OPEN ACCESS
LETRAS DE HOJE
Studies and debates in linguistics, literature and Portuguese language
Letras de hoje Porto Alegre, v. 56, n. 3, p. 395-404, set.-dez. 2021
e-ISSN: 1984-7726 | ISSN-L: 0101-3335
http://dx.doi.org/10.15448/1984-7726.2021.3.42530
SEÇÃO: EDITORIAL
A proposta dialógica do Círculo bakhtiniano
The dialogical proposal of the Bakhtinian Circle
La propuesta dialógica del Círculo Bakhtiniano
Glória Di Fanti1
orcid.org/0000-0002-5399-5377
gloria.difanti@pucrs.br
Os Estudos Bakhtinianos Contemporâneos, que dão vida a este dossiê, nos convocam a abordar, dentre outras possibilidades de temas, a
proposta dialógica desenvolvida por Bakhtin e o Círculo, considerando
Luciane de Paula2
orcid.org/0000-0003-1727-0376
lucianedepaula1@gmail.com
a sua centralidade no conjunto do referencial teórico-metodológico
mobilizado neste volume da revista Letras de Hoje. Para tanto, buscamos
responder à seguinte questão: Que particularidades a dialogia convoca
para refletirmos sobre as contribuições do pensamento bakhtiniano para
Luciano Ponzio3
orcid.org/0000-0001-9405-7742
luciano.ponzio@unisalento.it
Recebido em: 30/12/2021.
Aprovado em: 30/12/2021.
Publicado em: 10/02/2022.
as pesquisas na contemporaneidade?
A primeira particularidade a que recorremos diz respeito à constituição dialógica orgânica do pensamento do chamado Círculo de Bakhtin.
Embora se tenha ciência de que a designação Círculo de Bakhtin tenha sido atribuída por pesquisadores contemporâneos a um grupo de
intelectuais de variadas áreas do conhecimento (filosofia, linguagem,
literatura, música, arte etc.4) que se reuniam na Rússia entre 1919 e 1929,5
entendemos que podemos expandir essa compreensão, especialmente
ao tratarmos dos representantes dos estudos da linguagem: Mikhail
Bakhtin (1895-1975), Valentin Volóchinov (1895-1936) e Pavel Medviédev
(1891-1938), em diálogo com seus parceiros de discussão – Jakubinskij
(2015), professor de Volóchinov e com quem este dialogou fortemente,
especialmente, ao que se refere ao discurso cotidiano (“a fala dialogal”
(JAKUBINSKIJ, 2015)); Sollertinskij (2015), que, com Volóchinov (2019),
volta-se à música e, em conjunto com Medviédev (2012), em união à
literatura e ao teatro, volta-se à opera, entre outros tantos exemplos.
Artigo está licenciado sob forma de uma licença
Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, RS, Brasil.
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Assis, São Paulo, SP, Brasil.
3
Università del Salento, Lecce, Italia.
4
Paula e Staffuza (2010) fazem essa discussão no prefácio da Série Bakhtin Inclassificável, que organizam, e Paula e Luciano (2020a)
se voltam à discussão do que Vauthier (2010) designa como “Círculo B. M. V.” e da reflexão realizada por Medviédev e Medviédeva (2014)
acerca do que denominam como “coletivo pensante”, tendo em vista a recepção brasileira, a relação da publicação das obras na Rússia e
sua divulgação, a fim de demonstrar o quanto, mesmo depois dos anos 30, nas produções ditas maduras especificamente de Bakhtin, a
construção da proposta do pensamento epistemológico do Círculo russo ocorre de maneira coletiva, dados os embriões das discussões
travadas em conjunto, entre os anos 20 e 30.
5
Na Itália, a maioria das obras do Círculo bakhtiniano foram reunidas em um único volume (Bachtin e il suo Circolo, 2014), organizado por
Augusto e Luciano Ponzio, uma publicação bilíngue, com texto original em russo à frente, seguido da tradução em italiano.
1
2
396
Letras de hoje Porto Alegre, v. 56, n. 3, p. 395-404, set.-dez. 2021 | e-42530
Seguindo a obra desses pensadores, observamos que diferentes noções, cunhadas em distin-
entre outros pensadores, sem nos limitarmos à
obra estrita de Bakhtin.
tas épocas, constituem-se em diálogo incessante,
A segunda particularidade que convoca a
o que permite percebermos aproximações e
nossa reflexão refere-se à compreensão do diálo-
distanciamentos no conjunto do referencial teó-
go como constitutivo do enunciado, do discurso,
rico. Essa perspectiva pode ser verificada, dentre
não restrito ao contato face a face e à busca de
outras ocorrências, por exemplo, no conceito de
concordância de posições. Volóchinov (2017, p.
gêneros do discurso, desenvolvido por Medvi-
219), em Marxismo e filosofia da linguagem, chama
édev (2012), Volóchinov (2017) e Bakhtin (1988,
a atenção para o entendimento do diálogo “como
2010a, 2015, 2016, 2017, 2018).
qualquer comunicação discursiva, independente-
6
Sob esse enfoque, ainda que os encontros
mente do tipo” em que se organiza, já que todo
do grupo tenham cessado no final dos anos de
enunciado é apenas um momento, um elo dessa
1920, suas ideias foram refletidas e refratadas nos
comunicação ininterrupta, que responde a enun-
trabalhos seguintes, assinados por Bakhtin, seja
ciados anteriores e antecipa respostas. O discurso
de maneira a confirmar as concepções gestadas
verbal impresso, por exemplo, “participa de uma
nos anos iniciais, seja em confronto ou ampliação
espécie de discussão ideológica em grande es-
delas, sempre em resposta, de maneira dialógica.
cala: responde, refuta ou confirma algo, antecipa
Podemos falar em uma mentalidade pensante
respostas e críticas possíveis, busca apoio e assim
que vai além da assinatura de um autor-pessoa,
por diante” (VOLÓCHINOV, 2017, p. 219).
dada a circunstância da coletividade, da respon-
Nessa direção, Medviédev (2012), em O método
dibilidade (responsividade e responsabilidade) e
formal nos estudos literários, observa que os enun-
da proposta filosófica de dialogicidade, fundada
ciados são criados no processo da comunicação
no materialismo histórico-dialético, fincado na
social e participantes do diálogo e da criação
materialidade (e não no mundo ideal platônico,
ideológica. O estudo de todo enunciado, como
hegeliano ou kantiano).
é o caso da obra de arte, deve contemplar os
Por isso, é possível entendermos como do
variados elos que o constituem.
Círculo de Bakhtin as produções que extrapolam
Seguindo essa discussão, Bakhtin (2015, p. 52),
o período dos encontros presenciais, indepen-
em O discurso no romance, critica o estudo do
dentemente da data de escrita e de publica-
diálogo exclusivamente como uma forma com-
ção, já que o pensamento do grupo continuou
posicional sem considerar a dialogicidade interna
a ressoar, por exemplo, nas reflexões filosóficas
do discurso, que “penetra toda a sua estrutura,
sobre as questões de linguagem, gêneros dis-
todas as camadas dos seus sentidos e de sua
cursivos e interações discursivas. O fato de o
expressão”. Por essa compreensão, “o discurso
nome de Bakhtin se destacar não significa que
surge no diálogo como sua réplica viva, forma-se
ele seja expoente maior ou superior aos demais,
na interação dinâmica com o discurso do outro no
mas, por ter vivido mais, acabou tendo maior
objeto”, pois a própria “concepção do seu objeto
visibilidade, de um pensamento coletivo que
pelo discurso é dialógica” (BAKHTIN, 2015, p. 52).7
o constitui e o transcende. Nessa perspectiva,
Todo discurso, ao mesmo tempo, responde a já
também compreendemos como Teoria Bakhti-
ditos, provoca respostas e antecipa-as, construin-
niana, Filosofia Bakhtiniana, Análise Dialógica do
do-se em inter-relação a outros discursos.
Discurso (ADD) e Estudos Bakhtinianos, dentre
Há, por conseguinte, diferentes relações dialó-
outras variações terminológicas, o conjunto da
gicas, que, como explica Bakhtin (2010a, p. 210),
produção de Bakhtin, Volóchinov e Medviédev,
em Problemas da poética de Dostoiévski, “são
Barbosa e Di Fanti (2020) propõem uma reflexão sobre a noção de gêneros do discurso, considerando a produção do Círculo para
além da escrita individual de Bakhtin em Os gêneros do discurso (2016). A reflexão contempla questões fundamentais, como enunciado,
esfera de atividade humana e ideologia, cunhadas pelos diferentes autores.
7
Os grifos das citações são dos autores consultados.
6
Glória Di Fanti • Luciane de Paula • Luciano Ponzio
A proposta dialógica do Círculo bakhtiniano
397
possíveis não apenas entre enunciações integrais
estuda Volóchinov, em ensaios como: “Que é
(relativamente), mas o enfoque dialógico é pos-
linguagem?” e “A construção da enunciação”,
sível a qualquer parte significante do enunciado,
ambos nas edições de 2013 e 2019) base dessa
inclusive a uma palavra isolada”, desde que ela
proposta.
se instaure “como signo da posição semântica de
O diálogo constitui a linguagem, e o ser se
um outro, como representante do enunciado de
expressa por meio dela. Assim, os sujeitos são
um outro, ou seja, se ouvimos nela a voz do outro”
compreendidos como sujeitos de linguagem,
(BAKHTIN, 2010a, p. 210). Os múltiplos diálogos
que refletem e refratam determinadas facetas,
estabelecidos são da natureza do discurso, o
posicionamentos, do ser humano, por meio da
que significa diferentes e tensas relações de
concretização do embate entre vozes sociais (no
sentido com a palavra do outro, que convocam
mínimo, bivocais polêmicas). Logo, o diálogo se
o olhar do pesquisador para a compreensão da
instaura entre enunciados, já que os sujeitos se
construção dos sentidos.
inscrevem ativamente pela e na linguagem.
8
O diálogo face a face é, então, uma das pos-
Ainda que a linguagem verbal seja privilegiada
sibilidades (privilegiada, é fato, como admite
na proposta do Círculo “B.M.V.” (VAUTHIER, 2010),
Volóchinov, Jakubinskij e o próprio Bakhtin) de
ela não restringe ou exclui as demais semioses.
expressão material enunciativa. Contudo, ao
Ao contrário. Tanto os integrantes do Círculo
tratarmos dessa concepção, do ponto de vista
estudam as linguagens específicas em diálogo,
dos estudos bakhtinianos, não nos referimos à
quanto o contexto russo e as vanguardas do início
noção non sense de “conversa”. Pode ser, também,
do século XX privilegiam a sinestesia dialógica
isso, mas não só. O diálogo a que nos referimos
entre semioses. Bakhtin (2011) aborda a linguagem
é embate entre vozes sociais em determinado
como potência da consciência (cognoscível) que
discurso (seja ele de que material for – verbal,
constitui o signo (como plano da expressão e
não-verbal ou sincrético9), como resposta ética
plano do conteúdo, caracterizados, respectiva-
e responsável valorativa (de concordância e/ou
mente, como forma composicional e conteúdo
discordância, parcial ou total), expressa pelos
temático), marcado pelo estilo (autoral e genérico)
sujeitos (eu e outro) em interação viva. Afinal,
que explicita posicionamentos valorativos (ideo-
como afirma Volóchinov: “Na realidade, nunca
lógicos) de sujeitos situados em tempo-espaço
pronunciamos ou ouvimos palavras, mas ouvimos
específicos e que especifica os códigos materiais
uma verdade ou mentira, algo bom ou mal, rele-
de cada sistema. Tais particularidades compõem
vante ou irrelevante, agradável ou desagradável
dimensões dessa linguagem potencial, com suas
e assim por diante” (2017, p. 177).
características estruturais próprias (verbal, visual,
Por meio do embate crítico ao “objetivismo
vocal ou sincrética).
abstrato” e ao “subjetivismo individualista” tra-
Essa linguagem viva, seja qual for o gênero,
vado, especificamente, por Volóchinov (2017) e
é sempre dialógica (ou, como diria Volóchinov
Medviédev (2012), o signo é assumido incluindo o
(2017), mesmo o monólogo solitário é dialógico),
ser humano, a história e a ideologia, uma vez que
pois responde a outros, mais ou menos imedia-
a linguagem é encarada como “organismo vivo”,
tos (no pequeno e no grande tempo da cultura)
em ato interativo. Nesse sentido, o enunciado (e
(BAKHTIN, 2018). Nesse sentido, dialogia e po-
não o lexema, o tópico frasal ou o texto fechado
lifonia não são coincidentes. Se todo discurso é
em si mesmo) é a unidade de análise (conforme
dialógico, nem todo discurso é polifônico, uma
10
O termo palavra pode ser compreendido, como explicita Volóchinov (2013), como discurso.
Sobre a concretização explícita dessas dimensões e sobre a constituição tridimensional da linguagem como “potencial linguagem
das linguagens única” (BAKHTIN, 2011, p. 311), ler Paula (2017), Paula e Serni (2017) e Paula e Luciano (2020b, 2020c, 2020d, 2020e, 2021).
10
Como explica Paulo Bezerra em nota de rodapé, o termo russo para enunciado e enunciação é o mesmo (высказывание [vyskázyvanie]), que tem a ideia, ao mesmo tempo, de produto e processo. Como o Círculo se volta à concretude da linguagem, utilizamos aqui,
sempre, enunciado.
8
9
398
Letras de hoje Porto Alegre, v. 56, n. 3, p. 395-404, set.-dez. 2021 | e-42530
vez que a polifonia, na visão de Bakhtin (2010a),
exotopia e contribui para refletirmos sobre um
demanda condições imprescindíveis (imiscibilida-
outro percurso epistemológico e metodológico
de, equipolência e plenivalência), sem as quais,
de pesquisa).
a autonomia das vozes sociais fica prejudicada
Para pensarmos as relações dialógicas entre
e a polifonia plena não ocorre (dada a orques-
os sujeitos, por meio dos enunciados, conside-
tração assumida pelo narrador ou pelo próprio
ramos, como explica Geraldi (2010), as seguintes
autor-criador de um enunciado).
características constituintes dos sujeitos para o
Tratar das relações entre vozes sociais deman-
Círculo: a responsabilidade, a consciência, a res-
da, em consonância, que passemos a discorrer
ponsividade, a temporalidade e a espacialidade.
sobre a terceira particularidade que a dialogia
Essas características também podem ser consi-
suscita, qual seja, o diálogo constitutivo entre os
deradas típicas do enunciado e da linguagem, de
sujeitos. A noção de diálogo reforça a perspecti-
maneira ampla. Consideramos o “eu” e o “outro”
va social da linguagem, uma vez que o diálogo
centros de valores diferentes porque posiciona-
ocorre de maneira ativa na interação enunciativa
dos num tempo e num espaço específicos.12 Essa
entre os sujeitos, socialmente constituídos. Para
singularidade de cada um colocada em jogo (em
o Círculo bakhtiniano, o sujeito é, no mínimo, dois
movimento) arranja o embate de vozes sociais,
(ou, nas palavras de Bakhtin (2010a, p. 223): “Uma
com os pontos de vista de cada um, em torno dos
só voz nada termina e nada resolve. Duas vozes
quais as forças centrífugas e centrípetas agem
são o mínimo de vida, o mínimo de existência”):
e as sociedades se revelam (BAKHTIN, 2010b).
eu e outro (ou, como entende Bakhtin (2010b):
A responsividade é outra (a quarta) particula-
“eu-para-mim”, “eu-para-o-outro”, “outro-para-
ridade das relações dialógicas propostas como
-mim”), que atuam, na comunicação discursiva,
filosofia da linguagem por Bakhtin e o Círculo.
em uma via de mão dupla, em que se alteram
Como já temos mencionado, todo enunciado
mutuamente (em um jogo dialético-dialógico)
suscita e é prenhe de resposta. A corrente dis-
e assumem, ao mesmo tempo, dupla função:
cursiva ativa da comunicação impele respostas e
a de fala e a de escuta ativa, em movimento
essa é a responsabilidade dos sujeitos. Quanto a
(interno e/ou externo). A alteridade estrutura a
isso, eles são “sem álibi da existência” (BAKHTIN,
consciência como centro de sentidos e valores
2010b), uma vez que mesmo a não-resposta é, já,
de uma cultura ao longo da história. Assim, em
concretamente, uma resposta. Movimentamo-nos
relação dialógica, sujeitos e culturas se formam
pela linguagem em relação a, em diálogo com.
e se transformam.
Só conseguimos caracterizar um gênero e um
Se, em outras perspectivas e epistemes, como
enunciado na relação que ele possui com outro,
a psicanálise freudiana, por exemplo, a identida-
a partir de suas características fundantes: forma
de é o foco para pensarmos a constituição do
composicional, conteúdo temático e estilo, num
sujeito, a abordagem bakhtiniana se centra na
determinado tempo-espaço específico (peque-
alteridade (no outro),11 sem se esquecer do “eu”,
no e grande tempo), arquitetado por um sujeito
colocando essas duas fontes em movimento
específico, que reflete e refrata dada voz social.
dialógico. Esse deslocamento para o outro marca
Ou, como afirma Bakhtin:
uma peculiaridade dos estudos bakhtinianos, que
concebem o outro não como mero receptor, mas
como sujeito tão ativo quanto o “eu”, que o altera
e atribui acabamento, dado o seu excedente
de visão (o que dá visibilidade à concepção de
[...] um texto só tem vida contatando com outro
texto (contexto). Só no ponto desse contato
de textos eclode a luz que ilumina retrospectiva e prospectivamente, fazendo dado texto
comungar no diálogo. Salientemos que esse
contato é um contato dialógico entre textos
A temática da alteridade foi abordada também em um Seminário Internacional sobre Mikhail Bakhtin, organizado por Luciano Ponzio
na Università del Salento, em Lecce, na Itália, em 2019, com a participação de professoras e professores das universidades italianas e
brasileiras. Desse Seminário, resultou uma publicação específica sobre a temática (PONZIO, 2020).
12
Di Fanti (2020), em “Notas sobre a alteridade em Bakhtin”, discute a relação eu e outro em diferentes obras de Bakhtin.
11
Glória Di Fanti • Luciane de Paula • Luciano Ponzio
A proposta dialógica do Círculo bakhtiniano
(enunciados) e não um contato mecânico de
“oposição” (2017, p. 67).
Essa ideia de contato como construção constitutiva da linguagem e do sujeito nos leva à quinta
particularidade das relações dialógicas propostas
pelo Círculo: o inacabamento. Tanto o enunciado
quanto o sujeito não são acabados, de acordo
com a perspectiva do Círculo. Eles possuem acabamento, dado pelo excedente de visão do outro,
mas não são acabados/finalizados, pois abertos
ao diálogo, a partir do ponto de vista que os excede, os constituem e para os quais se voltam
(respondem): “não posso viver do meu próprio
acabamento e do acabamento do acontecimento,
nem agir; para viver preciso ser inacabado, aberto
para mim” (BAKHTIN, 2011, p. 11).
O sujeito “eu” é inacabado porque incompleto.
Ele precisa, irremediavelmente, do outro, seu
“espelho” (BAKHTIN, 2019) – representação refletida e refratada de sentidos e valores. Afinal,
como afirma Bakhtin (2019, p. 51), “não sou eu que
olho o mundo de dentro com os meus próprios
olhos, mas sou eu que olho a mim mesmo com
os olhos do mundo, com os olhos alheios; eu
sou possuído por um outro”. Nesse sentido, o
acabamento é sempre provisório, pois depende
da relação dialógica estabelecida (entre enunciados e sujeitos, que se constituem mutuamente).
Ao considerarmos essas cinco particularidades composicionais da proposição filosófica da
dialogia bakhtiniana e pensarmos em sua produção, desenvolvida na Rússia de 1919 a 1975,
precisamos considerar a singularidade desse
pensamento em seu contexto histórico-cultural e os desdobramentos de seus estudos em
outras culturas e áreas no decorrer do tempo,
o que nos remete à sexta particularidade do
dialogismo como proposição de uma ciência
outra (heterociência) e todo esse processo nos
levou a este dossiê temático, em que reunimos
publicações de diversos pesquisadores, brasileiros e estrangeiros, em diálogo, pensando sobre
399
a filosofia da linguagem como concebida pelo
“coletivo pensante” (MEDVIÉDEV; MEDIÉDEVA,
2014), conhecido como “Círculo de Bakhtin” ou,
como denomina Vauthier (2010), “Círculo B.M.V.”.
O contato com as obras do Círculo ocorreu de
maneiras diversas em países e áreas variadas.
Podemos pensar em períodos de recepção e
interpretação da proposta dialógica, a depender
da cultura. Como não temos espaço aqui para
fazermos uma reflexão historiográfica aprofundada, não adentraremos nessa discussão. Apenas
citamos a variedade de abordagens por áreas e
culturas para pensarmos o quanto o pensamento
do Círculo impulsiona investigações plurais. Apenas à guisa de ilustração: se, nos países de cultura
e língua inglesa, o pensamento bakhtiniano tem
uma contribuição significativa e é incorporado
aos estudos culturais, na França e na Alemanha,
os estudos filológicos, historiográficos e literários
se apropriam dos estudos bakhtinianos de maneiras distintas, e, na Itália, a relação da proposta
bakhtiniana à semiótica é expressiva.13
No Brasil, a dialogia bakhtiniana circula por
diferentes áreas e, mesmo dentro de uma única,
ela se apresenta fértil a várias abordagens, desde
os anos de 1970. Na educação, a questão dos
gêneros discursivos adentrou documentos oficiais
e estudos diversos; na literatura, a carnavalização
e a polifonia são muito exploradas; na linguística,
há variedades de interpretações e mesmo de
nomenclatura para os estudos bakhtinianos, a
depender da vertente de apropriação – alguns
os caracterizam como filosofia da linguagem; outros, como estudos bakhtinianos; e outros como
“Análise Dialógica do Discurso”, como cunhado
por Brait (2006); entre outras designações.
Independentemente da classificação, uma
questão une todas as perspectivas: as relações
dialógicas, com suas particularidades, como temos
abordado aqui. A plurissignificação não se restringe
apenas à linguagem, mas também à(s) faceta(s)
e ao(s) autor(es) estudado(s). Há quem privilegie
os estudos mais sociológicos, adentrando mais
Desde 1975, na Itália, o filósofo Augusto Ponzio, considerado um dos maiores especialistas em Bakhtin, trabalha para a difusão do
pensamento de Mikhail Bakhtin na área da semiótica e da filosofia da linguagem. Um dos primeiros livros traduzidos no Brasil e que sintetiza parte de seu trabalho foi publicado pela Editora Contexto, em 2008, sob o título A revolução bakhtiniana, com Apresentação de João
Wanderley Geraldi, Coordenação de tradução de Valdemir Miotello e Posfácio à edição brasileira de autoria do próprio Augusto Ponzio.
13
400
Letras de hoje Porto Alegre, v. 56, n. 3, p. 395-404, set.-dez. 2021 | e-42530
profundamente nos escritos de Volóchinov; há
uma reflexão sobre metodologia de análise para
aqueles que se voltam, com maior afinco, aos
pesquisa em Ciência Humanas, articulando ver-
escritos de Bakhtin sobre literatura; há quem
ticalidade e horizontalidade de pesquisa a partir
considere as singularidades autorais e há aque-
do escopo bakhtiniano. A autora busca pensar
les que preferem pensar na proposição coletiva
sobre o cruzamento de direções, profundidade
do Círculo, como temos feito aqui. Muitos são os
e abrangência, singularidades e generalizações.
diálogos e as entradas possíveis. Não somos pres-
Em seguida, Virginia Orlando, em “Los primeros
critivas ou excludentes, pois a riqueza se encontra
cien años del legado dialogista: aprendizajes y re-
justamente no diálogo colaborativo entre áreas,
consideraciones”, volta-se aos últimos vinte anos
grupos, pesquisadores, culturas, traduções etc.
de estudos sobre os escritos bakhtinianos, tendo
A indagação que nos norteou a organizar este
em vista três questões: ajustes nas traduções,
número se pautou nos desdobramentos da pro-
questões de autoria e também interpretações
posição bakhtiniana, sem perder de vista sua sin-
sobre o dialogismo.
gularidade epistemológica. Assim, a pergunta que
Em “Sollertinskij, tra eredità e (ri)scoperta: Genesi
nos fizemos para esta organização foi a seguinte:
e sviluppo del pensiero tripartitico e de-totalizzan-
ainda há contribuições a serem desenvolvidas na
te”, Samuel Manzoni reflete acerca dos estudos de
contemporaneidade, a partir da proposta dialógica
Sollertinsij, relacionados à música, em diálogo com
bakhtiniana? Os artigos aqui reunidos nos mostram
Bakhtin, e a influência deste na composição de
que sim, ainda há muito para pensarmos a partir
Shostakovich, considerando o contexto soviético
de Bakhtin e o Círculo, com as peculiaridades de
de produção e ponderando sobre o ineditismo de
nosso tempo-espaço, em diálogo com o que já
se pensar esses autores hoje.
tem sido feito, com outras culturas e entre áreas.
No quarto artigo, intitulado “As noções bakh-
Ficamos felizes com a adesão à nossa propos-
tinianas de linguagem e enunciado”, Luciane de
ta e recebemos muitas contribuições, a ponto
Paula e José Antonio Rodrigues Luciano se voltam
de dividirmos nossa chamada em dois números
a esses dois conceitos (linguagem e enunciado)
temáticos, em duas revistas diferentes. Sem hie-
bakhtinianos para compreender como o Círculo
rarquizações, tanto este dossiê da Letras de Hoje
elabora e delimita essas concepções; e conce-
(v. 56, n. 3, 2021) quanto o número especial da
ber uma ontologia capaz de refletir acerca da
Letrônica (v. 14, n. suplementar, 2021) compõem,
existência humana, como acabamento provisório
juntos, o conjunto de manuscritos aprovados do
do mundo. Os autores tratam da relevância e da
montante recebido. Este número da Letras de Hoje
pertinência da filosofia da linguagem bakhtiniana
está constituído por 25 colaborações, sendo 24
como aporte para análises de enunciados visuais,
artigos e 1 entrevista.
vocais/sonoros e/ou sincréticos na contempo-
A disposição dos textos seguiu o critério de
raneidade.
desenvolvimento de propostas mais teóricas e
Depois, Francisco Rogiellyson da Silva Andra-
mais analíticas, e os manuscritos foram agrupa-
de, Flavia Hatsumi Izumida Andrade e Pollyanne
dos por temáticas. Não consideramos localização
Bicalho analisam, em “Enunciado e ideologia em
geográfica, gênero, raça ou experiência dos/das
tirinhas da personagem Rã Zinza no contexto
autores/autoras, uma vez que todos têm muito a
pandêmico: uma análise dialógica do discurso”,
dizer e a ouvir ativamente e apresentam relevan-
valorações polarizadas mobilizadas sobre a pan-
tes contribuições. Assim, não houve uma hierar-
demia do coronavírus no Brasil, o que exemplifica
quização valorativa entre os textos, apenas uma
a discussão sobre signo ideológico e vozes sociais.
distribuição conforme os critérios mencionados.
Em “O estudo dialógico da valoração”, Rodrigo
O primeiro artigo, “Verticalização e horizonta-
Acosta Pereira e Fernando Gregol elaboram uma
lização em pesquisas em Ciências Humanas”, de
escrita metalinguística em que discorrem sobre
Maria Tereza Rangell Arruda Campos, apresenta
a concepção de valoração para o Círculo em
Glória Di Fanti • Luciane de Paula • Luciano Ponzio
A proposta dialógica do Círculo bakhtiniano
401
interação com outros conceitos, como ideologia,
urgente no artigo “Contribuições bakhtinianas
cronotopo e esfera da atividade, tendo em vista
para um feminismo dialógico”, no qual observam
a proposição dialógica dos pensadores russos.
que conceitos como diálogo, heterodiscurso,
O texto de Juan Silva e Maria da Penha Casado
posições axiológicas, ato ético, alteridade e ex-
Alves, “A identidade na vida e a identidade na arte:
cedente de visão, elaborados pelo Círculo, contri-
um panorama identitário nas obras de Bakhtin”,
buem para a concepção ativa teórico-prática de
por sua vez, apresenta uma investigação sobre a
feminismo dialógico, potencializando a promoção
identidade, entendida como categoria filosófica,
de espaços democráticos plurais.
na obra de Bakhtin e do Círculo, relacionada aos
estudos de cronotopo, alteridade e corpo.
No décimo terceiro artigo, “Mulheres, discurso
jornalístico e política: um estudo sociodiscursivo”,
No oitavo artigo, “Palavra e Gênero: um movi-
Sofia Finguermann e Fernandes discorre sobre a
mento dialógico orquestrado por plasticidade e
representação midiática de mulheres no cenário
coercitividade”, Adriana Danielski Batista analisa o
político brasileiro, focada em reportagens de capa
funcionamento da noção de “palavra” e sua rela-
protagonizadas por figuras públicas da política
ção com os gêneros em que ela (a palavra) figura,
nacional por meio de um paralelo entre o retrato
de modo mais plástico ou mais coercitivo, tendo
de mulheres em posição de protagonismo po-
em vista a indissociabilidade desses aspectos.
lítico e a representação de mulheres em papéis
Luciano Ponzio, em “‘Meglio è di risa che di pianti
scrivere...’ Nel segno del riso come significante
coadjuvantes, refletindo sobre as valorações a
elas atribuídas.
inferenziale di rigenerazione del mondo”, volta-se
O próximo artigo, de Nádson Araújo dos San-
ao riso rabelesiano e reflete sobre o seu aspecto
tos, Wilton Petrus e Rosana Pugina, intitulado
subversivo, centrífugo, aberto e plurissignificativo
“Sermões evangélicos e a idealização do com-
diante da seriedade compulsória centrípeta supe-
portamento feminino: uma análise bakhtiniana
restrutural do mundo e que encontra novamente
da voz do terceiro no discurso”, analisa a voz de
o seu antigo sentido nas festas agrárias russas.
autoridade do terceiro discursivo em sermões
De título “Carnavalização: contribuições para
de pastores evangélicos quanto à valoração
o estudo da estética do grotesco”, o texto de
de submissão feminina e, a partir da reflexão
Matheus Victor Silva segue a mesma linha de
apreendida, problematiza o lugar e o papel da
pensamento do anterior, focado na atualidade da
mulher na sociedade, assim como reflete acerca
discussão de Bakhtin acerca da cultura popular
da importância do discurso religioso.
para os estudos da estética do grotesco. Para isso,
Ainda na esfera política, Marcos Alexandre
centra-se na festa popular e estabelece diálogo
Fernandes Rodrigues e Kelli Machado da Rosa,
com os estudos contemporâneos de Rémi Astruc.
no artigo “Signos de ódio, terror e crueldade: o
Marcus Vinicius Borges Oliveira, em “A relação
horizonte ideológico de uma organização (neo)
entre a linguagem e a memória no atendimento
cristonazifascista”, apresentam uma investigação
clínico terapêutico sob a perspectiva bakhtiniana”,
realizada no mês de março de 2021 acerca do
por sua vez, apresenta um percurso de estudos
discurso de uma organização (neo)cristonazi-
sobre a relação entre linguagem e memória, assim
fascista do Telegram, a fim de compreender o
como demonstra a relevância dessa discussão
horizonte ideológico do grupo.
hoje, tendo em vista as fronteiras entre o normal
Manassés Morais Xavier e Fábio Alves Prado
e o patológico, sobretudo ao que concerne ao
de Barros Lima, em seu texto “A revolta da va-
envelhecimento.
cina e as valorações verticalizadas na dinâmica
Maria da Glória Corrêa di Fanti, Débora Luciene
discursiva das redes sociais digitais Facebook e
Porto Boenavides e Luciane Alves Branco Martins
Instagram”, analisam publicações e comentários
apresentam uma proposição de relevância social
a essas publicações sobre a difusão e o impacto
402
Letras de hoje Porto Alegre, v. 56, n. 3, p. 395-404, set.-dez. 2021 | e-42530
das vacinas para COVID-19 no contexto brasileiro,
situado, sobre a construção da identidade e a
em enunciados do Facebook e do Instagram.
proficuidade da voz autoral nas esferas estética,
Já em “Sentidos da expressão ‘Quem lacra não
histórica e social.
lucra’ em um filme publicitário do Burguer King”,
O artigo intitulado “Citação bilíngue intermo-
Rafael Vitória Alves e Edson Carlos Romualdo
dal: o discurso citado no contexto de formação
analisam a polêmica entre vozes sociais de for-
de intérpretes de Libras-Português”, de Vinícius
ças contrárias, na esfera publicitária, por uma
Nascimento e Beth Brait, apresenta a relevante
campanha que ressignifica axiologias por meio
discussão sobre a citação bilíngue intermodal
do engajamento com a causa LGBTQIA+.
como fenômeno de linguagem contemporâneo,
No próximo artigo, “Comentários em fanfics:
promovido pelo uso simultâneo da língua brasi-
produção escrita colaborativa na internet”, Ma-
leira de sinais (Libras) e do Português brasileiro
rina Mendonça e Marina Lara se voltam à noção
em um contexto de formação de intérpretes.
de alteridade em comentários de leitores de
Patrícia Azevedo Gonçalves, em “Narrativas
fanfics e consideram a importância constitutiva
autobiográficas e escrita acadêmica: um olhar
do gênero comentário para o gênero fanfic. Com
para o autorrevelar-se em textos monográfi-
isso, contribuem com os estudos bakhtinianos de
cos do curso de Pedagogia/Educação”, discute
análises de discursos em contexto digital.
os modos de narrar, a partir da experiência de
Maria de Lourdes Rossi Remenche e Gilmar
estudantes do curso de Pedagogia/Educação,
Montargil, por sua vez, em “Camperando a lingua-
tendo em vista a inscrição autoral em textos au-
gem: práticas discursivas de streamers a partir do
tobiográficos e estratégias de distanciamento e
jogo Dead By Daylight”, centram-se na linguagem
auto-objetificação.
sociotípica de jogadores para pensarem sobre a
Por fim, este número apresenta uma seção
produção da comunicabilidade identitária em um
especial, fechando as discussões com uma en-
espaço-tempo específico (o do jogo).
trevista com Tatiana Bubnova, realizada por Na-
O vigésimo artigo, “‘O que uma criança está
than Bastos de Souza, intitulada “Cuestiones de
fazendo com uma boneca?’: reflexões dialógicas
traducción, recepción y exegesis de las obras
sobre o ato de brincar”, de Fernanda Lopes Bor-
de Bajtín y su Círculo”, em que a entrevistada
tolini, João Augusto Reich da Silva e Patrícia da
trata de questões que envolvem a tradução das
Silva Valério, analisa as valorações responsivas
obras do Círculo para o espanhol, sua recepção
advindas das relações dialógicas emergentes
e a exegese que recebeu no Ocidente.
de uma peça publicitária veiculada nas redes
Encerramos este editorial de modo aberto,
sociais no ano de 2020, que aborda a discussão
inacabado e invertido, uma vez que pensamos
sobre masculino e feminino em e para crianças.
a sua finalização como o início de outras tantas
No texto “Desigualdade social vista do alto do
possibilidades dialógicas. Afinal, ao pensarmos
morro: uma análise do rap Canção Infantil, de
na proposta bakhtiniana, a concepção de enun-
César Mc”, Mariana Passos Ramalhete e Tatia-
ciado nos vêm à tona e, como enunciado, que
na Moreira analisam as axiologias mobilizadas,
este dossiê, calcado em outros tantos enuncia-
calcadas no simbólico e no real, como forma
dos, também suscite novas-outras respostas
de visibilidade às desigualdades, centradas na
reflexivas. Afinal,
contradição entre os contos de fada e a periferia.
Alana Destri e Renata Coelho Marchezan, no
artigo “‘Observações de uma cúmplice’: análise
dialógica do discurso autobiográfico de Svetlana
Alexievich”, partem da relação entre passado nostálgico, presente aflitivo e construção de futuro
no texto em análise para refletirem, de modo
[...] antes do seu início, há os enunciados dos
outros, depois de seu fim, há os enunciados-respostas dos outros (ainda que seja como
uma compreensão responsiva ativa muda ou
como um ato-resposta baseado em determinada compreensão) (BAKHTIN, 2011, p. 294).
Glória Di Fanti • Luciane de Paula • Luciano Ponzio
A proposta dialógica do Círculo bakhtiniano
Referências
BAKHTIN, M. O homem ao espelho: apontamentos dos
anos 1940. Tradução do russo para o italiano de Augusto
Ponzio. Tradução do Italiano para o português do Brasil de
Marisol Barenco de Melo. São Carlos: Pedro & João, 2019.
BAKHTIN, M. Teoria do Romance II: As formas do tempo
e do cronotopo [1937-1939/1975]. Tradução de Paulo
Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2018.
BAKHTIN, M. Notas sobre literatura, cultura e ciências
humanas. Organização, tradução, posfácio e notas de
Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2017.
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso [1952-1953/1979].
In: BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Organização,
posfácio, tradução e notas de Paulo Bezerra. São Paulo:
Editora 34, 2016. p. 9-69.
BAKHTIN, M. O discurso no romance [1930-1936]. In:
BAKHTIN, M. Teoria do Romance I: A estilística. Tradução,
prefácio, notas e glossário de Paulo Bezerra. São Paulo:
Editora 34, 2015. p. 17-166.
BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal [1979]. Tradução e
notas de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski [1963].
Tradução, notas e prefácio de Paulo Bezerra. 5. ed. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 2010a.
BAKHTIN, M. Para uma filosofia do ato responsável [19201924/1986]. Tradução de Carlos Alberto Faraco, Valdemir
Miotello. São Carlos: Pedro & João, 2010b.
BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais [1965]. Tradução
de Yara Grateschi. São Paulo: Hucitec; Brasília: UnB, 1988.
BARBOSA, V.; DI FANTI, M. G. C. Notas sobre gêneros do
discurso em Bakhtin, Volóchinov e Medviédev. In: ROCHA, D.; DEUSDARÁ, B.; ARANTES, P.; PESSÔA, M. (org.).
Pesquisar com gêneros discursivos: interpelando mídia
e política. Rio de Janeiro: Editora Cartolina, 2020. p. 185200. Disponível em: https://www.editoracartolina.com.
br/em-discurso-04. Acesso em: 19 dez. 2021.
BRAIT, B. Análise e teoria do discurso. In: BRAIT, B. (org.).
Bakhtin: Outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto,
2006. p. 9-31.
DI FANTI, M. G. C. Notas sobre a alteridade em Bakhtin.
In: PASCHOAL, C.; CARDOSO, D.; PORTO, D. et al. (org.).
Círculo de Bakhtin: alteridade, diálogo e dialética. Porto
Alegre: Polifonia, 2020. p. 7-28. Disponível em: https://
issuu.com/editorapolifonia/docs/circulo_de_bakhtin-_alteridade__dialogo_e_dialetic. Acesso em: 19 dez. 2021.
GERALDI, J. W. Sobre a questão do sujeito. In: PAULA,
L. de; STAFUZZA, G. B. (org.). Círculo de Bakhtin – teoria
inclassificável. Campinas: Mercado de Letras, 2010. p.
279-292. (Série Bakhtin Inclassificável, v. 1).
JAKUBINSKIJ, L. Sobre a fala dialogal [1923]. Tradução
de Dóris de Arruda C. da Cunha, Suzana Leite Corte. São
Paulo: Parábola, 2015.
MEDVIÉDEV, P. O método formal nos estudos literários.
Introdução crítica a uma poética sociológica [1928]. Tradução de Sheila Grillo, Ekaterina Américo. São Paulo:
Contexto, 2012.
403
MEDVIÉDEV, I. P.; MEDVIÉDEVA, D. A. O Círculo de M.
M. Bakhtin: sobre a fundamentação de um fenômeno.
Bakhtiniana, [S. l.], v. 9, p. 26-46, jun. 2014. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/bakhtiniana/article/view/11535.
Acesso em: 19 dez 2021.
PAULA, L. de. O enunciado verbivocovisual de animação:
a valoração do “amor verdadeiro” Disney - uma análise
de Frozen. In: FERNANDES JR, A.; STAFUZZA, G. B. (org.).
Discursividades contemporâneas: política, corpo, diálogo.
Campinas: Mercado de Letras, 2017. p. 287-314.
PAULA, L. de; LUCIANO, J. A. R. Recepções do pensamento bakhtiniano no Ocidente: a verbivocovisualidade
no Brasil. In: BUTURI JR, A.; BRAGA, S.; SOARES, T. B. No
campo discursivo: teoria e análise. Campinas: Pontes,
2020a. p. 133-166.
PAULA, L. de; LUCIANO, J. A. R. Filosofia da Linguagem
Bakhtiniana: concepção verbivocovisual. Revista Diálogos,
Cuiabá, v. 8, n. 3, p. 132-151, 2020b. Disponível em: https://
periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/revdia/article/view/10039. Acesso em: 13 dez. 2021.
PAULA, L. de; LUCIANO, J. A. R. A filosofia da linguagem
bakhtiniana e sua tridimensionalidade verbivocovisual.
Estudos Linguísticos, São Paulo, v. 49, n. 2, p. 706-722,
2020c. Disponível em: https://revistadogel.emnuvens.
com.br/estudos-linguisticos/article/view/269. Acesso
em: 12 dez. 2021.
PAULA, L. de; LUCIANO, J. A. R. A tridimensionalidade verbivocovisual da linguagem bakhtiniana. Linha D’Água, São
Paulo, v. 33, n. 3, p. 105-134, 2020d. Disponível em: https://
www.revistas.usp.br/linhadagua/article/view/171296.
Acesso em: 6 dez. 2021.
PAULA, L. de; LUCIANO, J. A. R. Dialogismo verbivocovisual: uma proposta bakhtiniana. Polifonia, Cuiabá, v.
27 n. 49, p. 15-46, 2020e. Disponível em: https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/polifonia/article/
view/11366. Acesso em: 4 dez. 2021.
PAULA, L. de; LUCIANO, J. A. R. The Verbivocovisual Architectonic of the Stage La Conversione Di Un Cavallo.
Global Journal of Human Social Sciences-A - GJHSS-A,
Massachusetts – Estados Unidos, v. 21, n. 13, p. 1-13, 2021.
Disponível em: https://globaljournals.org/GJHSS_Volume21/E-Journal_GJHSS_(A)_Vol_21_Issue_13.pdf. Acesso
em: 6 dez. 2021.
PAULA, L. de; STAFUZZA, G. B. Prefácio. In: PAULA, L. de;
STAFUZZA, G. B. (org.). Círculo de Bakhtin: teoria inclassificável. Campinas: Mercado de Letras, 2010. p. 13-30.
(Série Bakhtin Inclassificável, v. 1.).
PONZIO, A. A revolução bakhtiniana: o pensamento de
Bakhtin e a ideologia contemporânea. Coordenação de
tradução Valdemir Miotello. São Paulo: Contexto, 2008.
PONZIO, A.; PONZIO, L. (org.). Bachtin e il suo Circolo. Opere
1919-1930. Traduzione italiana con testo russo a fronte;
introduzione e cura di Augusto Ponzio in collaborazione
con Luciano Ponzio. Milano: Bompiani, 2014.
PONZIO, L. (a cura di). La persistenza dell’altro. La singolarità dell’altro fuori dall’appartenenza identitaria.
Lecce: Pensa Multimedia, 2020.
404
Letras de hoje Porto Alegre, v. 56, n. 3, p. 395-404, set.-dez. 2021 | e-42530
PONZIO, L. Ícone e afiguração. Bakhtin, Malevitch, Chagall.
Tradução para o português de Guido Alberto Bonomini,
Cecília Maculan Adum, Vanessa Della Peruta. Organização
de Neiva de Souza Boeno. São Carlos: Pedro & João, 2019.
SOLLERTINSKIJ, I. I. Musica e letteratura al tempo dell’Unione Sovietica. I Quaderni di M/R/Realtá Lucca – Itália: LIM
Editrice, n. 64, 2016.
VAUTHIER, B. “Auctoridade” e tornar-se-autor: origens da
obra do “Círculo B.M.V” (Bakhtin, Medvedev, Voloshinov). In:
PAULA, L. de; STAFUZZA, G. B. (orgs.). Círculo de Bakhtin:
teoria inclassificável. Campinas: Mercado de Letras, 2010.
p. 69-114. (Série Bakhtin Inclassificável, v. 1).
VOLÓCHINOV, V. Palavra na vida e a palavra na poesia:
ensaios, artigos, resenhas e poemas. Organização, tradução, ensaio introdutório e notas de Sheila Grillo, Ekaterina
Américo. São Paulo: Editora 34, 2019.
VOLÓCHINOV, V. O problema da obra de Beethoven I
[1922]. In: VOLÓCHINOV, V. Palavra na vida e a palavra na
poesia: ensaios, artigos, resenhas e poemas. Organização,
tradução, ensaio introdutório e notas de Sheila Grillo,
Ekaterina Américo. São Paulo: Editora 34, 2019. p. 348-351.
VOLÓCHINOV, V. O problema da obra de Beethoven II
[1923]. In: VOLÓCHINOV, V. Palavra na vida e a palavra na
poesia: ensaios, artigos, resenhas e poemas. Organização,
tradução, ensaio introdutório e notas de Sheila Grillo e
Ekaterina Américo. São Paulo: Editora 34, 2019. p. 352-358.
VOLÓCHINOV, V. O Estilo do concerto [1923]. In: VOLÓCHINOV, V. Palavra na vida e a palavra na poesia: ensaios,
artigos, resenhas e poemas. Organização, tradução, ensaio
introdutório e notas de Sheila Grillo, Ekaterina Américo.
São Paulo: Editora 34, 2019. p. 359-366.
VOLÓCHINOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem:
problemas fundamentais do método sociológico na
ciência da linguagem [1929]. Tradução, notas e glossário
de Sheila Grillo, Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo:
Editora 34, 2017.
VOLÓCHINOV, V. A construção da enunciação e outros
ensaios. Organização, tradução e notas de João Wanderley
Geraldi. São Carlos: Pedro & João, 2013.
Glória Di Fanti
Doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem
(LAEL) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUCSP), em São Paulo, SP, Brasil. Professora-pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Letras da Escola
de Humanidades da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (PPGL/PUCRS), em Porto Alegre, RS,
Brasil. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.
Luciane de Paula
Doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus de
Araraquara, SP, Brasil. Professora da Universidade Estadual Paulista (UNESP); professora do Departamento
de Estudos Linguísticos, Literários e da Educação
(DELLE), da FCL Assis, UNESP – SP e do Programa de
Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa
da FCL Araraquara, UNESP – SP e do Programa de
Mestrado Profissional em Letras – ProfLetras.
Luciano Ponzio
Doutor em “Scienze letterarie, filologiche, linguistiche
e glottodidattiche”. Pesquisador RTI e Professor Titular das disciplinas “Semiotica del testo” (desde 2004)
e “Semiotica del cinema” (desde 2017) na “Facoltà di
Lettere e Filosofia, Lingue e Beni Culturali” do Dipartimento di Studi Umanistici, na Università del Salento,
Lecce (Itália). Por unanimidade obteve duas Abilitazioni
Scientifiche Nazionali (ASN) de Professor Associado na
área de “Estetica e Filosofia dei Linguaggi”, nos anos
2012 e 2016.
Endereço para correspondência
Maria da Glória Corrêa di Fanti
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Av. Ipiranga, 6.681, Prédio 8, sala 401
Partenon, 97010-082
Porto Alegre, RS, Brasil
Os textos deste artigo foram revisados pela Poá
Comunicação e submetidos para validação do(s)
autor(es) antes da publicação.