TRADUÇÃO E POESIA: ACTIVIDADES IRRECONCILIÁVEIS?
Teresa Alexandra Azevedo Pataco
Escola Superior de Tecnologia e Gestão
Instituto Politécnico de Viana do Castelo
Portugal
tpataco@estg.ipvc.pt
Sinopse
Associar tradução e poesia será, muitas vezes, sinónimo de enfrentar
preconceitos académicos e científicos muito enraizados na cultura ocidental. Se, por
um lado, a tradução é vista como indispensável à troca de informações entre códigos
linguísticos diferentes e até mesmo como a possibilitadora de avanços científicos e
tecnológicos decorrentes do contacto com outras realidades economicamente mais
evoluídas, a verdade é que o seu papel enquanto “ponte” cultural está longe de ser
aceite universalmente quando em causa passam a estar os “tesouros literários” de uma
cultura nacional. Este carácter polémico levou-me a ponderar a hipótese de analisar,
de um ponto de vista eminentemente prático, quatro traduções dissemelhantes, de
épocas também distintas, do poema The Tyger, de William Blake. Ter ao dispor
quatro traduções de quatro tradutores diferentes tornou possível a compilação de um
corpus mais alargado e diversificado onde basear conclusões reais para os problemas
de tradução de poesia, devidamente contextualizados.
Palavras-chave: Tradução; Poesia; William Blake.
Abstract
When ones associates translation and poetry it frequently means to face
academic and scientific preconceptions strongly rooted in the western culture. On the
one hand, translation is considered essential to the information exchange between
different linguistic codes and even as the enabler of scientific and technological
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progresses resulting from the contact with other more evolved economic realities. On the
other hand, translation’s role as cultural “bridge” is far from being universally accepted
when it has to work on the “literary treasures” of any given national culture.
This
controversial character gave the motto for the eminently practical analysis I intend to
present in this paper of four distinct translations, from different time periods as well, of
William Blake’s poem The Tyger. The existence of four different translations by four
Portuguese translators made it possible to gather a larger and more diversified corpus, on
which to base real conclusions for the poetic translation problems, duly contextualised.
Keywords: Translation; Poetry; William Blake.
1. Introdução
A tradução é uma arte tão antiga quanto a inevitabilidade do contacto humano e
social: se por um lado todos nós estamos equipados com complexos instrumentos físicos e
psicológicos que nos permitem produzir e descodificar o código linguístico no seio do qual
crescemos e a que se convencionou chamar língua materna, as dificuldades surgem quando
o castigo divino à vaidade humana se faz sentir sobre a forma da multiplicidade linguística
do nosso universo. Afirmar que a tradução se carregou de uma importância extrema desde o
momento em que as diferentes comunidades linguísticas descobriram que não estavam
sozinhas no planeta Terra será por certo um lugar comum muitas vezes repetido ao longo
dos tempos, mas a verdade é que a relevância social e económica, para já não dizer cultural,
de tal mecanismo de conversão é muitas vezes ignorada e até mesmo menosprezada.
Actualmente os preconceitos fazem-se sentir mais fortemente contra uma área concreta da
tradução: a tradução literária. Se o acto de converter uma qualquer língua num outro sistema
de significação traz consigo a maldição deixada bem clara pelo ditado italiano “Traduttore,
traditore”, a verdade é que este anátema parece crescer desmesuradamente quando em
causa estão traduções de textos que têm na língua de partida estatuto de obra literária, seja
em forma de prosa ou de poesia.1
1
Para uma perspectiva histórica do conceito de literariedade Vide AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel. Teoria
da Literatura. 8ª ed. Coimbra: Livraria Almedina, 1990, pág. 14.
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A escolha de um poema de William Blake para base de uma discussão sobre a
validade/possibilidade de traduzir poesia alia uma preferência pessoal pelo autor, pela
riqueza das sua criações literárias à agradável surpresa que foi encontrar quatro
traduções diferentes para o poema The Tyger, o que possibilitou a organização de um
corpus mais alargado e diversificado onde basear conclusões reais para os problemas
de tradução de poesia. A organização estrutural do trabalho suscitou muitas dúvidas,
mas a solução que me pareceu mais viável para os resultados que pretendia alcançar
era o envolvimento primeiro com a avaliação das traduções a que tive acesso e, só
então, fazer a pesquisa bibliográfica referente a teorizações sobre a tradução de poesia
em particular.
A selecção de um título não foi, de todo, pacífica. As hipóteses eram várias mas
nenhuma parecia ilustrar devidamente o que acreditava ser fundamental transmitir
logo desde o início. Mesmo a opção final parecia imbuída do perigo de parecer muito
normativa e desde logo sentenciosa, ao mesmo tempo que tal selecção lexical poderia
muito facilmente pré-estabelecer um caminho e uma estrutura que não seriam as mais
desejáveis para uma análise que se pretende eminentemente prática. No entanto, a
forma interrogativa pareceu clarificar o carácter inquisitivo desta frase de
apresentação e a partir da já mencionada análise prática que era meu objectivo
desenvolver, abrir as portas ao debate central sobre a intraduzibilidade, ou não, da
poesia.
2. Poesia e Tradução: Actividades irreconciliáveis?
O Homem tem a necessidade extrema de comunicar, de estabelecer ligações e
afectos que o caracterizam e fazem representante de determinado tipo de cultura e
sociedade, de tal forma que a espécie humana desenvolveu intricados métodos para
realizar esse desejo premente, designadamente as linguagens escrita e falada. 1 Se
atentarmos no processo evolutivo da tradução enquanto ciência, vemos que a longa
travessia do deserto (do seu reconhecimento enquanto ciência) parece ainda não ter
terminado. A incompreensão e a intransigência das forças políticas e religiosas de
outrora e a luta muitas vezes inglória de todos aqueles que viam na tradução o
1
Ao fazermos referência à linguagem escrita não é de modo nenhum nossa intenção estabelecer juízos
de valor acerca de culturas onde essa tradição é inexistente.
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instrumento perfeito para a disseminação de culturas e o contacto e a
compreensão facilitada entre os povos parecem não ter sido suficientes para, por um
lado, unir uma classe que continua a bater-se pelo devido reconhecimento do seu
trabalho e, por outro, instituir definitivamente a tradução como membro de pleno
direito das ciências sociais e humanas.1
Como já se disse, um dos ramos da ciência tradutológica, nomeadamente a
tradução literária, parece carregar um fardo ainda mais pesado e suscitar ainda maior
polémica, e que resultará do tipo de objecto linguístico que tem como base de trabalho
– textos considerados obra literária no universo cultural da língua de partida e,
consequentemente, tidos por muitos como material “intocável”:
Mas o tradutor só trai os textos literários. A linguagem científica é sempre
traduzível e até, por vezes, totalmente traduzível, o que prova que, quanto mais
abstracto se torna o pensamento, menos unido à expressão se apresenta. 2
ou ainda
La traduction, c’est le salut des mauvais auteurs.3
Mas se estes críticos da actividade translatória não auguram nada de bom a
quem quer que se convença ser capaz de levar a bom porto a conversão do texto
literário em prosa, as opiniões negativas são ainda mais veementes quando é a
literatura em forma de poema que passa a ser alvo das atenções do tradutor. Não seria
com certeza difícil coligir uma vasta lista de autores e críticos literários de renome
para quem a tradução de poesia é irrealizável e até impensável; no entanto o contrário
também é possível, isto é, elaborar um rol designando todos aqueles para quem a
tradução de poesia não apresenta mais problemas do que qualquer outra produção
literária. 4 Estas posições extremas em nada contribuem para o encontrar de respostas
1
Vide BASSNETT, Susan. Translation Studies: Revised Edition. London: Routledge, 1994, pág. 46.
2
COHEN, Jean. Estrutura da Linguagem Poética. 2ª ed. Traduzido por José Adragão. Lisboa:
Publicações Dom Quixote, 1976, pág. 42.
3
Apud JACQUIN, Danielle. “Le Texte Réfléchi: Quelques Réflexions sur la Traduction de la
Poésie.” In La Traduction Plurielle. Textes reúnis et présentés par Michel Ballard. Lille:
Presses Universitaires de Lille, 1990, pp.47-69. pág. 48
4
Vide GARCIA DE LA BANDA, Fernando. “Traduccion de Poesia y Traduccion Poetica.” In III
Encuentros Complutenses en Torno a la Traduccion. Eds. Margit Rader y Julia Sevilla. Madrid:
Editorial Complutense, 1993, pág. 119.
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concretas e apropriadas para as dificuldades que, quem já tentou traduzir poesia
sabe existirem de facto e que, não raramente, são sinónimo de barreiras
inultrapassáveis.
À diversidade de pareceres que esta temática congrega à sua volta não será
estranha toda a pluralidade de questões que se levantam em torno da própria literatura,
onde o enorme leque de nomenclatura não é totalmente esclarecedor e muitas vezes é
até contraditório. Este facto poderá significar, por consequência, a confusão daqueles
que procuram em teorias literárias algum auxílio para preencherem lacunas a esse
nível, de forma a alcançarem um nível de conhecimento dos textos originais mais
capaz.1
Parece-me que não será de todo controverso se aqui estabelecer a comparação
entre um hipotético tradutor que tenha como ponto de partida um texto de natureza
sobretudo informativa, sem pretensões criativas e inovadoras, e um outro que se
embrenhe na procura das melhores soluções para o verter de uma poesia para a sua
língua materna, e afirmar que o primeiro terá em mãos uma tarefa não só mais simples
do ponto de vista lexico-sintáctico, mas também, e sobretudo, formal. A identidade
literária traz para a área da tradução preocupações acrescidas, porque o texto que cabe
dentro de tal designação encerra valores de natureza valorativa e categorial que por si
só delimitam ab ovo a produção translatória:
Reconozcamos, en primer lugar, que el problema con la poesía es que no
sabemos qué es, en qué consiste, como caracterizarla por completo. 2
Apesar de esta afirmação de Garcia de la Banda se referir mais concretamente
à produção poética actual, pode ter aqui também lugar numa outra perspectiva mais
abrangente: o desconhecimento por parte do tradutor do sistema literário da língua de
partida e das características que enformam o poema (pois é de facto o texto lírico que
é relevante para este breve estudo), caracterizado como o princípio e o apoio da sua
“heróica” tarefa. As traduções do poema The Tyger que servem de base a esta análise
crítica transmitem logo nos primeiros versos a certeza de serem fruto de uma leitura
atenta do original e de uma consciência aguda do papel determinante da forma:
1
Op. cit., A Estrutura da Linguagem Poética. , pág. 37.
2
Op. cit., “Traduccion de Poesia y Traduccion Poetica.”, pág. 117.
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Tigre! Tigre! Cor do fogo,
Tyger, Tyger, burning bright1
Tigre! Tigre! a arder fulgurante
Tigre,tigre, ardendo aceso
Tigre, Tigre, que fulguras2
Das várias opções que são reconhecidas e praticadas por tradutores de poesia, é
deveras interessante que os quatro profissionais em questão fossem unânimes no
respeito pela e na manutenção da forma original do poema, uma vez que esta é com
certeza a segunda maior fonte de controvérsia no campo da tradução de poesia. (A
primeira desempenha já um papel tradicional na teorização e prática da tradução
literária: a impossibilidade ou não de se traduzir textos líricos, e a ela farei referência
mais adiante com maior pormenor). O tradutor deve manter a forma original e
sacrificar algum do sentido se assim o determinar a estrutura escolhida ou, pelo
contrário, deve dar primazia ao significado e relevar a forma para segundo plano?
Obviamente que a resposta a tais dúvidas não é única nem definitiva, o carácter
humano da tradução enquanto ciência ligada de forma umbilical à necessidade de
comunicar é fonte de soluções várias que têm sido devidamente assinaladas por
teóricos e praticantes.3
Nas traduções analisadas é evidente a procura de uma forma que não “agrida”
o original: não se renega a estrutura de The Tyger composta por seis estrofes de quatro
quadras cada, e a rima que se faz em cada par de versos. Esta esquematização é
determinante, a meu ver, para o efeito total do poema, porque não podemos esquecer
o papel desempenhado por William Blake na mudança da atitude literária vigente à
data da publicação de Songs of Experience, obra onde se insere este poema. É a fase
pré-romantica, onde o lirismo marca forte presença e a originalidade das ideias é
determinante
para
o
abandonar
de
racionalidades
por
vezes
opressoras
1
Os exemplos retirados do original reportam-se sempre à obra BLAKE, William. “The Tyger.” In
Poems and Prophecies. Ed. Max Plowman. 1927; rpt. London: Everyman’s Library, 1970, págs. 28 e
29.
2
As traduções encontram-se reproduzidas nos Anexos a este trabalho, respectivamente nas páginas 18,
19, 20 e 21.
3
Op. cit., “Le Texte Réfléchi: Quelques réfléxions sur la Traduction de la Poésie.”, pág. 49.
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Moreover, it is probable that when a poet first arises who has the great daring to
launch out on the deep waters of the human soul and let down his net for a draught, he may
catch strange fish, unlike the carp, pike and sticklebacks of our sluggish rivers - fish we fail
to recognise - fish we pronounce very ugly - fish we cannot cook, much less eat.1
Os tradutores reconhecem estas qualidades no poema, concluem que a forma
externa é vital para a economia do texto e por isso optam por manter o mesmo número
de versos devidamente agrupados em quadras, numa associação de estrofes facilmente
reconhecida pelos receptores do texto de chegada e à qual poderão atribuir as
características de musicalidade tão determinante no original. Não podemos, contudo,
ter a ilusão que estas estâncias representam uma correspondência perfeita do texto de
partida, isto porque apesar da adopção da estrutura em quadra parecer resolver a
questão da escolha da forma do texto de chegada, a verdade é que por si só não pode
colmatar o grande hiato que existe entre o sistema poético inglês e o sistema das
línguas românicas como o português: a versificação. O sistema do original baseia-se
no número de sílabas por cada verso e na organização dessas mesmas sílabas segundo
a sua acentuação, enquanto que em português apenas o número daquelas que constitui
cada linha, e não a sua acentuação ou extensão, é relevante.
Estes
aspectos
contribuíram
decisivamente
para
que
os
tradutores
seleccionassem uma forma que é aparentemente mimética 2, mas que tem na sua raiz
diferenças substanciais porque faz parte de um modo de versificação que se baseia em
pressupostos linguísticos obviamente diversos. No entanto, os leitores dos textos de
chegada não perdem totalmente o ritmo e a musicalidade de The Tyger porque em
coerência com a escolha formal que fizeram - a quadra - os tradutores mantêm a rima
emparelhada, se bem que muitas vezes a expensas do sentido do original:
Mais préserver les rimes, c’est restreindre le choix des termes, entravé de
surcroît par des contraintes lexicales et grammaticales, risqué de sacrifier les autres
1
PLOWMAN, Max. “Introduction.” In Poems and Prophecies. 1927; rpt. London: Everyman’s
Library, 1970.
2
Cfr HOLMES, James S. Translated! Papers on Literary Translation and Translation Studies. 2nd ed.
Amsterdam: Rodopi, 1988, pág. 26.
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valeurs de cette figure à l’ornement sonore et de détruire ainsi son pouvoir de
cohésion.1
Apesar de poder parecer redutora a escolha da rima em detrimento do sentido,
a verdade é que toda tradução é uma interligação de elementos e formas que se
influenciam e auto-determinam e, ao decidir-se por uma forma, uma sintaxe ou
qualquer outro elemento que compõe as línguas, o tradutor tem de estar bem avisado
das consequências da sua escolha para o resultado final do texto. É minha opinião
que, de facto, os tradutores cujo trabalho tento aqui apreciar tinham consciência do
caminho que seguiram na encruzilhada do processo translatório e como isso seria um
outro elemento a juntar às dificuldades que naturalmente iriam enfrentar. Não
obstante, a sua opção pareceu pesar cuidadosamente o valor estilístico e semântico
que a rima transfere para o original e não quiseram empobrecer os seus versos nem
descaracterizá-los por forma a que qualquer semelhança com o original fosse mera
coincidência (apesar da cedência cultural que representa em relação ao texto de Blake
a rima nas traduções ser emparelhada, já que aquele género de estrofação se
apresentar em português com rima alternada ou oposta). A excepção a este princípio
de construção poética são os dois primeiros versos da primeira, segunda e última
quadra do texto A, onde o autor parece determinado a assumir outra forma para o seu
trabalho que não a forma rimada (talvez porque esse lhe parecesse o modo mais
adequado de ser “fiel” ao sentido original), mas que subitamente se altera e passa a
procurar criar versos emparelhados:
Tigre! Tigre! Cor do fogo,
Lá nas florestas da noite,
Que olhos, que mãos imortais
Traçaram formas iguais
Este é o tipo de método pouco claro quanto a objectivos finais de tradução que,
na minha perspectiva, deve ser evitado porque não só presta uma má homenagem ao
original, como também confunde o leitor e não lhe consegue transmitir uma real
impressão do autor ao qual não têm acesso se não for através da tradução. Estas
considerações são feitas nestes termos porque me parece que o tradutor não consegue
1
Op. cit., “Le Texte Réfléchi: Quelques réflexions sur la Traduction de la Poésie.”, pág. 53.
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melhorar em nada a sua performance linguística e informativa ao nível textual
por desrespeitar a rima nos dois versos iniciais, muito pelo contrário, consegue tão
somente destruir a coesão estrutural e semântica do seu texto, que tem óbvias
pretensões líricas.
O texto literário é um artefacto materializado numa textura, isto é, numa sequência
linear de signos em que se realiza e se manifesta a sua coesão formal e semântica – uma
coesão formal e semântica que representa, a nível da estrutura de superfície do texto, a
actualização de uma estrutura textual profunda de natureza semântica...1
In other words, in establishing a set of methodological criteria to follow, the translator
has focused on some elements at the expense of others and from this failure to consider the
poem as an organic structure comes a translation that is demonstrably unbalanced.2
Esta falta de harmonia torna-se ainda mais flagrante quando o leitor atento
repara que a atenção prestada pelo tradutor à forma externa é levada tão longe que
mantém a simbologia de caracteres como o &, assim como a pontuação do original, o
que acaba por se revelar como uma escolha errada porque põe em causa as regras de
pontuação da língua portuguesa ao separar o sujeito do verbo principal da oração:
E que braço, & que arte,
Pôde o coração talhar-te?
O facto de a poesia se reger por regras de criação e liberdade artística não
justificará uma opção de tradução que resulte na subversão tão aguda de regras aceites
pela comunidade linguística à qual o texto se dirige. As soluções mais apropriadas a
este nível são, a meu ver, as conseguidas pelo texto C, que sugere uma fase de
distanciação posterior à elaboração da tradução que terá permitido ao tradutor escapar
ao “jugo” do original e desse modo evitar marcas de “estrangeirismos”. Disto mesmo
fará prova logo o primeiro verso da primeira quadra (os pontos de exclamação
transformam-se em vírgulas, que dão ao verso a necessária pausa e à palavra tigre o
necessário relevo, sem a desvantagem da demasiada e pouco natural expressividade
emprestada pelos pontos de exclamação presentes ainda no texto B e pelo uso de
maiúsculas que é comum aos textos A, B e D). Não posso, no entanto, deixar de
1
Op. cit., Teoria da Literatura., pág. 294.
2
Op. cit., Translation Studies: Revised Edition., pág. 82.
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assinalar o processo de normalização gráfica que todas as traduções sofreram, e
que resultou na adopção da escrita corrente do substantivo tigre, que aparece no
original impresso com y, o que não será apenas uma prova de originalidade poética,
mas também uma formulação imbuída de significado ao nível da estrutura profunda
do poema: o significado. William Blake estabelece assim um paralelo e uma
identificação inegável entre tyger (que como bem sabemos não tem esta apresentação
gráfica), symmetry e o pronome possessivo arcaico thy, que nunca resultaria em
português mesmo se uma alteração idêntica à inglesa se processasse com tigre, já que
nunca haveria correspondência com simetria e, acima de tudo, o sistema de pronomes
possessivos não prevê formas com o mesmo valor arcaizante e bíblico the thy e thine.
Esta será mais uma perda de natureza cultural a afectar o leitor das traduções, mas que
me parece irremediável.
A manutenção de um esquema rimático rígido (com a excepção assinalada) é a
decisão do processo de tradução mais determinante para a macro-estrutura dos textos
em português, mas é por agora evidente que ela também exerce um poder absoluto na
selecção lexical e sintáctica da micro-estrutura semântica, revelando-se por vezes algo
tirânica na submissão a que obriga os sentidos expressos no original. Saliente-se como
escolha comum a três dos textos (A, C, D) o quarto verso da terceira estrofe
Que pés terríveis? Que mãos?
Que pés medonhos, que mão?
Que pés horríveis, que mão?
onde a inversão da ordem dos elementos originais resolve o problema da
continuação rimática. A excepção será então o texto B que mantém a ordem impressa
em The Tyger, mas pela qual o tradutor terá de pagar o preço bem alto de recorrer a
verbos no segundo e terceiro versos de valor conotativo superior (torcer, pisar) ao dos
originais e que emprestam um carácter mais expressivo ao texto, ao mesmo tempo que
limitam o número de interpretações que William Blake criou no século XVIII. O
mesmo se aplica ao advérbio adiante e ao adjectivo fatal que ocorrem na quadra que
inicia o poema, sendo que o primeiro nem sequer faz parte do núcleo de significados
do texto de partida e o segundo parece resultar de uma interpretação errada de fearful,
já que o tradutor abusivamente verte o conceito de medo e temor sugeridos pelo
adjectivo inglês acima mencionado numa classificação que não parecerá descabida a
quem só tiver acesso ao texto traduzido e que portanto a assimilará sem vacilar
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A exposição feita até este momento poderá apontar para a aceitação de
algumas das reservas a que fiz menção anteriormente e que definem a obediência a
esquemas rimáticos pré-estabelecidos como uma poderosa força desestabilizadora do
equilíbrio semântico de uma peça poética submetida a processos de tradução, mas de
facto a análise comparada das quatro hipóteses apresentadas mostra claramente que as
dificuldades e entraves à transferência de um código linguístico para outro não são tão
somente originados pela necessidade de respeitar a rima. Os problemas de tradução
mais graves que me foram dados a observar apresentam-se-me como o resultado
óbvio de leituras e interpretações erróneas do original e até da não-compreensão cabal
do significado de determinados vocábulos, dos quais gostaríamos de salientar:
Tradução A
In what distant deeps or skies
Em que infernos ou céus
On what wings dare he aspire?
Que asas há-de ele inventar?
Dare its deadly terrors clasp?
Afrontam garras fatais?
When the stars threw down their spears,
Quando as estrelas nasceram
Tradução B
In what furnace was thy brain?
Qual a fornalha do cérebro cheia?
What the anvil? what dread grasp?
Qual a bigorna? qual o suporte?
And when the stars threw down their Quando as estrelas os seus raios lançaram,
spears,
Tradução D
Dare its deadly terrors clasp?
Fez os males de que és capaz?
When the stars threw down their spears,
Quando os astros dardejaram
Did he smile his work to see?
Ele, contente, sorri?
A ausência do texto C nesta fase em que procurei destacar exemplos flagrantes
de escolhas erradas de correspondentes linguísticos no processo de tradução é a forma
mais eloquente de salientar o que, a meu ver, é o produto final mais bem sucedido do
corpus recolhido. Esta afirmação não deve tida como sinónimo de concordância total
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com as opções do tradutor em questão, até pela razão bastante simples que aqui
a língua de partida se encontra estruturada linguística, formal e funcionalmente de tal
modo que se insere num sistema literário e poético por direito próprio. A
consequência primeira desta característica do texto original é a de permitir
interpretações várias e mesmo divergentes que resultarão em soluções obviamente
diferentes de acordo com os aspectos que cada tradutor considere dignos de realce ou
menos determinantes para a função a que o texto se destina.
Em termos concretos, as minhas opções diferem das verbalizadas pela
tradução C sobretudo em termos lexicais e gramaticais, sendo que seleccionaría para o
último verso da segunda quadra Que mão ousou controlar o fogo, em vez de Com que
mãos agarra o fogo, porque a singularização do substantivo no original é
determinante para a caracterização velada da personagem divina que é responsável
pela criação do tigre. O mesmo se aplica ao primeiro verso da quarta estrofe, onde a
utilização do artigo definido antes de martelo é mais um elemento precioso para tal
identificação, que é feita segundo subterfúgios e breves alusões, que contribuem de
forma inequívoca para a beleza do poema. Gostaría ainda de sugerir a total alteração
da quinta quadra para
Quando as estrelas as suas lanças largaram
E com suas lágrimas o céu banharam
Será que ao ver o seu trabalho Ele sorri?
Aquele que fez o Cordeiro fez-te a ti?
Apesar de ter sido possível manter-me fiel à rima que desempenha um papel tão
vital, não fiquei totalmente satisfeita com a esta solução porque tive que alterar o
tempo verbal do terceiro verso para o presente do indicativo, quebrando desse modo a
harmonia morfológica instituída pelo poema de William Blake.
O facto das inhas sugestões serem em número tão reduzido pode ser explicado não só
pela dificuldade extrema de encontrar outras respostas que solucionassem mais a
contento alguns problemas de significação e, ao mesmo tempo, que não destruíssem a
harmonia rítmica e a economia global do texto, mas também e sobretudo porque o
trabalho de António Simões consegue transmitir o significado latente do poema, não
impedindo interpretações segundas por escolha demasiado limitada no espectro
lexical da língua de chegada. A sua tradução opera transferências valorativas ao nível
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da grafia para compensar 1 adjectivos que foi forçado a eliminar anteriormente (recorre
às maiúsculas na apresentação do pronome pessoal ele por forma a que se recupere os
valores significativos do adjectivo imortal que não pode figurar na primeira e última
quadra) e cria um texto que não só é construído com base na selecção de
correspondentes apropriados à língua de partida, como também pode ser considerado
exemplificativo de uso criativo da língua de chegada num panorama poético (o
tradutor não se limita a transmitir significados, cria imagens e recorre a figuras
estilísticas como a metáfora, a onomatopeia e a assonância).
Estas considerações particularizantes e a comparação das traduções
apresentadas por quatro profissionais distintos permitiram-me debruçar, por fim, sobre
a questão à qual aludi no início deste trabalho: a impossibilidade ou não de se verter
um texto lírico para outro código linguístico. Será por agora claro que me identifico
com aqueles que defendem que a poesia não é inimiga visceral da tradução, ou não
faria sentido tudo o que já aqui afirmei e apresentei como soluções a problemas
concretos originados por tal tarefa. Parece-me ainda que a atitude contrária cairia no
ridículo de fazer tábua rasa de todas as grandes traduções de qualidade de obras
literárias poéticas. No entanto, não é meu propósito deixar a noção de que traduzir
poesia é um processo de recriação no qual estão envolvidos significados e pouco
mais. No dizer de James S. Holmes, a tradução de poesia carrega consigo o pesado
fardo de ter que considerar sempre três contextos para poder almejar a criar um
produto final aceitável e válido: o contexto linguístico, o intertexto literário e por fim
o contexto social e cultural das duas línguas envolvidas no processo de transferência. 2
Isto significa que todo o profissional de tradução deve estar avisado não só do alto
nível conotativo do léxico da língua de partida, dos recursos linguísticos e da
subversão de determinadas regras linguísticas (como seja a pontuação ou até a
focalização), mas também que o texto que serve de base ao seu trabalho se insere
dentro de uma tradição literária que não pode de todo ser ignorada se quer alcançar as
interpretações mais apropriadas. Por fim, também não deverá esquecer que existe todo
um vasto leque de conceitos sociais e culturais que o autor partilhava com os seus
1
Cfr DELILLE, Karl Heinz et al. Problemas da Tradução Literária. Coimbra: Livraria Almedina,
1986, págs. 65 e 112.
2
Cfr HOLMES, James S. Translated! Papers on Literary Translation and Translation Studies. 2nd ed.
Amsterdam: Rodopi, 1988, pág. 47.
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leitores primeiros e que muitas vezes podem não ter qualquer tipo de significado para
os leitores do texto de chegada.
Poderia ainda realçar toda a problemática da distância cultural e temporal entre a
produção do poema pelo autor e a sua recriação pelo tradutor (que se aplica
totalmente nos casos aqui avaliados), que conduzirão o tradutor por complexas redes
de escolha linguística e cultural. Dentro destas há que destacar a opção por aproximar
o seu texto do público alvo afectado por outros princípios e ideais que não os do
original, ou apontar para a “historização”3 da sua tradução, mantendo deste modo os
caracteres distintivos da poesia e não desvirtuando o que poderá ser a sua essência.
Apesar de todas estas coordenadas, a verdade é que não é de todo simples
decidir o que fazer quando somos confrontados com a responsabilidade de recriar
poesia, a responsabilidade de vestirmos a pele do autor e de sentirmos e
reproduzirmos sentimentos que ele decidiu codificar de formas por vezes
ininteligíveis, mas não se deve nunca perder de vistas os propósitos iniciais do acto
translatório e qualquer o caminho que se escolha é determinante que a coerência seja
total, porque
La coherencia se basa en dos factores: por una parte, en la cohésion de los
elementos entrelazados por medios sintácticos en la superficie del texto y, por otra
parte, en los conocimentos previos que activa el lector según sus expectativas
respecto a ciertos textos o temas.4
Assim será possível esperar que o texto traduzido tenha os mesmos efeitos que o
original, tornando-se naquilo a que James S. Holmes atribuiu a designação de
“metapoema”, isto é, uma recriação literária que anseia por encerrar em si
características que lhe permitam ser considerada parte do sistema literário da língua
de chegada, originando uma complexa interligação de correspondências entre dois
mundos que, frequentemente, têm muito pouco em comum:
By virtue of its double purpose, the metapoem is a nexus of a complex bundle
of relationships converging from two directions: from the original poem, in its
3
4
Ibidem, pág. 48.
NORD, Christiane. “La Traduccion Literaria entre Intuicion e Investigacion.” In III Encuentros
Complutenses en Torno a la Traduccion. Eds. Margit Rader y Julia Sevilla. Madrid: Editorial
Complutense, 1993, pág. 105.
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language, and linked in a very specific way to the poetic tradition of that language;
and from the poetic tradition of the target language. With its more or less stringent
expectations regarding poetry which the metapoem, if it is to be successful as poetry,
must in some measure meet. 5
3. Conclusão
O papel da tradução enquanto ciência responsável pela recriação de universos
informativos de utilidade prática parece já não merecer reparos negativistas e
redutores. O mesmo não se poderá afirmar com a mesma simplicidade da área da
tradução que dedica os seus esforços ao enriquecimento e partilha de culturas através
da transposição de obras literárias para outros códigos linguísticos que não a língua
materna do/a autor/a. As dificuldades reais de conversão que os tradutores têm de
solucionar de forma aceitável poderão ser seriamente agravadas se aceitarem
liminarmente que “everything outside scientific or technical discourse is obviously
untranslatable in total”.6 É da responsabilidade de todos os que se envolvem na
procura de correspondências interlinguísticas para textos poéticos mudar este tipo de
atitudes, o que só se conseguirá realmente quando for reconhecida à Teoria da
Tradução o carácter inequívoco de ciência solidamente enraizada em princípios e
métodos eficazes de recriação literária.
A análise comparativa que foi meu ensejo levar a cabo possibilitou o contacto
com as experiências corajosas de todos aqueles que não se deixam intimidar por
opiniões unicamente preconceituosas, ao mesmo tempo que revelou formas e soluções
de tradução muito úteis não só em termos práticos mas, acima de tudo, de carácter
generalista aplicável a muitas das situações reais no campo. De entre elas gostaria de
destacar a necessidade de avaliar cada texto por si só, como entidade autónoma de
significação a avaliar par e passo, a pesquisa prévia a qualquer tradução poética das
literaturas das línguas de partida e de chegada, a necessidade extrema de coerência
nas escolhas lexicais, sintácticas e formais durante o processo de translação, a
apreciação correcta das diferenças culturais expressas pelo texto original e a sua
(in)correspondência com a cultura à qual se destina a tradução e, por fim, a
5
Op. cit., Translated! Papers on Literary Translation and Translation Studies., pág. 25.
Fawcett, Peter. “Translation and Power Play.” In The Translator. Volume1, Number 2 (1995),
pp.177-192.
22
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consciência de que qualquer processo de tradução bem sucedido está inteiramente
dependente da interpretação correcta do original. Também relevante será o facto de o
processo de transferência implicar sempre perda, perda essa que pode ser reduzida a
níveis pouco significativos, comparáveis até ao que todos nós perdemos quando lemos
poesia da nossa língua materna e só podemos contar com as nossas emoções e não
com as indicações do poeta para nos guiarem pelas encruzilhadas das múltiplas
significações concretizadas pelo texto.
4. Anexos
The Tyger (from Songs of Experience)
Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?
In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand dare sieze the fire?
And what shoulder, & what art
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand? & what dread feet?
What the hammer? what the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? what dread grasp
Dare its deadly terrors clasp?
When the stars threw down their spears,
And watered heaven with their ears,
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Did he smile his work to see?
Did he who made the Lamb made thee?
Tyger! Tyger! burning right
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?
Tradução A
O Tigre
Tigre! Tigre! Cor do fogo,
Lá nas florestas da noite,
Que olhos, que mãos imortais
Traçaram formas iguais
Em que infernos ou céus
Arde o fogo dos teus olhos?
Que asas há-de ele inventar?
Que mão tal fogo agarrar?
E que braço, & que arte,
Pôde o coração talhar-te?
E quando abater se pôs,
Que pés terríveis? Que mãos?
Que martelo? Em que malha?
E teu cér’bro em que fornalha?
Que bigorna, ou forças tais
Afrontam garras fatais?
Quando as estrelas nasceram
E o céu de pranto inundaram,
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Sorriu ele ao ver-te inteiro?
Quem te fez, fez o Cordeiro?
Tigre! Tigre! Cor do fogo,
Lá nas florestas da noite,
Que olhos, que mãos imortais,
Traçarão formas iguais?
Tradução de Manuel Portela
Tradução B
O Tigre
Tigre! Tigre! a arder fulgurante
P’las florestas da noite adiante,
Qual olhar ou mão imortal
Foi tua simetria engendrar fatal?
Em que abismos ou que céus distantes
Arderam teus olhos em fogos brilhantes?
Quais as asas com que ele ousa voar?
Qual a mão ousa o fogo agarrar?
Qual o ombro, qual foi o saber,
Que te pôde as fibras do coração torcer?
E quando ele começou a pulsar,
Que terrível mão? que tremendo pisar?
Qual o martelo? qual a cadeia?
Qual a fornalha do cérebro cheia?
Qual a bigorna? qual o suporte?
Ousa conter seus terrores de morte?
Quando as estrelas seus raios lançaram,
E com suas lágrimas os céus banharam,
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Terá ele sorrido ao ver o que fez?
Quem fez o Cordeiro foi aquele que te fez?
Tigre! Tigre! a arder fulgurante
P’las florestas da noite adiante,
Qual olhar ou mão imortal
Foi tua simetria criar fatal?
Tradução de Hélio Osvaldo Alves
Tradução C
O Tigre
Tigre, tigre, ardendo aceso,
De noite no bosque negro,
Que mão, que olhar moldaria
Tão temível simetria?
Em que céus ou fundo mar
Arde o fogo desse olhar?
Com que asas faz o seu voo?
Com que mãos agarra o fogo?
Que ombro, que arte teceu
Fibras do coração teu?
E já pronto o coração,
Que pés medonhos, que mão?
Que martelo? Que corrente?
Que fogo fez tua mente?
Que bigorna? Quem domina
A feroz força tigrina?
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Estrelas lacrimejantes
O céu já banham distantes:
P’la obra feita Ele sorri?
Fez o Cordeiro e a ti?
Tigre, tigre, ardendo aceso,
De noite no bosque negro,
Que mão, que olhar ousaria
Tão temível simetria?
Tradução de António Simões, Abril de 1996 (um primeiro esboço de tradução)
Tradução D
Tigre
Tigre, Tigre, que fulguras
Dentro das selvas escuras,
Que mão, que olhar moldaria
Tão terrível simetria?
Que abismo teve, que céu,
O fogo desse olhar teu?
Em que asas voar ousou?
Que mão o arrebatou?
Que braço e que arte torceu
Fibras do coração teu?
E feito teu coração,
Que pés horríveis, que mão?
Que martelo, que corrente?
Onde se forjou tua mente?
Que bigorna e punho audaz
Fez os males de que és capaz?
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Quando os astros dardejaram
E os céus de pranto banharam,
Ele, contente, sorri?
Fez Ele o cordeiro e a ti?
Tigre, Tigre, que fulguras
Dentro das selvas escuras,
Que mão, que olhar ousaria
Tão terrível simetria?
Tradução de Augusto Mota, 1957
5. Bibliografia
• AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel. Teoria da Literatura. 8ª ed. Coimbra: Livraria
Almedina, 1990.
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rpt. London: Everyman’s Library, 1970.
• BLAKE, William. “O Tigre.” In Cantigas da Inocência e da Experiência: Mostrando
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Lisboa: Edições Antígona, 1994.
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Alves. Editora Pedra Formosa, 1996.
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Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1976.
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• DAVIS, Patricia Elizabeth. “Blake, William.” In Encyclopedia of Romanticism:
Culture in Britain, 1780s - 1830s.
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• FAWCETT, Peter. “Translation and Power Play.” In The Translator. Volume 1,
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• FLOR, João Almeida. “O Acto e o Destino - Sobre uma Tradução Inglesa da
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• GARCIA DE LA BANDA, Fernando. “Traduccion de Poesia y Traduccion Poetica.”
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