Recebido em: 14/03/2019
Aceito em: 28/04/2019
ARTIGO
Maria Jacqueline Rodet*, Déborah Duarte-Talim**, Pedro Ignácio Schmitz***
RESUMO
Os vestígios líticos do sítio GO-JA-03, Serranópolis, estado de Goiás, apresentam
uma produção de grandes lascas alongadas, mais e menos espessas, retiradas com
percussão de pedra macia ou percussão orgânica tangencial, com procedimentos
técnicos muito específicos nas proximidades do talão, as quais servirão de suporte
para instrumentos unifaciais de secção plano-convexa. O método de análise
compreendeu o conceito de Cadeia Operatória, que considera os instrumentos
desde o seu abandono, passando por todas as fases de produção. Os resultados
obtidos demonstram uma indústria bem estruturada com um alto nível de savoirfaire.
Palavras-chave: Tecnologia lítica; Brasil Central; Serranópolis.
* Professora Associada da Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas, Departamento de Antropologia - Av. Pres. Antônio Carlos, 6627 - Pampulha, Belo HorizonteMG, 31270-901. CNPq; Fapemig. E-mail: mjrodet.ufmg@gmail.com. https://orcid.org/0000-0001-57425999.
** Doutoranda Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas,
Departamento de Antropologia – R. Tumucumaques, 85, bl3, apto 404 - Santa Mônica, Belo HorizonteMG, 31530-180. Bolsista Fapemig. E-mail: delsduarte@hotmail.com. http://orcid.org/0000-0002-54703364.
*** Coordenador da Arqueologia do Instituto Anchietano de Pesquisas - Universidade do Vale do Rio dos
Sinos, Instituto Anchietano de Pesquisas. Avenida Unisinos, 950 - Cristo Rei, São Leopoldo-RS, 93022000.
E-mail: anchietano@unisinos.br. http://orcid.org/0000-0003-4619-8668.
DOI: https://doi.org/10.24885/sab.v32i1.633
ARTICLE
ABSTRACT
The lithic vestiges of GO-JA-03 site, Serranópolis, state of Goiás, Brazil, present
large, thin, elongated flakes knapped with soft stone percussion or tangential
organic percussion, with very specific technical procedures near the butt. These
flakes will serve as support for unifacial artifacts (flat-convex section). The
method of analysis included the concept of the Chaïne Opératoire, which considers
the instruments from their abandonment through all phases of production. The
results demonstrate a well-structured industry with a high level of savoir-faire.
Keywords: Technological approach; Central Brazil region; Serranópolis.
ARTÍCULO
RESUMEN
Los vestigios líticos del sitio GO-JA-03, Serranópolis, estado de Goiás, presentan
una producción de grandes lascas alargadas, más y menos espesas, retiradas con
percusión de piedra blanda o percusión orgánica tangencial, con procedimientos
técnicos muy específicos en las proximidades del talón, que servirán de soporte
para instrumentos unifaciales de sección plano-convexa. El método de análisis
comprendió el concepto de Cadena Operativa que considera los instrumentos
desde su abandono pasando por todas las fases de producción. Los resultados
obtenidos demuestran una industria bien estructurada con un alto nivel de savoirfaire.
Palabras clave: Tecnología lítica; Brasil Central; Serranópolis.
As indústrias líticas antigas de Serranópolis… | Maria Jacqueline Rodet, Deborah D. Talim, Pedro I. Schmitz
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INTRODUÇÃO
A região de Serranópolis encontra-se no sudoeste do estado de Goiás, sendo uma
importante área com sítios arqueológicos que se insere no contexto do Brasil Central. O
setor apresenta uma vegetação tipicamente de cerrado, sustentada por um substrato
rochoso de Arenito Botucatu, com altas temperaturas e duas estações muito bem
definidas ao longo do ano (estação chuvosa e estação seca). As pesquisas sistemáticas na
região de Serranópolis começaram no ano de 1975, sob a direção do P. I. Schmitz, tendo
sido encontrados 40 sítios sob abrigo em uma área de 20 x 30 km, em uma altitude entre
950m e 500m. As datas mais antigas situam as ocupações no início do período Holoceno,
sendo as mais antigas de 10.580 ± 1150 B.P (Cal BP 12.744-11.834 anos 1 ) e as mais
recentes de 925 ± 60 BP (Cal B.P.956-667 anos), no sítio GO-JA-01 (SCHMITZ et al.,
2004), demonstrando uma ocupação de longa duração no setor. As escavações foram
realizadas por níveis artificiais de 10 cm: trata-se, em grande parte, de um sedimento
composto por uma areia muito fina (decomposição da rocha encaixante, materiais
antropogênicos), difícil de manter in situ durante as escavações. Os vestígios exumados
podem ser sintetizados em: uma grande quantidade de vestígios líticos, materiais
orgânicos, tais como milho, algodão, restos de frutas, cordas e folhas, etc., além de
fragmentos cerâmicos nos níveis superiores e em superfície. As paredes dos abrigos estão
cobertas por pinturas e gravuras (SCHMITZ et al., 2004).
Nosso interesse são as indústrias líticas antigas e as intenções tecnológicas das
produções dos grupos no período. Nesse sentido, o sítio GO-JA-03, o maior dos sítios do
grupo D (fig. 1), parece ter uma coleção lítica muito especifica (área com acúmulo de
restos de debitagem), a qual poderá contribuir para responder às nossas indagações.
Trata-se de um grande abrigo, exposto à leste (recebendo o sol da manhã), formado pela
inclinação das camadas de arenito, algumas altamente silicificadas, o que dá ao local uma
importância no que se refere à matéria-prima de excelente qualidade para o lascamento.
No centro do abrigo há uma plataforma, acessível através de uma fissura da rocha. Ao
que parece, o local foi sistematicamente utilizado pelos lascadores e lascadoras. O Corte
IV, realizado na base dessa plataforma, demonstra um acúmulo de restos de lascamento
ao longo de dez camadas estratigráficas que atingem 220 cm de profundidade (fig. 2).
Esses restos estão ligados às ocupações que são datadas de 9.765 ± 75 BP (Cal BP 11.35910.714 anos – nível 210-220 cm, Fase Paranaíba) e de 5.720 ± 50 BP (Cal BP 6.657-6.302
anos – nível 150-160 cm – SCHMITZ et al., 2004). Nesse sentido, as coleções exumadas
do setor são específicas e trazem em si informações chaves para a compreensão das
escolhas técnicas da produção.
O objetivo principal deste trabalho é buscar através dos vestígios exumados do
Corte IV, as intenções das produções humanas presentes nessas indústrias líticas. Quais
regras culturais (econômicas e técnicas), regeram e estruturam a produção de certos
instrumentos líticos presentes no sítio? Paralelamente, pretende-se demonstrar que os
conceitos da Escola Francesa são um instrumento eficaz para a compreensão das
intenções inscritas nas indústrias líticas.
A calibração das datas presentes neste artigo foi feita através do programa online OxCal V.4.3.2 (RAMSEY, 2009),
baseada na curva SHCal-13 (HOGG et al., 2013), adotando-se um nível de probabilidade de 95% (2 sigma).
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Figura 1 - Mapa de localização dos sítios e planta: o sítio GO-JA-03 se situa na margem do
córrego Grotão, no grupo D, enquanto o GO-JA-14 no grupo F, aproximadamente 6 km. O sítio
GO-JA-01 situa-se à aproximadamente 20 km ao norte do grupo D (SCHMITZ et al., 2004,
modificado por H. Talim). Os cortes C4 e C7 foram objeto da análise apresentada neste artigo.
Notar pequeno patamar rochosos, terracete. O acesso ao local se faz por uma pequena
passagem (SCHMITZ et al., 2004, modificado por MORENO DE SOUSA, 2014).
PROBLEMÁTICA GERAL DAS INDÚSTRIAS ANTIGAS DO BRASIL CENTRAL
Dentre as questões que permeiam o debate sobre as populações antigas que
frequentaram o Brasil central, nos interessam aquelas relacionadas à homogeneidade
tecnológica das indústrias líticas. Esse ponto de vista de uma conformidade tecnológica
no período é bem marcado na bibliografia pela utilização sistemática do termo “Tradição
Itaparica”, que denomina as ocupações com instrumentos unifaciais de secção planoconvexa presentes nos sítios arqueológicos do Brasil Central durante os períodos antigos.
Essa região abarca os atuais estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro,
Espírito Santo, Goiás e Tocantins, compreendendo uma área de mais de dois mil
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quilômetros quadrados. Entretanto nossa ideia é que, mais do que uma homogeneidade,
existe, de fato, para a região do Brasil Central, uma heterogeneidade nas produções líticas
ao longo das primeiras ocupações, a qual continua ao longo do período do Holoceno.
Para melhor compreender a discussão, é fundamental rever a questão da criação do
termo e recolocá-lo em seu contexto metodológico. O termo “Tradição Itaparica” foi
criado por V. Calderón nos anos 1960 (1965-1966;1969;1983), a partir de indústrias
encontradas na gruta do Padre, no estado de Pernambuco, durante as atividades do
Programa Nacional de Arqueologia (PRONAPA), que teve como um dos objetivos uma
classificação e um conhecimento geral da arqueologia nacional.
Nessa perspectiva, durante os anos 1965 a 1970, os trabalhos de campo foram
realizados a partir de uma metodologia padronizada de prospecções de um máximo de
sítios arqueológicos, nas distintas regiões do Brasil (exceto Amazônia, que será
contemplada mais tarde, entre os anos 1977 e 1981). Os materiais exumados foram
organizados por seriação em categorias denominadas “tradições”, “fases” e sub-fases” e
localizados no tempo, num primeiro momento, por datações relativas e, mais tarde, por
14C (BARRETO, 1999-2000). Tais categorias foram definidas pelos mentores
intelectuais desse trabalho, os americanos P. Philipps e G. Willey (1953), e aplicados tanto
no contexto da América do norte como na América do Sul.
No Brasil, o trabalho foi financiado pelo Smithsonian Institute, pelo Conselho
Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq e pela Secretaria do
Patrimônio Artístico e Nacional (SPHAN, mais tarde IPHAN). Os coordenadores do
projeto no Brasil, os pesquisadores B. Meggers e C. Evans, contaram com a participação
de arqueólogos brasileiros de diversos estados (BARRETO, 1999-2000; RODET et al.,
2011).
Na perspectiva americana dos autores, a taxonomia, muito utilizada nas ciências
biológicas, é um método básico e pode ser empregado em todas as ciências. Assim sendo,
vão aplicá-lo à arqueologia e estabelecer diferentes categorias classificatórias
(taxonômicas) dos vestígios, criando uma tipologia que, no caso, terá os grandes
unifaciais de secção plano-convexa como guia (RODET et al., 2011). Em complemento,
havia a ideia de que, nesse momento inicial da ocupação da região, os grupos não
possuíam instrumentos bifaciais.
Nesse contexto teórico-metodológico da escola Americana, a definição realizada
para as indústrias da gruta do Padre apresenta alguns limites no que concerne à sua
aplicação ao conjunto do Brasil Central, quais sejam, i. trata-se de estudos baseados em
análises tipológicas e não tecno-econômicas; ii. tendo como conceito os fósseis guias, no
caso os unifaciais de seção plano-convexa realizados sobre seixos; iii. por outro lado, as
datações mais antigas da gruta colocam-na no período do Holoceno médio. Portanto
relacioná-las diretamente às indústrias de populações dos períodos Pleistoceno e
Holoceno inicial (como vem sendo feito sistematicamente no Brasil), sem uma ampla
discussão, pode não ser metodologicamente apreciável.
Assim, apesar de parecer bem localizada no tempo e no espaço, o termo “Tradição
Itaparica” não define bem os distintos componentes das indústrias e menos ainda sua
temporalidade. Em contrapartida, ele homogeneíza as distintas produções de um longo
período.
Por outro lado, os métodos mais recentes de análises, baseados nos conceitos de
cadeia operatória, análise tecno-econômica, economia da debitagem e savoir-faire
(MAUSS, 1947; MAGET, 1953; LEROI-GOURHAN, 1964; TIXIER, 1967, 1980 [1984];
PERLÈS, 1980; PELEGRIN, 1986 [1995]; BOËDA, 1990; PIGEOT, 1991; INIZAN et al.,
2017; dentre outros), apesar de terem começado a ser aplicados no Brasil, quase uma
década mais tarde, permitem uma compreensão mais ampla das escolhas e das intenções
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humanas presentes nos instrumentos e objetos produzidos pelos grupos ao longo do
tempo. Nesse sentido, ao considerar diversos estudos realizados em áreas do Brasil
Central (FOGAÇA, 2001; RODET, 2006; BUENO, 2007; ISNARDIS, 2009; RODET,
2009; LOURDEAU, 2010; RODET et al., 2011; BASSI & RODET, 2011; MARTINS &
KASHIMOTO, 2012; BASSI, 2012; DIAS & BUENO, 2013; RODET & DUARTETALIM, 2013; KOOLE, 2014; MORENO DE SOUSA, 2014; VIEIRA et al., 2015; entre
outros), foi possível observar que, contrariamente a uma uniformidade, parece existir
uma grande variedade de escolhas para as produções de instrumentos unifaciais, as quais
convivem ao mesmo tempo em diferentes áreas do Brasil Central. Observa-se que: as
matérias-primas (arenitos, quartzitos, quartzos, etc.), os suportes (lascas, seixos,
plaquetas, etc.), as técnicas (percussão direta dura ou macia, percussão sobre bigorna,
etc.), assim como métodos distintos foram selecionados nas diversas produções líticas.
Ainda, inversamente ao que foi definido para o período, nota-se a presença de uma
indústria bifacial, também diversificada, ao longo de todo período. Foram observadas
produções de grandes peças bifaciais (vale do rio Peruaçu, Serranópolis, etc.), assim como
uma diversificação na produção de pontas de projétil (FOGAÇA, 2001; RODET, 2006,
2009; ISNARDIS, 2009; BASSI, 2011; KOOLE, 2014; RODET et al., no prelo; entre
outros).
Mesmo se pleiteamos uma heterogeneidade nas produções antigas, é importante
apresentar os pontos comuns que se sobressaem, quais sejam: a busca por instrumentos
de seção plano-convexa, com alta disponibilidade de gumes utilizáveis, realizados sobre
lascas alongadas ou, ainda, a escolha de matérias-primas que respondem bem ao
lascamento, para a produção de instrumentos mais elaborados (RODET et al., no prelo).
Finalmente, acreditamos que a abordagem tecno-econômica, utilizada cada vez
mais na América do Sul, traz um enfoque mais amplo e permite compreender o objeto
final, o instrumento, desde a ideia de sua concepção até o seu abandono, considerando
todas as suas fases de produção. Nesse sentido, o estudo aqui apresentado pretende
contribuir para esclarecer um pouco mais a questão da heterogeneidade das indústrias
desse período. Pretende-se demonstrar que a produção realizada no setor estudado
aponta para a utilização de duas técnicas bem especificas para retirada de grandes lascas
alongadas, até então não descritas na bibliografia, as quais serão transformadas em
instrumentos unifaciais. Trata-se de um alto nível de savoir-faire aplicado a uma matériaprima de qualidade para o lascamento. Escolhas bem especificas e distintas de outros
setores do Brasil Central, demonstrando a diversidade de suas indústrias.
A COLEÇÃO ESTUDADA
A coleção, exumada do Corte IV (2,5 x 2,5 cm e 2,40 m de profundidade), provém
principalmente dos níveis antigos (15 a 24) do grande sítio GO-JA-03 (fig. 2). Trata-se
dos vestígios líticos dos níveis profundos, relacionados ao que é denominado Fase
Paranaíba, os quais apresentam um total de 81.624 peças (níveis 15 a 24), entre
instrumentos, núcleos e brutos de debitagem (SCHMITZ et al., 2004: 31). Somente uma
parte da coleção foi estudada e é objeto deste artigo (níveis 21 a 24) em função das
datações, realizadas a partir no nível 21, demonstrando claramente a antiguidade dos
níveis escolhidos. Em função da grande quantidade de pequenas lascas tecnomorfologicamente similares (realizadas em arenito silicificado, homogêneo, dimensões
entre 2 e 4 cm, morfologia tendendo a quadrangular, talões lisos, sistematicamente
abrasados, sem acidentes; face superior com retiradas na mesma direção ou ligeiramente
deslocada), foi realizado um recorte amostral visual de aproximadamente 50% dessas
lascas (aproximadamente 2 kg de material) e foram analisadas por volta de 2.400 peças
(instrumentos, lascas de debitagem, façonagem e retoque), além de 2.190 kg de pequenas
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lascas analisadas, mas não contabilizadas. Em contrapartida, os instrumentos foram
todos analisados, trata-se de 4 instrumentos unifaciais; 1 instrumento bifacial e 22
instrumentos simples 2 , pouco transformados (unifacialmente e bifacialmente). Serão
apresentados aqui os principais resultados relacionados aos vestígios com informações
tecnológicas mais relevantes. Para complementar o estudo, foram considerados um
instrumento exumado do Corte VII (nível 31 - GO-JA-03), próximo ao Corte IV e dois
outros instrumentos provenientes dos níveis antigos do sítio GO-JA-14, localizado nas
proximidades (figs. 1e 2).
Figura 2 – Estratigrafia dos sítios analisados: tanto o sítio GO-JA-03 quanto o GO-JA-14
apresentam longa sequência estratigráfica, com vestígios nos diferentes momentos de
ocupação do setor (Adaptado de SCHMITZ et al., 2004).
De acordo com P. I. Schmitz e colegas (2004), a matéria-prima utilizada na coleção
é principalmente o arenito silicificado ou quartzito (80.415 peças - 98,84 %), seguida por
calcedônia (938 peças - 1,15%), basalto (7,0 - 0,08%) e matérias-primas variadas (14 0,001%). O arenito é de excepcional qualidade para o lascamento e está presente na rocha
encaixante do abrigo ou nas torres residuais do entorno e foi sistematicamente utilizado
ao longo das ocupações. A calcedônia (variados materiais criptocristalinos ou de
estrutura fina) tem sua origem no basalto e pode ser encontrada na proximidade dos
abrigos. Os basaltos, com espessura considerável, atualmente são observados na margem
Instrumento simples é um termo escolhido para se opor a instrumento elaborado. Enquanto alguns instrumentos têm
uma longa cadeia operatória de produção, passando por distintas fases, com trocas de técnicas e um produto final podendo
ser totalmente diferente do suporte inicial; os instrumentos simples têm poucas transformações. Em geral, trata-se de
lascas ou fragmentos que recebem algumas poucas modificações no gume: alguns retoques em setores específicos do
suporte que servem para regularizar parte de um bordo, tornando-o mais apto a uma determinada ação (seja cortar, raspar,
furar, etc.). Utiliza-se sempre a mesma técnica (em geral percussão direta dura), podendo ser retoques diretos, inversos,
ocupando um gume ou vários, mas sem modificar de maneira significativa a morfologia geral do suporte, ou seja, não há
façonagem. Essa categoria de instrumento costuma ser a mais comum nas indústrias líticas brasileiras, acompanhando
sistematicamente indústrias mais elaboradas.
2
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esquerda do rio Verde e em seus afluentes, na forma de seixos. Podem ser também
encontrados no topo dos abrigos. Os cristais de quartzo são observados dentro do
basalto, são raros e de pequenas dimensões. Os óxidos de ferro também provém do
basalto ou, ainda, de concreções dentro do arenito (SCHMITZ et al., 2004)
Trata-se de um arenito com alto grau de silicificação, homogêneo, granulometria
fina a média, de coloração clara, caramelada e esbranquiçada, com córtex espesso
presentes nos blocos retirados ou desprendidos naturalmente das paredes.
Originariamente, os arenitos da Formação Botucatu tiveram contato com as lavas
basálticas da Formação Serra Geral, formando localmente arenitos fortemente
silicificados em camadas horizontais, espessas, em forma de mesas, torres, etc.
(SCHMITZ et al., 2004). Mesmo que neste estudo não tenham sido realizadas lâminas
delgadas para relacionar os instrumentos às fontes de matérias-primas, os grandes
núcleos abandonados nos platôs, próximos às torres; os vestígios de exploração das
paredes do abrigo (negativos de retiradas); as descrições das rochas, feitas a olho nu; além
da grande quantidade de material lítico pesado e de grandes dimensões, não deixam
dúvida de que se trata de uma matéria-prima local. A presença de uma matéria-prima
local abundante e de excelente qualidade para o lascamento, implica em um baixo gasto
de energia na busca da mesma e na não necessidade de estocagem no sítio. Por outro lado,
a dimensão e qualidades excepcionais da jazida dão ao local uma significação distinta na
composição do espaço tradicional. Os grupos passados certamente tinham o setor como
um lugar de grande importância dentro de seus conhecimentos e o mesmo deve ter sido
frequentado regularmente por seus atributos de ordem física, cultural e/ou simbólica.
A grande quantidade e a especificidade de material exumado do pequeno setor
escavado denotam uma constante utilização do local ao longo de milhares de anos como
um lugar de produção de instrumentos. Nesse sentido, é importante pensar que não se
trata de uma amostra sistemática de uma ou duas cadeias operatórias, mas de porções de
diversas cadeias operatórias que, muito provavelmente, se complementavam em outros
locais do sítio, como aponta a ausência de certas fases de início de debitagem (não há
lascas de entame3, por exemplo) ou dos instrumentos finais desejados. De uma maneira
geral, a coleção apresenta grande parte dos processos de produção (SCHMITZ et al.,
2004: 32): pequenos, médios, ˝grandes e até maiores que os grandes˝ núcleos (466 peças 0,57%); lascas muito pequenas, pequenas (23.909), médias, grandes e ˝maiores que as
grandes˝ (67.994 lascas, 83,57%); fragmentos de dimensões e morfologias variadas (12.597
- 15,48%); seixos (6 peças - 0,007%); instrumentos unifaciais e bifaciais elaborados ou
simples (entre outros: 1 instrumento bifacial grande; 19 pontas; 4 pontas de projetil), 94
unifaciais, percutores, etc., (290 instrumentos, 0,35%).
O material depositado no Instituto Anchietano se divide entre grandes e médias
lascas corticais ou semi-corticais de início de debitagem (entretanto não observamos
lascas de entame, o que pode indicar que as mesmas ficaram no local de extração) e
milhares de pequenas lascas de façonagem e de retoque de instrumentos unifaciais e
bifaciais, realizados principalmente em arenito silicificado. As peças apontam para um
excelente controle do lascamento e um alto nível de conhecimento dos lascadores, tanto
da qualidade da matéria-prima utilizada, que responde muito bem ao lascamento, quanto
da busca de suportes e instrumentos muito específicos, que são imagens mentais claras
que obrigam os lascadores a se valerem sempre ou frequentemente das mesmas fases de
produção, gerando, em consequência, uma grande quantidade de lascas normatizadas.
3
Lasca de entame: também chamada de lasca inicial. Teoricamente é a primeira lasca retirada de um bloco de matériaprima (INIZAN et al., 2017) e apresenta sempre córtex, neocórtex ou faceta, no caso do cristal, em toda a na face superior
e no talão.
As indústrias líticas antigas de Serranópolis… | Maria Jacqueline Rodet, Deborah D. Talim, Pedro I. Schmitz
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Mesmo se muitos instrumentos inteiros e fragmentados, unifaciais e bifaciais foram
exumados durante as escavações, somente quatro dessas peças fazem parte desse estudo:
um grande instrumento bifacial e três instrumentos unifaciais plano-convexos mais ou
menos espessos, realizados sobre lascas alongadas, mais e menos largas. Por outro lado,
dois outros instrumentos presentes nas coleções do Instituto Anchietano, provenientes
de um sítio próximo (por volta de 6,0 km), GO-JA-14, fazem parte desta análise em
função de seu nível de elaboração, pois certamente complementam a intenção da
produção da região. Trata-se de instrumentos provenientes dos níveis antigos do sítio,
datados de 10.740 ± 85 B.P. (Cal B.P. 12.838 a 12.397). De acordo com Schmitz e colegas
(2004), esse sítio, como o GO-JA-03, apresenta uma estratigrafia profunda, constituída
por treze camadas, sendo a única datação proveniente da camada 12 (fig. 2).
O ideal seria, após o estudo, inserir os conjuntos analisados dentro do contexto do
sítio, aproximando-os do restante das coleções exumadas, realizando remontagens
físicas, buscando as repartições espaciais ao longo dos diferentes momentos da
cronologia, ou, ainda, apresentar estudos relacionados aos macro e micro traços de
possíveis utilizações, procurando interações funcionais entre os diferentes setores e
também relacioná-los a outras matérias-primas. Entretanto o estudo ficou limitado ao
setor aqui apresentado, a uma caracterização geral das séries líticas analisadas, a uma
descrição e reflexão sobre a intenção das produções, da transformação do material bruto
em diferentes instrumentos ao longo dos períodos antigos. Ainda, os dados apresentados
por outros autores serão integrados aos nossos resultados.
AS INFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS DAS SÉRIES ESTUDADAS
As cadeias operatórias
A leitura tecnológica dos diferentes tipos de vestígios permite buscar a intenção da
produção, como podem se organizar e se estruturar as fases de produção dos objetos,
como os restos técnicos se conectam. Por outro lado, a ideia atual, em muito baseada em
estudos etnoarqueológicos, é que as ações técnicas são construções culturais as quais
foram, em um primeiro momento, estabilizadas e memorizadas para, em seguida, serem
transmitidas tradicionalmente dentro do grupo. Os objetos são imagens mentais mais ou
menos racionais, nesse sentido, todo ato técnico é carregado de intenções culturais, pois
traz em si uma relação estrita com os conhecimentos apreendidos, memorizados e
transmitidos através das gerações. Cabe ao tecnólogo buscar evidenciá-los e para isso é
fundamental identificar as preferências, os conhecimentos, as performances
(PELEGRIN, 2000). Assim organizado, o estudo permite discutir a função dos diferentes
sítios e ainda tentar delimitar o nível econômico dentro do quadro local ou regional.
O interesse dessa análise é apreender e evidenciar as tendências, os gestos, as
técnicas e os métodos das etapas das diferentes cadeias operatórias das indústrias líticas
exumadas, buscando, mais do que os objetos, as intenções humanas.
No material estudado foi possível observar duas cadeias operatórias principais,
mais elaboradas, e uma terceira, mais simples, realizadas sobre distintos restos brutos de
debitagem. Uma quarta cadeia operatória foi observada sobre os instrumentos
provenientes dos níveis antigos do GO-JA-14 (fig. 3):
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Figura 3 – As diferentes intenções produtivas: os instrumentos.
A: Unifacial C7, nível 31 – o suporte é uma lasca alongada (19 x6,2 x 1,8 cm), façonada
unifacialmente, retirada por percussão tangencial de pedra macia, talão pequeno liso,
abrasado, sem acidentes (19 x 6,2 x 1,8 cm). B: Unifacial nº. 531, C4, nível 18 – unifacial
sobre lasca alongada (16 x 3,9 x 1,8 cm), retirada por percussão tangencial de pedra macia,
face inferior quase plana e talão diminuto; façonada nas laterais com duas séries de retiradas,
por vezes, refletidas. Apresenta estigmas de (provável) encabamento (embotamento e micro
estilhaçamento) na porção meso proximal. C: Unifacial nº. 680, C4, nível 18 – unifacial sobre
lasca alongada (12,2 x 3,7 x 1,2 cm) pouco espessa na parte proximal (0,7 cm) e mais
espessa na parte distal (1,4 cm; 1 cm na parte central). D: Unifacial nº. 513, GO-JA-14,
desmoronamento de níveis antigos – instrumento sobre lasca alongada, muito pouco espessa
(10,2 x 3,1 x 0,5 cm), retirada por percussão macia orgânica, pequeno talão; apresenta uma
retirada central que se assemelha a uma canelura, rodeada por pequenas retiradas que criam
um gume equilibrado. E: Bifacial nº.533, CVII, nível 20 – instrumento bifacial, sobre lasca mais
larga do que longa (9,2 x 13,1 x 2,3 cm), retirada por percussão direta dura, retiradas bifaciais
em maior número na face superior. F: instrumento simples, sobre lasca, com retoque unifacial.
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I. A primeira delas refere-se à produção de unifaciais sobre grandes lascas
alongadas, mais ou menos espessas, largas, retiradas por percussão direta dura ou
percussão tangencial de pedra macia. Os suportes procurados terão sistematicamente
talões pequenos (em relação às dimensões da lasca), sem bulbo marcado, setor proximal
pouco espesso em oposição a uma parte distal mais espessa, faces inferiores tendendo a
planas, sem acidentes acentuados. Os talões são preparados por procedimentos
específicos que os evidencia, seja por abrasão insistente, por émoussé ou por pequenas
retiradas no entorno de onde será dado o golpe. Nas faces superiores, os maiores
negativos centrais, geralmente realizados antes da retirada do suporte, podem ser no
mesmo sentido da lasca suporte, com um pequeno deslocamento do eixo de percussão
ou, menos frequente, podem apresentar retiradas ortogonais ao eixo de debitagem. Os
instrumentos analisados, assim como as grandes lascas alongadas da coleção, apresentam
duas ou mais retiradas centrais (nem sempre na mesma direção do suporte) anteriores à
debitagem da lasca;
II. A segunda cadeia operatória, menos visível na coleção (em função de uma menor
quantidade de estigmas relacionados à produção bifacial, tais como, talões diedros, faces
superiores com negativos opostos, etc.), produz peças bifaciais. Esse conjunto pode ser
dividido em produções distintas: na primeira encontra-se um grande instrumento
bifacial sobre lasca mais larga do que longa, com pouca transformação, além das
pequenas lascas de retoque com estigmas típicos de percussão bifacial. Na segunda,
aparecem os restos brutos de lascamento de pontas de projétil bifaciais. Trata-se uma
grande quantidade de pequenas e médias lascas de façonagem e de retoque, pouco
espessas com talões lisos, lineares, em asa ou diedros, abrasados insistentemente e/ou
com émoussé, retiradas por percussão direta macia orgânica ou dura. Nas faces superiores,
há negativos na mesma direção do suporte, além de outros com pouco ou maior
deslocamento de eixo ou em oposição ao eixo da lasca. As faces inferiores não apresentam
bulbos ou acidentes marcados, os perfis tendem a retos ou curvos;
III. A terceira produção, simples, é realizada sobre qualquer categoria de restos
brutos da debitagem. A presença de 22 instrumentos pouco transformados, simples,
unifaciais, confirmam essa intenção. Trata-se de lascas (ou fragmentos) de dimensões
variadas (grandes, médias ou pequenas), sem padronização, com ou sem córtex. Os
retoques unifaciais, mais raramente bifaciais, ocupam pequenas partes dos gumes, sem,
no entanto, transformá-los muito;
IV. Ainda, acrescenta-se à análise uma quarta produção proveniente do sítio GOJA-14: trata-se de instrumentos unifaciais pouco espessos bastante padronizados, sobre
suporte alongado, retirados por percussão macia. A face superior apresenta uma grande
retirada na mesma direção do suporte, lembrando uma canelura. A face inferior é plana,
sem acidentes. Trata-se de instrumentos alongados com gumes cortantes.
As intenções das produções
Um objeto é uma imagem mental pré-definida culturalmente, mais ou menos
racional, à qual, na ausência do modelo, o lascador se remete (PELEGRIN, 1986 [1995]).
Nessa perspectiva, os instrumentos líticos mais elaborados são imagens dos pensamentos
e dos desejos sociais e têm com eles uma relação “dialética”: tanto estruturam a sociedade
como são estruturados por ela. Estruturam no sentido que são necessários certos
conhecimentos tanto do espaço de vivência, para, por exemplo, encontrar certas
matérias-primas de qualidade, quanto no savoir-faire para trabalhá-las. Nem todos em
um grupo podem ou estão aptos a caminhar muitos quilômetros na busca de rochas ou
dominam as diversas técnicas de lascamento. Entretanto, certamente, parte dos membros
de um grupo tem um mapping do espaço na mente e conhecem os locais importantes que
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185
dispõem das matérias-primas fundamentais para a (sobre)vivência da comunidade.
Havendo uma matéria-prima de qualidade para o lascamento, o grupo se organizará para
explorá-la em um determinado período do ano ou quando houver necessidade. Ademais,
certamente existe um grupo específico que se dedica e domina as regras do lascamento.
Podemos imaginar lascadores em diversos estágios de aprendizado no entorno de um
lascador experiente (fato observável também no material arqueológico – CHAUCHAUT
& PELEGRIN, 2004; RODET & DUARTE-TALIM, 2013; DUARTE-TALIM & RODET,
no prelo; KLARIC, 2018; por exemplo). Em contrapartida, os objetos produzidos pela
sociedade são representações e desejos de seus membros e contém em si tais aspectos.
Quanto mais estruturados, mais racionais eles são, mais representativos do arcabouço
social, mais normatizados, o que permite ao tecnólogo observar com uma certa facilidade
as regras que o gerenciam.
No caso da coleção analisada do sítio GO-JA-03, as principais cadeias operatórias
presentes ao longo da estratigrafia mostram a procura por pelo menos três objetos
específicos. O principal deles, que parece se perpetuar por um tempo longo na região e
sobre os quais temos um maior número de informações tecnológicas, são os unifaciais
alongados de seção plano-convexa, realizados sobre lascas de arenito silicificado ou de
quartzito, normatizadas, retiradas por percussão direta dura ou por percussão tangencial
de pedra macia. A segunda principal intenção seria a produção de pontas de projétil
bifaciais, e uma terceira intenção, menos presente nos restos brutos de lascamento, é a
produção dos grandes bifaciais. Em uma análise um pouco mais ampla do setor do sítio,
podemos conectar ainda os grandes unifaciais alongados, retirados por percussão macia
orgânica tangencial, muito pouco espessos, que apresentam um negativo na face superior
como uma canelura, provenientes do sítio GO-JA-14.
Os unifaciais de secção plano-convexa (fig. 3) são produzidos a partir das grandes
lascas alongadas, espessas na parte distal, com pequenos talões, sem bulbos marcados.
Esses suportes bem normatizados parecem ser a base dos instrumentos os quais seguem
essa mesma morfologia, em todo caso, no início de sua produção. Do nosso ponto de
vista, trata-se de um tipo de instrumento que, ao longo de sua existência, evolui em sua
morfologia (entre outros aspectos, através de sua utilização, redução, transformação,
reconfiguração de sua morfologia e mesmo em função dos diferentes níveis dos
lascadores que podem trabalhá-lo ao longo de sua existência). No primeiro momento de
sua produção, os instrumentos podem medir mais que 20 cm de comprimento. Uma
regra clara pôde ser observada, presente sistematicamente nas grandes lascas: a parte
proximal mais estreita e pouco espessa se opõe a uma parte distal espessa e larga. Algumas
retiradas centrais, frequentemente anteriores à debitagem do suporte, por vezes largas,
estruturam a face superior da lasca. O trabalho de façonagem, por sua vez, contorna
quase toda a peça (salvo, frequentemente, o setor do pequeno talão), com séries de
retiradas pouco espessas, que partem da face inferior e terminam nesses grandes
negativos centrais, produzindo dorsos mais e menos abruptos e segmentos de gumes
retilíneos, convexos ou côncavos. Os dois gumes laterais paralelos estão ligados por um
terceiro, arredondado (parte distal do suporte) que tem um tratamento diferenciado, com
negativos mais longos e curvos, por vezes, criando um denticulado no gume. O interesse
nesse primeiro momento é manter a cintragem desse setor. O objeto final é equilibrado
e apresenta uma grande extensão de gume (laterais e distal) que, somados, inicialmente,
podem chegar a mais de 20 cm. Todo o trabalho de façonagem é realizado ora por
percussão orgânica, ora por percussão direta dura. Entre as ações técnicas, tais como
preparar o talão com pequenas retiradas laterais (provavelmente por percussão
tangencial de pedra macia), abrasar, émoussé e retirar a lasca, existe um ir e vir intenso, o
que significa uma troca de técnica frequente durante essa fase da produção.
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186
A outra intenção clara é a produção de pontas de projétil, materializada nas lascas
de façonagem e de retoque com talões e estigmas característicos (talões diedros, face
inferior muito plana, principalmente no setor mesial, negativos opostos na face
superior...). Por outro lado, a produção bifacial parece mais ampla, como indica o grande
instrumento com retoque bifacial realizado sobre lasca mais larga do que longa (fig. 3):
apresenta retiradas extensas em alguns setores, diretas, inversas, alternadas e alternantes.
Finalmente, os instrumentos muito pouco espessos, alongados (fig. 3),
representados por dois exemplares do sítio GO-JA-14, indicam e complementam as
intenções e capacidades técnicas de produção destas populações antigas. Trata-se de
instrumentos muito pouco espessos (com espessuras que variam entre 0,5 cm e 0,6 cm
nos gumes laterais e 0,3 cm na canelura central) sobre grandes lascas. As lascas suporte
muito padronizadas apresentam talões muito pequenos em relação às dimensões da lasca.
Suportes alongados, com espessura mínima e talões de pequenas dimensões só podem
ser resultantes da percussão macia orgânica.
Os instrumentos unifaciais
Diante dos instrumentos unifaciais de seção plano-convexa, o projeto do lascador
parece bem identificado. A morfologia alongada com extremidades opostas, uma
extremidade mais espessa do que a outra e com tratamentos diferenciados, além de uma
face plana e outra convexa, parece ser uma escolha cultural bem específica e uma imagem
mental estabelecida. Normas estritas influenciam não só nas dimensões e morfologias,
mas também na criação de ampla disponibilidade de gumes. A partir de uma grande lasca
alongada e larga, com um ou mais negativos centrais, retira-se pequenas quantidades de
matéria-prima no seu entorno a partir da face inferior, criando um volume inicial
alongado com gumes paralelos, mais e menos retilíneos, por vezes, ligeiramente
convexos, e outro tendendo a ogival na sua parte mais espessa (porção distal da lasca
suporte). Esses instrumentos guardam em si suas próprias reservas de matéria-prima e,
muito provavelmente, são objetos de utilização variada e uso longo, podendo ser
transformados morfologicamente, como indicam os vários estados técnicos nos quais são
encontrados (inicial, já utilizado e pouco reavivado ou, ao contrário, muito reavivado e
morfologicamente diferente do seu aspecto inicial). Esses variados estados técnicos
podem ser interpretados como instrumentos distintos. A questão que pode ser colocada
é: um objeto em transformação morfológica (e talvez funcional) ao longo de sua vida deve
ser apreendido sempre como sendo o mesmo instrumento ou, de fato, trata-se de vários
instrumentos que correspondem a intenções de produção distintas? Um primeiro nível
de reflexão seria pensar que essas diferentes morfologias e funcionalidades já estão
introspectadas no projeto mental inicial, ou seja, as possíveis transformações do objeto
já estariam previstas desde sua concepção (RODET, 2006; LOURDEAU, 2010). Outro
elemento importante que ajuda a refletir sobre esses unifaciais plano-convexos é pensar
que um instrumento pode ter funções diferentes de acordo com as morfologias,
volumetrias, ângulos e tipos de gumes (LOURDEAU, 2010; 2016), mas também
certamente em função do tipo de superfície na qual ele vai agir. Um único instrumento
pode agir sobre distintas superfícies para raspar, furar, cortar, etc.; nesse sentido, ele terá
diferentes tipos de ângulos e gumes e isso pode estar previsto desde o momento de sua
concepção.
Os unifaciais de secção plano-convexa são instrumentos estabilizados presentes em
várias regiões do Brasil e da América do Sul desde a passagem dos períodos Pleistoceno
e Holoceno e no início do Holoceno.
Em uma escala geográfica mais ampla, a presença de instrumento unifaciais
coexistindo com outros, bifaciais, tem sido observada em ocupações antigas de sítios do
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187
Chile, do Peru, da Venezuela e da Colômbia (DILLEHAY, 1999; DILLEHAY et al., 2015).
No Chile, no Altiplano do Deserto do Atacama (3.000 m e 4.500 m de altitude), foram
encontrados diversos sítios com datas antigas (11.490 cal BP para o mais antigo)4, dos
quais foram exumados, entre outros, instrumentos unifaciais de seção plano-convexa
elaborados, normatizados e de vida longa, sobre rochas de excelente qualidade para o
lascamento (SANTORO & CHACAMA, 1984; OSORIO et al., 2011, 2017 - fig.4).
No extremo sul do Peru, também em um contexto de Altiplano, o abrigo do Caru,
datado de 8.190 ± 130 BP (Cal BP 9.528-8.584 anos), apresenta indústrias bifaciais e
unifaciais. Os unifaciais são realizados sobre lascas de jaspe, microdioritas, cherts,
basaltos, etc., provenientes dos seixos locais, classificados como raspadores discoides e
laterais (RAVINES, 1967, 1972). Ainda no Peru, na área desértica de Cuspinique,
encontra-se os sítios com as pontas Paijan e sua cadeia operatória de produção,
juntamente com unifaciais, datados entre 8.730 ± 160 BP (Cal BP 10.298-9.131 anos) até
10.380 ± 170 BP (Cal BP 12.707-11.274 anos), para o sítio Pampa de los Fossiles 14
(CHAUCHAT et al., 2016), por exemplo. Esses são realizados sobre tufa vulcânica e
façonados por percussão macia orgânica (CHAUCHAT & PELEGRIN, 2004; entre
outros – fig. 4).
Figura 4 - Pontas bifaciais e peças unifaciais de sítios da América do Sul.
A: Indústria Paijan, do Peru. Acima, pontas Paijan estreitas e mais largas. Abaixo, unifaciais,
com secção plano-convexa. Adaptado de CHAUCHAT (1991). B: Indústria do sítio Las Cuevas,
do Chile. Acima, tem-se exemplos das pontas de projétil bifaciais. Abaixo, instrumentos
unifaciais, mais ou menos espessos, com secção plano-convexa. Adaptado de Santoro e
Chacama (1984).
No Brasil, os instrumentos de seção plano-convexa estão presentes em vários locais.
Entretanto, na região de Serranópolis, estado de Goiás, a presença desse tipo de
instrumento é sistemática e a produção dos unifaciais parece ter um papel central nas
indústrias líticas.
Outros sítios do altiplano do Deserto do Atacama com esse mesmo contexto podem ser citados: Las Cuevas (11.490 cal
BP e 10.865 cal BP); Hakenasa (11.427 cal BP), Patapatame (8.160 ± 340 BP – Cal BP 10.299 -7.970 anos); Ipilla 2 (9.6709541 cal BP – SANTORO e CHACAMA, 1984; OSORIO et al., 2011, 2017).
4
As indústrias líticas antigas de Serranópolis… | Maria Jacqueline Rodet, Deborah D. Talim, Pedro I. Schmitz
188
Na coleção estudada, dois exemplares analisados provêm da área em estudo, como
já dito, possivelmente um setor de produção lítica, o terceiro vem do corte próximo (CVII
– fig. 2). Assim, podem não ser o objeto procurado, ou seja, a intenção final do lascador,
mas algo que não deu certo e foi abandonado ou o reflexo de um aprendiz ou de um
lascador pouco experiente. O objeto desejado certamente não ficou no setor de
lascamento, foi levado para outro local onde foi consumido. No entanto, mesmo nesta
perspectiva, os instrumentos que ficaram no local da produção contêm em si, pelo menos,
parte das normas que o grupo estabeleceu:
As informações tecnológicas dos restos brutos de lascamento
Algumas características tecnológicas são marcantes na coleção. A primeira delas é a
abrasão insistente da área do futuro talão complementada por um émoussé intenso, que
resulta em uma pequena superfície arredondada, polida, entre o plano de percussão e a
superfície de debitagem, local que receberá a percussão. A segunda, em parte
consequência da anterior, é a ausência ou a raridade de acidentes ao longo de todas as
cadeias operatórias. Uma terceira particularidade pode ser vinculada a essas: trata-se das
pequenas retiradas no entorno ou nas laterais do local da futura percussão, colocando-o
em evidência e facilitando o lascamento. Essas preparações e seus resultados são muito
específicos e apontam para um excelente controle da debitagem, um conhecimento da
matéria-prima e um alto nível de savoir-faire, indicando a presença de lascadores
experientes no local. A abrasão intensa permite recuar o ponto de impacto, entrando na
massa do núcleo, resultando em talão e setor proximal pouco espessos. Abrasão e émoussé
juntos correspondem à criação de um ponto de impacto “perfeito” para receber o choque
da percussão e facilitar a inicialização da fratura. A área assim preparada não apresenta
nenhuma asperidade na qual o percutor poderia esbarrar e desviar parte da força
aplicada. Em consequência, estando o percutor em bom estado e sendo a matéria-prima
homogênea, de boa qualidade para o lascamento, a fratura vai se inicializar e a onda de
choque correrá livremente até a distância desejada pelo lascador, implicando em lascas
totalmente sem acidentes e alongadas.
Um último elemento merece ser apresentado, refere-se às dimensões dos talões em
relação ao tamanho das lascas. Trata-se de talões lisos ou lineares, pequenos (1,2 x 0,3
cm; 0,2 x 1,7 cm; 0,6 x 0,4 cm; etc.), em suportes que são sistematicamente mais longos
do que 12 cm. Esses elementos apontam para a utilização da percussão orgânica ou de
pedra macia, com um golpe tangencial. Diante de pequenos talões, meticulosamente
preparados, como é o caso na coleção, somente percutores macios e pesados ou de pedra
macia, utilizados com gesto específico, são capazes de não fragmentar o bordo do núcleo,
absorver parte do golpe e criar lascas longas, regulares, planas nas faces inferiores e
pouco espessas no setor proximal. Por outro lado, a pequena dimensão dos talões permite
concentrar a energia e inicializar a fratura concoidal, que, ao contrário, seria dispersada
em talões maiores.
De acordo com M. Newcomer (1976), quando o tecnólogo entende os objetivos
presentes nos restos brutos de lascamento, torna-se possível recolocá-los nos seus
devidos lugares dentro das cadeias operatórias. Nesse sentido, algumas categorias de
peças se mostraram mais diagnósticas tecnologicamente e permitiram compreender as
principais intenções do lascamento. Trata-se: i. das grandes e médias lascas, alongadas
ou largas, de início de debitagem, retiradas por percussão direta dura e percussão
tangencial de pedra macia; ii. das grandes lascas suporte alongadas, retiradas por
percussão tangencial de pedra macia, frequentemente com pequenos talões e iii. das
pequenas lascas de façonagem e/ou retoque de instrumentos uni e bifaciais, retiradas por
percussão direta dura e macia.
As indústrias líticas antigas de Serranópolis… | Maria Jacqueline Rodet, Deborah D. Talim, Pedro I. Schmitz
189
As primeiras representam o início da debitagem sobre grandes núcleos (fig. 5): elas
podem ser grandes e espessas, alongadas ou mais largas, corticais, sub-corticais ou,
quando mais adiantado o processo do lascamento, sem a presença de córtex; retiradas
por percussão direta dura ou por percussão de pedra macia, apresentando amplas
dimensões (13,8 x 7,6 x 3,5 cm; 11,3 x 6,2 x 2,1 cm; 22,7 x 21,1 x 4,9 cm; 13,7 x 21,3 x 2
cm; etc.). Os talões, lisos, corticais ou mais raramente diedros, podem ser pequenos nas
lascas mais longas ou mais largos e espessos nas lascas mais largas e compactas,
preparados por abrasão ou pequenas retiradas ou, com menos frequência, sem nenhum
tratamento. Nas faces superiores, os negativos podem vir da mesma direção da lasca,
sendo incompletos, e indicam a exploração de grandes superfícies ou, ao contrário,
podem vir de várias direções, apontando para distintos planos de percussão. Trata-se de
peças frequentemente sem acidentes, raramente apresentam Siret ou refletido. Algumas
dessas peças contêm cúpulas de contato térmico na face superior ou nas duas faces. Duas
lascas da coleção apresentam um plano de percussão transitório, criado como estratégia
para retiradas de preparação (J. Pelegrin, com. pessoal), mise en forme do núcleo (fig. 5).
Outras lascas indicam a intenção do lascador em ter um controle, em calibrar o núcleo;
em outras se nota claramente a preocupação em retirar os pequenos acidentes ou as
arestas, limpando o núcleo de toda e qualquer inconveniência. De uma maneira geral,
nota-se nessas lascas a intenção de criar amplas superfícies de debitagem sem acidentes,
prontas para a retirada de grandes lascas suporte alongadas.
Figura 5 – Lascas de início de debitagem.
Trata-se de grandes lascas largas e compactas ou mais alongadas, retiradas por percussão
direta dura ou pedra macia, com mais e menos córtex, com talões amplos e espessos ou
pequenos. Em algumas delas, há cúpulas térmicas, indicando uma provável utilização do fogo
em momentos anteriores (A). Algumas das lascas (B), nota-se lascas de limpeza e preparação
de superfície de debitagem.
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190
Por outro lado, as grandes lascas alongadas, largas, muito regulares, de plena
debitagem, sem córtex ou neocórtex, são os mais próximos representantes dos produtos
de primeira intenção, ou seja, os suportes dos objetos unifaciais plano-convexos (fig. 6).
Essas lascas são retiradas por percussão direta dura e por percussão tangencial de pedra
macia. As peças apresentam um tratamento sistemático do talão, colocando-o em
evidência, facilitando, assim, a precisão do gesto da percussão (abrasão insistente e/ou
émoussé, pequenas retiradas nas laterais do talão, etc.). Os resultados são produtos
regulares, sem acidentes, bastante longos (na coleção podem chegar a mais de 20 cm de
comprimento), pouco espessos na parte próxima ao talão (meso-proximal) e espessos no
setor distal. Tal morfologia pode ter sido uma escolha cultural, entretanto, de acordo com
J. Pelegrin (com. pess.), a utilização da percussão macia ou de pedra macia para retirar
grandes lascas é muito eficaz, porém, necessita de talões muito abrasados, o que faz entrar
na massa do núcleo gerando tecnicamente lascas pouco espessas no setor proximal.
Ainda, o percutor macio demanda gestos tangenciais, que implicam em tocar
superficialmente o plano de percussão, que deve ser minuciosamente preparado para
suportar a pressão do percutor (um talão pequeno equivale a uma maior pressão, ainda
que o peso do percutor seja o mesmo). Em consequência, as faces inferiores se
apresentam livres de bulbos, tendendo a planas/achatadas. Nesse sentido, uma lasca
alongada pouco espessa no setor proximal pode ser um resultado da técnica empregada,
e não somente de uma escolha cultural da morfologia do instrumento. Finalmente, na
face superior, as peças apresentam um ou mais negativos que tendem a ser na mesma
direção do suporte ou ligeiramente fora do eixo, apontando para uma configuração
sistemática do núcleo.
Ainda, vale acrescentar a esse grupo diagnóstico os suportes de grandes lascas
alongadas do sítio GO-JA-14, muito padronizadas, retiradas por percussão macia
orgânica, muito possivelmente com um percutor de madeira, pesado (J. Pelegrin, com.
pessoal), ou por um grande e pesado chifre de um cervo-do-pantanal (Blastocerus
dichotomus – animal que no passado era abundante desde o sul da Amazônia até o norte
da Argentina – RAMOS, 2004). Trata-se de peças muito normatizadas (alongadas e muito
pouco espessas) que requerem uma imagem mental pré-definida e um alto nível de
savoir-faire.
Figura 6 – Lascas de plena debitagem, suporte dos instrumentos unifaciais.
Trata-se de lascas retiradas por percussão tangencial de pedra macia, alongadas, chegando a
20 cm, que têm talões pequenos, preparados através de abrasão e émoussé; o setor proximal
é pouco espesso em oposição a uma parte distal mais espessa, e as faces inferiores tendem a
ser a planas, com presença de esquilhamento do bulbo. Estas deixadas no local não
apresentam as normas procuradas e por isso foram abandonadas (refletidos, quebras, pequena
largura).
As indústrias líticas antigas de Serranópolis… | Maria Jacqueline Rodet, Deborah D. Talim, Pedro I. Schmitz
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As lascas de façonagem entram na cadeia operatória de produção de dois tipos
distintos de instrumentos, os unifaciais e os bifaciais (fig. 7). Para os primeiros, de uma
maneira geral, essa categoria apresenta produtos muito normatizados, existindo pelo
menos duas tendências de padrões morfológicos: morfologia quadrangular (próximos de
3 x 3 cm, 4 x 4 cm, 5 x 5 cm) ou mais alongada/retangular (5, 6 ou 7 x 3 cm), pouco
espessas (0,4 cm e 0,3 cm), retiradas por percussão direta macia orgânica ou direta dura.
Os perfis são ligeiramente curvos ou abruptos, bulbos ausentes ou muito discretos. Um
grupo bastante distinto dentro da categoria são as lascas com partes distais paralelas aos
talões, o perfil tendendo a curvo, principalmente na parte distal. Trata-se de peças bem
características da produção de instrumentos unifaciais que apresentam duas faces
paralelas entre si. O paralelismo das duas extremidades permite medir inclusive a altura
dos objetos (fig. 6). Na coleção observaram-se duas alturas preferencias de instrumentos:
entre 2 cm e 3 cm e outra com pouco mais de 1 cm.
A categoria apresenta talões lisos ou lineares, mais raramente em asa, pouco
espessos. As preparações variam entre abrasão insistente combinada com éémoussé ou
pequenas retiradas nas laterais do ponto de percussão, criando um talão em relevo, muito
liso e resistente, que permite a inicialização da fratura sem nenhuma asperidade e sem
refletidos. As faces superiores têm negativos que tendem a ser na mesma direção ou com
um pequeno desvio do eixo. Os acidentes mais frequentes são as pequenas quebras
laterais ou distais, provavelmente após o lascamento, dois pontos de impacto e a
fissuração do talão em direção à face superior e/ou inferior, para os talões menos
espessos. Algumas lascas apresentam córtex vestigial na parte distal, mais raramente na
lateral ou no talão.
O segundo grupo, mais discreto, responde pela façonagem de instrumentos bifaciais
e apresenta lascas alongadas (por volta de 4 cm, 5 cm e 6 cm para as maiores), pouco
espessas (0,2 cm; 0,3 cm e 0,5 cm – fig. 7). Os talões, lisos ou, mais raramente, diedros,
retirados por percussão direta macia orgânica, são pequenos (0,5 cm, 0,7 cm, 0,9 cm),
muito preparados com pequenas retiradas ou abrasão e émoussé insistentes, o que coloca
em destaque o local da percussão e permite um gesto preciso, sem erros ou acidentes. Os
perfis podem ser inclinados, curvos ou rasantes. Por vezes, observa-se um setor plano na
parte central em oposição a uma parte distal ligeiramente curva (este tipo de lasca é
relacionado aos instrumentos bifaciais que apresentam superfícies planas). As faces
superiores apresentam negativos na mesma direção, tangenciais ou, mais raramente, em
oposição ao eixo da lasca. Os acidentes são raros e quando existem se resumem a um leve
setor refletido no extremo distal da lasca (o que pode estar relacionado muito mais com
uma superfície muito plana do que com um acidente), quebras laterais ou um talão
fendido/dividido pela presença de uma fissura. Esses elementos indicam um lascamento
controlado, ou seja, realizado por lascadores experientes.
Finalmente, um grupo de lascas de pequenas dimensões e pouco espessas (0,9 x 0,9
x 0,1 cm; 1,2 x 1,1 x 0,2 cm ou 1,4 x 1,2 x 0,1 cm – fig. 7) realizadas por percussão direta
dura ou macia orgânica, apresenta talões lisos, lineares e, mais raramente, em asa,
corticais ou diedros, sistematicamente abrasados e com émoussé, pôde ser relacionado ao
retoque dos instrumentos unifaciais ou bifaciais. Os acidentes quando presentes são o
refletido, a lingueta superior e a inferior, além das pequenas quebras distais ou laterais.
As outras lascas da coleção, menos normatizadas, estão muito próximas desses
grupos, apresentando tecnologicamente as mesmas tendências, mas divergindo
principalmente pela morfologia menos padronizada.
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Figura 7 – Lascas de façonagem e de retoque.
A: Lascas de façonagem de instrumentos unifaciais, retiradas por percussão direta dura ou
macia orgânica, frequentemente com porção distal paralela ao talão e perfil curvo. B: Lascas
de façonagem de instrumentos bifaciais, retiradas principalmente por percussão macia
orgânica, pouco espessas, com negativos bidirecionais nas faces superiores, talões lisos ou
diedros. C: Lascas de retoque, retiradas por percussão direta dura. D: Lascas de retoque,
retiradas por percussão macia orgânica, com pequenas dimensões, talões diminutos,
abrasados e/ou com émoussé.
Os acidentes de lascamento
Com efeito, as indústrias líticas de Serranópolis estudadas apresentam um grande
controle do lascamento. Os acidentes são raros e por vezes consequências da matériaprima, que, mesmo sendo de excepcional qualidade, pode não ter a silicificação adequada
aos objetivos desta produção. Lembramos que não se trata de um sílex ou de um silexito,
mas de um arenito muito silicificado. Ainda, a pouca espessura dos talões em relação ao
peso do percutor e à força aplicada para retirar lascas de 15 cm ou até mais de 20 cm de
comprimento, aliadas ao tipo de matéria-prima, são também os responsáveis pelos
pequenos acidentes.
Um acidente recorrente observado principalmente na fase de façonagem são as
fissuras presentes nos talões pouco espessos e que se desenvolvem a partir do talão em
direção aos primeiros centímetros da peça, na face inferior ou superior, ou, ainda, nas
duas faces ao mesmo tempo. Trata-se de um fissuramento que se alinha horizontalmente
ao longo do comprimento do talão e que pode dividi-lo. Quando está presente na linha
inferior do talão a fissura se dirige em direção ao bulbo, como um esquilhamento do
bulbo, mas, frequentemente, sem destacar a esquilha; quando se materializa nas
proximidades da linha superior do talão, se conduz em direção à face superior (fig.8).
Ainda, o acidente pode fissurar o talão nos dois setores e criar esquilhas nas duas faces
ao mesmo tempo. O esquilhamento do bulbo foi indicado por J. Pelegrin (2000) como um
acidente relativamente específico e frequentemente ligado à percussão tangencial
realizada por pedra macia, arenito, por exemplo. Entretanto, nesse caso específico, o
acidente pode estar relacionado aos grãos da matéria-prima, que, mesmo tendo uma
estrutura granulométrica silicificada, pode não ser totalmente compacta. Essa
porosidade aumenta a possibilidade de fissuras, o que resulta em um esquilhamento do
bulbo no momento do impacto (J. Pelegrin com. pess.) e no fissuramento do talão, seja
As indústrias líticas antigas de Serranópolis… | Maria Jacqueline Rodet, Deborah D. Talim, Pedro I. Schmitz
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em uma das faces ou nas duas. Por outro lado, a pequena dimensão dos talões e o peso do
percutor acompanhado à pressão do golpe no talão, aliados aos elementos já descritos,
podem também contribuir para esse tipo de acidente.
Figura 8 – O esquilhamento nas duas faces.
Um acidente recorrente é o esquilhamento do bulbo; pode também ocorrer que uma esquilha
saia, ao mesmo tempo, na face superior da lasca (A), por vezes, fendendo o talão ao meio. Na
figura B, a esquilha não se soltou totalmente, caso tivesse soltado o aspecto do talão seria de
dois pontos de impacto, como mostra o pequeno croqui (B).
Uma variante desse acidente é a presença do que parece ser dois pontos de impacto
que, de fato, é o resultado da saída da esquilha no meio do talão muito pouco espesso a
partir do fissuramento. Essa pequena retirada deixa uma aparência final no talão de dois
pontos de impacto (fig. 8).
Os outros acidentes, tais como refletido ou as linguetas, são muito discretos.
Enfim, de uma maneira geral, a indústria é pouco acidentada apontando para um
excelente controle do lascamento.
DISCUSSÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA
A abordagem tecno-econômica da Escola Francesa (MAUSS, 1947; MAGET, 1953;
LEROI-GOURHAN, 1964; TIXIER, 1967, 1980 [1984]; PERLÈS, 1980; PELEGRIN,
1986 [1995]; BOËDA, 1990; PIGEOT, 1991; INIZAN et al., 2017; dentre outros) é um
poderoso instrumento de análise e compreensão de conjuntos culturais, trata-se de
conceitos universais e tem sido aplicada com sucesso aos estudos tecnológicos na Europa
e em outros países, como é o caso inclusive dos estudos de coleções líticas brasileiras
(FOGAÇA, 2001; DIAS, 2003; VIANA, 2005; RODET, 2006; BUENO, 2007;
FAGUNDES, 2007; ISNARDIS, 2009; FERNANDES, 2011; DUARTE-TALIM, 2012;
MACHADO, 2013; RODET et. al., 2013; DA COSTA, 2017; FERNANDES & DUARTETALIM, 2017; dentre outros). A maneira como o pensamento teórico metodológico da
As indústrias líticas antigas de Serranópolis… | Maria Jacqueline Rodet, Deborah D. Talim, Pedro I. Schmitz
194
Escola Francesa foi concebido e evoluiu ao longo dos últimos quarenta anos tem
permitido, por um lado, caracterizar distintas produções e, por outro lado, compará-las
tanto no tempo, quanto no espaço. Se, até o final dos anos 1960, as coleções líticas eram
analisadas através de uma perspectiva tipológica, na qual o instrumento finalizado era o
centro das atenções, e os processos produtivos não eram considerados, a partir dessa
data, inspirados nos legados de correntes de pensamento provenientes da etnologia e da
antropologia, os pré-historiadores franceses irão propor uma nova abordagem. Nesse
momento, J. Tixier (1967) desenvolve duas noções muito importantes e distintas: método
e técnica. Enquanto o método responde pelo gerenciamento sistemático da debitagem ou
da façonagem de um instrumento, com a intenção de atingir um objetivo específico, a
segunda vai definir o modo prático como a mesma foi realizada, a execução das retiradas
ou de sequencias específicas (PELEGRIN, 2005). A Escola Francesa mergulha em novas
problemáticas, se interessando pelos conhecimentos técnicos das sociedades passadas. A.
Leroi-Gourhan (1945 [1973]) se inspira nas pesquisas de M. Mauss (1947) e M. Maget
(1953) para criar uma análise paleoetnológica das sociedades passadas. Para M. Mauss
(1947), a sociedade é um todo articulado, assim sendo, a realidade social poderia ser
entendida a partir do estudo de suas partes constituintes, as quais possuem características
e funções específicas. Um fenômeno deveria ser estudado em separado e, em seguida,
inserido em sua totalidade articulada. A partir dessa ideia e inspirado no pensamento de
M. Maget (1953), que busca compreender os processos técnicos que envolvem os
Homens e os objetos, A. Leroi-Gourhan (1943 [1971]) procura entender o fenômeno da
produção humana, mas o objeto não se resume em si mesmo, ao contrário, conduz a
aportes para a reconstituição de uma sociedade passada. Diferentemente da tipologia,
para a qual o objeto é estático, aqui ele está em movimento. Assim, o interesse passa a ser
reconstituir as atividades técnicas desde a matéria-prima bruta até o abandono do
utensilio, passando por todas as etapas de realização do instrumento, observando em
cada uma delas as ações e os gestos técnicos. Trata-se de conhecer o papel da matériaprima em si mesma, mas principalmente em sua relação com os Homens para adentrar
na realidade social e cultural. O interesse agora é abolir a separação entre técnica e fato
social (LEROI-GOURHAN, 1964). Nessa perspectiva, outros aspectos da vida cotidiana
passam a tomar parte das análises: o meio ambiente, os restos de produção, as distintas
tecnologias presentes nos sítios arqueológicos, os instrumentos simples.... Enfim, nasce a
noção de Cadeia Operatória.
Assim, dentro da busca das intenções humanas detrás dos objetos, em um primeiro
momento, é necessário um estudo minucioso de cada uma das distintas fases de produção
de um determinado instrumento (nem todas as fases estão presentes nas coleções): as
intenções, os gestos, as técnicas, etc., que cada fase guarda em si, para em seguida
reintegrar os dados em um corpo maior do processo de produção. Esse sistema permite
entender onde estão instaladas as diferenças, sejam elas pequenas ou grandes, entre as
indústrias de um mesmo sítio arqueológico ou uma mesma região. Por exemplo, os
objetos unifaciais de sessão plano-convexa são uma imagem mental (PELEGRIN, 1986
[1995]) presente em determinados grupos humanos, desde o final do período Pleistoceno,
em grande parte do Brasil e da América do Sul. Tal ideia vai se perpetuar até o Contato
com os europeus ou neo-brasileiros. Entretanto, a ideia de um instrumento com uma face
plana e outra convexa guarda em si muitas distinções e pode não se tratar de um objeto
único. Tanto as escolhas de matérias-primas, muitas vezes distintas, quanto a utilização
de diferentes técnicas de preparação da debitagem para a retirada dos suportes, assim
como as buscas de dimensões volumétricas do suporte e do instrumentos terminados, ou,
ainda, as escolhas variadas na evolução da façonagem, do retoque e a retomada de tais
instrumentos, etc., têm demonstrado que, frequentemente, estamos diante de
As indústrias líticas antigas de Serranópolis… | Maria Jacqueline Rodet, Deborah D. Talim, Pedro I. Schmitz
195
instrumentos e de cadeias operatórias distintas (RODET, 2006). A ideia volumétrica ou
a morfologia podem ser parecidas quando observamos o instrumento superficialmente,
mas a análise minuciosa das distintas fases de produção (quais técnicas foram utilizadas,
quais tipos de retoques, quais matérias-primas, etc.), demonstra, muitas vezes, tratar-se
de projetos totalmente diferentes.
Na evolução e renovação das problemáticas da Escola Francesa, outros conceitos
vieram se juntar a esses já estabelecidos, na intenção de compreender aspectos não só
tecno-econômicos, mas, principalmente, comportamentais. Um deles é a noção de
economia da debitagem, demonstrado por J. Tixier e M. L. Inizan (INIZAN, 1980 [1984];
etc): certos suportes foram escolhidos para desenvolver determinados instrumentos. Essa
noção, enriquecida pouco a pouco com outros conceitos, tais como, economia dos
utensílios (CAHEN et al., 1980), economia da matéria-prima (PERLÈS, 1980, INIZAN,
1980 [1984]) e seu aprovisionamento (PÉTROQUIN & PÉTROQUIN, 2002), tipologias
de sítios (sítios de produção, consumo, acampamentos distintos, etc.), a cognição e o
conceito de savoir-faire (PELEGRIN, 1991), têm contribuindo para formar um
arcabouço importante na compreensão das intenções e das escolhas dos grupos passados
no que se refere aos processos produtivos das indústrias lascadas.
Nessa abordagem, os estados técnicos das peças têm um lugar importante em
função do aporte que ele traz. Uma das contribuições de J. Pelegrin aos estudos de
coleções líticas tem permitido entender, a partir da observação minuciosa dos núcleos e
das peças retocadas, de suas alterações ao longo do tempo, de seus distintos estados
técnicos, de seus variados volumes, os objetivos do lascamento. Os restos brutos de
lascamento, mesmo na ausência dos instrumentos lascados, possibilitam o
reconhecimento das escolhas tecnológicas desses grupos, suas intenções, seus Projetos
(PELEGRIN, 1986 [1995]; INIZAN et al., 2017). A noção de estado técnico dos
instrumentos ou núcleos é um elemento fundamental no conceito de cadeia operatória.
O estado em que um arqueólogo encontra um utensilio (retocado, façonado,
fragmentado, etc.) corresponde certamente a um momento (ou momentos) de sua
trajetória. É como se o arqueólogo estivesse diante de uma fotografia do passado, de um
fragmento, de uma pequena parte da história desse instrumento. É fundamental que o
pré-historiador tenha conhecimento de leitura tecnológica para entender o lugar desse
“momento” ao longo do processo produtivo do instrumento. No caso dos planoconvexos, por exemplo, instrumentos de vida longa, suas evoluções tecnológicas podem
(ou não) resultar em morfologias muito diferentes daquelas do início de sua produção,
sendo de fato suas morfologias, muitas vezes, somente expressões de um mesmo objetivo,
mas em momentos distintos, ou seja, em estados-técnicos diferentes. Por outro lado, as
indústrias líticas brasileiras apresentam grande variedade de intenções na produção de
instrumentos realizados sobre lascas alongadas. Assim, podem coexistir em um mesmo
sítio arqueológico, ou em conjuntos de sítios próximos, instrumentos de seção mais e
menos plano-convexas provenientes de distintas cadeias operatórias. A aplicação da
análise tecno-econômica, considerando as ações técnicas, as quais são relacionadas às
intenções (mais ou menos claras ou, ao contrário, específicas – PELEGRIN, 1986 [1995],
2005; etc.), desde a escolha da matéria-prima, do suporte, suas transformações nas
distintas fases de produção, seus bordos, suas funções esperadas ou desejadas, tem tido
resultados excelentes nas nossas pesquisas brasileiras (PROUS et al., 1994; FOGAÇA,
2001; RODET, 2006; BUENO, 2007; DUARTE-TALIM, 2012; entre muitos outros).
Trata-se de, para o pré-historiador, observar as regras inscritas nas coleções: quais
elementos se repetem e podem ser observados? A procura por um suporte alongado,
bordos abruptos com retoques escamosos, bordos denticulados, superfícies paralelas, etc.
As indústrias líticas antigas de Serranópolis… | Maria Jacqueline Rodet, Deborah D. Talim, Pedro I. Schmitz
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No Brasil, de uma maneira geral, em um sítio arqueológico, podem coexistir várias
cadeias operatórias: produções de unifaciais de seção plano-convexa, distintos; produção
de unifaciais achatados; produção bifacial de pontas de projétil e outros; produção de
instrumentos simples, pouco trabalhados, além da produção de lascas que serão
utilizadas diretamente sem transformação (SCHMITZ et al., 2004; RODET, 2006;
BUENO, 2007; ISNARDIS, 2009; DUARTE-TALIM, 2012; etc.).
Noções incorporadas à Escola Francesa e seus conceitos buscam desenvolver
estudos específicos sobre a evolução e a função dos gumes sobre os utensílios, trata-se da
análise tecno-funcional (LEPOT, 1993; BOEDA, 1997). A intenção é buscar a
funcionalidade dos instrumentos através da análise do potencial que pode estar inscrito
nos gumes. Tais análises têm sido aplicadas em indústrias brasileiras principalmente nas
regiões central e nordeste do país (VIANA, 2005; FOGAÇA & LOURDEAU, 2008;
LOURDEAU, 2010; entre outros)
Mais uma vez, nota-se a flexibilidade e a robustez do pensamento da Escola
Francesa, que, por um lado, busca rigidez e sistematização e, por outro, é elástico e
permite sempre noções novas que vão se complementando e reforçando o arcabouço
inicial.
Do ponto de vista da economia e das questões comportamentais dos grupos
passados, esse conjunto de conceitos e problemáticas permitiu estruturar as análises
tecnológicas dentro de uma perspectiva que vai buscar diretamente os i. objetivos da
debitagem através do estudo dos instrumentos e da aquisição do suporte (representantes
primeiros dos objetivos da debitagem); ii. a evolução desses instrumentos no tempo e no
espaço (quais as técnicas utilizadas, qual é a procura volumétrica, em qual estado técnico
o instrumento se encontra); iii. as matérias-primas escolhidas para produzir as diversas
indústrias; iv. as distintas classes de brutos de debitagem presentes e ausentes dos sítios;
etc. Esses elementos, assim organizados e, classificados hierarquicamente de um ponto
de vista tecno-econômico, permitem entender quais partes das cadeias operatórias estão
presentes dentro de um sítio, em quais camadas estratigráficas e em quais matériasprimas foram realizadas.
REFLEXÕES FINAIS E CONTEXTUALIZAÇÃO COM DADOS DE SÍTIOS VIZINHOS
No caso específico desse estudo, a abordagem tecno-econômica permitiu destacar
uma série de elementos culturais presentes nos vestígios líticos das quadras analisadas do
sítio GO-JA-03 e em instrumentos do sítio GO-JA-14.
De uma maneira geral, vale lembrar que estamos falando de um grande abrigo que
tem aproximadamente 80 m de desenvolvimento e até 14 m de profundidade. O material
aqui analisado ocupa aproximadamente uma área de 2,5 x 2,5 m, ou seja, uma parte muito
pequena do sítio. Entretanto acreditamos que este setor teve uma função específica em
relação ao espaço de vida do abrigo, em todo caso, durante as ocupações mais antigas,
tendo sido utilizado como local de produção lítica. A grande quantidade de restos brutos
de debitagem, o baixo número de instrumentos exumados, a presença de distintas fases
de debitagem, façonagem e retoque são elementos que apontam para uma atividade de
lascamento intensa no setor. Nesse sentido, a coleção é representativa de características
tecnológicas e econômicas procuradas pelos grupos que frequentaram o local, sem
esquecer que, muito provavelmente, estamos diante de porções de cadeias operatórias
distintas, um amas de débitage.
A presença de grandes lascas com face inferior plana, sem acidentes, pequenos
talões com procedimentos técnicos específicos apontam, de um lado, o controle
excepcional dos lascadores durante o lascamento e, de outro, a utilização de técnicas
muito especificas, como a percussão com pedra macia e a percussão direta orgânica
As indústrias líticas antigas de Serranópolis… | Maria Jacqueline Rodet, Deborah D. Talim, Pedro I. Schmitz
197
tangencial. Ainda, a presença de grandes lascas com certas características (plano de
percussão provisório, lascas mais espessas com sub-córtex, etc.) durante o processo de
debitagem indica que as mesmas têm como principal função, calibrar o núcleo, colocá-lo
na forma necessária para produzir um suporte ideal, desejado. A criação de planos de
percussão transitórios, que serão em seguida reinseridos na debitagem, na busca de um
plano-percussão ou de uma superfície de debitagem apropriados (larga, longa, sem
acidentes refletidos, sem córtex, com uma determinada cintragem, etc.) são elementos
que conformam esse alto nível de savoir-faire no conjunto analisado. Por outro lado, tais
lascas remetem ao início do processo de debitagem. Os núcleos, não analisados neste
estudo, podem chegar a 50 cm de comprimento, o que é extremamente coerente com as
lascas de grandes dimensões (uma das lascas do conjunto mede 30 x 25 x 10 cm –
SCHMITZ et al., 2004).
De acordo com P.I. Schmitz e colegas (1989; 2004), no platô acima dos sítios (pelo
menos em um sítio de cada grupo), foram observados locais de coleta e de retirada
matéria-prima, sendo as torres acima do GO-JA-03 um dos locais de exploração. Em um
dos sítios do grupo B, GO-JA-21a, nota-se grandes blocos ou núcleos que se encontram
no limite da área sombreada pelas árvores. Neste local, ao que parece, eram realizadas as
primeiras fases do processo de debitagem: limpeza do córtex de grandes blocos corticais
de arenito silicificado, em seguida a retirada de suportes alongados, largos e espessos que
servirão de núcleos (71 x 53 x 37 cm; 50 x 40 x 30 cm; 40 x 38 x 23 cm ou mais explorados
30 x 26 x 20 cm; 24 x 16 x 19 cm; 23 x 21 x 13 cm), os quais serão transportados para as
áreas abrigadas. Blocos, núcleos e dezenas de percutores em arenito de dimensões
variadas foram encontrados no local (32 x 19 x 8 cm; 27 x 21 x 10 cm; 17 x 12 x 8 cm; 9,5
x 13 x 8 cm, etc. – SCHMITZ et al., 1989, 2004). Entretanto não é possível relacionar
diretamente esses vestígios com aqueles dos sítios aqui estudados. Essas áreas podem ter
sido exploradas pela qualidade da matéria-prima ao longo de todo o Holoceno.
Ao que parece, no que se refere à exploração do maciço, há um descolamento
natural de blocos das paredes expostas à amplitude térmica: dias muito quentes em
oposição a noites frias (SCHMITZ et al., 1989, 2004). Ou ainda, a própria evolução
geomorfológica do maciço arenítico. Contudo uma técnica possível para a retirada de
blocos das paredes é a utilização do fogo. Fazer fogueiras em um setor da parede do
maciço, fará, inevitavelmente, desprender placas de dimensões variadas. Algumas das
grandes lascas analisadas apresentaram vestígios de contato térmico nas duas superfícies,
talvez em função desse tipo de processo. Em contrapartida, em alguns abrigos foi
possível observar negativos de retiradas realizadas diretamente na parede encaixante do
abrigo (paredes mais horizontais), a partir de golpes, como é o caso do GO-JA-01 (A. Da
Costa, com. pessoal).
Uma matéria-prima de qualidade para o lascamento, como é o caso do arenito
altamente silicificado, da rocha encaixante do abrigo GO-JA-03, certamente atraiu para
a área lascadores com um alto nível de conhecimento e domínio do lascamento. E, junto
aos lascadores experientes, muito provavelmente, havia os aprendizes, que frequentavam
o lugar tanto para observar os lascadores mais velhos, com alto nível de savoir-faire,
quanto para treinar suas próprias habilidades, como indicam as lascas e os instrumentos,
que contêm as mesmas estruturas desejadas (dimensões volumétricas, utilizações das
mesmas técnicas, etc.), mas apresentam erros e acidentes em uma matéria-prima de
menor qualidade para o lascamento.
O material exumado dessa escavação nos mostra claramente a intenção ou as
intenções dos lascadores. Uma delas, talvez a mais clara, é a procura de produtos
alongados com uma grande disponibilidade de gumes, retilíneos, convexos, mais e menos
abruptos, os quais permitem uma utilização como tal ou ainda suportam várias
As indústrias líticas antigas de Serranópolis… | Maria Jacqueline Rodet, Deborah D. Talim, Pedro I. Schmitz
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transformações. Trata-se de um objeto de vida longa, estabilizado, nos quais aparecem
duas superfícies integradas e interdependentes, presentes desde a sua concepção, uma
plana outra mais e menos convexa. Elas trarão um equilíbrio à debitagem e depois à
façonagem, e o instrumento finalizado guardará em si sua própria reserva de matériaprima e de possibilidades, que serão utilizadas ao longo de sua vida.
Outros elementos merecem destaque neste estudo, como os dois instrumentos
sobre lascas alongadas, pouco espessas, com retoques que complementam e delineiam os
bordos. Eles contribuem e complementam essa compreensão das intenções desses
primeiros grupos que frequentaram a região, quais sejam, a busca por esses produtos
sobre suporte alongado, realizados com técnicas e intenções distintas, que nos remetem
a um lascamento controlado, sem acidentes.
De fato, as distintas cadeias operatórias presentes nessas primeiras ocupações do
abrigo demonstram a diversidade dos modos de produção, dos projetos e das intenções
dos atores que deixaram suas marcas impressas nas rochas lascadas. Se inserirmos esses
resultados àqueles obtidos mais recentemente para o sítio arqueológico GO-JA-01
(LOURDEAU, 2010), distante aproximadamente 25 km ao norte do sítio GO-JA-03,
nota-se algumas semelhanças: por exemplo, os suportes da maior parte dos instrumentos
inteiros apresentados por A. Lourdeau (2010; 2016) são lascas que tendem a ser
alongadas, os instrumentos parecem ter uma vida extensa e trazem em si uma reserva de
matéria-prima que permite diversas transformações. Nota-se, por vezes, negativos
vestigiais na face superior, anteriores à retirada do suporte, que estruturam a façonagem.
Os gumes criados desde o início da produção são, em geral, paralelos, mais e menos
retilíneos, sendo mais e menos abruptos, interligados por um gume convexo em pelo
menos uma das extremidades do instrumento. Por outro lado, a obtenção do suporte é
distinta do que acontece no GO-JA-03. De acordo com A. Lourdeau (2010, 2016), quando
foi possível fazer a leitura tecnológica, nota-se que os suportes foram retirados por
percussão direta dura. O que é bem distinto dos suportes com presença de técnicas e
tratamentos específicos, encontrados no Corte IV do GO-JA-03. Ainda, como distinção
entre as duas coleções, nota-se que os suportes pouco espessos, longos, assim como os
núcleos e a grande quantidade de lascas de façonagem e retoque, também estão ausentes
dessa área estudada por A. Lourdeau no sítio GO-JA-01. Por outro lado, de uma maneira
geral, o seu estudo sistemático dos gumes dos instrumentos aponta para gumes com
potenciais de utilizações variados. Tal resultado pode ser um complemento ao que foi
observado no material aqui apresentado, pois o nosso baixo número de peças terminadas
não nos deixa diagnosticar (com resultados representativos) as transformações realizadas
nos gumes. É possível, como afirma A. Lourdeau (2010), que as modificações que foram
realizadas nos instrumentos por ele analisados estejam já inseridas desde a sua
concepção.
J. C. Moreno de Sousa (2014) retomou 25% do material por nós analisado, e seus
resultados confirmam a tendência da indústria: produção de lascas suporte alongadas
(“laminares”), que serão façonadas e retocadas dentro do sítio, conformando
instrumentos unifaciais. Concordando com A. Lourdeau (2010), os instrumentos
produzidos apresentam gumes potenciais mais e menos aptos a diferentes usos, como
cortar ou raspar (MORENO DE SOUSA, 2014).
Acreditamos que o Projeto, a Intenção dessa produção é muito mais elaborada e
diversificada do que possa deixar pensar uma análise rápida de um instrumento unifacial
com essas características. O que podemos afirmar no final de nossas análises, no que
concerne aos instrumentos de seção plano-convexa exumados desse sítio ou de outros
do Brasil Central, como é o caso daqueles do vale do rio Peruaçu (RODET, 2006) ou do
rio Jequitaí (BASSI & RODET, 2011; NOLASCO, 2015), é a existência de instrumentos
As indústrias líticas antigas de Serranópolis… | Maria Jacqueline Rodet, Deborah D. Talim, Pedro I. Schmitz
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em estados técnicos distintos, ou seja, sobre alguns é possível observar a lasca suporte
quase completa, demonstrando que a façonagem fez pouca transformação no objeto (o
instrumento estaria no seu início de vida). Outros, nos quais observam-se instrumentos
que guardam parte das intenções iniciais (sejam elas: um setor mais espesso que outro,
ângulos de 800 ou 700 nos gumes, uma das extremidades ou as duas ogivais, etc.), mas já
em estado adiantado de utilização. Tratam-se de instrumentos em meia vida ou em final
de vida, ou seja, em estados técnicos distintos. Essas transformações são esperadas e estão
inscritas nos objetos desde a sua concepção. Por outro lado e, mesmo paralelamente,
nota-se instrumentos que tem essa seção plano-convexa, mas que são projetos diferentes
dos primeiros: podem ser instrumentos totalmente façonados, nos quais não há a
presença de grandes negativos anteriores à debitagem na face superior, ou, ainda, uma
classe de instrumentos com volumes mais e menos espessos e que apresentam,
potencialmente, distintas utilizações nos diferentes gumes. A ideia de uma seção planoconvexa é certamente muito produtiva e interessante economicamente (está presente
desde a passagem do período Pleistoceno para o Holoceno até o Contato com os
europeus), e, a partir dela, os grupos desenvolveram projetos mentais distintos. Ela seria
somente uma base já estabilizada e presente em grande parte da América do Sul, a partir
da qual os grupos traduzem as suas distintas intenções.
Especificamente sobre a tecnologia lítica desses grupos humanos, chama à atenção
um lascamento cuidadoso e controlado, muito bem estruturado, cujo objetivo era a
produção de instrumentos determinados (unifaciais de secção plano-convexa alongados,
bifaciais espessos, pontas bifaciais delgadas, instrumentos alongados pouco espessos,
além de instrumentos retocado simples), sobre uma matéria-prima de excelente
qualidade para o lascamento e abundante no setor. Sobre os instrumentos e seus restos
de produção, foi possível observar a utilização de diferentes percutores (pedra dura,
pedra macia e orgânico), utilizados com gestos distintos (percussão direta, percussão
tangencial), além da constante preparação do plano de percussão (pequenas retiradas
para ressaltar o ponto de impacto, abrasão e émoussé) e uma baixa taxa de acidentes –
elementos que sustentam uma indústria lítica elaborada.
Para ilustrar esse artigo, gostaríamos de apresentar uma descrição de Annette
Laming-Emperaire (1978) sobre seu encontro com um dos últimos indígenas Xetá, do
estado Paraná, na qual ela observa e descreve a utilização de um instrumento planoconvexo utilizado em parte de uma cadeia operatória de produção de um arco:
[...] quando o arco atinge uma certa espessura, Ayatukã escolhe um objeto em forma
de lesma em seu saco de pedras lascadas. Tal objeto, curto e sem encabamento, é
tomado pelas duas mãos como um plaina, o que força os dois pulsos de Ayatukã a
ficarem próximos do dorso do objeto. Para evitar se machucar nas arestas da pedra,
lascas de madeira, dispostas de cada lado da lesma, substituem o cabo. [...] Para
reavivar seu objeto que apresenta um gume usado, ele bate delicadamente sobre a
face inferior e plana e com um golpe maldado, ele quebra o objeto em dois. [...] Ele
pega uma segunda lesma no seu saco (ele tem muitas), examina com cuidado seu
gume, afia-o com cuidado, retira uma lasca com sua unha e continua a raspagem da
madeira. [...] Os pés têm um papel importante neste trabalho que dura muitas horas.
Durante quase todo o tempo, eles são posicionados simetricamente de um lado e de
outro da madeira do arco, sobre o qual Ayatukã está assimetricamente assentado. [...]
A maioria dos instrumentos em pedra do seu saco não foram utilizados, mas os dois
que foram utilizados nesse trabalho, estão completamente amarelados pelo trabalho
(LAMING-EMPERAIRE et al., 1978, tradução nossa).
Finalmente, entre esses grupos de sítios próximos, poderíamos pensar em locais que
se complementam: produções sistemáticas de instrumentos em um sítio e consumo em
As indústrias líticas antigas de Serranópolis… | Maria Jacqueline Rodet, Deborah D. Talim, Pedro I. Schmitz
200
outros. Contudo a quantidade de vestígios analisados no caso dessa pesquisa não nos
permite fazer tal inferência. Os estudos sistemáticos da equipe do Instituto Anchietano
indicam, por sua vez, que se trata de uma utilização racional do espaço, estável ao longo
do tempo, onde eram ocupados grupos de abrigos e não abrigos isolados e que estes se
complementavam: abrigos maiores (papel central ao longo das ocupações) e menores,
mais e menos ensolarados, sempre próximos à água corrente, matérias-primas líticas
diversificadas, presença de caça e de abundância vegetal. Em alguns deles, foi possível
observar locais de exploração das jazidas de matérias-primas de excelente qualidade para
o lascamento, em outros locais de produção lítica, em outros ainda instrumentos
utilizados, inteiros, fragmentados, etc. (SCHMITZ et al., 2004).
As indústrias líticas antigas de Serranópolis… | Maria Jacqueline Rodet, Deborah D. Talim, Pedro I. Schmitz
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