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Fortificação e Humanidade

2017, 1 Simposio Cientifico do ICOMOS Brasil

Resumo: Uma tocha, uma paliçada, uma trincheira, um fosso, uma bateria, um fortim, um forte, uma fortaleza, se confunde de diferentes modos com a própria história da humanidade. Desde seus primórdios, em qualquer organização humana, o subsistema de defesa integrou, e ainda integra, os sistemas básicos de qualquer sociedade. Integração esta que se relaciona ainda ao sistema endócrino dos seres vivos, que tem como objetivo primordial a perpetuação das espécies. Entender, o processo defensivo de qualquer sociedade é entender a própria sociedade nos seus diferentes vieses. Uma unidade de defesa, jamais seria construída se não houvesse nada a defender. E esta defesa poderia se relacionar com a garantia de um território, de uma economia, de uma crença, de um povo. Cada posição fortificada, independentemente de sua magnitude, guarda em suas entranhas parte da história da própria humanidade. Teorias de defesa, explicitada pelos vários tratadistas, técnicas construtivas, artefatos bélicos, contam parte da história dos povos, e grande parte destes remanescentes já desapareceu enquanto outros se encontram em fase de sucumbir ao avanço desenfreado da sociedade moderna. Parte desta memoria se encontra registrada em documentos coevos, uma outra parcela destas informações é retrabalhada pela história, entretanto uma história “oculta” destas unidades de defesa, apenas são acessadas pela arqueologia. A nossa experiencia com arqueologia histórica, desde a década de 60, tem sido suficiente para demonstrar que os passos subsequentes a descoberta não tem sido, em sua maioria, compatível com a dimensão do achado. Fortificações em terra que se encontravam completamente soterradas, paliçada em madeira de uma das cidades mais antigas das Américas encontram-se cobertas de asfalto, e mais algumas dezenas de exemplos, que poderiam ser citados, demonstra a desconexão entre os processos de descoberta, interpretação, restauração, preservação, e apropriação pela sociedade. Urge, portanto, providencias imediatas no sentido de integrar estes diferentes segmentos do conhecimento, inclusive repensando as teorias voltadas para a restauração de monumentos que balizam as diferentes Cartas Patrimoniais. Mesmo que nada mais reste de uma unidade de defesa, uma simples placa poderá integrar um roteiro turístico, pois neste local houve objetivo, tensão, medo, heroísmo, de antepassados que de uma forma ou de outra forjou a sociedade do hoje. Ocorre que se não preservarmos o ontem de hoje apagaremos da memória o hoje do amanhã.

BELO HORIZONTE | MAIO | 10 A 13 ICOMOS-BRASIL SIMPÓSIO CIENTÍFICO | 2017 ………………………………………………………………………………………………………………………………………………… ……… Realização Patrocínio ICOMOS-BRASIL / IEDS / UFMG / UFJF CAU-MG Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) AN532 Anais do Simpósio Científico 2017 - ICOMOS BRASIL. Anais...Belo Horizonte(MG) Instituto Metodista Izabela Hendrix, 2017 Disponível em <www.even3.com.br/anais/eventosicomos> ISBN: 978-85-5722-038-6 1. Arquitetura 2. Planejamento urbano e paisagismo 3. Planejamento urbano e paisagismo Instituto Metodista Izabela CDD - 370 Hendrix Ficha catalográfica elaborada por Even3 – Sistema de Gestão de Eventos CORPO EDITORAL COMISSÃO CIENTIFICA PROFESSORA DOUTORA BEATRIZ MUGAYAR KÜHL (USP) PROFESSORA DOUTORA CEÇA GUIMARAENS (UFRJ) PROFESSORA DOUTORA EDITHE DA SILVA PEREIRA (MUSEU GOELDI) PROFESSOR DOUTOR EVERALDO BATISTA DA COSTA (UNB) PROFESSOR DOUTOR FLÁVIO DE LEMOS CARSALADE (UFMG) PROFESSOR DOUTOR JOSÉ SIMÕES DE BELMONT PESSÔA (UFF) PROFESSOR DOUTOR JÚLIO SAMPAIO (UFRRJ) PROFESSOR DOUTOR LEONARDO BARCI CASTRIOTA (UFMG) PROFESSORA DOUTORA MARIA LETÍCIA MAZZUCHI FERREIRA (UFPEL) PROFESSOR DOUTOR MÁRIO MENDONÇA DE OLIVEIRA (UFBA) PROFESSOR DOUTOR MARCOS OLENDER (UFJF) PROFESSORA DOUTORA NÁDIA SOHMEK (MACKENZIE) PROFESSOR DOUTOR NIVALDO VIEIRA DE ANDRADE JUNIOR (UFBA) PROFESSORA DOUTORA RENATA MARIA ABRANTES BARACHO PORTO (UFMG) PROFA. DOUTORA SELMA MELO MIRANDA (PUC-MG) PROFESSOR DOUTOR SILVIO ZANCHETTI (UFPE) PROFESSOR DOUTOR YUSSEF DAIBERT SALOMÃO DE CAMPOS (UFG) COMISSÃO ORGANIZADORA ARLETE SOARES DE OLIVEIRA (IEDS) CARLA VIVIANE DA SILVA ANGELO (IEDS) DANIELLE BARROSO CALDEIRA (IEDS) DIEGO NOGUEIRA DIAS (PROARQ/UFRJ) GUILHERME MACIEL ARAÚJO (IEDS) MATHEUS CÁSSIO BLACH (IEDS) VALÉRIA SÁVIA TOMÉ FRANÇA (MACPS/UFMG) VILMAR PEREIRA DE SOUSA (IEDS) TRANSFORMAÇÕES, DEFENDENDO PERMANÊNCIAS EXPERIÊNCIAS DIALOGAIS NA CONSTRUÇÃO DE CIRCUITOS DE VISITAÇÃO ENVOLVENDO BENS PATRIMONIALIZADOS SOB A GUARDA DO EXÉRCITO BRASILEIRO 1923 FEIRA DO VER-O- PESO: AS PESSOAS ENTRE AS PERMANÊNCIAS E AS TRANSFORMAÇÕES DE UM PATRIMÔNIO CULTURAL 1943 FORMAS DE VALORAÇÃO DAS TECNOLOGIAS CONSTRUTIVAS NO CONTEXTO URBANO: A QUESTÃO DA SUSTENTABILIDADE E A EMERGÊNCIA DO PATRIMÔNIO CULTURAL 1957 FORTIFICAÇÃO E HUMANIDADE 1971 FOTOGRAFIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO: UM OLHAR SOBRE GOIÂNIA 1986 FRAGMENTOS DA MEMÓRIA: A EVOLUÇÃO URBANA NOS 200 ANOS DE HISTÓRIA EM MACEIÓ, ALAGOAS 2002 GARANTIAS E FRAGILIDADES NO SALVAGUARDO PATRIMONIAL E CULTURAL: UM ESTUDO DA CASA DUWE DE INDAIAL-SC 2014 GESTÃO DE PROJETOS EM CONSERVAÇÃO E RESTAURO 2038 GLÓRIA: DA PAISAGEM ROMÂNTICA À RETIFICADA 2055 GUAPIMIRIM E A ESTRADA DE FERRO DE TERESÓPOLIS 2069 IDENTIDADE PATRIMONIAL: ARQUITETURA RESIDENCIAL EM GOIÂNIA DE 1933 A 1950 – DO ECLETISMO AO MODERNISMO 2082 IDENTIFICAÇÃO DO VALOR CULTURAL QUE UMA EDIFICAÇÃO PROJETA SOBRE A SOCIEDADE: O CASO DA CAPELA RIBEIRA EM SERGIPE/BR 2098 IDENTIFICAÇÃO E DELIMITAÇÃO DAS ÁREAS DE INTERESSE CULTURAL DE CRUZ ALTA/RS 2115 2131 IDENTIFICAÇÃO E PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO AMBIENTAL, CULTURAL E URBANO DO BAIRRO DA LIBERDADE: ATUALIZAÇÃO E RETOMADA DO IGEPAC-SP IDENTIFICAÇÃO E RECONHECIMENTO DA PRODUÇÃO ECLÉTICA EM OURO PRETO: UM PRIMEIRO ESTUDO NAS REGIÕES DA BARRA E PILAR. 2146 IN DUBIO PRO MONUMENTO E A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL 2159 INTERCÂMBIO ACADÊMICO: EXPERIÊNCIAS SOBRE A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL NO BRASIL E NA ITÁLIAJÉSSICA DE FÁTIMA ROSSONE 2170 FORTIFICAÇÃO E HUMANIDADE ALBUQUERQUE, M.A.G.M (1); LUCENA, Veleda (2) 1. Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de História, Laboratório de Arqueologia Av. Acad. Hélio Ramos, s/n CFCH 12º andar marcos@brasilarqueologico.com.br 2. Arqueolog Pesquisas Rua Marechal Rondon, 146, cxPS 284, Casa Forte, Recife-PE Brasil CEP 52.061-050 veleda@brasilarqueologico.com.br Resumo: Uma tocha, uma paliçada, uma trincheira, um fosso, uma bateria, um fortim, um forte, uma fortaleza, se confunde de diferentes modos com a própria história da humanidade. Desde seus primórdios, em qualquer organização humana, o subsistema de defesa integrou, e ainda integra, os sistemas básicos de qualquer sociedade. Integração esta que se relaciona ainda ao sistema endócrino dos seres vivos, que tem como objetivo primordial a perpetuação das espécies. Entender, o processo defensivo de qualquer sociedade é entender a própria sociedade nos seus diferentes vieses. Uma unidade de defesa, jamais seria construída se não houvesse nada a defender. E esta defesa poderia se relacionar com a garantia de um território, de uma economia, de uma crença, de um povo. Cada posição fortificada, independentemente de sua magnitude, guarda em suas entranhas parte da história da própria humanidade. Teorias de defesa, explicitada pelos vários tratadistas, técnicas construtivas, artefatos bélicos, contam parte da história dos povos, e grande parte destes remanescentes já desapareceu enquanto outros se encontram em fase de sucumbir ao avanço desenfreado da sociedade moderna. Parte desta memoria se encontra registrada em documentos coevos, uma outra parcela destas informações é retrabalhada pela história, entretanto uma história “oculta” destas unidades de defesa apenas são acessadas pela arqueologia. A nossa experiencia com arqueologia histórica, desde a década de 60, tem sido suficiente para demonstrar que os passos subsequentes a descoberta não tem sido, em sua maioria, compatível com a dimensão do achado. Fortificações em terra que se encontravam completamente soterradas, paliçada em madeira de uma das cidades mais antigas das Américas encontram-se cobertas de asfalto, e mais algumas dezenas de exemplos, que poderiam ser citados, demonstra a desconexão entre os processos de descoberta, interpretação, restauração, preservação, e apropriação pela sociedade. Urge, portanto, providencias imediatas no sentido de integrar estes diferentes segmentos do conhecimento, inclusive repensando as teorias voltadas para a restauração de monumentos que balizam as diferentes Cartas Patrimoniais. Mesmo que nada mais reste de uma unidade de defesa, uma simples placa poderá integrar um roteiro turístico, pois neste local houve objetivo, tensão, medo, heroísmo, de antepassados que de uma forma ou de outra forjou a sociedade do hoje. Ocorre que se não preservarmos o ontem de hoje apagaremos da memória o hoje do amanhã. Palavras Chave: Arqueologia militar, preservação do patrimônio, cidadania O relacionamento entre o observado e o observador poderá alterar de forma substantiva a visão, e consequentemente o entendimento do objeto em pauta. Diferente perspectiva observacional pode alterar de forma significativa a percepção do objeto por parte do seu observador. Não seria diferente na observação, e mesmo no entendimento, de uma fortificação. O mesmo elemento, ou seja, uma fortificação, pode, a depender de seu observador, ser vista sob uma ótica estética, funcional, turística, da história da arte, como ainda penetrar em seu amago mais profundo e atingir uma dimensão interpretativa da sociedade que a construiu. Procuraremos, neste trabalho, nos posicionarmos fundamentalmente balizados por uma ótica sistêmica. Consoante esta perspectiva teórica, jamais uma fortificação seria vista, ou observada, desconectada de seu contexto mais amplo, ou seja, da sociedade que a construiu, dos conhecimentos coevos, e dos seus relacionamentos com um universo mais amplo. Procuraremos agora explicitar um pouco mais a nossa perspectiva de observação com a finalidade de tornar mais claro o nosso posicionamento quanto ao tema em pauta. De acordo com esta perspectiva sistêmica, acreditamos que qualquer sociedade é constituída por um sistema complexo, composto por subsistemas básicos, e que por sua vez relacionase com outros sistemas conectados com o meio ambiente do sistema em questão. Podemos partir do princípio que qualquer sociedade, da mais simples a mais complexa, come, se abriga, se reproduz, tanto culturalmente como biologicamente, acredita em algo, se comunica, se trata, e se defende. Esta trama de procedimentos ocorre tanto em uma sociedade de caçadores e coletores, na sociedade grega, e também na sociedade atual. O modus operandi de cada sociedade constitui-se no diferencial que a torna única, embora, em alguns casos, possa haver paralelismos culturais. O entendimento destes procedimentos é o que permite ao observador/pesquisador se aproximar do entendimento da sociedade em estudo. Que toda sociedade se alimenta é o obvio. Entretanto, saber como adquire o alimento, como armazena, como o prepara, como o consome, com que artefatos o fazem, etc., permite um nível de aproximação com a particularidade desta sociedade, o mesmo ocorrendo com os demais subsistemas da sociedade em estudo. Para sintetizar o exposto até o momento, poderemos considerar que qualquer sociedade possui como subsistemas básicos o alimentar, o abrigo, o reprodutivo, este se subdividindo entre o biológico e o cultural, o ideológico, o da saúde, o de comunicação, e o de defesa. Embora saibamos, e defendamos, que todos estes subsistemas interajam entre si, e que não possuam prioridade hierárquica, trataremos neste trabalho mais especificamente do sistema de defesa. Sistema este que, mesmo tratado como um corte temático, não deixa de se 1º Simpósio Científico ICOMOS Brasil Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017 relacionar com os demais subsistemas que integra o sistema cultural no qual se encontra inserido. O processo defensivo em qualquer sociedade, seja humana ou animal, é motivada por uma série de mecanismos biológicos que são disparados no momento em que o indivíduo, ou a sociedade, se encontra em situação de perigo. Processos endócrinos encontram-se sempre em situação de alerta. Estes complexos processos já foram temas de inúmeros trabalhos e que lamentavelmente não cabe explora-los no momento. Entretanto, restringindo o tema apenas a sociedade humana, não temos dúvida que além dos processos apenas biológicos, existem outros de natureza cultural que variam de acordo com o grau de complexidade da sociedade em questão. Ao admitirmos a classificação de Service para a sociedade humana, existem outras tão validas e complexas, teríamos a sociedade humana dividida em Bandos, Tribos, Chefias, Estados Antigos e Estados Modernos. Em consonância com a classificação de Service, daremos ênfase apenas ao sistema defensivo destas sociedades. Os grupos a nível de Bando não possuíam lideres formais. Destacavam-se os membros do bando que tivessem mais aptidão para o desempenho da tarefa do momento. No caso de um ataque ao grupo, os mais habilidosos na arte da defesa assumiriam a liderança. Todos os aptos participavam em prol da defesa do bem comum. Já a nível de tribo, constituída por um maior número de integrantes, já havia lideranças especificas, tanto religiosa como para outras atividades como a guerra. Havia guerreiros, porém não exército. Já, quando a sociedade se torna mais complexa, com um maior número de membros, sedentária, e mais algumas características, Service a denomina de Chefia. Seria o caso de algumas populações andinas, por exemplo. Nestas sociedades já há o chefe formal, o sacerdote, e os guerreiros, estes que viriam a ser o germe bem desenvolvido de um exército. O passo adiante, ainda de acordo com Service, seria o estado antigo que poderia ser exemplificado por Roma, Grécia, Egito, dentre outros. Nesta conjuntura já se tinha efetivamente um exército formal. Exército não apenas defensivo, mas também voltado ao expansionismo, muito característico deste período da história humana. Em seguida a este período viria a sociedade moderna. Em todas estas etapas da humanidade o sistema de defesa esteve presente, mesmo que apresentando diferentes expressões e sempre refletindo a tecnologia de sua época correspondente. O estudo e a preservação deste sistema, permite o acompanhamento e parte do entendimento destas diferentes etapas da humanidade. O que se tinha a defender, como se defendia, quais as técnicas que foram utilizadas ao longo desta longa caminhada da humanidade. Partindo do pressuposto de que estamos de acordo com estas afirmações, nos deparamos com uma outra gama de questionamentos, afirmações e dúvidas. Entender e preservar este 1º Simpósio Científico ICOMOS Brasil Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017 patrimônio a quem interessa realmente? E, mesmo que a afirmativa seja positiva, a quem realmente compete esta responsabilidade? Estas duas questões, aparentemente simples, são de uma grande complexidade e sobretudo operacionalidade. Não nos parece producente a restauração ou manutenção de um patrimônio como uma fortificação, por exemplo, sem que haja uma apropriação da mesma pela sociedade na qual se encontra inserida. O primeiro passo que nos parece primordial constitui-se em um intenso programa de educação patrimonial, continuo e direcionado a todas as faixas etárias, com ênfase para a mais tenra idade. Na oportunidade em que a sociedade realmente se apropriar do monumento, independentemente de ações do Estado, estará assegurada a sua preservação, e qualquer negligencia com a mesma será imediatamente cobrada dos órgãos responsáveis para tal. A sociedade precisa entender e introjetar que esta fortificação é parte de sua história. Que ao contempla-la, veja nela seus antepassados envolvidos com a defesa de algo, que por consequência é o hoje que ele vivencia. Na oportunidade em que esta etapa for realmente vencida, torna-se mais simples a conquista da batalha seguinte, ou seja, a cobrança das instituições a quem por sua origem e finalidade cabe esta responsabilidade. Esta segunda batalha, entretanto, ao nosso ver, se depara com vários óbices a nível internacional. Por uma questão de objetividade fecharemos o zoom a nível de Brasil, não impedindo que seja pensado oportunamente para outros países que possuem também uma legislação especifica para o tema. Em um patamar mais elevado temos no Brasil o Instituto do Patrimonio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN. Este Órgão possui superintendências em todos os estados da federação, que se pautam pela Legislação Federal vigente, e por portarias e normativas internas. Alguns estados, e mesmo alguns municípios, possuem órgãos responsáveis pelo patrimônio no âmbito de suas áreas de abrangência sem que possam ferir a legislação maior. A legislação, entretanto, que rege o patrimônio nacional não chega, nem deveria chegar a minudencias operacionais quanto a procedimentos técnicos. Valem-se, portanto, de teóricos que se dedicaram ao tema e das Cartas Patrimoniais. Este suporte teórico/metodológico, entretanto, nem sempre, ao nosso ver, corresponde as diferenças regionais com suas peculiaridades intrínsecas. Desenvolvemos o maior respeito e admiração por autores como Camillo Boito, Cesari Brandi, John Ruskin, Viollet-Le Duc e tantos outros, que não apenas se preocuparam como produziram obras fantásticas voltadas a preservação dos monumentos. Preservação esta que tem como um dos objetivos lapidares a preservação da memória para com as gerações futuras. Ora, nós, do hoje, somos a “geração futura” do ontem. Vivenciamos o presente, e devemos nos preocupar com a preservação da memória para os de amanhã. Se nos balizarmos por muitos dos conceitos preconizados, sobretudo pelos autores acima citados, deixaremos para o futuro apenas esta memoria construída no passado sobre a forma de pó. 1º Simpósio Científico ICOMOS Brasil Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017 Será que já não é tempo de repensarmos certos conceitos e adaptarmos a um novo tempo? Os conceitos destes autores permeiam a mente da maioria dos restauradores e dos órgãos responsáveis pela preservação da memória, de forma que chega a se assemelhar a uma lógica religiosa, dogmática. Quase sempre quando tomam uma decisão, ou não tomam, procuram frequentemente justificar suas posições, balizados nestes conceitos e na Carta de Veneza. Carta esta, bem elaborada e com bastantes tópicos com os quais concordamos. Temos que admitir que o conhecimento humano seguiu, a princípio, a seguinte ordem cronológica; o conhecimento popular, acumulado desde a origem do gênero Homo, seguido do religioso, do filosófico, e por último do cientifico. Para não nos determos neste assunto, consideraremos neste momento apenas o conhecimento religioso e o cientifico. Para o conhecimento religioso temos, concordemos ou não, de admitir que o mesmo é verdadeiro, pleno, finito, e não carece de adendos. Não se poderia cogitar, para o cristianismo por exemplo, que alguém pensasse em escrever o Novíssimo Testamento. As verdades contidas no Novo Testamento são suficientes e não questionáveis para os cristãos. O mesmo não ocorre com o conhecimento cientifico. Este, que para um número considerável de pessoas é verdadeiro, é o que mais dúvidas apresenta. Se não houver dúvidas não é ciência. O crescimento do conhecimento cientifico deve-se a consciência de que há a necessidade de se aproximar da verdade, ao mesmo tempo em que há a consciência de que a mesma nunca será alcançada, mas sempre aproximada. Quando foi afirmado, por exemplo, que a agua entrava em ebulição a 100ºC, verdade momentânea, logo em seguida foi constatado que não era qualquer agua, que não seria a qualquer altitude, etc., ou seja, sempre o conhecimento foi ampliado. Ora, se pensarmos desta forma, temos que admitir que o mesmo tipo de procedimento deva ser aplicado as teorias de restauração. Temos, ao nosso ver, também que pensar que o homem desenvolveu uma percepção tridimensional da realidade que o cerca. Ele precisa de forma. Para um arquiteto, por exemplo, não é difícil imaginar algumas paredes de uma ruina como o imóvel integro, porém o mesmo não ocorre com a população em geral que necessita de forma. A preservação da memória, tão decantada entre os teóricos, é para uma minoria de técnicos ou para a sociedade como um todo? O que deveria ter sido feito com os monumentos de alguns países europeus após a II guerra mundial? Justo que fosse preservado alguns escombros como memória da destruição, mas todos? Acredito que não seria esta a expectativa da sociedade do hoje que é a sociedade do ontem que vivenciou a guerra. Acreditamos que nos encontramos em um momento oportuno para uma profunda reflexão sobre o tema. Não que abandonemos o que já foi produzido, muito pelo 1º Simpósio Científico ICOMOS Brasil Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017 contrário, mas que produzamos algo que não apenas sintetize a produção sobre o tema, mas que avance do pondo de vista epistemológico. Sabemos que é uma tarefa árdua, incomoda até, porem necessária a todos que de alguma forma se encontram vinculados ao tema. Deve-se entrar em uma outra era de procedimentos e eliminar os “complexos de culpa” e de desculpas. É frequente entre os restauradores, mesmo dos órgãos oficiais, afirmações tipo não podemos realizar isto porque Brandi, ou outro autor, inviabiliza esta possibilidade. Ou de outra forma, adota-se uma postura considerada mais oportuna e justifica-se “embora tal autor seja contra, tivemos que adotar”. Temos que admitir, no entanto, que não somos os únicos que se preocupam com o tema. Vários autores e restauradores já tem se manifestado contrários a uma postura dogmática com relação a esta temática. Não faltam exemplos no Brasil relativos a esta afirmativa. Por que não assumimos que apenas a manutenção, extremamente necessária, não é suficiente para a preservação desta memória para as gerações futuras. Temos que pensar, questionar, avançar. Existem fórum para estas discursões, como também pensadores para romper estas posturas “religiosas”. Não estamos tratando de dogmas, e sim de posturas relacionadas com a preservação de uma memória factível de uma destruição por diferentes agentes tanto naturais como antrópicos. No caso do Brasil temos o IPHAN, e a nível internacional o ICOFORT, o ICOMOS e a UNESCO. Estes organismos e mais alguns pensadores, que não se encontram associados aos mesmos, possuem condições de produzirem uma síntese do que já foi realizado e um documento mais apropriado aos dias atuais. Documento que seja ético, moral, técnico, cientifico e contemporâneo. Um outro aspecto digno de nota, é a postura destes organismos diante da pratica da arqueologia histórica. Ao nosso ver é inadmissível a realização de uma restauração sem que haja uma pesquisa arqueológica previa. Se o problema defendido é a preservação da memória, porque ocultar aspectos significativos para o entendimento desta memória que não foi registrada pela documentação histórica? A arqueologia não busca o diferente que normalmente é registrado pela documentação, e sim por aspectos do quotidiano que passou desapercebido aos responsáveis pelo registro dos acontecimentos. A realização da pesquisa arqueológica é privilegiada na Carta de Veneza, embora muitas restaurações lacraram para sempre um passado que, se revelado, traria muitas informações que favoreceriam um melhor entendimento do monumento. Um outro aspecto que nos parece existir, consiste no conhecimento 1º Simpósio Científico ICOMOS Brasil Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017 inabalável de alguns, embora poucos, restauradores que acreditam que seus conhecimentos de História da Arte são suficientes para restaurar um monumento, o que a pesquisa arqueológica tem demonstrado o contrário. Cada monumento possui uma história própria e única e a arqueologia contribui para o seu resgate. Parece-nos que seria oportuno a execução de um trabalho de restauração no qual houvesse uma conjugação de saberes. A nossa experiencia com arqueologia militar por mais de 50 anos nos tem permitido vivenciar as dúvidas acima expostas além de erros e acertos. Portanto, os comentários expostos até o momento não são baseados em vãs divagações, e sim fundamentados em uma experiencia vivenciada. Vivenciada inclusive com a participação da sociedade atual que procura referencias da sociedade passada. Todas as nossas pesquisas arqueológicas foram e são abertas ao público e guiadas por pessoas treinadas para a educação patrimonial. Na escavação do Forte de Orange, por exemplo, recebemos a média de 1232 pessoas/dia. Tínhamos 20 técnicos destinados ao acompanhamento dos visitantes. Sempre procurávamos saber o que pensavam a respeito, e o que esperavam da finalização do trabalho. Destes questionamentos com a sociedade do presente, podemos afirmar que a quase totalidade não pensa em consonância com os teóricos da restauração. A memória não deverá ser preservada para a Sociedade do futuro? E estes não constituem a sociedade do futuro em relação ao que construíram o monumento? Em nenhum momento pensamos que estamos com a verdade, apenas temos certeza de que o tema deve ser seriamente discutido de forma a permitir o objetivo de todos que é o de preservar estes monumentos tanto para a sociedade atual como para as que virão. A nossa trajetória em arqueologia militar nos permitiu a interação com a maioria dos temas propostos para este encontro do ICOMOS, como arquitetura de terra, em pedra, e em madeira. Escavamos o reduto de Tejucupapo, fortificação em terra e paliçada, no qual houve um combate, sobretudo de mulheres contra uma tropa holandesa. Este reduto teve seu fosso completamente aberto pela pesquisa arqueológica. Lamentavelmente não houve a devida proteção a este monumento de grande significação para a história da guerra holandesa no nordeste do Brasil e que atualmente se encontra bastante assoreado. A arqueologia revelou o monumento e a preservação foi negligenciada. Ainda em fortificação de terra localizamos e escavamos parte do fosso que circundava o Forte Real do Bom Jesus. Esta 1º Simpósio Científico ICOMOS Brasil Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017 fortificação em terra foi um dos mais significativos pontos de resistência à ocupação holandesa. Na oportunidade que os holandeses o tomaram, depois de 5 anos de resistência, o mesmo foi destruído. O seu fosso se encontrava completamente soterrado e ao nível do terreno geral. A diferença estratigráfica permitiu, com precisão, se determinar o seu entulho, inclusive com material arqueológico em seu interior, bem como a sua escarpa e contra escarpa. Durante anos a sua manutenção foi precária, apenas houve um desvio das aguas pluviais realizada ainda pela pesquisa arqueológica. Durante anos cresceu uma vegetação em seu interior que chegou a prejudicar a sua integridade. Recentemente todo o seu interior for revestido de grama esmeralda, que parece ser uma boa forma de preservação de monumentos de terra em quotas negativas. Vários monumentos em terra nos quais realizamos um reconhecimento arqueológico encontra-se em situação precária. Alguns dos quais sem que a população envolvente saiba de que se trata. Já trabalhamos também em fortificações em pedra, e constatamos que vários aspectos são de suma importância para a sua preservação. Um dos maiores fatores para a sua degradação constitui-se no crescimento de vegetais em suas frestas. Estes vegetais, que nascem de uma semente, crescem, e chegam a danificar toda a sua estrutura com seu sistema radicular. Existem monumentos em que, por paradoxal que pareça, as suas paredes estão seguras por este sistema radicular. Ao se considerar que o monumento chegou a este ponto temos necessariamente que admitir que os órgãos responsáveis pela sua manutenção foram no mínimo negligentes. Não podemos nos esquecer que, na oportunidade em que uma semente germine, até uma criança poderia extirpa-la. Porem no estágio em que toda a parede se encontre sustentada pelo sistema radicular, o monumento para ser restaurado necessita de um complexo trabalho de engenharia. Pois, caso as raízes sejam extirpadas a parede ruirá. Que memória estamos preservando? Que exemplo estamos transmitindo para a sociedade? Do ponto de vista psicossocial estamos “informando” a sociedade que o monumento não tem valor, e não necessita de preservação. Será que não estamos na contramão da educação patrimonial? Já realizamos pesquisa arqueológica em fortificações de pedra que se encontravam totalmente rebocadas, parcialmente rebocadas, e sem reboco. Na maioria delas, mesmo que não estivessem rebocadas, encontramos vestígios arqueológicos de reboco, ou seja, testemunhos de que devem ter sido rebocadas e por alguma razão 1º Simpósio Científico ICOMOS Brasil Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017 perderam este revestimento. A presença do reboco em uma fortificação não se constitui apenas em um elemento estético, mas sobretudo funcional. A sua presença dificulta o inimigo na tentativa de uma escalada. Ainda a presença do reboco praticamente inviabiliza o crescimento de vegetação em suas frestas. Participamos de diversas discursões com especialistas em restauração, inclusive de órgãos oficiais, sobre a reposição do reboco na restauração do monumento. Podemos afirmar que não há unanimidade consensual sobre o assunto. E por incrível que pareça, muitas destas duvidas por parte dos técnicos não são em função dos teóricos acima referidos, e sim da sociedade enquanto usuária do monumento. Como já foi explicitado em parágrafos anteriores, todos os nossos trabalhos de pesquisa arqueológica são abertos ao público, com extraordinário retorno no tocante a educação patrimonial. E, neste contato durante toda a escavação, procuramos ouvir os visitantes que, quase de forma unanime, defendem que o forte não deve ser rebocado, que “é mais simpático vê-lo em pedra” Fortificações e estruturas fortificadas em madeira também já foram objeto de nossas pesquisas. Embora a descoberta tenha tido grande repercussão popular, histórica e arqueológica, a sua manutenção não foi, a nosso ver, das mais adequadas. As mesmas foram “escondidas”. Ora, será que não há uma incoerência teórica neste procedimento? A sociedade passada a construiu, e dela fez uso. A sociedade do futuro poderá vir a descobri-las novamente. E a sociedade do presente, que somos a sociedade do futuro da sociedade que a construiu, se encontra privada de dela se apropriar. Como exemplo poderíamos dizer que descobrimos a paliçada em madeira de uma das cidades coloniais mais antigas das Américas, e que a mesma se encontra coberta por asfalto. Como poderá haver a apropriação do Bem? Como poderemos aproveitar estas descobertas como roteiro de um turismo cultural, um dos temas deste encontro. Mais uma vez reforçando o enfoque Brasil, apenas lamentamos a profunda desconeção entre os órgãos e pessoas de áreas como pesquisa, restauração, preservação, turismo, transporte, e tantos outros setores, que observamos integrados em alguns países, e que o Brasil ainda não conseguiu se conectar. O turismo e o estabelecimento de rotas culturais ainda se constituem em uma grande falha do setor. As fortificações frequentemente foram edificadas em locais estratégicos e atraentes para os dias atuais. Temos, no caso brasileiro, fortificações da Amazônia ao Rio Grande do Sul. Caso houvesse integração entre os órgãos oficiais e o setor 1º Simpósio Científico ICOMOS Brasil Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017 privado como os profissionais do turismo, instituições, o setor hoteleiro, e demais áreas envolvidas com a atividade turística, teríamos educação patrimonial, lazer, emprego e renda. Por que não utilizamos este potencial que já existe? A Amazônia é um atrativo mundial, as praias idem. Este pacote turístico poderia ser segmentado, ou seja, os turistas que preferissem selva viriam os fortes da Amazônia, teriam uma explicação in loco, comprariam réplicas de peças, navegariam no amazonas, degustariam as iguarias locais, e conheceriam vários aspectos da cultura amazônica. Poderia haver um outro pacote para o nordeste, outro para o sul, ou um maior ainda que abrangesse todo o conjunto. Isto poderia ser feito de navio, avião e outros meios de transporte. Poderia ser chamado de “circuito dos fortes”, como existe em vários países como a Holanda. O uso seria uma das melhores formas de proteção do monumento. Claro que estamos admitindo que haveria guias treinados na história do forte, e que realmente conseguissem transmitir de forma atraente e compatível com a faixa etária, o porquê deste monumento. Esta atividade ocuparia artesãos que reproduzissem peças com o aval de uma instituição de pesquisa, uma interpretação e sinalização do monumento compatível com a expectativa dos visitantes. Isto teria que ser inserido em um projeto de Estado, independente de facções político/partidária. Temos no Brasil fortificações desde o início da colonização até a II Guerra Mundial. A pergunta que não cala: Por que não acontece. Isto vem responder, em parte, a uma questão acima referida: a quem cabe a responsabilidade? A pesquisa arqueológica apresenta um grande potencial tanto para a localização da fortificação, interpretação, e restauração das fortificações que se encontram no território nacional, considerando apenas o Brasil em função dos objetivos deste oportuno encontro. Em função do desgaste pelo tempo, da matéria prima utilizada na edificação, da negligencia institucional, da falta de um eficaz plano de utilização, as fortificações encontradas do Brasil se apresentam de diferentes aspectos, vendo-as como potencial arqueológico. Fortificações preservadas. Estas, embora raras, oferecem ao observador condições de pelo menos serem identificadas pela sociedade como sendo um forte. Uma pesquisa arqueológica traria informações novas que se encontram em seu amago, e que não foram registradas pela historiografia. 1º Simpósio Científico ICOMOS Brasil Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017 Fortificações superpostas. Em decorrência da essência de uma fortificação, muitas delas trocaram de bandeira, ou mesmo sofreram alterações pelo mesmo grupo cultural. Como normalmente a escolha do local a ser fortificado baseia-se em critérios operacionais, muitas fortificações de outros grupos são edificadas sobre a anterior. A pesquisa arqueológica realizada na Fortaleza de Santa Cruz, na Ilha de Itamaracá, encontrou o Forte de Orange a 4 metros de profundidade, ou seja, duas fortificações distintas na mesma coordenada geográfica. A inferior de construção holandesa e a subsequente de construção portuguesa. Fortificações abandonadas e conhecidas pela população local sob forma de ruina. O estudo arqueológico desta categoria de fortificação além de trazer a luz as suas subunidades funcionais que permitirão uma restauração, resgatará muitos aspectos do cotidiano de seus ocupantes. Fortificações desaparecidas e soterradas por edificações recentes. Esta categoria de fortificação, do ponto de vista arqueológico, apresenta uma complexidade operacional mais diferenciada, porém não exequível. Caso haja interesse em recuperar sua localização poder-se-ia utilizar de recursos de georreferenciamento projetivo, como utilizamos na localização do Forte Mauricio, em Penedo, no estado de Alagoas. No caso de se ter sobre a fortificação edificações recentes em que não haja interesse em demoli-las, deve-se, depois da localização ser exitosa, utilizar o radar de solo com o objetivo de resgate imagético de suas estruturas interiores. Casos semelhantes não impediria que após a localização do forte que se enquadrasse nestas condições, que fosse aposto um totem explicativo e que, em um roteiro turístico/cultural, o mesmo não fosse visitado de forma a integrar esta localização no entendimento do sistema de defesa pretérito. Fortificações parcialmente desaparecidas. Existem fortificações que não mantem mais uma morfológica que permita a sua identificação como tal. Muitas vezes são vestígios aparentes, mas que teve sua identidade perdida na memória da população local. A pratica da pesquisa arqueológica não apenas trará à tona a unidade de defesa, como tirará a população local do estado de amnesia coletiva. Fortificações desaparecidas e a área retrabalhada por agentes naturais (abandonada). No caso de fortes que se encontrem nesta situação, a pesquisa arqueológica deverá se antecedida por um trabalho prospectivo. Não será, como em 1º Simpósio Científico ICOMOS Brasil Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017 outras situações, desenvolvido de imediato um projeto de pesquisa na fortificação, e sim uma prospecção intensiva na área para a identificação da fortificação que não se encontra registrada na memória oral da sociedade envolvente. Este foi o caso do Forte Real do Bom Jesus, cujos vestígios foram procurados pelo imperador D. Pedro, que relatou em seu minucioso diário que “não havia mais vestígios do mesmo”. Foi nesta situação que desenvolvemos um trabalho prospectivo na área e localizamos o seu fosso. Dado a natureza deste encontro e sua temática central, demos uma maior ênfase a exemplos brasileiros, embora tenhamos também alguma experiencia com o tema no exterior. Não nos detivemos a exemplos do sistema de defesa de grupos préhistóricos cujo entendimento são de suma importância para o entendimento da sobrevivência de nossos antepassados mais remotos. A mesma omissão intencional refere-se a II Guerra Mundial, da qual já temos vários vestígios prospectados. Esperamos que em um outro encontro, a nível nacional ou internacional, possamos nos debruçar sobre muitos dos temas aqui abordados e romper alguns dogmas de modo a permitir que realmente as sociedades que nos sucederão venham a ter a chance de conhecer a sua história através das fortificações, que de alguma forma defenderam crenças, conquistas, esperanças, medos, enfim, a história da própria humanidade. BIBLIOGRAFIA ALBUQUERQUE, M. A. G. M.; LUCENA, V.; WALMSLEY, D. Fortes de Pernambuco. 1. ed. Recife: GRAFTORRE LTDA., 1999. v. 1. 204p. ALBUQUERQUE, M. A. G. M.; LUCENA, V. Arraial Novo do Bom Jesus - Consolidando Um Processo, Iniciando Um Futuro. 1. ed. RECIFE: GRAFTORRE, 1997. v. 1000. 225p. ALBUQUERQUE, M. A. G. M. Arqueologia de Unidades de Defesa. In: Fernanda Codevilla Soares. (Org.). Arqueologia das fortificações: perspectivas. 1ed.Florianópolis: Lagoa, 2015, v., p. 9-37. ALBUQUERQUE, M. A. G. M. Velhos e Novos Mundos em uma perspectiva arqueológica. 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