Mariana de Araújo Stocchero
EXPERIÊNCIAS DE FLUXO NA EDUCAÇÃO MUSICAL:
Um estudo sobre motivação
Curitiba
2012
Mariana de Araújo Stocchero
EXPERIÊNCIAS DE FLUXO NA EDUCAÇÃO MUSICAL:
Um estudo sobre motivação
Dissertação
apresentada
ao
programa de Pós-Graduação em
Música, Departamento de Artes,
Universidade Federal do Paraná,
área de concentração Educação
Musical, Cognição e Filosofia da
Música, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em
Música.
Orientadora: Profª. Drª. Rosane
Cardoso de Araújo
Curitiba
2012
Mariana de Araújo Stocchero
EXPERIÊNCIAS DE FLUXO NA EDUCAÇÃO MUSICAL:
Um estudo sobre motivação
Dissertação
apresentada
ao
programa de Pós-Graduação em
Música, Departamento de Artes,
Universidade Federal do Paraná,
área de concentração Educação
Musical, Cognição e Filosofia da
Música, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em
Música.
Orientadora: Profª. Drª. Rosane
Cardoso de Araújo
______________________________________________________________
Profª. Drª. Rosane Cardoso de Araújo (Orientadora)
Universidade Federal do Paraná
_______________________________________________________________
Profª. Drª. Liane Hentschke
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
_________________________________________________________________
Profª. Drª. Valéria Lüders
Universidade Federal do Paraná
Curitiba
15/08/2012
AGRADECIMENTOS
À Deus.
À Profª. Drª. Rosane Cardoso de Araújo, pelo exemplo de profissional competente,
que orientou esta pesquisa de forma cuidadosa e enriquecedora. Agradeço a
disponibilidade, o conhecimento e a confiança dedicada a mim.
À Profª Drª Liane Hentscke, pela disponibilidade em fazer parte desta banca,
agregando valor e inestimáveis contribuições.
À Profª Drª Valéria Lüders, pela disponibilidade em fazer parte desta banca, por sua
seriedade, sinceridade e dedicação, desde o início desta jornada acadêmica.
Aos professores Joyce Todeschini , Carlos Todeschini e Eliane Briones Borges, que
fizeram parte da minha formação humana e musical e que de alguma forma,
contribuíram para que este mestrado acontecesse.
Ao Colégio Nossa Senhora de Sion e toda sua equipe, pela amizade, confiança, e
principalmente, por todo apoio e incentivo à realização desta pesquisa.
Ao Colégio Passionista Nossa Senhora Menina e toda sua equipe, pela motivação
inicial, pela filosofia de ensino compartilhada, pelo aprendizado.
Ao Colégio Marista Santa Maria, pelo desafio, confiança e enriquecimento
profissional.
Aos meus pais e avós, por sempre incentivar e valorizar meus estudos.
Ao André por caminhar ao meu lado.
Aos meus colegas e amigos do Mestrado em Música, em especial ao Luiz Claudio
(Pepe) Barcellos que muito me auxiliou durante a coleta de dados.
Às minhas amigas e colegas de profissão, Marisleusa de Souza Egg, Rudiany Reis
Silva e Maria Luisa Noriller Taschek pela colaboração e apoio.
Às crianças que participaram desta pesquisa e a todas as crianças que já passaram
pela minha vida, por todos os dias, me motivar a ser professora.
Dedico este trabalho àquele que me
ensinou a gostar de Arte, de Música, das
Letras... poeta imortal que sempre me
servirá de exemplo.
O DESAFIO
Faz do teu sonho
um rumo para a vida;
se nada é fácil,
aceita o desafio...
Verás quão belo
é levar de vencida
a força da torrente,
ao enfrentar o rio...
E quando,
ao fim,
alcançares vitória,
pelo esforço
da luta que empreendeu,
lembra que o forte
é quem verá a glória,
pois que,
ao fraco,
a vida já venceu!...
HARLEY CLÓVIS STOCCHERO
RESUMO
Esta pesquisa trata do tema Motivação na Educação Musical e teve por objetivo
investigar as relações entre os tipos de atividades musicais e os níveis de
envolvimento dos alunos, que favorecem a aprendizagem em sala de aula, tendo
como referencial teórico a Teoria do Fluxo de Mihalyi Csikszentmihalyi. O fluxo,
também chamado de experiência ótima, é um estado mental e emocional
caracterizado por um profundo envolvimento em uma atividade, em que a percepção
de metas e desafios é compatível com os níveis de habilidade do indivíduo, obtendo
profunda concentração e gerando grande prazer. Para tanto, como delineamento
metodológico, optou-se pela pesquisa quase-experimental. A coleta dos dados foi
realizada com 12 crianças de 8 e 9 anos de idade, pertencentes ao 3º ano do Ensino
Fundamental em uma escola de ensino básico particular de Curitiba/PR. Durante 5
aulas, atividades musicais que contemplavam a apreciação, a execução e a
composição musical foram aplicadas a fim de observar as reações e o
comportamento motivado dos educandos diante das propostas. Tais dados foram
interpretados sob a perspectiva da professora/pesquisadora e complementados por
meio da avaliação de 3 juízes externos. Através das constatações e reflexões
reveladas, buscou-se colaborar com a área da Educação Musical apresentando
novos caminhos e sugestões para futuras pesquisas que aprofundem o tema; bem
como orientações para professores de educação musical que queiram enriquecer
sua prática pedagógica por meio do estudo da motivação.
PALAVRAS-CHAVE: Motivação. Educação Musical. Teoria do Fluxo.
ABSTRACT
This research deals with the theme Motivation in Music Education and aimed to
investigate the relationships between the types of musical activities and levels of
student involvement, which promote learning in the classroom, having as a
theoretical reference the Flow Theory of Mihalyi Csikszentmihalyi. The flow, also
called optimal experience, is a mental and emotional state characterized by a deep
involvement in an activity where the perception of goals and challenges is compatible
with the skill levels of the individual, getting deep concentration and causing great
pleasure. Therefore, it was opted for quasi-experimental research as methodology
design. Data collection was done with 12 children between 8 and 9 years old,
belonging to the 3rd grade of elementary school in a private elementary school in
Brazil, Paraná, Curitiba. During five sessions, activities that included music
appreciation, performance and music composition were applied to observe the
reactions and motivated behavior of these students on the proposals. These data
were interpreted from the perspective of the teacher/researcher and complemented
by external evaluation of three judges. Through observations and reflections
revealed, it was aimed to collaborate with the Music Education area presenting new
ways and suggestions for future researches wich investigate the issue further, also
as guidelines for teachers of music education who want to enrich their teaching
through the study motivation.
KEYWORDS: Motivation. Musical Education. Flow Theory.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 - Continuum de Autodeterminação ..........................................................26
IMAGEM 1. Disposição dos alunos ...........................................................................64
IMAGEM 2. Prazer e envolvimento (euforia) .............................................................66
IMAGEM 3. Olhar para dentro, olhar direcionado .....................................................68
IMAGEM 4. Encantamento e atenção .......................................................................72
IMAGEM 5. Apresentação dos instrumentos.............................................................73
IMAGEM 6. Execução instrumental...........................................................................74
IMAGEM 7. Uns alegres, outros aborrecidos ............................................................77
IMAGEM 8. Auto adesão - Ensinando as colegas.....................................................82
IMAGEM 9. Grupo 2: tantando organizar as ideias ...................................................87
IMAGEM 10. 'Dança Alemã' - alegria ........................................................................92
IMAGEM 11. 'Dança Alemã' - atenção ......................................................................92
IMAGEM 12. Interação com os pares .......................................................................94
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Indicadores Comportamentais de Experiência de Fluxo .......................43
TABELA 2 - Unidade temática de pesquisa para estudo piloto .................................55
TABELA 3 - Unidade temática de pesquisa ..............................................................57
TABELA 4 - Níveis de envolvimento da turma ..........................................................69
TABELA 5 - Níveis de envolvimento da turma ..........................................................75
TABELA 6 - Níveis de envolvimento da turma ..........................................................81
TABELA 7 - Níveis de envolvimento da turma ..........................................................90
TABELA 8 - Níveis de envolvimento da turma ..........................................................94
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 - Relação entre desafios e habilidades para o processo do fluxo. ........33
GRÁFICO 2 - Concentração nas atividades de apreciação ......................................95
GRÁFICO 3 - Prazer e envolvimento nas atividades de apreciação .........................95
GRÁFICO 4 - Concentração nas atividades de execução ........................................96
GRÁFICO 5 - Prazer e envolvimento nas atividades de execução ...........................96
GRÁFICO 6 - Concentração nas atividades de criação ............................................97
GRÁFICO 7 - Prazer e envolvimento nas atividades de criação ...............................97
GRÁFICO 8 - Aula 01: Atividade de apreciação 1.....................................................99
GRÁFICO 9 - Aula 02: Atividade de execução 1.....................................................100
GRÁFICO 10 - Aula 03: Atividade de execução 1 (canto coletivo)..........................100
GRÁFICO 11 - Aula 04: Atividade de improvisação (exercícios rítmicos) ...............101
GRÁFICO 12 - Aula 04: Atividade de composição - grupo 1...................................102
GRÁFICO 13 - Aula 05: Atividade de apreciação musical ativa ..............................102
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................14
1 MOTIVAÇÃO ........................................................................................................20
1.1 Necessidades psicológicas básicas................................................................20
1.2 Motivação intrínseca e motivação extrínseca.................................................22
1.3 Pesquisas em motivação em música ..............................................................28
2 A TEORIA DO FLUXO...........................................................................................32
2.1 Pesquisas em música, motivação e Teoria do Fluxo .....................................34
2.1.1 Fluxo e experiências transcendentais ..............................................................35
2.1.2 Fluxo e criatividade ..........................................................................................36
2.2 Teoria do Fluxo e Educação Musical...............................................................38
2.3 Implicações da Teoria do Fluxo na Educação Musical .................................47
3 METODOLOGIA ....................................................................................................49
3.1 Grupo participante ...........................................................................................51
3.2 Condições para a realização do estudo ..........................................................51
3.3 Coleta de dados ............................................................................................... 52
3.4 Roteiro de atividades para a realização da pesquisa ....................................53
3.5 Estudo piloto .....................................................................................................54
3.6 Planejamento das atividades ..........................................................................57
3.7 Relatório das aulas ..........................................................................................59
3.8 Processo de análise dos dados .......................................................................60
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ...............................................................63
4.1 Apresentação da aula 1 ....................................................................................64
4.2 Apresentação da aula 2 ....................................................................................69
4.3 Apresentação da aula 3 ....................................................................................75
4.4 Apresentação da aula 4 ....................................................................................81
4.5 Apresentação da aula 5 ....................................................................................90
4.6 Transversalização dos dados nas categorias “concentração” e “prazer e
envolvimento” ..........................................................................................................94
4.7 Avaliação dos juízes externos .........................................................................98
4.8 Considerações sobre a análise das aulas ....................................................103
CONCLUSÃO .........................................................................................................105
REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 108
APÊNDICE A – Carta de solicitação .......................................................................112
APÊNDICE B – Explicação do estudo aos pais ou responsáveis .........................113
APÊNDICE C – Termo de consentimento ...............................................................115
APÊNDICE D – Explicação e tabela para juízes .....................................................116
APÊNDICE E – Diário de campo ........................................................................... 119
ANEXO A – Letra da canção Taquaras .................................................................. 127
ANEXO B – Gráficos das avaliações dos juízes externos ......................................128
14
INTRODUÇÃO
Os educandos entram conversando, animados e agitados na
sala de música. Instrumentos no armário, mas à vista de todos;
espaço grande, os alunos se sentam em círculo no chão. Algumas
crianças mudam constantemente de lugar, procurando sentar-se ao
lado daqueles que possuem mais afinidades. A professora, também
no círculo, chama a atenção de todos, cumprimentando-os.
Eventualmente realiza a chamada, caso isso ocorra, as crianças
sentem o clima mais livre e continuam suas conversas paralelas.
A atividade musical começa, escutam uma música, olham
atentos para a professora. As reações variam de acordo com a
música apresentada. Gestos corporais livres acompanham a canção.
Um ou outro aluno tece comentários, uns relevantes, outros jocosos.
Perguntam o que irão tocar hoje. A ânsia de tocar instrumentos é
sempre grande. A professora explica o que e como irão tocar,
demonstra. Alguns se sentem entusiasmados porque ficaram no
naipe dos xilofones, outros se sentem intimidados, há inda aqueles
que não gostaram do instrumento a que foram destinados e tentam a
todo custo trocar com alguém. A professora avisa que não pode,
haverá o momento certo para troca. Enquanto isso, a sala está um
caos! Todos falam, tocam ao mesmo tempo. A professora esforça-se
para abstrair, ter paciência. Quando olha, dois alunos trocaram de
lugar e de instrumentos achando que ela não notaria... Outro chora
copiosamente porque queria muito tocar o tambor.
Feito os acertos, obtêm-se silêncio, começa-se a construção
da música. Naipe a naipe, cantando, variando intensidade, timbres,
ostinatos, reforça-se com elogios, critica-se o que precisa melhorar,
alguns demonstram entusiasmo, outros, desinteresse. Conversas
paralelas... Alguém não consegue controlar o corpo e não pára de
tocar... Isso irrita a professora que não gosta de falar com barulho de
instrumento. A totalidade da música é executada, um sorriso brota no
rosto de todos e os olhos brilhantes e atentos dos alunos
demonstram a absorção e a compreensão do que acabaram de
realizar. Todos emitem sons de entusiasmo, batem palmas! Bate o
sinal, acabou a aula.
- “Mas já? Eu nem vi o tempo passar professora.”
- “Obrigada pela aula hoje, gostei muito”.
Alguns alunos mais apressados já saíram da sala sem
guardar seus instrumentos, outros ajudam a professora a recolher.
Há ainda aqueles que não querem ir embora, não param de tocar.
- “Não dá!” - diz a professora – “Já deu o tempo da aula e
vocês precisam ir!”
Todos vão embora, despendem-se da professora com beijos
e abraços, pedem para tocar o xilofone contralto na próxima aula. A
professora organiza o que pode, faz umas rápidas anotações, a
próxima turma já está na porta esperando para entrar...
15
Alunos gostam de aulas ‘especiais1’, que saem da rotina escolar e que são
tidas como prazerosas; e a aula de música é uma delas. No entanto, apesar de
contar com a aprovação da maioria dos alunos, o fato de crianças gostarem da aula
de música não garante que esta transcorra livre de problemas comuns ao processo
de ensino e aprendizagem, tais como: indisciplina, desatenção, amotivação,
desinteresse, dificuldades de compreensão e aprendizagem, entre outros.
A fictícia descrição acima (baseada em experiências reais) fornece uma
imagem de uma possível aula de música em escola regular. Experiências musicais e
situações comuns de sala de aula são representadas genericamente a fim de
ambientar a discussão sobre o tema Motivação, tema este necessário para uma
compreensão mais profunda da situação transcrita acima, consequentemente,
também das diversas realidades que ocorrem todos os dias nas escolas.
O estudo da motivação vem ganhando grande visibilidade nos últimos anos
(Miksza, 2012; McPherson e McCormick, 2006; Ritchie e Williamon, 2011; Araujo e
Andrade, 2011; Pizzato e Hentschke, 2010; Renwic e McPherson, 2009) devido às
necessidades dos professores e teóricos do campo da psicologia e da educação, de
entender essas mudanças comportamentais que ocorrem e as formas de
envolvimento que os indivíduos demonstram diante de situações de aprendizagem e
interações com o meio.
Araújo (2008, p. 40) explica que:
A motivação orienta todo o tipo de atividade humana por meio de
fatores intrínsecos e/ou extrínsecos que asseguram ao ser humano a
qualidade da persistência e do direcionamento da atenção para o
desenvolvimento de suas tarefas.
Segundo Austin, Renwick e McPherson (2006), a motivação é um constructo
teórico utilizado para explicar a iniciação, direção, intensidade e persistência em
determinado comportamento. Os autores ainda explicam que teóricos da área da
educação procuram entender o que faz alguns alunos obterem mais sucesso do que
outros, possuindo às vezes, os mesmos níveis de habilidades.
Durante a década de 1970, o paradigma corrente das teorias de motivação
enfatizava a área biológica (instintos, necessidades, drives) e comportamentos
1
Aulas ‘especiais’ é um termo utilizado pela comunidade escolar para designar aquelas aulas que
geralmente são ministradas por professores especialistas, tais como: Artes, Música, Língua
Estrangeira e Educação Física.
16
(recompensas externas, punições); a mudança deste paradigma propõe uma visão
sócio-cognitivista, ou seja, é importante reconhecer o papel do contexto social no
desenvolvimento da motivação, além de abordar processos cognitivos. (REEVE,
2006).
Ainda segundo Austin, Renwick e McPherson (2006) a motivação pode ser
vista como um conjunto de fatores, um processo dinâmico que envolve as
percepções, crenças, os pensamentos e as emoções do indivíduo, bem como o
contexto social (professores, colegas, pais), as ações individuais (autorregulação,
engajamento,
comportamentos
motivacionais)
e
os
resultados
alcançados
(aprendizado, realizações).
A motivação está presente nas diversas esferas de nossas vidas; para quase
todas as ações há um tipo de motivação por trás, responsável pelo início e
permanência em atividades diárias, como comer, trabalhar, estudar, namorar,
comprar, escolher (REEVE, 2006). Mas é na motivação para aprender que reside o
foco desta pesquisa, mais precisamente, na motivação para aprender música nas
escolas. A questão: “O que motiva o aluno em sala de aula?” e ainda “Porque a
motivação varia de indivíduo para indivíduo, em uma mesma atividade?” são
questionamentos constantemente presentes em pesquisas e também impulsionam
este estudo.
Este estudo surge então, da necessidade de se compreender os mecanismos
que levam os educandos ao envolvimento nas atividades musicais propostas em
sala de aula, a fim de saber contornar situações adversas e oferecer reais
oportunidades de aprendizagem musical.
O estudo da motivação também se faz necessário à formação do professor de
música, uma vez que o próprio professor pode sentir-se mais motivado no exercício
de sua profissão, ao perceber que é capaz de envolver seus alunos nas atividades
propostas.
O papel do professor neste processo é essencial, pois segundo Bzuneck
(2009), este possui duas funções distintas e complementares a serem cumpridas na
sala de aula: uma de caráter remediador, que consiste em recuperar a motivação
dos alunos, e a outra de caráter preventivo e permanente, destinado a todos os
alunos, onde o objetivo é manter otimizada a motivação para aprender.
O mesmo autor afirma que “... a motivação do aluno em sala de aula resulta
de um conjunto de medidas educacionais, que são estratégias de ensino ou eventos
17
sobre os quais todo professor tem amplo poder de decisão” (BZUNECK, 2009, p.
27).
A motivação intrínseca, tanto dos alunos quanto do professor, pode influenciar
no aproveitamento da aula, pois ainda de acordo com Bzuneck (2009, p.12) “... a
qualidade do investimento pessoal implica no emprego de estratégias de
aprendizagem, cognitivas, metacognitivas e de gerenciamento de recursos...”.
Pizzato (2009) afirma que o envolvimento dos alunos nas aulas de música
ocorre mais pelo interesse das propostas em sala de aula do que, por preocupações
em tirar boas notas. Sendo assim, as questões da qualidade da atividade e de como
ela é proposta tornam-se mais relevantes para o estudo da motivação. Não só o
domínio de conteúdos específicos é importante para uma aula de qualidade, mas
também, ter conhecimento sobre a psicologia do envolvimento pode fazer a
diferença ao ministrar uma aula e alcançar seu objetivo final de aprendizagem.
Desta forma, a motivação deve ser considerada como um elemento fundamental no
processo de aprendizagem escolar. (ARAÚJO & PICKLER, 2008; ARAÚJO, 2010).
O envolvimento característico nas aulas de música em escola regular sofre
constante variação de uma aula para outra, ou entre turmas diferentes,
considerando vários fatores atuantes tanto na motivação do aluno, do grupo de
alunos, quanto do professor. Entender como os fatores intrínsecos e extrínsecos
podem contribuir para uma melhor compreensão dos fenômenos e situações que se
encontram no dia-a-dia de sala de aula pode ser de grande auxílio para professores
de educação musical.
Os aspectos motivacionais que atuam nessas variações de envolvimento
podem ser observados à luz do estudo aprofundado da motivação e da Teoria do
Fluxo de Csikszentmihalyi2. O fluxo é um estado de consciência, um profundo
envolvimento numa atividade, onde a percepção de metas e desafios deve ser
compatível com os níveis de habilidade do indivíduo, para que este possa se
concentrar e experienciar situações de aprendizagem que reforcem seu senso de
competência, percebendo seu próprio progresso e obtendo grande prazer.
(CSIKSZENTMIHALYI, 2008; 1999; ARAÚJO, 2010).
2
A Teoria do Fluxo será melhor detalhada no capítulo 2.
18
Csikszentmihalyi (1999) explica que o termo fluxo, refere-se à sensação que
muitos indivíduos expressaram ao descrever os melhores momentos de suas vidas;
uma sensação de que a atividade que se está realizando é feita sem esforço,
‘fluindo’ naturalmente. Essa sensação é também relacionada ao êxtase nas
experiências transcendentais e ao prazer estético nas experiências artísticas. O
fluxo ocorre em momentos excepcionais onde o envolvimento em determinada
atividade é pleno e o que sentimos, desejamos e pensamos estão em harmonia.
Assim, nesta pesquisa o objetivo geral foi investigar as relações entre os tipos
de atividades musicais e os níveis de envolvimento dos alunos, que favorecem a
aprendizagem em sala de aula, tendo como base a teoria do fluxo. Como objetivos
específicos foram observados quais as atividades que proporcionam envolvimento
por parte dos educandos na aula de música, e quais as diferentes estratégias
motivacionais que podem ser abordadas para um maior envolvimento dos
estudantes.
Por meio das observações, sob a ótica da Teoria do Fluxo, são analisados o
processo motivacional desenvolvido e as reações suscitadas durante as atividades
musicais, estimulando a reflexão acerca das conclusões e constatações levantadas
para futuros estudos sobre a temática. Entretanto, alguns fatores são aprofundados
e relacionados a questões pertinentes à cognição e também à psicologia do
envolvimento das crianças entre 8 e 9 anos, faixa etária observada nesta pesquisa.
Com a aprovação da lei n. 11.769/2008, que instituiu a obrigatoriedade do
ensino de Música nas escolas de Educação Básica, preocupações sobre o fazer
musical na escola precisam ser discutidas à luz de teorias válidas a fim de legitimar
o ensino da música e contribuir com o aprofundamento cada vez maior da área no
Brasil.
Compreender os mecanismos motivacionais é relevante à medida que se
considera que a educação musical em contexto escolar pode contribuir com a
qualidade de vida da criança, por meio e além da vivência musical. Uma vez que
estudos com esta temática abrangem quase sempre pequenas amostras, faz-se
necessária uma visão diferenciada e focada na realidade de sala de aula: grupos
numerosos, interesses e perfis diversificados, poucos recursos materiais e tempo
limitado.
Sendo assim, no capítulo 1 o estudo da motivação será abordado seguido de
uma discussão sobre a motivação em música. No capítulo 2, a Teoria do Fluxo,
19
referencial teórico deste estudo, é detalhada. No capítulo 3 a metodologia é
apresentada e em seguida, no capítulo 4, os resultados são analisados e discutidos.
Por fim, na conclusão, tem-se uma síntese dos resultados obtidos no estudo bem
como as considerações finais da dissertação.
20
1 MOTIVAÇÃO
Várias são as possibilidades de aportes teóricos para o estudo da motivação.
As abordagens teóricas auxiliam na compreensão do objeto de estudo por fornecer
um melhor entendimento sobre conceitos e comportamentos já estudados. Em se
tratando do estudo da motivação para aprender, necessário se faz buscar na
psicologia e na educação, teorias significativas para dialogar na construção de um
conhecimento voltado à aplicabilidade no contexto musical (ARAÚJO, 2010).
Sendo assim, neste capítulo serão abordados conceitos necessários à
compreensão dos mecanismos e fatores motivacionais presentes na aprendizagem
musical. Primeiramente, quais são e como funcionam as necessidades psicológicas
básicas, em seguida, abordando a clássica divisão entre motivação intrínseca e
extrínseca, incluindo também o ponto de vista da Teoria da Autodeterminação.
Algumas pesquisas em motivação e música serão por fim expostas e discutidas a
fim de exemplificar e realizar um apanhado do que vem sendo feito na área em nível
nacional.
1.1 Necessidades psicológicas básicas
Conhecer as necessidades psicológicas básicas, como atuam e qual seu
papel diário na vida das pessoas, leva ao entendimento mais profundo sobre o
comportamento motivado. As necessidades humanas são entendidas como:
fisiológicas (de sede, fome e sexo); psicológicas (autonomia, competência e vínculo
ou relacionamento); e sociais (realização, intimidade e poder). (REEVE, 2006). As
necessidades psicológicas, também apresentadas por Deci e Ryan (1985) na Teoria
da Autodeterminação, são indispensáveis para o desenvolvimento psicológico, da
integridade e do bem estar do indivíduo, sem as quais, a motivação não se
desenvolve.
21
As pessoas se desenvolvem de maneira saudável e emocionalmente
equilibrada, quando as suas necessidades psicológicas básicas são atendidas. É
natural do comportamento humano a procura por atividades que proporcionem a
satisfação dessas necessidades. Envolver-se em atividades musicais, como
aprender um instrumento ou cantar em um coro, dá a possibilidade de o indivíduo
explorar a ação e extrair dela energia e resultados que reforcem a sensação de
autonomia, competência e vínculo.
Reeve (2006) explica que, com relação às necessidades fisiológicas, o
indivíduo comporta-se reativamente, ou seja, procura alívio para alguma deficiência
corporal momentânea. Mas no que se refere às necessidades psicológicas, seu
comportamento é proativo, pois “as necessidades psicológicas causam em nós uma
disposição de exploração e de envolvimento com um ambiente que, conforme
esperamos, seja capaz de satisfazer essas necessidades.” (REEVE, 2006, p.65)
Nessa dialética indivíduo-ambiente, as necessidades psicológicas podem ser
apoiadas e satisfeitas ou podem ser frustradas pelo ambiente, de forma que o
engajamento e comprometimento do indivíduo sofrem constantes variações. Sob
essa abordagem organísmica3 da motivação, entende-se que as pessoas são
inerentemente ativas, portanto, possuem motivação natural para aprender, se
desenvolver e crescer, quando o ambiente apoia suas necessidades (REEVE,
2006).
Segundo Deci e Ryan (1985); Araújo, Cavalcanti e Figueiredo (2009) as
necessidades psicológicas básicas são assim definidas:
-
Autonomia está relacionada com o locus de causalidade, ou seja, o ser
humano precisa sentir-se no controle de suas próprias ações.
-
Competência é a capacidade que a pessoa tem de interagir satisfatoriamente
com o ambiente. Também é o sentimento de recompensa resultante da energia
utilizada ao realizar uma atividade.
-
Vínculo, ou relacionamento, é a necessidade do indivíduo em se sentir parte
de um contexto social, onde seus relacionamentos sejam seguros e duradouros.
No contexto escolar, promover a motivação autônoma, também chamada de
motivação autodeterminada, dos educandos exige do professor, conhecimento
teórico e disposição em respeitar, ainda que com autoridade, a liberdade psicológica
3
Abordagem organísmica provem do termo organismo, que sugere uma entidade viva em
permanente troca ativa com seu ambiente.
22
e a possibilidade de escolha de seus alunos, fazendo-os com que se sintam no
controle da situação, ou seja, que percebam como interno o locus de causalidade
(BZUNECK E GUIMARÃES, 2010).
As crianças têm o desejo de experimentar o mundo à sua própria
maneira, decidindo elas mesmas o que fazer, como fazer, quando
fazer e mesmo se vão ou não fazer (em decorrência da sua
necessidade de autonomia). E quais atividades, habilidades e valores
as crianças consideram ser importantes é algo que depende das
atitudes, dos valores e dos climas emocionais que lhe são oferecidos
pelas pessoas importantes em sua vida (o que decorre da sua
necessidade de relacionamento) (REEVE, 2006, p. 67).
Com base na citação acima, pode-se afirmar que a aula de música
especificamente é um ambiente que proporciona um alto grau de experiências e
relações que favorecem a percepção das crianças sobre sua autonomia,
competência e relacionamentos. O ambiente de sala de aula é rico na troca de
experiências, entre alunos e com o professor. As regras inerentes à convivência
escolar, bem como as particularidades da aula de música proporcionam momentos
onde as capacidades e habilidades individuais são testadas e avaliadas, o retorno
(feedback) é quase sempre imediato, todos sofrem influências das prescrições e das
proscrições (inclusive professores) e a percepção da criança acerca disso é
determinante para o entendimento do meio em que vive.
1.2 Motivação intrínseca e motivação extrínseca
As necessidades psicológicas impulsionam a motivação. No entanto, a origem
ou causa de um comportamento motivado pode não ser consciente para o indivíduo.
Com frequência, as pessoas encontram-se desmotivadas no trabalho ou na escola,
comprovando que nem sempre estão intrinsecamente motivadas, ou seja, nem
sempre estar motivado é algo natural para o ser - humano. Essa pouca motivação
ou até mesmo a sua ausência, faz com que as pessoas busquem no ambiente,
procurando extrinsecamente por razões para motivar-se, através de recompensas e
elogios, ou evitando ameaças e punições (REEVE, 2006).
23
Para Ryan e Deci (2000) a motivação intrínseca é um importante constructo,
que reflete a propensão humana natural em aprender, e se refere ao fato da pessoa
realizar uma determinada ação pelo interesse inerente da atividade. Reeve (2006)
corrobora com esta definição, reforçando que a motivação intrínseca, por possuir
locus de causalidade interno, é considerada como uma propensão inata; isto é,
surge internamente, refletindo seus interesses, curiosidades, necessidades e
exercitando suas próprias capacidades a fim de buscar e dominar desafios em nível
ótimo. Geralmente justifica-se na realização de uma determinada atividade por ela
mesma, a ação por si só.
A motivação não deve ser considerada como um fenômeno unitário, pois ela
varia não somente de intensidade, mas também de orientação e de momento.
(RYAN E DECI, 2000). Para ilustrar essa alternância da percepção do locus de
causalidade e de intensidade, tem-se a seguinte situação hipotética: um indivíduo
pode estar muito motivado para estudar violão pela manhã, mas à noite, pode ter
dificuldades em concentrar-se no estudo devido ao cansaço, e com isso, sua
motivação intrínseca pode sofrer um decréscimo. No entanto, este mesmo indivíduo,
apesar do cansaço possui urgência em aprender determinada canção para um
exame no dia seguinte, encontra-se então motivado a continuar o estudo, a fim de
evitar uma situação desfavorável, que coloque à prova sua competência perante os
outros. A motivação deste suposto violonista variou ao longo do dia, tanto na
percepção do lócus de causalidade (interno e externo) quanto na intensidade (muito
motivado, pouco motivado).
Assim, ao iniciar e/ou persistir em uma atividade podemos ser movidos por
uma motivação intrínseca (natural, interna) ou extrínseca (sujeita a situações
provocadas pelo ambiente). Em música, ser movido intrinsecamente significa
participar de uma atividade musical com o objetivo de experienciar as satisfações
inerentes que esta pode proporcionar, buscando a oportunidade de satisfazer suas
necessidades psicológicas básicas de autonomia, competência e vínculo, mesmo
que isso não seja um processo consciente.
A motivação intrínseca é apontada por muitos estudiosos (REEVE, 2006;
RYAN E DECI, 2000; GUIMARÃES, 2009), como a motivação ideal, a de melhor
qualidade e a que leva o indivíduo a sentir satisfação, prazer, competência. A
motivação que leva a altos níveis de aprendizagem. Guimarães (2009, p. 38)
24
descreve o envolvimento e o desempenho escolar de um aluno intrinsecamente
motivado como:
[...] Apresenta alta concentração, de tal modo que perde a noção do
tempo; os problemas cotidianos ou outros eventos não competem
com o interesse naquilo que está desenvolvendo; não existe
ansiedade decorrente de pressões ou emoções negativas que
possam interferir no desempenho; a repercussão do resultado do
trabalho perante as outras pessoas não é o centro de preocupações,
ainda que o orgulho e a satisfação provenientes do reconhecimento
de seu empenho e dos resultados do trabalho estejam presentes;
busca novos desafios após atingir determinados níveis de
habilidades e as falhas ocorridas na execução das atividades
instigam a continuar tentando.
Porém, esta mesma autora concorda que esta visão ideal do aluno motivado,
não ocorre sempre, nem em todos os momentos e atividades, tampouco com todos
os alunos ao mesmo tempo. Csikszentmihalyi (2008, 1999) expõe o conceito de
personalidade autotélica4 que se encaixa dentro desta descrição de aluno motivado
dada por Guimarães. Basicamente, o aluno que apresenta essa postura em grande
parte
das
situações
de
aprendizagem,
possui
uma
motivação
intrínseca
desenvolvida e a capacidade de autorregular seu próprio aprendizado.
A motivação extrínseca é a realização de uma atividade com vistas a
benefícios e recompensas, ou como forma de evitar situações desagradáveis.
Surge, portanto, das consequências e dos incentivos ambientais (REEVE, 2006).
Seguindo
com
o
exemplo
musical,
um
comportamento
motivado
extrinsecamente, busca obter por meio do fazer artístico musical, reconhecimentos
como prêmios, troféus, bolsas de estudos e dinheiro, ou busca até mesmo evitar
punições, como no caso de crianças que são obrigadas pelos pais a fazer aulas de
música.
Um aluno motivado intrinsecamente participa da aula de música com atenção,
toca instrumentos, canta e interage com colegas e com a professora. Um aluno
motivado extrinsecamente, pode se comportar da mesma forma. Portanto, é difícil
afirmar, somente através da observação do comportamento humano, qual é a
origem da motivação de um indivíduo. A diferença entre comportamentos motivados
intrinsecamente ou extrinsecamente está exclusivamente na percepção do locus de
4
A personalidade autotélica será melhor definida na página 34.
25
causalidade, ou seja, na fonte da energia que direciona o comportamento (REEVE,
2006).
Na clássica divisão dicotômica entre motivação intrínseca e motivação
extrínseca, esta última é caracterizada como uma forma mais pobre e negativa de
motivação, onde apesar de produzir resultados e ter poder sobre o comportamento
do indivíduo, é considerada de baixa qualidade (RYAN E DECI, 2000). Em
contraponto a esta abordagem, a Teoria da Autodeterminação (Self-determination
Theory)
considera
a
motivação
extrínseca
também
como
uma
forma
autodeterminada de motivação, que apesar de se valer de reguladores extrínsecos
como consequências e incentivos, é capaz de envolver e promover crescimento e
aprendizagem. A Teoria da Autodeterminação aborda a motivação extrínseca sobre
diversos tipos, alguns realmente condizem com a visão da motivação gerada pelo
ambiente, mas outros já apresentam formas mais volitivas e internalizadas pelo
indivíduo.
A Teoria da Autodeterminação é uma teoria que estuda a motivação sob
aspectos qualitativos e determinantes. Para Ryan e Deci (2000, p.54) autores da
teoria, “estar motivado significa ser movido à realização de algo.” Essa motivação
não só se diferencia em quantidade, mas também em diferentes tipos de motivação;
isto é, não só no nível, mas também na orientação.
Por apresentar uma abordagem mais detalhada da motivação, não a dividindo
somente entre motivação intrínseca e motivação extrínseca, e também por dar um
caráter mais positivo à motivação extrínseca, é que a Teoria da Autodeterminação
vem ao encontro deste estudo, de forma a complementar o entendimento acerca dos
variados tipos de motivação.
Segundo Bzuneck e Guimarães (2010, p.44) a afirmativa central da Teoria da
Autodeterminação postula que “os seres humanos são dotados de natureza ativa,
propensos ao desenvolvimento saudável e à autorregulação.” Isto implica que ao
envolver-se em uma determinada atividade o indivíduo vai buscar satisfazer as três
necessidades psicológicas básicas de competência, autonomia e vínculo.
É importante considerar que todas as necessidades precisam estar juntas
para haver motivação intrínseca, mas por sua vez, não é necessário que sejam
motivadas intrinsecamente para que ocorram (RYAN E DECI, 2000; ARAÚJO,
CAVALCANTI E FIGUEIREDO, 2009).
26
Segundo Ryan e Deci (2000); Austin, Renwick e McPherson (2006), a
perspectiva da Teoria da Autodeterminação emerge da clássica divisão entre
motivação intrínseca (a atividade é realizada pelo seu valor próprio) e motivação
extrínseca (onde a pessoa procura evitar algo ou receber recompensas); entretanto,
a Teoria da Autodeterminação propõe que comportamentos extrinsecamente
motivados variem em um continuum de acordo com o grau de autonomia que o
indivíduo percebe, ou seja, considera-se que a motivação extrínseca também pode
ser autodeterminada. A Figura 1 apresenta o continuum de Autodeterminação
proposto na teoria.
FIGURA 1 - Continuum de Autodeterminação
Fonte: Elaborada pela autora, baseada em Decy & Ryan (2000)
Continuum de Autodeterminação
Ausência de
Autodeterminação
Desmotivação
Autodeterminação
Motivação Extrínseca
Motivação
Intrínseca
Regulação Regulação Regulação Regulação
Externa
Introjetada Identificada Integrada
Essa variação qualitativa da motivação extrínseca se apoia no conceito de
internalização explicado por Guimarães e Bzuneck (2008, p.103):
A qualidade da motivação dependeria do nível de internalização das
regulações externas, sendo que, quanto maior o nível de
autodeterminação do comportamento melhor a qualidade
motivacional. A internalização refere-se ao processo proativo pelo
qual as regulações externas, que são as práticas e prescrições
culturais, são transformadas em auto-regulações, ou seja, tornam-se
valores, crenças e compreensões pessoais.
Importante ressaltar que o continuum de Autodeterminação não é um
continuum progressivo por si só, isto é, não significa que se a motivação extrínseca
se tornar mais internalizada, ela se transformará numa motivação intrínseca.
27
Também não há uma sequência no continuum, embora a motivação possa se
movimentar entre as orientações (RYAN & DECI, 2000).
De acordo com Ryan e Deci (2000), Guimarães e Bzuneck (2008), essa
motivação extrínseca pode ser controlada por:
- Regulação externa: forma menos autônoma de motivação extrínseca. Visa
obter recompensas e/ou evitar punições;
- Regulação introjetada: relacionada a pressões internas como culpa,
ansiedade e reconhecimento social;
- Regulação identificada: reconhecimento e valorização subjacentes ao
comportamento. É mais autônoma que as anteriores, mas o locus de causalidade
ainda é externo;
- Regulação integrada: alto grau de autodeterminação. Síntese das
regulações identificadas, mas torna-se mais consciente, pois ocorre uma integração
direta com o self.
Reeve (2006) esclarece que esta regulação integrada refere-se tanto a um
tipo de motivação quanto a um processo de desenvolvimento, pois envolve uma
reflexão do indivíduo “para fazer com que novas maneiras de pensar, de sentir e de
se comportar atinjam sem conflitos uma congruência com maneiras preexistentes de
o self pensar, sentir e comportar-se” (REEVE, 2006, p.99). Por exemplo, ao realizar
uma composição musical coletiva, não é possível agradar a todos ao mesmo tempo,
e sempre alguém terá que ceder, pelo bem maior de ver a obra terminada ainda que
o resultado não tenha sido o desejado.
Araújo, Cavalcanti e Figueiredo (2009) ainda explicam que a motivação
extrínseca por regulação integrada, apesar de possuir as mesmas características da
motivação intrínseca, não se iguala a esta, pois passou por um processo antes de
chegar a esse ponto. A motivação intrínseca ocorre naturalmente. Entretanto, a
regulação integrada é identificada como um comportamento autodeterminado, o que
é um fator positivo.
Sob a ótica da Teoria da Autodeterminação, a motivação extrínseca pode ser
considerada benéfica para a aprendizagem e desenvolvimento de um aluno, se
forem promovidas formas mais autônomas de motivação, visando à participação e a
internalização de valores prescritos, como algo importante e de valor para o
indivíduo.
28
Assim, a Teoria da Autodeterminação contribui com este estudo, ao fornecer
subsídios juntamente com a teoria do fluxo, para um maior entendimento quanto ao
tipo de orientação e quanto à variação de envolvimento e motivação que ocorre com
os alunos em sala de aula. Contribui especialmente para a compreensão dos
processos motivacionais extrínsecos, auxiliando o professor na melhor forma de
conduzir situações do dia a dia.
Entender estes diferentes tipos de motivação extrínseca, e o que
promove cada uma delas, é um importante assunto para educadores
que não podem sempre confiar na motivação intrínseca para
estimular a aprendizagem. Falando francamente, devido a muitas
das tarefas que os educadores querem que seus alunos realizem,
não serem inerentemente interessantes ou prazerosas, saber como
promover formas mais ativas e determinadas de motivação
extrínseca (ao invés de formas passiva e controladora) se torna uma
estratégia essencial para um ensino de sucesso. (RYAN & DECI,
2000, p.55, tradução nossa) 5
1.3 Pesquisas em motivação em música
O estudo da motivação no Brasil, em seus vários níveis da educação, vem
ganhando cada vez mais força com novas pesquisas e publicações, mas ainda é
iniciante na área da motivação em música. Alguns estudos recentemente realizados
vêm contribuindo para suprir esta lacuna na área musical, trazendo dados
importantes para o desenvolvimento desta temática e melhorando significativamente
a compreensão dos fenômenos motivacionais.
Os estudos de Figueiredo (2010), Cavalcanti (2009) e Engelmann (2010)
foram realizados no contexto do Ensino Superior e abordaram, sob diferentes
perspectivas, a motivação para o estudo da música.
Figueiredo (2010) analisou a motivação de alunos bacharelandos do Curso de
Violão de uma instituição de ensino superior em Curitiba, sob a perspectiva da
Teoria da Autodeterminação. A metodologia utilizada foi um estudo de levantamento
com 24 alunos que, em sua maioria, demonstraram altos níveis de motivação
5
Understanding these different types of extrinsic motivation, and what fosters each of them, is an
important issue for educators who cannot always rely on intrinsic motivation to foster learning. Frankly
speaking, because many of the tasks that educators want their students to perform are not inherently
interesting or enjoyable, knowing how to promote more active and volitional (versus passive and
controlling) forms of extrinsic motivation becomes an essential strategy for successful teaching.
29
autônoma. Segundo o autor, os problemas advindos na escolha da carreira de
músico profissional não foram suficientes para causar desmotivação nos estudantes.
Ao final do estudo, o autor levanta importantes considerações e fornece sugestões
para promover a motivação dos alunos bacharéis. Algumas dessas sugestões
podem ser aplicadas não só em nível superior, mas também no contexto da
educação básica e no ensino de instrumento, tais como: o cuidado na utilização de
recompensas, bem como na utilização do conceito de talento, evitando situações
desmotivadoras; o oferecimento de opções de escolha, como seleção de repertório e
participação em recitais; a preocupação em oferecer um contexto educacional
informativo favorecendo a percepção de locus de causalidade interna por parte dos
alunos.
A pesquisa de Cavalcanti (2009) teve como referencial teórico a Teoria Social
Cognitiva de Albert Bandura, utilizada intensamente para investigar as crenças de
auto-eficácia de músicos no campo da prática instrumental e da autorregulação. A
metodologia utilizada foi um estudo de levantamento com alunos do curso superior
de instrumento onde 50% dos alunos do 1º ao 3º ano e 81% dos alunos do 4º ano se
julgaram competentes e se consideraram muito confiantes para superar desafios no
estudo instrumental; entretanto, a autora faz uma ressalva, atentando para o fato de
que um percentual significativo não sentiu o mesmo grau de confiança e demonstrou
possuir baixas crenças de auto-eficácia.
Engelmann (2010) abordou em seu estudo a motivação de alunos dentro do
contexto educacional do ensino superior, verificando de que modo o uso de
estratégias para aprendizagem está relacionado com o desempenho acadêmico. O
objetivo geral de sua pesquisa foi analisar a motivação de alunos dos cursos de
Artes (Música, Artes Visuais e Artes Cênicas) de uma Universidade Pública do Norte
do Paraná, focando a identificação de variáveis do contexto social, e teve como
principal referencial teórico a Teoria da Autodeterminação. A pesquisa realizada foi
de natureza exploratória e correlacional e consistiu na identificação e descrição das
orientações motivacionais dos alunos, bem como, da relação entre as diversas
variáveis do estudo.
Pizzato (2009) e Vilela (2009) focaram seus estudos no ensino básico,
trabalhando com dados secundários da pesquisa internacional “Os Significados da
Música para Crianças e Adolescentes em Atividades Musicais Escolares e Não-
30
escolares”, realizada no Estado do Rio Grande do Sul, com alunos das séries finais
do ensino fundamental e médio.
Pizzato (2009) utilizou o tema “Motivação na Educação Musical” para
investigar as relações existentes entre os níveis de interesse e os níveis de
competência, dificuldade e esforço para aprender música na escola. O referencial
teórico abordado foi o Modelo de Expectativa e Valor e questões sobre o interesse.
A pesquisa realizada foi de caráter quantitativo, com análise descritiva: participaram
do estudo 631 alunos de séries finais do ensino fundamental e médio com idades
entre 11 a 19 anos. Constatou-se que a maioria dos alunos considerou que aprender
música na escola exige baixa dificuldade (77%) e logo, são competentes para tal
(80,3%). Quase metade dos alunos da amostra (47,7%), declarou alto interesse em
aprender música na escola, porém 16,2% declararam possuir médio interesse e
35,8% baixo interesse. Observou-se que meninas se sentem mais competentes e
acham menos difícil aprender música na escola do que meninos, e também que
alunos de escola pública sentem maior exigência de esforço do que os de escola
privada.
O baixo interesse dos alunos foi fortemente relacionado com sentimentos de
alta competência, baixa dificuldade e pouco esforço, por parte destes. Especulou-se
que, como justificativa para tal constatação, a baixa exigência das aulas de música e
as formas de avaliação focadas na participação e não no conhecimento e no
desempenho musical dos alunos, podem ter contribuído para este resultado.
Ao final do estudo, a autora faz importantes colocações e chama a atenção
para o fato de que muitas vezes, a aula de música não reflete os interesses nem as
preferências musicais dos alunos. Afirma que o reconhecimento da música como
disciplina relevante na escola, tanto pelos alunos quanto por parte da direção e de
todos os professores, aumenta a motivação para aprendê-la. Para tanto, é
necessário investir na preparação dos professores, para que possam apoiar o
interesse e estimular o aluno com base nas teorias motivacionais.
Vilela (2009) também abordou o tema motivação na aprendizagem musical
sob a ótica do Modelo de Expectativa e Valor, e investigou as relações entre o
interesse, a utilidade, a importância e o esforço (custo) que os alunos atribuem às
aulas de música no currículo escolar e em diferentes contextos. O estudo teve como
metodologia a pesquisa quantitativa com análise de dados estatística descritiva e
inferencial.
31
A pesquisadora observou que alunos que aprendem música em contextos
não escolares como organizações não governamentais, projetos sociais e atividades
extracurriculares, tendem a atribuir maior interesse, utilidade e importância do que
alunos que aprendem música somente na aula curricular da escola. Constatou que,
assim como em pesquisas realizadas no exterior, também no Brasil há um declínio
do interesse e do valor atribuído em aprender música à medida que os alunos
avançam nos anos escolares. Entretanto, após discutir os resultados à luz do
referencial teórico, a autora afirma que:
[...] não são as características do ambiente de aprendizagem que
unicamente têm impacto sobre a motivação dos alunos. São
principalmente as percepções e crenças que eles desenvolvem por
meio de várias experiências nesses contextos que têm impacto sobre
o valor que atribuem ao aprendizado, e, consequentemente, sobre a
motivação para aprender (VILELA, 2009, p.95).
As implicações destes estudos para a área da educação musical e da
motivação são relevantes à medida que trazem para a esfera acadêmica, situações
diariamente vivenciadas por educadores musicais, que por sua vez, têm a
oportunidade de discutir e refletir sobre essas situações de forma sistemática e com
embasamento teórico.
Entretanto, nota-se que o tema motivação na educação musical ainda é
carente de abordagens qualitativas, de pesquisas que observem o cotidiano de sala
de aula in loco, não somente baseadas nas declarações dos alunos. Também há
uma lacuna no estudo da motivação em educação musical com crianças, tal
acontecimento é possível de ser justificado levando-se em conta o fato de que o
trabalho com crianças pode ser considerado como um grupo de risco e que pode
oferecer dificuldades de logística para a realização do projeto.
32
2 A TEORIA DO FLUXO
A recente vertente da psicologia positiva surge como um novo campo de
estudo que busca entender o que torna a vida interessante e o que faz com que ela
valha a pena ser vivida. É um novo paradigma da psicologia que vem ganhando
credibilidade, pois trata de investigar as experiências positivas subjetivas (como
contentamento,
fluxo,
perseverança,
autodeterminação,
criatividade,
etc.)
fundamentando-se em pesquisas empíricas que testam hipóteses e são baseadas
em dados (REEVE, 2006).
Segundo Graziano (2008) a Psicologia Positiva não é uma teoria psicológica,
tampouco um modismo, mas sim um movimento científico que nasceu nos Estados
Unidos em 1998, a partir dos estudos de Martin Seligman, que juntamente com
cientistas
renomados
de
variadas
universidades
(dentre
eles
Mihaly
Csikszentmihalyi) desenvolveu pesquisas quantitativas a fim de mudar o foco da
Psicologia atual, passando a tratar da sanidade mental ao invés de focar nos
porquês das doenças mentais. A autora esclarece que, “alguns teóricos a definem
como o estudo científico das forças e virtudes próprias do indivíduo, que faz com
que os psicólogos adotem uma postura mais apreciativa em relação ao potencial,
motivação e capacidades humanas” (GRAZIANO, 2008, p.7).
Dentro do que a psicologia positiva considera como uma vida boa destaca-se
a Teoria do Fluxo desenvolvida por Mihaly Csikszentmihalyi que trata da qualidade
do engajamento do sujeito em uma específica tarefa. Fluxo é definido como um
estado de total envolvimento em uma determinada atividade que exija um alto grau
de concentração, um nível de desafio compatível com a habilidade, e uma meta
passível de ser cumprida, gerando um retorno (feedback) imediato. Tal experiência
proporciona ao indivíduo um grande prazer, “lampejos de vida intensa”
(CSIKSZENTMIHALYI, 1999, p. 37).
O fluxo, também chamado de experiência ótima, é um estado mental e
emocional onde,
33
[...] as intenções e a motivação são identificadas como
manifestações que auxiliam a concentração de energia psíquica,
criando uma ordem na consciência e um empenho extraordinário do
indivíduo na realização de uma atividade (ARAÚJO, 2008, p.41).
É natural da mente humana, a desordem, o caos, o fluxo constante e
desordenado de pensamentos, reflexões, informações e desejos. Portanto, a
concentração por vezes necessária em uma determinada tarefa, requer certa ordem
na consciência. Quando há desordem na consciência, devido a emoções negativas
como medo, ansiedade, tristeza e tédio, a concentração fica impossibilitada e o
oposto
do
estado
de
fluxo
acontece,
a
chamada
entropia
psíquica
(CSIKSZENTMIHALYI, 1999; ARAÚJO, 2008).
Para que experiências de fluxo ocorram, um fator importante é a manutenção
do equilíbrio entre as percepções de desafio e níveis de dificuldade de uma
atividade, e as percepções que o indivíduo tem quanto a sua própria capacidade de
realização. As habilidades precisam se desenvolver para enfrentar novos desafios;
por sua vez, os desafios precisam ser renovados para atrair e exigir habilidades em
níveis mais acentuados. É um ‘círculo virtuoso’ de aprendizagem, o qual
Csikszentmihalyi chama de motivação emergente (CUSTODERO, 2006).
A fim de demonstrar a exata relação entre desafios e habilidades, o autor da
teoria demonstrou através de um gráfico os oito possíveis estados emotivos e de
consciência.
GRÁFICO 1 - Relação entre desafios e habilidades para o processo do fluxo.
Fonte: Csikszentmihalyi (1999, p. 38).
34
A relação entre desafios e habilidades é fundamental de tal forma que o
desequilíbrio entre esses dois fatores impossibilita experiências de fluxo.
Se os desafios estão além das possibilidades do sujeito, acabam
causando a ansiedade, a preocupação e consequentemente a
frustração. Do mesmo modo, se os desafios estão abaixo das
habilidades e capacidades do indivíduo, podem causar o
relaxamento e por consequência a apatia, o tédio, enfim, o
desinteresse (ARAÚJO, 2008, p. 42).
Pessoas que por muitas vezes experienciam o fluxo, desenvolvem um tipo de
personalidade chamada autotélica, “perfil caracterizado pelo aumento da capacidade
de concentração, auto-estima e satisfação” (ARAÚJO, 2008, p.39).
A palavra
autotélica provém de duas palavras gregas: auto, que corresponde a em si mesmo,
e
telos,
que
significa
finalidade,
ou
seja,
a
finalidade
em
si
mesma
(CSIKSZENTMIHALYI, 2008). São pessoas que realizam atividades por motivos
intrínsecos e essa realização com o fim em si mesma é a chave para uma
experiência ótima.
O fazer musical possui todas as características necessárias à experiência de
fluxo. As condições que facilitam as experiências ótimas - percepção de objetivos
claros, recebimento de feedback imediato, fusão de ação e atenção, existência de
altos níveis de concentração, sentimento de estar no controle, e perda da
autoconsciência – foram observadas em vários contextos musicais, em diversos
estudos realizados.
2.1 Pesquisas em música, motivação e Teoria do Fluxo
Apesar de ser uma teoria relativamente nova (os estudos de Csikszentmihalyi
iniciaram-se há cerca de 30 anos), o conceito de fluxo vêm sendo aplicado e
relacionado a estudos psicológicos, sociológicos, antropológicos e até evolutivos ao
longo deste período, em vários países.
Nesta seção, são apresentados alguns estudos representativos da teoria do
fluxo relacionada a temas específicos como experiências transcendentais e
criatividade, a fim de melhor compreender a aplicabilidade do conceito de fluxo. Em
35
seguida, o foco na educação musical é restaurado para que se compreenda a teoria
dentro do campo de estudo desta pesquisa.
2.1.1 Fluxo e experiências transcendentais
Bernard (2009) desenvolveu uma pesquisa relacionando o fluxo a
experiências transcendentais. A autora pesquisou, através de relatos autobiográficos
de seus alunos de graduação, sobre as experiências musicais de transcendência e
fluxo na educação musical.
Na revisão de literatura deste estudo, Bernard (2009) cita exemplos de
estudos sobre música e experiências transcendentais, tais como o estudo de Alberici
que através da perspectiva fenomenológica observou a performance e a
transcendência com alunos de graduação. Cita ainda trabalhos de Reimer, Palmer e
Paulnack
que
com espiritualidade
em
e
diferentes
pesquisaram
abordagens,
como
as
relacionaram transcendência
experiências
transcendentais
transformam comportamentos e sensações físicas.
O conceito de transcendência utilizado no texto por Bernard se fundamenta
no referencial teórico de Abraham Maslow e sua Teoria da Hierarquia das
Necessidades Humanas, que baseada em uma psicologia humanista, determina os
conceitos de experiências culminantes (peak experiences) e pessoas autoatualizadas (self-actualizing people), conceitos esses que se relacionam e
influenciaram a Teoria do Fluxo.
Segundo Bernard (2009), Maslow descreve as experiências culminantes
como uma generalização dos melhores e mais felizes momentos da vida do ser
humano, as experiências de êxtase e de grande alegria. E descreve pessoas autoatualizadas como indivíduos que se engajam com o mundo a sua volta em total
absorção, que fazem escolhas que permitem seu crescimento ao invés de inibir, que
são honestas, que trabalham para fazer bem feito aquilo a que se propõem a fazer e
que frequentemente vivenciam experiências culminantes.
Essas experiências culminantes proporcionam ao indivíduo oportunidades de
experimentar a transcendência, que na visão da Teoria de Maslow possui dois
componentes:
36
a) o esquecimento de si e a perda da autoconsciência.
b) a possibilidade de ir além de si; o sentimento de pertencer a algo muito
maior.
Com alguns pontos em comum com a teoria do fluxo, Bernard (2009)
relaciona as duas teorias, pois Csikszentmihalyi (apud BERNARD, 2009) em seus
mais recentes estudos, também aborda experiências transcendentais, expondo que
as experiências de fluxo levam ao acréscimo de complexidade da consciência,
guiando o progresso da evolução dos indivíduos, logo da espécie humana. Quanto
mais um indivíduo experienciar o fluxo, mais feliz ele se torna, e mais complexa a
sua
consciência
se
torna,
possibilitando
assim
que
a
pessoa
contribua
significativamente para o processo de evolução.
Bernard (2009) ainda explica que enquanto Maslow propõe que as
experiências
culminantes
sejam
meios
para
se
atingir
experiências
de
transcendência e de auto-realização, Csikszentmihalyi amplia e estende esses
conceitos para um campo de estudos maior ao abordar implicações sociais e
evolucionárias. Para Csikszentmihalyi (apud BERNARD, 2009), experiências de
fluxo levam à felicidade e à transcendência individual, o que pode aumentar a
complexidade da consciência do indivíduo. Transferir essas ideias para um âmbito
social implica em compreender que quando indivíduos aumentam a complexidade
de suas consciências, isto contribui com o progresso da evolução da espécie
humana como um todo (BERNARD, 2009).
2.1.2 Fluxo e criatividade
Outra linha de pesquisa que vem sendo explorada é a relação entre
experiências de fluxo, motivação e criatividade. A motivação é considerada um fator
significativo no desenvolvimento da criatividade; os recursos motivacionais
impulsionam performances criativas (ALENCAR E FLEITH, 2003). Para as recentes
Teorias do Investimento, de Sternberg, Modelo Componencial de Criatividade, de
Amabile, e a Perspectiva de Sistemas do próprio Csikszentmihalyi, a motivação
sempre aparece como um componente necessário para o desenvolvimento da
criatividade (ALENCAR E FLEITH, 2003).
37
No estudo de MacDonald, Byrne e Carlton (2006) buscou-se relacionar a
criatividade musical com o conceito de fluxo de Csikszentmihalyi. Para tanto, os
autores desenvolveram uma pesquisa no âmbito do ensino superior, com um grupo
de atividades de composição, a fim de estudar as relações entre criatividade, fluxo e
a qualidade das composições produzidas. Estudantes do primeiro ano da
universidade trabalharam em um grupo de composição por três encontros,
respondendo questionários sobre suas experiências e gravando as composições
para análise.
Segundo MacDonald, Byrne e Carlton (2006, p. 295, tradução nossa),
Apesar de uma forte ênfase em atividades de grupo na educação
musical atual, poucas pesquisas têm investigado variáveis sociais e
psicológicas que são vistas como cruciais para o sucesso das tarefas
do grupo que envolve a cooperação interpessoal.6
Os autores destacam a relevância dos aspectos sociais e psicológicos ao
investigar a criatividade, pois estes aspectos comprovadamente influenciam na
qualidade das tarefas, no engajamento e no desenvolvimento da criatividade
(MACDONALD, BYRNE E CARLTON, 2006). De forma a exemplificar, citam outro
estudo previamente realizado, onde uma criança, ao produzir uma composição com
um indivíduo considerado seu ‘melhor amigo’, obteve um resultado mais satisfatório
em termos de qualidade, do que quando trabalhou com alguém que considerava
sendo somente seu conhecido.
As conclusões do estudo MacDonald, Byrne e Carlton (2006) confirmam a
hipótese de que altos níveis de fluxo favorecem altos níveis de criatividade. As
implicações deste estudo para as áreas da educação musical e da psicologia da
música são significativas, pois demonstra o quanto uma variável psicológica como o
fluxo, pode exercer de influência sobre uma variável especificamente musical, como
a criatividade e a composição.
6
Despite a strong emphasis on group activities within current music education, little research has
investigated social and psychological variables that are viewed as crucial to successful group tasks
that involve interpersonal cooperation.
38
2.2 Teoria do Fluxo e Educação Musical
Alguns autores vêm tomando como referência a Teoria do Fluxo de
Csikszentmihalyi e relacionando-a com o campo da Educação Musical e estudos da
Psicologia da Música. No Brasil, ainda é escassa a literatura sobre o assunto.
Araújo, Torres & Ilescas (2007) abordam a temática da motivação e experiência de
fluxo com foco na aprendizagem e na prática instrumental, abordando também
algumas concepções sobre motivação. Em outro estudo, Araújo & Pickler (2008), ao
investigar os processos motivacionais que conduzem a prática de estudantes de
música universitários, sugerem diferentes enfoques dentro da Cognição e da
Educação Musical. Este estudo corroborou com resultados obtidos em pesquisas
anteriores quanto à relação existente entre a persistência no estudo e a experiência
vivenciada; e quanto à constatação de que fatores extrínsecos e intrínsecos, tais
como apoio familiar e interesse, são também determinantes para a motivação.
Em um estudo internacional, Adessi e Pachet (2007) conduziram uma
investigação sobre as relações estabelecidas entre crianças de 3 e 5 anos e um
Sistema Musical Interativo-Reflexivo, chamado Continuator. Segundo os autores, “o
Continuator é um sistema específico capaz de produzir música de maneira parecida
a um ser humano que toca em um teclado, como uma espécie de espelho sonoro”
(ADESSI & PACHET, 2007, p.62). O objetivo principal ao se utilizar o Continuator é
ensinar processos musicais, tais como a improvisação, de maneira indireta, pois se
estabelece uma real interação entre o executante e a máquina.
O processo consiste basicamente em tocar uma sequência ou frase musical e
em seguida, aguardar pela resposta (continuação) da ideia musical, feita pelo
Continuator. Essa frase é produzida pelo sistema seguindo as mesmas
características estilísticas do executante, respeitando a duração das frases
propostas inicialmente, bem como detectando automaticamente os finais de frases,
inclusive, tendo como prioridade o usuário; ou seja, se este decide tocar novamente
enquanto o Continuator ainda está tocando, o sistema pára, ´escuta´ e reinicia o
processo (ADESSI & PACHET, 2007; ADESSI, FERRARI, CARLOTTI, PACHET,
2006).
Uma pesquisa experimental foi realizada com 9 crianças de 3 a 5 anos, onde
4 atividades foram propostas e realizadas pelas crianças: 1) tocar o teclado sozinha;
39
2) tocar o teclado com o Continuator; 3) tocar o teclado com um colega; 4) tocar o
teclado com um colega e o Continuator. Foram observadas 11 variáveis baseadas
no conceito de fluxo: atenção direcionada, concentração, retorno imediato, controle
da situação, motivação intrínseca, excitação, mudança na percepção do tempo,
objetivos claros, prazer, envolvimento, e socialização com o parceiro (ADESSI &
PACHET, 2007).
Estas variáveis foram utilizadas para medir e avaliar a presença de seis
estados emotivos ligados ao fluxo, de acordo com a tabela exposta por
Csikszentmihalyi7, e que apareceram com maior frequência: Fluxo, Controle,
Relaxamento, Arousal (exaltação), Apatia e Ansiedade. Constatou-se que há uma
forte relação entre os estados emotivos considerados positivos (controle e
exaltação) e a possibilidade da ocorrência do fluxo. Observou-se também a
presença dos Indicadores de Fluxo de Custodero (2005)8.
Na análise dos dados, ficou evidente que a utilização do Continuator
“promoveu, no grupo, um estado de bem estar caracterizado por um nível elevado
de motivação intrínseca, um controle da situação e uma excitação bastante
semelhante à teoria do fluxo de Csikszentmihalyi” (ADESSI & PACHET, 2007, p.70).
Chamado de ‘máquina de fluxo’ pelos autores, devido às características do
sistema em produzir respostas (desafios) de acordo com o grau de habilidades de
cada um, e de ‘teclado que responde’ pelas próprias crianças participantes do
estudo, demonstra que o Continuator possibilita a obtenção de experiências ótimas
na educação musical.
Outra professora e pesquisadora
atuante
na
área,
Lori
Custodero
desenvolveu vários estudos no campo da Teoria do Fluxo na Educação Musical.
Seus estudos focam as experiências de fluxo que ocorrem em contexto escolar com
crianças pequenas até adolescentes. Nos últimos anos, Custodero desenvolveu uma
metodologia apropriada para a observação das ocorrências de fluxo e relacionou a
teoria ao estudo da cognição, da aprendizagem e do desenvolvimento musical
(CUSTODERO, 1999; 2002-2003; 2005; 2006).
Em um de seus primeiros estudos, Custodero (1999) teve por objetivo adaptar
a metodologia de medição e ocorrência do fluxo, desenvolvida em estudos
anteriores por Csikszentmihalyi, de forma que pudesse definir e operacionalizar
7
8
Ver o gráfico 1 na página 23.
Os Indicadores de Fluxo desenvolvidos por Custodero serão especificados adiante, neste capítulo.
40
estratégias cognitivas de crianças pequenas que ocorriam durante atividades
guiadas por adultos. Também foi objetivo do estudo desenvolver um válido e
funcional método de mensuração da cognição musical de crianças pequenas in situ,
através da observação sistemática e rigorosa de seus comportamentos no contexto
de aprendizagem musical.
A pesquisa foi realizada com uma classe de 11 estudantes iniciantes de
música, entre as idades de 4 e 5 anos. Oito encontros semanais de uma hora de
duração foram filmados para análise. Através da observação direta e análise dessas
experiências de aprendizagem das crianças, um esquema de código, os Indicadores
de Fluxo em Atividades Musicais (Flow Indicators in Musical Activities), foi
desenvolvido baseado no modelo/experimento de Csikszentmihalyi.
A pesquisadora teve de atentar para dois aspectos importantes em seu
estudo: expandir o constructo de fluxo, relacionando-o mais à cognição e processos
de mudança mental do que à motivação, e estudá-lo em contexto de crianças
pequenas, pois até então, estudos tinham sido realizados somente com
adolescentes e adultos. Ao relacionar fluxo com cognição musical, Custodero (1999,
p. 5, tradução nossa) explica que: “A relação entre experiência de fluxo e cognição
se torna clara quando se considera a natureza da cognição como mudança
intelectual.” 9
Ao estudar o fluxo no contexto de crianças pequenas um novo procedimento
para observar e analisar a aprendizagem escolar precisou ser testado. Baseada em
pesquisas realizadas anteriormente, que envolviam a gravação das crianças, seus
comportamentos e a reação a esses comportamentos, um procedimento em 3 partes
foi adotado. Este procedimento consistiu no: (1) desenvolvimento do instrumento; (2)
determinação dos instrumentos através do exame da concordância entre múltiplos
avaliadores e; (3) determinação dos instrumentos de validação através de
comparações analíticas com pesquisas anteriores sobre experiências de fluxo.
Essas pesquisas anteriores deram suporte para considerar que este estudo é válido
dentro do contexto e que os métodos utilizados são cientificamente apropriados.
Ao término do estudo, foi concluído que: (1) o fluxo é um fenômeno
observável e os Indicadores de Fluxo em Atividades Musicais são uma ferramenta
válida e confiável para avaliar o fluxo no aprendizado de crianças pequenas. (2) As
The relationship between flow experience and cognition becomes clear when considering the nature
of cognition as intellectual change.
9
41
crianças empregam estratégias cognitivas para construir seu próprio entendimento
musical; (3) em um contexto de aprendizagem musical, a qualidade da intervenção
adulta exerce um papel importante na qualidade das experiências das crianças e do
fluxo; (4) crianças pequenas usam o feedback de colegas e adultos diferentemente
em seus ambientes de educação musical (CUSTODERO, 1999).
Os Indicadores de Fluxo em Atividades Musicais desenvolvidos por ocasião
desta pesquisa vieram a ser utilizados novamente e explicados mais profundamente
nos estudos subsequentes da autora.
Um estudo longitudinal com três crianças, primeiramente na idade de 4 e 5
anos e depois com 11 e 12 anos foi realizado por Custodero (2002-2003).
As
observações de como as crianças utilizavam seus esforços para construir significado
musical nas atividades guiadas por adultos e seus engajamentos com materiais,
foram interpretadas através de várias perspectivas. Estas perspectivas incluíram a
das crianças, de seus pais e da pesquisadora-professora; também se levou em
consideração as influências do tempo e espaço.
Neste estudo, cujo objetivo principal foi investigar o papel da percepção de
desafio na aprendizagem musical das crianças, algumas perguntas foram feitas a
fim de conduzir o estudo longitudinal, a saber:
a)
Como o desafio é manifestado comportamentalmente e
verbalmente na aprendizagem musical de três crianças de 4 e 5
anos?
b)
O que relataram as mesmas crianças, na idade de 11 e 12
anos, com relação ao desafio em seu aprendizado musical?
c)
Qual é o caráter da intervenção dos pais destas crianças e
como isto pôde influenciar na percepção de desafio?
d)
O quão estável é o temperamento da criança em direção ao
desafio ao longo do tempo? (CUSTODERO, 2002-2003, p. 26 ,
tradução nossa10).
A autora afirma ainda que o conceito de desafio é ambíguo, pois é tanto
percebido como uma oportunidade para agir quanto uma ameaça ou risco. A
interpretação que o indivíduo atribui ao desafio vai depender de fatores
desenvolvimentais, ambientais e das influências sociais interligados. O desafio pode
ser um forte motivador para aprendizagem quando experienciado em atividades
10
A) How is challenge manifested behaviorally and verbally In three 4-5-year-old children´s music
learning? B) What do the same children, at age 11-12, report regarding challenge in their music
learning? C) What is the character of parent-child intervention and how might it influence children´s
perceptions of challenge? D) How stable are children´s dispositions toward challenge over time?
42
cujas quais o indivíduo possua habilidade e um ambiente social que suporte e
favoreça oportunidades de ação pessoal (CUSTODERO, 2002-2003).
Em outro estudo, Custodero (2005) foca sua observação no engajamento
musical de crianças pequenas através dos Indicadores de Experiência de Fluxo.
Neste estudo especificamente, foram realizadas observações de 4 grupos distintos
de crianças em diferentes contextos musicais, a saber:
1. Grupo de 8 bebês em idade de 7 a 23 meses;
2. 10 crianças de 2 e 3 anos (25 a 34 meses);
3. 6 crianças em idade pré-escolar de 5 e 6 anos – grupo de violino;
4. 5 crianças com idades de 6 a 8 anos – grupo de eurítmica Dalcroze.
Todos os grupos tinham regularmente um encontro semanal.
O objetivo deste estudo foi abordar como o fluxo pode ser experiencialmente
comparado e como ele pode variar dentro das competências e especificidades
devido à idade de cada grupo. A autora, embasada em teorias sobre motivação
emergente e percepção de ambientes que favorecem e levam à ação, observou
comportamentos que sugerem um engajamento em atividades que por sua vez,
promovem a continuidade do desenvolvimento de habilidades (CUSTODERO,
2005).
Ainda segundo Custodero (2005, p.194, tradução nossa) “as atividades que
geram esses comportamentos são caracterizadas por uma ausência de intervenção
adulta; quando presente é convidada ao invés de imposta ou inserida”11. St. John
(apud Custodero, 2005) estudou sob uma ótica Vygotskiana a relação entre as
experiências de fluxo de crianças em aulas de música e a percepção de adultos e
pares. Segundo este estudo, ela facilita e mantém as experiências ótimas.
Entretanto, nos estudos de Custodero, essa influência de adultos e colegas,
mostrou-se tanto positiva quanto negativa, dependendo da idade e do contexto.
Os Indicadores Comportamentais de Experiência de Fluxo (definidos e
exemplificados na tabela 1) foram novamente utilizados e mais amplamente
desenvolvidos, aperfeiçoados e discutidos. Foram então divididos em 3 categorias:
Indicadores de busca por desafios – parte da própria criança e é livre de
intervenção externa (adultos);
11
Activities that generate these behaviors are characterized by an absence of adult intervention; when
present, it is invited rather than asserted.
43
Indicadores de monitoramento de desafios – diretamente relacionado com o
material fornecido por outra pessoa no ambiente, geralmente um adulto;
Indicadores de contexto social – consciência de adultos e pares.
TABELA 1 - Indicadores Comportamentais de Experiência de Fluxo
Fonte: Elaborada pela autora, baseada em Custodero (2005)
Indicador de fluxo
Adesão automática
Auto adesão
(Self- assignment)
Autocorreção
Gesto deliberado
Antecipação
Expansão
Extensão
Percepção de adultos e pares
Definição
Atividade iniciada pela
criança propositalmente, ao
invés de um adulto.
Reconhecimento do erro e
ajustamento conforme regras
estabelecidas.
Qualidade do movimento
muito focada e controlada,
com frequência exagerada,
mas sem movimentos
estranhos.
Tentativas verbais ou físicas
de adivinhar ou mostrar “o
que vem em seguida” durante
o tempo da presente
atividade.
Tornar o material presente
mais desafiador,
transformando-o de alguma
forma.
Continuar se engajando com
o presente material após o
professor ter encerrado a
atividade.
Qualquer interação
observável que envolva
prolongado olhar fixo,
movimentos de cabeça e
movimentos físicos em
direção a outra pessoa.
Tentativas de se engajar com
outra pessoa fisicamente ou
verbalmente são
especialmente notáveis.
Indicadores de busca por
desafios
Indicadores de
monitoramento de desafios
Indicadores de contexto
social
A) Indicadores de busca por desafios:
Adesão automática/ Auto-adesão (Self-assignment)12: indicador que reflete a
natureza autotélica, ou autocompensatória da atividade desafiadora. É associado
com o senso de controle e corresponde a percepção da criança como agente de seu
próprio aprendizado. Ocorre na maioria das vezes nos momentos entre as atividades
12
Sugestão de tradução nossa.
44
coletivas e planejadas pelo professor, entre uma atividade e outra, quando a criança
por iniciativa própria inicia uma atividade ou inicia experiências musicais
significativas para ela, naquele momento.
Autocorreção: este indicador reflete duas outras condições para a ocorrência
do fluxo, recebimento de feedback imediato e percepção de objetivos claros.
Quando a criança entende a estrutura da música, e quando o feedback é imediato e
multissensorial, envolvendo aspectos visuais e táteis, a própria criança pode ajustar
suas ações de forma a acomodar novos conhecimentos. Autocorreção é também
uma forma de autorregulação.
Gestos deliberados: manifestação de energia direcionada que reflete
intensidade concentrada que usualmente relaciona-se com fluxo. Os gestos
musicais nas crianças são geralmente funcionais: tocando piano imaginário,
realizando com as mãos o caminho sonoro, tocando instrumentos, coreografias;
movimentando-se a criança pode ser agente de sua própria aprendizagem.
B) Indicadores de monitoramento de desafios:
Antecipação: Quando a criança está tão absorta na atividade que consegue,
mesmo sem ter consciência disto, antecipar gestos, palavras, sons que estão por vir
na explicação do professor, ou mesmo no discurso sonoro.
Expansão: Quando a criança vai além, transforma o material envolvido,
segundo suas próprias ideias, de acordo com suas habilidades, compreensão
musical e possibilidades de escolha no momento. Por envolver escolhas e impulso
criativo, é percebida pela criança como sendo seu o controle da ação/atividade.
Extensão: como uma plateia que pede por um bis, a criança tem o desejo de
continuar a atividade, expressa isso verbalmente, ou através da continuação da
atividade, mesmo quando é dada por terminada pelo professor. Significa que a
criança acha interessante e prazerosa a atividade, e que ela ainda é desafiadora. É
comum a perda do senso de tempo, surpreendendo-se quando percebe que se
passaram minutos ou horas naquela atividade, o que é um grande indicador de
fluxo.
45
C) Indicadores de contexto social:
Considerado como qualquer interação observável que envolva prolongado
olhar fixo, movimentos de cabeça e movimentos físicos em direção à outra pessoa.
Tentativas de se engajar com outra pessoa fisicamente ou verbalmente são
especialmente notáveis.
Ao final, a pergunta ‘A criança estava em fluxo?’ é respondida com o auxílio
das observações dos indicadores e da descrição de fluxo que se segue:
A criança está focada e absorta no presente evento. Mantém olhar
atento sobre a pessoa ou objeto. [...] O efeito geralmente é positivo
ou neutro, variando algumas vezes de nível devido às diferenças de
personalidade entre as pessoas. Nunca é negativo. Ao final do
evento, geralmente há um efeito alto observável devido à consciência
do sucesso. Pode existir um desejo de compartilhar esta consciência
com alguém próximo e significativo. Há um nível de esquecimento
das próprias condições físicas. Movimento físico em direção a
pessoas ou materiais é comum (CUSTODERO, 1999, p. 11, tradução
nossa).13
A pesquisa examinou a relevância dos indicadores de fluxo para a
aprendizagem musical das crianças em diversas faixas etárias. Chegou-se a
conclusão que quanto aos indicadores de busca por desafio (auto-adesão e
autocorreção) não houve grandes diferenças entre os grupos etários; entretanto
quanto ao gesto deliberado, comportamentos distintos foram observados e por isso,
tratados de forma separada. Com relação aos indicadores de monitoramento de
desafio e indicadores de contexto social, igualmente foram analisados em conjunto.
Os principais resultados da pesquisa demonstram que, apesar da natureza
exploratória do estudo não permitir generalizações, alguns comportamentos e
assuntos que se destacaram podem indicar novos caminhos para futuras pesquisas,
tais como: (a) a trajetória observada da auto-adesão; (b) a importância da estrutura
13
The child is focused and absorbed in the present event. Gaze is usually attentive on the facilitating
person or object. However, when physical manipulation is not a task-defining element, a less-focused
gaze may reflect an internal “working out” – a personalizing or “taking ownership” of the less tangible
event. Affect is often positive and sometimes neutral, within varying levels of intensity usually reflective
of individual personality differences. It is never negative. At the completion of the event there is usually
a heightened observable affect due to awareness of success. There may be a desire to share that
awareness with a nearby significant other. There is a level of obliviousness to one´s physical
condition. Physical movement toward the facilitating person or materials is common.
46
musical para crianças pequenas; (c) o papel do gesto; (d) o caráter das
transformações musicais, e (e) a consciência dos adultos e pares (CUSTODERO,
2005).
Após a realização desta série de estudos e de pesquisas subsequentes,
Custodero fornece insights a respeito das experiências de fluxo de crianças, e dicas
úteis aos educadores musicais que desejam trabalhar visando uma educação
musical que favoreça essas experiências ótimas, contribuindo assim com uma
aprendizagem musical de maior qualidade.
Custodero (2006) reconhece o papel fundamental do professor como agente
facilitador de todo o processo de ensino-aprendizagem e sugere três princípios para
a condução das atividades musicais:
- Reconhecer e estimular a autonomia dos alunos, pois cada um tem uma
maneira pessoal e relevante de se relacionar com a música e transformar materiais
musicais transmitidos pelo professor, de acordo com seu grau de habilidade.
- Determinar metas e desafios apropriados. Através de contextos coletivos de
aprendizagem musical, adultos e colegas podem contribuir para o estabelecimento e
a manutenção de desafios apropriados a todos.
A natureza coletiva da sala de aula tem uma relevância particular
para o aprendizado musical: a autenticidade de cada desafio é
definida parcialmente pelo reconhecimento das outras pessoas. Na
maioria dos estudos de fluxo, o papel exercido por essa participação
das outras pessoas tem sido ambíguo: a experiência ótima é tanto
facilitada quanto inibida pelo fato de que os outros estão a par dela
(CUSTODERO, 2006, p. 390).
- Envolver as crianças em atividades que valorizam a subcultura infantil.
Explorar a natureza intrinsecamente engajadora da atividade musical.
A qualidade das tarefas educacionais que os professores preparam
para seus alunos é significativa no mais alto grau; atividades
prazerosas motivam os alunos, levando-os a valorizar o conteúdo
educacional e trabalhar no sentido de tornar mais aguda sua
compreensão (CUSTODERO, 2006, p. 393).
A autora ainda fornece dicas sobre experiências musicais em contextos de
sala de aula, revelando as principais qualidades das atividades produtoras de fluxo,
47
como por exemplo: tocar canções conhecidas, explorar o movimento corporal e
fornecer oportunidades para as contribuições dos alunos. Isto pode ser realizado
através de atividades com duração mais prolongada, não priorizando a quantidade
de conteúdos e a superficialidade, mas sim a qualidade das experiências. Crianças
precisam de tempo para atingir um grau mais aprofundado de compreensão musical
e vivenciar o retorno sensorial causado pela atividade, concluiu a autora.
Os conteúdos e a transmissão dos mesmos devem ser compatíveis com o
desenvolvimento infantil. Escolher atividades que enfatizem o ponto forte de cada
etapa do desenvolvimento infantil facilita o engajamento e consequentemente, o
fluxo.
Custodero (2006, p. 382) afirma que
[...] nós ouvimos os sons, vemos as representações destes sons nas
formas de movimento e notação, e respondemos cinestesicamente
àquilo que ouvimos e vemos à medida que tocamos instrumentos,
cantamos e nos movemos.
Portanto, professores devem incorporar sempre que possível em suas aulas,
o envolvimento físico. Atividades facilitadoras de fluxo por excelência são aquelas
que de alguma forma proporcionam um retorno cinestésico, seja através de
movimento corporal, ou através da execução instrumental. A negação do movimento
cinestésico pode trazer frustração e ansiedade.
2.3 Implicações da Teoria do Fluxo na Educação Musical
Uma educação voltada à formação integral do aluno, procurando não
somente o desenvolvimento de habilidades específicas, mas o estímulo e
desenvolvimento das potencialidades de cada indivíduo, implica em uma pedagogia
baseada nas experiências ótimas da vida. A teoria do Fluxo encaixa-se dentro desta
proposta global, como uma ferramenta que ajuda a compreender o envolvimento dos
indivíduos com a música, e até mesmo a justificar o relacionamento das pessoas
com este fazer artístico específico.
48
Os estudos aqui citados e outros tantos desenvolvidos comprovam que o
fazer musical é uma atividade com grande potencial de envolvimento, logo, de
grandes probabilidades de experienciar o fluxo.
A Teoria do Fluxo e todos os estudos aqui apresentados enfatizam o papel
social das atividades geradoras de fluxo. Dada a ótica da educação e da psicologia
sócio-cognitiva, as interações que ocorrem na sala de aula, em específico as
situações que ocorrem nas aulas de música, são momentos onde o indivíduo pode
se desenvolver cognitivamente e socialmente.
Ao procurar o fluxo, ambos os alunos e professores operam em
estado de investigação. Aprendizes questionam sobre como uma
atividade dada pode se tornar mais complexa; professores, em
resposta a uma pensativa observação, avaliam o ambiente
pedagógico e ajustam sua entrega e feedback para serem
responsivos às demonstrações de engajamento dos alunos com a
atividade musical. (CUSTODERO, 2005, p. 205, tradução nossa).14
Ao professor, cabe a prazerosa, mas árdua tarefa, de se engajar por completo
neste processo.
14
In seeking flow, both learners and teachers operate in a state of inquiry. Learners ask questions
about how a given activity can be made more complex; teachers, in response to thoughtful
observation, assess the pedagogical milieu and adjust their delivery and feedback to be responsive to
demonstrations of the learner´s engagement with the musical task.
49
3 METODOLOGIA
Uma vez que o objetivo geral desta pesquisa foi investigar as relações entre
os tipos de atividades musicais e os níveis de envolvimento dos alunos, ou seja,
uma relação de causa e efeito, a pesquisa quase-experimental forneceu a
metodologia necessária para a realização do estudo.
Também foram utilizadas concomitantemente com a pesquisa quaseexperimental, ferramentas da abordagem qualitativa. Assim este estudo seguiu uma
metodologia “híbrida” com o uso do delineamento de pesquisa quase-experimental
conforme o modelo aplicado por Bourscheidt (2008), e, ao mesmo tempo, com a
aplicação de uma abordagem qualitativa/descritiva para complementar a análise e
interpretação dos dados do campo. Para a avaliação dos dados do campo foi
incluída também a participação de três juízes externos.
A
investigação
quase-experimental
é
semelhante
ao
delineamento
experimental15, entretanto falta o pleno controle da aplicação de estímulos
experimentais, por isso mesmo, é necessário que se tenha total consciência das
variáveis específicas que o delineamento controla ou deixa de controlar (CAMPBELL
& STANLEY, 1979). Nesta pesquisa, as variáveis independentes constituem em:
1. Faixa etária: 12 crianças de 8 e 9 anos de idade.
2. Grupo: crianças do 3º ano do Ensino Fundamental de uma escola
particular que não possuem aulas de educação musical na matriz
curricular.
3. Proposta de atividades: unidade temática de ensino contemplando
variadas atividades musicais envolvendo a apreciação musical, a
execução e a composição.
4. Número de aulas: 5 aulas.
15
Segundo Gonçalves e Nunes (2005), a investigação experimental tem por principal característica o
controle e a manipulação deliberada das condições que determinam os acontecimentos nos quais o
investigador tem interesse. Envolve realizar uma mudança no valor de uma variável (variável
independente) e observar o efeito dessa mudança em outra variável (variável dependente). É uma
relação de causa e efeito.
50
As variáveis dependentes são constituídas pelo resultado das 5 aulas
observáveis, e utilizadas como categorias para análise. Referem-se, portanto, à
relação existente ou não, entre os alunos e as atividades desenvolvidas. São estas:
desafios X habilidades, objetivos claros, concentração, controle da situação, prazer e
envolvimento.16
A pesquisa quase-experimental é geralmente realizada quando não é possível
a seleção aleatória dos sujeitos. Geralmente em escolas, os pesquisadores se
deparam com condições que não permitem uma pesquisa experimental pura, pois as
turmas não podem ser desfeitas e todas as classes devem receber igual tratamento.
Freqüentemente, em experiências de aprendizagem em ambientes
de sala de aula, a variável independente é um estímulo de qualquer
tipo, e a variável dependente é a resposta. Muitos dos estudos
empíricos em ambientes educacionais são quase-experimentais e
não experimentais. A diferença mais importante entre uma quaseexperiência e uma experiência é que, na primeira, os grupos são
selecionados de um modo que não é aleatório. (GONÇALVES E
NUNES, 2004-2005, p.1)
Uma forte característica da pesquisa quase-experimental é a possibilidade de
não haver grupo de controle, no entanto é “possível observar o que ocorre, quando
ocorre, a quem ocorre, tornando-se possível, de alguma forma, a análise de relações
causa-efeito” (GIL, 2007, p. 69).
Assim, a hipótese de que atividades que envolvem aspectos visuais, auditivos
e cinestésicos tendem a motivar os alunos em sala de aula, enquanto grupo
envolvido com a experiência musical, possibilitando a experiência do fluxo; é
passível de ser investigada através de uma pesquisa quase-experimental. Este tipo
de pesquisa mostrou-se a melhor opção dentro desta proposta de estudo que visava
principalmente, a observação in loco, nas condições naturais de desenvolvimento de
relações de ensino e aprendizagem, chegando o mais perto possível da realidade
escolar.
16
Estas categorias serão detalhadas no capítulo 4 – Análise e discussão dos dados
51
3.1 Grupo participante
Esta pesquisa foi realizada com 12 crianças de 8 e 9 anos do 3º ano do
Ensino Fundamental de uma escola de educação básica. As aulas ocorreram uma
vez por semana, sendo que cada aula teve duração de 50 minutos. A escolha da
faixa etária justificou-se pela familiaridade da professora com crianças deste
segmento (Ensino Fundamental 1) e pela disponibilidade da escola em dispor desta
turma para esta pesquisa.
3.2 Condições para a realização do estudo
Tanto a instituição de ensino quanto os educandos e seus pais, foram
informados por escrito sobre o estudo e suas permissões foram concedidas através
de documentos devidamente assinados. Estes documentos foram elaborados
seguindo um padrão interno do PPG/Música da UFPR, de acordo com outras
pesquisas realizadas anteriormente a esta e submetidos a uma comissão de ética
interna do programa, são eles: autorização para realização de pesquisa de campo,
explicação do estudo e termo de consentimento, e encontram-se nos apêndices
deste trabalho (APÊNDICE A, B e C).
De acordo com Loizos (2010, p.150) “O pesquisador social individual poderá
ser capaz de trabalhar sem se ligar formalmente a um comitê de ética, dentro da
precaução normal de que uma delicada informação pesquisada permanecerá restrita
e confidencial...” Portanto, a fim de evitar maiores implicações éticas para este
estudo, ficou acordado nestes documentos, que as imagens coletadas seriam
somente utilizadas para esta pesquisa, não sendo consentida a divulgação das
imagens para outros fins.
52
3.3 Coleta de dados
Durante a pesquisa, foi utilizada como instrumento para coleta de dados, a
observação participante e sistemática das atividades através de gravações em vídeo
para posterior observação, bem como a elaboração de relatórios (diário das aulas)
seguindo um protocolo de análise.
Para a filmagem das aulas foram utilizadas três a quatro câmeras digitais
estrategicamente dispostas na sala de aula a fim de cobrir o maior número de
ângulos possíveis numa mesma cena. Seguindo as instruções de coleta de dados
expostas no estudo de Custodero (1999), alguns critérios foram observados quando
da observação participante e da filmagem tais como: a) ser o menos intrusivo
possível; b) selecionar uma criança ou um grupo de crianças que claramente
demonstrasse envolvimento corporal através de movimentos; c) permanecer com a
imagem focada nesta criança ou grupo de crianças até que o evento musical
terminasse; d) escolher outra criança ou grupo de criança para o próximo evento.17
As filmagens ocorreram sempre com o auxílio de um professor de música,
que era responsável pelo manuseio e disposição das câmeras durante as aulas. A
presença de um professor qualificado mostrou-se de fundamental importância para
que a coleta de dados ocorresse de acordo como esperado pela pesquisadora, isto
é, abrangendo o grupo inteiro durante toda a aula, bem como focando imagens
individuais ou em pequenos grupos, de acordo com o envolvimento das crianças.
Loizos (2010), reflete sobre a qualidade e as limitações das gravações em
vídeo como recurso de coleta de dados, alegando que sempre se pode questionar
uma pesquisa, quanto à sua capacidade comprobatória, considerando que a
imagem pode:
Primeiro, é provável que seja de baixa fidelidade visual; segundo, a
qualidade do som pode variar entre ser claramente audível e apenas
compreensível; em terceiro lugar, os ângulos da câmera podem não
estar sempre em uma posição ótima para mostrar os detalhes mais
significativos da sequência de uma ação; e finalmente, devido à
redução geral de detalhes em tal gravação, ela pode estar sujeita a
uma falsa interpretação concreta sobre a compreensão do ânimo e
da intenção, além de todos os outros problemas de interpretação a
17
Por ‘evento musical’ entende-se a execução de uma música em sua totalidade, bem como um
trecho específico que esteja sendo trabalhado.
53
que o comportamento humano tridimensional (em oposição à
gravação de baixa fidelidade) possa ter levado. (LOIZOS, 2010, p.
151)
A fim de minimizar o impacto negativo deste tipo de coleta de dados, a
quantidade de câmeras utilizadas bem como a presença de um professor de música
só para manuseá-las enquanto a professora/pesquisadora ocupava-se da aplicação
das atividades, foi um cuidado essencial para que a coleta de dados acontecesse da
forma mais natural e fidedigna possível.
3.4 Roteiro de atividades para realização da pesquisa
As atividades selecionadas para esta pesquisa visavam desenvolver
habilidades musicais específicas nos educandos (percepção, ritmo, canto e
expressão) e auxiliar na construção de conceitos (ostinato, pulsação) dentro de um
contexto maior de educação musical, pois é necessário enfatizar que estas
atividades são um recorte do que estaria sendo desenvolvido com a turma, caso as
aulas tivessem uma continuidade. Todas as músicas selecionadas e atividades
propostas foram retiradas de livros didáticos e materiais impressos e editados,
reconhecidos no meio pedagógico musical. As atividades realizadas foram
compatíveis com a faixa etária e procurou-se que sua aplicação seguisse o tempo
de aprendizagem necessário para crianças não familiarizadas com as características
das aulas de música.
A opção por aplicar atividades musicais que contemplassem a apreciação,
execução e composição justifica-se pela formação acadêmica e filosofia de ensino
da professora/pesquisadora, que baseada em Swanwick (2003), enfatiza estas 3
formas de interação com a música em suas aulas. Segundo Hentschke e Del Ben
(2003, p.180) “As atividades de composição, execução e apreciação são aquelas
que propiciam um envolvimento direto com a música, possibilitando a construção do
conhecimento musical pela ação do próprio indivíduo.”
A unidade temática selecionada ‘Música no castelo do Rei’, caracterizava-se
como uma sequencia didática, organizada pela pesquisadora, que agregava
diversas atividades de educação musical retiradas de livros didáticos, e que
54
possuíam o tema ‘rei’ e ‘castelo’ em comum.
Por ter sido previamente aplicada e
aprimorada diversas vezes pela professora/pesquisadora em outros contextos
educacionais, e também por abranger atividades de apreciação, execução e
composição, com possibilidades de reflexão sobre o tema, é que se justificou a
escolha desta determinada unidade temática.
Como forma de avaliar a aplicabilidade das atividades selecionadas para a
presente pesquisa, optou-se por realizar um estudo piloto que as colocassem em
prática.
3.5 Estudo piloto
A fim de testar a validade das variáveis dependentes bem como as
possibilidades de aplicação desta pesquisa, um estudo piloto foi realizado pela
pesquisadora no mês de novembro de 2010. Durante 3 encontros com duração de
50 minutos cada, 23 alunos de uma turma de 3º ano de um colégio particular de
Curitiba,
participaram
de
aulas
de
educação
musical
ministradas
pela
pesquisadora/professora. O colégio participante do estudo piloto, apesar de
pertencer a uma rede de ensino tradicional no país, não possui nesta sede, a
disciplina de Educação Musical para alunos do Ensino Fundamental na matriz
curricular, oferecendo apenas, o coral como atividade extracurricular. Portanto,
tratavam-se de alunos não familiarizados com aulas de música na escola.
Durante a primeira aula do estudo piloto, a pesquisadora foi auxiliada pela
professora regente, que além de operar as câmeras de acordo com as orientações
recebidas, controlou o comportamento dos alunos para que colaborassem com as
atividades. A sala utilizada foi a sala do Ballet e Judô, pouco iluminada, com
espelhos e tatames, não oferecendo um espaço adequado, o que prejudicou o
enquadramento para a filmagem. A aula iniciou então com a leitura da história “O rei
tem orelhas de burro” que atraiu muito a atenção dos alunos. Em seguida cantou-se
a canção “Taquaras” e alguns comportamentos atentos em direção à performance
da professora puderam ser notados, bem como o fato de que nem todos
demonstraram estar dispostos a realização da atividade.
55
Na segunda aula, a pesquisadora contou com um professor de música
encarregado especialmente das filmagens e o enfoque dado foi na exploração e
execução instrumental. Num primeiro momento, os instrumentos foram apresentados
e os alunos tiveram oportunidade de experimentar e conhecer seus timbres uma vez
que era novidade para quase todos os presentes, o contato com instrumentos de
percussão. A canção trabalhada foi “A orquestra real”, onde a execução por naipes
foi ensaiada, culminando na totalidade da música. Por fim, a atividade de apreciação
musical participativa com a “Dança Alemã” foi realizada com as crianças em pares,
mas a agitação que tomou conta da turma não permitiu explorar a atividade ao
máximo, além do pouco tempo disponível. Ao finalizar a aula, muitas crianças
manifestaram que gostaria que continuasse, com interjeições como “Ah....” e falas
como “Queria mais!”.
A terceira aula iniciou-se com a apreciação musical participativa da 5ª
Sinfonia de Beethoven e a história O Jardim do castelo. Essa história é encaixada no
ritmo e melodia do 1º movimento da 5ª sinfonia de Beethoven e, frase a frase, a
professora foi ensinando às crianças, utilizando também gestos e expressão
corporal. Esta atividade tomou muito tempo da aula e a professora não conseguiu
terminar a primeira sessão da música. Dado o limite de tempo disponível, optou-se
então por revisar a prática instrumental com a canção A orquestra real, desta vez,
explorando a improvisação rítmica com os alunos e finalizando assim, o tema:
Música no castelo do rei.
O quadro a seguir esquematiza o planejamento das aulas do estudo piloto:
TABELA 2 - Unidade temática de pesquisa para estudo piloto
Fonte: Elaborada pela autora
AULA
1ª AULA
29/10/2010
10h - 10h50
UNIDADE TEMÁTICA DE PESQUISA
Planejamento de atividades musicais – 3º ano
CONTEÚDOS
ATIVIDADES/PROCEDIMENTOS
História As orelhas do rei destacando a escrita
Intensidade sonora
analógica que demonstra a intensidade sonora.
Escrita analógica
Música e movimento Contextualização da música na época dos reis
e dos bailes da corte. Apreciação musical
Compasso ternário
participativa com a Dança alemã, realizando
sua coreografia com percussão corporal,
atentando para o compasso ternário da obra.
Apreciação musical com a canção Taquaras do
grupo Palavra Cantada, observando o caráter
da canção, relacionando com a história do início
da aula. Acompanhar com instrumentos como
56
2ª AULA
05/11/2010
Ritmo: pulsação
Ostinatos rítmicos
Forma musical
10h – 10h50
3ª AULA
12/11/2010
10h – 10h50
Apreciação musical
Ritmo
Arranjo coletivo
pandeiros e chocalhos o andamento da música,
marcando a pulsação e variando a dinâmica.
Prática instrumental com a canção A orquestra
real: execução da peça utilizando instrumentos
de percussão variados para compreensão dos
padrões rítmicos que aparecem na música.
Retomada da Dança alemã iniciada na aula
anterior, realizando movimentos coreográficos
em duplas.
Apreciação musical participativa com a 5ª
Sinfonia de Beethoven e a história O Jardim
do castelo. Relacionando com tema de reis e
castelos, apresentar um pequeno trecho e
ensaiar a execução vocal da obra. Os
educandos poderão dar opiniões acerca da
movimentação e da utilização de instrumentos a
fim de realizar um arranjo coletivo do trecho
musical indicado.
Realizar novamente a prática instrumental com
a canção A orquestra real, finalizando o tema
Música no Castelo do Rei.
Após a realização do estudo piloto e da breve análise dos dados obtidos
percebeu-se que ao realizar uma nova coleta de dados, a quantidade de atividades
aplicadas deveria ser reduzida e o número de aulas observadas, ampliado. Isto
porque ao fornecer um tempo maior de vivência na mesma atividade, proporcionouse uma observação mais rica, detalhada e profunda do comportamento dos
educandos, bem como maiores possibilidades de aprendizagem real e significativa.
O estudo piloto demonstrou também, que exercer o papel de professora e
pesquisadora é perfeitamente possível, desde que as possibilidades e limites de
exercer ambos os papéis durante a pesquisa estejam bem definidos.
Por fim, decidiu-se realizar a coleta de dados novamente na mesma escola
onde o estudo piloto foi realizado, pois a instituição se mostrou aberta à proposta,
auxiliando na logística da aplicação, e valorizando o momento das aulas ministradas.
Portanto, o contexto educacional permaneceu o mesmo, mudando somente os
sujeitos da pesquisa, pois as turmas não eram as mesmas (Estudo piloto - 3º ano
2010 / Pesquisa final – 3º ano 2011). As variáveis independentes sofreram algumas
alterações do estudo piloto para a pesquisa final, apesar de ser outra turma a faixa
etária permaneceu a mesma, a quantidade de alunos alterou-se de 23 para 12
crianças, e apenas a atividade com a 5ª Sinfonia de Beethoven foi retirada do
planejamento. As categorias de análise que constituem as variáveis dependentes
57
não foram abordadas no estudo piloto, pois o intuito não era aprofundar a análise do
comportamento motivado das crianças, mas sim, verificar se a sequência didática
desenvolvida pela pesquisadora forneceria os dados necessários para o estudo da
motivação e das possíveis experiências de fluxo.
3.6 Planejamento das atividades
Após a aplicação no estudo piloto e de uma cuidadosa revisão, o planejamento
das aulas aplicadas na coleta de dados seguiu o seguinte esquema:
TABELA 3 - Unidade temática de pesquisa
Fonte: Elaborada pela autora
UNIDADE TEMÁTICA DE PESQUISA: MÚSICA NO CASTELO DO REI
Planejamento de atividades musicais – 3º ano
AULA
1ª AULA
CONTEÚDOS
Intensidade
sonora
Ritmo: pulsação
ATIVIDADES/PROCEDIMENTOS
Apresentação de alunos e professora: atividade rítmica com
o nome das crianças. Dada a pulsação, cada aluno diz seu
nome e os outros repetem.
Contar a história As orelhas do rei, destacando a
intensidade sonora. Relacionar com a canção Taquaras do
grupo Palavra Cantada, e observar o caráter da canção.
Num primeiro momento, a audição é voltada para a fruição.
Em seguida, acompanhar o andamento da música com
instrumentos como mini paus de chuva e/ou chocalhos,
marcando a pulsação e variando a dinâmica.
QUANTIDADE
DE ALUNOS
PARTICIPANTES:
10 alunos
TEMPO DE AULA:
50 minutos
MATERIAIS UTILIZADOS:
Aparelho de som; CD; paus de chuva.
AULA
2ª AULA
CONTEÚDOS
Ritmo: pulsação
Ostinatos rítmicos
Forma musical
ATIVIDADES/PROCEDIMENTOS
Revisão das atividades da aula anterior: A história As
orelhas do Rei é novamente contada seguida da atividade
com a canção Taquaras.
Prática instrumental com a canção A orquestra real:
ensaiar a execução da peça utilizando instrumentos de
percussão variados para compreender os padrões rítmicos
que aparecem na música.
QUANTIDADE
DE ALUNOS
PARTICIPANTES:
12 alunos
TEMPO DE AULA:
50 minutos
MATERIAIS UTILIZADOS:
Aparelho de som; CD; teclado; paus de chuva; pandeiros,
tambores, cocos, agogôs, clavas e mini maracás.
AULA
3ª AULA
CONTEÚDOS
Ritmo: pulsação
ATIVIDADES/PROCEDIMENTOS
Revisão das atividades da aula anterior: cantar novamente A
19/09/2011
26/09/2011
58
Ostinatos rítmicos
Forma musical
orquestra real, enfatizando a aprendizagem da letra e
melodia.
Prática instrumental: trabalhar trechos da canção e
exercícios rítmicos. Realizar a totalidade da música, com
instrumentos e teclado, atentando para a forma ABA.
QUANTIDADE
DE ALUNOS
PARTICIPANTES:
12 alunos
TEMPO DE AULA:
50 minutos
MATERIAIS UTILIZADOS:
Aparelho de som; CD; teclado; pandeiros, tambores, cocos,
agogôs, clavas e mini maracás.
AULA
4ª AULA
CONTEÚDOS
Composição
Improvisação
rítmica
ATIVIDADES/PROCEDIMENTOS
Iniciar a aula retomando a canção A orquestra real, em
seguida, expor aos alunos os objetivos da atividade de
composição coletiva que se segue. Dividos em 3 grupos, os
alunos deverão estruturar um pequeno trecho musical que
será inserido entre as partes A e B (um interlúdio). Para isso,
devem utilizar os instrumentos escolhidos por eles. Se
possível, reunir os grupos ao final da aula, onde cada grupo
deverá apresentar para o restante da turma o que compôs.
QUANTIDADE
DE ALUNOS
PARTICIPANTES:
11 alunos
TEMPO DE AULA:
50 minutos
MATERIAIS UTILIZADOS:
Teclado; pandeiros, tambores, cocos, agogôs, clavas e mini
maracás.
AULA
5ª AULA
CONTEÚDOS
Música e
movimento
Compasso
ternário
ATIVIDADES/PROCEDIMENTOS
Iniciar a aula retomando a história As orelhas do rei a fim
de contextualizar a atividade que se segue.
Realizar um exercício corporal preparatório a fim de
concentrar os alunos e aquecer o corpo, em seguida,
conduzir uma apreciação musical participativa com a Dança
alemã. Conversar com os alunos sobre os bailes reais
(como eram, a importância que tinham) e ensinar a
movimentação coreográfica para esta obra. Explorar a
percussão corporal, variar a formação (roda e duplas) e
atentar para o compasso ternário da valsa.
Ouvir novamente a canção Taquaras, finalizando o tema
Música no Castelo do Rei.
TEMPO DE AULA:
50 minutos
MATERIAIS UTILIZADOS:
Aparelho de som; CD; paus de chuva.
11/10/2011
17/10/2011
24/10/2011
QUANTIDADE
DE
ALUNOS
PARTICIPANTES:
10 alunos
OBJETIVOS: Levar os educandos a vivenciar a música através da apreciação musical, da execução
instrumental, dos movimentos e da composição. Estimular a apreciação musical ativa e desenvolver
o sentido rítmico, atentando para a pulsação e ostinatos, observando a forma musical.
MATERIAIS: aparelho de som, Cd´s, teclado, instrumentos de percussão variados.
Procurou-se adaptar os conteúdos propostos e a forma de transmissão dos
mesmos ao perfil da turma pesquisada. Custodero (2006) afirma que enfatizar o
ponto
forte
de
cada
etapa
do
desenvolvimento
facilita
o
engajamento,
consequentemente o fluxo. Ao trabalhar com o tema ‘Música no castelo do Rei’ e
59
utilizar-se do mito do Rei Midas, procurou-se fornecer um fio condutor no andamento
das aulas, trabalhando com a curiosidade natural das crianças. O caráter mitológico
e assustador que permeava canções e atividades é naturalmente atraente para
crianças nesta faixa etária.
A sequência didática foi iniciada com a história do Mito do Rei Midas, que
deixa o final suspenso para os alunos imaginarem o fechamento da mesma. Em
seguida, aproveitando-se da cena do bambuzal da história, relacionou-se com a
canção Taquaras (Palavra Cantada) onde os alunos vivenciaram a música através
da apreciação e da execução. Ao abordar a vida nos palácios reais de antigamente,
comentou-se com a turma sobre as formas de ouvir música naquela época e na
atualidade, fazendo-os refletir sobre como e quando ouvem música. Ao falar sobre
os bailes reais, trabalhou-se a canção ‘Orquestra real’ onde o foco estava na
execução instrumental, primeiramente seguindo as orientações de execução da
professora, e depois realizando improvisos e pequenas composições. Continuando
com o mesmo tema, passou-se para a apreciação musical participativa da música
‘Dança Alemã’, onde os alunos foram instruídos a realizarem movimentos de dança,
vivenciando a música e sua forma através do corpo. Por fim a história foi retomada,
realizando-se uma revisão de todas as atividades desenvolvidas até então.
Reiterando que essa sequência foi desenvolvida durante 5 aulas.
3.7 Relatório das aulas
À medida que a coleta de dados foi sendo realizada, um diário de campo (que
se encontra no apêndice desta dissertação), contento relatórios das aulas, era
confeccionado logo após cada sessão, a fim de conservar as opiniões e sentimentos
sofridos enquanto professora, no dia da aula. Estes relatórios, escritos em primeira
pessoa, foram feitos com o objetivo de avaliar as aulas, os alunos e o próprio
desempenho da professora, além de detalhar processos de ensino e aprendizagem
que por ventura não deram certo ou que precisavam de uma revisão. Por meio dos
relatórios é possível reconhecer também o contexto emocional e afetivo dos
educandos, bem como situações adversas que não diziam respeito ao tema desta
pesquisa, mas que de certa forma, influenciaram a mesma. Também faz parte deste
60
diário, as descrições feitas a posteriori das cenas gravadas em vídeo, que
igualmente se encontram no apêndice desta dissertação.
3.8 Processo de análise dos dados
Por não haver grupo de controle, característica das pesquisas quaseexperimentais, a análise do material coletado não pôde ser comparativa, entre dois
grupos. Para averiguar a existência de relações causais entre as atividades
propostas e as reações comportamentais dos alunos, a análise precisou sofrer um
processo de translação baseado no referencial teórico e em escolhas que
procuraram não perder de vista o objeto de estudo desta pesquisa.
Todo passo, no processo de análise de materiais audiovisuais,
envolve transladar. E cada translado implica em decisões e escolhas.
Existirão sempre alternativas viáveis às escolhas concretas feitas, e
o que é deixado fora é tão importante quanto o que está presente. A
escolha, dentro de um campo múltiplo, é especialmente importante
quando se analisa um meio complexo onde a translação irá,
normalmente, tomar a forma de simplificação. (ROSE, 2010, p.343344)
Mesmo não contando com softwares próprios para a análise de imagens,
nesta pesquisa optou-se por utilizar, ainda que manualmente, a transcrição dos
dados através da observação detalhada das imagens coletadas (que resultou no
diário de campo e nos relatórios). Neste processo, as escolhas foram sendo feitas,
selecionando o material a ser analisado mais profundamente, deixando de lado o
que não se aplicava ao estudo em questão, ainda que fossem dados importantes.
“Processos de translado não dão origem a simples cópias, mas levam,
interativamente, à produção de um novo resultado.” (ROSE, 2010, p.344) Por isso, o
processo de análise pode tornar-se difícil e moroso, principalmente se não houver
recursos tecnológicos disponíveis, além de que este processo exige uma demanda
de tempo considerável para a produção deste novo resultado.
Rose (2010) explica que a questão metodológica mais importante ao analisar
materiais audiovisuais, não é a questão da fidelidade em si, mas compreender e
61
aceitar que inevitavelmente, informações serão perdidas e/ou acrescentadas, como
acontece nos processos de tradução de idiomas. Bem como, que este processo
normalmente implica em simplificações, resultantes em conjuntos de extratos
ilustrativos e tabelas de frequências.
Em vez de procurar uma perfeição impossível, necessitamos ser
muito explícitos sobre as técnicas que nós empregamos para
selecionar, transcrever e analisar os dados. Se essas técnicas forem
tornadas explícitas, então o leitor possui uma oportunidade de melhor
julgar a análise empreendida. Devido à natureza da translação,
existirá sempre espaço para oposição e conflito. Um método explícito
fornece um espaço aberto, intelectual e prático, onde as análises são
debatidas. (ROSE, 2010, p.345)
Ainda, Rose (2010) sugere alguns passos para a análise de materiais
audiovisuais, enfatizando que cada objeto de estudo possui suas próprias
características e que a escolha do referencial teórico influencia fortemente nesta
análise. Seguindo algumas sugestões da autora e realizando as devidas
adaptações, nesta pesquisa a análise dos dados seguiu os seguintes passos:
1. A escolha do referencial teórico aplicado ao objeto empírico. No caso, a
teoria do fluxo de Csikszentmihalyi (2008, 1999) e Adessi e Pachet
(2007).
2. A delimitação do evento musical como meio de identificar o objeto
empírico.
3. A transcrição das imagens coletadas.
4. A aplicação do referencial de codificação aos dados, que neste caso, são
as categorias de análise desenvolvidas por Csikszentmihalyi (2008, 1999)
e aplicadas por Adessi e Pachet (2007) e adaptadas por Custodero
(2005).
5. A construção de tabelas de frequências para as unidades de análise
audiovisuais.
6. Seleção de citações ilustrativas que complementam a análise numérica.
Neste caso fotos feitas das filmagens para ilustrar momentos chave na
discussão.
Estes passos ajudam o leitor a compreender o caminho metodológico
escolhido para a análise dos dados coletados. Para reforçar esta análise, o parecer
62
de 3 juízes externos e independentes (pessoas ligadas à educação musical, com
experiência empírica e teórica) foram requisitados para contribuir com a discussão
dos dados e validar as conclusões da presente pesquisa. Foram distribuídas tabelas
com as categorias de análise Desafios X Habilidades, Objetivos Claros,
Concentração, Controle da Situação, Prazer e Envolvimento e, em seções
individuais, cada juiz externo observou as imagens e avaliou o comportamento geral
dos alunos identificando, em cada atividade, os níveis de frequência e intensidade
como baixo, médio ou alto (ver APÊNDICE D).
63
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
Baseada nos relatórios e nas descrições das imagens coletadas, a análise e
discussão dos dados aqui apresentados tem por finalidade, a observação das
reações/respostas dos participantes em relação ao tipo da atividade musical
proposta. Para tanto, optou-se pela utilização de algumas categorias desenvolvidas
com base em Csikszentmihalyi (1999) e também aplicadas por Adessi e Pachet
(2007) em seus estudos. Para esta pesquisa, portanto, cinco categorias são
utilizadas na análise: desafios X habilidades, objetivos claros, concentração, controle
da situação e prazer/envolvimento.
A primeira categoria, desafio X habilidades consiste na relação entre o nível
do desafio proposto na atividade em relação às habilidades do indivíduo. A segunda
categoria refere-se à percepção clara por parte do aluno, dos objetivos inerentes às
atividades, ou seja, ‘saber o que deve ser feito’, demonstrado através de um
comportamento exploratório, associado ao interesse pelo feedback (retorno). A
terceira categoria, concentração, refere-se ao alto nível de atenção e abstração do
entorno, demonstrado através de um olhar direcionado, focado, onde o corpo todo
está voltado para a ação da atividade. A categoria controle da situação, quarta
categoria observada, refere-se à compreensão das regras inerentes à atividade,
associadas ao senso de competência nas próprias ações e na certeza naquilo que
se está fazendo. A criança participa da atividade porque assim o deseja. Por fim, a
categoria prazer e envolvimento, traduz-se na condição de bem estar devido a uma
sensação de competência, eficácia das próprias ações e autonomia. É caracterizado
por expressões de alegria, serenidade e divertimento bem como um alto nível de
participação.
As aulas realizadas foram filmadas com 3 ou 4 câmeras digitais dispostas em
locais específicos na sala de aula a fim de observar sob diferentes perspectivas a
mesma cena. Para cada categoria de análise foram aplicados os níveis “baixo”,
“médio” e “alto”, que se referem à frequência com que estas variáveis foram
observadas, no que concerne ao comportamento geral da turma. Portanto, com base
64
nas reações dos alunos como um todo, é mensurada a presença destes indicadores
nas variadas atividades.
A seguir, segue a descrição de cada aula, seguida da discussão dos dados.
4.1 Apresentação da aula 1
Na primeira aula, participaram 10 crianças da turma do 3º ano. Considerando
o fato de que era totalmente novidade participar de uma aula de música, no início a
turma estava agitada e a professora teve certa dificuldade em reunir o grupo, realizar
as devidas apresentações e dar início propriamente às atividades planejadas.
Os alunos foram organizados em semicírculo, voltados para a professora,
com uma das câmeras atrás, filmando toda essa disposição e outras duas câmeras
estrategicamente posicionadas, filmando pequenos grupos (IMAGEM 1).
IMAGEM 1. Disposição dos alunos
A atividade de apreciação 1 consistia na audição da canção ‘Taquaras’,
conforme consta no planejamento. Os alunos participaram da audição inicialmente,
65
apenas ouvindo a canção, enquanto a professora interpretava, dublando e
gesticulando conforme a letra da música.
A categoria Desafios X Habilidades, proposta como a primeira categoria de
análise é particularmente significativa na teoria do fluxo. De acordo com
Csikszentmihalyi apud Araújo (2008) quando há equilíbrio entre os desafios
propostos e as habilidades requeridas gerando um profundo comprometimento com
a atividade realizada, existe uma alta probabilidade de o estado de fluxo ocorrer.
De acordo com as observações realizadas com o auxílio das filmagens, pôdese perceber que apesar da atividade trazer o desafio da escuta musical por meio de
um repertório de música infantil acessível para a turma (canção do grupo Palavra
Cantada), nem todos os alunos demonstraram a habilidade de escuta atenta para a
realização da audição. Algumas reações desproporcionais, como gritos e risos
exagerados de algumas crianças, bem como a euforia de todo o grupo,
demonstraram que pelo menos para este primeiro momento, o desafio da audição
dessa canção foi médio, em relação ao o nível de habilidade de alguns alunos. Esta
constatação se deve ao fato que o desafio, neste primeiro momento, consistia
simplesmente na atividade de audição livre, sem a exigência, por exemplo, de
prestar atenção em alguma particularidade da letra da canção ou mesmo em algum
esquema rítmico específico. Outro motivo que pode justificar o comportamento
eufórico exagerado é o fato de ser a primeira vez da realização de tal atividade, o
que pôde resultar numa certa ansiedade do grupo. Entretanto os objetivos eram
claros a todos, como o comportamento atento em direção à professora, demonstra.
A segunda categoria analisada foi a concentração. Para Csikszentmihalyi
apud Araújo (2008) a concentração em nível alto, a ponto de tornar a percepção de
tempo alterada (horas parecem minutos) e gerar sensação de bem estar, é um forte
indicativo de que o fluxo pode ocorrer. Csikszentmihalyi (1999, p. 38) afirma que
“devido à exigência total de energia psíquica, uma pessoa no fluxo está
completamente concentrada”, entretanto, o autor reforça que nos estados de
Exaltação e Controle que estão muito próximos ao estado de Fluxo, também há
concentração. Portanto, é o nível desta concentração, juntamente com outros
fatores, que podem determinar a existência do fluxo.
Havia concentração na maioria das crianças durante esta atividade, no
entanto, fatores como ansiedade e a novidade em si, interferiram nesta
concentração que geraria um profundo envolvimento, bem estar e perda da noção
66
do tempo, fazendo com que ela permanecesse em nível médio. A concentração
cedeu lugar à euforia, podendo as crianças se encontrar no estado de Exaltação,
entretanto, foi observado que os alunos possuíam o “controle da situação” – terceira
categoria considerada nesta análise.
Addessi, Ferrari e Carugati (2012) descrevem o controle da situação como
um elemento onde a criança monitora constantemente suas próprias ações,
participando da atividade com autonomia, explorando possibilidades, dominando e
modificando regras. Para Deci e Ryan (1985) é necessário que o indivíduo perceba
como sendo seu o controle da situação para que sua necessidade de Autonomia
também seja respeitada. O controle da situação foi especialmente constatado por
meio das posturas relaxadas, do modo confortável e sem tensão com que os alunos
receberam a atividade. Todos estavam voltados para o grupo demonstrando prazer
e envolvimento durante a audição da canção (IMAGEM 2).
IMAGEM 2. Prazer e envolvimento (euforia)
A atividade de execução que se seguiu foi ainda com a canção ‘Taquaras’
com o diferencial que desta vez, os alunos tocaram paus-de-chuva. Após uma breve
explanação da professora com relação à forma correta de execução, a música foi
iniciada e todos assumiram uma postura atenta e concentrada diante da música.
67
Neste momento, a euforia observada na primeira audição da canção transformou-se
em atenção direcionada à professora, que acompanhando com instrumentos,
conduziu a turma numa outra vivência da mesma canção.
Aqui, o encantamento característico de crianças que não têm oportunidade de
tocar instrumentos regularmente pôde ser notado, diante da alegria dos alunos. A
maioria seguiu a execução juntamente com a professora, entretanto, alguns alunos
tocaram aleatoriamente, o que impossibilitou perceber nuances de execução que
poderiam ter sido feitas. Mesmo assim, pareciam gostar da atividade e pediram para
repetir.
Ao fornecer um elemento a mais, no caso os paus-de-chuva, a complexidade
da atividade foi aumentada, logo o desafio tornou-se maior; mesmo assim, as
habilidades permaneceram compatíveis com os desafios. Os objetivos para a
realização da tarefa foram claros (seguir a execução juntamente com a professora) e
houve envolvimento de todos na atividade. Custodero (2006, p.384) reforça que
“para que haja o engajamento total numa atividade, os objetivos precisam ser
acessíveis; a sequência dos eventos que guiam o processo precisa ser autoevidente.” Compreende-se aqui que a forma como a atividade foi exposta à turma
também foi determinante para que os alunos percebessem claramente os objetivos,
pois a sequencia de atividades tinham metas claras a serem cumpridas. Araújo
(2010, p.117) esclarece que na Teoria do Fluxo o estabelecimento de metas é
importante, pois além de ser um conteúdo integrante das experiências de fluxo, “as
metas são apresentadas como elementos que focalizam a energia psíquica do
indivíduo e criam a ordem na experiência realizada”.
O sentimento de controle estava presente, pois alguns alunos pediram para
repetir, outros demonstraram a presença do indicador de Custodero (2005)
‘antecipação’ ao anunciar o que vem em seguida, bem como ‘expansão’ ao
continuar cantando a canção mesmo após seu término. Segundo Custodero (2005)
estes dois indicadores observados são expressões de comportamento por
monitoramento de desafios e são estratégias que as crianças utilizam para
manipular o grau de dificuldade da atividade musical, no caso, deixando-a mais
interessante e desafiadora. A criança se sente, portanto, no controle da situação se
sentir que há possibilidade de expressão e de manipulação do material musical.
Alguns comportamentos individuais e particulares de cada aluno reforçaram
os altos scores em todas as 5 categorias. A concentração foi alta na totalidade dos
68
alunos, durante quase todo o tempo. Algumas vezes ela foi demonstrada através do
olhar focado na professora, em outros momentos, foi observada através de um olhar
mais interiorizado por parte do aluno, um ‘olhar para dentro’ (IMAGEM 3).
IMAGEM 3. Olhar para dentro, olhar direcionado
Nesta primeira aula, que foi também um primeiro contato com os alunos,
observou-se uma considerável disposição das crianças em realizar as atividades
propostas. Durante quase todo o tempo da aula, eles demonstraram atitudes de
curiosidade, aceitação e interesse, ainda que não soubessem se portar diante de
atividades musicais, uma vez que tudo era novidade para eles. Observa-se com o
auxílio da tabela abaixo (TABELA 4), que as 5 categorias obtiveram bons níveis de
frequência e intensidade (médio e alto), considerando o grupo como um todo.
Contudo, a categoria prazer e envolvimento foi a que se destacou mais claramente
nas imagens coletadas, devido as constantes demonstrações de alegria por parte
das crianças.
69
Desafios
Atividade de
X
Objetivos
habilidades
claros
Médio
Alto
Alto
Alto
Concentração
Controle
da
Prazer
e
situação
envolvimento
Médio
Alto
Alto
Alto
Alto
Alto
apreciação 1
Atividade de
execução
TABELA 4 - Níveis de envolvimento da turma
Fonte: dados da autora
4.2 Apresentação da aula 2
Nesta segunda aula, participaram todos os 12 alunos do 3º ano. O clima no
início de aula era de agitação e ansiedade pelo que estava por vir e o grupo foi
disposto novamente em semicírculo, com a câmera principal posicionada atrás da
professora abrangendo a turma toda, enquanto outras 3 câmeras focalizavam outros
ângulos.
Devido à presença de 2 alunas que não estavam no primeiro encontro,
iniciou-se retomando a história “As orelhas do rei” a fim de contextualizar a aula para
as meninas. A sequência com a canção “Taquaras” foi então retomada, repetindo
uma audição simples (atividade de apreciação 1), seguida de outra com
acompanhamento de paus de chuva (execução).
Durante a primeira audição (atividade de apreciação 1), os alunos repetiram
os padrões de comportamento realizados na aula anterior, isto é, reações eufóricas
e troca de risos e olhares com os colegas, indicando grande alegria. Frases como
“Vai começar!”, “Silêncio, é agora!”, podem ser ouvidas antes da música começar e
durante a pausa da canção, reforçando que os alunos antecipavam o que estava por
vir, mantendo o sentimento de ansiedade e atenção diante da música. Ainda que a
professora tenha mudado sua postura, permanecendo mais contida e séria na
audição da canção, a relação entre a habilidade de escuta atenta exigida dos alunos
X o desafio da audição, permaneceu no nível médio, assim como a concentração da
maioria do grupo, uma vez que as interferências e movimentações foram constantes.
Custodero (2006) relata que a criança que está imersa na atividade, é
transportada pela música para outras realidades. As crianças, ao se concentrarem
70
na canção “Taquaras” vivenciaram a história contada na letra da canção, fazendo
parte dela, interagindo através de gestos e ao tocar os instrumentos imaginários,
‘entrando’ na história. Csikszentmihalyi (2008) indica que, no que concerne à
apreciação musical, é possível experienciar uma grande satisfação tanto ao ouvir
música gravada quanto ao ouvir música ao vivo, o que determina a qualidade da
experiência é a atenção dedicada ao ato em si. Explica que as pessoas que
demonstram maior potencial para obter satisfação ao ouvir música, são aquelas que
desenvolvem algum tipo de estratégia para tal, por exemplo, reservando um
momento específico para se ouvir música, criando um ritual como sentar-se numa
determinada poltrona, ou diminuindo a intensidade da luz; enfim, utilizam de
qualquer estratégia que auxilie a focar a atenção.
Essas estratégias puderam ser observadas também em sala de aula, quando
ao ouvir o início da canção ‘Taquaras’ o aluno L. levantou e foi apagar a luz, para
criar um ‘clima’ condizente com o caráter da canção. Também, a forma com que a
professora apresentou a canção, gesticulando e dublando com interpretação teatral,
foi uma estratégia utilizada por ela para que a turma focasse na canção, ouvindo
com atenção e compreendendo a história transmitida na letra.
Csikszentmihalyi (2008) ainda determina 3 estágios referentes à apreciação
musical: sensório, analógico e analítico. O primeiro estágio que se vivencia ao ouvir
música é geralmente o sensório, pois neste estágio, respondemos aos estímulos
sonoros através de reações físicas intimamente ligadas ao sistema nervoso. Bater
palmas e pés, se movimentar, dançar, imitar a execução de instrumentos e reger
são exemplos recorrentes destas respostas físicas ao estímulo sonoro. Essas
reações estão presentes na maioria dos alunos em quase todas as vezes que a
apreciação da canção ‘Taquaras’ foi realizada.
O nível seguinte é o modo analógico de escuta e segundo Csikszentmihalyi
(2008), à medida que mudamos de nível, a escuta é mais desafiadora e complexa.
Portanto, neste nível, ao evocar sentimentos e imagens mentais baseados nos
padrões sonoros musicais, habilidades de escuta estão sendo mais requisitadas e
desenvolvidas. A música popular, mais especificamente a canção, induz o ouvinte,
ao informar através das letras o estado de espírito, humor e história que a música
supostamente representa. No caso da canção ‘Taquaras’
18
A letra da canção se encontra no Anexo desta dissertação.
18
a letra fornece um rico
71
elemento na indução deste estado emocional, pois evoca sentimentos de ‘medo’ e
‘tensão’ ao mesmo tempo em que diverte e prende a atenção das crianças.
Por fim, o nível mais complexo de apreciação musical é a escuta analítica,
pois neste modo a atenção foca na estrutura musical, nos elementos da música,
exigindo habilidades de reconhecimento de ordenação, harmonia e entendimento
acerca das escolhas musicais realizadas, os caminhos seguidos pelo compositor.
Também se inclui aqui a habilidade de avaliar criticamente a performance musical,
comparando e diferenciando peças, interpretações e estilos. Este terceiro nível de
apreciação musical não foi requerido dos alunos nesta atividade.
Após a audição da canção, numa segunda vez ao realizar a execução da
música “Taquaras” com instrumentos (atividade de execução 1), o grupo portou-se
de forma mais madura, diminuindo o nível de euforia e centrando-se mais na
proposta, mas mantendo aquele ‘encantamento’ ao manipular instrumentos. Por não
ser mais, uma atividade totalmente nova para o grupo, ou seja, os alunos já haviam
acompanhado a canção na aula anterior, verificou-se que a relação de desafios X
habilidades permaneceu num nível alto, pois, com exceção das duas alunas que
faltaram à primeira aula, os demais já tinham relativo conhecimento da canção e isso
lhes rendia um maior comprometimento com a execução precisa da música. A
relação desafios X habilidades, portanto, permaneceu equilibrada.
Considerou-se alta a percepção de objetivos claros, pois os alunos tinham
conhecimento do que se esperava deles durante a execução e justamente por este
motivo, acredita-se que percebiam como sendo seu, o controle da situação. Pode-se
notar também que a concentração, o prazer e o envolvimento durante a atividade
atingiram um alto escore (IMAGEM 4). Embora não seja o objetivo mensurar o
desempenho musical, é importante relatar que, em relação a esta mesma atividade
realizada na aula anterior, desta vez o resultado musical foi melhor, pois o ritmo
estava mais homogêneo e o grupo estava mais atento aos comandos.
72
IMAGEM 4. Encantamento e atenção
Em seguida, uma caixa contendo variados instrumentos de percussão foi
apresentada ao grupo. Após uma breve demonstração da professora, todos
puderam experimentar, tocando a sua maneira. Depois deste momento de
exploração, a professora cantou a canção “Orquestra Real” a capella, com
acompanhamento de estalos de dedos, para que eles conhecessem a música que
iriam trabalhar. A execução instrumental se deu então pelo ensaio de naipes de
instrumentos (atividade de execução 2).
A relação desafios x habilidades foi considerada alta, pois ao agregar novos
elementos à aula (instrumentos de percussão) um novo desafio foi proposto ao
grupo: manusear, explorar e tocar de acordo com as regras; ao que a turma
respondeu satisfatoriamente, explorando suas habilidades. McPherson e Davidson
(2009, p. 340, tradução nossa) ao escrever sobre o envolvimento com instrumentos,
relatam que “o grau de conhecimento e experiências direcionam os objetivos de
performance e nível de realização19.” Portanto, por se encontrarem em um nível
iniciante, para este primeiro contato com os instrumentos, a execução realizada em
conjunto foi considerada satisfatória, onde os objetivos foram percebidos claramente
19
[...] the degree of knowledge and experience shapes the perfomer´s goals and level of achievement
[…]
73
pelos alunos: seguir a execução de acordo com o que a professora solicitava. Por
este motivo também, acredita-se que a percepção de controle da situação tenha
permanecido em nível médio, uma vez que era a professora que dizia o que, como e
quando fazer.
Toda essa sequência didática levou mais tempo do que o planejado, pois
durante toda a aula, foi necessária a intervenção da professora quanto ao
comportamento de alguns alunos, retomando comandos, explicando regras da aula,
normalizando com sinais, respondendo perguntas, retomando a concentração
quando o grupo dispersava. Também foi necessária a aplicação de atividades
preparatórias de exploração de instrumentos e de autocontrole, uma vez que o
trabalho instrumental era novidade para eles.
IMAGEM 5. Apresentação dos instrumentos
De fato, a concentração e o envolvimento da turma cresceram bastante na
segunda parte da aula, quando a caixa de instrumentos foi apresentada diante de
todos. O olhar, a expressão facial dos alunos quando viam, ouviam e tocavam
instrumentos demonstraram o fascínio que este tipo de atividade traz para as
crianças (IMAGEM 5 e IMAGEM 6). Um encantamento sincero e muito prazer
74
envolviam o momento, ainda que musicalmente, tudo estivesse no nível de
exploração de materiais20.
IMAGEM 6. Execução instrumental
Nesta segunda aula, percebeu-se uma disposição maior dos alunos no
referente à colaboração e disciplina, com as próprias crianças chamando a atenção
daqueles que por vezes se excediam. O clima era de curiosidade, alegria, prazer e
agitação, mas ainda assim, o objetivo de realizar as atividades foi cumprido. A cada
conversa com a turma sobre comportamento, regras da aula, orientações sobre a
vivência musical, bem como as atividades em si, foi possível verificar que os alunos
começaram a internalizar a logística e as regras da aula de música. A seguir segue
um resumo (TABELA 5) das 5 categorias avaliadas em relação às atividades
propostas.
20
Materiais é, segundo a espiral de desenvolvimento musical de Swanwick, o primeiro estágio de
dimensão de crítica musical, fortemente caracterizado pela exploração de fontes sonoras.
(HENTSCHKE, 1997).
75
Desafios
Atividade de
X
Objetivos
habilidades
claros
Médio
Alto
Alto
Alto
Concentração
Controle
da
Prazer
e
situação
envolvimento
Médio
Alto
Alto
Alto
Alto
Alto
Alto
Alto
Alto
Médio
Alto
apreciação 1
Atividade de
execução 1
Atividade de
execução 2
TABELA 5 - Níveis de envolvimento da turma
Fonte: dados da autora
4.3 Apresentação da aula 3
Nesta terceira aula, participaram 11 alunos do 3º ano. A câmera principal
estava posicionada em ângulo lateral abrangendo toda a turma, enquanto outras 2
câmeras focalizavam outros ângulos. Logo no início da aula a professora tomou a
decisão de desta vez, organizar a disposição do grupo em semicírculo,
determinando os lugares de cada criança. Explicou à turma que precisou tomar esta
atitude a fim de melhor visualizá-los nas imagens, entretanto além deste motivo,
outra razão para tal interferência foram questões comportamentais. Esta
determinação da professora influenciou negativamente dois alunos, que ficaram
chateados, afetando sua participação e envolvimento durante boa parte da aula.
Feitos os devidos acertos, a professora relembrou a canção Orquestra Real,
desta vez cantando e tocando ao teclado, a fim de ambientá-los na atividade. Logo
no início da apreciação, um aluno comentou em voz alta: “É a nossa música
professora!” demonstrando estar envolvido com a aula, expressando um sentimento
de pertencimento e identificação. Outro aluno, ao ouvir o glissando realizado pela
professora ao teclado diz: “Eu sei fazer isso!”, reforçando seu senso de
competência, enquanto algumas meninas trocaram olhares durante a audição,
sorrindo e imitando tocar os instrumentos com gestos imaginários. Essas expressões
faciais e verbais dos alunos, observadas nas imagens, levam à reflexão quanto à
formação de uma personalidade autotélica. Csikszentmihalyi (1999, p.114) afirma
que “uma atividade autotélica seria realizada por si mesma, tendo a experiência
como meta principal.” Logo a formação de uma personalidade autotélica acontece à
76
medida que o envolvimento nas atividades é genuíno e entusiasmado. Araújo (2008,
p.44) afirma que “na experiência autotélica (...) alguns fatores podem ser
considerados constituintes desta experiência, como a concentração, satisfação,
felicidade e auto-estima”. Esses fatores são verificados em diversos momentos
através da expressão de frases ditas pelos alunos como as acima transcritas.
A professora retornou então para o semicírculo, sentando-se juntamente com
os alunos e deu início a um processo de ensino da letra e melodia da canção
(atividade de execução 1 – canto coletivo), cantando frase por frase e pedindo pela
repetição das crianças. Percebeu-se o esforço de alguns alunos para cantar afinado,
ainda que faltasse prática, eles percebiam a colocação da voz necessária. Para
treinar a execução rítmica, o mesmo processo de repetição de frases foi realizado
com palmas. Alguns alunos não batiam palmas, ou batiam muito levemente, o que
demonstra que não estavam envolvidos na atividade, ou que ela não era neste
momento, a preferência destas crianças. Os alunos Y. e L. que ficaram chateados
com as trocas de lugares, continuaram com expressões faciais que demonstravam
estar contrariados e bateram palmas com pouca energia.
Todos cantaram o retorno da parte A da canção e ao final do trecho, quando a
professora realizou um corte (fermata) o aluno J. de forma espontânea, continuou
com a frase final da canção e cantou afinadamente e desenvolto “Nós vamos dar
um show!” Ao que a maioria riu, a professora elogiou e J. demonstrou ficar
envergonhado, mas feliz e orgulhoso. Ficou então decidido, que J. cantaria o solo no
final da música. Essa situação reforçou a percepção de estar no controle da
situação, bem como o sentimento de competência deste aluno em particular.
Enquanto isso, Y. e L. continuaram demonstrar estar aborrecidos, inclusive não
compartilhando desta alegria do colega e do grupo (IMAGEM 7).
77
IMAGEM 7. Uns alegres, outros aborrecidos
Durante este primeiro momento da aula, onde o foco residiu numa espécie de
ensaio da canção, considerou-se que a relação entre os desafios e as habilidades
permaneceu num nível médio. Como a canção estava em fase de construção, o
desafio não era alto, pois consistia em imitação de frases simples, tampouco se
exigiu habilidades acentuadas das crianças. O gráfico de Csikszentmihalyi (1999) –
vide página 33 – ilustra que quando o desafio é baixo e as habilidades também,
podem ocorrer apatia e tédio, o que pôde ser verificado nas imagens, pelas
expressões faciais e posturas corporais de alguns garotos. Entretanto a maioria dos
alunos demonstrou estar em situação física e emocional relaxada, caracterizada por
um baixo nível de desafio e altas habilidades. Uma descrição detalhada referente à
execução de cada aluno foi realizada, corroborando que para a maior parte do
grupo, a execução correta do ritmo da canção não foi um problema, até mesmo, esta
execução rítmica melhorou à medida que as repetições ocorriam.
A questão das necessidades de autonomia e vínculo ficaram bem
exemplificadas ao relatar o comportamento dos alunos Y. e L. que não se sentindo
no controle da situação, ficaram visivelmente aborrecidos e não participaram com
entusiasmo das atividades. O comportamento de outro aluno, Lg. que procurava o
olhar dos colegas constantemente, procurando por interação e aprovação também
78
se encaixa dentro desta necessidade de vínculo. São comportamentos que embora
não interfiram no envolvimento da turma como um todo, destacam-se por diferenciar
dos demais, exigindo uma maior atenção da professora durante a aula. Custodero
(2006) explica que no contexto de sala de aula, o significado dos colegas é
importante na medida em que: se os desafios são percebidos como grande demais,
tornam-se referências a imitar, servindo como modelos adequados; por sua vez, se
os desafios são percebidos como pequenos demais, a imitação dos colegas fornece
novas ideias e parâmetros em como tornar a atividade mais desafiadora. A autora
reforça ainda que em contexto de jogos e brincadeiras musicais, quando os alunos
escolhem livremente com quem querem interagir, o fluxo está diretamente
relacionado a esta liberdade de escolha e formação de vínculo, isto é, o papel do
colega é fundamental neste processo.
Outro quesito que obteve um score médio foi prazer e envolvimento, pois se
percebe que o clima da aula, apesar de haver concentração na atividade, não é de
grande euforia, alegria ou prazer. Talvez por ser percebido como um ensaio, um
exercício, as expressões faciais eram em sua maioria sérias e concentradas, porém
pouco alegres. Esta afirmação sobre um nível de prazer e envolvimento médio foi
considerado tomando como referência outros momentos e comportamentos
expressados durante esta mesma aula. Foi considerado que as categorias: objetivos
claros, concentração e controle da situação, obtiveram scores altos devido ao
comportamento geral da turma, que demonstrava saber o que se esperava deles,
bem como o que e como fazer.
O segundo momento importante da aula, encontra-se na atividade de
execução que se seguiu (atividade de execução 2), pois ao utilizar instrumentos
diversos, a dinâmica da aula tomou outro rumo. Primeiramente, a professora distribui
os instrumentos citados na canção (pandeiro, tambor, coco, agogô, clava, maracá)
seguindo a ordem em que eles são mencionados na mesma, ou seja, os alunos não
escolheram quais instrumentos tocariam; eles reclamaram um pouco, mas
entenderam a lógica da distribuição. Começaram a relembrar o que foi trabalhado na
aula anterior (forma correta de execução, sequência rítmica) e por fim executaram
toda a parte B da canção. Durante esses momentos de construção da música, a
turma como um todo, colaborou e trabalhou com atenção.
Toda esta sequência de ensaio da canção com instrumentos durou
aproximadamente 15 minutos, durante este tempo, observou-se que a relação entre
79
o desafio proposto e o nível de habilidade atingiu um nível alto, pois as crianças
estavam sendo constantemente instigadas a participar ativamente do processo de
construção da canção, e suas habilidades estavam sendo exigidas e exploradas
pelas orientações da professora. Com isso, a percepção de objetivos claros também
pode ser considerada alta, uma vez que o feedback era fornecido constantemente
pela professora, ao orientá-los quanto à forma correta de execução e o que
precisava ser melhorado. Csikszentmihalyi (2008) explica que o feedback que se
busca é aquele que informa ao indivíduo que ele obteve sucesso em seu objetivo.
Quanto a este feedback que a música proporciona, Custodero (2006, p.384) afirma
que “a consciência dos objetivos musicais (...) é uma questão de exposição contínua
às estruturas inerentes em práticas específicas de fazer música...” e que se
interpreta este retorno de acordo com a habilidade em compreender as estruturas da
música.
A concentração da turma encontrava-se em nível alto, com a colaboração e
envolvimento de todos na atividade, demonstrando também, o sentimento de prazer
através de sorrisos e comentários como: “É legal professora!”. Adessi e Pachet
(2007) chamaram de ‘efeito Aha’ a alegria ligada à surpresa demonstradas nas
feições das crianças ao se depararem com algo novo. Em recente estudo, Adessi,
Ferrari e Carugati (2012), também relataram comentários das crianças que
expressavam sua surpresa e alegria diante das atividades propostas, bem como
sorrisos e risadas que igualmente caracterizavam este estado de prazer e
envolvimento.
Entretanto, embora o prazer e envolvimento, bem como a concentração
estivessem altos, a categoria controle da situação foi percebida em nível médio, uma
vez que é claro nas imagens que a condução da música estava nas mãos da
professora. É ela quem imprimia um ritmo acelerado, quem estava comandando
passo a passo a execução da canção, mas ainda assim, alguns alunos encontravam
espaço para improvisar outros ritmos durante a canção ou auxiliar na regência,
como o caso da aluna Lz. que auxiliou o grupo todo, ‘cortando’ o som com a mão, ao
término de cada frase.
Ao final desta etapa percebeu-se uma queda no nível de envolvimento, prazer
e concentração geral da turma. Os alunos encontravam-se visivelmente cansados,
erros começaram a acontecer com frequência, a postura corporal se tornou mais
80
relaxada, com alguns alunos deitando-se no chão e exprimindo em voz alta: “Estou
cansado professora!”.
Neste 3º momento da aula (atividade de execução 3), a professora tentou dar
outro impulso à mesma atividade, trocando crianças de lugar e trocando de
instrumentos. Insatisfações ocorreram, tanto por conta dos instrumentos que
receberam quanto pelo lugar que se sentaram. A aluna Lz. tentou, insistentemente,
trocar de lugar com os colegas e o aluno Y. ficou novamente aborrecido com a troca
de lugar. Nota-se que devido ao fato de trocar de instrumentos, os alunos voltaram à
fase de exploração dos mesmos, e o clima da aula voltou a ser de agitação. A
professora realizou então um breve exercício rítmico com todos e tocando ao
teclado, executou toda a parte B da canção com instrumentos.
Para esta atividade de execução 3 observou-se que as categorias
concentração, controle da situação e prazer e envolvimento, obtiveram nível médio,
pois na leitura do comportamento da turma, fica claro que os alunos cansaram da
atividade. Embora existisse participação ativa, envolvimento, prazer, colaboração,
entende-se que não estavam em nível ótimo e a hipótese mais provável que
justifique esta queda no aproveitamento é a de que a atividade extrapolou o tempo
de concentração e envolvimento dos alunos.
A professora percebeu esta queda de aproveitamento e tentou chamar a
atenção do grupo através de brincadeiras, bem como tocando ao teclado a música
inteira, em sua totalidade. Quando todos terminaram, um aluno pergunta: “Agora é
hora de descansar?”. Então, a aula foi encerrada.
Custodero (2006) reforça em suas considerações que é de suma importância
que a atividade tenha uma duração prolongada, para que não se trabalhe conteúdos
em quantidade e superficialidade, mas sim com qualidade e aprofundamento. Vale
ressaltar que, no entanto, esta duração prolongada pode se referir não exatamente a
uma mesma atividade numa única aula, mas sim, que ela seja retomada várias
vezes, a fim de que os alunos tenham tempo de amadurecer o processo e a sua
percepção.
Observando a tabela abaixo (TABELA 6), que resume a pontuação das
atividades em relação às categorias de análise, percebe-se que nesta terceira aula,
o momento da segunda execução foi o ápice, onde quase todas as categorias
estavam com alta pontuação e que, o momento final da aula (atividade de execução
3) teve uma queda nas categorias concentração e prazer e envolvimento. A única
81
categoria que se considerou com elevada pontuação durante todas as atividades foi
objetivos claros.
Desafios
Atividade de
X
Objetivos
habilidades
claros
Médio
Alto
Alto
Alto
Concentração
Controle
da
Prazer
e
situação
envolvimento
Alto
Alto
Médio
Alto
Alto
Médio
Alto
Alto
Médio
Médio
Médio
execução 1
(canto
coletivo)
Atividade de
execução 2
Atividade de
execução 3
TABELA 6 - Níveis de envolvimento da turma
Fonte: dados da autora
4.4 Apresentação da aula 4
Esta aula foi realizada em local diferente de até então, pois o auditório que
vinha sendo utilizado estava ocupado para evento do colégio. A sala de aula de uma
escola montessoriana21 possui certas particularidades e já havia sido usada pela
pesquisadora durante a aplicação do projeto piloto, então, ao organizar os alunos na
sala, foi pedido que todos se sentassem na linha desenhada no chão em
semicírculo. Participaram desta aula, 11 alunos do 3º ano.
Ao iniciar a aula, normalizando a turma com estalos de dedos, a fim de
concentrá-los, iniciou-se a canção Orquestra Real. Logo nota-se que alguns alunos
estavam mais envolvidos, cantando junto, outros estavam com a postura corporal
21
Metodologia que possui como diferencial a preocupação com a formação integral do indivíduo, não
somente a aquisição de conteúdos, mas priorizando a vivência e o desenvolvimento de valores. A
sala de aula é preparada para que a criança experimente sua autonomia, aja livre e responsável
sobre seu trabalho (estudo). Há uma linha circular desenhada no chão na sala, onde as crianças
permanecem quando não estão escrevendo. A criança escolhe como e quando realizar seus estudos
(dentro dos princípios estabelecidos para cada faixa etária), assim, pode exercitar sua liberdade já
com a responsabilidade sobre seu aprendizado. O ritmo de cada criança é respeitado, e assim, desde
cedo, compreende que o respeito e a responsabilidade são premissas básicas para uma atitude
libertária. O educador que orienta uma sala de aula montessoriana deve imbuir-se do espírito
presente nesta filosofia a fim de servir como um referencial às crianças, mantendo o ambiente e
orientando a interação do educando sobre o mesmo, desafiando-o à evolução.
82
descontraída, não cantavam. O aluno L. demonstrou logo no início da aula que neste
dia estava agitado, gritando durante a fermata da canção. A professora conduziu
uma breve conversa a respeito do comportamento e explicou qual a proposta de
atividade do dia, que era a composição.
Os instrumentos foram distribuídos de forma aleatória, e durante este breve
período houve muito barulho na sala, com gritos de alguns meninos e agitação de
toda a turma. Entretanto, mesmo com todo o barulho do entorno, algumas meninas
estavam absortas em um ensaio particular, onde Lz. ajudou as colegas, ensinandoas a tocar o ritmo corretamente. Essa interação entre as meninas é um forte
indicador de envolvimento, pois anteciparam a atividade, se auto corrigiram e
iniciaram a atividade por vontade própria, também chamado de auto adesão, como
Custodero (2005) demonstra em seus “Indicadores de busca por desafios” e
“Indicadores de monitoramento de desafios” (IMAGEM 8). Segundo a autora, esses
comportamentos podem ser observados principalmente nos intervalos entre uma
atividade e outra, ou em momentos de preparação como este.
IMAGEM 8. Auto adesão - Ensinando as colegas
Após a professora retomar a atenção, iniciou-se um exercício de eco rítmico,
seguido de outro exercício de improvisação com pergunta e resposta, e mais um
83
terceiro exercício de improvisação livre (Atividade de improvisação – exercícios
rítmicos). Durante esses exercícios, que duraram aproximadamente 7 minutos,
pode-se constatar que apesar de ser a primeira vez que o realizam, alguns
resultados musicais são satisfatórios, outros nem tanto, mas a atenção requerida de
todos, causou certa ordem na aula, que fez com que as atividades fluíssem. Pode-se
afirmar que em relação ao período inteiro da aula, este foi o momento onde foram
mais exigidos e também, onde puderam desenvolver suas habilidades de forma
mais sistemática.
Através da filmagem concluiu-se que as cinco categorias utilizadas para
análise obtiveram scores elevados durante a maior parte do tempo e com a maioria
dos alunos. A relação entre desafios X habilidades foi percebida com um elevado
grau de desafio, devido à característica da atividade de improvisação através da
forma pergunta e resposta, onde se exigiu de cada aluno a habilidade de improvisar.
Obviamente, nem todos os alunos compartilhavam dos mesmos níveis de
habilidade, algumas crianças tiveram maior dificuldade em compreender a frase
musical, com começo e fim, e se ‘atravessavam’ interrompendo o término da
mesma; outros alunos ficaram limitados em suas improvisações devido à timidez e
insegurança, naturais para indivíduos que realizavam este tipo de atividade pela
primeira vez, entretanto, todos executaram a atividade de forma satisfatória.
A percepção de objetivos claros foi considerada em nível alto, pois todos
pareceram compreender a estrutura dos exercícios (minha vez, sua vez). Custodero
(2006, p. 384) afirma que “o fluxo prevalece sempre que se joga um jogo em que a
experiência é enquadrada em regras bem definidas.” Este exercício pode ser
chamado também de jogo, pois em sua estrutura de pergunta e resposta, dois ou
mais participantes são necessários para que se estabeleça um diálogo musical. Uma
analogia com um jogo de bola onde um toca para o outro pode ser realizada, onde a
intensidade do toque é importante; se mandar a bola com muito força o outro poderá
não receber bem, errando o passe e desestruturando o jogo. Da mesma maneira, ao
elaborar uma resposta musical parecida com o estímulo da pergunta (seja uma
repetição rítmica ou melódica) faz com que o jogo continue seguindo a mesma
estrutura.
Os Sistemas Interativos Reflexivos utilizados em pesquisas por Adessi,
Ferrari e Carugati (2012), Adessi e Pachet (2007), muito tem a ver com a atividade
preparatória realizada nesta aula. Ao interagir com cada aluno, a professora assumiu
84
o papel que seria da máquina nestes estudos (continuator, plataforma Miror), onde
imitava os padrões fornecidos pelos alunos, acrescentando a eles pequenas
variações rítmicas ou melódicas. O formato ‘turn-taking’ (que pode ser entendido
como minha vez, sua vez/ pergunta e resposta) também presente nas atividades
preparatórias estão na base destes Sistemas Interativos Reflexivos. No estudo de
Adessi, Ferrari e Carugati (2012) ficou claro que a atenção da criança aumentava
quando o sistema variava pouco nesta imitação, quando ele variava muito a
tendência era de que a criança perdia o interesse ou a concentração sofria um
decréscimo. Do mesmo modo, quando a professora lançava uma frase musical além
da capacidade de compreensão da criança, este aluno não correspondia
adequadamente na resposta musical.
A concentração permaneceu em nível alto a maior parte do tempo, porque era
necessário estar atento ao que a professora realizava, ouvindo com atenção aos
esquemas rítmicos. Acredita-se que por ser uma atividade que possibilitava a
criação, os alunos se sentissem no controle da situação, sendo eles próprios
responsáveis por suas inserções musicais no grupo. A categoria prazer e
envolvimento também foi percebida como alta, pois estavam todos absortos na
atividade.
Ao participar destes exercícios/ jogos rítmicos de improvisação, muitos fatores
estão em ação, como por exemplo: o desafio requerido em forma de jogo, a
surpresa do que está por vir, o feedback (retorno) do seu desempenho no momento
em que ele acontece, as situações curtas e rápidas de tomadas de decisões, que
favorecem a percepção de autonomia e competência e desenvolvem também a
criticidade, a ordem que a forma do jogo musical e da própria estrutura musical
(pergunta/resposta) provoca na consciência individual de cada um e também na
estrutura da aula. Tudo isso contribuiu para as prováveis situações de fluxo e
aprendizagem observadas nas imagens.
Csikszentmihalyi (2008) enfatiza que ao produzir ou ouvir música, além de ser
uma atividade prazerosa que aumenta a complexidade de habilidades, é além de
tudo uma forma de fortalecer o self. Para Custodero (2005) ensinar música através
de experiências de fluxo, exige do professor habilidades musicais e pedagógicomusicais bem desenvolvidas, para poder encarar situações onde o que está por vir
não é pré-determinado, mas sim interpretado a partir das habilidades e conceitos
85
entendidos e expressados pelos alunos, que resultam em envolvimento com ideias
musicais relevantes.
A partir deste ‘aquecimento’ com os exercícios, 3 grupos foram montados de
acordo com afinidades e respeitando os instrumentos que cada aluno portava.
Então, foram separados em salas diferentes para que pudessem se concentrar em
seus sons, sendo filmados separadamente, uma câmera para cada grupo (atividade
de composição – grupo1, grupo 2 e grupo 3).
A proposta da atividade consistia em criar uma parte rítmica instrumental para
o interlúdio que se acrescentaria no meio da canção, entre as partes A e B. Não foi
estipulado de quanto tempo (pulsos) seria este trecho, nem qualquer outro tipo de
parâmetro. Embora o foco das observações sejam as relações entre os pares e o
comportamento de cada aluno diante do desafio, musicalmente a atividade deixou
muito a desejar, tanto pela falta de orientação para a produção coletiva (entende-se
que faltou tempo e que o fato de serem 3 grupos separados não permitia que a
professora desse a atenção necessária a todos durante o tempo todo), quanto pelo
fato de ser a primeira vez que realizavam esse tipo de atividade musical, pois
precisariam de um preparo maior, com mais exercícios distribuídos ao longo de
aulas que embasassem esse tipo de habilidade. As composições ficaram no nível
exploratório de instrumentos, sem padrões rítmicos elaborados; a maior parte das
crianças deu prioridade à forma, isto é, determinaram quando era a vez de cada um
tocar.
As cinco categorias foram utilizadas para análise das imagens de cada grupo.
O grupo 1 que era formado por 4 meninas, foi o grupo que mais trabalhou na
construção da ideia musical, ensaiando durante 10 minutos com constância e
dedicação à atividade, obtendo níveis altos de prazer e envolvimento, expressados
em frases como: “A gente adora essa música!” Durante todo o processo, as alunas
se mantiveram no controle da situação, envolvidas umas com as outras. Apesar da
percepção de estarem no controle da situação (pois determinavam tudo sozinhas) e
de terem os objetivos claros (embora não soubessem exatamente o que e como
fazer para alcançar estes objetivos), percebe-se que a maior dificuldade foi organizar
as ideias, pois estavam eufóricas, querendo falar todas ao mesmo tempo,
contribuindo para a execução e corrigindo erros. Apesar de todo esse prazer e
envolvimento perceptíveis nas imagens, considerou-se que o nível de concentração
86
era médio, pois faltou ordem na condução da atividade, e a agitação tomou conta
em vários momentos.
A relação entre desafios X habilidades também foi considerada em nível
médio, pois se acredita que o desafio lançado foi além das capacidades das alunas;
musicalmente, as habilidades do grupo não eram compatíveis com o nível de
dificuldade proposto na atividade. Segundo o quadro22 de Csikszentmihalyi (1999)
quando há um alto nível de desafio, e um nível médio de habilidades, pode ocorrer
ansiedade e exaltação, e foi exatamente esses dois estados emocionais e mentais
verificados durante esta atividade através das imagens do grupo 1.
O grupo 2, composto por dois meninos e uma menina, fez um padrão simples
e foi prejudicado pelo comportamento do aluno Lg., que demonstrou através de
constantes brincadeiras, não estar disposto a colaborar. Durante quase 10 minutos,
a aluna J. tentou tomar a liderança do grupo e produzir um esquema rítmico, mas os
dois garotos não colaboraram, a ponto de a menina se irritar e bater com a clava na
cabeça do colega Lg. Em vários momentos ela expressa: “Deixa eu falar!”, “Presta
atenção!”, “Ah! Vocês não entenderam nada!”, porém o clima do grupo era de
brincadeira, pois mesmo reclamando, os três riam constantemente.
Com muito
esforço, o grupo conseguiu elaborar uma ideia musical, ainda que simples (IMAGEM
9).
22
Encontra‐se na página 33.
87
IMAGEM 9. Grupo 2: tentando organizar as ideias
Considera-se que na relação entre o desafio proposto e o nível de habilidade
dos alunos, houve uma disparidade acentuada entre os diferentes sujeitos do grupo.
O aluno Lg. que demonstrou não estar interessado na conclusão da atividade,
prejudicou o desenvolvimento da mesma; o aluno Lc. também não agregou ideias à
produção, rindo constantemente das brincadeiras do colega, por sua vez, a aluna J.
poderia ter atingido um nível equilibrado entre desafios e habilidades se não tivesse
se desgastado tentando um acordo com os colegas. Por essas razões, considera-se
que a relação entre desafio X habilidade encontrava-se em um nível baixo, sendo
que para os dois meninos, a apatia e o tédio predominavam, e para a menina, a
preocupação. Segundo Csikszentmihalyi, (1999) ainda que esta relação entre
desafios X habilidades seja determinante para a qualidade da experiência, ainda há
um componente ligado ao interesse, que faz com que o indivíduo consiga transpor a
barreira inicial do tédio para que consiga começar a apreciar verdadeiramente a
atividade. O autor nomeia de ‘energia de ativação’ este investimento de atenção
inicial que algumas atividades complexas exigem.
Os quesitos prazer e envolvimento, concentração e objetivos claros obtiveram
um nível baixo de percepção, uma vez que os próprios alunos expressaram que não
88
entenderam a proposta, considerando também que o clima não era de prazer
provindo da interação musical. Somente a aluna J. parecia se envolver com a
atividade, mas sem sucesso nos resultados. O controle da situação foi considerado
médio, pois durante toda a atividade, os alunos tiveram a oportunidade de decisão e
escolha, mas não a aproveitaram totalmente.
A situação ocorrida com o Grupo 2 leva a uma reflexão acerca da importância
do fator interesse (vontade, pré-disposição) para o início de uma determinada
atividade, bem como à influência negativa ou positiva de um único sujeito em um
grupo.
Já ao analisar o grupo 3, percebe-se que algumas situações e
questionamentos levantados na análise do grupo 2 se repetem, em proporções
maiores. A falta de orientação e referência musical para uma atividade deste tipo se
tornou um problema ainda maior para este grupo, que não conseguiu se organizar
para trocar ideias e realizar o objetivo final. Durante todo o tempo, a agitação dos
alunos L. e Y. impossibilitou que os outros dois alunos pertencentes a este grupo,
Ln. e Br. conseguissem se expressar; eles brigaram por liderança e frases como
“Nossa, tá tudo errado!”, “Eu falo já!” e “Não é só você quem manda!” exemplificam
esta situação. A organização sonora ficou restrita a decisões sobre de quem é a vez
de tocar, mas não houve um consenso sobre ritmo, andamento ou pulsação.
Na análise das imagens do grupo 3 percebe-se que a agitação foi o principal
fator que impossibilitou a concentração e o envolvimento na atividade que resultaria
em aprendizagem, entretanto, a falta de referências para a realização de uma
composição coletiva também prejudicou a percepção de objetivos claros, pois ficou
evidente que os alunos não sabiam como conduzir este processo. Assim como
ocorreu com o grupo 2, a relação entre desafios e habilidades também foi percebida
como baixa, permanecendo o grupo em estado de preocupação e ansiedade,
característicos de desafios maiores que habilidades (vide gráfico 1 na página 33). A
percepção do controle da situação foi considerada em nível médio, pois a disputa
pela liderança foi acentuada neste grupo, a ponto de prejudicar a expressão dos
indivíduos. Com relação ao relacionamento entre pares, Csikszentmihalyi (1999)
explica que é preciso satisfazer duas condições necessárias para haver ordem na
consciência dos indivíduos, evitando a frustração, e promovendo uma interação em
nível ótimo.
89
A primeira é a existência de alguma compatibilidade entre nossas
metas e as metas dos outros. Isto é sempre difícil em princípio,
porque cada participante da interação tenderá a buscar a realização
de seus próprios interesses. (...) A segunda condição para uma
interação bem-sucedida é estar disposto a investir atenção nas
metas de outra pessoa – o que também não é uma tarefa fácil, já que
a energia psíquica é o recurso mais escasso e essencial que
possuímos. (CSIKSZENTMIHALYI, 1999, p. 82).
Além da dificuldade do grupo em estabelecer metas em comum, percebeu-se
também que a habilidade de ouvir e acolher as ideias dos colegas precisaria ter sido
melhor orientada pela professora. Ao ficarem sozinhos na sala, sem uma
‘autoridade’ que guiasse o processo de composição, o conflito tomou conta e não
houve acordo entre os colegas.
Durante este momento em que os 3 grupos ficaram em salas separadas,
houve um acidente com uma das câmeras que caiu no chão e quebrou, devido a
agitação de alguns alunos. Este fato imprevisível pesou negativamente no clima da
aula, deixando a professora chateada e os alunos tensos. A professora ainda tentou
realizar a totalidade da música uma última vez com todos os grupos executando
suas partes, mas estavam todos cansados e sem energia. A aula foi finalizada com
uma conversa com grupo.
No geral, a atividade de composição proposta para esta aula, deixou a
desejar enquanto proposta pedagógica musical. Embora fosse da vontade da
pesquisadora fornecer um momento mais livre aos alunos, sem o controle pleno da
professora, e tendo como objetivo verificar o comportamento dos alunos diante do
desafio em uma atividade que possibilitasse situações para ação e tomadas de
decisões - favorecendo a percepção de estar no controle da situação e
consequentemente a ocorrência do fluxo - a falta de um preparo maior, com mais
embasamento e conhecimentos acumulados por parte dos alunos, fez com que as
situações ocorridas impedissem a verificação destes objetivos. Talvez, se a
professora/pesquisadora tivesse um maior conhecimento do grupo, poderia ter
divido os alunos diferentemente, a fim de não prejudicar o desempenho de alguns
em detrimento de outros, distribuindo melhor as tarefas de acordo com o perfil da
turma.
A metodologia empregada para o desenvolvimento de qualquer proposta
pedagógico musical se faz de suma importância quando se verifica situações como
esta, onde o resultado é prejudicado pela forma com que o processo foi conduzido.
90
Na tabela abaixo (TABELA 7), que resume as categorias em relação às
atividades realizadas, fica claro que durante a primeira parte da aula, quando a
professora tinha o controle da turma e conduzia os exercícios de improvisação,
foram momentos mais ordenados, sistematizados e ricos em concentração e
aprendizagem (conforme a alta pontuação em todas as categorias demonstra) do
que o momento livre de composição coletiva (conforme a variância de pontuação
dos grupos 1, 2 e 3 aponta).
Desafios
Atividade de
X
Objetivos
habilidades
claros
Alto
Alto
Médio
Concentração
Controle
da
Prazer
e
situação
envolvimento
Alto
Alto
Alto
Alto
Médio
Alto
Alto
Baixo
Baixo
Baixo
Médio
Baixo
Baixo
Baixo
Baixo
Médio
Baixo
improvisação
(exercícios
rítmicos)
Atividade de
composição grupo 1
Atividade de
composição
– grupo 2
Atividade de
composição
– grupo 3
TABELA 7 - Níveis de envolvimento da turma
Fonte: dados da autora
4.5 Apresentação da aula 5
Nesta última aula, que voltou a ser realizada no auditório do colégio, 10
alunos do 3º ano estavam presentes. Segundo o planejamento, a atividade do dia
era a apreciação musical participativa da música “Dança Alemã”, uma valsa em ritmo
ternário e forma ABA. Ao iniciar a aula, a professora relembrou juntamente com os
alunos, o caminho percorrido até então, recontando partes da história As orelhas do
rei, e contextualizando as atividades que se seguiram, com as canções Taquaras e
Orquestra Real. Explicou que para finalizar as aulas, a proposta era que os alunos
91
participassem do ‘baile real’ desta vez, dançando, realizando movimentos de acordo
com a música.
Após uma primeira audição da música, onde todos seguiram a movimentação
da professora, atentou-se para a forma da valsa, ensaiando as partes em separado,
sem o áudio, apenas contando o tempo.
Esta estratégia de estudar as partes
também pode ser considerada como uma ação que gera metas claras e
consequentemente a atenção na atividade. Neste sentido, Araújo (2008), tratando
sobre a teoria do fluxo, explica que o estabelecimento de metas é um primeiro passo
para que os indivíduos sigam num processo de concentração.
Nesta proposta de atividade de audição ativa, o terceiro nível de escuta,
chamado por Csikszentmihalyi (2008) de escuta analítica foi requisitado, pois o
objetivo foi focar a atenção na estrutura musical (forma ABA) através da percepção
dos elementos da música (padrões de frases) e da incorporação do movimento
corporal, que segundo Custodero (2006) é um fator altamente relacionado às
experiências de fluxo.
Após algumas execuções individuais, pares foram formados para que na
parte B na música, as crianças interagissem umas com as outras, batendo palmas
com um colega. Durante esta atividade de apreciação musical ativa, percebeu-se um
alto nível de concentração na maior parte dos alunos; olhares fixos nos movimentos
da professora, com a boca ligeiramente aberta, autocorreção e antecipação aos
comandos (Custodero, 2005) sorrisos naturais e movimentos não exagerados foram
fortes indicativos deste estado mental presentes em quase todos os alunos.
Acredita-se que a maneira com a qual a professora trabalhou a movimentação,
realizando movimentos simples, mas interpretados de forma lúdica e engraçada,
envolveu os educandos na atividade de uma forma que eles sentiram prazer,
percebendo os objetivos claramente, obtendo feedback instantâneo quanto a sua
performance, e se sentindo no controle de suas ações (IMAGEM 10 e IMAGEM 11).
Um aluno em especial, J., não pareceu estar disposto a movimentação, realizando
movimentos com pouca energia e expressando estar cansado, mas participou da
atividade com o grupo.
A relação entre desafios e habilidades permaneceu equilibrada obtendo um
score alto. Durante boa parte do tempo que durou esta atividade (cerca de 20
minutos) o clima era de exaltação e controle, caracterizados por alto nível de desafio
92
e altas habilidades; por vezes e com alguns alunos , podendo até ser caracterizado
como fluxo.
IMAGEM 10. 'Dança Alemã' - alegria
IMAGEM 21. 'Dança Alemã' - atenção
Ao analisar as imagens desta atividade percebeu-se que quando realizavam a
movimentação sozinhos, os alunos concentraram-se mais e cometeram menos
93
erros; ao adicionar a movimentação compartilhada com o colega (batendo palmas),
essa concentração foi abalada e dependendo da interação entre os pares, perdeu-se
em qualidade de execução. Quando houve sintonia entre os colegas (comunicação
visual através troca de olhares profundos, movimentação em direção ao outro, certo
grau de intimidade, prazer e alegria sem exageros) a dupla entrou em sincronicidade
e conseguiram um bom resultado. Houve ainda, duplas onde a sintonia não estava
equilibrada, mas um indivíduo conseguiu guiar o outro, dominando a situação
(IMAGEM 12).
Também em recente estudo de Adessi, Ferrari e Carugati (2012) onde
crianças eram convidadas a interagir com um Sistema Interativo Reflexivo
(Plataforma MIROR), ora sozinhos, ora com um colega, chegou-se a esta
constatação de que ao agregar um colega à interação, ocorria um decréscimo no
estado de fluxo. Este decréscimo, por sua vez, pode ser explicado pela possível
alteração nos níveis de concentração. As autoras explicam que este resultado pode
ocorrer e está em concordância com a Teoria do Fluxo que descreve o fluxo como
um estado subjetivo.
As duplas que não conseguiram um bom desempenho rítmico musical,
caracterizavam-se por comportamentos agitados ou dispersos, sem a ocorrência de
troca de olhares entre os pares, dirigindo o olhar muitas vezes para professora ou
para outros colegas da turma, demonstrando não dominar a situação. Entretanto, a
maioria dos alunos demonstrou sentir prazer e envolveram-se na atividade, pedindo
por repetição ao término desta, independentemente da qualidade da execução.
Embora não seja objetivo avaliar o desempenho musical dos alunos, acredita-se que
estes resultados podem refletir o estado emocional e mental dos indivíduos,
auxiliando na percepção do clima motivacional do grupo.
94
IMAGEM 32. Interação com os pares
Na tabela abaixo (TABELA 8), percebe-se que esta foi uma atividade
facilitadora de fluxo, pois todas as 5 categorias atingiram uma alta pontuação.
Desafios
Atividade
X
Objetivos
habilidades
claros
Alto
Alto
Concentração
Alto
Controle
da
Prazer
e
situação
envolvimento
Alto
Alto
Apreciação
musical ativa
TABELA 8 - Níveis de envolvimento da turma
Fonte: dados da autora
4.6 Transversalização dos dados nas categorias “concentração” e “prazer e
envolvimento”
Ao cruzar os dados obtidos em cada aula, para as atividades de apreciação,
criação e execução, optou-se por verificar os resultados específicos das categorias
95
concentração e prazer/envolvimento, tidos para Csikszentmihalyi (1999) como dois
elementos fundamentais para a experiência do fluxo.
A primeira análise cruzou os dados das três atividades de apreciação
realizadas com as crianças durante a pesquisa. Os resultados encontram-se nos
gráficos abaixo:
GRÁFICO 2 - Concentração nas atividades de apreciação
GRÁFICO 3 - Prazer e envolvimento nas atividades de apreciação
Nas atividades de execução, a transversalização dos dados trouxe os
seguintes resultados sobre a concentração e o prazer e envolvimento das crianças
nas 6 atividades realizadas:
96
GRÁFICO 4 - Concentração nas atividades de execução
GRÁFICO 5 - Prazer e envolvimento nas atividades de execução
Por fim as atividades de criação foram consideradas nas categorias
“concentração” e “prazer/envolvimento” a partir da forma como foram trabalhadas em
sala de aula, ou seja, em uma atividade coletiva envolvendo todo o grupo, e em
outras
três
atividades
realizadas
em
pequenos
transversalização dos dados segue nos gráficos abaixo:
grupos.
O
resultado
da
97
GRÁFICO 6 - Concentração nas atividades de criação
GRÁFICO 7 - Prazer e envolvimento nas atividades de criação
Por meio dos gráficos aqui apresentados, pode-se notar que a variância nas
atividades de apreciação musical foi pequena com relação ao nível de concentração,
e se manteve em nível alto e constante com relação ao prazer e envolvimento.
Neste caso, onde duas músicas foram utilizadas nestas atividades, “Taquaras” e
“Dança Alemã”, percebe-se que não foi tanto o repertório que influenciou os dados,
mas sim a forma que as músicas foram trabalhadas com o grupo, através de
audições musicais ativas, onde a criança interagia com a obra através da
manipulação de instrumentos ou do movimento corporal.
Já nas atividades de execução, presente em quase todas as aulas, nota-se
que a concentração permaneceu em nível alto em todas as atividades, com exceção
98
da última atividade que ficou em um nível médio, provando que a concentração é
facilitada quando há um objeto concreto, ou seja, um instrumento a ser manuseado,
explorado e controlado pelo sujeito. Com relação ao prazer e envolvimento, houve
variação entre as atividades, oscilando entre níveis médio e alto, o que pode ser
explicado por meio do tempo de exposição à atividade, que segundo os relatórios,
foi além da capacidade dos alunos, causando cansaço e desinteresse em alguns
momentos.
Já com relação às atividades de criação, os gráficos corroboram com a
análise qualitativa dos dados, demonstrando a oscilação entre os níveis baixo,
médio e alto tanto no que diz respeito à concentração, quanto ao prazer e
envolvimento.
Vale ressaltar, que neste tipo de atividade de criação, onde as
características pessoais de cada aluno bem como seus níveis de habilidade são
requeridos, influenciaram o resultado musical conquistado pelos grupos. Também a
condução da atividade pela professora foi determinante para esta oscilação entre os
níveis nas atividades realizadas.
4.7 Avaliação dos juízes externos
A fim de validar as percepções obtidas através das filmagens quanto às
categorias analisadas em cada atividade, contou-se com a colaboração de 3 juízes
externos, profissionais atuantes na educação musical, com experiência entre 4 e 13
anos de magistério e níveis de especialização e/ou mestrado concluídos. Cada juiz
recebeu cópias das tabelas idênticas às preenchidas pela pesquisadora e após
assistir a vídeos selecionados de cada atividade, foram orientados somente quanto
ao preenchimento da tabela (utilizando os níveis, baixo, médio e alto). Uma breve
descrição dos conceitos e das categorias utilizadas também foi exposta, a fim de
evitar confusões nas interpretações. Os resultados atribuídos pelos juízes externos
foram então tabulados, transformados em 13 gráficos referentes a cada atividade
analisada e encontram-se no Anexo B desta dissertação.
Uma análise comparativa feita em cada atividade ressaltou alguns pontos que
aqui são apresentados e discutidos. Com relação à primeira aula, referente à
atividade de apreciação musical 1 com a canção ‘Taquaras’, notou-se certa
99
dificuldade por parte dos 3 juízes em atribuir níveis de frequência e intensidade às
atividades, uma vez que não haviam tido nenhum contato com esta pesquisa
anteriormente. No entanto, todos os juízes concordaram em atribuir um nível médio
na categoria Desafios X Habilidades, corroborando com a percepção da
pesquisadora, porém todos atribuíram um nível baixo para a categoria Controle da
situação, destoando do julgamento da pesquisadora, que analisou esta categoria
como atingindo um nível alto. As categorias Prazer e Envolvimento e Concentração
obtiveram concordância com 2 juízes (GRÁFICO 8).
GRÁFICO 8 - Aula 01: Atividade de apreciação 1
Uma atividade que obteve alto nível de concordância, tanto entre os juízes
quanto entre os juízes e a pesquisadora foi a atividade de execução 1 da segunda
aula, que consistia na canção ‘Taquaras’ acompanhada com paus de chuva. Como
pode ser verificado no gráfico abaixo (GRÁFICO 9) a categoria Prazer e
Envolvimento obteve de todos os juízes um alto nível, as outras categorias,
concordaram parcialmente, não havendo grandes discrepâncias nesta atividade.
100
GRÁFICO 9 - Aula 02: Atividade de execução 1
Segundo os juízes, outra atividade que atingiu altos níveis de frequência e
intensidade foi a atividade de execução 1 (canto coletivo) da terceira aula. Houve
concordância plena nas categorias Objetivos claros e Concentração, ambas obtendo
um nível alto; a categoria Controle da situação obteve a concordância de 2 juízes e
as categorias Desafios X Habilidades e Prazer e Envolvimento permaneceram
equilibradas nos julgamentos, não obtendo grandes discrepâncias (GRÁFICO 10).
GRÁFICO 10 - Aula 03: Atividade de execução 1 (canto coletivo)
101
A atividade de improvisação com exercícios rítmicos da quarta aula também
demonstrou, através do gráfico (GRÁFICO 11), que os juízes concordaram com a
pesquisadora na categoria Prazer e Envolvimento, e concordaram parcialmente nas
categorias Objetivos claros, Concentração e Controle da situação. O julgamento do
juiz 1 apresentou uma acentuada disparidade em relação aos outros juízes e
pesquisadora nas categorias, controle da situação e objetivos claros.
GRÁFICO 11 - Aula 04: Atividade de improvisação (exercícios rítmicos)
Também na quarta aula, a atividade de composição realizada pelo grupo 1,
recebeu dos juízes níveis médio e alto de frequência e intensidade, tendo a
categoria Prazer e Envolvimento obtido nível alto por unanimidade. As categorias
Desafio X Habilidades e Controle da situação seguiram com a anuência parcial dos
juízes externos e as categorias Objetivos claros e Concentração, permaneceram
equilibradas nos julgamentos não havendo grandes disparidades (GRÁFICO 12).
102
GRÁFICO 12 - Aula 04: Atividade de composição - grupo 1
Na última aula, a atividade de apreciação musical ativa não alcançou total
concordância em nenhuma categoria, no entanto, observa-se que os julgamentos do
juiz 3 corroboram todos os altos níveis atribuídos pela pesquisadora em todas as
categorias. Os quesitos Concentração e Prazer e Envolvimento obtiveram
concordância parcial, sendo que somente o juiz 3 atribuiu nível médio em todos os
quesitos.
GRÁFICO 13 - Aula 05: Atividade de apreciação musical ativa
103
É necessário ressaltar, que ao contrário da pesquisadora/professora, que
além de ter acompanhado todo o processo in loco, e de ter tido acesso aos vídeos
diversas vezes, bem como aos relatórios e diários de campo detalhados, os juízes
externos basearam seus julgamentos apenas pela primeira impressão obtida através
das imagens selecionadas, o que pode justificar possíveis discrepâncias entre os
níveis atribuídos, não somente com relação ao julgamento da pesquisadora, mas
também em relação ao julgamento dos outros juízes. No entanto, percebe-se que no
geral, as atribuições dos juízes externos corroboram com as percepções da
pesquisadora.
4.7 Considerações sobre a análise das aulas
Ao revisar o resultado das 5 aulas descritas e observadas, nota-se que as
atividades que proporcionaram mais oportunidades para que as crianças atingissem
um alto nível de frequência e intensidade nas 5 categorias, foram aquelas que
incorporaram o movimento físico, seja através da utilização de instrumentos
musicais ou da movimentação corporal, corroborando com os estudos realizados por
Custodero (2006).
Durante a primeira aula, acredita-se que por ter sido um primeiro contato, a
ansiedade e a agitação tomaram conta em diversos momentos e não foi possível
detectar um estado de fluxo na maioria do grupo, ainda que os índices de prazer e
envolvimento tenham sido altos. A segunda aula obteve altos índices em quase
todas as categorias, principalmente quando a atividade com a caixa de instrumentos
foi realizada. Também na terceira aula, a execução instrumental foi destaque, por
obter altos níveis de participação da turma, mas é importante considerar que a
atividade de canto coletivo, apesar de aparentemente não provocar tanto prazer,
ofereceu condições para que breves momentos de fluxo ocorressem.
No entanto, o momento que se pode afirmar que todos os alunos estavam em
fluxo ou em um estado próximo, como exaltação e controle, foi durante os exercícios
de improvisação da quarta aula, onde a estrutura do jogo musical possibilitou que
todos os fatores necessários para a ocorrência de fluxo acontecessem. Da mesma
forma, a atividade de apreciação musical ativa que aconteceu na quinta aula,
104
também favoreceu a ocorrência do fluxo, ao se utilizar da movimentação corporal
como principal meio de expressão, de vivência e de compreensão musical.
De acordo com Csikszentmihalyi (2008) as atividades que produzem
experiências de fluxo, são aquelas em que as habilidades estão adequadas aos
desafios propostos, a percepção das metas são claras, a concentração é tão intensa
que o entorno se torna irrelevante, a autoconsciência desaparece e há uma
distorção na percepção do tempo.
Com relação a essa mudança na percepção do tempo, forte indicativo das
ocorrências de fluxo (Csikszentmihalyi 1999; 2008) vale ressaltar que as atividades
propostas foram organizadas de forma a ter um tempo de duração pré-estabelecido,
pautando-se também na resposta do grupo como um todo; no entanto, observou-se
que em dados momentos, algumas crianças demonstraram tal envolvimento que
pediam pela continuidade da atividade, deixando transparecer a despreocupação
com o horário e até mesmo, com o cansaço.
Portanto, as atividades de improvisação instrumental e de apreciação musical
ativa foram as que, neste estudo, conseguiram um maior equilíbrio entre desafios e
habilidades, um alto nível de concentração e percepção de objetivos claros, um
sentimento de controle da situação gerando altos índices de prazer e envolvimento,
caracterizando assim, possíveis estados de fluxo.
105
CONCLUSÃO
Esta pesquisa, que teve por objetivo investigar as relações entre os tipos de
atividades musicais e os níveis de envolvimento dos alunos através da observação
de uma turma específica durante 5 aulas de música, respondeu a questionamentos
feitos no início deste estudo, e suscitou outras indagações.
Primeiramente, é importante mencionar que os resultados aqui expostos
referem-se à amostra desta pesquisa, sendo leviana qualquer generalização acerca
dos comportamentos, uma vez que o delineamento metodológico aqui adotado foi a
pesquisa quase-experimental. Por outro lado, as observações aqui relatadas foram
ao encontro de estudos que vem sendo realizados na área da Motivação e
Educação Musical, corroborando com Custodero (1999; 2002-2003; 2005; 2006) e
estudos conduzidos por Adessi (ADESSI & PACHET, 2007; ADESSI, FERRARI,
CARLOTTI, PACHET, 2006).
Com relação ao objetivo central desta pesquisa, acredita-se que não é
somente o tipo de atividade que proporciona a ocorrência de fluxo, mas igualmente
importante é a forma com a qual ela é exposta ao grupo. Pode-se tomar como
exemplo disto o desenvolvimento da atividade de composição musical realizado na
quarta aula, que não obteve um resultado satisfatório, do ponto de vista pedagógico
musical. A proposta desta atividade teve muitos entraves que impossibilitaram que
ela fosse devidamente desenvolvida. Por sua vez, as atividades de apreciação
musical tiveram êxito justamente devido à forma com que a professora apresentava
as músicas, utilizando-se de recursos diversos, tais como brincadeiras e expressão
corporal.
Todas as atividades de apreciação, execução e composição têm sua
importância dentro do desenvolvimento musical das crianças, mas cada tipo de
atividade exige uma preparação e uma logística específica o que faz com que sejam
abordadas diferentemente. Sugere-se então, que um aprofundamento maior em
cada uma dessas formas de interação com a música seja focado separadamente em
estudos futuros, que trabalhem com o tema Motivação e Teoria do Fluxo.
Como mencionado no início desta dissertação, Bzuneck (2009) afirma que o
professor possui a responsabilidade em manter a motivação para aprender de seus
106
alunos, pois é ele quem pode se valer de técnicas, estratégias de ensino e medidas
educacionais que favoreçam a participação e envolvimento de seus alunos em sala
de aula. Embora não tenha sido foco desta pesquisa avaliar e abordar aspectos
referentes ao docente, fica evidente que ele é determinante para as ocorrências de
fluxo na aula, tendo a capacidade de promover a motivação do aluno, ofertando
situações onde cada indivíduo possa desenvolver formas mais autônomas de
motivação. Em contrapartida, também é evidente que há um limite para esta ação do
professor uma vez que cada indivíduo possui uma personalidade própria que é
também determinante para o aprimoramento da motivação.
Tocar instrumentos é altamente estimulante, mas não basta para desenvolver
experiências ótimas em música. Se não houver a correta mediação, nenhuma
atividade atingirá seu potencial e consequentemente, seu objetivo final de
aprendizagem. Considerando, portanto, que somente a atividade não garante
experiências de fluxo, necessário se faz aprofundar a questão do papel do docente
em futuros estudos sobre a temática.
Um aspecto interessante a destacar refere-se ao tempo de exposição à
atividade. Custodero (2006) sugere em seus estudos que os professores devem
priorizar o aprofundamento dos conteúdos nas atividades, disponibilizando um maior
tempo para a realização das mesmas. No entanto, em alguns momentos das aulas,
percebe-se um cansaço por parte dos alunos, indicando que as atividades
extrapolaram o tempo de envolvimento e concentração. Sugere-se então, que a aula
de música deve abranger atividades diferenciadas entre si, em uma mesma aula, a
fim de manter otimizada a atenção e motivação para aprender. Isto não significa que
os conteúdos serão trabalhados superficialmente. Necessário se faz então, o retorno
às mesmas atividades durante diversas aulas, para que as crianças consigam um
grau de familiaridade com elas, que possibilite a aprendizagem e o amadurecimento
de conceitos e técnicas.
Outro ponto importante foi a constatação de que por meio das atividades
coletivas de improvisação, em que a estrutura de jogo foi utilizada, ocorreram os
melhores e mais significativos momentos de estados de fluxo e de estados próximos
a ele, como controle e exaltação. O ponto chave foi compreender que esses
momentos da aula, onde houve um desafio proposto que possibilitou o
desenvolvimento de habilidades, foram as ocasiões de maior envolvimento da turma
como um todo. Ordem na consciência também gerou ordem na aula, isto é, a aula
107
também fluiu melhor quando atingiu o equilíbrio entre desafios X habilidades,
possuindo regras e metas bem definidas, fornecendo feedback imediato, exigindo a
concentração de todos e gerando prazer e envolvimento.
Esta estrutura do jogo pode ser utilizada em muitas atividades musicais, mas
são nos exercícios musicais de improvisação e imitação que esta estrutura é mais
clara, nesta pesquisa. O jogo foi a atividade por excelência que supriu as 3
necessidades básicas de autonomia, competência e vínculo juntas, promovendo a
motivação intrínseca, criando ordem na consciência e oportunizando o fluxo.
Por fim, além de fomentar a discussão sobre a Motivação na Educação
Musical, acredita-se que uma importante contribuição desta pesquisa para a área,
seja com relação ao jogo. As reflexões finais deste estudo, recaíram sobre este
tema, que embora seja amplamente estudado sob diversas abordagens (incluindo
aqui as contribuições de Piaget, e a perspectiva de Swanwick) ainda necessita ser
aprofundado em futuras pesquisas e relacionado às experiências de fluxo na
Educação Musical.
108
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(Mestrado em Música) Instituto de Artes, PPG Música, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.
112
APÊNDICE A - Carta de solicitação
CARTA DE SOLICITAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE PESQUISA
ACADÊMICA DE CAMPO
À coordenadora do Ensino Fundamental I do Colégio Nossa Senhora de Sion, Sede
Solitude, Lia Beatriz Silva Munhoz da Rocha.
Prezada Educadora,
Eu, MARIANA DE ARAÚJO STOCCHERO, portadora do RG n° 7759050-1 –
SSP/PR e CPF n° 036.661.429-07, aluna regular do Programa de Pós-graduação
em Música – Mestrado – da Universidade Federal do Paraná, sob o registro
acadêmico MER 20100425, venho SOLICITAR AUTORIZAÇÃO PARA A
REALIZAÇÃO DE PESQUISA ACADÊMICA DE CAMPO junto aos alunos da turma
de 3° ano – turno manhã, do ensino fundamental.
Acompanha esta solicitação o planejamento das aulas relativas à pesquisa.
Atenciosamente,
_____________________
Mariana Stocchero
Pesquisadora responsável
_______________________
Rosane Cardoso de Araújo
Orientadora
Curitiba, 01 de outubro de 2010.
113
APÊNDICE B – Explicação do estudo aos pais ou responsáveis
MOTIVAÇÃO NA EDUCAÇÃO MUSICAL:
Um estudo sobre estratégias motivacionais
Pesquisadora responsável: Mariana Stocchero
Orientadora: Profª Drª Rosane Cardoso de Araújo
Explicação do estudo
Objetivos
Seu filho (a) foi convidado a participar de uma pesquisa que está investigando os
processos motivacionais na educação musical de crianças brasileiras que cursam o 3º ano
do Ensino Fundamental em escola regular. O objetivo deste estudo é observar os aspectos
motivacionais existentes nas relações entre atividades musicais e os níveis de envolvimento,
que favorecem a aprendizagem em sala de aula.
Participação
Se você e seu filho (a) concordarem em participar deste estudo, a criança participará
de 05 (cinco) encontros-aula onde serão aplicadas atividades musicais específicas relativas
à pesquisa e onde será realizada a coleta de dados. O Termo de Consentimento anexado
deverá ser devolvido à pesquisadora, devidamente assinado.
Os dias das aulas serão os seguintes:
Aula
Dia
Horário
01
19/09 - segunda-feira
11h
02
26/09 - segunda-feira
11h
03
11/10 - terça-feira
11h
04
17/10 - segunda-feira
11h
05
24/10 - segunda-feira
11h
114
Realização das aulas
As aulas serão realizadas no turno matutino, dentro da grade horária da turma do 3º
ano. O local de realização das aulas será em uma sala destinada à aplicação da pesquisa,
dentro do Colégio Sion Solitude.
Riscos associados à participação na pesquisa
Todas as atividades desenvolvidas no estudo foram previamente realizadas e
testadas em outros contextos educacionais e são embasadas em materiais pedagógicos
que estão no mercado educacional (livros e cd´s), não oferecendo nenhum tipo de risco,
psicológico ou físico, aos sujeitos da pesquisa. Os participantes poderão desistir do estudo
em qualquer etapa do mesmo e sem nenhum tipo de ônus. Em hipótese alguma os sujeitos
da pesquisa serão obrigados a fornecer informações sobre quaisquer áreas que julgarem
ser de domínio privado e somente os pesquisadores é que terão acesso aos dados da
pesquisa.
Desistência
Nenhum participante será obrigado a participar da pesquisa e também poderá
abandoná-la durante qualquer etapa.
Sigilo e anonimato
Para este estudo, os participantes serão identificados como sujeitos A, B, C, etc.
Portanto, seu filho não será identificado em hipótese alguma. As informações recolhidas
durante a pesquisa serão anotadas em um caderno de dados, e somente os pesquisadores
terão acesso a estes dados, bem como aos vídeos e às gravações em áudio. Os
interessados poderão receber uma cópia escrita do texto final desta pesquisa.
Contatos
Qualquer dúvida relacionada com a pesquisa, favor entrar em contato com o
pesquisador pelo telefone (41) 9915-7004, ou pelo e-mail ma.stocchero@yahoo.com.br
Agradeço a atenção e a disponibilidade de todos.
_______________________
MARIANA STOCCHERO
Pesquisadora responsável
Curitiba, 05 de setembro de 2011.
115
APÊNDICE C – Termo de consentimento
Termo de Consentimento
Pesquisa: “Motivação na Educação Musical: um estudo sobre estratégias
motivacionais”
Pesquisadores: Mariana Stocchero, Rosane Cardoso de Araújo
Ao assinar este termo de consentimento, estou ciente de que:
A participação de meu/minha filho (a) no estudo é voluntária;
Os objetivos do estudo foram explicados e estão claros;
A coleta de dados será feita apenas para fins de pesquisa, e que os dados
obtidos não serão utilizados para nenhuma outra finalidade;
Todos os dados contidos na pesquisa são confidenciais, e a identidade dos
participantes será mantida em sigilo;
Todo o tipo de gravação, seja visual ou sonora, só poderá ser divulgada com
a devida autorização dos participantes envolvidos com a pesquisa;
Ninguém terá acesso aos dados adquiridos, a não ser os pesquisadores;
Posso ter acesso aos resultados da pesquisa, se desejar;
Tenho o direito de desistir desta pesquisa, a qualquer momento e por
qualquer motivo e sem nenhum tipo de ônus.
Nome da criança: _____________________________________________________
Nome do responsável: _________________________________________________
E-mail (apenas se desejar obter posteriormente, acesso aos dados da pesquisa):
___________________________________________________________________
Assinatura: __________________________________________
Curitiba, _______ de ________________ de 2011
116
APÊNDICE D – Explicação e tabela para juízes
Prezada colega colaboradora:
Primeiramente agradeço imensamente sua disponibilidade em participar da
fase final de minha dissertação de mestrado, intitulada Experiências de Fluxo: um
estudo sobre motivação, sob a orientação da Profª Drª Rosane Cardoso de Araújo.
Além de corroborar ou contrapor a análise dos dados feita por mim, sua
interpretação das imagens selecionadas será enriquecedora para as constatações e
conclusões deste estudo.
Para uma melhor compreensão do que estamos avaliando, por favor, consulte
a tabela abaixo que especifica as 5 categorias utilizadas na análise das imagens; ao
assistir as cenas selecionadas, marque sua percepção quanto à intensidade e
frequência observada, considerando o comportamento geral da turma, utilizando as
medidas “baixo”, “médio” e “alto”.
AS 5 CATEGORIAS DE ANÁLISE
DESAFIOS x HABILIDADES: consiste na relação entre o nível do desafio proposto na
atividade em relação às habilidades do indivíduo. O desafio não pode ser maior que a
habilidade, pois pode causar frustração, ansiedade, preocupação, diminuindo a autoestima; tampouco um nível baixo de desafio, pois causa apatia, tédio e relaxamento,
fazendo com que a atividade logo seja ‘deixada de lado’. O equilíbrio entre os
desafios e as habilidades é a chave das atividades que promovem o fluxo.
OBJETIVOS CLAROS: a percepção clara, por parte do aluno, dos objetivos inerentes
às atividades; ou seja, “saber o que deve ser feito”. Demonstrado através de um
comportamento exploratório, associado ao interesse pelo feedback (retorno).
CONCENTRAÇÃO: alto nível de atenção e abstração do entorno. Demonstrado
através de um olhar direcionado, focado, o corpo todo está voltado para a ação da
atividade, a criança não apresenta momentos de distração, é relevante somente o
“aqui e agora”.
CONTROLE DA SITUAÇÃO: compreensão das regras inerentes à atividade,
associadas ao senso de competência nas próprias ações e na certeza naquilo que se
está fazendo. A criança participa da atividade porque assim o deseja.
PRAZER E ENVOLVIMENTO: condição de bem estar devido a uma sensação de
competência, eficácia das próprias ações e autonomia. Caracterizado por expressões
de alegria, serenidade e divertimento. Alto nível de participação.
117
AULA 01
Desafios
X
habilidades
Objetivos
Concentração
claros
Controle
da
situação
Prazer
e
envolvimento
Atividade de
apreciação 1
Atividade de
execução
AULA 02
Desafios
X
habilidades
Objetivos
Concentração
claros
Controle
da
situação
Prazer
e
envolvimento
Atividade de
apreciação 1
Atividade de
execução 1
Atividade de
execução 2
AULA 03
Desafios
X
habilidades
Atividade de
execução 1
(canto
coletivo)
Atividade de
execução 2
Atividade de
execução 3
Objetivos
claros
Concentração
Controle
situação
da
Prazer
e
envolvimento
118
AULA 04
Desafios
X
habilidades
Objetivos
Concentração
claros
Controle
da
situação
Prazer
e
envolvimento
Atividade de
improvisação
(exercícios
rítmicos)
Atividade de
composição grupo 1
Atividade de
composição
– grupo 2
Atividade de
composição
– grupo 3
AULA 05
Desafios
X
habilidades
Atividade
Apreciação
musical ativa
Objetivos
claros
Concentração
Controle
situação
da
Prazer
e
envolvimento
119
APÊNDICE E – Diário de Campo
AULA 01 – 19/09
Vídeo Aula 1 – 1
Leitura da história “As orelhas do rei”. Houve um imprevisto com o material da
escola e não pude projetar o slide na parede, para que todos lessem junto
comigo, como era o planejado. Durante a contação de história, que dura
cerca de 4´, algumas crianças emitem opiniões e comentários, interrompendo
a professora. Isso não chega a parar o andamento da contação, mas acaba
influenciando o clima da atividade, que não é de audição passiva. Alguns
meninos se movimentam também. Percebendo isso, a professora convida os
alunos a participar com gestos e interpretando a frase “O Rei tem orelhas de
burro!” Mas, ao mesmo tempo em que isso envolve os educandos na
atividade, também dispersa, pois alguns alunos exageram na vocalização,
gritando muito forte.
Vídeo Aula 1 – 2
Audição da música “Taquaras” da Palavra Cantada. Gestos e percussão
corporal persistem (L. e Y.). J. e mais alguns também, até que nas primeiras
notas, Lu., pede para os colegas pararem. Porém ao iniciar a dublagem da
profª, risos generalizados ocorrem, primeiramente de forma natural, mas logo
em seguida tornando-se exagerados, histéricos, até que a profª desiste de
dublar e assume uma postura séria. Entretanto alguns alunos observam
atentos (Br). L. levanta, seguido de Y. para dançar fazendo gracinhas. Na
pausa, pedem “de novo” 3 vezes antes do final o que atrapalha a percepção
de surpresa da canção, mas demonstra que gostaram.
Vídeo Aula 1 – 3
Câmera na Rf. e Rs. Atentas aos comandos riem bastante.
Rf - fluxo? Exaltação?
Sorri demonstrando alegria, divertimento e prazer, mas sem a euforia
descontrolada do início. Está atenta às mudanças de ritmo e chacoalha o pau
de chuva com vigor e entusiasmo. Mantém o olhar fixo na professora ou na
observação dos colegas. Em 1´56” procura se autocorrigir no ritmo. Ao final
sorri de satisfação.
Rs – também se envolve mas parece estar inibida pela presença dos colegas,
olha para os lados constantemente.
Vídeo Aula 1 – 4
Câmera focada em L., Lu. e J. (da esquerda para direita).
A música “Taquaras” inicia novamente, no início os três não dão muito
atenção, L. está com o olhar perdido, apesar de que ter um instrumento na
mão ajuda a focar a atenção e a organizar o pensamento, a atividade. Logo
depois, (0´55”) L. vivencia diferentemente a música realizando gestos mais
vigorosos, dançando. Parece que não se importa com o entorno (olha para
120
dentro) usa o Pau-de-chuva como microfone. Canta junto, acompanha com a
célula rítmica, mas em (1´57”) parece que se cansa e perde a atenção, na
pausa da canção em (2´21”) diz “Não teve graça agora”, mas acompanha até
o final da canção.
Lu. (menino de touca): inicia explorando o pau de chuva, aguardando o que
está por vir. Ao iniciar a música, sorri. Tem a atenção focada na professora
imitando gestos, cantando junto. Toca acompanhando a célula rítmica. Olhar
fixo na profª, poucas vezes desvia o olhar. Na pausa da canção (2´18”) diz
“Ainda não acabou!” (Antecipação?), continua atento até o final. Em (2´36”)
após a música acabar, continua cantando “São taquaras...” (expansão?) + 4
vezes.
J. (menino da direita): Está agitado, se movimentando o tempo todo. Explora
o instrumento com vigor. Pergunta: “Tem areia aqui dentro?” (não está nesse
vídeo). Ao iniciar a música, ainda está agitado, se movimentando e
movimentando o pau de chuva aleatoriamente. Não acompanha o
ritmo/andamento da canção. O olhar ora é na professora, ora é vago. Sorri,
busca interagir com os colegas e profª , movimentos em direção à outras
pessoas. Em (1´17”) joga pra cima o pau de chuva (tentativa de criar mais um
desafio, mais uma dificuldade). A partir de (1´27) acompanha a célula rítmica,
mas às vezes sai do tempo. O olhar varia muito de direção, na pausa da
canção (2´17”) continua tocando. Perde a surpresa, acaba a música e
continua tocando. Brinca de espada com L. logo em seguida.
Vídeo SDC 15734
2ª audição de “Taquaras” agora com paus-de-chuva. Câmera foca em Ju., Lg
e Br. (da esquerda para direita).
Ju. está atenta, por vezes sorri e interage com Lg. que está a seu lado. Toca
o pau de chuva com movimentos enérgicos. Tenta tocar com a célula rítmica
correta, mas a intensidade dos movimentos faz com que ela se perca;
conversa com Rs que está a seu lado, mas não dá para entender o que diz.
Volta a olhar para a profª. Na volta da pausa, retorna a tocar muito animada.
Lg começa com pouca energia nos movimentos, trabalha mais
“interiormente”, olha pouco para professora e por várias vezes, tenta
estabelecer contato com Ju. Movimentos exagerados com o pau de chuva,
como se estivesse “socando algo”; não compreendeu o padrão rítmico; tanto
que demora a perceber a pausa e quando percebe, continua produzindo som.
No final joga o instrumento.
- O comportamento do Lg se encaixa dentro do quadro desafios X
habilidades?
- Como Lg vivenciou a canção? Como uma “brincadeira?”
- Lg está simplesmente explorando o instrumento, por isso não atingiu um
nível satisfatório na execução?
- É possível dizer que está motivado? Com certeza não estava em fluxo, nem
perto... (segundo as descrições).
Br. inicia a música concentrado, olhando para a professora a maior parte do
tempo. Tem sua concentração abalada pela interferência do L. que está a seu
lado. Fica visivelmente incomodado com ele (0´23” a 0´33”). Tenta
acompanhar a célula rítmica mas não consegue, parece faltar energia e se
incomodar bastante com os colegas ao lado. Durante o trecho “dos barulhos”
até a pausa, não parece muito presente, toca apenas explorando o
121
instrumento, o olhar é aleatório, ora para dentro, ora na professora, ora nos
colegas. (1´40”) Parece estar encantado com o som do instrumento, toca na
pausa.
AULA 02 – 26/09
Vídeo Aula 2 – 1
2ª audição de “Taquaras”, agora com instrumentos. Desta vez o resultado
musical do grupo foi muito melhor, apesar de que alguns alunos ainda falaram
na pausa, o ritmo estava homogêneo e a professora obteve a atenção da
maioria.
Vídeo Aula 2 – 2
“Taquaras” com instrumentos. Ótima execução!
Apesar de não focar bem o rosto das crianças, percebe-se que na exposição
dos instrumentos todos demonstram muito interesse, entusiasmo e atenção.
Vídeo MOV 03822
1ª audição de “Taquaras”. Lz. e I., que estão ouvindo pela primeira vez,
mantêm uma postura mais atenta e curiosa em relação às outras crianças. L.
não pára de se movimentar e atrapalha o campo de visão de I., que tenta
desviar. Lu. canta junto e se diverte!
Vídeo SDC 15739
Professora canta “Orquestra Real” acompanhada por estalos de dedos dos
alunos. Em 01’07” Lu. antecipa frase da canção e canta junto com a profª.
Vídeo SDC 15741
Trabalhos por naipes: pandeiro e tambor / cocos e agogô. Os meninos do 1º
grupo tentam tocar no ritmo real da canção (apesar de não sair sincronizado)
quanto que as meninas do 2º grupo, tocam na pulsação.
Vídeo SDC 15742
Continuação, meninas do 2º grupo repetem. 3º grupo: clavas e maracás.
Vídeo SDC 15743
Br. se irrita com L., porque este não pára de tocar fora de hora. Em seguida,
Br. se desconcentra e toca além do tempo combinado, percebe o erro. L. por
sua vez toca de forma despreocupada, ora batendo no chão, ora nas clavas,
sem ritmo regular. Não gosta quando a professora pega as suas clavas para
mostrar como faz. Ele queria mostrar o que inventou... (necessidade de
autonomia)
Vídeo SDC 15744
2ª sequencia com todos os naipes: nível de execução ainda explorando.
3ª sequencia (0’50”): igual
Nível de envolvimento ótimo.
122
AULA 03 – 11/10
Vídeo MOV 03835
Exercício rítmico com palmas. Câmera filma todas as meninas: I., Ju., Lz.,
Rs., Rf. e os meninos Lc. e Lg.
I. começa um pouco dispersa, mas vai se concentrando, sua execução rítmica
também melhora.
Ju. está concentrada, mantendo o olhar na professora, sorrindo por vezes;
sua execução é ótima, não demonstra dificuldades rítmicas.
Lz: também está concentrada, olhando para a professora, sorrindo; mas
demonstra um pouco de dificuldade no ritmo, sua execução melhora, mas não
fica 100%.
Rs, apesar de estar sentada numa postura que prejudica a execução, ela se
mostra atenta e esforça-se para tocar. Sua execução é boa.
Rf., concentrada, olha fixamente para a professora, corrige sua postura, sorri
somente no final; sua execução não é perfeita mas é ótima.
Lc., atento mas não muito concentrado; sem energia, postura torta; erra
bastante a execução por falta de atenção; olha para o lado. Depois que a
professora chama a atenção do grupo para a importância de bater palmas,
seu desempenho melhora e sua concentração também. Depois do “não dá
tempo de desanimar”, Lc. imita o glissando do teclado (antecipação).
Y. está com a expressão facial fechada, visivelmente emburrado, bate palma
minimamente, sem esforço nem energia, olha bastante para os colegas do
lado.
Vídeo MOV 03837
Segunda vez da parte B com todos batendo palmas. Câmera agora filma os
meninos – da direita para esquerda:
Lu.: a câmera não pega bem; quando ele se movimenta, sai do
enquadramento;
Lg.: está sentado de uma maneira que dificulta a execução; olha para a
câmera e em vez de bater palmas faz um gesto de bater (punho fechado da
mão esquerda na palma da mão direita) procura o olhar e aprovação dos
amigos. Não está envolvido.
Br.: está atento, executando muito bem o ritmo, com energia e animação até
ser interrompido por Lg. Segue sem muita energia e envolvimento.
J.: está atento, apesar de bater palmas, seu foco é para dentro e para o ato
de cantar. Imita os instrumentos, deixa de bater palmas em alguns ritmos, não
estala os dedos, mas no final canta sozinho “Nós vamos dar um show!” Cai
deitado para trás de vergonha, quando a profª elogia.
L.: totalmente apático, está brabo e não participa.
Vídeo SDC 15746
Vídeo onde ensaiam a batida por naipes. Dificuldade de alguns alunos em
respeitar a vez dos outros. Mas percebe-se que todos estão envolvidos na
atividade.
Vídeo SDC 15747
Primeiro ensaio de todo trecho da parte B. Alguns se perdem. Lu. diz “Mas é
legal tia!” quando a profª chama sua atenção porque estava antecipando sua
123
vez (0’30”). J. tenta fazer uma manobra com a baqueta, jogando par cima no
final. Ele busca por um desafio maior?
Vídeo SDC 15748
Vídeo inicia com Lu. cansado...
Continuação da construção da música; trabalho grande de concentração,
finalizando com solo do J.
AULA 04 – 17/10
Vídeo Aula 4 – 1
Durante os primeiros 25 segundos as meninas conseguem se organizar e
obter um resultado musical satisfatório. Em seguida, continuam tentando
chegar num consenso. Em 1’ a profª entra na sala para pegar uma câmera,
elas olham mas não interrompem o trabalho. Em + ou – 1’20” Lz. se irrita com
as interferências de I. e explica que a sua batida é “só pra finalizar!” Rf
coordena novamente e em 1’38” reiniciam o trecho musical. Lz. se irrita
novamente (1’43”) desta vez com a dessincronização dela com Rs. O fato é
que nem Luiza consegue encaixar na batida; pois quando faz sem cantar dá
certo, quando cantam... Rs. fica muito insegura, só na sombra de Lz.
Por volta dos 3’ elas começam a se desentender e de certa forma a cansar,
mas não perdem o bom humor!
Em 3’40” finalmente conseguem organizar e executar o que combinaram e
sorriem de satisfação. Nisso a profª estava na sala (o que pode ter contribuído
para a concentração). Em seguida elas afirmam que terminaram ao que a
profª orienta que ensaiem mais um pouco.
Em 4’ quando vão repetir, I. interrompe com uma pergunta que irrita todas
desta vez! Gritam e se desconcentram. Repetem mais 2 vezes e dá certo.
Em 5’30” Rf. retoma a discussão sobre o que é pra fazer no tambor... e elas
discutem mais um pouco. Em 6’ fazem o trecho todo novamente, e de novo
até que em 6’50” Lz. resolve chamar a profª.
Vídeo Aula 4 – 2
Inicia com a repetição do Grupo 2 que apesar da simplicidade da ideia, acaba
executando melhor, até com o “Yeah!” do Lg. no final (até 0’12”). Em 0’20” o
grupo 3 toca pela primeira vez. Y. faz uma frase rítmica, mas não dá para
entender o resto do grupo, fica sem sentido. Lu. diz desapontado “Não tenho
o que fazer...” A profª diz que o que não deu pra entender foi quando começa
e quando termina. Em 0’40” tentam uma segunda execução, que também não
deu certo...
Vídeo Aula 4 – 3
Início da aula, câmera filmando de cima. A profª começa com estalos de
dedos e canta “Orquestra Real” com alunos para relembrar (de 1’ até 2’45”).
O comportamento dos meninos, principalmente do L. e do Lg., prejudica muito
o resultado musical.
Vídeo MOV 01520
Exercício de pergunta e resposta rítmica. A profª toca um ritmo no agogô e o
aluno (cada um na sua vez) improvisa uma resposta rítmica, que de
124
preferência dê continuidade e dialogue com a frase da profª. Percebe-se que
nestes jogos rítmicos a atenção dos alunos é mais exigida, portanto há mais
ordem na sala. Alguns têm mais dificuldade de entender a frase com começo
e fim e se atravessam na frente, outros são mais tímidos e envergonhados, o
que limita a execução.
Em 0’35” ao mudar a duração da frase, Lz. faz uma cara de espanto! Ao ser
pega de surpresa, se perde em sua frase.
Em 1’23” Lz. fala “ Oh Y., interrompeu a pergunta!” Por ele não ter esperado o
término da frase da profª.
- Relacionar com cognição (atividade mental) fluxo, desafio, autonomia,
competência, surpresa, feedback, ordem na consciência!
- Atentar para o fato de que é a 1ª vez que realizam este tipo de atividade de
improvisação/composição.
Vídeo SDC 15756
De volta à sala, semicírculo. Cada grupo irá mostrar o que preparou. Inicia
com o grupo 1 que toca exatamente o que ensaiou, mas sem o canto pois
elas não entenderam que a composição vinha como um intermezzo (depois
do canto). Até 0’10”.
Quando é a vez do grupo 2, eles improvisam o ritmo totalmente, afinal, não
chegaram num acordo total. Porém, respeitam a ordem (chocalho – clavas) e
o fato de a clava realizar apenas 1 batida. Tocam 2 vezes seguidas.
Vídeo ZOOM 0036
Vídeo curto onde o grupo 3 discute sobre a criação que estão fazendo.
Tentam tocar juntos, mas sem uma ordem sonora, simplesmente batucam
juntos. Lu. diz “Nossa, tá tudo errado!”
Em seguida, ele tenta organizar, mas os meninos não param de tocar. L. o
interrompe dizendo “Eu falo já!” Então Lu. se irrita pois não consegue falar e
chama atenção de L. dizendo que não é só ele que manda!
Combinam uma ordem de instrumentos e tocam sem muita preocupação com
a estética. Às vezes olham para a câmera. Estão empolgados, mas não dá
para saber se é uma empolgação genuína ou feita para aparecer...
- Fatores que impossibilitam o fluxo: disputa por liderança, agitação, barulho.
AULA 05 – 24/10
Vídeo Aula 5 – 1
Profª e alunos realizam um exercício rítmico corporal a fim de estimular a
concentração, que todos fazem juntos, imitando. A profª explica o esquema 86-4-2-1 e realizam novamente, agora contando mentalmente. A tendência de
acelerar é forte!
Vídeo Aula 5 – 2
Realizam a última vez da totalidade da música “Dança Alemã”, com pares.
Alguns meninos levam mais na brincadeira e perdem a concentração.
Vídeo Aula 5 – 3
Canção “Taquaras” revisão da atividade. A profª interpreta a canção, e todos
desta vez prestam atenção, sem realizarem gritos ou risos histéricos. Lu. é
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um dos que mais se envolvem, dançando, sorrindo, imitando os gestos da
profª, mantendo o olhar fixo, em 2’ diz “Isso foi muito legal tia!”
As 3 meninas também estão atentas, mas compartilham entre si sorrisos e
aprovação, batem palmas na parte mais rítmica da música (0’42” à 0’55”).
J., apesar da alegria, ainda está disperso, se movimenta bastante, olha e
conversa com Lg., deita no chão, ri alto...
Vídeo Aula 5 – 4
Primeira vez em pé de “Dança Alemã”. Parecem se divertir bastante, rindo e
realizando os movimentos com prazer. Imitam a movimentação e até as
expressões faciais da profª. Apesar de ser a 1ª vez em pé, executam o ritmo
até que bem, sem muitos erros. Y. continua apresentando dificuldade rítmica,
ri tanto que se desconcentra do corpo.
Vídeo Aula 5 – 6
“Taquaras” - filmado de outro ângulo.
- Br.: olha fixamente para a profª, mas não esboça reação tanto quanto seus
colegas. É intrigante... não dá para saber se ri genuinamente ou para se
encaixar no grupo, pois quando ri sempre procura o olhar dos colegas, exceto
pelo final.
- Lg.: interage cantando, mas procura sempre a interação com colegas,
especialmente com J. Perde a surpresa porque está cantando para as
meninas.
- J.: idem Lg., mas se movimenta mais, deita no chão, parece se divertir
bastante.
- Lc.: sempre atento à profª, mantém o olhar fixo. Interage cantando e
realizando gestos expressivos, às vezes imita a profª.
Vídeo MOV 03891
Expressão vocal e corporal: “O rei tem orelhas de burro!” em seguida um
alongamento. Em 1’34” começa o exercício com movimentos em sequencia:
joelhos, ombros, estalos, cabeça (silêncio) – 8-6-4-2-1
Rf. parece logo compreender o padrão.
Todos fazem junto com a profª bem atentos.
Vídeo MOV 03899
Câmera boa! 1ª vez: I. e Ju.; Rf. e Lc.; Y. e Lg. “Dança Alemã” com
movimentação em pares.
Parte A: todos muito atentos e sérios, executam o ritmo e os movimentos
perfeitamente.
Parte B: aqui o ritmo não sai perfeito, o que é normal para a 1ª vez com
colegas, riem, procuram o modelo da profª. A interação com o colega deixa
tudo mais difícil e engraçado.
Em 0’22” I. e Ju. tentam manter o ritmo, comunicação visual da Ju. muito
legal!
Rf. e Lc: comunicação visual dos dois muito sincronizada! Estão concentrados
e se divertindo, executam o ritmo muito bem, apesar de uns errinhos devido
às frases.
Y. e Lg: estão fora do ritmo e batem palmas tão forte que se empurram. Não
atentam para os finais das frases, mas parecem se divertir...
126
Ao retomar a parte A todos voltam a se concentrar.
- A interação com o colega, neste caso não contribui para a concentração.
Vídeo SDC 15759
“Dança Alemã” em pé, mas sem pares. Alunos se divertem bastante. J. nem
espera a música acabar para pedir de novo!
Vídeo SDC 15761
2ª vez de “Dança Alemã”, agora com pares. Em 1º plano temos L. e Lu. L.
segue um padrão só dele, impossível de entrar no ritmo com Lu. Atrás deles
vemos Rf e Lc que conseguem uma performance satisfatória.
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ANEXO A – Letra da canção ‘Taquaras’
TAQUARAS
(Palavra Cantada)
Cada vez que eu lembro chego a estremecer
Todo aquele esforço para adormecer
Quando a minha porta começou a ranger
Tinham me avisado o que ia acontecer
Pus os cobertores para me esconder
E eu nem respirava para não me mexer
Contra os seres finos e compridos, parecidos
E eu ali todo encolhido
E com medo de morrer.
São taquaras, são taquaras!
- Um monte de taquaras!
Quatrocentas mil taquaras
- Só tem tronco, não tem cara!
Só tem tronco, não tem cara
Cada vez que lembro tento me benzer
(do Pai, do Filho e do Espírito Santo)
Passam pelos quartos ao escurecer
Nunca agente sabe o que elas vão fazer
Cada vez que lembro chego a estremecer
Nunca a gente sabe o que elas vão fazer!
São taquaras, são taquaras!
- Não sei quantas mil taquaras!
Quatrocentas mil taquaras
- Putz! Só tem tronco, não tem cara!
Só tem tronco não tem cara
Cada vez que eu lembro chego a me benzer
São taquaras, são taquaras!
Passam pelos quartos ao escurecer
Nunca a agente sabe o que elas vão fazer.
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ANEXO B – Gráficos das avaliações dos juízes externos
AULA 01 – Atividade de apreciação 1
AULA 01 – Atividade de execução
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AULA 02 – Atividade de apreciação 1
AULA 02 – Atividade de execução 1
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AULA 02 – Atividade de execução 2
AULA 03 – Atividade de execução 1 (canto coletivo)
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AULA 03 – Atividade de execução 2
AULA 03 – Atividade de execução 3
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AULA 04 – Atividade de improvisação (exercícios rítmicos)
AULA 04 – Atividade de composição – grupo 1
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AULA 04 – Atividade de composição – grupo 2
AULA 04 – Atividade de composição – grupo 3
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AULA 05 – Atividade de apreciação musical ativa