalizam como museus.
Nossas comunidades organizadas em
torno de ecomuseus, museus comunitários e
Pontos de Memória têm clareza dos benefícios
de se articularem e fortalecerem suas atuações
por meio de redes e associações. A Associação
Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários (ABREMC), já mencionada, ocupa inclusive
5 Que eram, segundo Varine (2015, p. 63), sua maneira de fazer o inventários das gentes e dos patrimônios do território.
6Trata-se duma ferramenta através da qual os habitantes dum determinado lugar têm a possibilidade de representar o seu
património, a paisagem, os saberes em que se reconhecem e querem transmitir às novas gerações. (www.mappadicomunita.it). Nele se evidência como a comunidade local se vê, se entende, com atribui valor ao seu próprio território, às suas
lembranças, as suas transformações, à sua realidade atual e de que forma ela quer converter no futuro. Construída através
de uma cartografia ou qualquer outro meio de representação, é produzida e elaborada para que a população nela se possa
reconhecer. Em Puglia, os mapas converteram-se em instrumentos de produção social de paisagem, previstos no novo
Plano Paisagístico Territorial Regional (PPTR). Em áreas territoriais homogéneas eles converteram-se em instrumentos
para a planificação e o desenvolvimento local ( ).” (vide: Documento estratégico dos ecomuseus italianos disponível online
em português no link https://globalherit.hypotheses.org/5124)
54
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
o assento no Comitê Gestor do Sistema Brasileiro de Museus reservado a entidade representativa dos ecomuseus e museus comunitários.
As redes territoriais ou temáticas organizadas
em torno da memória e da Museologia Social
carregam as vantagens e desvantagens da
informalidade e eventualmente recorrem ao já
denominado “CNPJ amigo” para participarem
de alguns editais que o exigem.
No V Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários (V EIEMC), realizado em 2015 em Juiz de Fora, foi possível
perceber a pujança do movimento, com a
presença de grupos de norte a sul do Brasil
envolvidos com processos de musealização de
base comunitária, e ainda visitar in loco comunidades que se inspiram nestas experiências
com vista a constituírem novos museus comunitários. Além disso estiveram presentes
representantes de Moçambique interessados em constituir museus comunitários
naquele país.Com a presença de Alberto
Garlandini, ex-Presidente do Comitê Italiano
do Conselho Internacional de Museus (ICOM)
e coordenador da 24a Conferência Geral do
ICOM em Milão, foi possível conhecer um
pouco da experiência italiana dos ecomuseus
e a pioneira iniciativa de proteção legal para
ecomuseus e museus comunitários. Vale
lembrar que a Itália representa um contexto
singular na atualidade, de multiplicação do
número de ecomuseus, que já ultrapassa uma
centena e está em vias de se constituírem
em uma rede nacional. Garlandini esteve no V
EIEMC também com uma missão específica de
convidar os ecomuseus, museus comunitários
e Pontos de Memória brasileiros a se fazerem
presentes no Fórum dos Ecomuseus e Museus
Comunitários, a realizar-se durante a Conferência Geral do ICOM, em julho de 2016.
Participantes do V Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários (2015), visitando comunidade nos arredores de Juiz de Fora com potencial para museu comunitário. Fonte: arquivo da autora
Manuelina Maria Duarte Cândido
Apontamentos sobre a responsabilidade social dos museus:
ecomuseus e museus comunitários
Este ano, tendo como tema para a
Conferência Geral do ICOM e também para o
Dia Internacional dos Museus “Museus e paisagens culturais”, suscita para alguns, como para
nós, uma retomada da noção de patrimônio
integrado, visto que o conceito de paisagem
cultural pretende superar as dicotomias entre
tangível e intangível, natural e cultural, envolvendo estes diferentes aspectos do patrimônio.
Desta forma, quem maneja os conceitos da
Museologia compreende que há um espelhamento aí do que o mundo dos museus vem
discutindo pelo menos desde a década de
1970, especialmente a partir das experiências
dos ecomuseus, que representam processos
de musealização das diferentes referências
patrimoniais identificadas em um território
de uma maneira integrada, incluída a própria
preservação da população, dos seus saberes
e fazeres. Mesmo que com outras nomenclaturas, as práticas de musealização nos
ecomuseus e museus comunitários sempre
recorreram a mecanismos participativos de
identificação e gestão do patrimônio nestes
territórios, adotando de maneira marcante
nos últimos anos a denominação Inventários
Participativos.
Cabe lembrar que no Brasil, embora por
razões institucionais e políticas tenha havido
separação entre os órgãos federais responsáveis pelo patrimônio (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional – IPHAN) e pelos
museus (Instituto Brasileiro de Museus –
IBRAM), ambos têm buscado aparar arestas e
sombreamentos por meio do trabalho conjunto
em aspectos indissociáveis, e uma das frentes
de colaboração é justamente na unificação de
glossários e metodologias para a realização
55
dos Inventários Participativos.
Outra iniciativa que merece realce no
âmbito dos ecomuseus e museus comunitários
brasileiros é a realização de seu mapeamento
pela ABREMC, de maneira colaborativa. Em
paralelo, o Instituto Brasileiro de Museus investe
no mapeamento dos Pontos de Memória, além
de ter realizado a publicação de um livro originado a partir da produção dos próprios Pontos
de Memória pioneiros sobre as metodologias
que envolvem suas práticas na Museologia
Social (Ibram, 2016). Registramos ainda que o
Brasil sedia, em agosto de 2016, a XXVII Conferência Internacional do MINOM, na comunidade
ribeirinha de Nazaré, em Rondônia.
O Fórum dos Ecomuseus e Museus
Comunitários e o roteiro pré-Conferência do ICOM: conhecendo ecomuseus italianos
O Fórum dos Ecomuseus e Museus
Comunitários ocorreu dias 6 e 8 de julho
durante a Conferência Geral do ICOM, em Milão.
Reuniu inúmeros países, sendo aberto a todos
os participantes do ICOM interessados pela
Nova Museologia e pela Museologia Comunitária. Houve a apresentação dos ecomuseus
italianos e da nova rede nacional de ecomuseus e, em paralelo, exposição de pôsteres dos
participantes estrangeiros. Na programação o
Brasil esteve representado com vários pôsteres
e uma fala feita por Yara Mattos em nome da
ABREMC. Além disso, Bruno Brulon, na qualidade de Vice-Presidente do Comitê para Museologia do ICOM (ICOFOM)7, foi convidado para
uma fala. Hugues de Varine apresentou ainda
o estado das articulações de uma rede inte-
7 Nesta Conferência do ICOM o MINOM realizou suas sessões em conjunto com dois Comitês Internacionais, o ICOFOM
e o CAMOC, Comitê para Museus de Cidade. Desta forma, questões comuns aos três conjuntos de profissionais puderam
ser discutidas.
56
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
ramericana de museus indígenas que, malgrado
as barreiras linguísticas, tem buscado associar
experiências especialmente do Brasil, Canadá e
México, com pelo menos meia dúzia de encontros
já realizados em meio digital.
No dia 8 de julho os participantes do Fórum
realizaram juntos visita aos ecomuseus da área
metropolitana de Milão e da zona dos lagos
sub-alpinos. A programação pretendeu também
criar possibilidades de colaboração bilaterais ou
multilaterais e intercâmbio entre os profissionais,
ecomuseus e museus comunitários ali presentes.
Além disso, antes e após a Conferência
foi organizada uma gama de oferta de visitas a
ecomuseus italianos considerados como boas
práticas ecomuseais, que podia ser agendada
com aqueles manifestamente integrados ao
roteiro pré-Conferência no período de 7 de
junho a 2 de julho ou após, de 11 de julho a 15 de
julho. Entre as diversas possibilidades de visitas
propostas, tivemos a oportunidade de fazer
contato e visitar o Ecomuseo del Sale e del Mare
di Cervia e o Ecomuseo Valli Oglio-Chies
Figura 5: Museu do Sal. Fonte: arquivo da autora
Ecomuseo del Sale e del Mare di Cervia
O Ecomuseu do Sal e do Mar, na cidade
de Cervia, região da Emilia Romagna, está integrado ao turismo local, por meio da abordagem
de descoberta do território em diferentes
percursos que valorizam arte, história, natureza,
personagens e tradições. São particularmente
indicados os roteiros ciclísticos, havendo ainda
opções a pé, a cavalo, entre outros. A partir da
Torre San Michele, mirante para cidade e em
que se encontra o centro de orientação aos
turistas (no qual trabalha a coordenadora do
ecomuseu, Giorgia Cecchi), passa-se à visitação
que inclui um espaço mantido pela associação
de salineiros: o Museu do Sal. Seu funcionamento é inteiramente a cargo de voluntários,
salineiros aposentados e seus familiares,
pessoas inteiramente devotadas à preservação
da história de seus saberes e fazeres tradicionais. A associação conta com cerca de 90
pessoas em regime de voluntariado e a visita ao
museu é gratuita. A prefeitura colaborou com a
Manuelina Maria Duarte Cândido
Apontamentos sobre a responsabilidade social dos museus:
ecomuseus e museus comunitários
cessão da edificação, um antigo armazém de
sal bem localizado no centro de Cervia, e com a
entrega da exposição de longa duração.
Seguindo o roteiro programado pela
coordenação do ecomuseu, no segundo dia
visitamos em sua companhia a marina, no
local de chegada das embarcações de pesca
e mercado dos pescadores, onde é possível
também disfrutar a gastronomia local no
restaurante dos pescadores. Esta visita à marina
permitiu o diálogo com «facilitadores» do
ecomuseu, que são voluntários que passaram
por uma capacitação oferecida pelo ecomuseu
e que estão aptos a fazerem esta mediação
com o púbico em nome do ecomuseu. Em geral
são pessoas com ligação afetiva com a cidade,
interessadas em manter vivas memórias locais,
como é o caso do pescador proprietário da
última embarcação tradicional. A atuação dos
facilitadores é diferenciada dos voluntários da
associação que mantém o Museu do Sal, pois
estes não passaram necessariamente pelo
curso de facilitadores e fazem a mediação
Figura 6: Salina de Cervia. Fonte: arquivo da autora
57
somente no espaço do museu, assim como do
trabalho dos técnicos das áreas de Biologia e
de Ecologia contratados por temporada para
receber o público no Centro de Interpretação
e leva-lo à salina.
No terceiro dia realizamos a visita à Casa
das Borboletas e à área denominada Pineta,
uma vasta área verde adequada para a prática
de ciclismo e caminhadas, além de circular
pela área denominada Milano Marittma, com
suas edificações no estilo iberty.
O ecomuseu é recente, com pouco mais
de quatro anos de existência, e partiu da iniciativa da administração municipal. Como desafio
principal foi indicada a integração dos diferentes roteiros de forma que ecomuseu comunique melhor ao público e ao morador local
que é constituído pelos diferentes espaços
e percursos no território. Além deste, como é
comum em todos os processos desta natureza,
a dificuldade de aproximar novos facilitadores
e voluntários para o trabalho de valorização do
território.
58
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
Ecomuseo Valli Oglio-Chiese
Ao contrário do anterior, este ecomuseu
existe há mais de três décadas. Sua criação
está ligada à Associazione Ecologica Museo
Oglio Chiese, presidida inicialmente por Fausto
Scalvini e neste momento por Franco Testa.
Seu objetivo está ligado ao reconhecimento
regional, notadamente dedicado aos dois rios
que delimitam o vale onde se assenta a região:
Oglio e Chiese. Diante do processo de industrialização e aceleração das transformações
dos meios de produção e estrutura social, a
associação se interessou em trabalhar com as
questões identitárias, memórias e tradições, de
onde surgiu a ideia do ecomuseu.
Sediado na cidade de Canneto Sull’Oglio,
sua caracterização envolve um patrimônio
espalhado pelo território organizado em torno
de percursos temáticos com ênfase seja em
aspectos ambientais, produtivos ou etnográficos, além de uma forte programação didática.
Mais recentemente, para adequar-se à legislação que reconhece os ecomuseus a partir da
existência de um Centro de Documentação, foi
criado o Centro di Documentazione dell’Ecomuseo delle Valli Oglio-Chiese. Aos poucos o
ecomuseu constituiu uma coleção expressiva
que vai de animais taxidermizados a material
arqueológico, passando por instrumentos de
trabalho agrícola e doméstico, indumentária,
além de brinquedos, coleção esta iniciada a
partir de um núcleo de bonecas de porcelana
que registram uma produção tradicional da
Figura 7: Centro di Documentazione dell’Ecomuseo delle
Valli Oglio-Chiese. Fonte: arquivo da autora
Manuelina Maria Duarte Cândido
Apontamentos sobre a responsabilidade social dos museus:
ecomuseus e museus comunitários
região já abandonada. Uma especificidade é
que os objetos expostos e apresentados pelos
voluntários que compõem a associação, são
completamente disponíveis para manipulação
e demonstração de seus usos.
Este ecomuseu possui uma impressionante produção bibliográfica, articulando a
publicação de pelo menos um livro temático
sobre cada uma das salas da exposição de
longa duração, além de outras resultantes
de pesquisas com a população local sobre
gastronomia, brincadeiras tradicionais, ervas
comestíveis, entre outros temas. As publicações também abordam diversos aspectos do
“vivaismo”, o cultivo em viveiros de plantas
ornamentais que são depois comercializadas
59
para as casas do setor, atividade fundamental
na economia local.
O Ecomuseu faz parte de uma rede
regional de ecomuseus da Lombardia. Somente
esta região reúne 24 ecomuseus, como se pode
verificar em http:
.ecomuseoogliochiese.
it/pag_presentazioni2.htm.
Há um forte componente de nostalgia
entre os integrantes da associação que criou
e mantém o ecomuseu. Neste caso, compreende-se que as motivações que levaram à
sua criação difere da maior parte dos museus
comunitários brasileiros, pois o componente
do empoderamento da comunidade diante
de enfrentamentos políticos não é elemento
fundamental.
Figura 8: Viveiros do Vale Oglio-Chiese. Fonte: arquivo da autora
60
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
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Yussef Daibert Salomão de Campos
Patrimônio e Políticas Públicas
61
Patrimônio e Políticas Públicas
Yussef Daibert Salomão de Campos1
Introdução
No dia 24 de março de 2017 proferi
uma palestra, com o título acima, no “Ciclo de
Estudos: o Museu e seus saberes”, a convite do
Núcleo de Ação Educativa do Museu de Arte
Contemporânea de Goiás – MAC, a quem agradeço. E é sobre ele que passo a tratar agora.
A partir do tema “patrimônio e políticas
públicas”, dividi minha fala em três partes: patrimônio como expressão política da memória,
como introdução; abrangências do patrimônio:
local, regional, nacional e mundial; e a perversidade do patrimônio, em conclusão.
A primeira delas me possibilitou demonstrar, com o auxílio das perspectivas teóricas da
professora Dra. Maria Letícia Mazzuchi Ferreira,
como é imponderável pensar patrimônio sem
pensar em gestão, por parte do Estado, da/e
pela memória coletiva. Na segunda, intentei
propor como essa gestão atrela-se às diversas
ressonâncias das demandas por reconhecimento da identidade social; e, por último,
elaborei questionamentos e problematizações
para apresentar o patrimônio como causa de
consequências que podem ter efeitos deletérios em uma determinada comunidade, até
mesmo em uma nação. Então, vejamos.
Patrimônio como expressão política
da memória
A Memória, encarnada na mitologia
grega por Mnemósine, possui íntima relação
com o poder e a História. Em uma ação movida
por vingança, Zeus destrona Cronos (tempo),
seu pai, e torna-se a suprema divindade. E à
Mnemósine se une, tendo como fruto dessa
relação, as nove musas, dentre elas Clio, a
História.
1 Professor Adjunto-A da Faculdade de História e dos Programas de Pós-Graduação em História e em Projeto e Cidade
(Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Federal de Goiás. Doutor em História (Universidade Federal de Juiz de Fora);
Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural pela Universidade Federal de Pelotas-RS. Graduado em Direito pela
Universidade Federal de Juiz de Fora; Especialista em Gestão do Patrimônio Cultural (Granbery e PERMEAR, Juiz de
Fora-MG).
62
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
Com essa resumida trama mitológica
podemos fazer a seguinte indagação, ao sabor
dessa conversa: em uma disputa do tempo
contra o poder e a memória, surge a História?
Ao que parece, sim. Ainda que memória e
História muitas vezes sejam incoerentes, ambas
possuem um vínculo inexorável. A História,
tomando a memória como matéria prima,
perfaz um caminho repleto de interesses, de
interferências, de obstáculos e de percalços,
que a podem torná-la imprecisa e defectível.
Mas assim também ocorre à memória. Se há
con itos em torno da história, é porque os há,
todavia, em torno da memória. Os con itos em
torno da memória podem levar a situações que,
por um lado, tornam mais lúcidas a história; ou,
por outro, obscurecem os fatos, tornando-os
incoerentes. Vejamos um exemplo.
A historiografia nacional argentina,
por muito tempo, manteve no rol dos heróis
nacionais o capitão de fragata Edgardo
Giachino, morto em combate em 02 de abril
de 1982, na guerra das Malvinas. Protagonista
de narrativas heroicas, transmutou-se em
monumento no cemitério La Roma, em Mar
del Plata, bem como fazia jus, para alguns,
de estar ao lado de excombatentes marplatenses e outros 436 desaparecidos de Mar
del Plata, na lista de heróis locais. Contudo,
a versão heroica dele se esvaiu, após a
denúncia judicial de um ex-subordinado do
capitão, Alfredo Molinari, que afirmou que
o capitão de fragata havia mandado matar,
em 1977, durante a ditadura militar argentina,
um detento que se encontrava encapuzado,
algemado e ajoelhado.
Edgardo Giachino (El Pais, 2011).
Monumento presente no cemitério La
Roma (El Pais, 2011).
Figura 1: Edgardo Giachino. Foto: El Pais, 2011.
Patrimônio e Políticas Públicas
Yussef Daibert Salomão de Campos
Essa memória, envolta em permanente
con ito, exprime-se politicamente quando
torna-se patrimônio. Esse processo de institucionalização da memória, tão con ituoso
quanto a própria memória, constitui-se como
uma maneira que a modernidade encontrou
para erigir as identidades nacionais, e que a
pós-modernidade (será que ela existe? Ou será
a modernidade em seu crepúsculo?) lança mão
para reconhecer as diversidades culturais que
se apresentam em substituição à homogeneização cultural resultante da globalização. Seja
no primeiro ou no segundo momento, a lei surge
como meio de viabilização desse patrimônio,
seja ao constituí-lo e conceitua-lo, como o
artigo 216 da Constituição Federal brasileira de
1988 pretende, seja enumerando instrumentos
e procedimentos para que a patrimonialização
63
e a consequente gestão se concretizem, como
o decreto-Lei 25 de 1937, que institui o tombamento, ou o decreto 3551 de 2000 que trata e
regulamenta o registro de bens imateriais. Por
isso trato a lei, partindo de Benedict Anderson,
como um dos meios de edificação de comunidades imaginadas.
Abrangências do patrimônio: local,
regional, nacional e mundial
Aloísio Magalhães, na década de 1970,
já alertava para a legitimação do patrimônio
cultural através do que chamou de referência
cultural. Para que o patrimônio valha como tal, é
preciso não só que haja envolvimento da comunidade produtora e/ou que vive o bem cultural
a ser patrimonializado em sua inventariação
Figura 2: Monumento presente no cemitério La Roma. Foto: El Pais, 2011.
64
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
é necessário, antes disso, que as reivindicações
pelo e para o patrimônio se deem verticalmente, de baixo para cima, e não o contrário.
Assim como reconhecer Olinda, Ouro Preto,
Recife ou Goiás é válido e legítimo; a arquitetura
vernacular, os modos de expressão, os ofícios,
as celebrações também o são. Deve-se reconhecer também Triunfo, Piacatuba, Leopoldina,
Quirinópolis.
Façamos um exercício sobre referências. O que a imagem abaixo provoca em
sua memória, ou o que ela alimenta em sua
identidade?
Se você não conhece a pequena cidade
mineira de Leopoldina; ou se ainda conhece,
mas não faz parte do círculo de amizade de
minha família, você não reconhecerá o jardim
da casa na qual cresci. Logo, essa imagem é
referência para mim, mas não o é para a maioria
das pessoas que aqui debatem patrimônio.
Outros exemplos:
Figura 3: Foto do autor, 2009
Figura 4: Catedral de Leopoldina/MG. Foto: R. Lacerda,
2013. Disponível em: http://migre.me/wKMAG. Acesso em
março de 2017
Figura 5: Cine Theatro Central. Foto: Cine Theatro Central
Disponível em http://www.theatrocentral.com.br/. Acesso
em março de 2017
Yussef Daibert Salomão de Campos
Patrimônio e Políticas Públicas
65
A primeira imagem ilustra a Catedral
de Leopoldina, que é referência cultural para
aquela população, apesar de não contar com
instrumentos de proteção específicos. á a
segunda trata-se do interior do Cine Theatro
Central, de Juiz de Fora, também em Minas
Gerais, alvo de proteção por tombamento tanto
na esfera municipal quanto na federal, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN). Embora a segunda seja alvo de políticas
públicas de preservação e proteção, e a primeira
não, o que quero demonstrar é que, embora
quem visualize essas imagens possam atribuir
valor estético-estilístico, a referência cultural
estará presente nas comunidades locais, ou para
quem, em algum momento tenha feito parte
dessas comunidades. Ou seja: torna-se imprescindível identificar a ressonância de tais bens
culturais, em dois aspectos: a apropriação local
e a dimensão da política pública envolvida, quais
sejam, local, regional, nacional ou até mundial.
O mesmo acontece em Goiânia. É claro
que a imagem a seguir é notória e referencial
para os goianienses, sendo alvo de tombamento
do IPHAN. Mas será que outros indivíduos
que não conhecem a cidade ou sua história
reconhecerão o monumento às três raças? Se
reconhecerem, sentirão afinidade ou pertencimento? Será referência cultural nacional o
Teatro Goiânia, parte da narrativa de uma cidade
Art Déco, e assim como o monumento, inserido
no tombamento do conjunto urbano? Quanto ao
patrimônio imaterial, reconhecido pelo mesmo
IPHAN, qual a dimensão do registro da Festa
do Divino Espirito Santo de Pirenópolis? Ou o
Ritxoko, o saber fazer que envolve as bonecas
Karajá, ou a Romaria de Carros de Boi da Festa
do Divino Pai Eterno de Trindade, patrimônios
culturais imateriais do Brasil? Essas são questões relevantes para se pensar a construção da
identidade não mais pela homogeneidade, mas
sim pela diversidade.
Figura 6: Monumento às três raças. Foto: Guia da Semana.
Disponível em: http://migre.me/wKMPJ. Acesso em março
de 2017.
Figura 7: Cavalhada, parte da Festa do Divino de Pirenópolis. Foto: IPHAN, 2010. Disponível em: http://migre.me/
wKMWh. Acesso em março de 2017
66
Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
Notas conclusivas: Perversidade do
Patrimônio
Algumas questões podem ser suscitadas
como perversas na gestão do patrimônio, como
seus efeitos e consequências, que podem
mostrar-se danosos e aviltantes à determinada parcela da sociedade. Basta pensar, por
exemplo, nos efeitos desastrosos da revitalização do Pelourinho, em Salvador, ou da Lapa,
no rio de aneiro. A gentrificação causada por
uma “higienização social” do primeiro caso, ou
a alta imobiliária que tornou inviável a vida dos
moradores do segundo, apresenta-se, aqui,
como uma das facetas perversas do patrimônio.
Ou então, se forem avaliados os erros da
administração pública em sua atuação na seara
do patrimônio, encontraremos inúmeros casos
que nomeio de “fogo-amigo”: inobservância da
lei em processos de tombamento, que acabam
por torna-los inválidos, procedimentos equivocados na notificação dos proprietários, omissão
na aplicação de penalidades, são alguns
moldes perversos do patrimônio.
A exclusão social, o turismo predatório,
os esquecimentos convenientes, são outros
espectros da perversão patrimonial. Mas
nada me assusta mais que o desrespeito à
memória coletiva traumática. Vejamos um
caso, para concluir essa breve exposição.
O artista israelense Shahak Shapira,
em projeto denominado “Yolocausto”, chama
atenção do turista inconveniente e desrespeitoso que visita o Memorial às vítimas
do Holocausto, em Berlim. As “selfies” e
fotos produzidas e postadas pelos próprios
turistas, disponibilizadas em redes sociais,
foram “readaptadas” pelo artista, advertindo
a todos como a insensibilidade, e até mesmo
a desonestidade, reabrem feridas em uma
memória que se remete a cerca de 6 milhões
de mortos (as imagens que se seguem estão
disponíveis no site http://demilked.com/
holocaust-memorial-selfies-yolocaust -shahak-shapira/).
Portanto, esse projeto nos ensina que é
preciso também ética no patrimônio cultural.
Figura : “Yolocaust” Disponível em: http: demil ed.com holocaust-memorial-selfies-yolocaust-shaha -shapira
Patrimônio e Políticas Públicas
Yussef Daibert Salomão de Campos
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Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
Sobre a Gestão do MAC - GO
Márcia Pires
Márcia Pires é Diretora e do Museu de Arte Contemporânea de Goiás do Centro Cultural
Oscar Niemeyer. Especialista em Liderança e Master Coach, com Graduação em Gestão em
Serviços Executivos pela Faculdade Cambury.
Co- Autora do livro Cartas Para o Sucesso. Analista Comportamental com Formação
em Eneagrama Training Program pelo Instituto Treinare. Certificada como íder Coach pela
(SEGP AN). Certificada como Facilitadora da Aprendizagem pela Escola Nacional de Administração Pública. Atuação como Master Coach e Palestrante com ênfase em desenvolvimento
humano. É produtora Executiva de Ações Culturais.
Atuou como Secretária Executiva no Governo de Goiás por mais de 15 anos. E por 5 anos a
frente da Gerência de Atendimento por Meritocracia na Secretaria da Segurança Pública de
Goiás.
Site: www.coachmarciapires.com.br @coachmarciapires
68
Sobre os Autores
69
Prof. Dra. Manuelina Cândido
Manuelina Maria Duarte Cândido é licenciada em História pela Universidade Estadual do
Ceará, Especialista em Museologia e Mestre em Arqueologia pela Universidade de São Paulo,
Doutora em Museologia pela Universidade usófona de umanidades e Tecnologias e realizou
estágio Pós-Doutoral em Museologia com supervisão do prof. François Mairesse, na Universidade
Paris III, Sorbonne Nouvelle (França).
Coordenou o Núcleo de Ação Educativa do Centro Cultural São Paulo, dirigiu o Museu da
Imagem e do Som do Ceará e o Departamento de Processos Museais do IBRAM. É Professora
Adjunta da Universidade Federal de Goiás - Bacharelado em Museologia (licenciada) e Programa
de Pós-graduação em Antropologia Social. Professora convidada de Museologia na Universidade
de W rzburg, Alemanha e da Universidade d Artois, na França. Chargé de Cours de Museologia
da Universidade de i ge ( élgica) para o período 201 -2021, onde ministra disciplinas na graduação e na pós-graduação, orienta teses, dissertações e estágios. Como parte de suas atribuições,
coordena o Embarcadère du Savoir, uma rede de museus de ciências que pertencem à Universidade e a outros organismos. Lidera o Grupo de Estudo e Pesquisa Museologia e Interdisciplinaridade - GEMINTER. Tem livros e artigos publicados nas áreas mencionadas, atua como docente,
pesquisadora e consultora.
É membro do Conselho Internacional de Museus (ICOM). Integrou a Comissão Nacional de
Incentivo à Cultura (CNIC), bancada de Patrimônio, assessorando o Ministério da Cultura (mandato
2017 201 ). Participa do oard do ICOFOM- AM de 201 -2020.
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Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
Prof. Dr. Yussef Campos
Yussef Daibert Salomão de Campos é professor Adjunto da Faculdade de História e
permanente dos Programas de Pós-Graduação em História e em Projeto e Cidade (Arquitetura e
Urbanismo) - Universidade Federal de Goiás. Doutor em istória (Universidade Federal de uiz de
Fora); Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural pela Universidade Federal de Pelotas-RS.
Graduado em Direito pela Universidade Federal de uiz de Fora Especialista em Gestão do Patrimônio Cultural (Granbery e PERMEAR, uiz de Fora-MG).
Pesquisa o patrimônio cultural a partir da relação entre História, Memória e Identidade, além
de suas nuances jurídicas. Durante o mestrado participou, como bolsista CAPES, do projeto Perspectivas Teóricas sobre el Patrimonio Material e Inmaterial en Sudamerica (Brasil y Argentina), do
Programa de Cooperación Internacional Asociado para el Fortalecimiento de la Posgrado, rasil
Argentina (CAFP A), que resultou da cooperação acadêmica entre os programas de pós-graduação em Economia Política de la Cultura, Estudios sobre Producciones Culturales y Patrimonio
de la Facultad de Filosofia y etras (ICA FFy ), de la Universidad de uenos Aires (U A), e em
Memória Social e Patrimônio Cultural da Universidade Federal de Pelotas rasil.
É membro do ICOMOS-Brasil (International Council of Monuments and Sites). Colaborou,
como co-organizador e autor, nas edições
e
da Revista do Patrimônio, em comemoração
aos 0 anos do IP AN.
Sobre os Autores
Dra. Tânia Mendonça
Tânia Mara Quinta Aguiar de Mendonça é doutora em Museologia pela Universidade Lúsofona de umanidades e Tecnologias (2012). Possui graduação em ornalismo (1 77) e Especialização em Museologia pela Universidade Federal de Goiás (2001).
Foi Superintendente de Patrimônio istórico e Artístico da Secretaria de Educação, Cultura
e Esporte de Goiás (SEDUCE) (de 200 a 2010 e 201 a 2017). Foi Gerente de Museus e Centros
Culturais do Centro Cultural Oscar Niemeyer e Diretora do Museu de Arte Contemporânea (2011201 ). Foi diretora do Museu da Imagem e do Som de Goiás e responsável pela criação do Grupo
de Revitalização dos Museus Estaduais Goianos (1
-2010). Foi diretora de telejornalismo, produtora, roteirista e editora de programas educativos e vídeos institucionais nas T s Manchete e rasil
Central (1 7 -1 7). Endereço eletrônico: taniaqmendonca hotmail.com
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Ciclo de Estudos O Museu e seus Saberes
Alba Macedo
Alba Tânia Rosaura Macedo nasceu na cidade de Anicuns – Goiás em 1
. Graduada em
istória da Arte e Desenho e Plástica em 1 7 pela Universidade Federal de Goiás. Especialista
em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (Pintura de Cavalete e Escultura Policromada) – 1
.
E A – CECOR UFMG. Especialista em Estudos da Cultura Material e Museus – Museu Antropológico UFG – 1
. Coordenadora do evantamento descritivo dos ens Móveis da Casa de
Goiandira do Couto para Inventário – 201 . Autora do Artigo: Resgate de Pintura Mural de Grande
Dimensão: Ipameri – Go, pela Revista rasileira de Arqueometria Restauração Conservação.
Olinda – PE. III Simpósio de Técnicas Avançadas em Conservação de Bens Culturais.
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO,
CULTURA E ESPORTE